0 75º ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1932 EM SÃO PAULO

Cel Cláudio Moreira Bento
Presid
ente da AHIMTB

 

 A TV CULTURA de São Paulo levou ao   ar em 9 de julho de 200, programa especial comemorativo dos 75 anos da Revolução de 1932, apresentando um debate na Assembléia de São Paulo e reportagens de estudantes de jornalismo nas frentes onde se desenrolaram os combates.

 A Academia de História Militar Terrestre do Brasil participou diretamente através dessa Presidência,  a convite da TV Cultura na área   Cruzeiro – Tunel da Mantiqueira – Passa Quatro .E o seu acadêmico emérito Hernani Donato ,autor do precioso Dicionário das Batalhas Brasileiras e autoridade no tema, no debate na Assembléia de São Paulo .E  participaram,  indiretamente, o patrono da Delegacia da AHIMTB em São Paulo, o General Bertoldo Klinger, o comandante militar do movimento em São Paulo e mais  o seu patrono de Cadeira Especial,  o Coronel Medico da Policia Militar de Minas ,Juscelino Kubishek  na frente Mineira que atacou  venceu a forte resistência paulista no  túnel e maciço da Mantiqueira que separava os atacantes mineiros em Passa Quatro e os paulistas que disputaram a ferro e fogo o domínio do Acidente Capital cidade de Cruzeiro .  entroncamento ferroviário estratégico . Disputa que o Coronel Juscelino relatou detalhes em carta .

   O General Klinger não havia se consagrado como um estrategista e tático militar e sim como um grande artilheiro que com seus estudos na Alemanha em 1912 , dedicação ao assunto muito desenvolveu a Artilharia do Exército, cujos progressos ele transmitia principalmente através de seus numerosos artigos na Revista A Defesa Nacional que ele ajudou a fundar com outros Jovens Turcos em 1913 , os quais através da citada revista  promoveram uma revolução cultural no Exército. Ensinamentos de Artilharia de Klinger que foram muito usados por nossa Artilharia na FEB conforme reconheceu o seu amigo que comandou a FEB, o Marechal Mascarenhas de Morais. Klinger  fora o mais brilhante aluno que estudou na Escola Preparatória e Tática de Rio Pardo, podendo ter concluído seu curso de três anos em um  só, mas  lhe foi permitido concluir em dois, sendo o único a receber como prêmio um espadim distintivo de sua aplicação e  brilho estudantil, o qual depois   mandou  banhar em ouro o doando a Campanha do Ouro em São Paulo em 1932, e que hoje se encontra num museu paulista.

O biografamos em seu centenário na Revista a Defesa Nacional, nº 711 ,jan/fev 1991 .A ele muito devemos o trabalho de resgate da História da Escola Preparatória e Tática do Rio Pardo em nosso livro Escolas Militares em Rio Pardo 1859/1911, onde estudaram entre outros Getúlio Vargas, Eurico Dutra, Mascarenhas de Morais  e o Coronel Pantaleão Pessoa. Este que seria o Chefe do Estado-Maior do General Góis Monteiro que redigiu os termos da Convenção Militar que colocou fim no movimento, a maior luta interna no Brasil, na qual “ era  reconhecida a extraordinária persistência e bravura com se bateram os paulistas” em 1932 em defesa de suas verdades.  Fomos convidados para nos deslocarmos a Cruzeiro, onde em 1992, no 60º aniversário da Revolução de 32, a convite do IEV, a abordamos conforme ele foi publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, entidade de que  sou sócio  desde 1977.

E novamente agora   a abordamos do ponto de vista militar na boca do Túnel em Passa Quatro, para a TV Cultura, por meio de uma análise doutrinária militar, ressaltando a importância estratégica desta posição,  o mais importante Acidente Capital da Revolução 32, que de posse dos paulistas assegurava proteção do seu dispositivo no vale do Paraíba que alcançou os limites de São Paulo/ Rio de Janeiro. Acidente Capital que de posse dos governistas, em Cruzeiro, isolariam o dispositivo paulista entre Cruzeiro e Resende, ao longo dos  eixos ferroviário e rodoviário e depois de operada a junção da frente Leste no Vale do Paraíba com a Frente Mineira decretava o fim da capacidade defensiva tática dos revolucionários. E foi o que aconteceu.

Percebendo a importância da posição, em  10 de jul, dia seguinte ao estouro da Revolução, o revolucionário Coronel Sampaio, que segundo consta seria  descendente do heróico General Antônio de Sampaio, patrono da Infantaria do Exército,  fortificou o maciço  e o túnel para cobrar alto preço por sua conquista pelas tropas governistas  da Frente Mineira.

No debate na Assembléia de São Paulo chamou minha a atenção as preciosas considerações históricas do nosso confrade Ernani Donato, sobre o valor do povo paulista no conflito que considero o mais notável exercício de Mobilização Geral ocorrido no Brasil e riquíssimo  em lições de Logística,   bem como a participação militar geralmente esquecida do esforço revolucionário no Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso, Amazonas e Belém. De fato foi notável e comovente a resposta do Povo Paulista á convocação para a luta, como ressaltei na entrevista a TV Cultura no Túnel da Mantiqueira.

          Gostei no debate esclarecedor democrático na Assembléia como as considerações da professora Ilka Cohen, historiadora social, de que a Revolução foi promovida por elites oligárquicas depostas pela Revolução de 30. E ao que nos pareceu houve consenso entre os debatedores .Igualmente apreciei as considerações do professor Rogério Batistini Mendes, professor da Escola de Sociologia e Política,  bem como a equilibrada participação do repórter da Band, moderador dos debates e perguntas dos universitários assistentes. Debate muito esclarecedor na procura da verdade, sem maniqueísmo, assegurando o contraditório, a determinadas posições mistificadas  e em especial a dos professores Rogério e Ilka que expuseram os pontos de vistas dos governistas. Interessante foi a Guerra Psicológica mencionada por Hernani Donato desenvolvida pelas lideranças da Revolução sobre o Povo Paulista e a dos governistas sobre o restante do Brasil. E  ambos exagerando intenções indignas de cada contendor. Confirmando que na guerra a “ primeira vítima é a verdade” ,Ou que” em tempo de guerra a mentira e como terra” . Concordo com o confrade Hernani Donato de que a Revolução militarmente nasceu morta e que embora ela tivesse inicialmente uma idéia ofensiva visando atingir o Rio ela foi defensiva, não explorou o efeito surpresa. .Resultado o seu isolamento e bloqueio e liberdade total para o Governo fazer cerrar para frente dr combate recursos de toda a ordem. O  professor Rogério colocou muito bem questões do lado dos governistas,  o que é difícil colocar face à ainda possível como no  ocaso da Revolução  Federalista e Revolta na Armada1893/95,   em razão da lembrança das atrocidades cometidas por ambos os contendores contra o adversário, por conduzidas por lideranças civis com tropas civis sem o conhecimento de Ciência e Arte Militar. Na entrevista a TV Cultura no Túnel  mencionei o esforço gaúcho sobre a liderança de Borges de Medeiros e Batista Luzardo que teve seu epílogo em 20 de setembro de 1932, em Piratini, exatamente a 97 anos da eclosão da Revolução Farroupilha, com a derrota e prisão dos líderes  gaúchos em Cerro Alegre que formaram ao lado dos paulistas. E lá por pouco não foi aprisionado meu pai prefeito de Canguçu, que se dirigia para encontrar-se  com Borges de Medeiros do qual seu pai fora seu Chefe de Polícia, Secretário e organizador da defesa de Porto Alegre com a Guarda Republicana em 1923. Lamento que nossa  contribuição a TV Cultura não tenha sido mais bem aproveitada e citada nos agradecimentos a nossa AHIMTB a que eu e Hernani Donato integramos também como historiadores militares  pertencemos . Faltou algo??? Os outros expositores das outras frentes que eram predominantemente moças, foram brilhantes, em especial a que lia o Diário de Getúlio, inclusive numa tomada em frente ao Monumento do General Osório no Rio, bicentenário em 2008 e tema de meu livro General Osório o maior herói e líder e popular brasileiro.  Mas foi um documentário sem rival e que muito aprendi com o debate dos integrantes da mesma e as interessantes perguntas do coordenador como à razão de São Paulo não haver reagido ao Estado Novo?