PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS E DA MARINHA MERCANTE DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
 (1942-1945)

 

Cláudio Moreira Bento
Presidente da AHIMTB

 

Trabalho publicado em Volta Redonda : Gazetilha,1995

Comemorativo do Jubileu de Ouro do Dia da Vitória

 


INDICE


Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA

Mobilização Militar do Brasil

O Exército Brasileiro

Defesa territorial do Brasil

Força Expedicionária Brasileira (FEB)

Divisão de Infantaria Divisionária (1ª DIE)

Operações da 1ª DIE/FEB

Marinha de Guerra do Brasil

Força Naval do Nordeste (FNN)

Marinha Mercante Brasileira

Torpedeamentos de Mercantes Brasileiros

Aeronáutica Brasileira

Grupo de Aviação de Caça 1º (Senta a Pua!)

Esquadrilha de Ligação e Reconhecimento (1ª ELO)

Submarinos afundados no Brasil

Correspondentes de Guerra do Brasil

Condecorações brasileiras da Segunda Guerra Mundial

Recordações do Brasil em guerra

 


 

PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS

E DA MARINHA MERCANTE DO BRASIL

NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

(1942-1945)

Cláudio Moreira Bento

Pela primeira vez, apresenta-se uma visão estratégica global e integrada da participação do Exército, da Marinha de Guerra e da Mercante e da Aeronáutica na Segunda Guerra Mundial, nas batalhas do Atlântico e do Teatro de Operações do Mediterrâneo.

A pesquisa comemorativa do cinqüentenário da entrada do Brasil no grande conflito, em 22 de agosto de 1942, cobre lacuna nesta Revista sobre nossa efetiva participação.

 

O Brasil participou do esforço de guerra aliada a partir de 22 de agosto de 1942, quando entrou na guerra depois de reconhecer o estado de beligerância contra ele de parte do Eixo e, até 8 de maio de 1945 – Dia da Vitória. Sua extensão geográfica (a quinta do mundo), sua posição geopolítica debruçada sobre o Atlântico e mais a sua solidariedade ao Continente Americanos não lhe permitiram ficar neutro. Assim participou, pois, do esforço de guerra aliado nos teatros de operações do Atlântico e do Mediterrâneo, em decorrência do Acordo Bilateral Brasil-EUA, de 23 de maio de 1942, que foi coordenado pela Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA, desdobrada em Washington e no Rio de Janeiro. As Forças Armadas Brasileiras assim participaram: o Exército defendeu o território brasileiro e as instalações militares nele existentes com ênfase na Zona de Guerra então criada e dentro desta o Saliente Nordestino (RN, PB, PE, AL) e nele o triângulo Natal-Recife-Arquipélago de Fernando de Noronha, além do envio da Força Expedicionária Brasileira-FEB ao TO do Mediterrâneo, integrando o V Exército dos EUA; a Marinha encarregou-se da defesa dos portos, patrulhamento oceânico e escolta de comboios marítimos, isoladamente, ou integrando a 4ª Esquadra Americana, com Quartel General no Recife; a Aeronáutica executou ações de patrulhamento oceânico e proteção de comboios, isoladamente, ou integrando a 4ª Esquadra Americana, além do envio de um grupo de caça (1º Grupo de Caça) que integrou a Força Aérea Aliada do Mediterrâneo e uma Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO) que combateu sobre o controle operacional da FEB, também na Itália. A cooperação do Brasil com os aliados inicialmente ficou restrita ao Continente Americano ficou restrita ao Continente Americano. Cessada a ameaça de uma ação do Eixo de invasão das Américas pelo Saliente Nordestino, resolução da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA de nº 16, de 21 de agosto de 1943, ampliou a ação militar do Brasil o que se traduziu, na prática, no envio de tropas de terra e ar para o teatro do Mediterrâneo e ação de nossa Marinha além de águas continentais americanas. Em contrapartida o Brasil recebeu dos EUA para o cumprimento de suas missões militares no Atlântico e no Mediterrâneo o material bélico correspondente, pela Lei de Empréstimos e Arrendamentos (lend-lease), saldada em 1954, além de instrução americana correspondente à guerra anti-submarino, proteção de comboios, caça aérea, defesa antiaérea e de costa e emprego de divisões de Infantaria. O esforço militar inicial do Brasil foi para defender em ações conjuntas de suas forças de terra, mar e ar o Saliente Nordestino, que, junto à costa do Senegal, na África, formava o estreito Natal-Dakar, através do qual os alemães, antes de serem derrotados no norte da África, podiam tentar uma ação aeronaval ou mesmo ações tipo comando contra o NE, a partir da conquista do Arquipélago de Fernando de Noronha. O Saliente Nordestino, através da base aérea de Parnamirim-Natal, cedida aos americanos junto com a base de Belém-PA, se constituiu em acidente capital estratégico integrando ponte aérea militar americana Natal-Dakar, que foi essencial para a conquista aliada do norte da África e do Oriente Médio, invasão da Europa pela Itália e mesmo apoio a operações dos EUA no Extremo Oriente. A cooperação brasileira ao esforço aliado, a nível estratégico, se caracterizou: pela defesa do Saliente Nordestino contra uma possível invasão das Américas pelo Eixo, através do estreito Dakar-Natal; pela captura, pela FEB, de duas divisões do Eixo com 20.753 homens; pelo fornecimento de materiais estratégicos como cera de carnaúba, cristal de rocha e borracha, esta colhida pelos soldados da borracha que se embrenharam na Amazônia e pela cessão das bases aéreas de Natal e Belém aos EUA, que apressaram a vitória aliada na África, no Oriente Médio, na Europa e mesmo na Ásia. A base de Natal permitiu que milhares de aviões militares dos EUA dela saltassem, sem escalas, para a África e de lá para a Europa e Extremo Oriente. Ela se projetou, inclusive, na vitória inglesa de El Alamein. Sem ela teria sido muito difícil a ajuda americana aos ingleses. Daí decorreu a expressão – O Trampolim da Vitória – dada ao Saliente Nordestino, onde se localizava a base aérea de Parnamirim-Natal. O Brasil perdeu nesta guerra 1.889 brasileiros por morte; foram afundados 34 de seus navios, dos quais 31 mercantes e abatidos 22 de seus aviões, além de haver gasto com a guerra 21 milhões de cruzeiros em cálculo da época. Durante a guerra as Forças Armadas do Brasil se modernizaram doutrinariamente. A renovação do seu material bélico foi expressiva com apoio do lend-lease. Elas se equiparam com o que havia de mais moderno: caças-submarinos; aviões de caça, de bombardeio e anti-submarino; contratorpedeiros de escolta; carros de combate; canhões de campanha, anticarro, antiaéreo e de costa, radares e sonares; detetores de minas; bombas de gasolina gelatinosa, etc... A instrução se atualizou com base nos padrões das Forças Armadas dos EUA e na experiência operacional adquirida por frações de nossas Forças Armadas que integraram a 4ª Esquadra Americana no Nordeste na Batalha do Atlântico ou que integraram a Força Aérea Aliada do Mediterrâneo e o V Exército dos EUA, na Campanha da Itália. O Brasil, no rol de suas vitórias militares, incluiu mais os combates de Monte Castelo, Castelnuovo, Montese e Coléchio-Fornovo, vitórias mais expressivas de sua FEB com o concurso da FAB, através de seu 1º Grupo de Caça e 1ª ELO e da Marinha de Guerra que ajudou a escoltá-la para a Itália e trazê-la de volta. O desenvolvimento da Aeronáutica em função da guerra teve grandes reflexos na acelerada modernização da Aviação Civil do Brasil. Não tem fundamento histórico a versão muito difundida, mas reiteradamente rebatida pelo construtor da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, general Edmundo de Macedo Soares, de que ela foi o resultado de financiamento dos EUA com a condição de o Brasil entrar na guerra. Afirmação negativa feita por aquela autoridade na condição de historiador, nos institutos Histórico e Geográfico Brasileiro e de Geografia e História Militar do Brasil. O último ele presidia ao falecer, quando, pouco antes teve a tristeza ao assistir pela TV a mudança de seu nome por outro, no calor de uma paixão política, em uma praça central da Cidade do Aço. Além da destacada defesa das Américas feita pelo Brasil, ao defender o Saliente Nordestino de uma invasão do Eixo e na Proteção do tráfego marítimo no Atlântico Sul (Oriental), com apoio, em suas bases navais e aéreas e forças aéreas e navais que integraram a Força Naval do Atlântico Sul (EUA) e 4ª Esquadra Americana, o Brasil foi o único país da América Latina a participar, fora do Continente Americano, do esforço de guerra aliado, com tropas expedicionárias, da cruzada bélica contra o Eixo, em defesa da Democracia e da Liberdade Mundial. Após a guerra por deferência aliada, o Brasil manteve de 1945-50, na Alemanha ocupada, uma missão militar brasileira, na qual o Exército foi representado pelo coronel Aurélio de Lyra Tavares, que a chefiou, e futuro ministro do Exército Brasileiro e atualmente historiador militar e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras. O Brasil já havia participado do esforço militar aliado na Primeira Guerra Mundial, através de sua Marinha, representada pela Divisão de Operações Navais (DNOG) ao comando do alte. Pedro Frontin para operar no litoral da África, de Serra Leoa para o Norte, com oito navios de guerra, como parte de esquadra aliada ao comando do almirante inglês Heatcoat Grant e o Exército, representado por sua Comissão de Estudos de Operações de Guerra e de Aquisição de Material na França, constituída de 24 oficiais que combateram no Exército da França, dos quais 8 foram promovidos por atos de bravura. Comissão chefiada pelo gen. Felipe Aché ao qual também subordinou-se à missão médica especial enviada pelo Brasil e composta de médicos do Exército, Marinha e civis, formados ou acadêmicos, à disposição do Comando Único dos Exércitos Aliados. Um reduzido número de pilotos do Exército e da Marinha se adestraram respectivamente nas aviações militares da França e Inglaterra e nelas combateram, se constituindo, após, em sementes das aviações do Exército e Marinha que, fundidas em 1941, deram origem à Força Aérea Brasileira. Estes pioneiros, com auxílio de Missão Naval Americana na Marinha e Missão Militar Francesa para o Exército e sua aviação militar, contribuíram entre as duas guerras para atualizar toda a Marinha e o Exército na doutrina que dominou a 1ª Guerra.

Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA

O ataque japonês a Perl Harbour; a campanha submarina contra a navegação americana; a guerra em curso na Europa, África e Ásia levaram os EUA a encarar a possibilidade de um ataque do Eixo às Américas, visando atingir indiretamente o Canal do Panamá, estratégica e vital posição na defesa dos EUA. O local mais provável para um desembarque do Eixo nas Américas seria o Saliente Nordestino do Brasil. Então os EUA tomaram a seguinte decisão: organizar uma defesa total em terra, no mar e no ar, o suficiente para repelir um ataque proveniente de qualquer parte do mundo. Dentro deste contexto celebrou o Acordo Militar Brasil-EUA, em 23 de maio de 1942, que teve a implementá-lo a Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA, desdobrada em Washington e Rio de Janeiro. Antes o Brasil já havia sido visitado, de 25 de maio a 7 abril de 1939, por Missão Militar Americana, chefiada pelo chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA, gen. George Marshal que, após visitar instalações das Forças Armadas do Brasil no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, levou de volta, como convidado, o chefe do Estado-Maior do Exército Brasileiro, general Pedro Aurélio de Góes Monteiro, que retornou ao Brasil, em 14 de junho de 1939, após visitar as instalações militares daquele país e lançar as bases de uma cooperação mais estreita, que se traduziu numa Missão Militar Americana para o Exército Brasileiro que completasse lacuna da Missão Militar Francesa que acabava de deixar o Brasil, em função da guerra que provocou a invasão da França. Esta missão veio complementar o trabalho de missão americana que instruía a Artilharia de Costa do Brasil, sob a orientação do general Kimberly. A delegação do Brasil à Comissão Mista de Defesa em Washington foi chefiada pelo general de divisão, Estevão Leitão de Carvalho, que, como comandante do Teatro de Operações Nordestino, havia planejado a defesa do Saliente Nordestino que foi executada em ação conjunta pelas forças terrestres, aéreas e navais com responsabilidade pela defesa do TO. Integraram a delegação o vice-almirante Álvaro Rodrigues Vasconcelos e o cel. – aviador Vasco Alves Seco. A delegação da Comissão no Rio de Janeiro foi chefiada pelo maj. – gen. J. Gareshe Ord, dos EUA. A primeira reunião da comissão foi em Washington, em 25 de agosto de 1942, Dia do Soldado no Brasil. A Resolução11 da comissão estabeleceu em síntese: responsabilidade do Exército Brasileiro pela defesa territorial do Brasil e dos estabelecimentos militares nele existentes; cooperação da Força do Atlântico Sul (depois 4ª Esquadra Americana) com forças aéreas e navais brasileiras, na proteção das áreas costeiras brasileiras e, destas, com aquela força, na proteção do tráfego marítimo em subsetor do Atlântico Sul, em rotas de comboios estabelecidas por ela. Esta comissão Mista de Defesa coordenou durante toda a guerra a participação do Brasil em aliança militar com os aliados. Sobre o assunto o chefe da delegação brasileira gen. Estevão Leitão de Carvalho e também destacado historiador brasileiro deixou a preciosa obra – A serviço do Brasil na II (Guerra Mundial, (Rio, Edt. A Noite, 1950). O gen. Leitão de Carvalho foi chefe brasileiro de escol. Foi líder dos "jovens turcos" oficiais do Exército que tiraram cursos de 1910-12 na Alemanha e que de retorno fundaram a revista A Defesa Nacional. Era casado com a herdeira do escritor Machado de Assis e comandou no início da guerra as grandes manobras de Saican da 3ª Região Militar no Rio Grande do Sul que contaram com a presença do presidente Getúlio Vargas. A participação de forças militares do Brasil, em lutas fora do Continente Americano, resultou na Resolução 16 desta Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA. Por esta Resolução a FEB seria constituída de um corpo de Exército com três divisões de Infantaria e uma divisão blindada para lutar na África e Europa. Para a FAB era previsto participar de operações aéreas no Mediterrâneo com mais um grupo de bombardeiros médios, além do 1º Grupo de Caça e 1ª ELO. A ação da Marinha foi estendida ao patrulhamento e proteção de comboios fora de águas americanas. Desde junho de 1941 o Brasil iniciou a cooperação com os EUA ao colocar os portos de Salvador e Recife à disposição da Força Tarefa 3 dos EUA ao comando do almirante Jonas H. Ingran mais tarde o comandante da Força do Atlântico Sul e 4ª Esquadra Americana. A base de Natal a partir de 16 de setembro de 1941 foi colocada à disposição de um esquadrão de Catalinas dos EUA. Adidos militares navais americanos a este tempo espalharam-se pelos principais portos brasileiros que foram objetivos de ataques em plano de Adolf Hitler. A Comissão Mista teve o peso de seus trabalhos em Washington. Ela colheu preciosa experiência que não pode deixar de ser levada em conta em futuras cooperações militares do Brasil. Foi de grande relevância o seu trabalho. À Comissão Mista coube implementar o Acordo Militar Brasil-EUA, através da elaboração de planos minuciosos, além de estabelecer, entre os estados-maiores das delegações respectivas, acordos destinados à defesa mútua Brasil-EUA. Os planos deviam estabelecer a responsabilidade do Brasil e EUA nos teatros de operações que viessem a ser criados. À Comissão Mista competia recomendar aos governos contratantes as alterações a introduzir nos planos aprovados. Todo o relacionamento Brasil-EUA nos TO do Atlântico Sul e Mediterrâneo sofreu intensa discussão na Comissão Mista, cujo trabalho relevante somente veio à tona com a edição do citado e relevante A Serviço do Brasil na Segunda Guerra Mundial, obra de um dos mais destacados soldados do Brasil no período de 1912-1945, além de historiador militar do Exército, cuja obra merece ser conhecida e refletida. Seu arquivo pessoal encontra-se no Arquivo Histórico do Exército desde 1989. Os negócios do Brasil junto à Alemanha ocupada de 1945-50 foram representados de fato pela Comissão Militar Brasileira junto ao Conselho Aliado de Controle da Alemanha (EUA, URSS, Inglaterra, França). Esta comissão foi a única de um país latino-americano creditada junto ao referido conselho e realizou trabalhos que competiriam a uma embaixada.

Saliente Nordestino (Brasil) foi e é expressão muito usada a nível estratégico. Abrange os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Possuiu grande projeção estratégica durante a guerra, seja no domínio aliado do Atlântico Sul (Ocidental), abaixo do paralelo 10 Norte, seja nas ligações aéreas dos EUA com Dakar, na África, que tiveram notável projeção nas operações aliadas no norte da África, Oriente Médio, sul da Europa e mesmo na Ásia. Seria a porta de entrada de um ataque do Eixo às Américas, visando conquistá-las, ou mesmo de ações aeronavais tipo comandos contra importantes instalações estratégicas dos EUA, em Natal (base aérea de Parnamirim) e Recife, quartel-general e base logística da Força Naval do Atlântico e 4ª Esquadra Americana (aérea e naval) encarregada da segurança do tráfego marítimo aliado em subsetor do Atlântico Sul assim batizado: Trinidad-ponto (30º LatW-10º LongN)-Ilha de Ascensão-ponto (26º LatW-40º LongS)-ponto litoral Argentina no paralelo 40º LongS. No Saliente se incluem as ilhas de Fernando de Noronha e da Trindade, além do atol das Rocas que poderiam servir de apoio a atividades aeronavais do Eixo, com vistas a operações contra ou no oceano contíguo ao Saliente. Todo o esforço conjunto das forças brasileiras de terra, mar e ar com jurisdição direta sobre o Saliente Nordestino foi de defendê-lo bem como suas instalações militares e, dentro dele, o triângulo Natal-Recife-Fernando de Noronha e, neste Fernando de Noronha, pela possibilidade, se conquistado pelo Eixo, servir de base de operações contra o continente. Este esforço defensivo foi intenso até a expulsão do Eixo da África e neutralização dos submarinos alemães que atuaram no subsetor do Atlântico, de cuja defesa participaram forças navais brasileiras-Força Naval do Nordeste e aéreas da 2ª Zona Aérea ao comando do brig. Eduardo Gomes, com jurisdição sobre todo o NE e com suas principais bases aéreas em Fortaleza, Natal, Recife e Salvador. Passou pelo Saliente Nordestino e especialmente pela base aérea de Natal (Parnamirim), bem como pela de Belém, o chamado Corredor da Vitória – ponte aérea militar dos EUA, ligando Flórida-Belém-Natal que foi essencial para a conquista da África, Oriente Médio, sul da Europa e apoio a operações no Extremo Oriente. Dentro deste Corredor da Vitória, a base aérea de Natal, no extremo do Saliente, passou à História como Trampolim da Vitória. Foi encarregada da defesa territorial do Saliente e de suas instalações militares a 7ª Região Militar ao comando do Gen. – div. João Baptista Mascarenhas de Morais, que mais tarde comandou a FEB, na Itália. O valor estratégico do Saliente Nordestino já havia sido utilizado pelos holandeses que dominaram Pernambuco, de 1631-1654, não pelo valor de seu açúcar, mas sim pela inexpugnável base militar terrestre e naval que se constitui para eles o Recife, fortaleza natural protegida por dois largos e profundos fossos – os rios Capibaribe e Beberibe, onde ficaram a salvo por 23 anos de um ataque terrestre dos luso-brasileiros. Dali eles controlaram o estreito do Atlântico e interferiram no tráfego marítimo da Espanha, com suas colônias sul-americanas, além de bloquearem o socorro de parte da Espanha e depois de 1640 de Portugal, ao Brasil.

Mobilização Militar do Brasil

A guerra encontrou o Brasil em condições de realizar a sua defesa territorial, com apoio em sua extensão geográfica e as poucas possibilidades de um desembarque em massa do Eixo no seu território a partir da África. Mas o encontrou despreparado para realizar operações aéreas e navais relacionadas com guerra anti-submarino e proteção de comboios em suas águas territoriais. O Exército possuía um efetivo de 60 mil homens concentrados no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Sua instrução desde 1920 obedecia a padrões da Missão Militar Francesa. O armamento era a base do adquirido pela organização de 1908, liderada pelo marechal Hermes da Fonseca. Constitui-se de fuzis Mauser 1908, metralhadoras Madsen e canhões Krupp 75. Predominava o transporte e a tração à base do cavalo e do muar. A Artilharia de Costa mais moderna era a dos fortes Floriano e Copacabana, anteriores à Primeira Guerra. A Marinha possuía um efetivo de 14 mil homens. Dispunha de dois couraçados, dois cruzadores, sete contratorpedeiros, um submarino, três navios mineiros, em sua maioria velhos e desequipados para a guerra anti-submarino e proteção do tráfego marítimo e adquirido para a Esquadra Brasileira criada em 1910. Seu arsenal do Rio de Janeiro possuía condições de construção de mais unidades navais o que ocorreu no curso da guerra. A Aeronáutica recém-criada com apoio na fusão das aviações do Exército e da Marinha que deram origem à Força Aérea Brasileira-FAB, dispunha de aviões ultrapassados em relação às forças aéreas mais modernas, para a realização em toda a plenitude de operações de proteção ao tráfego marítimo, guerra anti-submarina, caça aérea e bombardeio, missões que lhe caberiam pela Resoluções 11 e 16 da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA. A indústria bélica brasileira possuía capacidade limitada de atender às necessidades bélicas das Forças Armadas do Brasil. Foi impositivo apelar para a indústria dos EUA. No período de tensões que antecedeu a guerra, o Brasil adquiriu três submarinos da Itália, alguns navios nos EUA e armamento na Alemanha. Com a guerra, o Brasil equipou suas forças armadas com material bélico dos EUA, adquirido pela Lei de Empréstimos e Arrendamentos daquele país – o lend-lease. Assim conseguiu participar do esforço de guerra aliado nos TO do Atlântico e Mediterrâneo com equipamentos atualizados. O Exército adquiriu equipamento: 1 e ½ divisões de infantaria, uma divisão blindada, uma divisão motorizada, dois regimentos de artilharia antiaérea, além de 150 canhões de Artilharia de Costa, dos quais 100 Vicheres Armostrong do tempo da Primeira Guerra que foram adaptados com pneus para serem tracionados por tratores e duplicados seus alcances, em trabalho admirável do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. A Marinha adquiriu 16 caça-submarinos, oito contratorpedeiros, um navio transporte além de adaptar suas unidades navais para operações de guerra anti-submarinos e proteção de tráfego marítimo. Num trabalho admirável do Arsenal de Marinha do Rio, com a ajuda do Estaleiro Lage construiu até 1945, 5 contratorpedeiros, 12 corvetas e 2 caça-submarinos. A FAB foi equipada com três grupos de reconhecimentos e guerra anti-submarino dos tipos Ventura, Hudson e Catalina e um grupo de bombardeio médio B-25, um grupo de caça equipado com Thunderbolt P-47 e uma esquadrilha com 10 Piper Club L-4. Além disso incorporou as modernas bases aéreas de Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Fernando de Noronha, que serviram para a defesa territorial, proteção do tráfego marítimo e combate a navios furadores de bloqueio naval e possuíam os requisitos essenciais a uma aviação moderna e que foram construídas pelos EUA e por eles utilizadas dentro do Corredor da Vitória que contribuiu para suas vitórias na África e sul da Europa e mesmo operações na Ásia.

A mobilização no Exército elevou seu efetivo de 60 mil para 180 mil. Ela foi feita a base de convocação de reservistas; intensificação da formação de oficiais na Escola Militar e Centros e Núcleos de Formação de Oficiais da Reserva; intensificação da formação de sargentos em todas as unidades e de especialistas em todas as regiões militares. A Marinha desenvolveu grande esforço de mobilização, cabendo destacar o Centro de Formação de Reservistas de Natal e a reciclagem do pessoal da terra e guarnições de navios ultrapassados. A FAB convocou pilotos civis formados nos EUA, instruiu pilotos nos centros de preparação de oficiais da reserva de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre e ampliou o número de oficiais formados pela Escola de Aeronáutica dos Afonsos, além de reduzir a duração do seu curso. A instrução foi iniciada a ser solucionada com o envio aos EUA de oficiais brasileiros para se adaptarem em escolas e campos de instrução à nova doutrina em curso. Os EUA enviaram ao Brasil oficiais veteranos seus para ministrarem instrução. A Aeronáutica, através de sua FAB, bem como a Marinha, através de sua Força Naval do Nordeste, se beneficiaram da instrução teórica e prática ministrada pela Força Atlântico Sul e 4ª Esquadra Americana que integraram. Depois criaram a Usbatu para instrução aérea e a Eitas e o Citas para instrução naval e todas especializadas em guerra anti-submarino e proteção do tráfego marítimo ou de comboios. O valor dos equipamentos adquiridos para as Forças Armadas do Brasil foi estimado em cerca de sete milhões de cruzeiros ao preço da época. Todo este esforço resultou em expressivo progresso e atualização militar do Brasil. Os heróicos e legendários catalinas, adquiridos pelo Brasil, além dos relevantes serviços prestados na guerra, como o Arará que afundou um submarino alemão, ainda prestaram excelentes e históricos trabalhos por muitos anos após, a integração e desenvolvimento da Amazônia. Eles merecem um monumento que perpetue a memória de seus assinalados serviços de guerra e sobretudo de paz. Ficaram conhecidos como patas-chocas na gíria dos pilotos brasileiros.

O Exército brasileiro

Durante a guerra foi ministro da Guerra o gen.-div. Eurico Gaspar Dutra, futuro presidente do Brasil, logo depois da guerra e, chefe do Estado-Maior do Exército, o gen.-div. Pedro Aurélio de Góes Monteiro. Já em 1939, depois da visita do gen. George Marshall ao Brasil, a Missão Militar Francesa do Exército foi substituída por Missão Americana para que o Exército se atualizasse para ficar em condições de lutar com a doutrina militar e material bélico dos EUA, pois não estava em condições de operacionalidade para o tipo de guerra em curso na Europa. Mesmo antes de reconhecido o estado de beligerância do Eixo contra o Brasil, o Exército preparou-se para a missão de defesa territorial do Brasil, com ênfase na defesa do Saliente Nordestino, via de acesso lógica para uma tentativa do Eixo de invasão das Américas, a partir do Senegal, na África. O efetivo do Exército no NE foi elevado de seis mil para 50 mil homens. A mobilização e o aprestamento do Exército para a defesa do Saliente Nordestino e das suas instalações militares foi feita pelo gen. Div. João Baptista Mascarenhas de Moraes, como comandante da 7ª Região Militar, sediada no Recife. Com a expulsão dos alemães e italianos do norte da África, em novembro de 1942, cessaram os longos dias de espera e vigílias, acerca da possibilidade de uma ação do Eixo no Saliente. Foi decidido então o envio de uma Força Expedicionária Brasileira para lutar na África e Europa, cabendo o seu comando ao mencionado gen. Mascarenhas de Moraes. Esta autoridade, em dezembro de 1943, depois de escolhido comandante da FEB, à frente do Grupo de Observadores militares, integrado por oficiais brasileiros que haviam estagiado no Exército e Força Aérea dos EUA, visitou, no norte da África e Itália, as prováveis frentes de combate onde seria empregada a FEB e o Grupo de Caça da FAB. A FEB, prevista no valor de um corpo de Exército com duas divisões de infantaria e uma blindada, cujo comando caberia possivelmente ao gen. – div. Eurico Gaspar Dutra, conforme era o seu do desejo, resumiu-se numa divisão de infantaria – a 1ª Divisão de Infantaria Brasileira – 1ª DIE, por dificuldade de os EUA fornecerem material, por empenhados na invasão da Europa pela Normandia. A FEB foi reforçada com um depósito de recompletamento.

Sua estrutura foi fixada pela Portaria do Ministro da Guerra 47/44, de 9 de agosto de 1943. Ela combateu em 239 dias de ação, 6 de novembro de 1944 - 2 de maio de 1945, na Itália, integrando o V Exército dos EUA. Lutou contra ou em aliança com frações expressivas dos melhores exércitos do mundo presentes na Europa, fazendo boa figura e coroando assim o grande esforço profissionalizante do Exército, traduzido pela Reforma Militar 1898-1945, provocada pela Guerra de Canudos. Da experiência operacional colhida pela FEB muito se beneficiou o Exército para atualizar-se na Doutrina Militar do Exército dos EUA. Passou esta instituição por uma autêntica revolução cultural, particularmente quanto a sua motorização e motomecanização que substitui o cavalo e o muar. Coube ao Exército, no campo estratégico: defender a ilha brasileira Norte-Nordeste, vital para os EUA na defesa do Canal do Panamá e particularmente o Estuário do Amazonas (abastecimento de borracha) e do Saliente Nordestino, bem como a proteção das bases aéreas de Belém e Natal, vitais para vitória da ofensiva aliada de 1943, na África e no Oriente Médio.

Defesa territorial do Brasil

Pela resolução 11 da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA, a defesa do território brasileiro e das instalações militares nele existentes ficou a cargo do Exército. Decorrido um mês e três dias da entrada do Brasil na guerra, o Dec. 10490-A, de 25 de setembro de 1942, criou a Zona de Guerra Brasileira. Ela abrangeu todo o litoral do Brasil, o vale do rio São Francisco e as águas oceânicas contíguas ao Brasil, no limite de uma faixa de segurança estabelecida pela Declaração do Panamá e mais a nossa fronteira no Rio Grande do Sul. O restante foi considerado Zona do Interior. A Zona de Guerra foi dividida pelos Teatros de Operações (TO): Amazônico, Nordeste, Centro Meridional, Meridional, Mato Grosso e Marítimo que foram na prática nominais, em função da remota possibilidade de um ataque do Eixo, à exceção do TO Nordeste que organizou um plano sob a orientação de seu comandante, gen.-div. Estevão Leitão de Carvalho, antes de seguir para os EUA para assumir a chefia da Comissão Mista de Defesa Brasil–EUA. O plano respondia às seguintes possibilidades do Eixo: prática de atos de guerra por forçar aeronavais do Eixo contra comunicações marítimas de interesse do Brasil, o que veio a concretizar-se; ações de envergadura contra o Nordeste (Saliente Nordestino) por forças do Eixo, após dominarem a África Oriental e o Atlântico Sul. Em função delas, a defesa do Nordeste e por via de conseqüência a do Brasil e das Américas, devia concentrar-se no triângulo Natal-Recife-Fernando de Noronha. Para fazer face às possibilidades levantadas de ações do Eixo, o Plano de Defesa do TO Nordeste estabeleceu como missões: impedir o Eixo de estabelecer bases aeronavais no Nordeste; vigiar a costa para assinalar forças do eixo em tentativas de desembarque e ações corsárias; manter a todo o custo as bases aeronavais de Natal e Recife; impedir o Eixo de estabelecer-se em Fernando de Noronha e, manter forte massa de manobra em Campina Grade capaz de socorrer Natal e Recife. Para o cumprimento destas missões o TO Nordeste foi dividido entre a 10ª Região Militar (MA, PI, CE) e a 7ª Região Militar sobre o Saliente Nordestino (RN, PB, PE, AL e Fernando de Noronha). Esta ao comando sucessivo dos generais João Baptista Mascarenhas de Moraes e Newton Andrade Cavalcanti e, dispondo da 7ª Divisão de Infantaria articulada nos estados de Pernambuco e Alagoas, da 14ª Divisão de Infantaria articulada nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte e mais o Destacamento Misto de Fernando de Noronha, composto de tropas de Infantaria, Artilharia (de Costa e Antiaérea), Comunicações e Engenharia (do 4º BE Cmb de Itajubá-MG). Em caso de invasão e impossibilidade de repelir ou destruir o inimigo as duas divisões de Infantaria deveriam retardá-lo: A 7ª ao longo dos eixos (Recife-Caruaru-Rio Branco) e (Maceió-União-Garanhuns) e até a linha de Resistência (Garanhuns-Glicério-Palmares-Vitória-Limoeiro). A 14ª devia retardá-la nos eixos (Natal-Santa Cruz) e (João Pessoa-Sapê-Campina Grande) até a linha (Itambé-Cahê-Mamaguape-Vila Nova-Bom Jesus), devendo participar da Resistência na linha (Itabaina-Nova Cruz-Serra Caiada). A 14ª ao comando do gen.-de-bda. Gustavo Cordeiro de Farias, que emprestou seu nome ao EGGCF, atual gráfica do Exército, tinha por missão, caso o inimigo desbordasse Natal vindo entre Touros e Areia, manter Lages a todo o custo. Em caso de desembarque e vantagem inicial do Eixo, cada núcleo vencido deveria retrair e juntar-se a outro núcleo e assim por diante, à semelhança do que já havia sido feito ao tempo das invasões holandesas. Ao Destacamento Misto de Fernando de Noronha competia: impedir qualquer desembarque inimigo, principalmente face a Baía de Santo Antônio; precaver-se contra bombardeios aéreos e navais e impedir a todo o custo que Fernando de Noronha seja usada como base aeronaval do Eixo, para operações contra o Continente. O restante das tropas do Exército do TO Nordeste receberam missões de vigiar o litoral e defender os portos e bases militares em Fortaleza, Luiz Correia, São Luiz, Aracajú, Salvador, Itaparica, Ilhéus, Canavieiras, Santa Cruz, Porto Seguro, Caravelas, Conceição da Barra, Vitória e Marataízes. As maiores concentrações de tropas tiveram lugar em ordem de valor: Recife, Natal, Fernando de Noronha, Fortaleza, Campina Grande (Reserva da 7ª Região Militar), Salvador, Caravelas, Vitória e Aracajú. O resto da tropa foi distribuído por todo o litoral do Nordeste, numa linha tênue e descontínua. Várias unidades do Exército foram deslocadas em missões de guerra, do interior para a vigilância do litoral, onde passaram longos e intermináveis dias padecendo saudades da família e solidão. Nos restantes TO criados houve problemas menores no tocante a operações que se concentraram na proteção de portos, bases militares e vigilância do litoral, daí no final da guerra haver sido editada lei que passou a ser conhecida como Lei da Praia, que trouxe vantagem de mais uma promoção na reserva aos que durante a guerra estavam na Zona de Guerra Brasileira. O Rio São Francisco mais uma vez comprovou ser o rio da unidade nacional, por assegurar a ligação entre o Nordeste e o Rio de Janeiro, no trecho Juazeiro-BA a Pirapora-MG, a salvo da ação de submarinos, daí ser incluído na Zona da Guerra. O dispositivo de defesa do TO Nordeste foi desenvolvido e aperfeiçoado até meados de 1943, quando ficou reduzida a ação do Eixo no norte da África e com inespressiva ação de submarinos no nosso litoral, a partir de agosto de 1943. Milhares de militares do Exército cumpriram por quase um ano, na solidão e desconforto das praias do imenso litoral brasileiro, a missão de guerra que lhes foi imposta. Felizmente a guerra não atingiu o território do Brasil! O Sistema de TO não funcionou. Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica resolveram de forma conjunta e harmônica os problemas surgidos. O Dec. 4.098, de 6 fevereiro, criou, aproveitando o clima emocional do ataque japonês de Pearl Harbour, o Serviço de Defesa Passiva e Antiaérea, a ser coordenado por uma diretoria nacional. Ela promoveu alguns exercícios de alerta e black out, mas não mereceu a compreensão popular que não se sentia ameaçada iminentemente; não possuía recursos e leis coercitivas, sendo até alvo de desprestígio em função de campanha movida contra ela. É um problema a ser levado a sério no futuro, particularmente na era dos mísseis intercontinentais.

Força Expedicionária Brasileira (FEB)

Participou da Campanha da Itália no Teatro do Mediterrâneo, de 6 de julho de 1944 – 2 de maio de 1945, integrando o V Exército dos EUA ao comando do gen. Mark Clark e subordinado ao seu IV Corpo de Exército ao comando do gen. Willis Crittenberger. Lado a lado com o V Exército lutava o VIII Exército inglês comandado pelo mar. Montegmery que depois foi substituído pelo gen. Lease. O comandante supremo do Teatro do Mediterrâneo foi o marechal Sir Alexander. Foi neste contexto de veteranos destacados que a FEB combateu com um efetivo de 25.334 brasileiros, ao comando do gen. – div. João Baptista Mascarenhas de Moraes que também acumulou o comando da força operacional da FEB, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE). A FEB foi idealizada no encontro de Natal, em 28 de janeiro de 1943, dos presidentes Getúlio Vargas, do Brasil e Franklin Delano Roosevelt, dos EUA, no retorno deste de Casablanca. Ela decorreu da resolução 16 da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA e foi criada pela Portaria MG nº 47/44, de 9 de agosto de 1943. Integraram a FEB os seguintes generais-de-brigada: Zenóbio da Costa, comandante da Infantaria Divisionária (ID) e subcomandante da FEB; Osvaldo Cordeiro de Farias, comandante da Artilharia Divisionária (AD) e Olympio Falconiere da Cunha, como comandante dos elementos da FEB não integrantes da 1ª DIE que incluía um depósito de pessoal de cerca de 5.000 brasileiros, destinado ao recompletamento imediato de elementos da 1ª DIE feridos ou mortos em ação. A FEB seguiu para a Itália em cinco escalões, em navios de transportes dos EUA e escoltada inclusive por navios da Marinha de Guerra do Brasil. O maior feito da FEB e de repercussão estratégica, foi a captura, em função da manobra de Coléchio-Fornovo de 2 divisões do Eixo, num total de 20.573 prisioneiros, dos quais dois generais. A FEB esteve em contato durante suas operações com as seguintes grandes unidades alemãs: 42ª e 114ª Divisões Jaeger; 94ª, 148ª, 232ª e 334ª divisões de Infantaria, 29ª e 90ª divisões Panzer Granadier e com o Corpo de Paraquedistas Blindado Herman Goering, além das divisões italianas Monte Rosa, São Marcos e Itália, ou equivalente a 13 divisões. Suas vitórias mais expressivas foram os combates de Monte Castelo, Castelnuovo, Montese e Coléchio-Fornovo. Perdeu em ação 443 brasileiros do Exército, dos quais 13 oficiais e 430 praças. Caíram prisioneiros 35 homens o que contrasta com os 20.573 do Eixo que capturou. Além dos citados, integraram a FEB mais a Inspetoria-Geral, Seção de História, Serviço de Saúde, Banco do Brasil, Pagadoria Fixa, Seção Brasileira de Base (Depósito de Intendência e Serviço Postal), Conselho Superior de Justiça, etc... O Estado-Maior da FEB foi o mesmo da 1ª DIE e assim constituído: Chefe, cel. Floriano da Lima Brayner; 1ª Seção-Pessoal, ten. –cel. Thales Moutinho da Costa; 2ª Seção-Informações; ten. cel. Amaury Kruel; 4ª Seção Logística, maj. Aguinaldo Senna Campos, mais tarde historiador militar de Logística; e 3ª Seção Operações, o ten. – cel. Humberto Castelo Branco, oficial de escól com curso de Estado-Maior nos EUA, futuro líder da Revolução de 1964 e seu primeiro presidente da República, além de pensador militar brasileiro fecundo. Traduz exatamente e sinteticamente o que foi a contribuição da FEB ao esforço aliado, o seu comandante general Mascarenhas de Morais, natural de São Gabriel-RS, ex-comandante da Escola Militar do Realengo que acabara de comandar a defesa territorial do Saliente Nordestino Brasileiro, como comandante da 7ª Região Militar e que viria a ser promovido a marechal vitalício pelo Congresso Brasileiro, além de consagrar-se historiador militar, ao escrever dois livros focalizando a atuação da FEB. Disse ele sobre a Vitória, ao anunciá-la:

 

A Força Expedicionária que apresentou o Brasil nesta sanguinolenta guerra cumpriu galhardamente a missão que lhe foi confiada, mercê de Deus e a despeito de condições e circunstâncias adversas. Num terreno montanhoso, a cujos píncaros o homem chega com dificuldades; um inverno rigoroso que a totalidade da tropa veio enfrentar pela primeira vez e contra um inimigo audacioso, combativo e muito bem instruído, podemos dizer assim mesmo, e por isso mesmo, que os nossos bravos soldados não desmereceram a confiança que neles depositavam os seus chefes e a própria Nação brasileira.

Após oito meses de combates constantes, em que, como todos os exércitos, sofremos pesados revezes e obtivemos brilhantes vitórias, o balanço de uns e outras é ainda favorável às nossas armas. Desde o dia 16 de setembro de 1944, a FEB percorreu, conquistando ao inimigo, às vezes palmo a palmo, cerca de 400 quilômetros, de Lucca e Alessandria, pelos vales dos rios Sercchio, Reno e Panaro e pela planície do Pó; libertou quase meia centena de vilas e cidades; sofreu mais de 2.000 baixas, entre mortos, feridos e desaparecidos; fez o considerável número de mais de 20.000 prisioneiros, vencendo pelas armas e impondo a rendição incondicional a duas divisões inimigas. É um registro deveras honroso e de vulto para uma Divisão de Infantaria. Um dia se reconhecerá que o esforço foi superior às suas possibilidades materiais, porém plenamente consentâneo com a noção de dever e amor à responsabilidade, revelados pelos nossos homens em todos os degraus e escalões de hierarquia, e em todas as crises e circunstâncias da Campanha que neste instante acabamos de encerrar.

Regressamos com feridos ainda sangrando dos últimos encontros, mais nunca, pela nossa atuação, o prestígio e nome do Brasil periclitaram ou foram comprometidos. É bem verdade, e vale a pena afirmar, que preço bem alto pagamos por esse resultado.

O sangue dos nossos bravos camaradas tingiu de vermelho essas belas verde-escuras montanhas dos Apeninos e algumas centenas dos nossos companheiros já não retornarão à Pátria, conosco, porque dormem o sono eterno, sob as terras úmidas e verdejantes das planícies da Toscana.

Não foram muito os meses que aqui passamos: muitos foram, entretanto, os triunfos que incorporamos ao rico patrimônio e às nossas tradições militares. Camaiore, Monte Prano, Bargano vale de Serchio; Monte Castelo, La Serra, Castelnuovo – no vale do rio Reno; Montese, Zocca, Marano su Panaro no vale do rio Panaro; Collechio e Fornovo di Taro – a rica planície do Pó.

Esses nomes de inscreverão, por certo, dentre aqueles que recebem o culto de gerações patrícias, porque na Itália, como nos campos de batalha sul-americanos, o Exército Brasileiro mostrou-se digno do seu passado e à altura do conceito que os seus chefes e soldados de outrora firmaram com a espada e selaram com sangue dos seus legítimos e sempre venerado heróis.

 

Ao término da guerra, o general Mark Clark, comandante do V Exército dos EUA e atualmente general honorário brasileiro e homenageado no nome do Estádio da Academia Militar das Agulhas Negras em Resende-RJ, enviou a seguinte mensagem ao comandante da FEB:

 

Mostrou-se essa Força, sob seu Comando (do General Mascarenhas de Moraes), ser capaz de enfrentar problemas novos, treinar e disciplinar-se para o combate no qual desempenhou parte relevante.

A FEB refletiu as altas qualidades da Nação brasileira, que enviou seus melhores filhos, para lutar em solo estrangeiro, longe da pátria, pela implantação dos princípios de justiça e de liberdade.

 

O General Willis D. Crittenberger, comandante do IV Corpo de Exército dos EUA, ao qual a FEB integrava, assim se manifestou ao comandante da FEB:

 

"Os efeitos da Força Expedicionária Brasileira, sob o vosso comando, durante a campanha do IV Corpo na Itália, terão um lugar proeminente quando for escrita a história da Segunda Guerra Mundial." A dissolução da FEB ocorreu em função do aviso 217-185, de 6 de julho de 1945, do ministro da Guerra. A participação da FEB na Campanha da Itália ao lado dos aliados, particularmente ingleses e americanos, em defesa da democracia e da liberdade mundial, aproximou ainda mais estes povos. A FEB foi composta de brasileiros de todos os cantos do Brasil, conforme diz a Canção do Expedicionário:

 

Você sabe de onde eu venho? Venho do morro do Engenho. Das selvas dos cafezais. Venho das praias sedosas, das montanhas alterosas, do pampa, do seringal, das margens crespas dos rios, dos verdes mares bravios, da casa branca da serra, do luar do meu sertão, da terra da Senhora Aparecida e do Senhor do Bonfim.

Enfim do Brasil inteiro!

 

Divisão de Infantaria Divisionária 1ª (1ª DIE)

Foi a parcela combatente da FEB e foi também comandada por Mascarenhas de Moraes. Foi integrada pela Infantaria Divisionária (ID), ao comando do gen. Zenóbio da Costa e composta dos Regimentos de Infantaria – 1º RI (Regimento Sampaio-Rio de Janeiro, ao comando do cel. Aguinaldo Caiado de Castro), 6º RI (Regimento Ipiranga-Caçapava-SP, ao comando do cel. João Segadas Viana, futuro ministro da Guerra 1961-62), 11º RI (Regimento Tiradentes-São João del Rei, ao comando do cel. Delmiro Pereira de Andrade). Comandou ao final da guerra o 6º RI o cel. Nelson de Melo, futuro ministro da Guerra em 1962. O 1º RI teve ação destacada na conquista de Monte Castelo, em 21 de fevereiro de 1945, além de em outras ações. O 6º RI teve papel destacado na conquista de Castelnuovo e rendição em Fornovo, em 29 de abril de 1945, da 148ª Divisão de Infantaria Alemã e de remanescentes da divisão italiana, Itália. O 11º RI teve atuação destacada no combate de Montese, em 14 de março de 1945, além de em outras ações; pela Artilharia Divisionária (AD) ao comando do gen. Cordeiro de Farias e composta dos grupos de Artilharia I-GO-105 (Grupo de São Cristovão-Rio, ao comando do ten.-cel. Levy Cardoso), II-GO-105 (Grupo Monte Bastione, de Campinho-Rio, ao comando do cel. Geraldo da Camino, sendo o primeiro a entrar em ação na Itália), III-GO-105 (Grupo Bandeirantes de Quintaúna, em São Paulo-SP, ao comando do ten.-cel. José de Souza Carvalho, IV-GO-155 (grupo Montese), ao comando do ten.-cel. Hugo Panasco Alvim), 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO da FAB, sob controle operacional da FEB); 9º Batalhão de Engenharia de Combate, de Aquidauana-MT, ao comando do ten.-cel. José Machado Lopes, 1º Batalhão de Saúde de Valença-RJ ao comando do maj. Bonifácio Borba; Esquadrão do Recolhimento, atual Esquadrão ten. Amaro de Valença-RJ, ao comando inicialmente do cap. Franco Ferreira e depois do cap. Plínio Pitaluga – Tropa Especial (Companhia de Transmissões, Companhia de Manutenção Leve, Companhia de Intendência, Companhia do Quartel-General, Banda de Música e, Pelotão de Polícia organizado à base da mobilização de policiais da Guarda Civil de São Paulo). A 1ª DIE foi organizada à base de uma Divisão de Infantaria do Exército dos EUA. Ou seja com 14.254 homens (734 oficiais e 13.520 pracinhas, expressão que passou a denominar os expedicionários brasileiros e que até hoje perdura) e equipado com 66 obuses (54 de 10mm e 12 de 155mm) 144 morteiros (90 de 60mm e 54 de 80mm), 500 metralhadoras (87 submetralhadoras 4,5, 175-30 e 237-50), 11.741 fuzis (5.231 carabinas e 6.510 fuzis todos .30), 1.156 pistolas, 45, 2.387 armas anticarro (13 canhões 37mm e 57 de 57mm, além de 585 lança-rojões 2.36 e 1.632 lança-granadas) e 72 detectores de minas anticarro e máscaras contra gases para todo o efetivo. Possuía 14.358 viaturas motorizadas, das quais 13 carros blindados M8 e cinco de meia-lagarta. Isto permitia à 1ª DIE transportar de uma só vez um terço de seu efetivo, o que ocorreu na perseguição no rio Panaro. Os 47 botes de assalto e passadeiras permitiam à divisão realizar pequenas transposições de cursos d’água. Seus 736 telefones, 42 telégrafos, 592 estações de rádio e 10 aviões Piper Cub de ligação lhe proporcionavam ampla capacidade de observação e ligação. Com esta organização a 1ª DIE tinha possibilidade de atacar numa frente de até 6 Km e defender uma frente de cinco a 10 km, depois de adaptação em montanha que ocorreria na região dos Apeninos. O adestramento da 1ª DIE iniciou no Brasil com apoio em 115 regulamentos americanos (210.874 exemplares) traduzidos e coordenados pelo Estado-Maior da FEB do Interior, que funcionou na Casa de Deodoro e prestou grande concurso à mobilização complexa da FEB sob a chefia do gen. Anor Teixeira dos Santos. Concorreram para este adestramento vários oficiais com estágio no Exército dos EUA. Assim, em 25 de maio de 1944, aniversário da Batalha de Tuiuti, a 1ª DIE desfilou em moldes americanos, ou seja, motorizada, pelas ruas do Rio de Janeiro. Na Itália, tão logo recebida pelo gen. Mark Clark, comandante do V Exército dos EUA, ele determinou pessoalmente o adestramento da divisão em operações de montanha, pois ela teria de enfrentar os Apeninos e no inverno, com gelo, paisagem desconhecida e inimaginada pelos pracinhas brasileiros acostumados aos trópicos. A mobilização da 1ª DIE foi tarefa complexa e hercúlea que passou pela convocação de civis, policiais de São Paulo, reservistas de tiros de guerra, operários da fábrica de fechaduras para serem transformados em armeiros, enfermeiras, médicos aproveitados como oficiais de outras especialidades e expressivo número de oficiais de nossos CPOR e NPOR. Houve muita criatividade e adaptabilidade do homem brasileiro às atividades baseadas particularmente na motorização e nas comunicações de rádio, que exigiram muitos especialistas. Enfim foi tornado possível o que era necessário. De retorno, a 1ª DIE, semeada por todo o Exército, contribuiu signficativamente, pela transmissão de sua gloriosa experiência operacional, para a modernização de todo o Exército, quer seja nas escolas quer seja na tropa. A atuação da FEB na Itália, partindo do Rio de Janeiro, se constituiu na segunda expedição militar extracontinental do Brasil, pois em 1648, expedição naval e terrestre, partida do Rio de Janeiro e nucleada pelo atual Regimento Sampaio, havia libertado Angola do domínio holandês durante 13 longos anos. Do armamento a 1ª DIE já travara conhecimento no Brasil com os obuses 105 e 355. Na Itália se familiarizou com os fuzis .30 Garand automático MI e Springfield de repetição, submetralhadoras Thompson MIAI e carabinas, além das metralhadoras Bowning média e pesada e canhões anticarro. Na Itália, depois do primeiro ataque brasileiro o Monte Castelo, em 29 de novembro de 1944, ficou evidenciado que o adestramento da 1ª DIE havia sido insuficiente e que ela no Brasil e na Itália não havia completado o ciclo padrão que era reservado às divisões americanas. Durante o inverno o treinamento foi completado e os combatentes puderam minorar as agruras da guerra, através de visitas à retaguarda, em Roma e Florença, proporcionadas pelos Serviço Especial da FEB. A DIE refletia na sua composição a predominância dos seguintes contigentes fornecidos pelos estados: Rio de Janeiro (8.036 h); São Paulo (3.889); Minas Gerais (2.947); Rio Grande do Sul (1.880)... Portanto os cariocas e fluminense representaram juntos cerca de 32% da FEB.

Operações da 1ª DIE/FEB

Esta divisão brasileira foi uma das 20 divisões e 16 brigadas aliadas compostas de canadenses, sul-africanos, indianos, neozelandeses, marroquinos, argelinos, além de franceses, italianos e poloneses livres e, particularmente, ingleses e americanos que integraram, no final da Batalha dos Apeninos, o XV Grupo de Exércitos aliados destinado a libertar a Itália do jugo nazi-fascista, bem como a fixar importantes efetivos alemães dos XIV Exército e Exército da Ligúria para impedir que atuassem nas frentes da Operação Overlod (invasão aliada da Normandia, em 16 de junho de 1944) e da Operação Anvil e depois Dragoon (invasão aliada pelo sul da França, em 15 de agosto 1944). Para a última foram rocadas algumas divisões francesas, cuja falta na Batalha dos Apeninos a 1ª DIE/FEB veio de certa forma minorar. Os brasileiros entraram em combate em 18 de setembro de 1944 na proporção de um terço de seus efetivos e com o nome de Destacamento FEB, antes que houvesse completado o ciclo de instrução normal previsto pela doutrina americana. Eles atuaram na região da boca do cano da bota que a Itália representa. O destacamento foi lançado ao norte do rio Sérchio para combater os alemães estabelecidos na Linha Gótica (280km), entre os mares Tirreno e Adriático. A 1ª DIE/FEB teve seu batismo de fogo através de seu Destacamento em 18 de setembro na conquista de Camaiore, seguida de Monte Agudo e Monte Prano em 26 de setembro. O destacamento foi rocado mais para a direita no vale do Sérchio onde conquistou Fornaci e Barga. Em 11 de outubro lançou-se sobre Galicano que conquistou e consolidou. Daí lançou-se, em 30 de outubro, sobre Castenuovo de Garfagnana onde foi repelido e retraiu sobre Galicano, tendo conhecido o seu primeiro insucesso, fato comum em tropas estreantes. Mas progrediu em 15 dias 40 km, capturou uma fábrica de peças de aviões, em Fornaci, fez 208 prisioneiros do rio Reno, onde recebeu uma frente de 15km, muito ampla, sobre a estrada 62, ao norte de Porreta Terme e que era dominada pelo Monte Castelo que impedia o prosseguimento do V Exército sobre Bologna. Monte Castelo, defendido com unhas e dentes pelo inimigo, foi alvo de cinco ataques. Os primeiro e segundo ataques foram executados em 24 e 25 de novembro pela Força Tarefa 45 (Task Force 45) integrada por brasileiros e americanos. Os ataques não foram bem sucedidos mas resultaram na conquista temporária de monte Belvedere. O terceiro ataque foi feito pela 1ª DIE/FEB um dia após contra ataque alemão que reconquistou Belvedere dos americanos, fato negativo no ataque brasileiro que foi flanqueado por Belvedere, ponto onde o inimigo concentrou o esforço de defesa por ser a chave de acesso à rica planície do rio Pó e realizado com chuva, lama e céu encoberto, do que resultou mais um insucesso brasileiro. À noite, em conferência no Passo de Futa – QG do IV Corpo, seu comandante precipitou-se e colocou em dúvida a capacidade de combate dos brasileiros e quis saber a razão do insucesso. A resposta do comandante brasileiro foi dada por escrito. Ele argumentou: "Que tropas veteranas americanas também foram obrigadas a recuar de Monte Belvedere naquela frente, face a forte resistência inimiga; que a missão atribuída à 1ª DIE/FEB de defender numa frente de 20km e de atacar numa frente de 2km era exorbitante para uma divisão de Infantaria e que ela não havia, por culpa do governo no Brasil e do V Exército na Itália, tido o período de treinamento padrão mínimo previsto para as divisões americanas e que ela estava recebendo missão de tropa de montanha sem sê-lo".

Passo de Futa foi o ponto de inflexão de alguns insucessos iniciais de uma tropa bisonha para as vitórias de uma tropa veterana e bem comandada e assessorada pelo Estado-Maior. O inverno, iniciado logo após, obrigou a uma estabilização da frente por 70 longos dias. Então, os brasileiros vindos de um país tropical, padeceram rude e rigoroso inverno, com temperaturas variando de - 15º a – 4º e, sobretudo, tenso, face às possibilidades de veteranos alemães acostumados àquelas condições de tempo e terreno. A 1ª DIE/FEB ressurgiu do inverno, o mais rigoroso dos últimos 50 anos, aguerrida, disposta e veterana. Suas ações estrategicamente até o fim se incluem na Batalha dos Apeninos que foi muito cruente e penosa. Os Apeninos foram acidente capital estratégico para o inimigo, por impedir o acesso dos aliados à rica planície do Rio Pó. E, após conquistados os Apeninos, seria a vez dos Alpes, o que significaria a decisão da guerra na Itália. A chave para a conquista dos Apeninos era a cidade de Bologna. O acesso a esta era a Estrada Nacional 64 que era dominada pelas elevações de Monte Belvedere, Monte Castelo e Castelnuovo etc... Foi nestas elevações que os alemães de 232ª Divisão de Infantaria, ao comando do experimentado gen. barão von Eccart von Gablenz, que comandara o XXVI Corpo de Exército alemão na Batalha de Stalingardo, concentraram seu esforço defensivo, particularmente em Monte Belvedere, pivô de defesa inimiga nos Apeninos e que possuía dominância de fogos e vistas sobre Monte Castelo. É importante este entendimento de que as dificuldades de conquista de Monte Castelo encontravam-se bem mais no seu flanqueamento por Belvedere, onde o inimigo concentrou seu esforço defensivo, do que nele próprio e que para conquistar Monte Belvedere os americanos usariam uma unidade especializada, a 10ª Divisão de Montanha.

Terminado o inverno, o próximo passo a 1ª DIE/FEB foi cooperar com o IV Corpo na conquista de saliente dos Apeninos em sua zona de ação, cortado pelo rio Marano, que integrava a Linha Defensiva Gengis-Kan e dominava a estrada 64 (Porreta Terme-Bologna), essencial ao abastecimento de 10 divisões do V Exército. Para a conquista do saliente no maciço onde se situavam as posições alemãs de Belvedere, Monte Castelo, Soprassaso, Castelnuovo, Gorgolesco, Mazzancana, Della Torracia, La Serra, Stª Maria Viliana, Torre de Nerone, Montese e Montelo foi elaborado o Plano Encore a ser executado pela 10ª Divisão de Montanha americana e 1ª DIE/FEB. O plano visava expulsar o inimigo do vale do Reno e após perseguí-lo no vale do rio Panaro. Os brasileiros deviam sucessivamente: capturar Monte Castelo com auxílio da 10ª de Montanha que devia capturar Belvedere e Della Torracia; limpar o inimigo do vale do Marano; apossar-se de Stª Maria Viliana e capturar Torre de Nerone e Castelnuovo, o último, chave para liberar as comunicações do V Exército nos vales dos rios Silla e Reno. Em 20 de fevereiro, a 10ª de Montanha conquistou Gorgolesco e Mazzancana, o último, com auxílio de pilotos brasileiros do 1º Grupo de Caça (o Senta a pua!). Em 21 de fevereiro, a 10ª de Montanha e a 1ª DIE/FEB atacaram simultaneamente Della Torracia e Monte Castelo, objetivos que conquistaram sucessivamente. O primeiro foi Monte Castelo, pelos brasileiros. A conquista brasileira de Monte Castelo foi o episódio mais emocionante e afirmativo da capacidade de combate do brasileiro e de sua maturidade operacional. Em 23 e 24 de fevereiro os brasileiros travaram o encarniçado combate de La Serra. Em 5 de março caiu pela manobra contra Castelnuovo, o falado, traiçoeiro e famigerado saliente na rocha-Soprassaso, responsável pelas maiores perdas da FEB no inverno. Ele era o objetivo dos nossos pracinhas que o conquistaram com grande gana. Depois dele, veio a conquista pela 1ª DIE/FEB de Castelnuovo, base para a montagem de um ataque do V Exército sobre Bologna. A seguir, teve curso a Ofensiva da Primavera, de 14 de abril - 2 de maio, para libertar o norte da Itália e desfechada pelo XV Grupo de Exército Aliado. À 1ª DIE/FEB coube inicialmente conquistar, em 14 de abril, as alturas de Montese, Cota 888 e Montelo, com forte apoio de artilharia e de blindados e geradores de fumaça americanos. A reação da artilharia alemã ali concentrada antes de ser destruída, para não cair em poder dos aliados, foi de grande e inusitada intensidade. Foi um duríssimo e disputado combate, o que é atestado pelas 426 baixas brasileiras (34 mortos, 382 feridos e 10 extraviados). Em Montese, a 1ª DIE/FEB ajudou a romper a defensiva alemã nos Apeninos e conquistou a chave de acesso ao vale do rio Panaro o que facilitou ao V Exército derramar-se sobre a planície do rio Pó, em aproveitamento do êxito e logo a seguir em perseguição. Sobre a conquista de Montese referiu o comando do IV Corpo aliado:

 

"Ontem só os brasileiros mereceram as minhas irrestritas congratulações. Com o brilho de seu feito e seu espírito ofensivo, a 1ª DIE/FEB está em condições de ensinar às outras divisões como se conquista uma cidade".

 

A conquista de Montese ajudou a desmantelar a Linha Gensis-Kan. A 1ª DIE/FEB, em aproveitamento do êxito, conquistou o vale do médio Panaro em 19 de abril e, Zocca, nó rodoviário que ofereceu forte resistência em 20, Marano e Vignola em 23, onde foram recebidos os brasileiros aos brados de "Vivam nossos libertadores (Liberatori)"; à partir daí, teve início a Perseguição. Em solução singular, mas de grandes dividendos táticos, a 1ª DIE/FEB iniciou a perseguição com a Infantaria embarcada em veículos de sua Artilharia Divisionária e protegendo o flanco direito do V Exército. Em 24 de abril ela alcançou S. Paulo d’Énza. De 27-30, no vale do rio Taro, combateu com o inimigo em Colechio e em Fornovo di Taro, após o que executou manobra envolvente contra os alemães reunidos em Respício, onde eles receberam ultimato para rendição incondicional dos brasileiros. O inimigo rendeu-se em Gaiano na região de Fornovo di Taro. Rendição que se caracterizou como ação de nível e repercussão estratégica, e foi recebida do experimentado gen. Otto Fritter Pico, veterano de diversos teatros de operações e comandante da 148º Divisão de Infantaria Alemã e do gen. Mário Carloni, comandante da Divisão Bersaglieiri, Itália, e, ainda, de sobras da 90ª Divisão Panzer. Foram capturados 20.573 homens, dos quais 894 oficiais, e entre eles muitos veteranos do África Korps, ao par de copioso material bélico. Sobre este feito dos brasileiros comentou o gen. Mark Clark agora no comando do XV Grupo de Exércitos: "Foi um magnífico final de uma atuação magnífica". De 28-30 de abril, enquanto tinha curso a rendição alemã, Benito Mussolini foi morto em 28, em 29 os russos entraram em Berlim e em 30 Adolf Hitler se suicidou. A 1ª DIE/FEB ocupou Alexandria a 30, em 1º maio ocupou Casale, Solero, Salvatore e Costeleto, dia em que o Alte. Doenitz assumiu o poder na Alemanha. Em 2 ocupou Turim, terra natal do ten.-gen. Carlos Napion, patrono do Serviço de Material Bélico do Exército Brasileiro, e estabeleceu ligação com a 27ª Divisão Francesa em Susa. Neste dia houve rendição incondicional das tropas alemãs na Itália. Dia 8 de maio – Dia da Vitória Aliada na Segunda Guerra Mundial. A 1ª DIE/FEB foi a primeira tropa aliada a estabelecer contato com a Operação Dragoon, em Susa. De 8 de maio – 3 de junho a 1ª DIE/FEB atuou como tropa de ocupação das regiões de Piacenza e Alexandria. Após, concentrou-se em Francolise para retornar ao Brasil, o que teve lugar em 14 de junho na cidade do Rio de Janeiro, onde foi recebida vitoriosa e triunfalmente pelo Brasil e passou sob um arco do triunfo encimado pela legenda – "A cidade as Forças Armadas Brasileiras". A atuação da 1ª DIE/FEB na Itália foi dividida em quatro fases pelo seu oficial de operações ten.–cel. Humberto de Alencar Castelo Branco: I – Campanha do Destacamento FEB no vale do rio Arno; 2 – Campanha da margem oriental do rio Reno; 3 – Ofensiva sobre as defesas dos Apeninos; e 4 – Rompimento da frente e perseguição. A 1ª DIE/FEB integrou o IV Corpo com mais três divisões americanas: a 10ª de Montanha; a 1ª Blindada (os tigres) e 34ª de Infantaria (os cabeças-de-boi). Atesta também o valor do soldado brasileiro cruz encontrada após o combate de Castelnuovo e com esta inscrição expressiva em alemão – "Aqui jaz um herói brasileiro". Em 1962 o terceiro ano da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército produziu a valiosa pesquisa. O comportamento do combatente brasileiro na Itália, com vistas dela tirar valiosos ensinamentos de Engenharia Humana. Combatente que se fez representar na FEB por cerca de 74%, de cariocas e fluminenses (32%), paulistas (15,5%), mineiros (11,7%), gaúchos (7,5%) e paranaenses (6,1%). A pesquisa histórica crítica, baseada em ampla bibliografia então disponível e depoimentos de veteranos chegou a interessantes e relevantes considerações ou conclusões, que não podem ser desconhecidas do planejador, pensador e chefe militar do Exército Brasileiro. Por exemplo: a pesquisa concluiu que na FEB o combatente brasileiro não se adaptou e mesmo reagiu a normas disciplinares rígidas, confirmação de pesquisas anteriores sobre o mesmo tema na História Militar do Brasil. E, mais, que ele se submete a liderança afetiva dos chefes que o comandam pelo exemplo e não aos ausentes espiritualmente, e insensíveis às esperanças, aspirações, imaginação e sentimentos de seus homens. Como fatores concorrentes para o bom desempenho do combatente brasileiro na Itália e que contribuíram para ele sentir-se valorizado socialmente alinhe-se: 1 – Lutar no V Exército dos EUA que dispensava grande atenção e valor à vida e ao bem-estar dos seus soldados e onde o prêmio e o castigo eram distribuídos com isenção e sem favores, além de que com presteza e oportunidade; 2 – Lutar em território com uma população histórica e tradicional, mas então vencida, dominada, submissa, torturada pela fome, desemprego e corrupção e com emotividade semelhante à brasileira; 3 – Sentir-se alvo de orgulho no Brasil, de estímulos de sua imprensa, de atenções das madrinhas de guerra, de desvelo familiar e dos brasileiros e atenções dos superiores; 4 – Ser alvo agora de interesse geral, boa assistência médica, alimentação jamais sonhada, dinheiro farto, roupa variada e farta e assistência religiosa; 5 – Lutar e ser bem sucedido contra considerado melhor soldado do mundo; e 6 – Desenvolvimento de fortes laços de camaradagem, na adversidade da guerra, com reflexos no moral elevado, disciplina consciente e sentimento de honra e de dever. Influíram no combatente na Itália:

 

Sentimento de autodefesa; expressiva rusticidade biopsíquica; limitada confiança nos superiores; reduzido hábito de subordinação por afetividade; temor reverencial ao desconhecido; agradável surpresa pela forma como foi assistido e administrado; submissão ao considerado insuperável.

 

Marinha de Guerra do Brasil

Durante a guerra foram respectivamente ministro da Marinha e chefe do Estado-Maior da Armada do Brasil, os almirantes Henrique Aristides Gilherm e Américo Vieira de Mello. Antes da entrada do Brasil na guerra, em 22 de agosto de 1942, a Marinha em realidade já vigiava submarinos do Eixo, em ação conjunta com o Exército e Aeronáutica, com vistas a proteger os porto e litoral do Brasil, notadamente o Saliente Nordestino (RN, PB, PE, AL), porta de entrada natural de um ataque do Eixo às Américas, de ataques aeronavais e de ações de sabotadores. Mereceu especial atenção a defesa do Rio de Janeiro, sede do governo brasileiro, que foi protegida por uma rede de aço anti-submarino que era lançada entre a Ilha de Villegaignon e a Praia de Boa Viagem, em Niterói, além de minas flutuantes que eram lançadas e recolhidas pela fortaleza de Santa Cruz. Inicialmente a vigilância do litoral do Saliente Nordestino foi realizada simbolicamente por três navios de guerra baseados no Recife. A partir de janeiro de 1942 passou a sê-lo pela Divisão de Cruzadores, integrada por seis navios de guerra. Com a entrada do Brasil na guerra, em função de Acordo Militar Brasil-EUA, que foi implementado pelo resolução II da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA, a proteção da navegação marítima no litoral do Brasil e notadamente no Saliente Nordestino, passou a ser feita pela Força do Atlântico Sul (EUA) e mais tarde chamada também 4ª Esquadra Americana com QG no Recife e a qual passou a subordinar-se, operacionalmente, a primitiva Divisão de Cruzadores e agora denominada Força Naval do Nordeste (FNN) ao comando do alte. Alfredo Carlos Soares Dutra. A Força Naval chegou a possuir mais tarde 26 navios especializados em proteção do tráfego marítimo e guerra anti-submarino. Ela constituiu a FT-46 da Força do Atlântico Sul (EUA) que teve como sua FT-48 as bases navais brasileiras de Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Maceió, Vitória, Santos, Florianópolis, Rio Grande e mais a uruguaia de Montevidéu. Para a proteção do tráfego marítimo entre o Rio Grande e Rio de Janeiro e mais além foi criada a Força Naval do Sul (FNS) com sete navios de guerra e subordinados ao Estado-Maior da Armada. Necessidades navais posteriores determinaram a criação subordinado à 4ª Esquadra, do Comando Naval do Centro, incluindo a defesa flutuante do Rio de Janeiro, as bases de submarinos e de navios mineiros, quatro submarinos, seis contratorpedeiros, dois navios-transporte (José Bonifácio e Vital de Oliveira) e o tender Ceará. Antes da guerra nossa Marinha não possuía nem equipamento nem adestramento para operações de guerra anti-submarino, de proteção de comboios, em que pese sua instrução ser orientada desde 1922, na Escola Naval, por uma Missão Naval Americana. O adestramento da Marinha foi iniciado na Flórida-EUA na Escola de Som de Key West e Centro de Adestramento de Miami, através de guarnições de brasileiros que equiparam os primeiros caça-submarinos que o Brasil adquiriu dos EUA. Após foi instalado no Recife o EITAS (Escola de Instrução Tática Anti-Submarino) e em seguida, em 23 de outubro de 1943 no Rio de Janeiro, o CITAS (Centro de Guerra Anti-Submarino) que é o atual CAAML (centro de Adestramento Alte. Marques de Leão) e ambos nos moldes da Escola de Som de Key West. A flotilha de submarinos brasileira prestou valiosos serviços a equipes adestradas pelos EITAS e CITAS e a própria 4ª Esquadra Americana. Os caça-submarinos Guaporé e Gurupi serviram de escola para as guarnições de demais caça-submarinos recebidos dos EUA. Durante a guerra a Marinha incorporou 16 caça-submarinos e oito contratorpedeiros comprados dos EUA pelo Lend e Lease e especializados em guerra anti-submarino e proteção de comboios. Construiu até 1945, cinco contratorpedeiros, dois caça-submarinos e 12 corvetas, todos equipados para guerra anti-submarino. Adaptou para o mesmo fim dois cruzadores, um navio tanque, um navio tender, dois navios hidrográficos e mais seis varredores de minas como corvetas, bem como os demais navios auxiliares. Desempenharam relevante papel o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e mais, quando a Logística, a Base Naval de Natal ao comando do seu criador o alte. Ari Parreiras, em apoio aos caça-submarinos e contratorpedeiros de escolta que tão alto elevaram as tradições de nossa Marinha em missões de proteção do tráfego marítimo em nosso litoral e além. A Marinha de Guerra do Brasil, particularmente através de sua Força Naval do Nordeste, escoltou 575 comboios, somando mais de 16 milhões de toneladas brutas de arqueação num total 3.164 navios mercantes, com a perda de somente três navios escoltados e em condições bastante singulares. Seus navios de guerra percorreram o equivalente a três voltas à terra pelo Equador. Além desses a Marinha realizou 40 comboios de abastecimento Recife-Fernando de Noronha, 15 de transportes para o Exército e Aeronáutica e oito para escolta da FEB do Rio de Janeiro para a Itália; guarneceu os canhões e metralhadoras de 38 navios mercantes; destruiu minas a deriva; protegeu o navio de manutenção dos cabos submarinos com Europa e EUA; escoltou os soldados da borracha entre Fortaleza e Belém; executou diversos salvamentos de náufragos e navios acidentados no mar; socorreu ou protegeu aviões dos EUA na travessia Dakar-Natal; além de haver participado de ataques e submarinos. Atuou em ação conjunta com o Exército e Aeronáutica nas defesas local e ativa dos portos do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Natal, Belém e mais nos de Vitória, Santos, Rio Grande e da estratégica Ilha da Trindade com o concurso de seus fuzileiros navais. Em Recife e Salvador a artilharia dos encouraçados São Paulo e Minas Gerais estiveram a serviço da defesa ativa daqueles portos. Durante a guerra, ou em função dela, a Marinha de Guerra perdeu três navios e 486 homens. O navio transporte Vital de Oliveira foi torpedeado próximo a Vitória, tendo afundado e morrido 99 militares da Marinha e Exército. A corveta Camaquã naufragou fazendo 33 vítimas. O cruzador Bahia foi alvo de uma grande tragédia que vitimou 336 homens, salvando-se somente 36 homens. Quando executava, logo ao término da guerra, um exercício de tiro em mar alto, uma rajada de metralhadora atingiu acidentalmente suas bombas de profundidade depositadas no convés, levando o navio a explodir e a naufragar rápido. A Marinha teve um grande surto em sua doutrina nos campos da organização, equipamento, instrução e ensino, motivação e operações, graças em grande parte à administração assinalada do ministro Guilherm, que retomou com vigor a fabricação de navios de guerra no Brasil e infra-estruturou a logística e o ensino naval de modo marcante.

Força Naval do Nordeste (FNN)

Foi a força mais expressiva da Marinha de Guerra do Brasil durante a guerra. Ela teve origem na Divisão de Cruzadores que, antes da entrada do Brasil na guerra, patrulhava o litoral do Saliente Nordestino. Ainda com aquele nome foi incorporada em 12 de setembro de 1942, ao comando da Força do Atlântico Sul e mais tarde 4ª Esquadra Americana ao comando do alte. Jonas H. Ingram com QG no Recife. Força americana responsável pela resolução 11 da Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA; pela segurança do tráfego marítimo aliado, em grande extensão do Atlântico Sul (ocidental); e pela interceptação de navios corsários do Eixo e navios furadores de bloqueio no Cinturão do Atlântico Sul (Natal-Ascensão-Serra Leoa). Os últimos transportando matérias-primas para a Alemanha. Em 5 de outubro de 1942 foi que ela passou a ter a denominação de Força Naval do Nordeste ao Comando do CMG Alfredo Carlos Soares Dutra. Ele foi promovido C. Alte, em 8 de janeiro de 1943. Era veterano da Primeira Guerra Mundial como integrante da Divisão de Operações Navais que integrara esquadra aliada no litoral da África, próximo a Gibraltar. A FNN em 2 de março de 1943 passou a constituir-se na Força Tarefa 46 da Força do Atlântico Sul. Ela foi constituída dos cruzadores veteranos da Divisão de Operações Navais (DNOG) da Primeira Guerra: o Rio Grande do Sul (como capitânia) e Bahia, as corvetas Carioca, Caravelas, Cabedelo, Camocim, Rio Branco e Camaquã, tender Belmonte também veterano da Primeira Guerra da DNOG, contratorpedeiros Bertioga, Beberibe, Bracuí, Bauru, Baependi, Benevente, Babitonga e Bocaina, caça-submarinos classe J-Javari, Jutaí, Juruá, Juruema, Jaguarão, Jaguaribe, Jacuí, Jundiaí e classe G-Guaíba, Guajará, Grajaú, Goiana, Guaporé, Gurupá e Graúna; contratorpedeiros Marcílio Dias, Mariz e Barros e Greenhald. Os últimos construídos no Brasil e pioneiros da primeira escolta para transportar a FEB para a Itália e, até certo tempo, quatro submarinos classe T, usados para o adestramento em guerra anti-submarino. A FNN teve como missões: prover grupos-escolta para Trinidad-Bahia e vice-versa, assumindo o controle do serviço ao largo do Recife, bem como escoltas de vaivém entre Belém e os comboios Bahia-Trinidad e ainda outras escoltas quando pedido, além de prover a segurança anti-submarino dos portos brasileiros. A FNN coube realizar o maior esforço operacional da Marinha nesta guerra na proteção do tráfego marítimo e especialmente na proteção de comboios. Na FNN realizaram 50 ou mais comboios as corvetas Carioca (78), Caravelas (77), Cabedelo (74) e Camaquã (51) e os cruzadores Bahia (64) e Rio Grande do Sul (62); os caça-submarinos Gurupi e Guaporé (64) e Rio Grande do Sul (62); os caça-submarinos Gurupi e Guaporé (64), Jutaí (57), e Jurema (50). Em realidade a FNN protegeu o tráfego marítimo entre o Rio e Recife e mais tarde até Trindad e mais além. Ao longo do litoral do Brasil o tráfego marítimo esteve dividido em quatro cruzeiros de ida e volta: Rio-Trindad (JT-T); Bahia-Trindad (BT-TB); Rio-Florianópolis (JF-FJ); e Rio-Santos (JS-SJ). A FNN não perdeu nenhuma unidade por ação do inimigo e sim por acidente, caso do veterano cruzador Bahia alcançado por uma tragédia que resultou no seu afundamento com perdas de 336 homens inclusive americanos, quando o navio iniciava a sua missão de proteger aviões americanos voando no estreito Natal-Dakar, de volta, por término da guerra. A tragédia foi causada por uma rajada de metralhadora antiaérea ter, com sua carga explosiva, atingido cargas de profundidade dispostas sobre o tombadilho, num exercício de tiro na manhã de 4 de julho de 1945, distante 900km de Natal, na Estação nº 13. Morreram 101 homens na explosão e 235 como náufragos no mar, inclusive cinco a bordo do cargueiro inglês Balf. Sobreviveu só um oficial, o 1º ten. Lúcio Torres Dias, como náufrago socorrido pelo Balf. Ele se dedicou, após, ao estudo e à solução do socorro a náufragos, com apoio em sua triste experiência. A perda do Bahia foi a maior tragédia da Marinha Brasileira. A corveta Camaquã foi emborcada por violento golpe de mar em 21 de julho de 1942, a 12 milhas da barra do Recife (Nordeste) quando escoltava o comboio Rio-Trinidad 18. Pereceram 33 homens e sobreviveram 84 graças ao esforço de socorro prestado pelos caça-submarinos Graúna e Jutaí. Diversos fatores adversos concorrentes levaram o navio "a exceder seu braço de endireitamento e emborcar". Foram perdas materiais e humanas lamentáveis que enlutaram a Marinha, mas que contribuíram, com reflexões críticas, para evitar-se repetições dos mesmos. A tragédia do Bahia é atribuída à imprudência, negligência ou imperícia de um metralhador ao colocar o carregador da arma com ela engatilhada, ocorrendo disparo ocidental sobre as cargas de profundidade, além de imprevidência logística de socorro a náufragos com meios adequados. A perda da Camaquã atribui-se a descuido com o lastro mínimo recomendado para navegar em mar de vagas longas com ritmo perigoso à estabilidade das corvetas de navios mineiros, um eventual golpe de leme e aglomeração da guarnição e sotavento (a sotaondas) para proteger-se da chuva. Acidentaram-se levemente os caça-submarinos Guaporé, Javari, Jaguaribe e o cruzador Rio Grande do Sul que encalhou nos baixos de Olinda, em 26 de março de 1943, de onde foi retirado pelo tender Melvilhe dos EUA. Os caça-submarinos da classe J, em dias de má visibilidade, eram semelhantes, à distância, a uma torreta de submarino. Foram confundidos com submarinos e atacados por aviões americanos o Javari e o Jaguarão. O Javari foi metralhado, registrando uma vítima fatal, e o Jaguarão foi bombardeado, caindo a bomba a 20 metros. Estes enganos foram muito comuns durante a Segunda Guerra no ar, na terra e no mar. O Javari poderia ter abatido o avião, mas seu comandante não quis somar outro erro ao primeiro, como o fez um carro de combate americano, que, atingido por equívoco por um avião amigo, reagiu abatendo-o. O navio transporte Vital de Oliveira foi torpedeado quando escoltado pelo caça-submarinos Javari da FNN, em 19 de julho de 1944 ao sul de Vitória. Pereceram 99 militares no naufrágio e sobreviveram 174. A sua guarnição, a começar pelo comandante, honrou as tradições da Marinha de Guerra do Brasil, comportou-se com estoicismo e dignidade chegando, em certos momentos, a dar vivas ao Brasil. O Javari era escolta tecnicamente insuficiente. Ele saiu em vão à procura do submarino antes de prestar socorro às vítimas do Vital de Oliveira que, em sua missão logística de transportes e suprimento, era obrigado a correr riscos. Uma força progride tirando lições de seus sucessos e insucessos, daí o registro dos insucessos aqui.

Marinha Mercante Brasileira

Ela foi muito sacrificada. Pagou pesado tributo com expressivas perdas materiais e sobretudo em vidas de brasileiros imolados às centenas com torpedeamentos por submarinos. Ela começou a ser atacada antes da entrada do Brasil na guerra, por submarinos nazistas e fascistas, depois dele haver rompido relações com o Eixo, em 28 de janeiro de 1942, junto com as demais nações americanas. Em conseqüência, Hitler destacou para o Atlântico Sul e inclusive para as costas brasileiras submarinos (U-Boats), para atacarem navios mercantes brasileiros e aliados. Em dois dias, de 15-17 de agosto de 1942, eles afundaram cinco navios mercantes brasileiros. Estes fatos provocaram grande indignação e revolta nos brasileiros, de norte a sul, levando o governo do Brasil a reconhecer, em 22 de agosto de 1942, o estado de beligerância do Eixo contra ele. A Marinha Mercante possuía antes da guerra cerca de 650 mil t. de arqueação, das quais 130 mil adquiridas antes da guerra nos EUA, num total de 20 navios. Antes de sua entrada na guerra, o Brasil teve torpedeados 22 navios. Estes, somados aos 10 torpedeamentos durante a guerra, somaram 32 perdas, ou cerca de 137 mil t. de arqueação, o equivalente ao que adquirira antes da guerra. Isto foi compensado, em parte, com a incorporação à frota mercante brasileira de 20 navios do Eixo (três alemães, onze italianos, cinco dinamarqueses e um finlandês) apreendidos em portos brasileiros, num total de cerca de 120 mil t. de arqueação, afora o transatlântico italiano Conte Grande e o cargueiro alemão Windhuk, somando ambos 45 mil t. de arqueação, que foram cedidos aos EUA por indispensáveis ao esforço de guerra aliado. Dos 20 navios apreendidos do Eixo, o Brasil afretou 12 aos EUA com respectivas tripulações brasileiras. Foram eles o Nortelóide, Cearalóide, Recifelóide, Bahialóide, Pirailóide, Minaslóide, Vitorialóide, Apalóide, Goiazlóide, Pelotaslóide, Riolóide, Gaveolóide e Sulóide. A esmagadora maioria dos mercantes brasileiros pertencia à empresa Lóide Brasileiro. Em 31 de dezembro de 1941 sua frota era de 88 navios num total de 553 mil t. de arqueação. Em 1942, e particularmente no segundo semestre, ela perdeu 15 navios dos quais 13 torpeados, um desaparecido no Triângulo das Bermudas e um perdido, por fortuna no mar – o Mantiqueira – num total de 74 mil t. de arqueação. Até a entrada do Brasil na guerra o Lóide Brasileiro mantinha 19 linhas com a Europa, EUA e América do Sul. As do EUA eram as de maior expressão. Com a guerra ele direcionou o seu esforço para as linhas com os EUA, as linhas de abastecimento de petróleo e carvão e mais as linhas costeiras brasileiras, visando apoiar, inclusive, as Forças Armadas do Brasil, no esforço de defesa do Saliente Nordestino. A linha de abastecimento de petróleo foi feita pelos petroleiros Recôncavo, Ponta Verde e Itamaracá pela rota do Pacífico, via canal de Panamá, até Curaçao e Aruba nas Antilhas. O Ponta Verde encalhou no Estreito de Magalhães, sendo abandonado após partir-se ao meio. Além desse perderam-se sem interferência inimiga: o Atalaia, colhido em mar alto por um ciclone e enviando como última mensagem: Não há esperanças – tudo perdido – adeus"; o Mantiqueira, após em meio a uma tempestade bater em pedra submersa, foi abandonado; o Butiá foi abandonado após encalhar por um erro de navegação; e o Miranda por naufrágio. Com a entrada do Brasil na guerra ele armou com um canhão e duas metralhadoras, no máximo, 38 navios mercantes, armas guarnecidas por homens da Marinha de Guerra. Deles 34 eram do Lóide Brasileiro. Combateram com submarinos os Rio Branco, Tamandaré, Buri e o Goiazlóide. Perceberam a presença próxima de submarinos e conseguiram escapar de torpedeamentos os Itaberá, Nortelóide e Recifelóide. O Araranguá, fundeado para o conserto de suas máquinas, viu desfilar em sua frente um submarino inimigo que não percebeu sua presença. Apesar dos sacrifícios humanos e dificuldades incontáveis, a guerra proporcionou grandes lucros ao Lóide Brasileiro. Foram expressivas as perdas humanas em nossa Marinha Mercante em função dos torpedeamentos. Elas atingiram a impressionante cifra de 972 mortos (dos quais 470 tripulantes e 502 passageiros) no total de 1.889 brasileiros mortos em função da guerra ou mais de 51% deles. Tristíssima estatística que enlutou tantos lares no Brasil. A Marinha Mercante Brasileira, entidade civil, pagou, pois, lado a lado com militares brasileiros das três forças, pesadíssimo tributo em sangue e vidas, no esforço de guerra brasileiro. Por esta razão suas heróicas vítimas, mártires da democracia e da liberdade mundial, repousam no Monumento aos Mortos do Brasil da Segunda Guerra Mundial, ao lado de heróis mortos da Marinha de Guerra, Exército e Aeronáutica, no aterro do Flamengo. Os marinheiros mercantes do Brasil têm desenvolvido heróico e relevante esforço, na paz e na guerra, para a construção do Brasil, em função do papel econômico vital para a vida da Nação, pois por suas mãos passam a massa das riquezas que o Brasil importa ou exporta e que caracterizam a sua balança comercial. O pouco reconhecimento social a sua importante contribuição de parte do governo e da sociedade brasileira é caracterizado por ausência de estímulos justos de maior convivência familiar em sociedade, em terra, além de financeiros e de aposentadoria justa que compensem em parte suas solidões, saudades da família, dos amigos e da Pátria e renúncias. Estes óbices de natureza psicossocial têm sido apontados por estudiosos do assunto como o mais sério obstáculo a que o Brasil realize sua vocação marítima sobre os seus mais de 8.000 km de litoral debruçados sobre o Atlântico e não recorra, maciçamente, ao afretamento de outras bandeiras que, em grande parte, concedem aos seus marítimos, sentimental e financeiramente, aquilo que é negado aos marinheiros mercantes brasileiros. A contribuição em vida e sangues que deram ao esforço de guerra aliado é eloqüente e fala da importância de seu papel social ainda não reconhecido e premiado à altura pela sociedade brasileira. Já na Primeira Guerra a maior atingida foi a Marinha Mercante Brasileira com o torpedeamento, pela Alemanha, dos navios mercantes Paraná, em 3 de abril de 1917, o que obrigou o Brasil a romper relações com o Império Alemão, e mais os mercantes Tijucas, Lapa, Macau, Tupi e Acari, o que levou o Brasil a reconhecer por Dec. de 26 de outubro de 1917 o estado de guerra da Alemanha contra o Brasil.

Torpedeamentos de mercantes do Brasil

Foram torpedeados de 22 de março de 1941 a 23 de outubro de 1943, 32 navios mercantes do Brasil por submarinos do Eixo. Eles transportavam 1.734 pessoas entre passageiros e tripulantes que eram, respectivamente, em número de 502 passageiros e 470 tripulantes. Foram eles os: Taubaté, em 22 de março de 1941; o Cabedelo, desaparecido no Triângulo das Bermudas com 54 homens com presunção de torpedeamento, mistério que até hoje permanece. O Buarque foi torpedeado em 16 fevereiro de 1942, próximo ao Cabo Hateras, salvando-se toda a tripulação e morrendo um passageiro do coração; Olinda, torpedeado ao largo da Virgínia-EUA, em 18 de fevereiro de 1942, salvando-se toda a tripulação de 46 homens; Arabutã, torpedeado em 7 de março de 1942, próximo ao Cabo Hateras, salvando-se a tripulação de 47 homens e os passageiros em número de quatro, sendo um deles náufrago do Buarque, morrendo com a explosão o enfermeiro do navio; Cairu, torpedeado em 8 de março de 1942, com dois torpedos que o partiram ao meio e próximo a Nova York, tendo morrido 47 tripulantes e seis passageiros, além de perdida a estratégica carga de cristal de rocha, essencial às comunicações de rádio aliadas; Parnaíba, torpedeado em 1º de março de 1942, próximo a Trinidad, morrendo sete dos 72 tripulantes, incluindo quatro marinheiros de guerra que guarneciam seu canhão; Comandante Lyra, torpedeado em 18 de março, ao largo do Ceará, por um submarino italiano que inaugurou os torpedeamentos no litoral do Brasil, matando dois de seus 52 tripulantes, dos quais quatro marinheiros de guerra que guarneciam seu canhão; Gonçalves Dias, torpedeado em 24 de março de 1942, ao sul do Haiti, morrendo seis tripulantes dos 52, dos quais quatro marinheiros de guerra que guarneciam seu canhão; Alegrete, torpedeado desarmado em 1º de junho de 1942, próximo à Ilha Santa Lúcia, salvando-se toda a tripulação de 64 homens; Pedrinhas, torpedeado em 26 de junho de 1942, próximo da Lat. 23N – Long. 62W, salvando-se seus 48 tripulantes; Tamandaré, torpedeado em 26 de julho de 1942, a caminho de Trinidad, próximo a Tobago, tendo morrido quatro de seus 100 tripulantes; Barbacena, torpedeado em 28 de julho de 1942, nas Antilhas, com dois torpedos, tendo morrido os três marinheiros de guerra que guarneciam o canhão e mais três de uma guarnição de 61 homens; Piave, torpedeado desarmado em 28 de julho de 1942, nas Antilhas, morrendo só o comandante dos 35 tripulantes e foi o último a sê-lo com o Brasil formalmente neutro. Com a atitude do Brasil francamente favorável à causa aliada, Hitler determinou que o submarino U-507 atacasse a cabotagem do Brasil. Deste modo ele afundou os: Baependi, torpedeado em 15 de agosto de 1942, no litoral baiano, que transportava 306 pessoas, das quais 233 passageiros, morrendo ou desaparecendo 270 pessoas, entre elas integrantes do 7º Grupo de Artilharia de Dorso; Araranguá, torpedeado na mesma data e rota com dois torpedos, morrendo ou desaparecendo 131 dos 142 tripulantes e passageiros, incluindo o comandante e imediato; Anibal Benévolo, torpedeado em 16 de agosto de 1942, no litoral baiano, morrendo 150 das 154 pessoas, salvando-se só quatro tripulantes e entre eles o comandante; Itagiba, torpedeado em 17 de agosto de 1942, ao sul de Salvador, morrendo 36 pessoas do total de 181, entre as quais integrantes do citado Grupo de Artilharia, que se dirigia para Olinda; Arará, torpedeado no mesmo dia, ao sul de Salvador, morrendo 20 de seus 35 tripulantes; e Jacira, torpedeado em 19 de agosto de 1942, ao sul de Salvador, salvando-se os seus seis tripulantes. Estes afundamentos trágicos e quase concomitantes, levados a efeito pelo submarino U-507, provocaram grande revolta popular, levando o Brasil a reconhecer o estado de beligerância do Eixo contra ele, em 22 de agosto de 1942, data de sua entrada na guerra na causa aliada. Pois eles haviam de forma traiçoeira provocado 602 mortes de brasileiros, sem distinção de sexo e idade. A partir deste momento o Eixo afundou por torpedeamento mais os seguintes mercantes: o Osório e o Lages, torpedeados em 27 de setembro de 1942, próximo da foz do Amazonas, quando comboiados por navios de guerra dos EUA, tendo morrido cinco homens dos 39 do Osório e três dos 49 do Lages; Antonico, torpedeado em 28 de setembro de 1942, na costa da Guiana Francesa, tendo sido metralhados os seus tripulantes nas baleeiras, quando inermes, ferindo muitos e matando 16 dos 40 tripulantes, comandando o massacre o comandante do submarino U-516, o cap. Gerard Wieb e executando a tarefa covarde o artilheiro ten. Markle; Porto Alegre, torpedeado em 3 de novembro de 1942, na região do Cabo da Boa Esperança, na África, morrendo um dos 47 tripulantes; Apalóide, torpedeado em 22 de novembro de 1942, as Antilhas, morrendo cinco de seus tripulantes, tendo sido antes apreendido na Dinamarca; Brasilóide, torpedeado em 18 de fevereiro de 1943, ao norte de Salvador, salvando-se seus 46 tripulantes; Afonso Pena, torpedeado em 2 de março de 1943, ao sul de Salvador, após abandonar indevidamente o comboio, morrendo 125 dos seus 242 ocupantes; Tutóia, torpedeado em 30 de junho de 1943, na altura de Santos, morrendo sete de seus 37 tripulantes; Pelotaslóide, torpedeado desarmado em 4 de julho de 1943, em missão para os EUA, que o afretara, e ao sul de Belém, tendo morrido cinco de seus 42 tripulantes; Bagé, torpedeado em 31 de julho de 1943, próximo de Aracajú, morrendo 28 dos seus 134 ocupantes; Itapagé, torpedeado em 26 de setembro de 1943, ao sul de Maceió, tendo morrido 26 dos seus 106 ocupantes; e Campos, torpedeado em 23 de outubro de 1943, entre Ubatuba e Santos, morrendo 14 de seus 106 ocupantes, sendo que alguns em acidentes com duas baleeiras atingidas pelas hélices do navio deixadas em funcionamento. No litoral brasileiro foram afundados de 1942-45 39 mercantes estrangeiros, além de três ao largo, num total de 42, dos quais 12 com escolta ou em comboio e 30 navegando isolados ou escoteiros. O afundamento do Birminghan/City trouxe expressiva perda para o Brasil, por trazer equipamentos para navios brasileiros de guerra em construção no Arsenal de Marinha e para equipar nossas bases navais. O Eagle, o Thompson, o Lykes e o S. B. Hunt conseguiram permanecer navegando. Assim, em 1943, foram torpedeado os City of Cairo, Teesbank, Empire Hank, Ripley, Omblitins, Alcoa Rambler, Star of Suez, East Wales, Observer, Oak-bank e Queen City que viajavam isolados. Em 1943 foram torpedeados os Baron Dechomont, Climassen, Bragaland, Yorkwood, Birminghan City, Broad Ayrow, Minotaur, Fitz John Porter, Stang, Hound, Mariso, Indentua, Adelfotis, Eagle, Venezia, Vernon City, Fort Chilcotin, Washburne, African Star, Harmonic, Richard Caswell, William Boyce, James Robertson, Thomas Simichson, Thompson Lykes, S. B. Hunt, Elihu B e o Fort Hallket. Em 1944-45 foram torpedeados o William Gaston, além de ao largo o Nebraska, Anadey, Janeta e Buron Jedbeugh. O sistema de comboios estabelecido pela 4ª Esquadra Americana, a qual a Força Naval do Nordeste da Marinha do Brasil integrava, diminuiu expressivamente os torpedeamentos no litoral do Brasil, em que pese a ação intensa dos submarinos alemães. A maior intensidade dos torpedeamentos tiveram lugar no litoral do Nordeste, especialmente entre o Recife e Salvador e até dezembro de 1943. A maioria dos comandantes de submarinos alemães não abandonaram os preceitos de dignidade humana. Combatiam com tenacidade e não ultrapassavam os limites com náufragos inermes, que em alguns casos socorreram com víveres. Mas existiu uma exceção, o submarino U-516 ao comando do capitão Gerard Wiebe que ordenou o massacre ao artilheiro ten. Markle que metralhou os náufragos do mercante brasileiro Antonico. O Brasil tentou processá-los como criminosos de guerra, sem êxito. Por longos anos existiu versão que o torpedeamento de mercantes brasileiros, que determinou a entrada do Brasil na guerra, foi feito por submarinos americanos. Diversos historiadores têm encontrado a resposta negativa na Alemanha, onde consta o registro dos afundamentos por seus submarinos, de mercantes brasileiros, com respectivos nomes, posição e circunstâncias, no Diário do Comando Alemão dos Submarinos (Kriegsstagebah – B. d. u) consultado pelo alte. Arthur Oscar Saldanha da Gama, ex-combatente da FNN e historiador naval do Brasil. Acidentaram-se durante a guerra os mercantes: Atlântico (abalroado); Mantiqueira (perdido por precipitação da tripulação); Butiá (bateu na ilha das Canárias); Comandante Capela (escapou de encalhe em Aracaju); Comandante Alcídio (que perdeu-se por encalhe em Aracajú); Sulóide (desgovernado afundou, após bater em casco sossobrado em Baía Oslow-Carolina do Norte); Goiazlóide (abalroado num comboio); Piratini (foi ao encontro de escolhos para escapar de um submarino); Bahialóide (encalhou ao sul de Tobago mas escapou); Aiuroca (foi abalroado na entrada de Nova York); Tiradentes (afundou após colidir com outro quando ambos viajavam no escuro); Cisne Branco (afundou após bater em outro); Araponga (no litoral de São Paulo foi afundado pelo Vênus); Guaibá (se perdeu após encalhar por ter sido abalroado); Araribá e Piratininga (abalroaram); Chuilóide e Tietê (afundaram depois de colidirem na ilha do Coral-SC); Aratimbó (foi de encontro, em 1º de fevereiro de 1944, à rede anti-submarina de proteção do Rio de Janeiro); o Duque de Caxias (foi colhido em comboio pelo cruzador Rio Grande do Sul); França M (levou uma proada da corveta Felipe Camarão que o confundiu com um submarino); barcaça Areia Branca (posta a pique pelo Transporte de Guerra Monterrey-EUA, em Natal, após colisão); e o rebocador Veloz (abalroado no Rio pelo USSYMS-45). Naufragou em condições envoltas em mistério e na região das Bermudas o Santa Clara, em 15 de março de 1941. Todos estes torpedeamentos e acidentes envolvendo navios mercantes do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial expressam a grande tragédia vivida então pela Marinha Mercante do Brasil, onde avultam as tragédias particulares dos afundamentos dos Baependi (270 mortos), do Aníbal Benévolo (150), do Araranguá (131), Itagiba (56) e de outros. Foi grande o sacrifício da Marinha Mercante.

Aeronáutica brasileira

Foi criada, em 20 de janeiro de 1941, tendo como componente militar as Forças Aéreas Nacionais, resultado da incorporação, por imperativos de economia e eficiência, decorrente de centralização das aviações do Exército e Naval que começaram a ter desenvolvimento após a Primeira Guerra Mundial. Ela passou a denominar-se Força Aérea Brasileira, ou FAB, em 22 de maio de 1941, como braço militar do Ministério da Aeronáutica, criado quatro meses antes e cujo primeiro titular, e durante toda a guerra, foi o gaúcho Dr. Joaquim Pedro de Salgado Filho. A FAB foi colhida pela entrada do Brasil na guerra com um ano e meio de existência e em situação difícil, não dispondo de infra-estrutura aérea, aviões e pessoal adestrado para a proteção de comboios e guerra anti-submarino, a não ser em limitada escala os Vultee Vingança da base aérea de Santa Cruz e os Focke Wulf do Galeão que, em vôo de instrução, levavam uma bomba de profundidade e uma metralhadora 30. Estes e mais os Martim Wought Corsair e outros haviam contribuído para a formação de bons pilotos, muitos dos quais se adestraram em vôos de longa duração no benemérito Correio Aéreo, criando em 1931 pelo futuro marechal-do-ar Eduardo Gomes e atual patrono da FAB. Organização que se constituiu, além de poderoso instrumento de integração nacional, em excelente escola de pilotos, fora dos limites do Campo dos Afonsos – o ninho das águias brasileiras. Para superar estes obstáculos a FAB desenvolveu, com auxílio americano, atividade febril e incansável e particularmente no Nordeste, no âmbito da 2ª Zona Aérea, com Quartel-General no Recife e jurisdição sobre o Nordeste, onde se situavam as bases aéreas do Recife, Salvador, Natal e Fortaleza, à época centro de gravidade do esforço da FAB e ao comando do brigadeiro Eduardo Gomes. Segunda Zona Aérea que teve destacado papel na defesa do Saliente Nordestino contra uma possível invasão naquela região das Américas e depois da entrada do Brasil na guerra, integrando a Força Naval do Atlântico e 4ª Esquadra Americana, que integrou como Força Tarefa 49, junto com as primeira e terceira zonas aéreas, respectivamente, com sedes em Belém e Rio de Janeiro na proteção do tráfego marítimo e guerra anti-submarino ao longo do litoral desde Florianópolis até o Oiapoc, com ênfase no litoral do Saliente Nordestino. A base criada de Fernando de Noronha serviu ao esforço aéreo aliado no combate, na Cintura do Atlântico-Sul, a barcos do Eixo, corsários ou furadores de bloqueio, estes transportando matérias-primas para o esforço de guerra do Eixo. Em razão de término de contrato, a Missão Militar Francesa de aviação foi substituída de 1940-41 por uma Missão Militar Americana que ministrou, no Campo dos Afonsos, cursos de atualização em vôo por instrumentos, radiocomunicação e o uso do avião North American 44. Ainda antes da entrada do Brasil na guerra foi organizado em Fortaleza o Agrupamento de Aviões de Adaptação, constituído de 20 aviões (12 caças Curtiss P-36, seis bombardeios Douglas B-18 e seis bombardeios NA-B-25) e destinado a adaptar em aviões americanos mais modernos o pessoal da FAB. Em junho os 12 caças Curtiss P-36 foram enviados para o Recife para participarem da defesa do Saliente Nordestino de uma possível invasão do Eixo. Ainda no Exército, a sua aviação havia adquirido de 1937-40, 143 aviões que transferiu à FAB. Eram de instrução 79 (20 Muniz M-7 brasileiros, 15 Avro e 44 Stearman A 75 L e A 76-36). Eram de combate 30 North American e 10 Vultee II GB2. Um destes realizou vôo sem escalas de Fortaleza a Porto Alegre. Depois viriam já na fase da FAB os Curtiss P-36, os Douglas B-18, os NA-B-25, os Hudson, os Catalina, os Ventura. Com a entrada do Brasil na guerra a FAB apoiou com suas bases de Vitória, Caravelas, Salvador, Maceió, Natal, Fortaleza, São Luís, Igaparé-Açu, Belém, Amapá e Ilha Oceânica de Fernando de Noronha operações da Força Tarefa 44, constituída basicamente pela Ala Aérea da 4ª Esquadra Americana. Exerceu papel relevante no adestramento dos pilotos do Brasil, em modernos aviões de patrulha para a guerra anti-submarino e cobertura aérea de comboios a USBATU (United States-Brasil Air Training Unit), unidade de treinamento organizada pelos americanos na base aérea de Parnamirim-Natal a eles cedida pelo Brasil. Ela instruiu em 3 turmas, 36 oficiais aviadores e 54 sargentos que constituíram unidades de patrulha da 2ª Zona Aérea. O curso durava seis semanas seguido de estágio em aviões americanos. Estas equipes integraram no Recife o 1º Grupo de Bombardeio Médio equipado com 14 aviões PV-I Ventura recebidos, em 30 de março de 1944, e que ali substituiu esquadrão americano. No Recife estagiaram equipes do 4º Grupo de Fortaleza que foi equipado com aviões Lockheed Hudson que logo substituíram os americanos. O 3º Grupo de Salvador, após instruído pelo grupo do Recife, foi também equipado com os modernos PV-2 Ventura e logo substituiu os americanos. Em 12 de dezembro de 1944, a base aérea do Galeão recebeu 15 Catalinas PBY, dos quais o Aará afundou o submarino U-199. A FAB ficou assim em condições de substituir a aviação naval da Esquadra Americana e dar cobertura aérea ao tráfego marítimo e a executar a guerra anti-submarino em conjunto com a Marinha de Guerra do Brasil, no litoral, do Oiapoc a Florianópolis. A atuação da FAB na Campanha do Atlântico Sul foi assim definida pelo comandante da Força do Atlântico Sul e 4ª Esquadra americana, vice-alte. William Monroe que substituíra o vice-alte. Jonas Haward Ingram, agora comandante-em-chefe da Esquadra do Atlântico.

 

"Os sinceros agradecimentos à Força Aérea Brasileira por sua cooperação com a Força Naval Americana contra o inimigo. Os vôos freqüentes prolongados e perigosos feitos pela FAB exigiram perícia de vôo, e máxima cooperação e coragem excepcional. Não há dúvidas que as operações da FAB foram da maior importância e um dos fatores decisivos na eliminação do inimigo no Atlântico Sul."

 

Foi figura exponencial e providencial o comandante da 2ª Zona Aérea, o brigadeiro Eduardo Gomes, futuro ministro da Aeronáutica por duas vezes, além de consagrado como seu nume tutelar e, mais do que isto, patrono da Força Aérea Brasileira, após sê-lo por uns tempos do CAN, no qual foi substituído pelo ten. - brig. Nelson Freire Lavenére-Wanderley, pioneiro do 1º vôo do CAN, combatente no TO do Mediterrâneo nesta guerra, futuro ministro da Aeronáutica e chefe do EMFA e historiador da FAB. Lutaram no TO do Mediterrâneo as seguintes unidades da FAB: o 1º Grupo de Caça (Senta Pua!) e a 1ª Esquadrilha de Observação e Ligação (1ª ELO).

 

Grupo de Aviação de Caça 1º (Senta a Pua!)

Representou a FAB no TO do Mediterrâneo, integrando a Força Aérea Aliada do Mediterrâneo e, diretamente, o 350º Regimento de Caça Aliado, junto com mais três grupos de caça dos EUA. O 350º integrava a 62ª Brigada de Caça subordinada ao XXII Comando Aerotático, que apoiava o V Exército dos EUA que a FEB integrava. O 1º Grupo de Caça foi equipado com os modernos caças Thunderbolt P-47 e teve a comandá-lo o ten. -cel. Nero Moura, mais tarde ministro da Aeronáutica e futuro patrono da Aviação de Caça da FAB. O grupo brasileiro cumpriu missões de combate em território italiano e alemão, a partir dos campos de pouso de Tarquínia e depois Pisa. Segundo relatório do 350º Regimento de Caça, o 1º Grupo de Caça, de 6-19 de abril de 1945 realizou 5% dos vôos executados pelo XXII Comando Aerotático. Dos resultados obtidos foram oficialmente atribuídos aos pilotos brasileiros: 15% dos veículos inimigos destruídos; 28% das pontes destruídas; 36% dos depósitos de combustíveis: e, 85% dos de munição danificados. Em missão os caças brasileiros enfrentaram forte resistência inimiga de parte da defesa antiaérea e da aviação de caça, voando à média e baixa altura, ficando à mercê do fogo antiaéreo de canhões antiaéreos de 20 e 40 mm, segundo o historiador da FAB, Lavenére-Wanderley, então oficial de ligação brasileiro junto ao XXII Comando Aerotático e que cumpriu 13 missões de combate com os bravos do Senta a Pua! Nos quatro primeiros meses de 1945, o 1º Grupo realizou 1.728 saídas, sendo atingido 103 vezes pela artilharia antiaérea e, mesmo assim, na maioria das vezes, os robustos Thunderbolt um tank voador com 7 t. de ferro, combustível e munição trouxeram seus pilotos de volta à base. Dos 48 pilotos do grupo que combateram, houve 22 baixas (cinco morreram abatidos pela artilharia antiaérea, 8 foram abatidos da mesma forma, mas conseguiram saltar de pára-quedas sobre território inimigo, três pereceram em acidentes e seis foram afastados por imperativos médicos). O elevado número de baixas reflete o risco a que estavam submetidos quando em operações. O grupo se adestrou em Orlando-EUA, Aqua Dulce no Panamá e Soffolk-New York, onde tomou conhecimento e intimidade com o mais moderno caça da USAF, onde tomou conhecimento e intimidade com o mais moderno caça da USAF, o Thunderbolt P-47. Dali o grupo foi transportado para Livorno. Ao incorporar-se ao 350º Regimento de Caça recebeu o nome código Jambock (chicote) que veio somar-se ao Senta a Pua! grito de guerra simbolizando, segundo Austregésilo de Athaide, "lançar-se sobre o inimigo com decisão, golpe de vista e vontade de aniquilá-lo". Pua, a arma do galo de rainha para atingir o oponente, esporte muito difundido no Brasil. O símbolo do grupo passou a ser o avestruz, animal que come de tudo, situação que viveu e ironizou o grupo em seu treinamento em Aqua Dulce no Panamá. O comandante da Força Aérea dos EUA ao visitá-lo transmitiu a seguinte impressão a seu comandante:

 

"Tive a melhor impressão quando visitei vossa unidade (ten. -cel. Nero Moura). O modo pelo qual o senhor e seus homens integraram neste Teatro do Mediterrâneo deve servir de orgulho para vós e para os brasileiros. Podeis com razão sentir-vos orgulhosos com os sucessos obtidos e com os que continuareis a obter, levando a guerra ao seio do inimigo. O recorde de vosso grupo é acima do normal e a cooperação com as outras unidades engajadas refletem maior mérito sobre vós. Foi com prazer e orgulho todo pessoal que visitei vosso grupo.

O Senta a Pua! realizou o seu maior feito, em 22 de abril de 1945, assim traduzido em relatório do oficial de informações do 350º Regimento de Caça:

 

Por este pronto trabalho de coordenação o 1º Grupo de Caça Brasileiro, no dia 22 de abril de 1945, contribuiu com sua ação material e diretamente para que a cabeça-de-ponte aliada sobre o rio Pó fosse estabelecida no dia 23 e na derrota do Exército Alemão no vale do rio Pó.

 

Por tudo, passados 40 anos, o presidente Ronald Reagan incluiu o 1º Grupo de Caça em citação presidencial de unidade, por extraordinário heroísmo, distinção que fala alto por si só. O Senta a Pua! recebeu na Itália 50 aviões sendo 25 com o grupo e 25 em reserva. Durante sete meses de guerra consumiu 20 por terem sido avariados ou abatidos e trouxe 20 para o Brasil. O Grupo na Itália executou 445 missões, com 2.550 saídas, 6.144 horas de vôo, lançamento de 4.442 bombas, 1.180.200 tiros de metralhadora . 50, disparados; 850 foguetes lançados e 4.058.651 litros de gasolina consumidos. Atingiu 11 aviões; 105 locomotivas; 1.990 veículos automóveis, 1.085 vagões e carro-tanques; 21 carros blindados; 76 pontes ferroviárias e rodoviárias; 100 posições de artilharia; 46 depósitos de munição e combustível; cinco refinarias; 72 embarcações, incluindo um navio; quatro postos de comando etc... Enfim destruiu ou danificou 4.467 alvos militares, dos quais 2.511 destruídos. Foi recordista em missões de guerra cumpridas o então ten. – av. da reserva Alberto Martins Torres que já havia na campanha do Atlântico cumprido 64 campanhas de patrulhamento, fazendo depois carreira como advogado, sendo historiador da saga dos aviadores do Brasil que lutaram no Atlântico e Mediterrâneo na obra Patas Chocas, Avestruzes e outros bichos de pena (Uma carta-caderno). Ocupou o terceiro lugar com 94 missões de guerra cumpridas, nas quais teve seu avião atingido sete vezes pela artilharia antiaérea, além de um pouso de emergência em Fortil-Itália, base de poloneses na RAF, o 1º ten. - av. Ruy Barbosa Moreira Lima que narra a saga dos avestruzes do 1º Grupo de Caça e mais os da 1ª ELO na Itália no livro Senta a Pua! (Rio, Bibliex, 1980). As experiências colhidas pelos jamboks, avestruzes do 1º Grupo de Caça, tiveram grande projeção no desenvolvimento desta especialidade na FAB. Eles formaram escola e a lembrança de seus nomes e de seus feitos está presente e viva nas bases aéreas de Santa Cruz, Anápolis, Canoas, Santa Maria, Natal e Fortaleza. O Senta a Pua! (Ist Brazilian Figher Group) foi apoiado por seis enfermeiras da Escola Ana Nery, do Rio e 1 dos EUA e por médicos, como Lutero Vargas, filho do presidente do Brasil à época, e depois um de seus biógrafos e por quatro militares dos EUA que se integraram no espírito do grupo, inclusive o sgt. Joseph Britto, pai da atriz Sandra Bréa, e o maj. da USAF, oficial de ligação, John Buyers, hoje radicado no Recife. Até hoje, sob a liderança de seu comandante na Itália, o Senta a Pua! reúne-se em 6 de outubro e saúdam, com palmas, seguida da palavra Adelfi, os mortos, ou um vivo, como deferência muito especial. Foi tradição trazida da Itália de saudar com um Adelfi um companheiro desaparecido e que começou com uma brincadeira derivada da imitação da singular propaganda do cigarro Adelfi.

Esquadrilha de ligação e reconhecimento (1ª ELO)

Esta esquadrilha combateu no Teatro do Mediterrâneo, na Campanha da Itália e sob controle operacional da FAB, integrando sua Artilharia Divisionária, para a qual fez observações, reconhecimentos aéreos e regulagens de tiro. Foi comandada pelo maj. - av. João Fabrício Belloc. Foi equipada com 10 aviões Piper Cub 4HL de turismo, os conhecidos Teco-Tecos, adaptados, mas sujeitos a paradas temporárias ou totais junto às linhas inimigas, no inverno rigoroso por falta de aquecedor do cone do difusor do carburador, ou serem atingidos por granadas inimigas com espoleta eletrônica VT. A 1ª ELO voou 684 horas em missões de guerra, tendo executado 400 regulações de tiro para a artilharia brasileira e para a dos americanos e ingleses. Ela operou nas seguintes pistas de pouso em seqüência: San Rossore (hipódromo), San Giógio (Pistóia), Suviana, Porreta Terme (pista de chapas de aço), Montéchio, Piacenza, Portalbera e Bergamo. O lema da Esquadrilha foi – "Olho nele!" (ou no inimigo). Ela participou ativamente das principais ações da FEB: Monte Castelo, Belvedere, Della Torrácica, Montese, etc... Ela se constituiu no olho comprido da artilharia brasileira. O correspondente de guerra brasileiro Rubem Braga, após realizar vôo de reconhecimento com a 1ª ELO, escreveu:

 

"Obscuro e quase esquecido do noticiário dos jornais e rádios do mundo, longe dos feitos sensacionais e das proezas dramáticas, o pobre Teco-Teco (alusão ao piper Cub da ELO), na sua vida modesta e rotineira, é ele também um instrumento de morte dos nazistas, uma preciosa máquina trabalhando todo o dia na construção da Vitória".

 

Nenhum avião da 1ª ELO foi perdido, conforme escreveu por equívoco mais tarde em seu livro Missões Silenciosas o gen. Vernon Walters que como capitão representou o gen. Mark Clark junto ao comandante da FEB durante a Campanha da Itália, conforme observou o ex-integrante da ELO e historiador brasileiro, o atual cel. Elber de Melo Henriques. Escreveu aquela autoridade que assistiu à 1ª ELO ser destruída no solo pelo inimigo, o que foi um equívoco daquela ilustre autoridade amiga do Brasil, mas que feriu fundo os brios dos heróis daquela esquadrilha. Era uma retificação que aqui se impunha. Integraram a ELO 13 pilotos da FAB e 11 observadores de Artilharia do Exército que prolongaram os olhos dos artilheiros. Ela contou com o apoio de 18 praças da FAB e de 10 do Exército. A FEB, através de sua AD, extinguiu a 1ª ELO, em 14 de junho de 1945, depois do término da guerra. O Gen. Cordeiro de Farias, comandante da AD, batizou o avião capitânia de Quero-Quero, lembrando o pássaro existente no Rio Grande, chamado: - "a Sentinela dos Pampas, em razão de ser guerrilheiro alado que dá o alarma no intruso ou denuncia o homem escondido, pássaro que tem a consciência de seu direito e a ilusão de sua força baseada nas duplas puas róseas de suas asas... "O Quero-quero é astuto como o nosso vaqueano gaúcho".

A ação corajosa e de vigilância dos Quero-Queros da Elo comparada com os aviões foi muito feliz. Historiadores brasileiros da campanha da Itália lamentam o abandono da experiência da ELO e julgam ser desperdício de pilotos da FAB uma atividade destas, que poderia ser realizada por pilotos do Exército e também observadores aéreos. Foi assim que o marechal Eduardo Gomes iniciou sua carreira de piloto. Primeiro foi observador de artilharia.

Submarinos afundados no Brasil

Até 1942 os submarinos do Eixo fizeram o que quiseram além de cobrir suas vítimas de escárnio, inclusive no litoral brasileiro. No primeiro semestre de 1943 ocorreu uma blitz contra os submarinos do Eixo atuando no litoral do Brasil. Os submarinos foram aos poucos sendo superados em suas técnicas e táticas de ataque pela eficiência crescente das dos aliados em guerra anti-submarino. A medida que a tonelagem dos cargueiros torpedeados foi diminuindo foi aumentado a de submarinos afundados. Em maio de 1943 a Força do Atlântico Sul e 4ª Esquadra Americana recebeu substancial reforço de aviões Ventura e Liberators e bombas de profundidade para explodirem em diversas profundidades. Foram afundados particularmente no litoral do Brasil, de 4 de janeiro – 4 de agosto de 1943, pela Força Naval do Nordeste e 4ª Esquadra Americana à qual subordinavam-se forças navais e aéreas brasileiras especializadas em guerra anti-submarino e proteção de comboios, 15 submarinos do Eixo, dos quais 14 alemães e um italiano, além de mais um alemão, o U-161, não confirmado. Foi um total expressivo, se comparado com os 16 afundados entre as Guianas-Antilhas-Estados Unidos-Canadá. Eles operavam com apoio em submarinos supridores de 1.600 t., chamados vacas-leiteiras (milchkune) que em número de 12 atuavam no largo dos Açores, apoiando cerca de 400 submarinos alemães – os U-Boats, que eram por sua vez apoiados em bases no litoral da França. Foram afundados na costa do Brasil os: U-164, afundado, em 4 de janeiro de 1943, por aviões dos EUA a nordeste de Fortaleza; o U-507, afundado por um Catalina dos EUA na foz do Paraíba, sem deixar sobreviventes, tendo sido o causador da maior tragédia da Marinha Mercante Brasileira nesta guerra e mesmo do Brasil, os trágicos e traiçoeiros torpedeamentos dos navios brasileiros, antes de ato de Declaração de Guerra, ou seja, dos mercantes Baependi, Araranaguá, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará que mataram 607 brasileiros, numa proporção de 60% das perdas fatais da Marinha Mercante Brasileira em toda a guerra, fato que determinou a entrada do Brasil na guerra e sua participação do esforço bélico aliado; Archimede, submarino italiano afundado em 15 de abril de 1943, por aviões dos EUA, na altura do Atol das Rocas; U-128, afundado em 17 de março de 1943, no litoral de Alagoas, por aviões e um contratorpedeiro dos EUA, após tentar atravessar comboio escoltado pela Marinha Brasileira; U-590, afundado em 9 de julho de 1943, no litoral do Amapá, por aviões dos EUA, tendo sido o torpedeador do mercante Pelotaslóide; U-513, afundado em 19 de julho de 1943, no litoral de Santa Catarina, por um avião dos EUA, salvando-se seu famoso comandante; U-662, afundado em 21 de julho de 1943, no Amapá, por uma Catalina dos EUA; U-598, afundado no Cabo São Roque, em 23 de julho de 1943, por aviões dos EUA sem ter chegado a operar, sendo atingido por bombas Fido, usadas pela primeira vez; U-591, afundado em 30 de julho de 1943, ao largo do Recife, por um avião Veja Ventura dos EUA baseado em Natal; U-199, afundado em 27 de setembro de 1943, por um Catalina da Força Aérea Brasileira, o Arará PBY-4, em frente ao Rio de Janeiro, submarino que antes havia abatido um avião PBM-3 Mariner dos EUA, sendo o primeiro submarino de 1.200 t. a ser afundado e o U-604 afundado em 4 de agosto de 1943, ao norte da ilha da Trindade, por autodestruição, sendo da classe abastecedor ou vaca-leiteira dos demais, por transportar suprimentos de torpedos, combustíveis, remédios, alimentos e peças de reposição destinados a eles. Fora avariado por um avião dos EUA, a 100 milhas de Maceió, que depois foi abatido pelo U-185 que protegia o U-640, alvo de segundo ataque. O U-161 foi atacado, em 27 de setembro de 1943, a leste de Salvador, por um avião dos EUA, dando a impressão de haver sido destruído. O U-185, que salvara a tripulação do U-640 antes ele autodestruir-se, foi afundado por aviões dos EUA. O comandante do U-604, muito ferido e imobilizado na enfermaria do U-185, matou, a pedido, um marinheiro em idêntica situação e depois matou-se com um tiro antes que o mar fizesse. O U-604 foi o único submarino supridor ou vaca-leiteira que operou no litoral do Brasil. Os submarinos supridores eram muito vulneráveis na hora do abastecimento da matilha de submarinos, pois os encontros que combinavam eram captados pelos rádios aliados que haviam capturado o Código de Comunicações da Marinha Alemã. Com a destruição da maioria dos supridores ou vacas-leiteiras e neutralização das bases de submarinos alemães na costa da França e mesmo eficiência da guerra anti-submarino no litoral do Brasil, eles foram obrigados a deixá-los. Se a guerra tivesse se prolongado é possível que submarinos alemães tipo XXI, com 19.000 milhas de raio de ação tivessem operado no litoral do Brasil, sem necessidade de reabastecimento, causando maiores prejuízos ao Brasil. A guerra anti-submarino no Brasil contou com o concurso da Marinha e Aeronáutica na proteção do tráfico marítimo e do Exército na vigilância do litoral, com o concurso eficiente de pescadores, negando aos submarinos pontos de apoio e refúgios na costa do Brasil. Destacou-se na guerra anti-submarino o Centro de Operações Conjunto do Rio de Janeiro que integrou elementos da Marinha de Guerra e Mercante do Brasil e da de Guerra dos EUA e das aviações naval dos EUA (4ª Esquadra Americana) e Força Aérea Brasileira, para onde fluíam as informações sobre a navegação no Atlântico Sul, como a localização de submarinos. O Centro planejava a proteção de comboios e varreduras. Sua área era um arco com extremos em Florianópolis-SC e Caravelas-BA. Cobriam esta área aviões baseados no Rio de Janeiro. Os U-Boats eram de 500, 740, 1.200 e 1.600 t. Os últimos, os vacas-leiteiras, possuíam baterias antiaéreas para combate com aviões. Dos 1.000 submarinos ou U-Boats fabricados pela Alemanha estima-se que 781 foram afundados. É assunto com um certo grau de imprecisão. Outras fontes confirmam o afundamento do U-161 por um avião Mariner baseado em Salvador. Ele era comandando pelo cap. Albrech Achilles, considerado o menor homem da Marinha alemã e talvez o seu melhor submarista. Era franzino, raquítico, mas bravo e competente, pois fazia de um submarino em suas mãos uma espada que esgrimia com perfeição. Sua carreira fora uma legenda, até sucumbir próximo a Alagoas. A base aérea inglesa de Ascensão sediou o 1º Grupo Misto do Exército dos EUA e mais tarde uma esquadrilha de aviões Liberators destacada de Natal. Entre as bases de Natal e Ascenção aviões da 4ª Esquadra Americana baseada no Recife fizeram vôos diários de barreiras, através do denominado Cinturão do Atlântico Sul (Saliente Nordestino-ilha de Ascenção-África) visando detectar submarinos do Eixo e principalmente navios furadores de bloqueio, transportando da Ásia, principalmente, matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra nazista, com ênfase nos meses de dezembro de 1944 e janeiro de 1945. A cobertura aérea do cinturão foi complementada por quatro grupos-tarefas, com um cruzador e um destróier, ou dois destróieres, cada, patrulhando o Cinturão do Atlântico Sul, entre Recife e Ascenção. Aviões Liberators baseados em Ascenção afundaram os potentes e modernos submarinos de 1.200 t. os U-848 t., U-849 e U-177, respectivamente, em 5 e 25 de novembro de 1943 e 6 de fevereiro de 1944 e nas posições (10º09S-18º00w), (06º30S-00º40W) e (10º 35S-23º 12W). O ataque ao U-848 foi sensacional. Recebeu 10 ataques de parte de seis aviões que lançaram 33 cargas de profundidade e 12 bombas de demolição. Seus sobreviventes foram inquiridos no Brasil. Na luta estratégica no Atlântico Sul, contra os navios rompedores de bloqueio na altura do Cinturão do Atlântico Sul, escaparam o Osorno e, temporariamente, o Alsterunfer afundado na Baía de Biscaia. Foram afundados nas imediações de Ascenção, que controlava pelo sul o Estreito Natal-Dakar, por navios da 4ª Esquadra Americana baseada no Recife, os furadores Essemberg (21 de novembro de 1942), Karin (10 de março de 1943 ao largo do Recife), Wesserland (31 de janeiro de 1944), Rio Grande (4 de janeiro de 1944, ao largo do Cabo São Roque) e o Burgenland (5 de janeiro de 1944, ao largo do Recife). O afundamento dos três últimos furadores, em ação coordenada por navios da 4ª Esquadra baseados no Recife e aviões baseados em Natal e Ascensão, se constituiu em duro golpe estratégico no Eixo. Todos eram de sete mil t. e vinham carregados de borracha e outros itens, desde o Japão e Índias Holandesas. Os náufragos do Burgenland foram socorridos pela corveta Camocim da Marinha do Brasil, que integrava a 4ª Esquadra, através da Força Naval do Nordeste. Tanto os submarinos de 1.200 t., como os rompedores de bloqueio ofereceram tenaz resistência antiaérea aos aviões, dos quais um foi abatido e outros avariados. De 21 de setembro de 1942 a 15 de abril de 1944, estiveram presos no Campo Provisório de Concentração de Pouso Alegre-MG, no quartel do 1º Grupo do 8º Regimento de Artilharia, 62 prisioneiros de guerra alemães, capturados do navio alemão rompedor de bloqueio. Annelise Essemberg, de 5.000 t., afundado em 21 de novembro de 1942 na posição (00-54N-22-34W), por auto-destruição, quando ia ser identificado por navios da 4ª Esquadra Americana baseados no Recife. Fazia-se passar por norueguês, provinha do Japão. Sua tripulação aprisionada era de 62 homens dos quais 42 marinheiros mercantes e 20 de guerra, sendo 14 oficiais e 48 suboficiais e marinheiros, conforme revelamos em Ombro a Ombro de abril 1991.

Correspondentes de Guerra do Brasil

Para acompanhar as forças brasileiras na Itália, enviaram correspondentes de guerra os seguintes jornais do Brasil: Diário Carioca enviou Rubem Braga; Correio da Manhã – Rui Brandão; Diários Associados – Joel Silveira e José Barros Leite; O Globo – Egídio Squeff; Agência Nacional – Tharsilo C. Nike e Horácio G. Sobrinho (repórteres) e Fernando S. S. da Fonseca e Adalberto Cunha (cinegrafistas); Jornal do Brasil – Alberto D. Abranches. Se credenciou junto à FEB o jornalista da BBC de Londres, Francis Hallowel, apelidado Chico da BBC que ao final da guerra radicou-se no brasil e escreveu livro sobre a guerra. Destacaram-se os correspondentes Rubem Braga e Joel Silveira que produziram após valiosos trabalhos sobre a FEB. Pleiteou ir como correspondente de guerra pelo Correio da Manhã o jornalista Carlos Lacerda, mais tarde governador do Rio de Janeiro, segundo declarou ao veterano e historiador da FEB Joaquim Xavier da Silveira, autor de A FEB por um soldado (Rio, Nova Fronteira, 1989). Os correspondentes estiveram agregados à FEB, em Pistóia. Eles produziram valiosa documentação sobre a FEB que em grande parte está reunida na ANVFEB (Associação de Veteranos da FEB) localizada na Rua das Marrecas, no Rio de Janeiro. Ela, junto com a documentação oficial recolhida e indexada pelo Arquivo Histórico do Exército, no Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e mais a vasta bibliografia e hemerografia produzida, indexada em Tesouros da FEB existente na citada associação e de autoria do historiador e veterano da FEB, cel. Ruas Santos, permitem recompor em detalhes a atuação militar do Brasil no TO do Mediterrâneo, bem como o perfil do combatente brasileiro, que lá combateu em defesa da democracia e da liberdade mundial, que foi ensaiado pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, em 1962, bem como o perfil de seus chefes. Os correspondentes de guerra Rubem Braga e Joel Silveira, por exemplo, deixaram assinalados em seus escritos a providencialidade do comandante escolhido para comandar a FEB e a sua grandeza como soldado. Em 12 de dezembro de 1944 a FEB, ainda bisonha, teve um insucesso no ataque a Monte Castelo, o que levou seu comandante a ser pressionado na histórica Conferência do Passo de Futa, QG do IV Corpo de Exército dos EUA, em que o gen. Crittenberger fez as seguintes e consecutivas perguntas ao gen. Mascarenhas; "Quais os motivos da derrota de hoje? A FEB tem ou não tem capacidade de combate?" Em conseqüência, com este e outros problemas, os brios de Mascarenhas levam-no a pensar em pedir renúncia do comando da FEB, no que foi convencido ao contrário pelo gen. Cordeiro de Farias. Sobre isto comentou o mais tarde grande cronista Rubem Braga, veterano correspondente de guerra na Revolução de 1932, no túnel da Mantiqueira, além de historiador da FEB, com o excelente livro Com a FEB na Itália. Observou ele com agudeza:

 

"Foi bom que o Gen. Mascarenhas não renunciasse e que ficasse. Com o seu Estado-Maior dividido, os inevitáveis desentendimentos (ou difíceis entendimentos) com o Comando Aliado, à displicência com que o Rio de Janeiro atendia os pedidos da FEB, os ciúmes e prevenções da retaguarda e as durezas da guerra, só um homem da respeitabilidade, da energia e da paciência do gen. Mascarenhas poderia levar a campanha até o fim como ele fez, com êxito".

 

Joel Silveira, ao entrevistar Mascarenhas de Morais já consagrado pelo povo brasileiro como marechal vitalício e perguntar-lhe sobre o que mais desejava na vida, teve como resposta: "Merecer o respeito e apreço público". Na mesma época da pressão injusta recebida por Mascarenhas de Morais no Passo de Futa, uma divisão americana de 15 mil homens foi reduzida a oito mil, em avanço na direção de Bologna que foi bloqueada. No momento em que se realizava a Conferência de Futa, os alemães haviam contra-atacado na região de Camaiore e Viareggio, obrigando duas divisões americanas a um recuo de 5 Km. Na resposta dos brasileiros ao IV Corpo foi enfatizada a incompatibilidade da missão atribuída à FEB pelo IV Corpo e o fato de, ao contrário da FEB, nenhuma divisão americana, mesmo a melhor, quer no pacífico, quer na Europa, quer no Mediterrâneo, haver entrado em combate, sem haver completado o ciclo de instrução. Ou seja, um ano de instrução nos EUA, três meses no TO e um mês de adaptação. E que a instrução da FEB tinha sido incompleta no Brasil, por culpa do governo e, na Itália, por culpa do Comando Aliado. E mais que a FEB não podia fazer julgamento próprio de sua capacidade de combate, tarefa que cabia ao comando americano. O comando do IV Corpo, convencido de que o que havia era uma forte reação inimiga na frente, informou que a capacidade de combate da FEB estava fora de apreciação e que ela deveria de qualquer maneira manter as posições ocupadas. A partir daí, o gen. Mascarenhas mudou seu estilo de comando. Passou a interferir diretamente nas operações e a ter uma visão melhor delas com resultados muito positivos, compensando assim divergências em seu Estado-Maior que têm sido abordadas na extensa bibliografia sobre a FEB e particularmente nas obras de seu comandante. A FEB por seu comandante e na de seu chefe de Estado-Maior, cel. Floriano de Lima Brayner, A verdade sobre a FEB, considerada pelo veterano Octávio Costa "como apaixonada e perversa, escrita para denegrir a reputação de seus rivais militares e que apesar da evidente má-fé e da ótica de dono da verdade é essencial para o conhecimento da FEB por dentro". A polarização das divergências se situou entre o comandante da FEB e seu chefe de Estado-Maior e o estudo histórico crítico das mesas encerra valiosas lições que chefia e liderança. Livro importante é Mascarenhas de Morais e sua época (Rio, Bibliex, 1983, 2v) de autoria de veterano e herói da FEB e mais tarde consagrado historiador militar e geopolítico brasileiro, gen. Carlos de Meira Mattos, que na paz colaborou com o marechal Mascarenhas de Morais nos livros A FEB por seu comandante e Memórias, além de autor do clássico Roteiro da FEB desenhado por Alberto Lima. Meira Mattos foi oficial de ligação do comando da FEB, tendo assumido o comando da companhia do I Batalhão do 11 RI, que em sua primeira missão de combate entrou em pânico e recuou temporariamente, sem conseqüências táticas, em 3 de dezembro de 1944, da posição que ocupava na Frente de Guanela, episódio que é rico de ensinamentos a comandantes de companhias e pelotões. Meira Mattos recuperou o moral da companhia depois de substituir seu comandante, sendo por isto agraciado com importante condecoração americana. O correspondente de O Globo Egydio Squeff produziu excelente trabalho que, impresso no Rio, voltava ao front sob a forma de O Globo Expedicionário noticiando feitos da FEB, dando notícias da guerra como um todo, notícias do Brasil e que levava aos pracinhas brasileiros, segundo Roberto Marinho:

 

"nos alojamentos e nas trincheiras, as mensagens, as brincadeiras, as palavras de ânimo de familiares e amigos... e a idéia de que não estavam sós e a noção de que seus sentimentos tinham sentido de participação na construção de um mundo novo."

 

Em 1985, nos 40 anos da Vitória, a Agência Globo editou obra O Globo Expedicionário, onde Joel Silveira, em artigo "O Pracinha desarmado", traduz a experiência colhida por ele e pelos demais correspondentes, que poderá servir de orientação para futuros correspondentes. De sua experiência e vivência na guerra diz a certa altura: "Cheguei a Itália com 26 anos e depois de nove meses estava com 40 anos. A guerra é nojenta! O que ela nos tira nunca mais devolve." Da convivência com seus companheiros lembrou com carinho as palavras que primeiro escutava dentro da barraca, pronunciadas com sotaque gaúcho pelo correspondente Squeff, por ocasião da Alvorada no rigoroso inverno dos Apeninos: "Guerreiros, de pé! Á luta!! Temos que acabar com essa porcaria de guerra! Estou doido para voltar para casa e para o meu chopinho na Galeria Cruzeiro".

Em 1985, um jornalista, colega dos correspondentes de guerra que acompanharam e sofreram com os pracinhas da FEB, William Waak, após pesquisa em Londres, Washington, Bonn e Friburgo, com a "Preocupação de cotejar a versão oficial e laudatória da FEB, com o relato de alemães e americanos", editou o livro As duas faces da glória. A obra trouxe interessante e originais revelações: sobre a 232ª Divisão de Infantaria alemã, cujo 1.043º Regimento de Infantaria a FEB enfrentou nos Apeninos; sobre a preocupação louvável e satisfeita do mar. Mascarenhas de Morais de que a FEB não viesse a ser usada como "bucha de canhão" pelos aliados, dado o seu caráter simbólico na luta contra o Eixo, no contexto aliado e a constatação de haver nascido no curso de sua pesquisa "profunda simpatia pelos brasileiros simples e humildes, lançados sem treinamento e sem preparo numa guerra cujo sentido e alcance muito deles nunca entenderam". O autor de As duas faces da glória que alguns veteranos chamam "A outra face da glória" por só conter referências negativas à atuação da FEB, às quais colocadas isoladamente, como o foram, ao que parece por mágoa política contra integrantes da FEB, que o seriam da Revolução de 1964, agridem o soldado brasileiro que lá foi lutar e que deu o melhor de si como soldado do terceiro mundo, ao lutar e vencer após hercúleo esforço de adaptação doutrinária militar, tecnologia militar, psicológica e ecológica (montanha e inverno na neve) contra ou em aliança com os melhores soldados do primeiro mundo presentes na Europa na guerra. As críticas de As duas faces da glória concentraram-se nos ataques a Monte Castelo e em outros pontos que provocaram grande indignação entre os veteranos, muitos dos quais, afeitos às letras, responderam de diversas formas, às quais devem ser levadas em consideração na leitura do livro polêmico em foco. Com relação às falhas e erros que apontam com apoio em relatórios americanos, elas são comuns em tempo de guerra a todos o exércitos. Constatar isso basta ler-se História de um soldado do ten. -gen. Omar Bradley (Bibliex, 1957) em que ele focaliza, de observatório privilegiado, a invasão da Europa pela Normandia. Noutras obras do gênero, os erros e falhas crassos se constatam entre os aliados e o Eixo durante esta guerra e de grande repercussão tática e estratégica. Nas condições de confusão, extrema tensão, medo e de possibilidades de perda da vida a qualquer momento, os erros e falhas são comuns num clima de guerra, daí a expressão muito corrente nos meios militares mundiais que ganha a guerra quem erra menos. A leitura de As duas faces da glória não pode ser feita isolada e sim junto com os trabalhos produzidos pelos jornalistas brasileiros correspondentes de guerra que acompanharam a FEB e aqui focalizados e mais a bibliografia brasileira e estrangeira sobre esta guerra, para que desta obra, com imparcialidade e isenção, se possa retirar os ensinamentos para a posterioridade que ela em verdade contém. Em realidade não se depara com versão oficial séria laudatória que afirme que a FEB teve um papel decisivo ou predominante na Itália. Ela cumpriu muito bem a missão que lhe coube, com vitórias e insucessos, os últimos reconhecidos pelo seu comandante e que ocorreram na fase que o autor de As duas faces da glória reconhece que a FEB "foi lançada na guerra sem treinamento e preparo". Em realidade a FEB representou um trinta avos das divisões de diversas nacionalidades, com predominância expressiva de americanos e ingleses, presentes na Itália no final da Batalha dos Apeninos. A Itália foi uma frente secundária destinada a fixar efetivos no Eixo que poderiam reforças as frentes de invasões aliadas da França, pelo Sul e pela Normandia. A missão do VIII Exército inglês na Itália, em relação ao V Exército dos EUA, foi a principal. A missão do IV Corpo de Exército do V Exército foi a principal como encarregado da conquista de Monte Belvedere – o pivot dos Apeninos e em cuja defesa a 232ª Divisão de Infantaria alemã, com quartel-general em Pavulo, concentrou seu esforço defensivo ao final da Batalha dos Apeninos. O Monte Belvedere por sua vez flanqueava o Monte Castelo. A FEB, no contexto do IV Corpo, teve a missão secundária de conquistar Monte Castelo depois de a missão principal, Monte Belvedere e Monte dela Torracia, haver sido confiada à 10ª Divisão de Montanha dos EUA, especializada para aquelas missões, habilitação que a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária não possuía, mas que cumpriu com galhardia e valor, ao conquistar Monte Castelo, ou o ponto 101/19 para a defesa alemã em 21 de fevereiro de 1945.

A FEB no contexto mundial da Segunda Guerra foi de pouca expressão. Foi mais um símbolo na luta em defesa do mundo livre. Para o Brasil e seu povo foi grande o seu significado. Pois a FEB foi a única força expedicionária enviada à Europa por um país da América Latina. Ela traduziu um esforço nacional hercúleo para um país então essencialmente agropecuário, em recrutá-la e prepará-la, em sua primeira participação militar extracontinental, como nação independente. Seus integrantes tiveram de derrubar grandes barreiras para se adaptarem rapidamente à doutrina militar americana, à tecnologia militar que vigorou na Europa e à ecologia de um campo de batalha montanhoso, em inverno com neve, e psicologicamente às circunstâncias de distância da pátria, enquadrados por Exército de uma grande nação industrial, além de enfrentarem soldados com excelente fama de valor militar. Doutrinariamente teve de adaptar-se da doutrina militar francesa, vigorante desde 1920, a americana. Tecnologicamente teve de adaptar-se à motorização, mecanização e radiofonia militar com as suas complexas implicações, em substituição ao cavalo, ao muar e outros meios de comunicações menos modernos que o rádio. Ecologicamente foi adaptar-se à montanha e à neve só conhecido por alguns brasileiros em cartões de Natal. A FEB foi a embaixadora da atualização do Exército dos padrões operacionais na Primeira Guerra par os da Segunda. Como fatos negativos a serem respondidos um dia pela História e apontados por alguns analistas, como resultado da convivência e influência militar americana, foi o permitir-se o desmantelamento da indústria bélica do Exército, em função da aquisição fácil e barata de excedentes americanos e o desestímulo e quase abandono do esforço nacionalizador da doutrina do Exército, sugerido pelo Duque de Caxias em 1856 e que recebeu forte estímulo de 1919-1939, sob a influência da Missão Indígena da Escola Militar do Realengo e Missão Militar Francesa e de alguns expressivos pensadores militares brasileiros da época, como J. B. Magalhães e o próprio mar. Humberto Castello Branco.

Condecorações brasileiras

A participação do Brasil na guerra ensejou a criação de 15 medalhas condecorativas. No Exército foram criadas (Dec. – Lei nº 6.795, de 17 de agosto e regularizado pelo Dec. 16.821 de 13 de outubro tudo de 1944) "Medalha de guerra", destinada a premiar oficiais do Exército da ativa e reserva que prestaram serviço relevante ao esforço de guerra, no preparo da força ou no desempenho de missões especiais dentro e fora do Brasil; "Medalha de Campanha", destinada a premiar militares do Exército da ativa e da reserva e assemelhados que participaram de missões de guerra sem nota desabonadora e a militares dos exércitos aliados que participaram da campanha incorporados a forças terrestres brasileiras e "Cruz de combate" de primeira e segunda classes, destinadas a militares do Exército que se distinguiram em ação na guerra. A primeira classe destinava-se a premiar atos de bravura ou espírito de sacrifício revelado no cumprimento de missões de combate, incluindo as unidades que se destacaram na luta. E, finalmente, a "Medalha de sangue do Brasil", criada por Dec. –Lei 7.709, de 5 de julho de 1945, destinada a premiar militares do Exército, assemelhados e civis feridos em conseqüência de ação objetiva do inimigo. Na Marinha criadas por Dec. 6.774, de agosto de 1944, "Medalha Cruz Naval" destinada a militares da Marinha de Guerra (ativa, reserva, reformados) que no exercício da profissão tenham praticado atos de bravura ou ação além do dever e "Medalha de serviços relevantes" destinada a militares da Marinha (ativa, reserva, reformados) e de marinhas aliadas que tenham prestados serviços relevantes ao Brasil, ou tido conduta excepcional em operações de guerra, ou feito mais de 300 dias de mar em campanha. "Medalha de serviços de guerra", criada por Dec. – Lei 6.095, de 13 de dezembro de 1943, destinada a ser conferida a militares da Marinha de Guerra do Brasil e das aliadas (ativa, reserva, reformados) e aos oficiais tripulantes dos navios mercantes brasileiros ou aliados, que tenham prestado valiosos serviços de guerra, quer a bordo de navios, quer em comissões em terra. "Medalha da Força Naval do Nordeste" (FNN) e Medalha da Força Naval do Sul" (FNS), criadas por Dec. 3.587, de 3 de junho de 1954, destinadas a rememorar os serviços que aquelas forças prestaram ao Brasil durante a guerra e concedida aos oficiais e praças que integraram os Estado-Maior e Estado-Menor de seus comandos e às tripulações dos navios que constituíram das FNN e FNS. Os comandantes destas forças durante a guerra receberam medalhas de ouro. Aos demais foram conferidas medalhas de prata e bronze. Na Aeronáutica foram criadas por Dec. 7.574 de 10 de abril de 1945 as seguintes condecorações: "Cruz de bravura" conferida aos militares da Aeronáutica (ativa e reserva) que em campanha se distinguiram por ato de excepcional bravura; "Cruz de sangue", conferida a militares da FAB e a civis brasileiros nela servindo que foram feridos em ação contra o inimigo; "Cruz da aviação" conferida a tripulante de aviões, militares da ativa ou da reserva convocados, que tenham desempenhado com eficiência missões de guerra; "Medalha da campanha da Itália", conferida a militares da Aeronáutica (ativa e reserva) que participaram da campanha da Itália, prestando bons serviços sem nota desabonadora e a unidades, pelo brilho de seus feitos na Itália; "Medalha cruz de serviços relevantes". É uma medalha singular pois foi criada e jamais concedida, à semelhança da medalha aos mais bravos da Guerra do Paraguai, por ser difícil subjetivo o critério e por esta razão o duque de Caxias se recusou a concedê-la para prevenir injustiças. A "Medalha cruz de serviços relevantes" era para ser conferida a oficiais (ativa, reserva, reformados) e civis que tenham prestado serviços relevantes de qualquer natureza, referentes ao esforço de guerra, preparo e desempenho de missões especiais dentro e fora do país, confiadas pelo Governo. As concessões de condecorações pelas três forças foram expressivas e as relações dos agraciados constam de registros especiais nos Ministérios da Marinha, Exército e Aeronáutica. A Marinha Mercante do Brasil, que pagou pesado tributo em sangue e vidas ao esforço de guerra, se enquadrou nos critérios das "Medalhas de sangue do Brasil" e de "Serviços de guerra".

Recordações do Brasil em guerra

Os torpedeamentos de navios mercantes do Brasil por submarinos do Eixo, entre o rompimento de relações diplomáticas com a Alemanha e Itália e a entrada do Brasil na guerra, provocaram imensa indignação popular e "quebra-quebras" em quase todo o Brasil, contra súditos do Eixo, em especial, contra os patrimônios de alemães aqui residentes, além de hostilidades e provocações a brasileiros deles descendentes. As maiores e mais prósperas colônias eram de alemães, italianos e japoneses e descendentes, cujos países de origem integravam o Eixo. O Brasil sofreu fortíssimo racionamento de derivados de petróleo que moviam usinas elétricas espalhadas por todo o Brasil, bem como uma escassez de pneus, o que afetou muito, junto com a de gasolina, os transportes rodoviários, ensejando, por outro lado, o mercado negro, origem de algumas fortunas feitas na ocasião. Os veículos automóveis passaram a usar um complexo adereço – o gasogênio que produzia um combustível à base da queima do carvão vegetal e também o CO que tantas e traiçoeiras mortes provocou por ser letal, mas incolor e inodoro. Foram realizadas campanhas populares pró-recolhimento de sobras de borracha, para reaproveitamento desse importante item estratégico para o esforço aliado. Foram feitos exercícios de black-out em diversas cidades brasileiras, mas sem muito rigor e pouco levados a sério. O analgésico, a Cafiaspirina, da Bayer, na Alemanha, foi substituído pelo Melhoral da multinacional dos EUA. O lema adotado pela FEB "A cobra está fumando", respondeu ao ceticismo de que a FEB só lutaria na Europa quando a cobra fumasse. Os caça-submarinos, adquiridos pelo Brasil nos EUA, deslocando respectivamente 110 e 350 t., foram batizados dentro da Marinha de "caça pau" ou "cacinhas" os menores da classe J, em contraposição ao "cação" ou "caça ferro" , por ser o primeiro de madeira, menor, menos desconfortável com água pouco para banhos que o outro da classe G, de ferro, maior e mais confortável, possuindo inclusive dessalinizador – sinal de banho diário e praça d’armas, o equivalente a cassino de oficiais no Exército e Aeronáutica. Os beneméritos Catalinas, heróis na guerra e da paz na integração da Amazônia, ganharam o apodo de "patas-chocas". Os pracinhas brasileiros, nome carinhoso por que passaram a ser conhecidos até hoje os expedicionários da FEB, conseguiram surpreender os aliados, evitando serem vítimas no inverno, nos Apeninos, do "pé de trincheira", enregelamento dos pés, seguido de gangrena, que tinha sido responsável por muitas baixas americanas e por milhares de baixas no Grande Exército de Napoleão e aos nazistas quando lutaram no Leste Europeu. A orientação superior correta e a criatividade do brasileiro driblaram este traiçoeiro inimigo. Os pracinhas o evitaram, colocando de lados as botas, forrando as galochas como calçados, com jornais, papéis velhos e capim. Como todo o soldado do Eixo ou Aliado, o brasileiro, ou brasiliano, para os italianos, cantou, com versão própria e mesmo com uma paródia, a canção Lili Marlene, de origem alemã, que traduziam a saudade da mãe e do lar cantando ou ouvindo a canção italiana Mama, e a saudade da terra natal através do canto da Canção do Expedicionário, letra de Guilherme de Almeida e música de Spartaco Rossi, que diz no seu estribilho: "Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá e que leve por divisa este V que simboliza a vitória que virá. A nossa vitória final!" Este fato confirmou-se para a maioria, menos para os que morreram na guerra e foram sepultados em Pistóia na Itália e depois de lá permaneceram 15 anos, foram transladados, em cerimônia cívica tocante em 24 de junho de 1960, para o Monumento aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, erigido na Praia do Flamengo, graças ao empenho do comandante da FEB, desde o final da guerra. Monumento que acolhe os restos mortais de mortos do Exército, Marinha de Guerra e Mercante e da Aeronáutica na guerra, menos os desaparecidos no mar, que tiveram o Oceano Atlântico como túmulo. Na guerra, os febianos, outra designação aos integrantes da FEB, recebiam dois sacos de lona azul. O saco A, destinado a guardar objetos de uso imediato do combatente, e o saco B, destinado a guardar equipamento de uso eventual. Logo, a espirituosidade do brasileiro da FEB passou a designar de Saco A o febiano da frente de combate e Saco B, o febiano que ficava na retaguarda. Ser chamado Saco B era pejorativo e ofensivo para um verdadeiro soldado... O Exército enviou, via aérea, para a Itália, 67 enfermeiras recrutadas e adestradas no Brasil, vencendo soldo de segundo-sargento e arvoradas na Itália ao posto de segundo-tenente, para resolver problemas hierárquicos. Os brasileiros na Itália receberam vencimentos em dólares, no triplo do tempo de paz, que eram divididos em três partes. Uma era entregue à família no Brasil, outra era paga em liras ao expedicionário na Itália e a última era depositada como Fundo de Previdência. Um general-de-divisão ganhava 32.713 cruzeiros e uma pracinha 1.669, o que fazia da FEB, segundo o oficial da 4ª Seção do Estado-Maior da FEB, o mais tarde gen. Sena Campos, a força aliada mais bem paga. Havia, no Brasil, um temor generalizado, mas infundado, à espionagem nazista, chamada de Quinta Coluna. Mesmo inocentes receptores de rádio, em mão de alemães e descendentes, eram tratados como transmissores de rádio a serviço da espionagem. Houve muitas injustiças, à semelhança do que ocorreu nos EUA com americanos descendentes de japoneses. A FEB dispôs de Pelotão de Sepultamento, atividade logística ingrata, mas indispensável ao tratamento condigno de restos mortais de heróis que se imolaram pela causa da democracia e da liberdade mundial. Houve também uma equipe de Justiça Militar integrada por quatro oficiais-generais, entre eles o já consagrado historiador e geógrafo militar brasileiro gen. Francisco de Paula Cidade, que vinha de comandar a 8ª Região Militar em Belém, sede da Base Aérea de Val de Cans, cedida aos EUA e que integrou O Corredor da Vitória EUA-Brasil-África, itinerário, da ponte aérea militar que foi essencial para a reconquista aliada da África, invasão da Europa pela Itália e mesmo operações contra o Japão. Paula Cidade, na 8ª Região Militar, teve a missão inicial: "Ficar em condições de ocupar a Guiana Francesa, que era administrada pela França por um governo pró-Alemanha, em Vichy, antes que outra nação extracontinental o fizesse e de lá não mais saísse." A Justiça Militar funcionou seis meses em Nápoles e depois na fortaleza de São João, no Rio. Julgou 112 apelações. Condenou à morte dois soldados de um QG de Retaguarda que estupraram uma moça italiana e mataram o parente que saíra em sua defesa. A pena de morte por fuzilamento foi atenuada, sucessivamente, para prisão perpétua, 30 anos, e finalmente seis anos. O Natal de 1944 a FEB passou nos Apeninos, em situação de grande tensão e no meio da neve; situação que só conhecia de gravuras de cartões de Natal, representando o Papai Noel com seu trenó cheio de presentes, deslizando na neve. Tensão justificada, pois a FEB estava enfrentando tropas alemães veteranas, inclusive remanescentes do legendário África Korps do gen. Rommel. O soldado brasileiro estranhou a comida farta e múltipla com 10 cardápios, além de colorida, mas estranha ao seu gosto e costumes e, para agravar, sempre comida em pé ou sentado, em situação de desconforto e durante 10 longos meses. Que saudades de um feijão com arroz à moda brasileira! Foram comuns na guerra na Itália os desapertos ou apropriações indevidas dos veículos para passeios particularmente de transporte pessoal chamados Jeep. A FEB, ao receber os primeiros teve muitos deles desapertados por americanos. Tão logo possível desapertou vários do V Exército e, qual não foi a sua surpresa, ao remover a pintura dos mesmos, constatar que eles já haviam sido desapertados da Marinha Americana, pelo Exército dos EUA. Na FEB era multado, respectivamente, com 250 e 300 liras quem abandonasse seu veículo sem a segurança necessária ou o deixasse roubar (desapertar). A disciplina na FEB foi respeitada em níveis muito bons. Os faltosos eram punidos pelo Regulamento Disciplinar e as punições recebidas eram convertidas em multa em dinheiro, proporcional à graduação e por dia de prisão. Isto era válido para infrações de motoristas e as punições de oficiais recebiam multa dupla em relação às praças. Isto evitava o afastamento dos punidos do serviço e a imobilização de outros para guardá-los. O produto das multas era destinado a um fundo de amparo às famílias de pracinhas falecidos em campanha. Foi uma medida inteligente e que funciona mesmo na paz por doer no bolso, onde o soldado é, geralmente, muito sensível! Os oficiais oriundos dos CPORs e NPORs tiveram bom desempenho e representaram cerca de 28% do efetivo total da FEB, dos quais cerca de 10% eram de sargentos promovidos a oficial. O pracinha comportou-se com humanidade. A condenação à morte de dois foi uma exceção. Ilustra esta afirmação um sargento comandante de patrulha, Nestor Silva, que, ao fazer prisioneiros alemães, evitou que um deles fosse roubado em seu relógio por um dos componentes da sua patrulha. Passado algum tempo, o sargento está num amplo refeitório aliado e percebe que um garçom o fita insistentemente, dando-lhe a impressão de tratar-se até de um homossexual. Percebe que este prisioneiro, ao servir bifes aos pracinhas, coloca um em cada prato e no seu dois bifes. Não suportando mais aqueles olhares insistentes irrita-se, levanta-se e pergunta ao alemão: "Qual é a tua cara?" E o prisioneiro alemão respondeu com grande alegria: "O sr. não se lembra de mim? Eu sou aquele prisioneiro que o Sr. não deixou que roubasse o relógio que foi presente de meu avô". Aí então houve uma confraternização comovida. Casos como estes foram comuns e, particularmente, os de divisão de ração de pracinhas brasileiros com italianos famintos e, particularmente, crianças. Os brasileiros feridos ou doentes desfrutam da ordem, higiene, respeito ao repouso de parte de dedicados médicos e enfermeiros americanos, bem como dos médicos e enfermeiros dedicados do Exército e da Aeronáutica que acompanharam e ajudaram a cuidar dos combatentes brasileiros, ao lado de capelães católicos na assistência espiritual, como o frei Orlando, que morreu em acidente de campanha e veio a ser consagrado como o Patrono do Serviço Religioso do Exército. Os uniformes dos brasileiros eram os mesmos dos americanos, diferenciados pelo distintivo, no caso o da FEB e pelas estrelas dos oficiais brasileiros que, no inverno, queimavam de frio e queixo dos usuários. O pessoal do Banco do Brasil usou uniformes, tendo como insígnias distintivas de posto, penas dispostas de diversas formas, gerando confusão e caracterizando o cel. do Banco do Brasil, um irônico, cronista, como "tendo penas para todos os lados". No âmbito, da FEB, foram editadas publicações: Cruzeiro do Sul, Carioca, E a cobra fumou, O Sampaio, Vem Rolando, Marreta, na mão, com fatos cômicos e irreverentes que distraíam a tropa e elevavam seu moral. Durante a guerra, no Brasil, tornou-se moda a escuta em grupos, em bares, clubes etc., do noticiário sobre a guerra. Se difundiram rádios a bateria que era carregada por aerodínamos movidos pela energia do vento. Os pilotos de caça vivem grandes tensões durante as missões e, após cumpridas, intenso extravasamento. Assim, os pilotos do Senta a Pua! Cantavam várias canções e, entre elas, a que se tornou o hino oficial da Aviação de Caça da FAB, chamado Carnaval em Veneza, composta depois de um bombardeio a Veneza no Carnaval de 1945, pela Esquadrilha Azul do 1º Grupo, sobre música de Benedito Lacerda e Erivelto Martins. Ela falta nas palavras código Jambock, nome de código do grupo, Bug, código de avião não-identificado, ao contrário da Bandit, que designava avião inimigo, e Flak sigla da artilharia antiaérea alemã, a maior inimiga do grupo. Quando o Senta a Pua! partiu para os Estados Unidos, alguns despeitados e céticos, julgando que ele não entraria em ação e só faria uma viagem bem remunerada ao exterior, chamavam os avestruzes de "1º Grupo de Caá-Níqueis". Encomendadas pela Inglaterra como traineiras, foram adaptadas pelo Estaleiro Lage como corvetas que integraram a Força Naval do Sul as Barreto de Menezes, Matias de Albuquerque, Fernandes Viera, Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, faltando, no lugar de Matias de Albuquerque, a consagração do herói Mestre Campo Antonio Dias Cardoso, já feita pela polícia Militar de Pernambuco e Academia Militar das Agulhas Negras após revelada a sua grande importância e levantada a discriminação odiosa sobre ele da História oficial por ser português. O único pracinha sepultado em Pistóia é o gaúcho Fredolino Chimango, que era considerado desaparecido e foi identificado como brasileiro por ter sido encontrada, em seus restos mortais, uma corrente de pescoço com a medalha de N. S. Aparecida, a Padroeira do Brasil. Foi comum o uso de brasileiros falando inglês como oficiais de ligação junto aos americanos como o atual cel. historiador militar e diretos-presidente do jornal Letras e Marcha, Victorino Portella. F. Alves, que foi oficial de ligação da Artilharia Brasileira junto às artilharias inglesa, americana, sul-africana, marroquina e polonesa, tendo o auxiliá-lo Osvaldo G. Aranha Filho, herdeiro do chanceler do Brasil Osvaldo Aranha Filho, herdeiro do chanceler do Brasil Osvaldo Aranha. Os pracinhas recebiam do Brasil e passavam aos italianos o péssimo cigarro Yolanda, representado por uma loura e que passou a ser conhecido como bionda cativa (loura má).

Participação Militar do Brasil nos Teatros de Operações do Atlântico e Mediterrâneo
Participação Militar do Brasil nos Teatros de Operações do Atlântico e Mediterrâneo

Esboço das Operações da 1a DIE/FEB
Esboço das Operações da 1a DIE/FEB