ANTECEDENTES DAS BATALHAS DOS GUARARAPES

 Com a morte do Cardeal D. Henrique, Rei de Portugal, em 1580, o Rei de Espanha, D. Felipe II, reclama para si o reino de Portugal, por sucessão dinástica.

Em conseqüência, Portugal, durante 60 anos e até 1640, tornou-se domínio espanhol.

Estando D. Felipe II em guerra com a Holanda, determinou ele que todos os portos de seus domínios fossem impedidos aos holandeses, que viviam de rendas obtidas com fretes do transporte de mercadorias de outros povos.

Para enfrentar esta situação, foi organizada, na Holanda, a potente Companhia das Índias Ocidentais, encarregada, após, de invadir o Brasil por duas vezes.

A primeira invasão holandesa deu-se na Bahia, em 1624, de onde foram expulsos em 30 de abril de 1625.

A segunda invasão deu-se em Pernambuco, em 1630, e durou até 1654 (24 anos).

 

CAUSAS DAS INVASÕES HOLANDESAS

 Remotas

 - Insatisfação da Holanda com a Bula de Alexandre IV, que dividiu o mundo a descobrir entre Espanha e Portugal.

- Existência na Holanda, bem como em outros países de grandes capitais privados, pertencentes a judeus expulsos da Espanha pela Inquisição.

- Predomínio, na Holanda, do calvinismo, ramo protestante que dignificou o lucro e o juro, favorecendo a formação de grandes riquezas privadas e nacionais.

- Monopólios comerciais exercidos pela Espanha e Portugal, criando sérios embaraços ao pleno desenvolvimento das atividades comerciais da Holanda.

 

Imediatas

 - União das coroas portuguesas sob Felipe II (1580-1640), envolvendo Portugal e, por extensão, o Brasil nas lutas religiosas que esse rei mantinha contra Inglaterra, França e Holanda.

- Lutas pelo domínio comercial do mundo.

- Fechamento dos portos luso-espanhóis aos holandeses que viviam com as rendas obtidas dos transportes de mercadorias entre diversos países.

- Vitória da Companhia Holandesa das Índias Orientais, criada em 1602, que tirou, em 10 anos de atividades comerciais, o monopólio português no Oriente.

- Fraqueza militar do Brasil e área de grande expressão econômica, em razão da abundância de açúcar aqui cultivado e que abastecia o mercado mundial, despertando assim a cobiça econômica.

- Excelência do Recife, como base naval para interferir no comércio espanhol e português, bem como ponto estratégico de irradiação de suas conquistas sobre toda a América do Sul.

- Desejo holandês de expandir o calvinismo no mundo.

 

Objetivos dos holandeses

 Na invasão de Pernambuco, os holandeses visavam apoderar-se, economicamente, da enorme riqueza representada pelo açúcar e pau-brasil desta rica capitania, ao mesmo tempo que, baseados no Recife, ampliariam gradativamente suas conquistas, estendendo-as a todo o litoral nordestino. O Recife oferecia excepcionais condições defensivas contra um ataque partido de terra e, também, excelente porto para abrigar enorme esquadra, além de, geograficamente, estar em posição central no litoral nordestino do qual pretendiam apossar-se.

Estas condições elegeram o Recife como ponto-estratégico-chave do litoral nordestino.

A importância estratégica do Recife é ressaltada em relatório do Cel Waerdenburch à Holanda, decorridos dois meses da invasão.

 

"E esta é uma paragem (Recife) da qual se pode conquistar todo o Brasil. Porque daqui se pode dominar e manter o Brasil todo com poucos gastos, arruinar a navegação do inimigo (Portugal e Espanha) na costa e atrair os habitantes à mútua amizade e aliança."

 

A análise estratégica foi correta, menos quanto à atração dos brasileiros à "mútua amizade e aliança" com o invasor.

 

Seqüência dos principais acontecimentos que antecederam às duas Batalhas dos Guararapes

O Recife sob domínio Holandês

Em 15 de fevereiro de 1630, os holandeses, após se apresentarem no litoral pernambucano com poderosa esquadra, composta de 7.000 homens e 50 navios, desembarcaram na Praia de Pau Amarelo.

Com forças poderosas, logo ocupam Olinda e o Recife, defendidas por efetivo irrisório, mas que reage ao invasor, inicialmente, no rio Doce.

Após, Matias de Albuquerque, Governador de Pernambuco, organizou o Arraial do Bom Jesus (Velho), que resistiu durante cinco anos ao poderio militar holandês, até que sucumbiu, em 8 de junho de 1635, após três meses de sítio.

Para se opor ao invasor, foram organizadas as célebres companhias de emboscadas, destinadas a impedir que os holandeses, no Recife, avançassem impunemente pelo interior.

Em 1632, guiados pelo traidor Calabar, os holandeses apoderam-se de Igaraçu e do Forte do Rio Doce.

Com a queda do Arraial , Matias de Albuquerque empreendeu penosa marcha rumo a Alagoas, escoltando 4.000 civis que não quiseram viver sob jugo holandês.

Ao passar por Porto Calvo, derrota o inimigo e exige a entrega do traidor Calabar, que, condenado por sua traição, foi enforcado.

Em 1637, chega a Pernambuco Maurício de Nassau para governar os domínios de Holanda no Brasil.

Nassau fez uma excelente administração no Brasil e consegue manter a cooperação dos luso-brasileiros (Frei Calado do Salvador).

Em 1640, sob a liderança de D. João IV, Portugal liberta-se de Espanha.

Na impossibilidade de sustentar, por falta de meios suficientes, a luta ao mesmo tempo com Espanha e Holanda, D. João IV concerta uma trégua de 10 anos com a Holanda (1340-1650), com vistas a resolver por partes os problemas do reino.

Por dita trégua, a luta entre Portugal e Holanda ficava suspensa por 10 anos, e esta ficaria com a posse de seus domínios, não podendo, no entanto, ampliá-los no Brasil.

A Holanda não respeita a trégua; ao contrário, amplia seus domínios, conquistando inclusive Sergipe e o Maranhão, este pouco após restaurado por conta e risco dos patriotas maranhenses.

 

 

Insurreição Pernambucana

A seguir teria lugar a Insurreição de Pernambuco (1645-1654), motivada pelas seguintes causas:

- promessas não concretizadas, de D. João IV, por falta de recursos bélicos, de apoiar a insurreição;

- antagonismo de ordem religiosa (Catolicismo x Calvinismo);

- repercussão positiva da Restauração do Maranhão;

- espírito de revolta latente nos patriotas do Brasil;

- partida de Maurício de Nassau, administrador excepcional, que conseguira fazer um governo justo, de paz e progresso para os patriotas e Holanda;

- desmandos adotados pelo governo que lhe sucedeu, por adotar medidas extorsivas e humilhantes para os luso-brasileiros, incluindo-se o exacerbamento da intolerância religiosa.

 

Sob inspiração da vigorosa pregação revolucionária de Vidal de Negreiros e liderança de Fernandes Vieira, tem início a conspiração.

 

 

Preparativos dos patriotas

 Na Bahia, o Governador Geral Antônio Teles, impossibilitado de dar combate ostensivo aos holandeses, por ter de respeitar a trégua de 10 anos concertada entre Portugal e Holanda, resolve apoiar discretamente o movimento e envia para Pernambuco, secretamente, o bravo Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso, que lhe fora indicado por Vidal de Negreiros como sendo a espada capaz de organizar a reação armada.

Em Pernambuco, Dias Cardoso organiza e treina os civis luso-brasileiros em íntima ligação com Fernandes Vieira, líder civil e catalizador do movimento.

Seis meses após a chegada de Dias Cardoso, período que gastou para organizar e adestrar um pequeno exército, Fernandes Vieira assina secretamente um compromisso de honra, juntamente com 18 companheiros influentes.

Por este compromisso, decidem restaurar a Pátria, a despeito mesmo de possível interferência de Portugal.

Dito compromisso data de 23 de junho de 1645, e nele é, pela primeira vez, escrita a palavra Pátria.

 

 

Início da rebelião

 O grito de rebelião partiu da população de Ipojuca, que pegou em armas contra a guarnição holandesa local (13 de junho de 1645).

Em 3 de agosto de 1645, o pequeno Exército Restaurador (Célula mater do Exército Brasileiro), organizado, treinado e conduzido pelo Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso, impõe memorável e maiúscula derrota ao Exército Holandês no Monte das Tabocas. Esta batalha abriu a campanha militar da Restauração e mostrou sua viabilidade militar, além de provocar a adesão de outras províncias.

Em 17 de agosto de 1645, Antônio Dias Cardoso planeja e dá início à ação militar que culminou com outra brilhante vitória em Casa Forte, ultimada, ao que parece, por Vidal de Negreiros.

Após esta batalha, seguem-se as derrotas holandesas no Cabo, Serinhaém, Pontal, Nazareth e outras.

O Rei de Holanda exige do Rei de Portugal o cumprimento da trégua assinada, e este ordena a suspensão da luta iniciada pelos patriotas do Brasil.

Os patriotas luso-brasileiros não atendem sua ordem e respondem-lhe:

"Combateremos até o fim e, somente após expulso o invasor estrangeiro, iremos a Portugal receber o castigo pela nossa desobediência."

E prossegue a luta dos patriotas do Brasil, agora na dupla condição de rebeldes.

 

Comentário

 Pressentindo Nassau, já na Holanda, a Insurreição Pernambucana em marcha, aconselha a que os holandeses busquem aliança militar com os índios potiguares e tapuias. Acolhido seu conselho, no ano de 1645 realiza-se em Goiana a célebre Assembléia de Tapessirica, da qual resultou, segundo Fernando Pio, "ponto de partida para a formação do exército indígena holandês". Comandaram este exército o índio Carapeba, de Goiana, o índio Pedro Poty, dos arredores do Recife e o índio Paraopeba, do Rio Grande do Norte.

Pedro Poty foi aprisionado e justiçado por ocasião da 2ª Batalha. O índio Paraopeba, após a 2ª Batalha, fugiu e homiziou-se na serra Ibiapaba, no Ceará, com seu bando. Maiores detalhes sobre este assunto podem ser buscados em "Convento do Carmo de Goiana", de Fernando Pio.