CONCLUSÃO

 

Em 25 de janeiro de 1654, na Campina do Taborda, na atual cidade do Recife-PE, tiveram fim 30 anos de guerra holandesa. Para isto contribuíram, decisivamente, as vitórias da doutrina militar brasileira dos Montes Guararapes, a serviço da Religião Católica e do Espírito de Nacionalidade, este iniciado pelas armas no Monte das Tabocas e consolidado gloriosamente nas duas Batalhas dos Guararapes.

 

 

CONSEQÜÊNCIAS DA 2ª BATALHA

 - Para os holandeses :

Foi destruída a capacidade ofensiva estratégica terrestre dos holandeses no Brasil. Estes se limitaram, daí por diante, a golpes-de-mão sobre estâncias da Várzea e localidades do litoral.

O cerco ao Recife, base de operações dos holandeses no Brasil, ficou cada vez mais apertado, conforme pode ser concluído do seguinte depoimento holandês: "O inimigo nos mantém aqui tão fechado, que a bem dizer está com a espada sobre nossos pescoços e conserva-se nas vizinhanças com todas as suas forças".

Em conseqüência da derrota, lavraram no Recife sérias desavenças entre civis e militares, culminando com o recolhimento para a Europa de diversos oficiais, incluindo-se o Almirante With, que levou com ele dois grandes navios.

Isto veio agravar, ainda mais, a crítica situação dos holandeses no Brasil, além de reduzir-lhes a capacidade estratégica naval por falta de víveres e aguadas. A 1ª Batalha já havia diminuído a capacidade naval.

A Companhia das Índias Ocidentais, privada por longo tempo da exploração econômica do açúcar do Brasil, dia a dia caminha célere rumo à falência e não tem mais esperanças de recuperar o Brasil.

 

- Para os luso-brasileiros:

Com a destruição de grande parte da força estratégica terrestre holandesa sediada no Recife, base de operações holandesas no Brasil, o litoral brasileiro, de S. Luiz ao Rio de Janeiro, e principalmente a Bahia, ficou livre, de uma vez por todas, de ataques navais holandeses partidos do Recife.

Durante o período da Insurreição Pernambucana, os holandeses, baseados no inexpugnável Recife, cercados por terra, desfecharam, no litoral do Nordeste e, principalmente, sobre a Bahia, violentas incursões marítimas.

Portugal, alentado com esta vitória, decide organizar uma esquadra, com a finalidade de recuperar os portos do Brasil e, assim tirar aos holandeses sua capacidade ofensiva estratégica marítima, bastante diminuída.

A vitória levantou o moral dos patriotas, que se convenceram de que a expulsão dos holandeses era uma questão de tempo. Por isto passaram a desfechar, contra o Recife, ataques cada vez mais audazes, além de clamarem pelo envio de uma esquadra para desfechar o golpe final no inimigo.

Vitória e repercussão na Europa da doutrina militar da guerra brasílica, que venceu a doutrina militar em voga naquele continente.

 

 

RESTAURAÇÃO DE PERNAMBUCO

Durante três anos, os patriotas hostilizam os holandeses em torno do Recife, cabendo registrar o combate de 1º de maio de 1652, travado entre Afogados e Barreta, no qual o "Mestre de Emboscada", Antônio Dias Cardoso, comandando 400 homens, infligiu pesada derrota aos holandeses.

 

Derrocada militar-holandesa

Em 1653, teve início a derrocada militar holandesa no Brasil, em conseqüência, entre outros, dos seguintes fatos:

- o rigoroso cerco a que foram submetidos por terra no Recife;

- a Companhia, a cujo serviço estavam, entrou em grave crise econômica e deixou de enviar reforços ao Recife;

- a Inglaterra, em guerra com a Holanda, tirou-lhe a supremacia naval no litoral do Brasil;

- o envio de poderosa esquadra da Companhia Geral de Comércio de Portugal para auxiliar os patriotas no golpe derradeiro aos holandeses no Recife.

 

Queda do Recife

- A 14 de janeiro de 1654, teve início o assédio à praça forte do Recife.

- A 15 de janeiro, após um dia de luta, rendeu-se o Forte do Rego.

- A 17 de janeiro, caiu o reduto holandês de Altenar e, pela manobra, os fortes da Barreta, Afogados, Buraco e Parregis.

- A 22 de janeiro, caiu em mãos de Vidal de Negreiros e de Dias Cardoso o Forte Améla.

Estando cercado o Pentágono ou Forte de Cinco Pontas, baluarte defensivo do Recife, seu comandante, a 23, pediu que fossem cessadas as hostilidades.

As discussões dos termos de rendição prolongaram-se pelos dias 24 e 25.

- Em 26 de janeiro de 1654, na Campina do Taborda, fronteira ao Forte das Cinco Pontas, foi assinada a rendição holandesa, que pôs fim a 30 anos de guerra contra a Holanda no Brasil. Guerra para cujo final honroso muito contribuíram as memoráveis Batalhas dos Guararapes, descritas e analisadas neste trabalho.

- No dia 27, Recife e Maurícia foram ocupadas pelos patriotas e, no dia 28, o Mestre de Campo General Barreto de Menezes entrou triunfante no Recife, que estivera cerca de um quarto de século (23 anos) em poder dos holandeses.

 

Conseqüências:

- foi posto um fim, no Brasil, às invasões estrangeiras por motivos de conquista;

- foi mantida a unidade geográfica do Brasil, em razão do uso da doutrina militar brasílica, a serviço dos brasileiros, de Portugal e da Igreja Católica;

- foi mantida a unidade geográfica luso-espanhola na América do Sul, ameaçada pelos holandeses baseados em Pernambuco;

- foi mantida a unidade religiosa católica na América do Sul, com a expulsão do calvinismo de Pernambuco;

- surgiu a consciência de que o Brasil era algo mais que uma colônia, já uma nação, capaz de defender-se sem auxílio de Portugal. Era o sentimento de nacionalidade nascente, obtido através das gloriosas e memoráveis vitórias da doutrina militar brasílica, desenvolvida pelo povo em armas;

- surgiram os fundamentos da grande Democracia Étnica Brasileira, em conseqüência do irmamento de brancos, índios, pretos, caboclos, mulatos e curibocas, em razão dos ingentes sacrifícios de quase 24 anos de lutas contra o invasor;

Este irmanamento se sublimou nos Guararapes — batalhas que, guardadas as devidas proporções no tempo, no espaço e na finalidade, significam para a nascente raça brasileira uma grande afirmação perante o mundo.

- surgiu o espírito do Exército Brasileiro, emergido da doutrina militar brasílica, que venceu um dos maiores exércitos da Europa, comparável aos de França e Suécia de então. Doutrina Militar esta que passou a influenciar o exército português das colônias e do Reino e que, no Brasil, chegou ao 7 de setembro de 1822, impregnado pelo espírito de Guararapes e que, então, transmitiu esta chama ainda ao atual Exército Brasileiro;

Estas palavras, do eminente Marechal Mascarenhas de Moraes, proferidas nos Guararapes, quando retornou vitorioso dos campos de Itália, dizem bem da projeção da doutrina militar brasílica aqui abordada.

"Nesta colina sagrada, na batalha vitoriosa contra o invasor, a força armada do Brasil se forjou e alicerçou para sempre a base da nacionalidade".

- é desbravado o litoral nordestino, particularmente do Recife a Sergipe;

- é estabelecido o sentimento de unidade nacional, motivado pela solidariedade à causa pernambucana e de outras capitanias, particularmente do Nordeste;

- são desenvolvidas técnicas açucareiras pelos holandeses o que melhorou a cultura da cana, e o Recife projetou-se no cenário econômico mundial;

- projetam-se, no futuro, o nacionalismo verde-amarelo e o amor à "Liberdade Divina", traduzidos, em Pernambuco, pelas tentativas de Independência e República de 1710, em Olinda, e, em 1817, no Recife; a tentativa de República de 1824, no Nordeste, com grande influência no Decênio Heróico Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul, bem como de outros movimentos republicanos que tiveram lugar na mesma época.

E para completar citamos as palavras lapidares de Pedro Calmon, presidente do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro:

"Foi nos Montes Guararapes há trezentos anos.

A maior batalha. O supremo desafio.

O duelo mortal do invasor e do filho da terra,

do estrangeiro e do nativo

da poderosa opressão e da liberdade heróica".

 

 

O ESPÍRITO SAGRADO DOS GUARARAPES

Inauguração do Parque Histórico Nacional dos Guararapes (1971).

 Ao finalizar este trabalho, esperamos que todos os leitores tenham sentido, com justificado orgulho cívico, o espírito sagrado dos Guararapes, bem como sido tocado por ele.

Prezados leitores!

A grandeza de um povo é resultado do seu civismo e de sua riqueza material.

O civismo é o vigor moral de um povo, é neto da História e filho da Tradição.

A História é a mestra das mestras: a mestra da vida.

A tradição é alma de um povo, e está para ele, como o perfume, para a flor.

Povo que não possui tradição ou não a cultua é espada sem têmpera que quebra ao primeiro embate, ou barco à deriva, sem bússola, na tempestade, que não sabe de onde vem nem para onde vai.

Civismo é fé nos destinos da Pátria, e esta fé removerá as montanhas de dificuldades do caminho do Brasil. E esta mesma fé inquebrantável, combinada com o trabalho constante, racional, objetivo e honesto de todos os brasileiros compensará na raça autêntica as nossas deficiências materiais.

As Batalhas dos Guararapes são um atestado eloqüente do acendrado civismo de um povo pobre, sitiado pelo mar, mas que, inspirado por um grande amor à Pátria nascente e em Deus, enfrentou e destruiu frações expressivas de um dos mais ricos e melhores exércitos de então. Isto após indescritíveis sofrimentos de toda a ordem, padecidos durante os nove anos da Insurreição de Pernambuco.

O espírito dos Guararapes é o mais fino e raro perfume da tradição da nacionalidade brasileira.

O espírito dos Guararapes foi ontem a chama mais viva e radiosa que das heróicas terras de Pernambuco iluminou todo o Brasil no caminho dos seus gloriosos destinos.

As cinzas que ainda encobrem a chama do espírito de Guararapes devem ser removidas para todo o sempre, para que esta não bruxuleie jamais, e assim retarde de um só segundo este gigante brasileiro rumo a seu histórico e grande destino.

Espírito de Guararapes é o nacionalismo verde e amarelo, não o nacionalismo histérico, desagregador, inconseqüente, fruto da paixão, do sonho utópico.

O espírito de Guararapes é o pavilhão invisível da nacionalidade.

Espírito de Guararapes é a fortíssima liga metálica da unidade nacional, territorial, espiritual e étnica do Brasil.

Espírito de Guararapes é a harmonia e a integração do caldeirão de raças brasileiro, que fazem do Brasil uma grande democracia étnica.