ANÁLISE DA ATUAÇÃO LUSO-BRASILEIRA À LUZ DOS

PRINCÍPIOS DE GUERRA

 

- Objetivo

Destruir o poderio do inimigo numa batalha decisiva.

O objetivo foi perseguido e colimado de maneira mais eficiente que na 1ª Batalha, em razão das numerosas baixas que impôs ao inimigo. Baixas que representaram 44% do seu efetivo total em combate, além da captura de numeroso equipamento, quase toda impedimenta inimiga e toda a artilharia, abandonadas na fuga precipitada.

 

- Massa

Este princípio foi observado ao conduzirem as massas de manobra sobre as alas inimigas, no Boqueirão, dificultando sua recuperação, e sobre a cota da atual Igreja Nossa Senhora dos Prazeres.

Com esta medida, evitavam que o inimigo, contra-atacando por esta ala, viesse a envolver pela esquerda nossas forças no Boqueirão.

 

- Economia de Meios

Foi realizada no centro, ao contrário da primeira batalha, e caracterizada pelas forças de Figueiroa, Henrique Dias e Diogo Camarão.

 

- Ofensiva

Este princípio, combinado com o da surpresa, foi muito explorado pelos luso-brasileiros.

Ele pode ser caracterizado pelos fulminantes e rápidos ataques desfechados em toda a frente, pondo em debandada todos os regimentos inimigos, e por persegui-los até as portas do Recife.

 

- Segurança

a) Antes do ataque

Ao reconhecerem o dispositivo inimigo, decidiram não atacar na direção norte-sul conforme este esperava.

Ao decidirem infiltrar-se à noite, através de passagens existentes nos morros a W dos Montes Guararapes, rumo ao Engenho Novo.

Ao ocuparem à noite, com o grosso de suas forças, as trincheiras do Engenho Novo, cobrindo-se, à frente, pela ocupação de trincheiras no Engenho Guararapes.

Ao reconhecerem, na manhã de 19, judiciosamente, as posições ocupadas pelo inimigo.

Ao reconhecerem a superioridade do inimigo, se atacado em suas posições, e ao recusarem, sabiamente, enfrentá-lo nestas condições.

Ao ocultarem do inimigo o seu dispositivo, organização e valor, acobertados pelas matas e alagados existentes na frente inimiga.

Ao dosarem o esforço nas alas, evitando a possibilidade de envolvimento, manobra favorita do inimigo.

b) Durante o ataque

Ao lançarem-se no ataque no momento exato em que o dispositivo inimigo apresentou grande falha.

Ao socorrerem Diogo Camarão em séria dificuldade, com a tropa de cavalaria do Cap Antônio Silva.

Ao manter Barreto de Menezes uma pequena reserva em sua mão, sendo a cavalaria uma espécie de reserva móvel.

 

- Surpresa

Ao apresentarem-se no sul dos Guararapes quando eram esperados pelo norte.

Ao darem impressão aos holandeses de estar com um fraco dispositivo para o combate, fazendo com que estes decidissem retrair sem maiores cuidados.

Ao atacarem de surpresa, e em toda a frente, os holandeses no momento em que se organizavam para marchar, crendo eles que os luso-brasileiros não ousariam semelhante empresa.

Ao ser o inimigo atacado pela retaguarda, no local da atual Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, pelo Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso.

 

- Manobra

Ao reunirem e deslocarem com presteza e rapidez sua massa de manobra para a área dos Montes Guararapes.

Ao deslocarem a massa de manobra do norte dos Montes Guararapes para o sul, infiltrando-se durante à noite pelos desfiladeiros situados a oeste daqueles montes.

Ao lançarem ainda na noite de 18 para 19, partidas sobre o dispositivo inimigo.

Ao tomarem o dispositivo de ataque a coberto das matas abertas e alagados situados a sul e a sudoeste dos Montes Guararapes.

Ao atacarem ao mesmo tempo, e no momento exato, em toda a frente.

Ao operar cada peça de manobra, durante a batalha, atacando em todas as direções, ora recuando, ora avançando, estabelecendo a maior confusão no rígido dispositivo defensivo de cada regimento inimigo.

 

- Unidade de comando

Este princípio foi observado até o momento do ataque, ocasião em que foi descentralizado por imposição do quadro de aproveitamento de êxito e de perseguição, e a cargo de cada comandante subordinado.

 

- Simplicidade

A manobra foi simples, vindo a constituir-se de um ataque em toda a frente, com um esforço mais acentuado nas alas, dentro de um quadro de aproveitamento de êxito e perseguição sobre o dispositivo inimigo em mudança de defensiva para o de coluna de marcha.

 

Comentário

O judicioso e brilhante emprego dos princípios de guerra da surpresa e da segurança, combinados com a aplicação eficiente dos princípios ofensiva, objetivo e manobra, tornaram possível esta segunda vitória de um pequeno exército de patriotas, sobre um exército moderno, mais numeroso e bem equipado, mas sem motivação patriótica e religiosa, por ser constituído de mercenários.