AMAZÔNIA BRASILEIRA
CONQUISTA, CONSOLIDAÇÃO
E MANUTENÇÃO
(História Militar Terrestre da Amazônia de 1616 a 2003)
Cláudio Moreira Bento
Porto Alegre, dezembro de 2003
1ª Parte
Da necessidade de uma história militar terrestre crítica da Amazônia - Origem da Amazônia Brasileira
Razões que justificam a preocupação na defesa da Amazônia |
A importância do estudo da História Militar Terrestre da Amazônia |
O livro da história militar terrestre crítica da Amazônia |
2ª Parte
A Conquista da Amazônia Brasileira, 1616-1750
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3 - RESISTÊNCIAS ARMADAS INDÍGENAS À PENETRAÇÃO LUSO-BRASILEIRA |
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4 - A FUNDAÇÃO DE BELÉM EM 1616 COM O FORTE DO CASTELO OU DO PRESÉPIO |
5 - A LUTA PARA EXPULSAR "HEREGES" DO DELTA E DO BAIXO AMAZONAS |
6 - UM EXEMPLO DA LUTA DE PEDRO TEIXEIRA CONTRA HOLANDESES NA FOZ E NO VALE DO XINGÚ |
7 - A CONQUISTA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA PELO CAPITÃO PEDRO TEIXEIRA |
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8 - A EXPLORAÇÃO DA AMAZÔNIA POR RAPOSO TAVARES EM 1648 |
9 - O COMBATE AOS CABOQUENAS E A FUNDAÇÃO DE AIRÃO EM 1663 |
10 - A FUNDAÇÃO DE MANAUS EM 1663 COM O FORTE SÃO JOSÉ DO RIO NEGRO |
11 - FORTIFICAÇÕES, COLÔNIAS MILITARES E PELOTÕES DE FRONTEIRA |
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12 - LUTAS EM TORNO DE TEFÉ, COARI, FONTE BOA E SÃO PAULO DE OLIVENÇA COM ESPANHÓIS E ÍNDIOS CAMPEBAS (1703-1713) |
13 - A GUERRA DO CACIQUE AJURICABA, APOIADO POR HOLANDESES (1723-27), NOS VALES DOS RIOS NEGRO E BRANCO |
A Consolidação da Conquista da Amazônia Brasileira, 1750-1791
Tratado de Madrid de 1750, entre Portugal e Espanha |
O Marquês de Pombal e sua projeção na consolidação da Amazônia Brasileira |
As defesas da Amazônia no ano de 1750 |
O Capitão-General Mendonça Furtado e suas missões ostensivas e secretas |
Uma tentativa de secessão na Amazônia |
O Real Hospital Militar de Barcelos |
As fortificações do Grão-Pará antes da chegada de Mendonça Furtado |
Um teste para uma vaga de Sargento-Maior de Regimento |
A oficialidade do Grão-Pará e a fundação da Companhia Geral de Comércio do Pará |
A preocupação com a defesa do atual Amapá ameaçado por franceses |
Desapreço pelo serviço militar em Belém em 1752 |
Dificuldade de apoio logístico à tropa luso-brasileira |
As fortificações da Amazônia em 1752 |
A ameaça potencial de holandeses do Suriname sobre a atual Roraima e a ordem de construção do Forte de São Joaquim e outros |
A carta ao Capitão-General do Grão-Pará sobre visita a Macapá em 1752 e as fortificações da Amazônia. |
O contato do Capitão-General do Grão Pará com o Governador de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura em 1752 |
Guarda Militar do Trocano – Vila de Borba |
A viagem do Capitão-General do Grão Pará de Belém a Mariuá (atual Barcelos) |
O esforço para liberar o caminho Belém - Vila Bela das missões jesuíticas |
Uma revolta contra o Capitão-General do Grão Pará |
A criação da Capitania do Rio Negro (atual estado do Amazonas) |
O chefe das três partidas de demarcação no Norte (projeto) |
As instruções passadas ao Tenente Diogo Antônio de Castro, para a Vila de Borba a Nova, na antiga Aldeia do Trocano |
As instruções ao Sargento-Mor Eng Sebastião José da Silva para governar Mariuá enquanto o Capitão-General foi fundar a vila de Borba |
A presença de duas peças de Artilharia com os Jesuítas em Trocano |
Os casamentos dos soldados com índias na Amazônia, na Vila Borba, e medidas para desenvolver este local |
A revolta de tropas em Mariuá, conforme relato de Mendonça Furtado ao seu irmão, o Marquês de Pombal |
Um pedido de promoção a brigadeiro para um grande soldado |
Capitão-General Francisco Xavier Mendonça Furtado (1700-1769) e sua projeção histórica na Amazônia |
Mendonça Furtado: Secretário de Marinha e a Amazônia |
A demarcação do Tratado de Santo Ildefonso de 1777 na Amazônia |
Manoel da Gama Lobo d’Almada- atuação na Amazônia |
4ª Parte
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21 - PRESENÇA E ATUAÇÃO DO MARECHAL RONDON NA AMAZÔNIA (1890-1955) |
22 - INTRUSÃO FRANCESA NO AMAPÁ EM 1895 E O MASSACRE DA VILA AMAPÁ |
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Revolucionário federalista |
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O SIVAM, um passo de gigante para a proteção da Amazônia
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5ª Parte
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES |
BIBLIOGRAFIA DA HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DA AMAZÔNIA Arthur César Ferreira Reis (síntese biográfica) Lista especial na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ESTUDOS MILITARES TERRESTRES SOBRE A AMAZÔNIA, POR ALUNOS DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO–MAIOR DO EXÉRCITO (1969– 2002) ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL (Síntese) Dados sobre o autor |
Prefácio
Este excelente trabalho do renomado e culto historiador militar, Cel Cláudio
Moreira Bento, preenche uma lacuna, há muito sentida, quando se trata da
incorporação da Amazônia ao restante do território brasileiro, por apresentar
uma visão integrada e atual da sua história militar terrestre e rememorar
importantes fatos e feitos desconhecidos não apenas pelo nosso povo mas, mesmo,
por estudiosos do assunto.
A conquista da Amazônia, um continente que representa 56% do território
brasileiro, foi, na sua essência, e bem o demonstra o autor, uma aventura, ou
melhor dizendo, um espetacular empreendimento histórico traduzido numa longa,
contínua e eficaz expedição militar.
Se no passado assim o foi, ainda no presente muito do que se faz na Amazônia
está intimamente vinculado à instituição militar, estando o Exército, a Marinha
e a Força Aérea presentes em todos os grandes empreendimentos amazônicos,
extrapolando, em muito, a sua dimensão puramente militar, convertendo-se em
parceiro indispensável nas ações de desenvolvimento e integração ao restante do
Brasil.
As pressões e a cobiça internacional sobre a Amazônia, desde tempos coloniais,
ficam muito bem demonstradas pelo Cel Bento neste oportuno ensaio, quando as
superpotências da época buscam estender e alargar os seus domínios sobre
territórios legítima e arduamente conquistados pela intrepidez, determinação,
patriotismo e larga visão política das expedições levadas a bom termo por
audazes e decididos luso-brasileiros. De fato, ao findar do século XVIII, os
limites brasileiros na Amazônia, com exceção do Acre incorporado ao país pelo
tratado de Petrópolis em 1903, já estavam perfeitamente definidos pela
constelação de fortificações militares que pontilhavam não apenas as nossas
fronteiras mas, também, regiões de alto valor estratégico no interior amazônico.
O autor deixa bem claro que nunca fomos temporários e aventureiros na Amazônia.
Fomos para conquistar e incorporar e nesse mister logramos o mais completo
êxito. A despeito das enormes dificuldades, lá estamos por quase quatro séculos.
Todavia, novos e perigosos desafios dia-a-dia se avolumam, quando falamos da
plena soberania brasileira sobre o imenso território amazônico.
Suas incontáveis riquezas, por demais propaladas e difundidas, refletidas no seu
quase inesgotável potencial mineral, na incomparável biodiversidade, no
gigantesco volume de água, na invejável bacia hidrográfica, a maior do mundo, no
valor inestimável da biomassa traduzida pela imensa floresta, tudo e muito mais,
em proporções gigantescas, são também causa da nossa fragilidade pela ambição
internacional que hoje se manifesta, não mais de forma subliminar mas,
explicitamente, acintosamente, querendo transformar nossa Amazônia em patrimônio
da humanidade.
Infelizmente, nossos governos e diplomacia em passado recente não têm sabido se
opor a estas iniciativas internacionalistas, com inteligência, sabedoria e
determinação. São exemplos e instrumentos dessa pressão as tentativas abaixo:
- livre navegação dos rios amazônicos (século XIX); (1)
- redistribuição de população mundial valendo-se de um plano japonês, elaborado
nos anos 30; (1)
- desapropriação da região, iniciativa do Instituto Internacional da Hiléia
Amazônica, UNESCO (ONU), que previa a concessão de atribuições executivas a uma
entidade “ad hoc” (anos 40), com perda da soberania brasileira; (1)
- implementação do Projeto dos Grandes Lagos, iniciativa do Instituto Hudson,
que previa a construção de sete grandes lagos na Amazônia, a pretexto de
melhorar a navegação brasileira com os países limítrofes, pelo bloqueio de
empréstimos como o que iria permitir a ligação rodoviária Brasil-Peru (anos 80);
(1)
- a bem sucedida criação de grandes áreas protegidas e de imensas reservas
indígenas como a dedicada aos Yanomamis, que possibilitou o estabelecimento de
mais de meia centena de missões religiosas, a maioria estrangeiras, em Roraima;
(1)
- a difusão internacional da idéia-força de que a Amazônia é patrimônio comum da
humanidade, pinçada da Convenção da ONU sobre Direito do Mar e que tem sido
muito utilizada pelo G-7; (1)
- as declarações do CIMI e de autoridades internacionais, defendendo a tese da
soberania relativa do Brasil sobre a Amazônia e que esta área deve ser
considerada patrimônio da humanidade. Algumas dessas declarações são altamente
intimidatórias e belicistas (ver declarações de Margareth Tatcher, Al Gore,
François Mitterrand, John Major, Henry Kissinger, Mikahil Gorbachev, Gen Patrick
Hughes).
- outras
Também, de forma silenciosa, assistimos a ocupação da Amazônia se processar pela
ação insidiosa de ONG internacionais, que dispondo de volumosos recursos
adquirem e ocupam grandes áreas ou influenciam atuantes grupos ambientalistas,
nacionais e estrangeiros, transformando imensas regiões em áreas protegidas,
inacessíveis ao pleno desenvolvimento econômico-social e, destarte,
incapacitando a plena integração da região ao país. A intocabilidade ambiental,
uma das principais bandeiras defendidas por esses bem sucedidos grupos, vem
conduzindo ao tão esperado objetivo internacionalista de engessamento da
Amazônia, preservando-a para um futuro incerto, só do interesse das grandes
potências, mas, definitivamente, contrário ao interesse maior do povo
brasileiro.
Meus cumprimentos caro historiador e camarada, Cel Bento, pelo seu excelente
livro que muito bem retrata esta incomparável epopéia militar de integração
territorial, trazendo à discussão e meditação não apenas os fatos históricos do
passado, mas a eles incorporando o presente, permitindo vistas no futuro
ameaçador que paira sobre a Amazônia Brasileira. Mais do que nunca “O preço da
liberdade é a eterna vigilância” e queira Deus que, no futuro, não tenhamos que
lutar para manter esta área tão arduamente incorporada ao patrimônio brasileiro.
Gen Ex Luiz Gonzaga Schroeder Lessa
Presidente do Clube Militar
(1) Direito, Soberania e Meio Ambiente – Meira Mattos, Adherbal; ISBN
85-86718-78-5.
Apresentação
"Ardua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil,
porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la".
Certamente, o General Rodrigo Otávio Jordão Ramos, do alto de sua experiência
amazônica, ao proferir esta magnífica frase, unindo em poucas palavras passado,
presente e futuro, procurou transmitir aos seus seguidores o sublime compromisso
da continuidade da luta em prol da defesa e do desenvolvimento sustentável da
Amazônia Brasileira.
Compromisso extensivo a todos os brasileiros, civis e militares, jovens e
idosos, homens e mulheres, ricos e pobres e, principalmente: amazônidas ou não!
A luta é de todos, mesmo para aqueles que moram em outras regiões do país. A
Amazônia também é deles. O compromisso também.
Irmanados todos, poderemos resistir às gravíssimas ameaças que pairam sobre
aquela região, ameaças que são como abutres, os quais esperam somente a hora
certa para avançarem sobre a carniça. É uma grave questão de soberania!
Embora pareça, isto não é nenhuma paranóia, nenhuma fantasia, nenhum exagero ou
somente figura de retórica. Isto é real e verdadeiro. A ameaça existe, mas
interessa aos seus autores que ela não seja perceptível e sim camuflada, das
mais diversas formas, inclusive disfarçada de falsa amizade.
Esta obra, de quem considero o nosso maior historiador militar da atualidade, o
Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), Coronel
de Engenharia e de Estado-Maior Reformado CLÁUDIO MOREIRA BENTO, vem,
finalmente, preencher uma lacuna no cenário dos trabalhos de divulgação e alerta
sobre a Amazônia. Parabéns, Coronel Bento!
Fazendo uma retrospectiva histórica dos primeiros tempos e das primeiras
conquistas realizadas pelos nossos antepassados, este livro resgata o
significado do sacrifício empreendido pelos desbravadores portugueses para tomar
posse da terra, expulsar invasores e consolidar o domínio. Tarefa hercúlea,
felizmente tão bem compreendida e tão bem
executada pelas autoridades lusas e seus prepostos enviados à Amazônia.
Resgatando pioneira e integradamente todas as lutas internas e externas, bem
como as pressões externas, pressões superadas sem lutas, o Cel Bento ainda
revela a evolução da estrutura militar terrestre na área, no período
Colônia-Brasil independente (1616-2003). Resgate que constitui o principal
objetivo desta original e oportuna obra, para auxiliar e emular o esforço
defensivo terrestre a nível estratégico na região, de crescente importância no
3º milênio.
Chama o autor ainda, à atenção, sobre o novo tipo de inimigo da Amazônia, o
“inimigo azul” que estimula campanhas adversas junto à opinião pública mundial,
campanhas essas que visam restringir a soberania brasileira.
Pedro Teixeira, Mendonça Furtado, Lobo d’Almada e muitos outros, nos deixaram
seus esplêndidos e inarredáveis exemplos de luta, renúncia, dedicação e
patriotismo, para manter incólume aquele santuário. Santuário hoje bem mais
valorizado, mercê da descoberta das suas potencialidades, nos campos
científico-tecnológico e econômico, principalmente, mas também nos demais Campos
do Poder Nacional. Sua importância extrapola em muito sua extensão geográfica.
Nos últimos anos, tem sido muito sério e preocupante o problema da biopirataria,
ou pirataria ecológica. Neste contexto, laboratórios estrangeiros já patentearam
diversas riquezas naturais oriundas da selva amazônica, como, por exemplo, a
andiroba, o cupuaçu, o curare, a copaíba, o pau-rosa e o veneno da Jararaca. Mas
o mais grave dessa exploração predatória é extração legal ou ilegal do mogno,
que é “exportado”, principalmente para os EUA e para a Inglaterra.
Outras ameaças existem, a saber, algumas Organizações Não-Governamentais, o
narcotráfico e as guerrilhas de esquerda de países lindeiros, além do
contrabando de animais e minerais. Além disso, como bem salienta o autor, há os
“inimigos azuis”, que alimentam, por ignorância, indiferença ou má-fé, as
ambições estrangeiras, facilitando, junto à opinião pública mundial, as
campanhas para intervenção na Amazônia.
Na verdade, a impressão que se tem é que as grandes potências estão realizando
entre si uma verdadeira competição para dominar a Amazônia, e assim continuar
explorando suas riquezas. E nós assistimos tudo e pouco fazemos.
Esta Diretriz, dos colonizadores portugueses, verdadeiros heróis, que nos
deixaram a formidável herança amazônica, ainda é atual, e passível de ser
obedecida, em caso de luta armada, hipótese que nunca deverá ser afastada:
“Julgada a causa justa, pedir proteção de Deus e atuar ofensivamente, mesmo em
inferioridade de meios”.
E que o Criador nos ajude!
Cel Inf /EM Res Luiz Ernani Caminha Giorgis
Acadêmico, 3º Vice-Presidente da AHIMTB
Delegado da AHIMTB/RS - Delegacia General Rinaldo Pereira da Câmara
Introdução
O presente ensaio se destina a levantar pela primeira vez, de forma integrada e
não pontual, a História Militar Terrestre da Amazônia Brasileira, com ênfase nas
lutas internas e externas que a envolveram, bem como as pressões internacionais
ali superadas, com ou sem lutas. No caso destas, com apoio na diplomacia ou na
dissuasão militar. Pressões referidas que ameaçaram a Soberania, a Integridade e
a Unidade de Portugal, e depois, do Brasil.
O esforço realizado foi para melhor orientar, inspirar e emular o esforço de sua
proteção militar terrestre, que se impõe, decorrente da análise de vários
argumentos que iremos alinhando, abordando também os esforços de defesa da
Integridade, da Soberania e da Unidade brasileiras sobre a Amazônia, em diversas
lutas ali ocorridas, muito pouco conhecidas e não abordadas em conjunto, como
aqui pretendemos fazer, pioneiramente.
Lutas épicas, vencidas com galhardia, justificando estas palavras de estímulo do
Gen Ex Rodrigo Otávio Jordão Ramos, antigo e muito atuante comandante Militar da
Amazônia e atual denominação histórica do 2º Grupamento de Engenharia de
Construção, sediado em Manaus:
Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil,
porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la".
General Rodrigo Otávio
Rememorar os sacrifícios ingentes de soldados e familiares luso-brasileiros, e
depois brasileiros, para explorar, conquistar e proteger a Amazônia Brasileira
de ameaças estrangeiras, com freqüência apoiadas por índios hostis, será o
objetivo complementar deste ensaio.
Destaque-se que os governantes da Amazônia colonial e os militares
luso-brasileiros que a guarneceram cumpriram seus deveres militares, mantendo
rigorosa vigilância, a possível, das fronteiras, as quais exploraram e
demarcaram com ingentes sacrifícios. E que construíram e guarneceram, em locais
estratégicos, fortificações, registros, destacamentos militares, protegeram e
dirigiram aldeias
indígenas em auxílio a missionários católicos. Aldeias que se tornariam, em
maioria, as atuais localidades da Amazônia.
Para o melhor desempenho da proteção da Amazônia foram até criadas as capitanias
hereditárias de Marajó, Xingu, Coité e Cabo Norte (Amapá), etc. Em 1755 foi
criada a Capitania de São José do Rio Negro, com sede em Barcelos, a qual viria
a se transformar no atual Estado do Amazonas, com a capital na Barra do Forte,
mais tarde denominada Manaus.
A Amazônia, pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, pertencia à Espanha e hoje é
espaço brasileiro, pela ação que os luso-brasileiros realizaram no período
colonial, onde se destacaram militares, religiosos e sertanistas.
Merece destaque a ação dos militares luso-brasileiros, que remontaram rios até
suas cabeceiras, atravessaram lagos, venceram cachoeiras, levantaram mapas, para
demarcarem os tratados de Madrid e Santo Ildefonso, balizando assim, com
segurança incontestável, nossas fronteiras, a serviço do objetivo geopolítico de
manter a atual Amazônia Brasileira no espaço luso-brasileiro da América do Sul.
Aqui destacamos a figura do maior inimigo da Amazônia e que alimenta os sonhos
alienígenas de conquistá-la. Trata-se do inimigo azul, ou seja, brasileiros que
contribuem com suas antipatrióticas ações, para que circule e ganhe
credibilidade no 1º mundo a falsa interpretação de que o ”Brasil está desmatando
e queimando a floresta amazônica e exterminando a sua população indígena”.
Argumento poderoso, para criar na opinião mundial a crença na legitimidade de
uma interferência na Soberania do Brasil sobre nossa Amazônia. E este inimigo
azul, que assume diversas formas criminosas de atuação, precisa ser combatido
com tolerância zero, o que talvez hoje possa ser feito com maior eficácia com o
apoio do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) e do Sistema de Proteção da
Amazônia (SIPAM), desde que implementados e que não sofram a interferência de
poderosos inimigos azuis infiltrados na burocracia brasileira.
Do nosso estudo e da consulta a fontes diversas fica claro que o maior inimigo
da Amazônia, responsável pelo avanço da ambição estrangeira sobre suas riquezas
e que fornece argumentos para a Opinião Pública Mundial justificar as posições
ambiciosas de grupos econômicos do 1o Mundo, é o que caracterizo, no jargão
castrense, de “inimigo azul”, a que já nos referimos. Ou seja, o conjunto de
maus brasileiros que inclui autoridades municipais, estaduais e federais, que
são omissas, corruptas e fecham os olhos para atividades ilegais na Amazônia e
que lá não obedecem à estratégia de desenvolvimento auto-sustentável,
incendiando-a e abatendo criminosamente a floresta, e
agredindo a legislação brasileira relativa à proteção dos indígenas que a
habitam. Aqui também contribui para a ação nefasta e impune do “inimigo azul” a
ausência e a defesa da área de parte expressiva da Sociedade Civil Brasileira
que para lá penso que deveria estar atenta, lá trabalhando lado a lado, ombro a
ombro com representantes de nossas Forças Armadas, o que não ocorre, na
realidade, ao se estudar a Amazônia Brasileira. Ausência que agrava a
deficiência do controle, ao menos razoável, da questão ambiental na Amazônia, ao
lado da deficiência de controle da presença de estrangeiros na área.
No SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), hoje uma realidade positiva,
muitas esperanças foram colocadas, como uma espécie de “Big Brother”, que tudo
registra de anormal, mas sem o poder de corrigir e punir infratores e de
intervir para evitar mal maior, tarefa esta a cargo do SIPAM (Serviço de
Proteção da Amazônia), em estruturação e pendente de expressivos recursos
financeiros. Isto para que as repartições que os integram possam atender missões
complementares às suas normais, já carentes de recursos humanos, materiais e
financeiros, para bem as cumprir. E como então proteger a área sem recursos?
De tudo que consideramos, é fundamental para a preservação preventiva da nossa
Soberania sobre a Amazônia e para evitar a sua submersão à ambição de forças
econômicas mundiais, que a Sociedade Civil Brasileira assuma, com vontade
política e determinação, o papel que lhe cabe nesta questão, relacionada com o
controle da questão ambiental e dos estrangeiros na Amazônia, pela implantação
de um eficiente SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia) e exercício atento de
sua ação fiscalizadora.
Esta ausência, efetiva da Sociedade Civil na Amazônia Brasileira, é uma das
deficiências mais reclamadas, como vital para a preservação da Soberania
Brasileira na área e para a sua defesa em caso de agressão, neste surpreendente
3o Milênio, que iniciou com atos terroristas inusitados, guerras e pressões que
podem levar a humanidade a outras guerras.
Cel Cláudio Moreira Bento
Acadêmico Emérito
Presidente da AHIMTB
1ª Parte
DA NECESSIDADE DE UMA HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE CRÍTICA
DA AMAZÔNIA
_______________________________________________
Origem da Amazônia Brasileira
Em 1494, por acordo entre Espanha e Portugal, com o beneplácito do Papa, a atual
América do Sul foi dividida entre os reinos de Portugal e Espanha pelo Tratado
de Tordesilhas, pertencendo a Portugal o que viria a ser o Brasil, ou seja, as
terras a leste do Meridiano das Tordesilhas, uma linha reta imaginária unindo as
atuais cidades de Belém, no Pará e Laguna, em Santa Catarina.
As terras a leste do Meridiano seriam, pois, domínio de Portugal, e as a oeste,
abrangendo as terras da atual Amazônia Brasileira, seriam domínio da Espanha.
A partir de 1500, a atual Amazônia Brasileira passou a ser alvo de ambições de
outras nações da Europa.
De 1580 a 1640, as coroas de Espanha e Portugal se uniram, sob a égide de um rei
comum, o da Espanha, que passou a ser o rei das duas coroas ibéricas.
Ambas as coroas desenvolveram em conjunto uma luta intensa para defender a
Amazônia de infiltrações e fixações de estrangeiros: holandeses, ingleses e
franceses.
A partir de 1621, o Rei Felipe IV da Espanha e de Portugal, atribuiu à Portugal
a missão de conquistar e povoar a costa do Pará e áreas adjacentes do que hoje é
considerada a Amazônia Brasileira, tudo para fazer face às grandes pressões
exercidas ali por holandeses, franceses e ingleses.
De 1616 a 1631, com apoio no Forte do Presépio, fundado em 1616, e origem da
atual cidade de Belém, o jovem e intrépido Capitão Pedro Teixeira, com o
concurso de outros bravos soldados, firmou a soberania luso-espanhola no
estuário e baixo Amazonas depois de arrasar, em diversas operações militares
tipo guerrilha, feitorias e fortificações estabelecidas por estrangeiros no
atual Amapá, na ilha de Gurupá e ainda na foz e vale do Xingu.
De igual forma teve de lutar contra os Tupinambás, que ameaçaram colocar por
terra a conquista portuguesa de Belém, base de apoio naval e terrestre para o
início da conquista e da defesa da atual Amazônia Brasileira.
Em 1639, no período de dominação holandesa do Nordeste, apoiada em Recife, e
quase ao tempo da separação das duas coroas, o agora General de Estado Pedro
Teixeira realizou memorável viagem fluvial até Quito.
De retorno, em Franciscana, na foz do Aguarico com o rio Napo, tomou posse
solenemente, em nome do rei comum de Portugal e Espanha e para o reino de
Portugal, das terras da Amazônia, entre Franciscana e Belém, as quais
correspondem, em tese, hoje, à Amazônia Brasileira.
E com palavras solenes de grande projeção no Brasil, hoje país de dimensões
continentais, e a competente lavratura pelo escrivão da Expedição do Termo de
Posse, transcrito depois nos livros da Provedoria e Câmara do Senado de Belém,
executou a tomada de posse da Amazônia para Portugal, em nome do rei de Portugal
e Espanha.
Desfeita a União das Coroas de Portugal e Espanha, começaram os desencontros
entre esses dois reinos, em razão de disputas territoriais na América do Sul e,
em especial, no rio da Prata, levando-os a celebrar o Tratado de Madrid de 1750,
consagrador, em teoria, da conquista da atual Amazônia Brasileira por Portugal,
no período da União das Coroas Ibéricas, Portugal e Espanha, de 1580 a 1640.
A conquista da Amazônia por Portugal foi reconhecida pelo Tratado de Madrid de
1750 e pelo de Santo Ildefonso, de 1777, e herdada pelo Brasil em 1822, com
nossa Independência.
Em 1903, o espaço foi aumentado com a compra do Acre à Bolívia e diminuído de
15.087 km2 na região do Pirara, ocupada em 1842 por Schomburg com força militar
e colocação de marcos fronteiriços, contrariamente ao que fora acordado, quando
o Brasil se empenhava em pacificar revoluções em São Paulo, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, onde também era pressionado pelos ditadores Oribe e Rosas, que
procuravam atrair o Rio Grande do Sul para suas esferas.
Em 1904, essa questão foi submetida à arbitragem do rei Victor Emanuel I, da
Itália, que deu ganho de causa à Inglaterra, e o Brasil perdeu grande faixa do
Pirara. Essa conquista assegurou o acesso da Inglaterra à Bacia Amazônica e
tirou do Brasil o acesso direto ao mar das Antilhas, através do Rio Essequibo.
A conquista do atual Amapá por Portugal, depois de movimentada disputa militar e
diplomática com a França, consagrou os limites como a Fronteira do Vai-e-Vem do
Norte, e que só seria definida em 1900, por laudo arbitral, depois de 363 anos
de disputas.
Razões que justificam a preocupação da defesa da Amazônia
A análise que o Cel do Exército Gélio Fregapani, gaúcho de Taquari, RS, grande
conhecedor da área da Amazônia Brasileira, fez em seu livro, é eloqüente no
tocante à preocupação em defendê-la da ambição estrangeira, alimentada pelos
“inimigos azuis”. Eis seu raciocínio e argumentos:
“A Verdade que poucos conhecem” - AMAZÔNIA: A grande cobiça internacional
O exame, ainda que superficial, do mapa demográfico mundial mostra-nos regiões
superpovoadas e regiões despovoadas. Entre estas destacam-se o Saara, a
Antártida, as vastidões geladas da Sibéria, o norte do Canadá, o Alasca, as
alturas nevadas do Tibete ou alguns outros maciços e a Amazônia! Todas essas
regiões são praticamente inabitáveis, exceto a última.
Levando-se em conta a explosão demográfica mundial, a terra desabitada, mas
habitável, a Amazônia, é e será objeto cobiçado. E, se for a única, corre
perigo, independentemente do consenso ou dos tratados.
Ante essa realidade, manifestam-se pressões, baseadas em concepções forjadas,
segundo as quais acima das fronteiras nacionais está o interesse da humanidade.
Nossa Amazônia, com sua riquíssima biodiversidade, água abundante e vastíssimas
riquezas minerais ainda inexploradas, é, naturalmente, motivo de grande
inquietação. A demanda por novos espaços vitais em conseqüência da
superpopulação mundial agrava as nossas preocupações.
Para complicar tal situação, a descoberta recente de incríveis jazidas minerais
ameaça os cartéis e pode alterar radicalmente a ordem econômica mundial, fazendo
a balança pender a favor do Brasil. Já existem demonstrações de difícil
aceitação dessa realidade. Certamente, os senhores do poder mundial cogitarão
usar todos os meios para impedir tais circunstâncias favoráveis ao Brasil.
E serão capazes até de atos de beligerância, conforme registra a história da
humanidade. Trata-se de um perigo potencial real e imediato. Urge prevenir tal
risco para que as nossas novas gerações do 3º Milênio não precisem recorrer às
armas, na defesa da integridade nacional”.
Em artigo sob o título Amazônia Brasileira sob Ameaça de Internacionalização, na
publicação Avante nº 1360, de 23 Dez 1999, Socorro Gomes, como coordenadora do
Movimento de Defesa da Amazônia no Pará, informa que:
“Está em curso uma campanha sem precedentes que tem como elemento central a
negação explícita da plena soberania brasileira sobre a Amazônia Brasileira.
A motivação geral de seus protagonistas é a promoção de interesses dos
potentados internacionais econômicos e geo-estratégicos, acobertados por um
discurso supostamente preservacionista que possui o poder de cooptar para a
corrente de um movimento antinacional certas correntes de opinião no interior do
próprio Brasil...”.
Samuel Benchimol, em sua obra Um pouco antes e além depois, assim define a
Amazônia:
“1/5 da disponibilidade mundial de água doce. 1/3 das reservas mundiais
latifoliadas. 1/20 da superfície terrestre. 4/10 da América do Sul. 3/5 do
Brasil.”
A importância do estudo da História Militar Terrestre da Amazônia
Da lúcida análise do Cel Gélio Fragapani, reforçada pelo Movimento de Defesa da
Amazônia no Pará, na voz de Socorro Gomes, e pela caracterização da área por
Samuel Benchimol, decorre a importância e a urgência do estudo da História
Militar Terrestre crítica da Amazônia, que tentaremos justificar.
Camões, o poeta soldado, em Lusíadas, já afirmava esta verdade:
“A Disciplina Militar prestante (leia-se Doutrina Militar) não se aprende,
senhores, na fantasia, senão vendo (estudo da História Militar), tratando
(exercitando-se) e pelejando (experiência de combate)”.
E grandes capitães da História têm reafirmado a importância do estudo crítico da
História Militar e não da História descritiva.
Foi do Marechal Ferdinand Foch, o comandante da vitória aliada na 1ª Guerra
Mundial, esta afirmação como professor de História Militar da Escola Superior de
Guerra da França, de onde saiu para comandar os aliados:
“Para alimentar o cérebro (Comando) de um Exército na paz, para prepará-lo para
a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em
meditações e lições do que o da História Militar”.
O livro da História Militar crítica da Amazônia não existe, como será
demonstrado, dificultando, pois, fazer reflexões e retirar lições. E é o que
tentaremos iniciar pioneiramente no presente ensaio.
Segundo o pensador militar brasileiro Coronel do Exército J.B. Magalhães,
patrono de cadeira na AHIMTB, ao prefaciar o livro do acadêmico emérito Cel do
Exército Amerino Raposo Filho, Caxias e os nossos problemas militares. (Rio de
Janeiro: SGEx, 1969 -série subsídios doutrinários):
“Tudo o que existe deriva do que existiu antes. É isto que dá valor positivo aos
registros da História, permitindo elaborar-se uma doutrina capaz de orientar com
acerto as atividades humanas”.
O livro da História Militar Terrestre crítica da Amazônia
Como já foi afirmado, o livro da História Militar crítica da Amazônia não
existe, como o do Sul, iniciado em 1922 pelo patrono de cadeira na AHIMTB, o
maranhense General Augusto Tasso Fragoso, ao estudar criticamente a batalha do
Passo do Rosário, ocorrida há 175 anos (referência a 2002), circunstância pela
qual tem sido considerado o Pai da História Militar Crítica no Brasil.
E isso atendia a conselhos da Missão Militar Francesa (MMF) 1920-39, no Exército
Brasileiro, de que a Tática, a Logística e a Estratégia brasileiras possuíam
seus fundamentos na História Militar Terrestre Crítica do Brasil.
Nesses últimos 80 anos, a prioridade foi o Sul. Vários historiadores do
Exército, hoje patronos de cadeiras ou acadêmicos da Academia de História
Militar Terrestre, se debruçaram sobre esses estudos.
A Amazônia é um deserto de estudos críticos de História Militar Terrestre do
Brasil, tanto por historiadores militares quanto pelos de História Geral da
Amazônia, segundo Arthur César Ferreira Reis, o maior historiador da Amazônia
Brasileira, que aponta nesse assunto várias áreas escuras a serem iluminadas.
Dos civis que têm escrito descritivamente sobre o tema, privei com sócios do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, já falecidos, e com valiosas obras
a apoiarem estudos de História Militar Terrestre Crítica da Amazônia que
relacionamos na bibliografia, valendo recordar seus nomes: Arthur César Ferreira
Reis, Marcos Carneiro de Mendonça, Silvio Meira, Leandro Tocantins e Vicente
Tapajoz.
E as obras de todos constam do Dicionário de Historiadores Brasileiros, editado
em 5 volumes pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, idealizado e
levado a efeito pelo presidente Vicente Tapajoz.
Em 1973, produzimos a plaqueta Centenário do libertador do Acre Plácido de
Castro, que foi editada pela SUDAM e distribuída amplamente pelas escolas da
área a pedido do Coronel do Exército Milton Câmara Sena, superintendente da
SUDAM.
No mesmo ano, como membro da Comissão de História do Exército Brasileiro, a
convite do General Adauto Bezerra de Araújo, do Brigadeiro Faria Lima e do
Governo do Acre, lá pesquisamos, por uma semana, a campanha militar pela
libertação do Acre por Plácido de Castro liderando cearenses.
E constatamos muitas originalidades guerrilheiras, ao entrevistarmos
ex-combatentes, como o sargento Feitosa, mateiro de Plácido, ao qual ele deu sua
bússola, e o homem que cortou a corrente que barrava a navegação em Porto Acre,
que encontramos muito idoso, baixado a um hospital.
Enfim, luta cheia de ensinamentos para a defesa da área. A mais singular era o
navegar-se na selva, abrindo-se picadas novas para evitar os caminhos entre os
seringais sujeitos a emboscadas, etc.
Nela Plácido de Castro liderou a resistência vitoriosa contra o Bolivian
Syndicate, formado por capitais privados americanos e ingleses, um autêntico
Cavalo de Tróia, sedento para dominar as fontes de produção de borracha da
Amazônia, com apoio em força armada. Mas ficamos livres dessa ameaça séria.
Julga-se que muitos fatos relacionados com a História Militar Terrestre da
Amazônia tiveram seus registros perdidos. Estima-se que em torno de Tefé
aconteceram fatos militares importantes.
As lutas militares e diplomáticas que culminaram com a incorporação do Acre ao
Brasil, a fixação dos limites do Brasil no Amapá, no rio Oiapoque, e a perda da
planície do Pirara por arbitragem internacional, são ricas em meditações e
lições a serem colhidas.
A Revolta da Cabanagem e a impunidade de seus adeptos, motivada pela ausência do
Estado, na imensa área amazônica, estimulava essa luta, podendo a mesma ter sido
vitoriosa e dominar a foz da Amazônia, com a interferência francesa e estímulo
inglês, se mais capacidade intelectual, militar e política tivessem suas
lideranças. Porém a Revolta ameaçou seriamente a Unidade do Brasil na Regência.
Justiça seja feita aos cabanos, que resistiram às tentações francesas e
inglesas, mas que criaram, com sua revolta, condições para a França ocupar então
o Amapá por algum tempo.
A reação vitoriosa, liderada no Amapá, em 1895, por Cabralzinho, face ao
desrespeito à nossa Soberania por uma Companhia de Infantaria da Marinha
Francesa, transportada por uma canhoneira a Bengali, foi abordada no Noticiário
do Exército, no 8430, de 1o Mai 1992, sob o título: “O combate da Vila Amapá de
15 Mai 1895”.
A própria documentação relativa ao Forte Príncipe da Beira era desconhecida.
Sobre ele, em seu bicentenário, conseguimos escrever só uma página no Letras em
Marcha, em setembro de 1976, ampliada em 1982 no álbum a História do Brasil
através de seus fortes, editada pelo GBOEX.
Até então existiam dúvidas sobre de onde vieram as pedras para a construção das
muralhas do forte, tema só abordado em 1985 com o trabalho bilingüe Real Forte
Príncipe da Beira, patrocinado pela Odebrecht, de autoria do acadêmico da AHIMTB,
Coronel do Exército José Maria de Souza Nunes.
Esse Forte, esquecido e abandonado, foi redescoberto pelo Marechal Rondon
coberto pela selva. Em suas ruínas estava esta placa, testemunha do espírito que
presidiu a epopéia de sua construção:
“A Soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um forte. E
isto é obra e serviço dos homens de El - Rei de Portugal, nosso Senhor e, como
tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalho que isso dê, é serviço
de Portugal e tem de se cumprir“!
E assim foi tudo bem cumprido. E ele hoje ainda lá se encontra! Resgatamos a
história do Forte São Joaquim do Rio Branco, em Roraima, na Revista Militar
Brasileira. v.106, Jan/Jun 1975, p.51-54.
Os fortes constituíram um arco de proteção da Amazônia à cobiça estrangeira,
tendo sido colocados estrategicamente nos acessos fluviais aos rios amazônicos:
no Guaporé, o Príncipe da Beira; o São Francisco Xavier em Tabatinga, no
Solimões; os Moarabitanas (Cucuí), São Gabriel e Forte de Barcelos (ou forte do
Rio Negro), no Rio Negro; o São Joaquim, na confluência dos formadores do rio
Branco. Estes fortes foram citados durante a demarcação dos tratados de Santo
Ildefonso, sob influência do Marquês de Pombal.
Havia também os do Presépio e Macapá (reconstruídos por ordem de Pombal), na foz
do Amazonas. E, aprofundando as defesas no interior do vale, os fortes Paru (Almeirim),
Gurupá, de Santarém, São José da Barra (Manaus), de Óbidos, etc.
Sendo a História Militar da Amazônia um Laboratório da Tática, da Logística e da
Estratégia, para a sua defesa impõe-se com urgência, salvo melhor juízo, um
estudo histórico militar crítico integrado pelas nossas FFAA, de todos os
conflitos internos e externos que a envolveram. E é o que aqui tentaremos
iniciar em caráter pioneiro.
Gostaríamos de conhecer proposta documentada que demonstre desnecessários os
estudos que aqui sugerimos.
É do presidente Médici esta declaração, feita no Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, ao ser empossado seu Presidente de Honra em 3 de jun de
1970:
‘‘Não se governa bem sem História e historiadores!
Aqui podemos afirmar que não se governa bem sem História e historiadores. E nós
brasileiros, podemos dizê-lo melhor do que ninguém, pois, pacificamente, nenhum
país cresceu mais do que o Brasil, pela pesquisa e análise de nossos
historiadores”.
2ª Parte
A CONQUISTA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA, 1616-1750
_______________________________________________
1 - RECONHECIMENTOS E EXPLORAÇÃO MILITAR TERRESTRE
Expedições ligeiras
Grandes expedições navais, dotadas de forte aparato militar, começaram a operar
no Atlântico logo após o descobrimento do Novo Mundo.
Diversas precederam o descobrimento oficial do Brasil. Essas iniciativas revelam
o grande interesse despertado na Europa pela descoberta de Colombo. Dessa série
foram as expedições de Alonso de Ojeda (1499) e Vicente Yañez Pinzón (1500).
Partindo de Quito, desceram o Solimões as de Gonçalo Pizarro, irmão do
conquistador do Peru (1539-42), e a de Pedro de Úrsua (1559-61).
A penúltima pertencia a Francisco de Orellana que, por motivos ainda não bem
identificados, desgarrou com a nau de seu comando pelo Amazonas abaixo. Saindo
no Atlântico, rumou para a ilha Margarida, nas Antilhas. Dali seguiu para a
Espanha, onde divulgou fabuloso noticiário, ao qual não faltou a referência à
lenda das aguerridas índias amazonas que originariam o nome do rio Amazonas.
Vicente Yañez Pinzón, em março de 1500, descobriu a foz do atual rio Amazonas,
depois de sua tentativa de desembarque no atual Ceará ter sido repelida por
índios.
Os espanhóis, por meio de Gonzalo Fernandez de Oviedo y Valdez, colocaram a
Amazônia na Mídia da época. Valdez, em carta, contou ao Cardeal Pedro Bento a
aventura de Francisco Orellana, que desceu o Amazonas, vindo de Quito, e
alcançou o Atlântico em 1541. Em 1545, Orellana voltou à Amazônia para
conquistá-la. Foi mal sucedido!
Pedro de Úrsua, mais tarde, partiu do Peru. Sua expedição atingiu o Atlântico,
mas ele perdeu a vida. Os escritos fantasiosos de Frei Carvajal é que criaram a
lenda das guerreiras Amazonas que incendiaram as fantasias sexuais dos
aventureiros:
“As índias cavaleiras amazonas são alvas e brancas, usando cabelo comprido
entrançado e enrolado na cabeça, pernas e braços bastante desenvolvidos, andam
nuas, em pêlo, disfarçando seu sexo, com suas flechas e arcos nas mãos, fazendo
a guerra tanto quanto os homens”.
Além da lenda das Amazonas existiam os mitos do Eldorado e do país da Canela,
que atraíam aventureiros para a Amazônia.
2 - INFILTRAÇÕES E BASES ESTRANGEIRAS
Pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, a área era pertencente à Espanha. As
primeiras expedições descobridoras foram da Espanha. Mas os ingleses e os
holandeses se lançaram sobre ela com ímpeto, pelo que ela já representava como
fonte de matérias-primas.
Holandeses e ingleses, partindo das Antilhas, atingiram a Venezuela e a Guiana,
entre o Orinoco, o Oiapoque e o vale do Amazonas, onde penetraram e lançaram
suas bases coloniais. Nos primeiros anos limitaram-se a reconhecimentos.
Em 1599, os holandeses penetraram o Amazonas e estabeleceram pequenas feitorias
defendidas por fortins. Em 1600 instalaram as feitorias de Orange e Nassau, na
região do Xingu, defendidas por fortificações.
Em 1616, instalaram-se entre Gorupatuba e Jenipapo, no baixo Amazonas, onde
fundaram uma colônia e um forte.
Em 1626, os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, erigiram um forte na
altura da estratégica ilha de Gurupá.
Em 1611, os ingleses começaram e se estabelecer no delta do Amazonas, após duas
experiências malogradas à margem esquerda do Oiapoque.
Em 1613, Ribert Harcourt, por carta-patente da Corte inglesa, ganhou os
territórios compreendidos entre o Amazonas e o Essequibo.
Em 1628, James Purcell lançou os fundamentos do forte Torrego.
Em 1632, uma terceira companhia, incorporada por Thomas Howard, Conde de
Berkshire, pretendeu criar na Amazônia uma base do Império Britânico na América
do Sul. E erigiu o forte Cumaú, no estratégico local do atual Forte de Macapá
que domina o canal de acesso ao Amazonas pelo norte.
3 - RESISTÊNCIAS ARMADAS INDÍGENAS À PENETRAÇÃO LUSO-BRASILEIRA
Na irradiação pela Bacia do Amapá, os índios ofereceram resistência às tropas
militares e aos sertanistas.
Na foz do Amazonas, em torno da atual Belém, os índios Tupinambás e os Manos
ofereceram tenaz resistência armada aos luso-brasileiros que fundaram o Forte do
Presépio. E só foram dominados depois de muitas lutas.
No rio Negro, índios confederados pelos índios Manaus combateram os
luso-brasileiros que penetraram na região. E durante anos colocaram em perigo a
soberania de Portugal sobre a área. Foram enfrentados por expedições militares
comandadas pelos capitães João Pais do Amaral e Belchior Mendes de Moraes, que
terminaram por vencer os índios liderados por Ajuricaba, que se suicidou nas
águas da foz do rio Negro quando era transportado preso para Belém, atirando-se
no rio. Esse fato merece uma nova leitura hoje, assim como o sacrifício de Zumbi
dos Palmares.
Em seguida, militares luso-brasileiros alcançaram as cachoeiras do rio Negro,
fundaram arraiais e atingiram o Orenoco pelo Canal de Cassequiari.
No rio Madeira, os índios Torás e os Muras se opuseram à subida de coletores de
especiarias. Foram derrotados como os Tupinambás e os Manos.
Isso criou condições militares para sertanistas luso-brasileiros se encontrarem
com os bandeirantes paulistas, como Raposo Tavares, que subiram o Madeira, como
já havia acontecido no vale do Tocantins e aconteceria no Tapajós.
Assinalaram-se nessas tarefas no rio Madeira os capitães João de Barros Guerra,
Mello Palheta, Antônio Raposo Tavares, Manoel Félix de Lima, José Leme do Prado
e João de Souza Azevedo.
Por todas as partes os índios ofereceram resistência armada à expansão dos
luso-brasileiros. Muitos se aliaram aos ingleses, holandeses, franceses e
espanhóis para combater os luso-brasileiros em sua expansão em direção ao rio
Napo, no interior da Amazônia, e em direção ao rio Oiapoque, conquistado de
forma memorável pelo Capitão Diogo Pinto Gaia.
No Solimões, os luso-brasileiros, os militares e os religiosos, com o concurso
de índios amigos, enfrentaram os espanhóis. E estes foram vencidos, de 1691 a
1697, pelos capitães Antônio Miranda e José Antônio da Fonseca, que solenemente
retomaram Tefé (hoje sede de uma Brigada de Selva) e região em seu entorno. E
dali prosseguiram até o rio Napo onde, sob a liderança do Capitão Belchior
Mendes de Moraes, restauraram o marco em Franciscana, colocado por Pedro
Teixeira em 1639, retomando a posse com lavratura de documentos correspondentes.
E se tornaram fatos memoráveis na História Militar Terrestre do Brasil na
Amazônia as posses do Solimões, pelos capitães Antônio de Miranda e Antunes da
Fonseca, e das regiões do rios Napo e do Alto Madeira, por Mello Palheta.
Na expansão da Amazônia atuaram, de modo a diminuir a resistência armada dos
índios, os aldeandos pela catequese, missionários Franciscanos da Província de
Santo Antônio, Jesuítas, Mercedários, Carmelitas, Franciscanos da Conceição da
Beira e Minho e Franciscanos da Piedade.
Na descoberta e exploração do rio Branco, cujos índios ofereceram resistência,
se destacaram os capitães Francisco Ferreira, Cristóvão Aires Botelho, José
Miguel Aires, Lourenço Belfort e Francisco Xavier de Andrade.
Exploraram o rio Tapajós, lutaram e submeteram seus índios os capitães Francisco
Soares de Vilhena, Estevão Albuquerque e Fernão Coelho de Souza.
Toda essa expansão foi regulada por alentada legislação, que é encontrada na
Biblioteca de Évora e na seção ultramarina da Biblioteca de Lisboa, e no Brasil
na Biblioteca Nacional e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, segundo
o mestre Arthur César Ferreira Reis. E o campeão dessa expansão foi o General
Pedro Teixeira.
Aspectos de interesse militar dos índios
O padre jesuíta João Daniel, por 18 anos missionário na Amazônia Brasileira, foi
dali levado com outros companheiros para a prisão no cárcere de São Julião, em
Lisboa. E ali escreveu precioso manuscrito, por volta de 1797, Thesouro
Descoberto no Máximo Rio Amazonas, dividido em 6 partes.
A 2ª parte começou a ser publicada no Brasil em 1840 como Notícia Geral dos
índios e de algumas nações em particular, de sua fé, vida, costumes e das causas
mais notáveis de sua rusticidade.
Por seu interesse militar despertam nossa atenção sua rusticidade (endurance),
seu desprezo pelas riquezas e as guerras entre eles na Amazônia.
A seguir, sintetizamos os pontos que nos chamaram a atenção, em especial os que
foram usados em apoio às atividades militares terrestres na Amazônia, ou
atividades militares terrestres anfíbias. E refere o citado padre João Daniel em
trechos que tivemos que adaptar à linguagem atual e em estilo mais fácil de
entendimento pelo leitor atual.
“No rio Amazonas há nações que por viverem na selva e na sombra de árvores são
tão brancas como os mais brancos europeus...”
E mais adiante:
“Eles não possuem barba e neste particular não há diferença entre homens e
mulheres...”
“Existem algumas mulheres índias que, além de suas feições femininas, possuem
olhos azuis e outras olhos verdes, com uma esperteza e vivacidade tão graciosa
que podem ombrear com as mais escolhidas (belas) brancas...”
Sobre o espírito guerreiro dos índios da Amazônia, o padre João observou:
“As tradições que mais cultuam são as suas guerras e batalhas que têm tido com
seus inimigos e tribos contrárias. E, com freqüência, se põem a pregar e a
contá-las aos demais ou entre si, à semelhança de pregadores em seus púlpitos. E
isto, especialmente quando necessitam de animação para alguma batalha.
E nestes sermões, com a finalidade de melhor desempenharem o seu papel de
motivadores e de melhor animarem os auditórios com suas palavras, conservam numa
mão um arco e na outra uma flecha. E assim fazem muitas e variadas exibições,
seja colocando a flecha no arco, fingindo que vão disparar a flecha. Ou a
retirando do arco e colocando-a na aljava. E todas estas ações belicosas para
convencerem os demais de sua valentia e de que nada temem. E gastam horas e
horas nestes sermões guerreiros...”
E sobre a educação dos guerreiros:
“Para fazerem os índios se criarem valentes, costumam alguns pais e parentes,
desde a infância, castigá-los com pancadas, como que por influência da razão e
pelas lições da experiência, que só será bom sofredor do trabalho quem desde
menino se acostumou a padecer. E só desfalece na adversidade e na tempestade
quem foi criado com mimos e regalos.
E isto não só observam na selva como também nas Missões depois de estarem sob a
proteção da igreja...”
E sobre sua atuação como remadores de brancos:
“Os índios por suas provas de valentia são os que mais sofrem no trabalho, nas
doenças e nas adversidades.
Causa grande espanto o quanto aturam ao remar uma canoa de brancos, dia e noite,
sem dormirem, a não ser 2 ou 3 horas, por semanas inteiras e até meses.
O mesmo se observa em outros trabalhos. E isto muitas vezes passando dias
inteiros sem outra alimentação que um punhado de farinha-de-pau (de mandioca)
misturada com água e que eles chamam de tiquara. E se existem condições para o
cozinhar ou esquentar no fogo o que chamam de mingau, passam a remar mais
contentes.
E de igual forma em doenças não mortais, ou quando feridos com flechas ou facas
ou com violentas cólicas ou febres ardentes, não dão um ai, um gemido ou
suspiro.
Dizem que herdam por natureza esta invencível paciência. Não só os adultos, mas
também os índios meninos suportam grandes dores, com tão rara paciência como se
fossem insensíveis”.
Sobre o desapego a bens materiais, observou o padre João Daniel:
“O desapego que demonstram pela riqueza e bens materiais é inimitável. Se têm o
que comer, como produto da caça na selva ou dos peixes dos rios, ficam mais
contentes que os ricos com todos os seus tesouros, galas e banquetes.
Não se preocupam de onde virão os utensílios de suas casas, porque são
despojados de tudo... E o maior cuidado que possuem, é em alimentar o estômago e
mantê-lo satisfeito...
...Deste seu incomparável desapego a bens terrenos eles vêem se perderem o
cacau, o cravo, a salsa, preciosas essências, prata, ouro e diamantes e as
demais riquezas de que o Amazonas é abundante e pela posse das quais os europeus
atravessam o Atlântico e aqui se expõem a tantos perigos.
Toda a riqueza desses índios se resume em possuírem um pouco de farinha-de-pau
(de mandioca) que é seu pão de cada dia.
Mas muitas tribos ainda não possuíam farinha de mandioca e a substituem com
frutas da selva.
Um arco com flechas, uma pequena canoa de casca de árvore e um remo, ainda que
todos não a possuam, se satisfazem com uma jangada feita de canas, com as quais
atravessam os rios e passam de uma ilha para outra ou de um lago para outro.
Todos os seus móveis, trastes e utensílios domésticos se resumem em 1 panela, 1
cuia (cabaça para beber água), 1 machira (rede de dormir), que muitos substituem
por uma esteira, a que chamam miaçaba, tecida de palmas ou cipó. Alguns possuem
machado de pedra, e a sua faca de pau (de madeira) ou de casco de tartaruga.
E com elas vivem contentes, por possuírem armas para a guerra e para caçarem e
rede para pescarem. Quando possuem isto a sua casa está completa. E se querem se
mudar de local não necessitam bestas de carga e nem muitos botes para o seu
transporte...
Dissemos que usam machados de pedra e facas de pau. Eles usam dentes de animais,
especialmente de cotia, que são muito duros e aguçados, com os quais alguns
índios realizam seus trabalhos.
Porém, por mais dura que seja a pedra do machado, ele pouco serve a seu trabalho
e feitura de roças onde mais amassam do que cortam as madeiras...
Também a faca de pau ou de algum osso, com o que alguns fabricam machados, para
pouco lhes serve. E o que com ela não podem fazer usam as unhas e dentes como as
feras...”
Entre suas bebidas diversas chamou atenção o seguinte:
“Chá Padú usado pelos índios do rio Negro, cujas folhas na boca, substituem o
sono e se mastigadas saciam a fome e a sede, além de outros admiráveis efeitos
em que é superior ao Affamael Betele da Ásia”.
Sobre o inestimável valor dos cachorros para os índios, o padre fez este
interessante registro:
“É indispensável aos índios possuírem algum cachorro de caça. Não só para
caçarem, mas para lhes servirem de companhia.
Estimam tanto os seus cachorros que se duvida amar mais os filhos ou os
cachorros? Creio que talvez seja amor parelho.
A experiência de muitos relata que numa caminhada, tendo algum cachorrinho a
mulher ou um filho o leva no colo e o filho ou a filha que possa caminhar vai a
pé.
Ainda os índios mansos aldeados conservam o costume. Na hora da alimentação um
bocado é reservado ao dono e o outro ao cachorro. Assim o cachorro na mesa do
índio ocupa o 2º lugar.
E argumentam que os cachorros não só os acompanham na caça, mas a descobrem e a
levantam e muitas vezes a matam.
Por isso é alimentado depois do dono. E se faltar alimento, a família que
jejue.”
Sobre os enfeites com colares das índias, registrou:
“Os enfeites mais comuns nas índias da Amazônia é usarem grandes colares e
gargantilhas. Mas não de pérolas, aljofres (pérolas miúdas) e brilhantes, mas
feitas com dentes dos índios que matam e que algumas tribos os comem.
E tais colares de dentes de inimigos, são só para moças índias ilustres por
filhas dos maiorais da tribo. Estes colares são símbolos de nobreza e brasão de
valentia.
Nos dentes figuram o número de homens que eles deram honrada sepultura e alguns
em suas barrigas. E representam um rol de índios mortos e comidos (devorados).
Estes colares dão o número de defuntos e são instrumentos de memorizar os
inimigos mortos.
E quanto mais comprido o colar mais linda, mais nobre, mais formosa e mais
enfeitada é a sua detentora.
E preferem estes colares de dentes como se fossem de pérolas e corais ou
pendentes de finíssimos brilhantes...”
Sobre as fortificações de proteção das aldeias, registrou:
“Muitas aldeias guerreiras indígenas se protegem com muralhas de madeira dura
que nem pedra.
Em outras aldeias a muralha é feita de palmeira juçara, que possui espinhos tão
grandes e duros que muitos usam como agulhas para fazerem meias.
E as muralhas de juçara só podem ser penetradas e rompidas pelo fogo. Isto por
crescerem cheias de grandes e agudos espinhos e de tão enlaçadas umas as outras
que se tornam impenetráveis.
Outras tribos constroem as muralhas de taboca, material que na Ásia chamam de
bambu. E quando elas seguram as muralhas, podem dizer de sua eficiência os
portugueses que têm combatido na Índia, onde alguns potentados as usam. E zombam
dos europeus que, querendo atacá-los, voltam constrangidos e com as mãos na
cabeça, surpresos com a resistência deste tipo de muralha.
Outras tribos fortificam suas aldeias com árvores e estacas disponíveis”.
Sobre a característica de ser anfíbio do índio da Amazônia, registrou:
“A comunicação dos índios normalmente é feita pelo mar, rios, baías, lagos. E se
pode chamá-los de anfíbios, por passarem a maior parte de suas vidas na água.
Para tal dispõem de barcos leves e rápidos feitos de cascas de árvores. Outros
usam balsas e jangadas. E outros não se cansam com estas construções. Quando
querem navegar, apanham qualquer madeira boiando, cavalgam nela e com o remo na
mão viajam. E se a favor da correnteza, navegam bem, sem temor de molharem suas
vestes e nem correm maior risco do que o de serem atacados por um crocodilo ou
jacaré.
E é comum ver-se navegando num pedaço de madeira muitos navegantes, inclusive
mulheres e crianças, não só para viagens perto, como para atravessarem rios e
lagos.
Sobre os vícios dos índios, o padre classificou-os: “1º: o vício da carne
(sexo), 2º: o da bebida e 3º: o do canibalismo, não-generalizado”.
E índios com essas características de rusticidade e combatividade seriam
enfrentados por luso-brasileiros na Amazônia, como inimigos ou como aliados, na
luta contra tribos hostis e contra estrangeiros.
As guerras entre índios amazônicos e sua Arte Militar
E sobre isto registrou o padre João Daniel:
“São muito freqüentes as guerras entre os índios. Guerreiam umas nações contra
as outras e uns contra outros povos.
Embora todos sejam guerreiros, algumas nações são mais inquietas e propensas a
Marte. E cada povoação (aldeia) tem outras aliadas, não só para não se
agredirem, mas também para se darem as mãos umas as outras, e se defenderem de
ataques.
Os motivos das suas guerras são três:
O apetite de se comerem, uns aos outros (canibalismo);
Por indução dos brancos para lhes venderem os índios que apanham;
Por causa de apanharem uns aos outros as mulheres.
Este terceiro motivo é o mais comum! Pois em toda a parte há Helenas formosas,
que com o fogo da concupiscência acendem o da guerra. E não satisfeitos com as
índias das suas povoações querem roubar as dos seus contrários.
As suas armas são, como já dissemos, arco e flecha, que igualmente lhes servem
para pescar em lugar de redes, para caçarem nos matos, e para pelejarem nas
guerras.
São porém ordinariamente diversas estas armas, quando combatem, quanto a
grandeza dos arcos e das flechas. Pois são muito maiores no comprimento e
grossura e as chamam Taquaras.
Colocam como ponta de flecha, facas de pau duro como ferro, ou de algum osso de
animal, ou das cascas de Taboca, muito pontiaguda e aguçadas de dois fios, as
quais atravessam qualquer homem, como também ao maior boi, ou fera do mato, e
ainda atravessam uma porta e qualquer tábua.
Para irem direitas lhes põem no remate penas atadas com cordéis, coisa de meio
palmo ou mais, à proporção da lança que tem adiante.
As hastes as fazem de umas canas sem nós, muito lisas e esféricas, que por este
uso se chamam frechais. E não sendo ocas como as nossas, com âmago estupendo são
tanto ou mais leves.
Os arcos com que as lançam são de pau, a que já por seu uso os brancos chamam de
pau de arco, muito duro e forte. E por não conterem ferro, os índios possuem a
arte de o lavrarem do tamanho que querem.
Os destinados à flechas taquaras tem 7, 8 ou mais palmos de comprimento. A sua
grossura é como o pulso de um menino. São facetados por uma banda, e esféricos
no mais.
Pela parte facetada lhe põem um fortíssimo cordel de alto e baixo, tecido de
pita. E para o prenderem nas pontas fazem no arco umas cabacinhas.
Quando querem entesar o arco para lançarem as flechas, o encurvam nos joelhos,
puxam o cordel. E pondo-lhe a flecha a atiram com tanta força, que repassam
qualquer porta ou tábua em distância de 200 até 300 passos.
Algumas nações, além destas taquaras usam as suas flechas pequeninas e miúdas. E
em lugar do arco as introduzem dentro de uns compridos canudos, a que chamam
garavatana, (zarabatana). E a assoprando para o alto contra os inimigos, por
elevação vão cair em cima das cabeças dos mesmos.
E mesmo que toquem muito levemente na carne do inimigo, matam em breve espaço,
porque vão hervadas com o seu veneno Bororê.
Destas flechas miúdas eles usaram muito contra os portugueses e mais europeus
nas muitas guerras que tiveram no princípio das conquistas. E eram algumas vezes
tantas que pareciam chuveiros. Mas pouco estrago faziam, por caírem nos chapéus
e fardas e não atingirem os corpos.
Outras nações não usam arco e flechas, mas de balestilha. E tanto uns como
outros atiram as suas armas com muita perícia, e rapidez que apenas uma flecha
sai do arco, quando outra já está nele.
Assim, enquanto um soldado carrega e dispara sua espingarda, pode um Tapuia
atirar 10, 12, ou mais flechas.
São poucas as nações que atacam a peito descoberto, avançando umas às outras.
Seu modo comum de atacar é a traição (surpresa) em repetidos assaltos, quando
presumem os seus contrários descuidados, ou ocupados nos seus bailes e
beberronas.
Por isso as nações mais belicosas e que têm mais inimigos, estão sempre alerta e
fortificadas nas suas povoações com fortíssimas cercas de pau a pique ou
tabocas, como já dissemos.
Quando não podem causar outro dano uns aos outros, queimam as povoações, que
sendo de palha ou pindoba ardem em um minuto.
Outro dano é apanharem as suas canoinhas. E como a sua serventia é sempre por
mar, rios e lagos, sempre os inimigos encontram algumas com gente, especialmente
mulheres e meninos, que não podem fugir e não só ficam prisioneiros, mas
ordinariamente pagam o pato, porque ficam objetos da ira e vingança dos
inimigos.
Possuem suas espias e atalaias (observadores) que escondidas no sombrio das
árvores a que sobem, descortinam e vigiam os rios. E avisam do que enxergam ao
longe. E conforme a povoação de que o inimigo vem, tocam a rebate e avisam-se
umas nações a outras suas aliadas. Possuem para isso um grande tambor feito do
tronco de alguma árvore.
Para o tocarem suspendem-no em dois esteios ou grossas forquilhas, sustentando
com cordas em uma trave, de sorte que não só fica no ar, mas sem tocar em coisa
alguma. E só o tocam nas ocasiões das suas guerras, ou quando querem fazer
alguma matança de encurralados para os codearem (comerem).
Chamam Tocando a esta caixa de guerra. E assim que a ouvem, os índios que andam
fora se recolhem ao arraial e se põem em armas, entesando os arcos, aguçando as
flechas, e provendo as aljavas.
E quando o inimigo os acha deste modo prevenidos, ordinariamente se retira.
Não obstante o seu grande furor uns com os outros, são como os brancos europeus,
muito tímidos. E por isso no princípio das conquistas ainda que se uniam em
grandes exércitos, ordinariamente se retiravam por covardes.
E por esta razão, possuindo ânimo e valor bastam poucos europeus para vencer
exércitos de Tapuias.
Especialmente se desanimam quando vêm cair com as balas dos arcabuzes seus
camaradas mortos, por ser para eles totalmente nova a arma dos brancos.
Porém se chegam a perceber algum medo nos europeus, ou se possuem quem bem os
comande, anime, e estimule, o fazem com tal ardor, coragem, e de modo que
parecem leões. E assim se têm portado em muitas ocasiões em que têm lutado ao
lado dos portugueses, como em Pernambuco contra os holandeses, também no
Maranhão, e em muitas outras partes.
E na verdade se tivessem quem bem os capitaneasse e comandasse, não seria
suficiente toda a Europa para os desalojar das suas terras na Amazônia, e nem
ainda os atacar, pois bastava aos Tapuias jogarem as suas flechas das margens
dos rios contra os navegantes. E escondidos e amparados não só com o sombrio do
arvoredo imenso das suas matas, mas também detrás das árvores, de onde muito a
salvo podem desbaratar grandes exércitos, e vencer aos mais invencíveis
gigantes, sem temer que a mosquetaria ou artilharia atacante possam abrir brecha
naqueles grossos e duros troncos.
Nem ainda os incêndios, que nas matas costumam ser o mais indomável e invencível
inimigo, poderiam fazê-los perder um palmo de terra.
Pois são de outra espécie aquelas matas da América (Amazônia), que não ardem,
nem se queimam, por mais fogo que lhe lancem.
Disso decorre que a cada passo estão os seus índios naturais e os europeus
fazendo grandes fogueiras no meio dos matos, sem o fogo se estender mais do que
à lenha seca que colocam na fogueira. E acesas as abandonam quando se mudam para
outra parte, sem receio de que o fogo se propague.
Basta para prova o que já tem sucedido nas matas e ilha do Maranhão, onde
costumam alguns anos faltar as chuvas do inverno, de sorte que a terra se abre
em bocas de seca e se secam e queimam as serras com os calores do sol.
E assim por mais fogo que se ponha aos matos não ele se ateia, nem os queima.
O mais a que se estendeu o fogo foi a limpar o arvoredo por baixo, queimando em
grande distância as folhas secas e os arbustos.
Desta sorte amparados no arvoredo das matas os índios fizeram guerra por muitos
anos aos portugueses em todos o Brasil. Guerra que se acabou por diligências do
venerável Padre José de Anchieta e outros religiosos da Companhia de Jesus.
Assim acabaram com os holandeses no Maranhão, matando muitos como seu alvo,
encobertos uns com as árvores ou escondidos, outros nos matos, quando eles iam
pelos caminhos e estradas.
Assim tiveram a barba tesa aos portugueses no mesmo estado do Amazonas, nas
crudelíssimas e prolongadas guerras de 20 anos, em cujo espaço de tempo
estiveram os europeus como encurralados no Pará, sem poderem subir para o
Amazonas; porque os Índios zombavam das tropas. E matando quantidade de
portugueses, cada vez se faziam mais formidáveis.
E só se concluíram as pazes com eles por prática, agência e diligência do grande
Padre Antônio Vieira, e outros jesuítas. E desta mesma maneira ainda hoje
perturbam alguns Índios a navegação do mesmo Amazonas e rio Madeira, e outros
zombam das tropas, que por vezes se tem expedido contra eles.
As Tropas de Resgates: objetivos, abusos e extinção
A seguir o padre João Daniel aborda o problema das Tropas de Resgates, a razão
de sua criação e os abusos por ela praticados.
“As Tropas de Resgates foram criadas no tempo do grande Padre Antônio Vieira, e
por requerimento do mesmo, e dos religiosos missionários. Criadas por
comiseração dos índios e com o objetivo de assim livrar os seus corpos da morte,
e as suas almas do inferno, catequizando-os nas verdades católicas por anos e,
com muito aplauso dos portugueses, que nos Tapuias resgatados tinham escravos e
servos para os seus serviços e lavouras.
Instituída assim a tropa, de redenção de cativos, nomeava-se um cabo da tropa
com oficiais, e davam-se as instruções e mais providências necessárias para se
praticar esta obra de tanta piedade, como era o bem, e a qualidade do negócio
que se tratava o pedia.
Entre as providências uma era levar a Tropa de Resgate consigo algum religioso
missionário teólogo, que além de prático da língua, e conhecimento do país,
fosse zeloso, para averiguar e examinar os fatos.
E conforme allegata et probata declarar livres, ou escravos, os índios que se
apresentavam. Este religioso missionário era sempre um jesuíta, por determinação
dos Fidelíssimos Monarcas de Portugal. Era designado pelos seus provinciais,
para a satisfação dos governos e magistrados, pois dele dependia não menos que a
liberdade, ou escravidão dos índios, além da boa ou má consciência dos
portugueses nas posses dos índios.
Além dos provimentos de víveres, se faziam também não poucos de bolorios,
ferramenta, sal, panos, e outras drogas das mais estimadas e apetecidas dos
índios, tudo a expensas da Fazenda Real, além de muitos outros resgates de
particulares e interessados.
A região de atuação das Tropas de Resgates era ordinariamente no vale do rio
Negro. Neste vale mais do que no outros vales da Amazônia existiam estas
bárbaras nações indígenas que se comiam umas as outras.
Mas do rio Negro percorriam o rio Amazonas e os demais rios. E todos os índios
que encontravam conduziam ao arraial do rio Negro (atual Manaus?) para serem
examinados.
Daqui eram transportados para a cidade (Belém), onde os vendiam em pública
praça. E o obtido se lançava no tesouro, para ressarcir as despesas da Tropa de
Resgates e os gastos, que nas Missões eram feitos com os novos descimentos e
diligências dos missionários, como também para a criação de novas Missões.
Do referido arraial no rio Negro saiam os brancos para tratar com os régulos
(soberanos caciques) daquelas nações indígenas. E iam bem escoltados para que
não lhes sucedesse irem buscar lã e ficarem tosquiados, ou metidos num curral,
como por vezes sucedeu e serem comidos.
E a troco de um, ou dois machados, algumas facas, bolorios e similares coisas,
os régulos lhe entregavam os Tapuias que haviam encurralado. E com eles voltavam
para o arraial (Manaus atual?) para apresentá-los ao missionário da tropa, assim
os que compravam os particulares, como os que se resgatavam em nome da tropa, e
como ordinariamente cada nação tem diversa linguagem, o missi0nário se valia de
práticos nas diversas línguas para o efeito de seus exames dos índios.
Consistia os exames em inquirir dos mesmos índios: - Como foram apanhados dos
seus inimigos? Se em guerras que tiveram entre si, ou se por assalto inopinado?
Se os brancos os induziram a fazer aquela guerra? 0u qual fora a causa dela? Se
estavam ou não nos curraes (mangueiras) para serem comidos pelos seus
contrários? Ou se os brancos os tinham apanhado à força, ou por meios de ardil?
Se os seus principais e régulos os tinham entregado aos brancos por troco de
algumas drogas?
Com todos os mais requisitos, pontos e miudezas examinados em negócio de tanto
peso e ponderação. Qual a solução do padre para cada índio - a liberdade, ou o
seu perpétuo cativeiro.
E conforme o depoimento e rigoroso exame, ponderadas as razões pró e contra, o
missionário passava ao índio um bilhete ou registro, em que secundum allegata et
probata o declarava livre ou escravo.
E junto com o missionário assinava o cabo da Tropa de Resgates e com este
registro ele fazia a entrega do índio.
Começou logo a ambição e a corrupção a reinar nos brancos. E sob a falsa capa da
Tropa de Resgates para os miseráveis encurralados elas se estendiam aos índios
livres e a quantos outros pudessem haver.
E as falsas Tropas de Resgates induziam os régulos (caciques) a assaltarem
outras tribos e apanharem os que pudessem para os entregar aos brancos. Outras
vezes induziam aos mesmos régulos a venderem os seus vassalos.
E muitas vezes de surpresa os mesmos brancos atacavam as povoações, onde moravam
os Tapuias muitos juntos em cada casa. E os cercavam, e entravam logo dentro de
cada moradia onde amarravam quantos índios achassem. E conduzindo-os ao arraial
afirmavam ser dos encurralados, para que o não lhes faltavam testemunhas falsas.
E assim índios livres se tornavam escravos.
Uma das leis destes resgates, além de outras condições, determinava que só fosse
feito resgates em determinada região. Não se dando satisfeitos as falsas Tropas
de Resgates saiam fora dos limites, e não havia rio em que não entrassem, nem
aldeias que não assaltassem. E quantos cada falsa Tropa de Resgates podia
maniatar, tantos elas contava com sendo seus escravos.
Assim já eram exorbitantes e intoleráveis excessivos os abusos das falsas Tropas
de Resgates.
E para que no exame perante o Missionário e cabo da Tropa não arriscassem a
sorte de os perder, eles faziam os pobres índios dizerem mentiras. E os
instruíam nas respostas que haviam dar: como eram, que os seus régulos tinham
guerra entre si. Como que tinham ficado escravos dos seus contrários. Que foram
encontrados no curral (encerra) e destinados para a matança, etc... E
concordavam com as respostas ensinadas, porque como brutos não percebiam o
chiste. E tinham para si de que tudo o que os brancos lhe lhes ensinaram como
respostas era o direito e o que mais lhes convinha.
E quando os brancos temiam que alguns descobrissem a verdade, por já terem
notícia do cativeiro, os ameaçavam com as espadas e com a morte, caso não
respondessem ao missionário como os tinham ensinado. Incrível a quanto se
arriscava a ambição!
Confessou clara e publicamente um oficial de uma falsa Tropa de Resgates, onde
era novato. Que quando era feito procurador dos índios, fora ele induzido por
outros brancos e todos de uma mesma companhia de subirem por um rio, e
assaltarem de repente uma povoação (aldeia). E que cada um foi amarrando e
maniatando quantos índios pode. E que depois de cheias as embarcações destes
pobres cordeiros, os conduziram ao arraial. E que à noite, estando companheiro
seu na sua barraca, chamara por eles um dos camaradas, e lhe perguntara “se
tinha já exercitado os seus índios do que haviam de responder ao Missionário no
exame”?
A resposta foi de novato, dizendo que não, nem sabia que instrução daria.
Então o seu camarada, que era praticamente veterano neste modo de “catequizar
Tapuias”, o ensinou como devia instruí-los. E acrescentou não fazendo assim,
todos sairão, e você ficará logrado. Pois se assim é (respondeu o novato) não
quero tais escravos, que para o serem dependem de tais práticas.
Muitos, não se dando por satisfeitos e seguros com as suas práticas, os
acompanhavam ao exame, e passeando pela frente do examinador, olhavam de quando
em quando para os índios em exame. E com olhares e gestos significativos de que
os decapitariam, se não respondessem como os tinham ensinado.
E de tal sorte os intimidavam, que eram forçados a responderem e concordarem em
tudo, conforme a vontade dos brancos, sem embargo de ser com grande prejuízo da
sua liberdade.
E quando iam se divulgando estas injustiças e muitas outras, alguns índios
peitavam os cabos com promessas de lhes darem algumas peças (índios). Outras
vezes brancos transportando-os furtivamente os índios até vizinhanças de Belém,
os vendiam pelos sítios dos brancos.
Ai já o missionário examinador com prudência variava as perguntas e usava
quesitos, e usava expedientes para frustrar estas práticas e poder se informar
da verdade.
Com esta boa indústria de variação de perguntas livrou-se a milhares e milhares
de índios do injusto cativeiro dos brancos. Porém também muitos índios saíram do
inquérito escravos, sem o serem.
Chegou finalmente a Corte a notícia destas injustiças. E para atalhar este mal,
o Rei D. Pedro, de boa memória, mandou recolher e proibir a Tropa de Resgates,
por julgar mal maior do que os índios se comerem uns aos outros. E proibiu se
fazerem tantos e tão injustos cativeiros, com a capa de os resgatar. Como porém
esta proibição afetava a ganância dos portugueses que a praticavam e de tanto
pedirem, instarem e alegarem que tornaram a conseguir a Tropa de Resgates.
Porém como as injustiças subiam a Corte, depois de várias vezes proibida e
conseguida, finalmente em 1750 o rei de Portugal a proibiu de todo, e para
decisão vários casos a motivaram.
Um motivo foi que chegaram a tanto excesso estas capturas de índios que, não se
contentando em capturar índios em domínios de Portugal, se lançaram nos domínios
de Espanha onde entraram numa aldeia e nela capturaram alguns índios. E não foi
só uma, mas várias vezes.
Por estes insultos se viram obrigados os missionários espanhóis a dar conta ao
rei de Espanha que comunicou o fato ao rei de Portugal.
Outro caso foi, que aportando ao Pará um cidadão, com a sua canoa cheia de peças
(índios) feitas como temos referido, e fora da área onde vigiam as leis de
resgate. Em que pese isto pediu o referido cidadão que fossem admitidos aos
costumados exames os índios que capturara. Foi-lhe negado pelo Governo. Mas
foram remetidos os índios ao Colégio dos Jesuítas para os examinar. E os padres
da Companhia de Jesus disseram claramente que aqueles índios não deviam ser
sujeitos ao exame, por serem já forros pelas mesmas leis. E os remeteram a outra
religião, onde foram examinados e declarados por escravos.
Estes, e muitos outros tiranos insultos, motivaram a total proibição da Tropa
dos Resgates em 1750, depois de terem saído só do Rio Negro perto de três
milhões de índios escravos, como consta dos registros, os quais vendidos em
praça pública se repartiam pelos moradores.
Basta dizer que havia particulares, que possuíam acima de mil escravos; e outros
tinham tantos que não lhes sabiam os nomes; além de muitos que eram repartidos e
distribuídos para a Comarca do Maranhão. E de lá, talvez, comprados pelos
mineiros se distribuíam por todo o Brasil e Minas.
Disse que só do Rio Negro pela Tropa de Resgates saíram perto de três milhões.
Mas fora estes foram inumeráveis os índios, que por violência dos moradores
foram feitos escravos. E isto na ocasião de irem ao Sertão a colher cacau e mais
riquezas de que abundam aqueles matos. Assim também aprisionavam índios.
E porquanto não podiam no retorno passar as fortalezas, sob pena de que lhe
serem confiscadas as canoas com todas as pessoas e cargas, além de outras penas,
às vezes subornavam os comandantes para os deixarem passar em paz.
Outras vezes passavam furtivamente pela outra margem do rio, à noite sem serem
sentidos, e sem aportarem em Belém os vendiam aos mais moradores.
De tantas injustiças se seguiram muitas outras desordens. O pior que todas as
consciências pesadas com que os moradores se sentiam exigia um grande e eficaz
remédio, com que se compusessem as consciências dos maus possuidores, e se
aliviasse a opressão dos índios, dos quais se alguns fossem verdadeiros
escravos, outros não o eram. E discerni-los era moralmente impossível“!
A Abolição da escravatura indígena no Brasil em 1750
A seguir a abordagem da abolição da escravatura em 1750, tarefa na qual muito se
empenharia o Capitão General do Grão Pará Mendonça Furtado, irmão do Marquês de
Pombal, como se verá na Parte Terceira e ocorrido 118 anos da Abolição da
Escravatura no Brasil.
“Atendendo a estas e outras razões o rei de Portugal, por desencargo da sua
consciência, baixou lei no ano de 1750, em que proibiu totalmente a escravidão
dos índios, e os restituiu a sua liberdade, como em 1680 se tinha decretado,
ainda que sem efeito, por reclamarem os cidadãos tão apaixonados pelas
escravidões dos infelizes índios, que chegaram por duas vezes a expulsar daquele
estado aos jesuítas, por acudirem os índios contra as injustiças dos brancos.
Publicou-se também a Lei das Liberdades em 1757, com a qual de uma vez, com um
só golpe, o rei de Portugal D. José I rompeu tantos grilhões quantos eram os
cativos.
E pôs um fim a inumeráveis desordens, exorbitantes injustiças e horrendos
insultos de tantos anos, como já havia feito nos seus domínios o rei de Espanha.
Iniciativa digna de uma e outra Coroa!
Com a vigilância dos magistrados e providências dos ministros, com mais razão os
índios do Amazonas e da América, viverão as leis da natureza, sem Deus, sem Lei,
e sem Rei, conforme a vontade de cada um.
General Pedro Teixeira (1570-1641)- O conquistador da Amazônia
Neste capítulo, talvez possamos contribuir com a mais completa síntese
biográfica do, em realidade, Marquês de Aquella Branca e General de Estado Pedro
Teixeira, que passou à História como Capitão Pedro Teixeira, o Conquistador da
Amazônia.
Nosso herói nasceu em Cantanhede, distrito de Coimbra, Portugal, sendo de nobre
ascendência. Era Cavaleiro da Ordem de Cristo e Moço Fidalgo da Casa Real.
Casou com D. Ana Cunha, filha do Sargento-Maior Diogo de Campos Moreno, na
localidade de Praia, nos Açores.
Chegou ao Brasil com 37 anos, em 1607, contribuindo para a expulsão dos
franceses do Maranhão, onde se tornou notável por sua intrepidez.
Em 19 de novembro de 1614, defendeu do ataque dos franceses, em Guaxinguba, no
Maranhão, o Forte da Natividade.
Integrou a expedição comandada pelo Capitão Francisco Caldeira Castello Branco,
que deixou São Luiz no Natal de 1615, via marítima, para fundar Belém, aonde
chegou depois de 18 dias de viagem.
Em 7 de março de 1616, a expedição foi enviada por terra a São Luiz, com alguns
soldados e índios para, entre outras missões, levar notícias da fundação de
Belém, retornando via marítima com reforços.
Em 7 de agosto de 1616, o agora Tenente Pedro Teixeira foi escalado para punir
um barco holandês. Sua força punitiva foi constituída pelo Alferes Gaspar de
Freitas Macedo, 20 soldados e muitos guerreiros tupinambás.
Em 9 de agosto atacou o navio, sendo ferido em ação, mas o incendiou e se
apossou da sua Artilharia.
Por esse feito foi promovido a capitão em 28 de agosto de 1618, aos 48 anos.
Com a deposição do Capitão Castello Branco e sua conseqüente prisão, situação em
que veio a falecer, houve uma revolta em Belém. Os tupinambás, então, resolveram
atacar o forte do Castelo, sendo acalmados os ânimos com um tiro do Capitão
Gaspar Fragoso o qual atingiu o cacique Cabelo de Velha.
Para cobrir o vácuo deixado pela ausência de comando, foi constituída uma Junta
Governativa de 3 membros a qual, em 1620, ficou reduzida ao Capitão Pedro
Teixeira.
Em 1622, Pedro Teixeira recebeu a missão de construir uma estrada ligando o Pará
ao Maranhão, iniciando em Ourém em direção a Viana, no Maranhão.
Em 1625, chefiou expedição ao rio Xingu para lá destruir o forte Mandiutuba,
construído pelos holandeses. Com 50 soldados e 700 índios guerreiros atacou o
forte liderado pelo Capitão Nikolaus Ondaen e o conquistou, em que pese a tenaz
resistência dos defensores.
Em 1625 recebeu a missão de expulsar os ingleses do Forte Torrego. E em 24 de
outubro conquistou o forte, perecendo nessa ação o comandante inglês do forte.
Em 10 de julho de 1632, para vingar seu colega, chegou ao Amazonas, com dois
navios, o Capitão Roberto North, que atacou o Forte de Gurupá, onde se
encontrava o Capitão Pedro Teixeira.
O Forte foi atacado, mas o Capitão North foi derrotado e obrigado a se retirar
para a margem esquerda do Amazonas para procurar local para outro forte.
Com a notícia chegada a Belém da presença espanhola no Alto Amazonas, o Capitão
General do Grão-Pará decidiu conquistar a maior parte da Bacia Amazônica.
Incumbiu dessa missão o Capitão Pedro Teixeira, aos 66 anos de idade, que então
recebeu a patente de Capitão-Mor e General de Estado, com plenos poderes para
levar a efeito sua missão.
O General Pedro Teixeira nomeou os seguintes militares para integrar a sua
expedição: Cel Bento Rodrigues de Oliveira, pernambucano (como sub-comandante);
Capitão Pedro da Costa Favela (cartógrafo); Capitão Bento da Costa (Piloto-Mor);
Capitão Antônio de Azambuja (Mestre de Campo); Felipe de Matos Cotrim
(Sargento-Mor); Capitães de Infantaria Pedro Baião de Abreu e Inácio de Gusmão;
Alferes Fernão Mendes Gago, Bartholomeu Dias de Matos e Antônio de Oliveira,
Maurício de Heliaste (Ajudante); Sargentos Diogo Rodrigues e Domingos Gonçalves;
Manuel de Matos Oliveira (Almoxarife), João Gomes de Andrade (Escrivão) e
Agostinho das Chagas.
Fizeram parte da expedição seis soldados espanhóis que haviam descido o Amazonas
e agora regressavam como guias.
A expedição era constituída de 70 canoas das quais 45 eram grandes, com 20
remadores cada. O efetivo militar era constituído por 70 soldados e 1200 índios
guerreiros e flecheiros que eram acompanhados por mulheres e filhos, o que
elevava o total para cerca de 2.000 pessoas. É difícil conceber que cada canoa
transportasse 29 pessoas (2.000:70 = 29 pessoas). Se foi esta a quantidade,
seguramente os índios em grande parte viajaram em outras canoas.
Pedro Teixeira deixou Gurupá em 28 de outubro de 1637 e chegou à foz do rio Napo
em 3 de julho de 1638, depois de cerca de oito meses de viagem.
Dali viajou ora a cavalo, ora no lombo de mula, ora a pé. No dia 10 de novembro
de 1638, depois de um ano do início de sua viagem, foi recebido em audiência
pelo Governador em Quito.
No dia 16 de fevereiro de 1639, depois de cerca de três meses de permanência em
Quito, Pedro Teixeira deu início à viagem de retorno.
Em 15 de agosto de 1639, à margem esquerda do rio Aguarico (atual rio do Ouro),
tomou posse da Amazônia daquele ponto para o leste em nome do rei comum de
Espanha e Portugal e da coroa lusitana.
E ali plantou um marco e um povoado a que chamou de Franciscana, em homenagem a
2 padres franciscanos mortos pelos índios Los Encabelados.
O ato de posse foi registrado no dia seguinte pelo Escrivão da Expedição.
Pedro Teixeira chegou a Belém em 12 de dezembro de 1639, depois de,
aproximadamente, 10 meses de viagem de retorno e 2 anos e 2 meses de ali haver
partido.
Desde então, a atual Amazônia Brasileira passou a ser legítimo domínio de
Portugal, reconhecido mais tarde pelos tratados de Madrid de 1750 e confirmado
pelo Tratado de Santo Ildefonso de 1777. A partir de 1822, passou a ser domínio
do Brasil.
Em 28 de fevereiro de 1640, o General Pedro Teixeira assumiu as funções de
Capitão-Mor do Pará.
Neste período recebeu do rei Felipe IV de Portugal e Espanha o título de Marquês
de Aquella Branca.
Em novembro de 1640 foi nomeado Governador do Pará, situação que o alcançou
quando da separação, em 1 de dezembro de 1640, dos reinos de Espanha e Portugal,
ao qual ele acresceu a imensa Amazônia Brasileira, fato assim interpretado pelo
historiador Almirante Max Justo Guedes:
“A expedição fluvial de Pedro Teixeira é sem dúvida o segundo maior feito da
nossa História”.
Não foi possível realizar seu sonho de retornar à sua Cantanhede, em Portugal,
de onde saíra há 34 anos, pois faleceu em 6 de junho de 1641, com 71 anos, tendo
sido sepultado na atual Catedral de Belém.
Seu feito épico de conquista da Amazônia Brasileira aos 69 anos cresce em
projeção a cada dia que passa, em especial o desafio logístico vencido de
sustentar, durante 2 anos, essa enorme expedição navegando pelo Amazonas.
Essas dificuldades poderão ser apreciadas e avaliadas neste trabalho ao ser
abordada a viagem do Capitão General Mendonça Furtado de Belém a Barcelos, em
1754, mais de um século mais tarde.
Se não tivesse acontecido essa feliz e oportuna expedição rio acima, seguramente
ela teria sido feita por espanhóis rio abaixo, e a atual Amazônia Brasileira
teria sido conquistada para a Espanha. O exemplo dessa “facilidade” rio abaixo
foi a chegada de seis soldados espanhóis a Belém os quais o General Pedro
Teixeira levou de volta como guias.
A nacionalidade brasileira tem agradecido e imortalizado, de diversas formas, o
feito extraordinário do General Pedro Teixeira e Marquês de Aquella Branca.
Por ocasião da inauguração da Rodovia Pedro Teixeira, São Luiz - Belém, em 1973,
como membro da Comissão de História do Estado-Maior do Exército fomos honrados
pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) com o pedido de
elaborar a plaqueta A conquista da Amazônia, focalizando a saga do Capitão Pedro
Teixeira, que foi distribuída amplamente no local da cerimônia inaugural.
Pedro Teixeira já fora homenageado em nota de cinco reais. Um barco de nossa
Marinha de Guerra da Frotilha do Rio Amazonas recebeu o seu nome. Em 1966, nos
350 anos de fundação de Belém, a cidade ganhou sua estátua. Os pintores Antônio
Parreiras e J. M. Machado imortalizaram a sua Conquista da Amazônia em óleos no
Museu do Pará e no Ipiranga, em São Paulo. Humberto de Campos cantou seus feitos
no soneto Os descobridores.
O Exército o homenageou dando seu nome como denominação histórica do Batalhão da
Selva, sediado em Manaus.
Talvez seja muito pouco para celebrar a sua glória, que cresce de projeção a
cada dia que passa, aqui no Brasil.
No Restelo, em Lisboa existe rua com o seu nome por empenho do historiador
brasileiro Leandro Tocantins, grande estudioso da Amazônia. Existe em
Cantanhede, terra natal de Pedro Teixeira, um largo com o seu nome e sua
estátua.
Outras referências à ação do herói constam de nossa plaqueta A conquista da
Amazônia.
4 - A FUNDAÇÃO DE BELÉM EM 1616, COM O FORTE DO CASTELO OU DO PRESÉPIO
Em 1616, depois de Portugal haver expulsado os franceses do Maranhão, Francisco
Caldeira Castelo Branco foi nomeado Capitão-Mor para a conquista do Grão-Pará
(atual Amazônia Brasileira). O perfil desse militar foi traçado por Ernesto Cruz
em sua História de Belém.v.1.
Ele viajou para o estuário do Amazonas e, na baía de Guajará, levantou um forte
a que chamou Presépio (1616).
A partir daí, foi que se lançaram os militares luso-brasileiros à conquista do
território, assumindo relevo, desde o início, os trabalhos de exploração e
defesa da imensa calha fluvial contra intrusos estrangeiros e índios da região
que se opunham à presença do branco.
Pouco depois surgiu o forte de Gurupá, construído sobre as ruínas de um fortim
holandês, em ponto de alta expressão estratégica militar, o qual se constituiria
na base de exploração, expansão e conquista do rio Amazonas e seus afluentes.
O forte do Presépio passou a ser a base avançada das iniciativas lusitanas no
interior da Bacia Amazônica.
Por ordem de Felipe IV, rei de Espanha e de Portugal, desde 1621 fora atribuída
a Portugal a obra de conquista e povoamento da costa paraense e adjacências,
como já mencionado.
O jovem Alferes Pedro Teixeira, herói consagrado nas lutas que culminaram com a
expulsão dos franceses do Maranhão, liderados por La Ravardiére, participou da
expedição militar que fundou, em 1616, o Forte do Presépio, origem da cidade de
Belém.
Ele recebeu do Capitão Castelo Branco, fundador de Belém, ordem de atingir por
terra, São Luís, com as seguintes missões:
- Explorar e balizar um caminho terrestre ligando as bases militares
luso-brasileiras de São Luís e Belém, para garantir apoio terrestre militar
mútuo entre os dois pontos fortes, uma vez que a rota marítima era vulnerável a
ataques de barcos ingleses e das fortificações em suas feitorias, estabelecidas
no canal norte do estuário do Amazonas (em Macapá atual).
- Levar notícias a Alexandre de Moura, Conquistador do Maranhão, do êxito da
expedição militar combinada, marítima e terrestre, fundadora de Belém e de Feliz
Luzitânia, de onde se irradiaria a exploração luso-espanhola para o oeste e
norte de seus domínios sobre a Amazônia Brasileira.
- Obter e transportar, por mar, reforços militares para consolidar militarmente
o Forte do Presépio ou Castelo, ameaçado de destruição por índios tupinambás
hostis, e para uma ofensiva visando a destruir feitorias e fortificações
inglesas, holandesas e irlandesas estabelecidas no canal norte do estuário
(Amapá), ferindo a soberania luso-espanhola na região.
Pedro Teixeira deixou Belém em 4 de março de 1616, acompanhado por uma pequena
escolta de soldados e um grupo de índios amigos.
Atingiu São Luís, após dois meses de penosa jornada por terras nunca antes
percorridas pelo homem branco e povoadas de índios bravios.
Entre os vales dos rios Guamá e Gurupi foi atacado por índios tupinambás.
Venceu-os, submetendo-os a obediência, criando, temporariamente, condições de
segurança para a importante ligação militar estratégica terrestre que
estabeleceu.
Foi recebido como herói em São Luís e muito festejado pelas autoridades e pelo
povo por seu brilhante e ousado feito.
Retornou a Belém por água. Levou preciosos reforços: 80 arcabuzeiros,
equipamento bélico e uniformes para as missões de consolidação de Belém e
ofensiva contra o invasor estrangeiro da Feliz Luzitânia, domínio das coroas
unidas de Espanha e Portugal.
Com a feliz e bem-sucedida aventura de ligação terrestre Belém–São Luiz, Pedro
Teixeira abriu, com página de ouro, as suas brilhantes folhas de excepcionais
serviços militares que prestou , durante mais de 25 anos, às causas das
conquistas do Maranhão e da Amazônia Brasileira. Além disso, manteve a
integridade e a soberania luso-brasileira naquelas paragens, sob séria ameaça de
ingleses, irlandeses, holandeses e franceses protestantes, “os hereges”, para o
espanhóis e portugueses católicos atraídos para o Brasil depois da União das
Coroas de Portugal e Espanha, em 1580, sob Felipe II da Espanha.
5 - A LUTA ARMADA PARA EXPULSAR “HEREGES” DO DELTA E DO BAIXO AMAZONAS
O conflito Protestantes x Católicos motivou muito a expulsão dos estrangeiros do
delta e baixo Amazonas.
Para os soldados luso-brasileiros significava servir ao ideal político de
Portugal de Dilatar a Fé Católica e o Império português, numa parceria da Cruz e
da Espada, símbolos dos religiosos e dos militares.
Nessa cruzada sagrada se assinalaram, além de Pedro Teixeira, o conquistador da
Amazônia, os militares Bento Manoel Parente, Pedro Baião de Abreu, Jerônimo
Fragoso de Albuquerque, Luiz Aranha, Ayres Chichorro, Francisco de Medina, Pedro
da Costa Favela, Jerônimo de Albuquerque, Jácome Raimundo de Noronha, Feliciano
Coelho e Sebastião de Azevedo, os quais, combatendo com garra e determinação,
derrotaram os intrusos “hereges“ e seus aliados índios e fiéis a este pensamento
militar português já referido:
“Julgada a causa justa, pedir proteção de Deus e atuar ofensivamente mesmo em
inferioridade de meios”.
Combater o “herege“ para eles, naquelas circunstâncias, era causa justa.
Nessa luta contra os “hereges”, destacou-se o Frei Antônio de Marciana,
liderando Franciscanos da Província de Santo Antônio, o qual, por suas ações na
liderança de índios, por estes foi ajudado a combater e expulsar o ”herege” do
vale amazônico.
6 - UM EXEMPLO DA LUTA DE PEDRO TEIXEIRA CONTRA HOLANDESES NA FOZ E VALE DO
XINGU
A bravura e o valor militar de Pedro Teixeira podem ser demonstrados no seguinte
episódio:
Em 7 de agosto de 1617, ele partiu de Belém chefiando duas canoas armadas para
enfrentar um barco de guerra holandês que bordejava próximo à foz do Xingu,
distante três dias de Belém.
Ao defrontar com o barco inimigo, teve lugar singular combate naval. Pedro
Teixeira e sua tropa foram repelidos num primeiro embate pelos canhões da
embarcação holandesa. Mas não esmoreceu e retornou mais tarde, usando o seguinte
ardil: penetrou com suas canoas no ângulo morto dos canhões inimigos. A seguir,
abordou o barco holandês e travou violento corpo-a-corpo com sua guarnição.
Ferido em ação, retirou-se após haver incendiado o barco inimigo, fazendo-o
naufragar. Mais tarde retornou ao local e chefiou a retirada, do fundo do rio,
dos canhões do barco submergido. Transportou-os para Belém, onde foram reforçar
as defesas do Forte do Castello, monumento hoje testemunha muda de suas façanhas
que deve, por um imperativo cívico, ser preservado de destruição ou
descaracterização como relicário nacional, de igual forma que os Montes
Guararapes, onde despertaria, sete anos após a morte desse valoroso soldado, o
espírito da Nacionalidade e de Exército Brasileiro que ele ajudou a alicerçar.
Foi obra militar sob o seu comando a destruição das fortificações e feitorias
holandesas estabelecidas à margem direita do Amazonas: Forte Mariocay
(substituído em 1623 pelo Forte português de Santo Antônio do Gurupá), Forte
Mantiutuba, próximo à foz do Xingu, e as colônias ou feitorias de Orange e
Nassau, no Vale do Xingu.
De 1616 a 1631, durante 15 anos, seu nome foi legenda, no estuário e no baixo
Amazonas, na luta contra o intruso estrangeiro “herege” e contra os índios
tupinambás hostis.
Chefiou ou participou de diversas operações militares para arrasar feitorias e
fortificações holandesas, inglesas e irlandesas: no atual Amapá, no canal do
norte do Estuário, os Fortes Torrego (Foz do Marabá), o Felipe (defronte a
Macapá) e feitorias ou colônias Uari-Miuacá e Tilletille (vale do Cajari), além
de três fortins na ilha de Gurupá.
Por outro lado, destacou-se nas lutas para reduzir e pacificar índios tupinambás
que ameaçaram deitar por terra a conquista portuguesa de Belém e de outros
pontos fortes litorâneos, entre Belém e São Luís, como Cumã e Caités.
7 - A CONQUISTA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA POR PEDRO TEIXEIRA
Pedro Teixeira consagrou-se como explorador e conquistador da Amazônia
Brasileira.
Em 1626 e 1628, chefiou Tropas de Resgates (captura de índios para escravizar)
em expedições militares, nos vales dos rios Tapajós e Negro.
De 1637 a 1639, como general de Estado, realizou sua grande epopéia que o
consagraria com o merecido título de Conquistador da Amazônia Brasileira.
Recebeu a missão de chefiar uma grande expedição de conquista da Amazônia, que
foi inspirada e ordenada por Jácome de Noronha, Governador do Estado do Maranhão
e Grão-Pará, criado, em 1621, desvinculado do restante do Brasil Colônia.
Essa ordem sofreu forte reação popular e das Câmaras do Senado e de Belém e São
Luís. Nessa altura Portugal já tramava sua independência de Espanha com o
conseqüente rompimento da União das Coroas Ibéricas.
E Jácome de Noronha, herói intrépido das lutas, para firmar a Soberania Ibérica
no estuário do grande rio, procurou antecipar-se à Espanha na conquista efetiva
da Amazônia, embora correndo o risco de desamparar seu estado aos holandeses em
franco expansionismo, a partir do Recife, sob a direção de Maurício de Nassau.
Jácome de Noronha teve de convencer a população de que a expedição era
fundamental para conquistar-se a amizade dos índios do Amazonas, que se
encarregariam de bloquear o acesso holandês, pelo rio, às ricas minas de Potosi,
no Peru.
O Capitão Pedro Teixeira chegou a Belém em 25 de julho de 1637. Em 28 de outubro
partiu de Cametá, à margem esquerda do Tocantins, para sua ousada aventura de
mais de dois anos, de tão grande projeção nos destinos do Brasil e da Amazônia
Brasileira.
Subiu o rio na chefia da Expedição composta de 9 oficiais, 2 sargentos, 1
almoxarife, 1 escrivão, 70 soldados e 300 índios flecheiros e remeiros, todos
embarcados em 45 canoas.
Teve como piloto e subcomandante o caboclo pernambucano Coronel Bento Rodrigues
de Oliveira, o primeiro a atingir Quito, o precursor da expedição e o autor da
Carta Hidrográfica do Amazonas, levantada na ocasião e norteadora da posterior
ocupação efetiva do vale do Amazonas por valorosos e intrépidos soldados,
missionários e sertanistas luso-brasileiros, aos quais tanto estão a dever as
atuais e futuras gerações de brasileiros.
A expedição atingiu Quito após um ano de viagem. Foi recebida com festas e
demonstrações de reconhecimento ao grande feito de Portugal.
Aos índios do Coronel Bento foi permitido abaterem, a flechadas, os touros
utilizados numa tourada realizada em homenagem aos componentes da Vanguarda da
Expedição.
De retorno, na confluência do rio Aguarico com o Napo, junto à atual fronteira
Peru- Equador, Pedro Teixeira, após travar combate, vencer e reduzir os índios
Encabelados que destruíram grande parte de suas canoas, fundou o povoado
luso-brasileiro, a Franciscana, distante 1.200 léguas de Belém, para assinalar
os limites das coroas de Portugal e Espanha, desde 1580 unidos sob a cabeça do
rei da Espanha.
Em 16 de agosto de 1639, em gesto solene, em presença de militares da Expedição
e de religiosos espanhóis, Pedro Teixeira, após apanhar um punhado de terra, a
lançá-lo ao ar, proferiu em altas vozes estas palavras de tão grande projeção
nas dimensões continentais do Brasil e nos destinos de grandeza, sob Deus, da
Nacionalidade Brasileira:
“Tomo posse destas terras, pela Coroa de Portugal, em nome do Rei Felipe IV,
nosso senhor, Rei de Portugal e Espanha. E se houver entre os presentes alguém
que a contradiga ou a embargue que o escrivão da expedição o registre, pois,
presentes, por ordem da real audiência de Quito, encontram-se religiosos da
Companhia de Jesus…”
O escrivão lavrou o Termo de Posse, que foi assinado por todos os oficiais e
graduados da Expedição. Esse termo, ao retornarem a Belém, foi transcrito nos
livros da Provedoria e Câmara do Senado de Belém, e mais tarde serviria de
primeiro argumento para o Tratado de Madrid de 1750, o qual tornou sem efeito o
Meridiano das Tordesilhas, Belém–Laguna em Santa Catarina, confirmando a
conquista luso-brasileira da atual Amazônia Brasileira, realizada por Pedro
Teixeira e seus bravos expedicionários.
Pouco depois do retorno da expedição a Belém, Portugal tornou-se independente da
Espanha e tomou posse de uma Colônia Continente graças a essa expedição e à de
outros bandeirantes, como Raposo Tavares, “o herói de todas as distâncias”, que
atingiu Belém 11 anos após a expedição de Pedro Teixeira, descendo o rio
Amazonas pelo Madeira, proveniente de São Paulo.
O General Pedro Teixeira foi nomeado Capitão-Mor do Grão-Pará, função
equivalente, hoje, à de Comandante Militar da Amazônia. Demitiu-se dessa função
pouco antes de sua morte em Belém, em 1641, vítima de rápida e insidiosa
moléstia.
Na ocasião, preparava-se para viajar a Lisboa, profundamente desgostoso com as
atitudes do Governador do Maranhão, Bento Maciel Parente, que somente denotava
preocupação em resguardar seus interesses particulares contra os holandeses, ou
seja, a defesa da capitania da qual era donatário, o atual Amapá, onde
concentrou o grosso das tropas disponíveis, em detrimento das defesas do Pará e
Maranhão.
Este foi invadido e conquistado pelos holandeses em 25 de novembro de 1641,
graças a um ardil.
O governador Bento Maciel Parente foi preso e exilado no Rio Grande do Norte.
Pouco após, o Grão-Pará recebeu um Capitão-Mor à altura do General Pedro
Teixeira. Tratava-se de Jerônimo de Albuquerque, o herói da resistência do forte
do Rio Formoso, em Pernambuco, em 7 de Fevereiro de 1631, onde escrevera uma das
mais belas e épicas páginas de História Militar Terrestre do Brasil.
Este bravo encontra-se sepultado em Belém, na Igreja de N. S. do Carmo.
Teve destacada atuação na libertação do Maranhão do jugo holandês, em 28 Fev de
1645.
O General e Marquês de Aquella Blanca Pedro Teixeira foi sepultado na Catedral
Metropolitana de Belém, na entrada do rio Amazonas, “O Príncipe dos rios do
Mundo”, que fora o cenário de suas glórias. Ele teve o privilégio de ser o
primeiro luso-brasileiro a percorrê-lo oficialmente e a desvendar seus encantos,
mistérios e riquezas.
Pedro Teixeira foi fidelíssimo ao ideal político português – “Dilatar a Fé
católica e o Império” e, na Amazônia, ao pensamento militar decorrente, assim
sintetizado, de modo muito feliz, pelo consagrado historiador militar
brasileiro, General F. de Paula Cidade, Comandante da 8ª RM durante a Segunda
Guerra Mundial:
Julgada a causa justa, pedir proteção divina e atuar ofensivamente, mesmo em
inferioridade de meios.
Anete da Costa Ferreira, filha de Belém, acaba de publicar em Portugal, A
Expedição de Pedro Teixeira–A sua importância para Portugal e o futuro da
Amazônia. Lisboa: Esquilo,2.000. (A autora é correspondente em Portugal do
jornal a Província do Pará e é Relações Públicas do Grupo Eurobrape). Seu livro
foi enviado a AHIMTB pelo seu correspondente em Portugal Antônio Sucena do Carmo
e serviu para atualizarmos a síntese biográfica de Pedro Teixeira.
Foi por certo pensando na obra de homens da dimensão de Pedro Teixeira que
Joaquim Nabuco afirmou, com grande autoridade, certa feita:
“Nada da conquista de Portugal é mais extraordinário do que a conquista da
Amazônia”.
Na saga de construção do Brasil de nossos filhos e netos, nada é mais grandioso,
épico e comovente do que a batalha para a integração e o desenvolvimento
sustentável da Amazônia, sob inspiração e proteção de Deus.
Tal batalha vem sendo travada há mais de três séculos e meio (363 anos) por
luso-brasileiros e, depois, brasileiros civis e militares, com comovente
determinação, audácia e patriotismo, para vencerem, com soluções brasileiras, os
desafios amazônicos, o Desafio Brasileiro do III Milênio, onde se destaca a
preservação da Soberania Brasileira sobre a Amazônia, com seu desenvolvimento
sustentável sem destruição da floresta e desamparo de suas populações indígenas.
Batalham com decisão, mas com humildade cristã, face à grandeza dos desafios já
superados pelos luso-brasileiros e, depois, brasileiros que conquistaram a
Amazônia e mantiveram, até nossos dias, a Integridade, a Unidade e a Soberania
do Brasil na área. Cabe aqui buscar inspiração militar nas palavras de dois
lutadores pela Amazônia: o Brigadeiro Lobo d’Almada que demarcou e consolidou a
posse luso-brasileira até 1791, e o General Rodrigo Otávio Jordão Ramos, que na
atualidade estruturou o dispositivo militar terrestre da Amazônia para melhor
apresentar segurança ao seu desenvolvimento sustentável e à sua defesa. Ei-las:
“Eu vou pessoalmente a todas estas expedições na Amazônia. Não sou capaz de
permitir que os que me acompanham passem por trabalho ou perigo algum em que eu
não seja o primeiro a dar-lhes exemplo. E considero que todo sangue que corre a
serviço da Pátria é nobre”.
Brigadeiro Lobo d’Almada
"Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil,
porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la".
General Rodrigo Otávio
Os ”inimigos azuis” da Amazônia - um entendimento
Mas aqui não podem ser esquecidos os maus brasileiros que contribuem para
destruir a Amazônia a serviço de seus interesses pessoais, entre eles os maus
funcionários, os corruptos ou omissos, que fornecem argumentos para a
manipulação da Opinião Pública Mundial no sentido de restringir o conceito de
soberania e de intervir na Amazônia “para salvá-la para a Humanidade”.
Os maus brasileiros fraudam e degradam os princípios de desenvolvimento
sustentável e constituem o que os militares denominam de “inimigo azul“, que
atua em favor do inimigo vermelho e contra os defensores reais e sinceros da
Amazônia.
Assim, o amigo azul tem de enfrentar o “inimigo azul”, seu falso aliado, e o
inimigo vermelho. O “inimigo azul” deve ser caracterizado, denunciado e
combatido com tolerância zero e não somente o inimigo vermelho, que se serve das
ações negativas do “inimigo azul” a serviço de suas teses de internacionalização
da Amazônia, limitação de soberania, etc.
A maioria dos que defendem a Amazônia da ambição estrangeira, embora caracterize
e denuncie o “inimigo azul”, não o condena, limitando seus protestos contra o
inimigo vermelho, que se fortalece em suas teses com os desmandos do “inimigo
azul”. Vale pensar nisto!
Para o geopolítico e historiador brasileiro, General Carlos de Meira Mattos,
acadêmico emérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, Arnold
Toynbee, o autor do mais completo estudo das civilizações em Study of História é
o criador da Teoria do Desafio e da Resposta, assim sintetizada:
“A Geografia condiciona, justifica, dificulta, sugere, inspira, estimula e
apresenta o Desafio. Compete ao Homem responder a este Desafio. Ou ele responde
e vence o Desafio, ou não responde ao Desafio e é derrotado”.
Acreditamos que grande parte desse desafio na Amazônia resida no “inimigo azul”,
que estimula, com suas ações impatrióticas, as ambições do inimigo vermelho.
Antes do combate ao inimigo vermelho, devem os brasileiros, com tolerância zero,
denunciar, caracterizar e combater o “inimigo azul”.
Ao longo deste trabalho chamo a atenção do leitor para o fato de que foi por
ocasião de nossas lutas internas e externas que o estrangeiro tirou proveito
para exercer suas pressões a serviço de seus interesses. Observem com atenção,
em especial, o período regencial! Fiquem atentos ao detalhe!
8 - A EXPLORAÇÃO DA AMAZÔNIA POR RAPOSO TAVARES EM 1648
Por volta de 1648, o bandeirante Raposo Tavares saiu de São Paulo, desceu o
Tietê e atingiu o rio Paraguai. De suas cabeceiras atingiu as do rio Guaporé e
desceu por ele, pelo rio Madeira e pelo Amazonas e atingiu Gurupá, de onde
retornou para São Paulo. Sua expedição desbravadora, constituída de 60 brancos e
alguns índios, durou cerca de 3 anos.
A presença de paulistas na Amazônia, à cata de ouro nos rios Tapajós, Madeira e
Tocantins e em lutas contra índios no vale do rio Branco é abordada pela RIHGB,
v.175, 1940, p. 217/330.
9 - O COMBATE AOS CABOQUENAS E A FUNDAÇÃO DE AIRÃO EM 1663
O Sargento-Mor Antônio Arnau de Vilela, por ordem do governador do Pará, Rui Vaz
de Siqueira, partiu, em 1663, em operação de resgate (captura de índios para
usar como escravos). Atingida a foz do rio Urubu, nas proximidades da Missão do
Saracá, foi ludibriado pelos índios caboquenas, caindo a expedição numa
emboscada que a dizimou, morrendo inclusive o próprio comandante.
Os sobreviventes regressaram em fuga para a Missão do Saracá, onde se encontrava
o Alferes João Rodrigues Palheta. Este mobilizou os recursos disponíveis a fim
de alcançar os Caboquenas, que foram duramente castigados. Ante o perigo de
índios sublevados, resolveu o governador enviar nova força para submetê-los.
Coube o comando ao pernambucano Capitão Pedro da Costa Favela, que se deslocou,
em 6 de setembro de 1663, com grande efetivo, em 34 canoas, chegando dois meses
depois à boca do rio Urubu.
A partir desse ponto, Favela deu início às buscas, batendo a selva, até chegar
ao contato com os indígenas, que, acossados, foram dispersos.
O comandante Airão foi enviado ao rio Urubu, agora por ordem do novo governador,
Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho. Com a tropa vinha frei Teodósio da
Veiga, que ajudou a fundar, nas imediações de Aruim, o primeiro povoado da
região.
O núcleo, mais tarde transferido para perto da foz do Jaú, sob a invocação de
Santos Elias, hoje é a localidade de Airão.
Nessa tarefa, guiado pelos Aroquis, o comandante Airão atingiu a barra do rio
Negro, onde os Tarumãs o acolheram amistosamente.
De regresso ao Pará, em vista das informações que Favela pôde fornecer sobre a
região, resolveu o governador mandar guarnecer a embocadura daquele rio.
Com essa medida ficaria assegurado o domínio português na área e estabelecida,
para os sertanistas, uma base de apoio.
10 - A FUNDAÇÃO DE MANAUS EM 1663 COM O FORTE SÃO JOSÉ DO RIO NEGRO
Designado para o desempenho da missão, veio, ainda nesse ano, o Capitão
Francisco da Mota Falcão para fortificar a embocadura do rio Negro.
O forte foi levantado sobre um outeiro, três léguas acima da confluência do
Negro com o Solimões. O fortim, uma obra leve, recebeu o nome de São José do Rio
Negro e foi artilhado com quatro canhões.
Em torno da nova praça de guerra instalaram-se, desde logo, algumas famílias de
índios Baré, Baníuas e Passés, que deram origem à primeira povoação do Lugar da
Barra, núcleo de que se originou a cidade de Manaus.
Com o entrelaçamento de índios com civilizados, o povoamento alcançou a margem
esquerda do Canaburi, de modo que, ao findar o século XVIII, os portugueses
dispunham, além do fortim de São José do Rio Negro, dos povoados adjacentes ao
forte Canuburi, das aldeias dos Tarumãs e do lago de Saracá.
11 - FORTIFICAÇÕES, COLÔNIAS MILITARES E PELOTÕES DE FRONTEIRA
No decorrer do período colonial, a Amazônia permaneceria fechada aos
estrangeiros. Tal medida foi alcançada pelo estabelecimento de um sistema de
fortificações que visava a impedir o contrabando, a exploração de recursos
naturais e também a instalação de fortes ou vilas por intrusos de outros países.
No vale do rio Negro, pelo certo e pelo não, por temor de espionagem foi barrada
a entrada, vindo da Venezuela, do grande cientista Alexandre de Humboldt. Na
época era difícil identificar o grande cientista e comunicar-se com Manaus para
a sua liberação.
Projeção limitada das fortificações da Amazônia
Os bravos e intrépidos soldados luso-brasileiros, depois brasileiros,
que guarneceram por quase dois séculos o complexo defensivo da Amazônia
Brasileira, ao custo de sacrifícios indiscutíveis, hoje esquecidos, mantiveram a
segurança das posições contra ataques de índios e a inviolabilidade da área da
cobiça e de ações colonialistas de nações mais fortes como Holanda, Inglaterra,
França e Estados Unidos, como se verá.
Assim procedendo, e com sucesso, asseguraram a Soberania e a Integridade
brasileiras na área, para que as atuais gerações empreendessem, com determinação
e ousadia, o atual processo de desenvolvimento sustentável da Amazônia – o
desafio brasileiro do 3º Milênio – sob a proteção e inspiração de Deus,
repetimos.
Segundo o mestre Arthur César Ferreira Reis em Fortificações da Amazônia no
Período Colonial (RIHGB nº 344/jul/set,1984,p.217/227):
“O Plano de Fortificações da Amazônia com vistas a assegurar a soberania de
Portugal na área, foi iniciativa em 1695, pelo Rei de Portugal D. Pedro II, ao
ordenar que fosse elaborado um plano regional de Fortificações abrangendo o
Maranhão e a Amazônia”.
Nesse plano deveria constar a situação das fortificações existentes e a
indicação dos locais das que deveriam ser levantadas.
Tal plano foi elaborado e enviado ao rei D. Pedro II pelo grande conhecedor e
fortificador da região, Pedro de Azevedo Carneiro, datado em Lisboa em 30 de
dezembro de 1695.
Pedro de Azevedo Carneiro, em seu relatório, mencionou que as fortificações da
Amazônia, no estuário e baixo Amazonas e no Amapá atual, não dispunham de
Infantaria para guarnecê-las, nem mesmo em Belém, e que não era possível
mobilizar, entre os moradores, 200 homens capazes de pegar em armas.
Solicitava o envio de soldados de Infantaria para guarnecer as fortificações
existentes, bem como de canhões, armas de pederneira, pólvora, projéteis e
alimentos para sustentar os soldados das guarnições. Além disso, solicitava
ordem para o governador do Pará mandar fazer plantações de subsistência e
pesqueiros, com antecipação, para que as guarnições das fortificações não
perecessem de fome, como acontecera com gente enviada das ilhas (Açores), em
razão de os habitantes do Pará produzirem alimentos só para consumo próprio.
Sugeriu que as guarnições dos fortes do atual Amapá, do rio Araguari e do Cumaú
(Macapá) atual, e mais os de Gurupá e do rio Paru, no Pará, fossem reunidos no
forte de Cumaú, de onde sairiam em 4 canoas com soldados de Infantaria, de março
a julho (cerca de 5 meses), para serem deixados em cada uma das 4 fortalezas
para dali fiscalizarem a área e impedirem que franceses, a partir de Caiena,
conquistassem a simpatia dos índios e deles conseguissem informações que
pudessem resultar em dano para Portugal.
O curioso é que alguns fortes como o Paru, o de Tapajós e outros foram
construídos por Francisco Mota, em caráter particular.
Mencionou que o forte do rio Araguari, no Amapá, foi por ele construído
quadrado, em forma de estrela, sendo destinado a conter incursões de franceses
para escravizar índios no vale do Amazonas. Esse forte dissuadira o Governador
de Caiena de assaltá-lo com oficiais, 30 soldados e índios.
Sobre o forte de Paru, com formato de estrela quadrangular, informou que era
guarnecido por 1 tenente, 1 sargento e 6 soldados, além de três canhões, e que
necessitava ser reforçado, pois ali iam ter franceses de Caiena para apresar
índios, ao que parece, fornecidos pelos índios Aricorazes, Urubas, Ariaquis e
Tucujus. Sugeriu uma guarnição de 18 infantes e 2 artilheiros.
Assinalou o forte de Tapajós e indicou a posição atual de Óbidos para ali serem
erigidas duas fortificações, uma na margem esquerda que foi construída na antiga
Tapera dos índios Condurijes, e outra na margem direita, que não foi
concretizada.
Como se constata, era crítica a situação das fortificações da Amazônia em 1695.
Esse sistema tomou grande impulso com o Marquês de Pombal, depois da celebração
dos tratados de Madrid em 1750, e Santo Ildefonso, em 1777.
Ainda segundo o mestre Arthur César Ferreira Reis, os luso-brasileiros
construíram na Amazônia 26 fortificações (Fortalezas, fortes, casas-fortes e
baterias) que balizaram, protegeram as fronteiras e garantiram no interior da
Amazônia a soberania luso-brasileira.
Parte do anel defensivo
Alguns historiadores afirmam que o Forte Joaquim fora erigido em 1719 pelos
portugueses, de forma sumária, servindo, então, de forte argumento para a
incorporação portuguesa do atual território de Roraima, pelo Tratado de Madrid,
em 1750.
Esse tratado confirmou a conquista portuguesa da Amazônia Brasileira, efetuada,
inclusive, pelo General Pedro Teixeira e outros heróis.
Portugal, com a finalidade de proteger a atual Amazônia Brasileira da cobiça
estrangeira e os seus súditos, de ataques de índios locais, como já mencionado,
envolveu-a com um arco de fortes colocados estrategicamente nos principais
acessos fluviais ao rio Amazonas: Forte São Joaquim (vale do rio Branco), fortes
São José de Marabitanas (Cucuí), São Gabriel e de Barcelos ou Forte do Rio Negro
(vale do rio Negro), Forte São Francisco Xavier em Tabatinga (vale do rio
Solimões), fortes de Bragança e Príncipe da Beira (vale do Guaporé) e fortes do
Castelo, de Gurupá e de Macapá (estuário do rio Amazonas).
O arco foi complementado por outros que aprofundavam as defesas da Amazônia de
incursões hostis em seu interior, erigidos nos principais afluentes do Amazonas:
Fortaleza São João da Barra (Manaus), Forte de Santarém dos Tapajós, dos Óbidos,
do Paru, etc.
Fortificações e pressões de intrusos na Amazônia
Vale recordar! A União das Coroas Ibéricas (Espanha e Portugal) de 1580 a 1640
atraiu para o Brasil europeus inimigos da Espanha. Assim, holandeses e ingleses
estabeleceram fortificações na Amazônia que foram conquistadas e destruídas a
partir da construção, por Portugal, do Forte do Presépio, que foi o núcleo
inicial de Belém, a histórica capital do Pará.
Assim, os holandeses construíram em 1599 e 1600, no rio Xingu, os fortes Nassau
e Orange, que foram conquistados por Portugal e destruídos em 1625.
Em 1610, construíram o forte Mariocay, na atual Gurupá, em razão da tribo
Mariocay, que habitava o local, e outro no local onde foi erigida Almeirim, no
vale do rio Paru.
Em 1616, fundaram outra fortificação no baixo Amazonas, entre os rios Gorupatuba
e Jenipapo.
No Amapá atual, na região dos lagos, erigiram uma fortificação que foi tomada e
destruída em 1648 por Sebastião Lucena.
Os ingleses construíram, em 1611, no delta do Amazonas, o forte de Cumaú (15 Km
ao sul de Macapá) e o forte North, ambos no Amapá, os quais, depois de 20 anos
funcionando, foram conquistados e destruídos em 1631 pelo Capitão-Mor Feliciano
Coelho e por Pedro Baião.
Em 1628, os ingleses construíram, na foz do rio Maracapu com o Amazonas, o forte
Torrego, que foi atacado, conquistado e destruído por forte expedição comandada
pelo Capitão Pedro Teixeira e pelo pernambucano Pedro da Costa Favela.
Em 1615, os franceses estabeleceram na ilha defronte a Bragança, no Pará, o
forte Caité.
Mas a forte e objetiva reação militar ofensiva dos luso-brasileiros conseguiu
expulsar todos os estrangeiros que estabeleceram pontos fortificados na
Amazônia, assegurando, assim, a Soberania das Coroas Ibéricas sobre a atual
Amazônia Brasileira.
As ameaças estrangeiras, porém, continuaram e, para defesa da Integridade e da
Soberania de Portugal na Amazônia Brasileira, foram construídas diversas
fortificações, algumas em posições estratégicas nas quais o estrangeiro havia
erigido fortes.
Mereceu prioridade a construção e a melhoria de fortificações no estuário do
Amazonas, em Belém, Macapá e Gurupá atuais, para fechar o livre acesso à atual
Amazônia Brasileira. Por último, foram construídos os fortes de Tabatinga (1769)
e Príncipe da Beira (1778), para que Portugal pudesse controlar o acesso à
Amazônia Brasileira a partir do rio Marañon (Amazonas).
Expulsos do vale do Amazonas, os ingleses, holandeses e franceses se
estabeleceram nas Guianas Inglesa, Holandesa (Suriname) e Francesa, de onde
continuaram pressionando a integridade e a soberania luso-brasileira sobre a
Amazônia.
Mais tarde, a Amazônia colonial e brasileira sofreu pressões dos ingleses no
vale do rio Branco, a partir da Guiana Inglesa, e também no estuário, ao
proporem que os revolucionários cabanos do Pará proclamassem a Independência da
Amazônia, o que foi recusado pelo líder cabano Angelim. Terminaram, porém,
conquistando a região do Pirara, por laudo arbitral do rei da Itália.
Finalmente, em 1876, surrupiaram do Brasil, através de Henry Wickman, enorme
carga de sementes de seringueira, com o rótulo de orquídeas, que, depois de
preparadas em Londres, foram plantadas no Ceilão, anulando o monopólio
brasileiro da borracha e provocando o colapso econômico da Amazônia, do ciclo da
borracha, 1840-1912, que durou 72 anos, época em que a borracha representava
cerca de 40% das exportações do Brasil.
O ciclo da borracha foi iniciado com a descoberta da vulcanização da borracha,
em 1840, e atraiu, em sua esteira, a cobiça de grupos norte-americanos que
tentaram, através do Bolivian Syndicate de Nova York, dominar as fontes de látex
no Acre. Cerca de 20 anos mais tarde, Henry Ford inaugurou na Fordlândia, no
vale do Tapajós, uma plantação de seringueiras, iniciativa que veio a fracassar.
O governo tem procurado superar a estagnação da Amazônia com os projetos SPVEA
(1953), que resultou na SUDAM e SUFRAMA (1966), Plano de Viação Nacional (1973),
projetos PUN, RADAM, LANDSAT, ERTZ, CALHA NORTE, SIVAM/SIPAM, etc.
Esse ciclo foi revivido, por curto espaço de tempo, pelos Soldados da Borracha
na 2a Guerra Mundial, brasileiros que, aos milhares, se internaram na Amazônia
e, na Batalha da Borracha, contraíram doenças tropicais ao extraírem, no coração
da Amazônia, o precioso e estratégico látex, com o qual foram fabricados os
pneus das viaturas e aeronaves aliadas que conseguiram participar da derrota do
nazi-facismo, ajudando, assim, a preservar a Democracia e a Liberdade Mundial.
Mais tarde, o comércio da borracha da Amazônia foi novamente atingido com a
descoberta da borracha sintética.
Vale lembrar que, em 1736, o francês La Condamine ficou encantado com as “bolas
puladoras” feitas de látex, matéria-prima da qual, por volta de 1755, foram
feitas duas roupas que foram presenteadas ao Rei D. José I.
Houve pressões dos franceses, a partir da Guiana Francesa, sobre o Amapá.
Aproveitando a Revolta dos Cabanos no Pará, eles ocuparam o Amapá e sugeriram ao
líder cabano Angelim que separasse o Pará do Brasil, sob a proteção da França.
Mais tarde, em 1861, Napoleão III propôs a venda da Guiana Francesa (incluindo o
Amapá) aos Estados Unidos por 8 milhões de dólares, porém essa transação não foi
efetivada em razão de os Estados Unidos estarem com dificuldades financeiras,
causadas por sua Guerra de Secessão, e preferirem comprar o Alaska.
Em 1816, segundo o Coronel do Exército Aimar Baptista da Silva em artigo
Amazônia IV–Clube Militar, 2.000, p18/19, o Capitão Mathew Fawry, da Marinha dos
EUA, enviou à Secretaria de Estado de seu país, com classificação sigilosa
Ultra–Secreto, o memorando 157-1816 - Desestabilização da Colônia Brasil, onde
fazia a seguinte proposta de redivisão do então Reino Unido do Brasil, depois de
por aqui viajar:
“O Amapá ficaria sujeito a uma possível ocupação pela França.
Marajó e Fernando de Noronha seriam bases navais dos EUA.
Um trecho do Recôncavo baiano seria província autônoma.
O Restante do Nordeste passaria a constituir a República do Equador.
As ilhas Trindade e Santa Catarina passariam a bases navais inglesas.
O Rio Grande do Sul seria uma república independente.
Seria criado o Estado Soberano da Amazônia.
O que sobrasse constituiria o Império do Brasil”.
Por essa proposta, o Brasil ficaria reduzido aos atuais estados de Santa
Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato
Grosso, Mato Grosso do Norte, Goiás, Tocantins e Bahia (menos parte do
Recôncavo).
Esse plano apresentou algumas coincidências com a realidade. Em 1817, houve a
Revolução Pernambucana. Em 1824, houve a Revolução da Confederação do Equador
envolvendo o Nordeste. No Sul, a Revolução Farroupilha proclamou, no Rio Grande
do Sul, a República Rio-Grandense e, em Santa Catarina, a República Juliana, as
quais influenciaram a Revolta da Sabinada, na Bahia.
Na Amazônia, estourou a Revolta da Cabanagem, quando os franceses e ingleses
propuseram aos cabanos que separassem a Amazônia do Brasil como República.
Na década de 40, com a descoberta do processo de vulcanização da borracha, já
referido, esta passou a ter grande importância industrial. Por ser a Amazônia a
única produtora de látex extraído da seringueira, tiveram início, em 1849, as
pressões diretas dos EUA, com apoio em idéias de Maury, oficial da Marinha dos
EUA, que defendia que “para os Estados Unidos manterem a hegemonia na América,
deveriam levar a sua fronteira sul até a margem esquerda do rio Amazonas”.
No ano seguinte, um cunhado de Maury liderou expedição naval secreta dos EUA à
Amazônia, merecendo de Maury este comentário:
“Pouco me importa o que motivou o governo dos EUA a expedi-la. Sua ida vai ser o
primeiro elo da grande cadeia que terminará na formação da República Amazônica”.
Essas pressões continuaram em 1866, para que o Brasil abrisse totalmente o rio
Amazonas à navegação estrangeira, no momento crítico em que o Brasil enfrentava
a Guerra do Paraguai. A pressão felizmente foi repelida por D. Pedro II que,
ouvindo o conselho de Estado, não deu permissão para um navio de guerra
americano remontar o Amazonas.
Mas nova pressão se fez sentir em 1900, na região do Acre, com a criação do
Bolivian Syndicate de Nova York, com capitais americanos e ingleses, destinado a
explorar, com apoio em força armada, as fontes de borracha.
A ameaça felizmente foi afastada com a ação militar de Plácido de Castro,
liderando seringueiros cearenses. Foram expressivas as pressões espanholas
exercidas na região de Tefé e nos vales do Guaporé e do rio
Branco.
Houve ainda a pressão holandesa, a partir do Suriname, sobre indígenas no vale
do rio Branco, o que motivaria a criação do Forte de São Joaquim do Rio Branco,
que atuou também na contenção de pressões territoriais inglesas.
Enfim, violentas pressões foram superadas pelas autoridades luso-brasileiras e
brasileiras do passado, com o concurso de militares e missionários que merecem
toda a admiração e gratidão dos brasileiros, entre eles os soldados e familiares
que guarneceram as fortificações na Amazônia e que, por ações dissuasórias ou
pela força das armas, complementadas por competentes ações diplomáticas,
impediram o sucesso das tentativas estrangeiras de fixarem-se na Amazônia
Brasileira.
E assim, na época atual, que seus exemplos inspirem e sejam seguidos por
patriotas brasileiros para que continuem alertas na defesa dos interesses do
Brasil na Amazônia, defendendo-a das ambições e pretensões estrangeiras e,
principalmente, fazendo o seu dever de casa de preservá-la, promovendo o seu
desenvolvimento sustentável, defendendo-a, com tolerância zero, da ação nefasta
de maus brasileiros (o inimigo azul), já referidos, e de omissões
governamentais.
Essa ação, como obrigação primeira, permitirá que, moralmente, tenhamos
condições perante a Humanidade de defender a Amazônia a todo custo e, assim,
negar o falso argumento de que estamos permitindo que ela esteja sendo
devastada, incendiada, e as suas populações indígenas massacradas.
Fazer o dever de casa é preciso!!! Se não for feito pelo governo e pelos
brasileiros, tememos pelo destino da Amazônia Brasileira. Pensem os brasileiros
em defender a Amazônia do Inimigo Vermelho, sem esquecer de combater com energia
o “inimigo azul”, brasileiros, com freqüência encontrados, para os quais vale
esta classificação realista: “Quem tem inimigo azul atuando na Amazônia, ali não
precisa de inimigo vermelho.”
Papel histórico dos fortes na Amazônia
Os bravos e intrépidos soldados luso brasileiros e familiares, e após os
brasileiros, que guarneceram por quase dois séculos este complexo defensivo da
Amazônia Brasileira, ao custo de sacrifícios indiscutíveis, hoje esquecidos,
mantiveram a inviolabilidade da área da cobiça e de ações colonialistas de
nações mais fortes.
Assim procedendo, asseguraram a Soberania e a Integridade brasileiras na área,
para que as atuais gerações empreendessem, com determinação e ousadia, o atual
processo de desenvolvimento sustentável da Amazônia – o desafio brasileiro do 3º
Milênio – sob a proteção e inspiração de Deus.
O sistema de fortificações da Amazônia foi estabelecido na seguinte ordem,
depois de expulsos da área intrusos holandeses, ingleses e franceses (defronte
de Bragança). Ao longo deste estudo, serão fornecidas outras informações sobre
as fortificações da Amazônia.
Forte do Castelo – Belém
1–1616. Foi iniciado após 8 de Jan 1616, quando ali aportou, vinda de São Luiz
do Maranhão, reconquistada aos franceses, a expedição de cerca de 100 homens
comandada pelo Capitão-Mor do Rio Grande do Norte, Francisco C. Castello Branco.
No local, hoje, junto à atual doca de Ver o Peso, então habitada por Tupinambás
hostis, a guarnição iniciou um pequeno fortim com madeira e com a ajuda dos
Tupinambás não hostis. Era uma dupla paliçada de madeira preenchida com areia
entre elas, formando um parapeito voltado para o rio.
Ele foi artilhado com 10 peças trazidas pela expedição para defendê-lo dos
índios e de estrangeiros que possuíam redutos e feitorias no estuário e Baixo
Amazonas.
Consolidada a cabeça-de-praia estabelecida, o forte foi denominado Presépio de
Belém, referência à partida da expedição de São Luiz, no Natal de 1615.
A região foi denominada Feliz Lusitânia e, à sua sombra e sob a sua proteção,
surgiu um núcleo denominado N. S. da Conceição de Belém, origem da capital do
Pará, hoje com mais de três séculos e meio de existência.
A partir da cabeça-de-praia protegida pelo pequeno fortim, foi que se
desenvolveu e se espraiou Belém, consagrado a invocação de Nossa Senhora de
Belém.
De 1621 a 1626 o fortim foi reconstruído de forma quadrangular em taipa de
pilão, na administração de Bento Maciel Parente. E por longo período ele passou
por um processo de ruína que só foi atalhada em 1721 por força de carta Régia de
30 de maio de 1721 quando foi enviado para o Brasil para repará-lo o pedreiro
Francisco Martins. Então, o forte melhorado foi denominado Forte do Castelo do
Senhor Jesus Cristo.
Depois de um século entrou em ruína, sendo reedificado em pedra, em 1728, sob a
direção do Sargento-Mór Engenheiro Major Carlos Varjão Rolim, o qual acrescentou
ao forte o aumento das plataformas elevadas de tiro e algumas rampas de acesso
às plataformas de tiro.
Depois desta reforma o Forte do Presépio passou por diversas obras,
particularmente em 1759 e depois em 1773, quando nele foi estabelecido o
Hospital Militar do Castelo, o segundo na Amazônia depois do Hospital Militar de
Barcellos.
Com a Independência do Brasil ele ganhou o seu aspecto atual, depois de
adaptações para torná-lo compatível com os avanços da Artilharia.
Este forte serviu de base de partida para a expulsão de estrangeiros que
dominavam o estuário e o Baixo Amazonas e, sobretudo, para reconhecimento,
exploração e conquista da Amazônia Brasileira, além da concretização da ligação
terrestre Belém-São Luiz, feitos épicos que levaram a marca do legendário
Capitão Pedro Teixeira.
Por ocasião da Independência foi reedificado. Na Regência, foi desguarnecido e
desarmado, fenômeno generalizado e de inspiração
liberal.
Em 1850, sendo Presidente do Pará o Cel Jerônimo Francisco Coelho, Pai da
Imprensa Catarinense e da Engenharia Civil no Brasil, além de Ministro da Guerra
do Brasil que ditou os termos de Paz de Ponche Verde na Revolução Farroupilha, o
forte passou por grandes reformas.
Passou a dispor de uma ponte sobre o fosso e de uma muralha da cantaria.
A Questão Christie, de que resultou humilhante ultimatum inglês ao Brasil e
altivamente repelido, impôs reformas ao forte até hoje notáveis.
Foi artilhado com 27 peças. Em 1876, foi desativado para abrigar o Arsenal de
Guerra. Depois, serviu de depósito regional.
Atualmente, seus velhos canhões, transformados em atração turística, voltam-se
simbolicamente para a baia de Guarajá, depois de cumprirem, com seu poder
dissuasório e sem disparar um só tiro, sua destinação militar e geopolítica de
imensa projeção na conquista, definição e preservação da inviolabilidade da
imensa Amazônia Brasileira, segundo se conclui do historiador Arthur César
Ferreira Reis, grande estudioso da história da Amazônia Brasileira, com quem
convivi e muito aprendi no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 1621,
o Pará se tornou autônomo do Maranhão.
Este forte, hoje, é consagrado como denominação histórica da 8a Região Militar.
Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá
2-1623. Em 1623, no mesmo local onde os holandeses haviam construído o Forte de
Mariocay, Manoel Maciel Parente construiu a fortaleza de Santo Antônio de
Gurupá.
Comandava essa Fortaleza, em 1639, o Capitão João Pereira Cáceres que, em várias
canoas guarnecidas, surpreendeu uma expedição holandesa nas proximidades da
fortaleza e a derrotou.
Em 1691, essa Fortaleza foi reconstruída. Em 1660, 1771 e 1774, sofreu novos
reparos e melhoramentos. Hoje está desarmada.
A Ilha de Gurupá tem 151 km de comprimento e 35 de largura. Fica situada a oeste
de Marajó e à margem direita do Amazonas. É contornada pelo Amazonas, pelo Canal
Gurupá e pelo Furo de Santa Maria.
Em 1633, foi criada a Capitania do Gurupá. Ela exerceu relevante papel
estratégico na irradiação da expansão portuguesa para o interior da Amazônia e
na contenção da expansão francesa no baixo Amazonas a partir de Caiena.
Forte de São Pedro Nolasco, ou Forte das Mercês (Belém)
3-1665. Esse Forte foi construído em 1665 pelo 3º Governador e Capitão General
do Pará, nos fundos do Convento dos Mercedários. Complementava, junto ao Reduto
de São José, a defesa de Belém realizada pelo Forte do Castelo.
Por Aviso Ministerial de 16 de dezembro de 1841, foi autorizada sua demolição,
para a construção dos cais de Belém, iniciado no Governo Souza Franco.
Efemérides expressivas: Em 1657, o rio Negro foi explorado por Manoel Pires. Em
1659, foram descobertas canela e cravo, no Tocantins. Em 1663, foi feita uma
expedição contra os índios do rio Urubu, próximo à foz do rio Madeira.
Em 1664, franceses fundaram Caiena. Em 1668, Pedro da Costa Favela descobriu e
explorou o rio Negro. Em 1669, teve lugar a fundação da Manaus atual.
Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro
4-1670. Esta Fortaleza foi construída em 1670, por ordem do governador do
Maranhão e Grão-Pará, Antônio Albuquerque C. de Carvalho, a três léguas da
confluência do rio Negro com o Amazonas.
Seu construtor foi Francisco da Mota Falcão, estando situada a 17 km da
confluência do rio Negro com o Amazonas. Foi seu primeiro comandante o Capitão
Angélico de Barros. Dela teve origem a cidade de Manaus.
Em 1783, foi desarmada. No local da antiga Fortaleza existiu uma Estação de
Rádio do Exército, instalada em edifício construído em cima dos escombros da
velha Fortaleza, origem da cidade de Manaus. Efemérides expressivas: Em 1677,
foi criada a diocese de Belém e em 1685 portugueses se estabeleceram no alto
Amazonas.
Fortaleza da Barra ou Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra (Belém)
5-1685. Na entrada do porto de Belém, do lado esquerdo para quem vem do sul,
fica situada uma ilhota de pedra. Em 1685, Antônio Lameira Franco, Capitão da
guarnição do Pará, requereu ao Governador Gomes Freire de Andrade autorização
para construir uma fortaleza nessa ilhota, com a condição de ser o seu
comandante vitalício.
Com despacho favorável, nesse mesmo ano foi iniciada a sua construção.
A fortaleza possuía duas ordens de baterias: uma em plano inferior, permitindo
atirar ao nível d’água, e outra em plano superior, na plataforma.
Essas baterias foram armadas com 35 canhões. A fortaleza foi construída pelo
engenheiro Joseph Velho Azevedo.
Em 1770, foi necessário construir-se uma sapata em volta da fortaleza, para
proteger os alicerces da muralha.
Em 9 de maio de 1947, às 15 h 45 min, houve uma explosão motivada por faísca
elétrica, e a fortaleza, que servia de depósito de inflamáveis, foi destruída. A
própria Ilhota sofreu as conseqüências da explosão, ficando quase destruída e
submersa parcialmente.
Efemérides expressivas: Em 1687, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho
explorou, no atual Amapá, o rio Araguari e os lagos conhecidos como do Cabo
Norte (atual Amapá).
Fortes Santo Antônio e São José de Macapá (Amapá)
7-1686. Com um raro senso estratégico providencial, os luso brasileiros lançaram
sobre as terras que iam devassando uma sábia defesa contra as incursões
estrangeiras.
Infelizmente, não o fizeram senão sob a ameaça dessas incursões.
As fortificações contra os ataques indígenas, erigidas em maioria no interior da
Amazônia, revestiam-se do caráter de passageiras, pois eram erguidas ao acaso e
na direção das reações dos índios. As demais fortificações defendiam a Amazônia
da cobiça dos invasores e corsários. Entre esses pontos figura o ocupado pela
fortaleza de São José de Macapá, situada na cidade desse nome, na antiga
província do Pará. Ela foi lançada em 1686 nas ruínas do forte de Cumaú, tomado
aos ingleses, com a denominação do local – Santo Antônio de Macapá.
Por ordem do Capitão General do Pará, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho,
seu projeto arquitetônico foi atribuído a um jesuíta e matemático, importante
elemento do séquito do mesmo capitão em suas inspeções administrativas.
Mais tarde o Marquês de Pombal, visando fortificar a foz do Amazonas, determinou
a construção definitiva dessa monumental fortaleza que dominava o canal norte de
acesso ao rio Amazonas e a 15 km do antigo Forte de Santo Antônio de Macapá, que
tomou o nome de São José de Macapá, fortes os quais são por vezes confundidos .
Influiu na citada localização definitiva do Forte São José, estudo seguro e
exato do regime das correntes e dos ventos, das condições de ancoragem, da
altura do local e do coeficiente de erosão das águas.
Em 1686, o Capitão-General, o major alemão João Geraldo Goonfelts, mais Henrique
Antônio Galluzi e outros engenheiros delinearam a poderosa fortificação.
Esses planos só se ultimaram em 1764, tendo sido aprovados pelo Capitão-General
do Pará, Fernando da Costa de Ataide Teive. Explica-se dessa maneira o motivo
por que seu projeto é atribuído ora a Goonfelts, ora a Galluzi, sendo que a este
último com maior soma de razões por ter sido o iniciador da construção.
A fortaleza de Macapá foi a mais vasta e importante obra permanente em sua
época, pois era, a um só tempo, a garantia e a segurança da chamada Guiana
Brasileira (atual Amapá ou Capitania do Cabo Norte) e a chave de entrada do
melhor dos canais que davam acesso ao rio Amazonas.
A fortaleza de S. José de Macapá foi construída por ordem do Marquês de Pombal
de 1764 a 67, a uma altura de 20 pés, tendo a forma de um quadrado de
fortificação rasante.
Nos ângulos do quadrado ergueram-se quatro baluartes de figura pentagonal, cada
um dos quais com 14 canhoneiras lançantes, guarnecidas por mais de 80 peças de
ferro e bronze de diferentes calibres, montados em reparos a Onofre, trabalhando
sobre o próprio terrapleno.
O recinto da fortaleza, de forma quadrada, continha oito edifícios para a
administração e por baixo do terrapleno ficavam as casernas para o
aquartelamento da guarnição.
As muralhas da fortaleza foram construídas de cantaria escura primorosamente
trabalhada, extraída das rochas do rio das Pedreiras que corre a noroeste de
Macapá.
Todas as abóbadas de cobertura dos paióis, das casernas, das prisões e das
cozinhas foram construídas à prova de bombas.
Circundada por um profundo fosso nas faces sul e oeste, a fortaleza de Macapá
nunca foi de todo terminada, pois as obras exteriores, tão necessárias não só ao
complemento da defesa como à segurança da própria fortificação, jamais foram
levadas a termo, deixando sua esplanada exposta às correntezas das águas do
Amazonas.
O seu custo, em 1764, elevou-se a três milhões de cruzados.
Em 31 de maio de 1697, o Forte foi tomado pelos franceses e a 28 de junho foi
retomado pelos luso-brasileiros.
Efemérides importantes: Em 1693, o Sargento Guilherme Valente do fortim São José
do Rio Negro (Manaus atual), subiu o rio Negro até o rio Cabari e estabeleceu
aliança com os índios Manaus.
Forte do Rio Baboute (Amapá)
7-1688. Em 1688, os luso-brasileiros construíram, no Amapá
atual, na foz do rio Bataboute, afluente da margem esquerda do Araguari, um
forte em forma de estrela. Em pouco tempo esse forte foi abandonado e destruído.
Fortaleza de Santarém ou Fortaleza dos Tapajós (Pará)
8-1695. Essa fortaleza foi erigida antes de 1695 por Francisco da Costa Falcão e
às suas expensas, à margem direita do Amazonas, com a denominação de Fortaleza
dos Tapajós e, depois, Fortaleza de Santarém.
Em 1740 e em 1782, foi reedificada e melhorada. Em 1803, sofreu novos
melhoramentos. Novamente, em 1867, sofreu novos reparos. Mais tarde foi
desarmada e abandonada. Hoje nada mais resta a não ser escombros.
Efemérides importantes: Em 1697, padres carmelitas foram enviados para
evangelizar os índios no rio Negro, e franceses cobraram a posse do atual Amapá.
Contrariados em suas pretensões, apoderaram-se pela força das armas do forte
Santo Antônio do Macapá e arrasaram os fortins do Desterro e Toere, no Amapá. Os
luso-brasileiros reagiram e expulsaram os invasores.
Fortaleza de Óbidos (Pará)
9-1698. Em Óbidos, o Amazonas tem 1892 metros de largura e uma profundidade de
80 metros.
Em 1698, Manoel da Mota Siqueira construiu, à margem esquerda do Amazonas, um
forte que tomou a denominação de Pauxis, nome da nação de índios que habitavam
essa região.
Mais tarde, em 1758, tomou a denominação de Óbidos, quando a aldeia dos Pauxis
foi elevada à categoria de vila, com a denominação de Óbidos.
Em 1749 e 1784, foi recomendada a sua reconstrução. Entretanto só em 1854 é que
foi reconstruído e melhorado pelo Major Marcos Pereira Sales, face a pressões
dos Estados Unidos para a abertura da Amazônia à navegação internacional,
ocasião em que Mauá criou, em 1853, a Companhia de Navegação e Comércio do Rio
Amazonas, que o consagraria com justiça patrono da Marinha Mercante do Brasil.
Sob esse título, Antônio Stumpf Bento, filho do autor desta obra, publicou
trabalho na Revista da Escola de Marinha Mercante (Rio), ao ali formar-se em
1986.
Nessa ocasião, a região foi colonizada com cerca de 300 portugueses. Nos anos
40, em minha escola, em Canguçu, no Rio Grande do Sul, ouvi de uma professora
que o nome Óbidos se devia em razão de ali ocorrerem óbitos de viajantes,
vítimas de escorbuto depois de longa viagem sem o consumo de vitamina C.
As características do Forte de Óbidos, nessa época, eram as seguintes: reduto
semi-circular, barbeta, guarnecido com 10 peças, sendo 6 de calibre 80, montadas
em carretas de marinha, e 4 montadas a Onofre.
Em 1869, foi esse Forte acrescido de uma plataforma corrida de cantaria de
Lisboa.
Em 1910, foram levantadas novas fortificações e novo quartel de paz, sendo
armado com 4 peças de artilharia de 6 polegadas Armstrong, montadas em pequenos
bastiões de concreto e cimento, no cimo de uma colina isolada, na Serra da
Escama, a 1 km da cidade, acima da garganta de Óbidos e a 600 metros da margem
esquerda do Amazonas. Em 1924, ele tomou parte em revolta tenentista sofrendo
pesado bombardeio legal. Na década de 1930 o Forte foi desarmado, em
conseqüência de outra revolta ali ocorrida em 1932.
Forte do Paru (Almeirim-Pará)
10-1695. Este forte existia antes de 1695 como importante instrumento de
contenção da infiltração de franceses no rio Amazonas, vindos de Caiena, e
localizava-se junto aos fortes do rio Araguari, de Macapá e Gurupá.
Acreditamos ter sido reconstruído por Manoel da Mota Siqueira, na primeira
década do século XVIII, à margem esquerda do Amazonas,
próximo às Serras do Paru.
Em 1745 foi melhorado. Em 1748, a Aldeia do Paru foi elevada à categoria de vila
com o nome de Almeirim.
Em 1838, esse Forte, em ruínas, foi abandonado. Há notícias de que nesse mesmo
local, em 1628, os holandeses haviam construído um fortim.
Efemérides importantes: Em 1713, pela Paz de Utrecht, o atual Amapá foi
reconhecido como domínio de Portugal. Em 1720, foi criado o bispado de Belém e,
em 1724, foi introduzida no Pará a cultura do café. Em 1730, teve início a
comercialização da borracha do Amazonas que, no ano seguinte, passou a ser
exportada, e só em 1840 foi descoberta a vulcanização da borracha. Em 1738,
Macapá foi reforçada com a construção de mais um reduto fortificado.
Fortim e Bateria da Ilha dos Periquitos (Belém)
11-1738. Em 1738, numa ilha da Baía de Guajará, que tomou nome de Ilha de
Fortim, situada em frente e ao sul da Fortaleza da Barra, foi construído um
forte estacado de forma regular, com 20 braças de frente (20 x 2,20 m) e armado
com cinco peças de artilharia. Esse forte resistiu pouco tempo, tendo sido
destruído pela maré e pela correnteza. Nessa mesma época, em 1738, foi instalada
uma bateria na Ilha dos Periquitos, que fica situada ao norte da Fortaleza da
Barra.
Efemérides importantes: Em 1742, o rio Madeira foi explorado por Manuel Félix de
Lima.
Casa Forte do Guamá (Pará)
12-1750. Na primeira metade do século XVIII, Luiz de Moura construiu uma Casa
Forte no ponto inicial da estrada do Guamá para S. Luiz do Maranhão, em troca de
uma patente de Capitão de Infantaria, com o soldo de soldado, que afinal nunca
lhe foi pago. Dessa Casa Forte originou-se a cidade de Ourém.
Efemérides importantes: Foi celebrado em 1750 o Tratado de Madri, que reconheceu
as conquistas de Portugal na Amazônia. Em 4 de abril de 1755 foram conferidas
vantagens, no Brasil, aos brancos e a seus filhos nascidos de casamentos com
índias, tendo sido proibido que eles fossem tratados de caboclos.
O cacau circulava em Belém como moeda. Foi edificada uma bateria de canhões em
Barcelos (Mariuá) e foi criada a Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão que,
enquanto existiu, produziu 838.386 arrobas de cacau. A companhia Geral do Grão
Pará seria fechada por D Maria I.
Em 1751, o Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado fundou a povoação de
Macapá.
Fortaleza do Rio Negro (em Barcelos)
13-1754. Era composta de dois fortes de madeira artilhados defendendo a aldeia
de Mariuá, mais tarde Barcelos, a base da demarcação dos tratados de Madrid e
Santo Ildefonso e capital da Capitania do São José do Rio Negro até ser a mesma,
por volta de 1804, definitivamente transferida para Manaus, depois de cerca de
meio século de permanência em Barcelos. Essa Fortaleza não tem sido citada e ora
a registramos.
Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (Guaporé-Rondônia)
14-1759. Em 1759, o Capitão General Antônio Rolim de Moura Tavares construiu,
próximo do local (2 km) onde existira a missão espanhola de Santa Rosa (1754),
um Forte, à margem direita do Guaporé, ao qual denominou N. Senhora da
Conceição. Mais tarde, foi denominado Bragança pelo 3º Governador Luiz Pinto de
Souza Coutinho, que o reconstruiu em 1772, tendo sido, posteriormente, já em
ruínas, substituído pelo forte Príncipe da Beira, em 1776, por ordem do
Governador do Mato Grosso, Luiz de Albuquerque Pereira Cáceres, conforme veremos
adiante. O campo de pouso dos aviões hoje lá existente é denominado Fazenda
Conceição.
Fortaleza de Macapá (Amapá)
15-1761. Macapá era a denominação genérica da região amazônica compreendida
entre Almeirim (Paru) e a foz dos Amazonas, que compreendia quatro antigas
províncias de índios dessa região, pois o Forte de Santo Antônio de Macapá
estava em ruínas.
Em 1740, por Carta Régia de 9 de fevereiro, de acordo com a Resolução de 6 de
setembro de 1739, foi autorizada a construção de um Forte de faxina no local
onde, em 1738, havia sido instalado um
destacamento e haviam construído um pequeno reduto.
A planta desse forte foi planejada pelo Sargento-Mor de Batalha e Engenheiro do
reino, Manoel de Azevedo Fortes, auxiliado pelo discípulo da Academia Militar,
Manoel Luiz Alves.
Forte São Francisco Xavier (Tabatinga)
18-1766. Foi construído à margem esquerda do Solimões como importante
instrumento de controle da entrada de espanhóis na Bacia do Amazonas,
provenientes do atual Peru.
O local fora ultrapassado pelo General Pedro Teixeira em 1637, onde mais para
leste ele havia fundado Franciscana, limite oeste do Brasil de então.
Mais tarde, mediante acordo, a fronteira refluiu para esse local.
Hoje não existem mais vestígios dessa importante fortificação pombalina, cujos
canhões foram para o fundo do rio Solimões em conseqüência da erosão da margem
onde fora o forte construído.
Mas a memória dos relevantes serviços que ele prestou, junto com suas guarnições
e familiares, à preservação da integridade e da soberania do Brasil na região,
foi consagrada pelo Exército, ao dar-lhe o seu nome de Forte São Francisco como
denominação histórica do Comando de Fronteira do Solimões e 8º Batalhão de
Infantaria de Selva, ali sediado.
Forte de São Gabriel (hoje Uaupés – Rio Negro)
16-1762. Situado à margem esquerda do rio Negro, era guarnecido com 16 canhões.
Serviu de base para operações de reconhecimento e demarcação do tratado de Santo
Indefonso por Lobo d’Almada.
Forte de Marabitanas (Cucuí)
17-1763. Forte de Marabitanas (Cucuí). Local atingido pelos portugueses em 1759.
Em Cucuí ainda existem os velhos canhões que marcaram os domínios lusitanos
naquelas longínquas paragens do norte do Brasil.
Situado à margem direita do Rio Negro, foi guarnecido com 4 Baterias : S. Pedro,
S. Luiz, S. Simão e S. Miguel, armadas com 19 peças de ferro.
Reduto São José (Belém)
19-1771. O Reduto de São José foi construído, em 1771, no flanco do Convento dos
Capuchinhos de S. Antônio e sobre a praia, por ordem do Governador da Capitania,
o Capitão General Fernando Ataíde Teive. O Reduto era circundado por uma
paliçada e armado com quatro canhões de grosso calibre.
Forte de São Joaquim do Rio Branco - Roraima
20-1778. Alguns historiadores afirmam que o São Joaquim foi erigido em 1719
pelos portugueses, de forma sumária, servindo, então, de forte argumento para a
incorporação portuguesa do atual território de Roraima pelo Tratado de Madrid,
de 1750.
Na épica e árdua tarefa de penetrar, reconhecer, explorar e definir brasileiro o
território de Roraima, bem como na de assegurar a soberania portuguesa, e após
brasileira, nos vales do rio Branco e de seus principais formadores, coube papel
destacado aos bravos militares que o guarneceram, desde 1719, segundo alguns
historiadores, e por quase dois séculos as estacadas e, após, as muralhas do
Forte de São Joaquim, erigido pelos luso-brasileiros na confluência dos rios
Tacutu e Uraricoeira, que formam o rio Branco.
Em 1778, um ano após a celebração do Tratado de Santo Ildefonso, o forte foi
concluído, ocasião em que recebeu o nome de São Joaquim do Rio Branco.
Em 1786, serviria de base de operações para um dos maiores soldados e patriotas
que serviram na atual Amazônia Brasileira – o engenheiro militar Coronel Manuel
da Gama Lobo d’Almada, que tão relevantes e inesquecíveis serviços prestou à
Segurança e ao Desenvolvimento da área no período de 1770-91. Lobo d’Almada fora
encarregado de levantar, mapear e organizar a defesa do vale do rio Branco.
Data dessa época o levantamento do Forte São Joaquim por um dos membros de sua
expedição cuja reprodução foi feita na História do Exército Brasileiro, 1972,
vol.1, p. 296. Lobo d’ Almada quase perdeu a vida num naufrágio nas cachoeiras
do Uraricoera.
Considerou este perigo e sofrimento, bem como a maleita e outros que padeceu em
19 anos de Amazônia, como título de honra e nobreza. E afirmava:
“Todo sangue que corre a serviço da Pátria é nobre”.
Ele foi o maior explorador e herói militar dos vales dos rios Branco e Negro.
Impunha sua liderança sobre a expedição pelo exemplo. E justificava:
“Eu mesmo vou pessoalmente a todas as expedições. Não permito que os meus
companheiros passem por trabalhos ou perigos em que eu não seja o primeiro a
dar-lhes o exemplo”.
O forte foi desativado por volta de 1900. Suas históricas e heróicas muralhas
foram demolidas para servirem em parte aos alicerces e paredes do edifício sede
e da caixa d’água do Posto de Proteção aos índios, instalado na Fazenda São
Marcos, na foz do Tacutu com o Uraricoeira, defronte ao local onde outrora se
erigiu esta histórica sentinela do extremo norte do Brasil, hoje envolta na mata
e balizada por suas ruínas sagradas.
Quando da construção, foi artilhado com 10 canhões, dos quais dois de bronze,
fundidos em Belém, em 1763.
Dos de ferro, 5 foram colocados em destaque defronte ao quartel do 6º BEC, por
ordem de seu comandante Tenente Coronel João Tarcísio Cartaxo Arruda que, junto
com sua unidade, prestou um relevante serviço à preservação da memória nacional
no extremo Norte do Brasil.
A chave do Forte de São Joaquim, guardada como relíquia por seu último
comandante, foi transferida, em 1941, por uma de suas netas ao Capitão de Mar e
Guerra Brás do Amaral, chefe da Comissão de Demarcação de Limites do Setor
Norte.
Este, por sua vez, a doou ao ilustre historiador General Lobato Filho, que a
doou então ao Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, que finalmente a
confiou ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde por certo
deve encontrar-se.
Isto é o que se concluiu de artigo do então Capitão Salm de Miranda, biógrafo do
Marechal Floriano, em: "As chaves do Forte de São Joaquim", publicado na Revista
Militar Brasileira, Out/Dez 1941, e uma das poucas referências a esse forte, na
alentada Literatura Militar Brasileira.
O Forte São Joaquim continua a ser um ilustre desconhecido quanto a sua saga.
Não teve nem um centésimo da sorte do Forte de Coimbra, que completou mais de
200 anos de existência gloriosa e que mereceu do venerando historiador militar
General Raul Silveira de Mello, que faleceu centenário, alentado estudo em 4
volumes, além de diversos artigos e plaquetas fixando detalhes particulares.
É possível reconstituir o Forte São Joaquim a partir de sua planta levantada em
1787, cujas cópias fazem parte da Mapoteca do Centro de Documentação do
Exército, em Brasília.
O Estado-Maior do Exército, na p. 296, volume 1 da obra História do Exército
Brasileiro, lançada em 1972, sob a coordenação da extinta Comissão de História
do Exército, que integramos como Adjunto de sua Presidência, fez publicar a
planta do forte como ele se apresentava em 1787 e com a seguinte legenda:
"Uma das sentinelas avançadas das Amazônia século XVIII. O Forte de São Joaquim
do Rio Branco não mais existe - permanecem os valores espirituais e morais que o
animaram".
Reconstituí-lo ou, no mínimo, preservar o que dele restou, é um sagrado dever
cívico, principalmente para o Governo e Povo de Roraima, como uma prestação de
contas para as futuras gerações do lugar que por certo desejarão evocar e
homenagear, no local, os pioneiros que, no interior daquele quadrado, definiram
brasileiro o destino de Roraima e alicerçaram a grandeza moral e espiritual
daquela rica e importante parte do Brasil e impediram a expansão inglesa,
holandesa e espanhola tentadas sobre território brasileiro, como foi o caso de
Lobo d’ Almada cuja vida e obra focalizaremos na Terceira Parte.
Hoje esse forte foi consagrado pelo Exército como denominação histórica do
Comando de Fronteira de Roraima e é sede do 7º Batalhão de Infantaria de Selva
sediado em Boa Vista –Roraima.
Bateria de Val de Cans (Belém)
21-1780. O Governador das Armas, José Maria de Moura, na segunda metade do
século XVIII, mandou construir e instalar uma bateria sobre a Ponta de Val de
Cans. Essa Bateria foi armada com 4 obuses de 6 a 9 polegadas. Em 1833 foi
abandonada.
Val de Cans - Há controvérsias sôbre a origem dessa expressão. Segundo alguns,
origina-se dos cães que possuíam os Frades Capuchinhos do Convento que aí
existiu: isto é, "Vale dos Cães". Segundo outros, origina-se dos cabelos brancos
dos Frades, ou seja: "Vale das Cans".
Durante a 2a Guerra Mundial, em Val de Cans foi construída a base aérea do
Estados Unidos para, junto com a base aérea de Macapá e a do Rio Grande do
Norte, apoiarem o esforço de reconquista da África e da Europa aos nazistas.
Forte Príncipe da Beira, Rondônia
22-1785. Foi iniciado em 20 de Jun de 1776, no local da antiga guarda de Santa
Rosa Velha, tendo sido concluído apenas em 1785 pelo intrépido Coronel Ricardo
de Almeida Franco, o maior fronteiro do Oeste, e patrono dos Engenheiros
Militares do Exército, segundo projeto do Capitão Sambucetti, que morreu durante
sua obra.
O esforço despendido para implantá-lo foi ciclópico, comparável, guardadas as
devidas proporções no tempo, ao despendido para a construção de Brasília.
Concorreram, neste esforço, as capitanias de Mato Grosso, Goiás, Pará e Rio de
Janeiro, que forneceram mais de 200 operários. O forte foi um imponente quadrado
com muralhas de 8 metros de altura e cerca de 480 de perímetro, com quatro
baluartes tipo Vauban, com 14 canhoneiras cada e facilidades para vida em seu
anterior. O fosso possuía 2 m de fundo e 32 m de largura.
A entrada era através do imponente portão, que fazia descer ponte levadiça de 4
metros, que assentava em outra, fixa, de 28 m, que ia até a plataforma.
Os blocos de pedra canga férrea vieram em canoas especiais de local próximo,
junto ao rio Guaporé, segundo Marcos Carneiro de Mendonça, estudioso da projeção
no Brasil da obra do governo do Marquês de Pombal.
Os seus canhões, além de símbolo de Rondônia, são testemunhas mudas do hercúleo
esforço dos soldados luso-brasileiros e familiares e depois soldados brasileiros
anônimos que construíram e guarneceram o forte com sacrifícios que presumimos
enormes, hoje apagados da Memória Nacional.
Em assim procedendo, ajudaram de modo decisivo a alicerçar e a preservar durante
mais de um século, naquelas, até hoje, remotas paragens do território pátrio –
Um Brasil Continente.
Conforme afirmou a Revista Militar Brasileira:
“O forte Príncipe da Beira não chegou sequer a disparar um tiro, porque exprime
senão nossa determinação em permanecer onde estamos”.
Hoje esse forte foi consagrado pelo Exército como denominação histórica do
Comando de Fronteira de Rondônia e 6º Batalhão de Infantaria de Selva, sediado
em Guajará-Mirim.
Forte Bateria de Santo Antônio (Belém)
23-1791- Em 1791, vinte anos depois da construção do Reduto de S. José, o
Governador Francisco de Souza Coutinho mandou construir uma sólida Bateria sobre
a praia, próxima ao Reduto, entre este e o Forte de São Pedro de Nolasco,
denominando-a de Bateria de Santo Antônio.
Em meados de 1793, foi essa Bateria armada com cinco canhões de grosso calibre e
com outros menores.
Em 1807, o Reduto de São José foi ligado à Bateria de Santo Antônio por um
semibaluarte e por uma muralha.
Em 1832, tudo já estava em ruínas e, posteriormente, essas fortificações foram
demolidas, tendo em vista o alinhamento de uma rua da praia.
Forte da Cachoeira de Itaboca (Tocantins) - Pará
24-1797. Foi demolido o Forte de Alcobaça, em 1797, pelo Alferes Joaquim José.
Este construiu junto à Cachoeira de Itaboca, acima de Alcobaça, outro Forte.
Posteriormente, foi criado mais acima da Cachoeira de Itaboca, junto do igarapé
Araparí, e defronte da Ilha de Tucumanduba, um outro núcleo de povoação.
Mais tarde, foi esse Núcleo transferido para a margem esquerda do Tocantins,
entre Saco do Bacabal e a praia do Tição, próximo à confluência do Araguaia com
o Tocantins, tomando a denominação de São João do Araguaia. Nesse local foi
fundada, em 1850, uma Colônia Militar pelo Tenente Constâncio Dias Martins,
acompanhado do frade Manoel Procópio do Coração de Maria.
Forte de Araguari (Amapá)
25 – Foi construído para conter a infiltração de franceses no Amapá.
A Bateria da ilha de Bragança
26-1804. Segundo se conclui do Dr Manuel Barata, no artigo A Bateria da ilha de
Bragança, na RIHGB, t.74, 1a parte, 1911, p.229/236, a citada bateria foi
erigida em 1803/4, na ilha Bragança, entre as ilhas de Curuá (ou Curauá) ou,
segundo Carlos de Laet, Quariana, a nordeste de Caviana, no meio do canal norte
de acesso ao rio Amazonas. Ela foi mandada construir pelo Governador e Capitão
General D. Francisco de Souza Coutinho, para integrar o sistema de defesa do
acesso ao Amazonas de parte de franceses de Caiena.
Ela foi erigida de faxina e guarnecida por destacamento fornecido por Macapá,
com a finalidade de avisar esta praça, por mensageiro expresso, da entrada do
inimigo.
Nessa bateria foram montadas 12 peças (canhões) de ferro, sendo duas de calibre
36, duas de 18, seis de 9 e duas de 6.
Essa posição foi considerada mal escolhida por estar exposta a inundações das
marés e aos freqüentes castigos pela pororoca. Assim, em fevereiro de 1804 foi
castigada pela pororoca e, em março, foi desmantelada.
Em abril, o Conde de Arcos, sucessor de Souza Coutinho, mandou inspecioná-la
para saber o estado de sua Artilharia e os meios de conservá-la. O Dr. Mário
Barata não soube o resultado. Por volta de 1810, foi informado por um caboclo
residente na ilha Caviana e conhecedor da ilha Bragança que na maré baixa eram
vistas peças enterradas na praia, o que nos leva a crer que a bateria foi
vencida pela pororoca e pelas enchentes.
Em realidade, no ano de 1809 partiu de Belém expedição para conquistar Caiena, a
qual ficou até 1817 (cerca de nove anos) sob domínio de Portugal, que tinha sede
no Brasil sob o príncipe D. João. A Guiana Francesa só foi devolvida por força
do Congresso de Viena de 1815.
Colônias Militares na Amazônia Brasileira
A primeira colônia militar brasileira foi a D. Pedro II, na Amazônia, à margem
do rio Araguari. Foi criada em 1840 face às pressões sobre o território entre os
rios Oiapoque e Araguari, contestado ao Brasil pela França.
Em 1849, foi criada, no local chamado Remansão, no rio Tocantins, a colônia
militar Santa Tereza do Tocantins. Com a Lei nº 555 de 15 de junho de 1850, que
instituiu a colonização militar, foram criadas colônias militares por todo o
Brasil.
Na Amazônia foram criadas as colônias militares de São João do Araguaia, em
1850, com base na transferência, com o nome de São João do Araguaia, da extinta
Santa Teresa do Tocantins; a de Rio Branco, nas proximidades do Forte São
Joaquim e, em 1854, a Colônia Militar de Óbidos.
Essas colônias foram vinculadas ao Ministério do Império (Interior) até 1860,
quando passaram para a jurisdição do Ministério da Agricultura, cabendo ao
Exército fornecer a tropa, equipá-las e pagá-las, sem interferir na escolha do
local.
Colônia Militar Dom Pedro II: Foi estabelecida em 1840 pelo Comandante das Armas
do Pará, Cel Marcos Antônio, à margem direita do rio Araguari, no Amapá, em
local insalubre, confrontando o território disputado pela França. Foi
determinação do regente Pedro de Araújo Lima.
Foi guarnecida por um Alferes, em comissão, que comandava a ilha de Balique,
fazendo-se acompanhar da mulher, de um filho, 27 praças casados e suas
respectivas famílias. O terreno era próprio para a lavoura.
Sua função teve expressiva projeção geopolítica no sentido de assegurar a posse
brasileira e a inviolabilidade do delta do Amazonas e a sua pretensão sobre o
território contestado entre os rios Araguari e Oiapoque, vitoriosa por laudo
arbitral de Berna que fixou os limites do Brasil no rio Oiapoque, pondo fim a
uma rumorosa e longa questão de limites com a França. Sua importância foi assim
referida pelo Presidente do Pará, em Ofício datado de 14 de 22 Nov de 1859:
“A Importância da Colônia Militar D. Pedro II, em relação aos territórios que
são disputados ao Império do Brasil pela França, e aos indivíduos selvagens e
civilizados, que os franceses tem se empenhado em atrair para os seus
interesses, contra os nossos...”
Segundo o Coronel do Exército Luiz Lobo, o objetivo dessa colônia era fixar um
ponto de concentração de esforços do Brasil em face dos franceses na Guiana
Francesa e também do domínio brasileiro na área.
Foi transferida para o Oiapoque em 1907, com a denominação de Colônia Militar do
Oiapoque, mas deixou na sua base inicial um Destacamento do Exército, com
enormes sacrifícios para seus integrantes, vítimas de impaludismo.
Colônia Militar de São João do Araguaia: Foi instalada em 15 de Out de 1849, com
o nome de Santa Tereza do Tocantins, pelo Cel Jerônimo Francisco Coelho.
Inicialmente, a entrada era pela margem esquerda do Tocantins, no Remansão, na
entrada da cachoeira de Itaboca. Foi depois transferida para o local onde
funcionara o registro de São João do Araguaia, com o nome de Colônia Militar de
São João do Araguaia.
Ela tinha por objetivo, segundo seu diretor, o Ten Cel Ayres Carneiro, prevenir
desmandos de malfeitores e contrabandistas, apoiar a navegação fluvial e criar
condições para desenvolver a área.
Nela se situa a cidade de Marabá.
Colônia Militar de Rio Branco: Foi instalada em 1850 nas imediações do Forte de
São Joaquim, em Roraima atual, com as seguintes finalidades:
Desenvolver a colonização brasileira na Zona Fronteiriça com a Guiana Inglesa,
em litígio com o Brasil na chamada questão do Pirara.
Apoiar a guarnição do Forte São Joaquim contra a penetração inglesa em nosso
território, a partir da Guiana Inglesa, que ocupava a litigiosa região do
Pirara.
O Coronel Francisco Xavier Torres, comandante das Armas, mandou instalar essa
Colônia em comprimento a ordens do Presidente do Pará, Ângelo Custódio Corrêa, e
do Governo Imperial.
Colônia Militar de Óbidos: Foi criada para auxiliar a reconstrução do Forte de
Óbidos, que estava em ruínas, e era impositiva para defender a Amazônia de
pressões dos Estados Unidos para forçar a abertura do rio Amazonas à navegação
internacional.
O início das obras foi assistido pelo Presidente da Província Sebastião do Rego
Barros. Essa colônia foi criada na embocadura do rio Trombetas.
Mauá destinou à Colônia de Óbidos 500 agricultores portugueses, para ocupar a
área e desenvolvê-la à base da agricultura.
Foi seu primeiro diretor um capitão de Mar e Guerra de nossa Marinha, dada a
importância militar da posição face à pressão dos Estados Unidos em
internacionalizar a navegação do Amazonas e ao fato de ter sido negado o seu
pedido de permissão para uma corveta sua subir o Amazonas.
Mauá solucionou o problema, criando uma Companhia de Navegação e colonizando
Óbidos.
Como se pode concluir, essas Colônias Militares na Amazônia tiveram relevante
projeção estratégica como instrumento contra pressões da Inglaterra sobre
Roraima atual, da França no Amapá e dos EUA em Óbidos, com importante posição de
bloqueio do rio Amazonas nos dois sentidos.
Floresceu sua agricultura por algum tempo. Mais tarde foi transferida para a
margem do Tocantins, em frente à cachoeira de Itaboca.
Atuais Pelotões de Fronteira
O sistema de proteção dos vazios demográficos brasileiros junto às fronteiras de
países vizinhos foi solucionado, em parte, com a criação de Pelotões de
Fronteira, que desempenham missão de grande projeção na geopolítica do Brasil,
pois contribuem para a preservação e proteção dos vazios demográficos, entre
nossas fronteiras na Amazônia e os centros mais populosos do Brasil, de
influências ou atrações por outros centros de poder.
E ali gerações de militares do Exército e seus familiares, como no passado os
das guarnições dos fortes e das colônias militares, têm pago, nessa árdua tarefa
um pesado tributo, longe do conforto da civilização e de seus benefícios,
conforme abordamos no artigo O papel do Exército no Desenvolvimento Nacional – O
Exemplo Brasileiro, na Military Review, 4º trimestre 1986 p.64/72.
Vigiam a nossa fronteira na Amazônia os seguintes Pelotões de Fronteira:
Príncipe da Beira (junto a antigo forte de mesmo nome), em Rondônia; Brasiléia,
Assis Brasil e Santa Rosa, no Acre, face ao Peru; Palmeira do Javari, Estirão do
Equador, Ipiranga, no Amazonas, face ao Peru; Vila Bittencourt, Pari Cachoeira,
Yauretê, Auris, BV-8 e Bonfim, em Roraima, face à Venezuela; e Tiriós (em
instalação), no Pará, face ao Suriname.
Por conta do Projeto Calha Norte foram construídas instalações para os seguintes
pelotões de Fronteira: Pari Cachoeira, Iauaretê, São Joaquim, Querari e
Maturacá, no Amazonas; o Surucucu, Ericó e Auris, em Roraima; e o Tiriós
(não-concluído), no Pará.
Vale lembrar que, segundo o General Rubem Bayma Denys, o Programa Calha Norte,
para a região ao norte dos rios Solimões e Amazonas, com 1.221.000 Km2 (14% do
território do Brasil e habitada por 1.600.000 brasileiros, ou 1,2% da população
do Brasil) visa melhorar as condições para manter ali a Integridade e a
Soberania do Brasil pela intensificação da presença do Estado e do Governo, numa
área inexplorada, com pouca e rarefeita presença de brasileiros na sua fronteira
de 6.771 km, e habitada por 72% da população indígena brasileira, que vive entre
Tabatinga e o Oiapoque.
Os Pelotões de Fronteira da Calha Norte, instalados pelo Projeto Calha Norte,
cuja maior tarefa coube ao Exército, dispõem de postos de saúde para o
atendimento e apoio das populações da área de sua influência e de modernos
sistemas de comunicação que lhes permitem manter contato com o restante do
Brasil e receber imagens de TV.
Era projeto, ainda, a construção de Pelotões de Fronteira em Tunuí, região da
Cabeça do Cachorro no Amazonas, e em Uiramutã, na Região de Raposa do Sol a NE
de Roraima.
Vale lembrar que o reconhecimento, o mapeamento e a consolidação da conquista da
região da Calha Norte foi realizada pelas comissões demarcadoras dos tratados de
Madrid e Santo Ildefonso, de 1752 a 1791, quando até então eram terras de
ninguém, e em especial pelo Coronel Lobo d‘Almada, tema que será abordado mais
adiante.
Tiros de Guerra na Amazônia
Hoje o Exército realiza experiências com quatro tiros de guerra, possibilitando
a criação de reservas mobilizáveis em áreas estrategicamente importantes, que
atuam como verdadeiras escolas de civismo e cidadania com apoio dos governos
federal, estadual e municipal, evitando a criação de unidades de alto custo em
locais ermos, conforme a Revista Verde Oliva, nº 174, 2002, p.38.
Os atuais tiros de guerra na Amazônia possuem a seguinte localização:
No Amazonas, em Manicoré, Mauês, Eirunepé, Lábrea, Presidente Figueiredo,
Urucurituba, Carauari e Novo Aripuanã. O de Boca do Acre foi desativado
recentemente.
No Pará, em Cametá, Bragança, Abaetetuba, Breves e Castanhal.
Em Rondônia, em Colorado do Oeste, Vilhena e Pimenta Bueno.
Em Roraima, em Mucajaí e São João da Baliza.
No Acre, em Tarauacá. O de Xapuri foi desativado em 2001.
12 - LUTAS EM TORNO DE TEFÉ, COARI, FONTE BOA E SÃO PAULO DE OLIVENÇA, COM
ESPANHÓIS E ÍNDIOS CAMPEBAS, 1703-1713
Missionários espanhóis iniciaram, em 1689, sob a direção do padre Samuel Fritz,
a catequese dos ribeirinhos do Solimões. E fundaram missões que, mais tarde, sob
o controle português, vieram a constituir as vilas de Fonte Boa, Coari, Tefé e
S. Paulo de Olivença.
Detido em Belém, o famoso catequista foi levado, sob escolta, até às suas
missões. E ali o forçaram a se retirar para fora do território português.
Mas ele retornou, em 1704, para continuar no seu antigo trabalho. E novamente,
em 1709, foi substituído por missionários carmelitas portugueses.
A reação espanhola logo se fez sentir por meio de uma expedição militar que,
enviada de Quito, destruiu as aldeias dos carmelitas e aprisionou o Capitão
Inácio Correia e os poucos soldados que as guarneciam.
O Governador do Pará revidou com uma força comandada pelo Sargento-Mor Antunes
da Fonseca. E atacou e desalojou os espanhóis, aprisionando seus soldados e
missionários.
A partir de 1710, os portugueses limitaram ao Javari o seu campo de atividades,
tanto religiosas como sertanistas, deixando o trecho entre os rios Javari e Napo
definitivamente em poder dos espanhóis.
No século XVIII, segundo Arthur Neiva, o povoamento português assim se
distribuía na bacia amazônica: em Belém e ao longo do Amazonas, pequenos núcleos
missionários ou militares, origens de Gurupá, Santarém, Óbidos e Manaus.
O vale do rio Negro era povoado pelos carmelitas, até as cachoeiras. O vale do
rio Branco fora penetrado, mas sem ocupação. O vale do Madeira abrigava aldeias
jesuíticas, inclusive as primitivas localizações de Borda e Itacoatiara, no vale
do Tocantins. Cametá era o ponto extremo de ocupação. E ainda Bragança, no
litoral.
Assim, conclui-se da ocupação luso-brasileira da Amazônia:
Raros contingentes militares, confinados em algumas dezenas de fortificações,
distribuídas ao longo dos rios. Com o tempo constituíram vilas e cidades;
Cerca de uma centena de missões religiosas encontrava-se igualmente espalhada na
selva, nas quais o aborígine era aldeado e estimulado ao preparo de roças que,
reforçadas pelo produto de caça, pesca e frutos silvestres, garantiam a
subsistência. Elas foram os embriões de vilas e cidades.
Belém, no estuário, e Manaus, na embocadura do Negro, eram os pontos de apoio e
de comando das iniciativas.
Duas questões de limites na Amazônia atravessaram os séculos, acarretando, em
várias ocasiões, o recurso às armas, até serem finalmente resolvidas pela ação
diplomática.
Fronteira do Oiapoque – Depois de haverem sofrido vários insucessos no Brasil,
nos séculos XVI e XVII, encaminharam-se os franceses para a Guiana e
desembarcaram um pequeno contigente às margens do Sinamari. O pequeno núcleo se
estabeleceu 50 léguas ao ocidente do Oiapoque e a mais de 100 do rio Amazonas.
Posteriormente, em 1633, com a criação da Companhia Francesa do Cabo Norte,
fundou-se Caiena.
Ao norte, continuaram as disputas entre luso-brasileiros e espanhóis durante o
século XVIII e entre o Brasil e os países confinantes, desde a independência.
A linha Apaporis–Tabatinga ficou, em 1851, assente no Peru. A pretensão da
Colômbia sobre terras entre o Solimões e o rio Negro arrastou a questão até
1907, quando ela foi solucionada à base de mútuas concessões.
13 - A GUERRA DO CACIQUE AJURICABA, APOIADO POR HOLANDESES, 1723-27, NOS VALES
DOS RIOS NEGRO E BRANCO
Desde o início do século, caracterizaram-se os acontecimentos militares na
Amazônia pelo desenvolvimento dado à sua fortificação e por um sensível aumento
das forças destinadas à defesa da região.
O desenvolvimento do vale do rio Negro, dominado quase inteiramente pelos
Manaus, impôs choques cruentos entre as tropas de resgate (escravizadoras de
índios) e os índios.
À medida que os sertanistas subiam o rio, na coleta das drogas do sertão, mais
repetidos e sangrentos eram os reencontros com os Manaus.
Esses índios tornaram-se poderosos, desde que os padres carmelitas chegaram ao
vale do Negro, em 1695, pois nos trabalhos de catequese os missionários uniram
vários aldeamentos.
Ajuricaba, influente e estimado, além de intrépido guerreiro, era chefe de um
dos grupos.
Inconformado com a perseguição de seus índios, o grande cacique levantou o brado
de revolta, e as forças indígenas, integradas pelos Manaus e seus aliados
Maiapenas, além de várias outras nações subjugadas, lançaram-se à luta, levando
o pavor às povoações luso-brasileiras e aos próprios índios colaboradores.
Essas ações guerreiras varreram o vale do Negro e subiram pelo rio Branco, onde
os carmelitas haviam estabelecido novas missões.
A revolta, que se prolongou de 1723 até 1727, levou os selvagens a enfrentar,
com bons resultados, as tropas de resgate (captura de índios para escravizar),
que nem sempre conseguiram derrotá-los.
Em devassa mandada proceder pelo governador João Maia da Gama, apurou-se que do
conflito participaram as nações indígenas do rio Negro, estimuladas, apoiadas e
até armadas pelos holandeses da Guiana, interessados na hostilidade aos
luso-brasileiros.
A repressão, por fim determinada por João Maia da Gama, exigiu o emprego de uma
unidade de Infantaria, comandada pelo Capitão Belchior Mendes de Morais, militar
de grande valor profissional.
Inicialmente, por meios amigáveis, inclusive utilizando a mediação do jesuíta
Manoel Joseph de Souza, Ajuricaba foi convidado à pacificação.
Mas ele não cumpriu o trato, pela leitura feita na época. Numa leitura atual
considero Ajuricaba um herói nacional, como hoje o é Zumbi dos Palmares.
A cessação da rebeldia tornava-se indispensável, pois além das perdas em vidas
humanas e dos prejuízos para a economia, ainda ameaçava a segurança da
conquista, dada a cooperação prestada aos índios pelos holandeses do Suriname.
A expedição recebeu reforços de povoadores, e um novo comandante: – João Paes do
Amaral – passando o Capitão Mendes de Morais a servir como seu lugar-tenente.
Até então, a construção de fortificações, registros e as próprias forças e
familiares que os construíram e guarneceram, e que assim ocuparam escassos
pontos do imenso território, constituíram-se em fatores de povoamento da
Amazônia.
E em torno delas foram se aglutinando os índios e uma crescente população
mestiça, habituada ao convívio com os soldados e cuja miscigenação foi
estimulada oficialmente por Portugal, com vantagens para os descendentes.
Os missionários chegaram com os primeiros contingentes da força militar e o seu
trabalho aglutinador não esmorecia nunca.
Desde os começos do século XVII, os missionários franciscanos, jesuítas,
carmelitas e mercedários se emprenharam na Amazônia na conquista do índio para a
sua bandeira e para o cristianismo.
Era a associação da Cruz e da Espada para a conquista do ideal político de
Portugal de “Dilatar a Fé Católica e o Império de Portugal”. Ideal tão presente
e vivo na imortal obra Os Lusíadas, do poeta-soldado Camões.
3ª Parte
A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA DA AMAZÔNIA, 1750-91
_______________________________________________
Neste período, no reinado de D. José I de Portugal teve lugar, sob a orientação
do Marquês de Pombal, a consolidação da conquista da atual Amazônia Brasileira,
com o início da execução da demarcação do Tratado de Madrid de 1750 a partir de
Mariuá (atual Barcelos) e só completada por volta de 1791 com o Tratado de Santo
Ildefonso de 1777.
Período em que se consagraram, nestas missões, o Capitão-General do Grão-Pará
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão mais moço, por parte de mãe, do
Marquês de Pombal, na fase inicial (até 1757) e na final, a partir de 1780, o
Brigadeiro Manuel da Gama Lobo d’Almada, como demonstraremos nesta parte.
Na Amazônia, os acontecimentos militares se caracterizaram desde o começo do
século XVIII pelo desenvolvimento de fortificações e por um progressivo aumento
das forças destinadas à defesa da região.
Às 5 Companhias de Milícias existentes no Pará e às 2 Companhias de Infantaria
pagas, de Pernambuco, juntou-se, em 1711, uma Bateria de Artilheiros, formada lá
mesmo.
No Rio Grande do Sul, o problema das demarcações dos Tratados de Madrid de 1750,
que incluiu a Guerra Guaranítica de 1752-56, e o da Demarcação do Tratado de
Santo Ildefonso, abordamos na História da 3a Região Militar, 1808-1889 e
Antecedentes. Porto Alegre: 3ª RM/SENAI, 1994.
Abordamos a consolidação da conquista do Mato Grosso no artigo Defesa e
defensores de Mato Grosso, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Grosso, alusiva aos 200 anos da criação da Capitania de mesmo nome.
Abordamos em detalhes a guerra de 1774/1776, da qual resultou a reconquista do
Rio Grande do Sul atual, que fora invadido pelos espanhóis em 1763 e em 1774, na
obra A Guerra da Restauração.
O Tratado de Madrid de 1750, entre Portugal e Espanha
Portugal e Espanha haviam dividido entre si, pelo Tratado de
Tordesilhas de 1494, o mundo desconhecido, graças aos seus descobrimentos e
benefícios de bulas papais.
Mas logo perceberam que não seria tarefa fácil e pacífica exercer a soberania
sobre os territórios que descobriram e viriam a descobrir.
Lideranças na Holanda, Inglaterra e França demonstravam vontade de partilhar das
riquezas de além-mar, invadindo as colônias e pressionando Espanha e Portugal de
várias maneiras
Na metade do século XVIII, Portugal e Espanha estavam em ótimas relações.
D. João V reinava em Portugal. Sua filha, D. Maria Bárbara, casara com o rei D.
Fernando VI. Este, de gênio dócil, era influenciado por sua esposa, o que veio a
favorecer em muito os interesses políticos de Portugal.
Graças a esse clima foi possível ao brasileiro de Santos, Alexandre de Gusmão,
oferecer o Tratado de Madri de 1750, que reconheceu a conquista de Pedro
Teixeira da Amazônia Brasileira em 1639 e definiu, no Brasil, as fronteiras
Portugal-Espanha que praticamente, em linhas gerais, são as atuais, menos o
acréscimo do Acre, adquirido da Bolívia.
As principais cláusulas do histórico tratado que consagrou as dimensões
continentais do Brasil foram:
“Art. I – Invalida todos os outros tratados e convenções antecedentes.
Art. II – Cede o rei a Portugal tudo que tem ocupado pelo rio do Maranhão acima,
até Mato Grosso.
O rei de Portugal cede à Espanha:
1º) todo o terreno desde a boca ocidental do Japurá;
2º) todo terreno entre este rio e o do Amazonas ou Maranhão;
3º) toda a navegação do rio Içá;
4º) tudo o que se segue ao ocidente deste rio;
5º) a aldeia de S. Cristóvão e qualquer outra que Portugal tenha fundado naquele
espaço de terra.
Nenhuma das nações permitirá que entrem nos seus portos e passem por seus
territórios da América Meridional os inimigos da outra”…
Nomearam as duas Cortes os respectivos comissários, que fariam, em conjunto, a
demarcação.
Constituíram duas comissões mistas. Indicaram-se, para o norte: pela Espanha, D.
José de Iturriaga e por Portugal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do
Marquês de Pombal) que governaria o Grão-Pará de Belém e, por largo período, de
Mariuá (atual Barcelos, no rio Negro). Local que serviu de capital do atual
Estado do Amazonas até transferir-se para Manaus em definitivo em 1804.
A capitania do Grão-Pará era objeto de intensa pressão de parte de espanhóis,
ingleses, holandeses e franceses.
Era impositiva a missão de Portugal de bloquear os caminhos fluviais
representados pelos afluentes da margem sul do Amazonas, que conduziam ao
coração do vice-reino em Mato Grosso e Goiás, onde se encontravam minas de ouro
e diamantes. E, em especial, o acesso pelos rios Amazonas, Madeira e Guaporé
(Aporé).
Competiria ao Capitão-General do Grão-Pará Mendonça Furtado, dirigir o trabalho
desde a Serra de Pacaraima, limite com a Guiana Holandesa, até a confluência do
Jauru, no rio Paraguai. Para tal disporia de três partidas:
A primeira agiria entre aquele ponto de tripla junção e a foz do Japurá, no
Solimões; a segunda competiria determinar a chamada linha leste-oeste, entre o
Madeira e o Javari, a qual daria origem a futuras dificuldades, só resolvidas
com a compra do Acre à Bolívia. Linha que hoje divide o Acre do Estado do
Amazonas.
A terceira demarcaria limites entre os rios Madeira e Jauru.
Mendonça Furtado viajou ao rio Negro, ao encontro do comissário espanhol D. José
de Iturriaga, que penetraria na Amazônia pelo Orenoco e rio Negro e
estabeleceria a sua base de operações na aldeia de Mariuá (atual Barcelos), à
margem esquerda do rio Negro.
Não se verificou, entretanto, o encontro previsto, em que pese a longa espera
por Iturriaga em Mariuá.
Mas nem tudo foi perdido como se verá! Além do maior conhecimento e povoamento
da região, inclusive com o incentivo trazido pela ereção de vilas, também houve
a criação de uma nova capitania, a de S. José do Rio Negro (atual Amazonas), em
1755.
A Comissão de Portugal para a Amazônia veio chamar a atenção para essa
fronteira, como demonstraremos adiante.
O Marquês de Pombal e sua projeção na consolidação da Amazônia Brasileira
Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal (1699-1782). Nasceu em
Portugal, com origem em família tradicional. Estudou Direito, História e
Política. Seu tio, Cardeal da Mota, o apresentou a D. João V que o enviou como
embaixador em Londres e depois em Viena.
Ficando viúvo, casou com a austríaca Leonor Daun, da antiga nobreza e bem mais
moça do que ele. Dizem que tiveram um casamento feliz e a rainha de Portugal D.
Maria (austríaca) tornou-se muito amiga de sua compatriota, protegendo Pombal,
que já não era bem visto por D. João V.
Isto talvez tenha influído na sua escolha, aos 50 anos, por D. José I para seu
ministro, e mais, a sua notável aprendizagem política internacional e
administrativa em Londres, a qual colocaria em prática.
Pombal conquistou a inteira confiança do rei e monopolizou o poder,
especialmente depois do terremoto de Lisboa em 1755.
Tornou-se odiado pela nobreza e pelos jesuítas. O genovês Pele que tentou
assassiná-lo foi punido como regicida. Quanto ao visionário jesuíta Malagrida,
tido como suposto herege, Pombal mandou-o queimar em fogueira.
De 1750 a 1777, por cerca de 27 anos, Pombal foi o virtual ditador de Portugal.
Com a morte de D. José I em 1777 houve violenta reação contra Pombal, reação que
passou a história como "A Viradeira". Processado politicamente, Pombal foi
declarado ser merecedor de castigo exemplar.
Foi perdoado por D. Maria I das penas corporais, morrendo poucos meses depois de
terrível doença, na Quinta de Pombal, em 8 de maio de 1782, com cerca de 82
anos, depois de haver deixado o poder absoluto, como déspota esclarecido, cinco
anos antes.
Ele tentou impedir a evasão do ouro, retirado do Brasil, para a Inglaterra.
Promoveu reformas na administração e no ensino, estimulou a indústria e o
comércio e fortaleceu a posição internacional de Portugal.
No tocante ao desenvolvimento do Brasil, sua expansão, consolidação geográfica e
fortalecimento militar este trabalho o demonstra.
Estimulou a exportação do açúcar e do fumo e entrou em conflito com os jesuítas
que se opuseram militarmente à entrega dos Sete Povos das Missões a Portugal em
troca da Colônia do Sacramento. Fato que provocou a expulsão dos jesuítas da
América do Sul por Portugal e Espanha.
Segundo João Abel da Fonseca, que revelou as cartas secretas do Marquês de
Pombal ao seu irmão Capitão-General do Grão-Pará Mendonça Furtado, o confronto
de Pombal com os jesuítas na Amazônia teria sido em razão de estarem estes ali
se digladiando na disputa por privilégios e opondo à política
portuguesa/espanhola as congregações religiosas “e em especial a Companhia de
Jesus, voltada para controlar a Amazônia, onde formariam um Estado de Deus
independente da tutela de Portugal e Espanha”.
No Sul, os jesuítas haviam se oposto militarmente à entrega dos Sete Povos das
Missões, da Espanha a Portugal, no que passou à História como Guerra
Guaranítica, 1752-54.
Os jesuítas, muito antes, no período da União das Coroas de Portugal e Espanha
haviam estabelecido as reduções jesuíticas de Itatins (no Mato Grosso do Sul),
de Guairá (a oeste do Paraná) e Tape (no Rio Grande do Sul) das quais foram
expulsos pelos bandeirantes paulistas.
Reduções que em conjunto teriam formado um Império Teocrático Guarani que o
Marechal Solano Lopes, mencionam alguns intérpretes, tentou reconstituir, ao
invadir, durante a Guerra do Paraguai, o atual Mato Grosso do Sul por Dourados e
o Rio Grande do Sul por São Borja. Em 1755, Pombal criou a Companhia de Comércio
do Grão-Pará e Maranhão, para desenvolver a Amazônia, concedendo-lhe o direito
exclusivo de navegação, comércio de produtos da Amazônia e tráfico de escravos
negros para substituir a escravidão indígena por ele proibida, fato que provocou
a revolta dos escravistas da Amazônia.
No decorrer deste trabalho ficará mais clara a sua grande projeção na definição
do destino brasileira da Amazônia e no seu fortalecimento militar.
A ação do Marquês de Pombal, absolutista, mas considerada esclarecida, foi
apoiada entre outras ações que relaciono a seguir, com apoio no Acadêmico Cel
João Ribeiro da Silva, em sua obra O Brasil colonial e imperial:
Administrativamente, apoiada em razões de Estado.
Na legitimidade real, basear-se no princípio de nacionalidade e não em suposta
origem divina.
Na luta, para restaurar a fraca economia de Portugal, com política independente
do controle inglês, principalmente.
Basear sua política em princípios mercantilistas.
No estreitamento das relações da metrópole com suas colônias e em especial com o
Brasil, por delas resultar a sobrevivência de Portugal.
Na rigidez do comércio da metrópole, no caso do Brasil, com monopólios
exportador e importador, pelas criação das Companhias de Comércio do Grão-Pará e
Maranhão em 1755 e a de Pernambuco e Paraíba em 1759, pois só o monopólio
asseguraria a remessa de lucros para Portugal. Companhias que seriam extintas
pela rainha D. Maria I.
Transferência da capital do norte de São Luiz para Belém, para maior apoiar a
consolidação da conquista da Amazônia por demarcação e fortalecimento militar.
Na transferência da capital da colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro em
1763, por razões estratégico-militares, face a problemas com espanhóis,
relacionados com a troca da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das Missões e
posterior apoio à guerra contra os espanhóis que invadiram e dominaram cerca de
2/3 do atual Rio Grande do Sul por cerca de 13 anos (1763-1776), fato que
abordamos amplamente na citada obra A Guerra da Restauração. Rio de Janeiro;
BIBLIEx, 1996.
Em reformas sobre cobrança de impostos, combate ao contrabando, etc.
Na extinção das Capitanias Hereditárias e fortalecimento do poder dos vice-reis.
No estabelecimento da derrama na mineração, das Casas de Fundição e fixação de
cotas anuais de 100 arrobas (1.500 kg).
Na concentração em Diamantina do monopólio da extração de diamantes.
A não tolerância a nenhuma interferência ou reação à autoridade real, do que
resultaria a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, por haverem desafiado as
autoridades dos reis de Portugal e Espanha, que resultou na Guerra Guaranítica
(1752/54), já citada, que abordamos na História da 3a RM, 1808-1889 e
Antecedentes. Porto Alegre: 3a RM, 1994.
O seu período como embaixador na Inglaterra e Áustria se constitui em valiosa
escola de manejo administrativo e político de Portugal de 1750/77, período de
grande movimentação no Brasil e de definição e consolidação de suas dimensões
continentais. Esta abordagem é importante para melhor entender-se esta nossa
História Militar Terrestre da Amazônia.
Foi sob a influência do Tratado de Madrid de 1750 e sob o Rei D. José, que o
Marquês de Pombal, particularmente com o concurso de seu irmão Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, Capitão-General do Estado do Grão-Pará e Maranhão, que
abrangia os atuais estados do Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas, Mato Grosso e
também chefe plenipotenciário da Comissão de Limites de Portugal com a Espanha,
consolidou a conquista da Amazônia Brasileira e em especial a expressiva parte
da área hoje denominada Calha Norte, ao norte dos rios Japurá e Amazonas.
Além disso, os dois irmãos consolidaram a posse luso-brasileira de parte de
Rondônia atual, onde asseguraram a ligação da Amazônia com Mato Grosso, ou das
bacias Amazônica e do Prata, através da liberação do caminho Belém – rios
Amazonas, Madeira e Guaporé – Vila Bela - Cuiabá, alternativo do escoamento do
ouro de Mato Grosso.
Ao Marquês de Pombal a História Militar Terrestre do Brasil está a dever o seu
fortalecimento militar terrestre, a ocupação e a estrutura da defesa de nossas
fronteiras, não só na Amazônia como também no Sul e no Oeste.
Segundo se concluiu de Marcos Carneiro de Mendonça, no passado grande goleiro do
Fluminense e depois assinalado historiador, e em seus estudos A Amazônia na Era
Pombalina. Rio de Janeiro: IHGB, 1963, 3 v. e O Caminho do Mato Grosso e as
fortificações pombalinas na Amazônia. RIHGB v. 251, Abr/Jun 1961:
A administração pombalina consolidou a posse da Amazônia conquistada pelo
General Pedro Teixeira, em 1639, com as seguintes providências militares:
- Construção dos Fortes do Macapá (potencializado); do de São Joaquim, no Rio
Branco; do de São José de Marabitanas; do de São Gabriel da Cachoeira; do de
Tabatinga, dos de Mariuá (atual Barcelos); dos de Bragança e Príncipe da Beira,
além de uma Guarda Militar na antiga missão jesuítica de Trocano (atual Borba),
próximo da foz do Madeira, para funcionar como registro e impedir o descaminho
de ouro das minas de Cuiabá e infiltrações norte-sul nas minas de Mato Grosso e
para apoio logístico a viajantes autorizados entre a Amazônia e Mato Grosso.
A fortaleza de Macapá visava fazer face a pressões dos franceses. O de São
Joaquim para fazer face a pressões dos holandeses e mais tarde serviria para
conter pressões dos espanhóis e parcialmente dos ingleses da Guiana Inglesa. Os
de Moarabitanas, São Gabriel, Mariuá (Barcelos), Tabatinga, Bragança e Príncipe
da Beira para fazer frente a pressões de espanhóis, que chegaram a estabelecer
na margem direita do rio Guaporé as missões jesuíticas espanholas de São Miguel,
Santa Rosa, São Simão e São Nicolau.
Missões que foram removidas para o outro lado do Guaporé, proporcionando
segurança e continuidade ao caminho fluvial luso-brasileiro Belém – Vila Bela –
Cuiabá. Pressões que cessaram com a expulsão dos jesuítas da área pela Espanha.
Na de Santa Rosa foi erigido o forte Nª Sª da Conceição e mudado seu nome para
Forte de Bragança.
E completa Marcos Carneiro de Mendonça:
“Quanto às fortificações pombalinas da Amazônia, só tenho a reafirmar o que
venho sustentando a respeito. Toda a imensa região das terras situadas ao norte
do rio Amazonas, só não passou a ser terra de ninguém depois que o Gabinete do
Marquês de Pombal fez ali construírem as fortalezas e fortes de Macapá, São
Joaquim, Moarabitanas, São Gabriel, Tabatinga e Príncipe da Beira”. E
completaríamos com o Forte do Rio Negro em Barcelos (Mariuá), uma espécie de
Quartel-General da Demarcação da Amazônia.
Em 1758, o rei de Portugal, em carta a D. Antônio Rolim de Moura, o fundador de
Vila Bela, em Mato Grosso, e um dos artífices da consolidação da conquista da
Amazônia, dizia dos luso-brasileiros agentes desta obra ciclópica, algo
semelhante ao que Winston Churchill diria mais tarde dos pilotos ingleses da
RAF, na Batalha Aérea travada contra Hitler: “Nunca tantos deveram tanto a tão
poucos”.
D. José disse mais ou menos assim ao referir-se à consolidação da conquista da
Amazônia Brasileira sob sua égide, lembrando e assemelhando a saga amazônica às
ações de Portugal na Índia Oriental:
“Onde tão poucos portugueses (luso-brasileiros) fizeram tantos e tão façanhosos
progressos e dominaram tantas e tão numerosas ações”.
A abertura do caminho pelo Amazonas – Mato Grosso fora proibido por D. João V,
para impedir o descaminho do ouro e diamantes do rio Cuiabá.
E mais, infiltrações estrangeiras na região de Cuiabá. Mas isto estava
alimentando a ameaça de espanhóis de interromperem esta ligação com a instalação
de missões jesuíticas na atual Rondônia. Missões que só não prosperaram por
serem ameaçadas por criminosos, homiziados na ilha Comprida do rio Aporé
(Guaporé), os quais impediram os jesuítas de expandirem suas missões.
E para impedir a circulação entre a Amazônia e as minas de Cuiabá e que
estrangeiros atingissem estas minas foi levantada a linha de ação de bem
fortificar a entrada do Amazonas.
Mas foi lembrado que os espanhóis achavam-se muito fortes no rio Mamoré,
navegando a toda hora pelo rio Madeira, onde fundaram, por descuidos
luso-brasileiros, diversas missões.
A fundação de Vila Bela (atual Mato Grosso) por Rolim de Moura mereceu do
Capitão General do Grão-Pará Mendonça Furtado este estímulo:
“Não ter dúvida de que em pouco tempo será uma populosa cidade. E isto baseado
no grande zelo e atividade que atribui ao seu fundador”.
E completou:
“Sobre o ponto de vista estratégico, o local onde fundou Vila Bela era
impossível que fosse outro melhor. E principalmente se o rei D. José I permitir
a comunicação de Vila Bela com as minas de Cuiabá”.
Vila Bela, situada na Bacia Amazônica, podia comunicar-se com as minas de
Cuiabá, na Bacia do Prata, da seguinte maneira:
Existem dois rios navegáveis, o Alegre e o Aguapeí, tributários das bacias
Amazônica e do Prata e separados por uma planície de mais de 2 léguas, através
da qual se poderiam transpor cargas de Vila Bela para Cuiabá e vice-versa.
Além das citadas fortificações pombalinas da Amazônia, o Marquês de Pombal criou
dois regimentos de Infantaria, com mais de 500 homens cada para guarnecer Belém
e a nova e poderosa fortaleza de Macapá. Esta, com dominância de vistas e fogos
sobre o principal canal de acesso à Bacia Amazônica.
E a definição do destino brasileiro de Rondônia muito está a dever à ligação
fluvial Belém–Vila Bela, à construção dos fortes Bragança e Príncipe da Beira e
à Guarda Militar e Registro de Ouro da atual localidade de Borba.
Antes das providenciais pré-demarcações do Tratado de Madrid na Amazônia e da
chegada do Capitão-General do Grão-Pará, irmão do Marquês de Pombal, os
documentos a seguir dão uma idéia da situação militar da Amazônia.
As defesas da Amazônia no ano de 1750
Carta do Conde de Atalaia de 20 Dez 1751, do Pará (MENDONÇA, Amazônia.., p. 123,
v. 1), assim caracteriza a tropa que guarnecia Belém:
“Depois de tomar posse no governo (do Pará) comecei a inspecionar as chamadas
tropas. E achei gente miserável, que de soldado só tem o fato de estarem
constando assim no livro da Vedoria. Não possuem disciplina, ordem ou aspecto de
tropa militar, digo de Milícia, e desprezo pela função...
...Os oficiais, além de velhos estropiados, são tão ignorantes como os soldados.
Nenhum conhece o posto que tem, nem a obediência que lhes é devida pelos
soldados. Tudo é confusão e desordem.
Vagando dois postos de sargento, e havendo muitos candidatos, disse-lhes que
promoveria os que na minha frente fizessem o correto manejo de armas.
“Faz mais de 2 meses que existem abertas as vagas. E até agora nas 5 Companhias
que se compõe a guarnição, não se apresentou candidatos que se atrevessem a
fazer este grande exame”.
Carta de Gonçalo José Silveira Preto a Marques, Estribeiro-Mor e 4º Marquês de
Marialva, de 3 Dez 1751, dá a seguinte impressão da tropa que guarnecia Belém:
“Cheguei ao Pará onde nem se encontra soldado nem homem que pareça soldado. Aqui
não se conhece obediência nem disciplina alguma.
O pequeno Corpo Militar que aqui existe é pouca gente com que El-Rei faz
bastante despesa. E entre eles há homens a que chamam oficiais, e se reduzem a
estropiados velhos e ignorantes. E qualquer palavra que se lhes dirija sobre a
economia ou disciplina é novidade para eles.
Se me mandarem oficiais para ajudar-me, que venham alguns que conheçam o ofício
e possam ensinar esta ignorantíssima gente. E todos os que vierem serão poucos
para reduzir a ordem e a confusão em que se encontra a situação militar em todo
este Estado. (Grão Pará). (MENDONÇA, A Amazônia... p. 92, v. 1)
O ex-Capitão-Mor, Sargento-Mor e Capitão de Infantaria de Macapá João de Almeida
da Mata, aposentado com soldo de soldado com que ingressara no Exército de
Portugal, requer a graça real de receber 200$ réis, a metade do que recebia como
Capitão-Mor, para viver com decência e sustentar 3 filhas e em reconhecimento
aos serviços que prestou”. (MENDONÇA, A Amazônia...p. 88, v. 1)
Na carta de 2 Dez 1751 à Secretaria, Pedro da Mata da Silva, que assumiu o
governo do Pará em 20 Set 1751, assim sugere as fortificações da Amazônia:
“Aqui não há fortaleza sem ruína. Os poucos oficiais militares que aqui existem
se reduzem a estropiados velhos e ignorantes. Os soldados sem disciplina
nenhuma. Oficiais mecânicos, não existe nem uma corporação deles.
As que existem são das Ordens Religiosas e entregues aos escravos dos Padres e a
seus aldeamentos, sem utilidade nenhuma para o público. Finalmente Senhor
Excelentíssimo, aqui não se acha mais do que pobreza, miséria e confusão”.
O Capitão-General Mendonça Furtado e as suas missões, ostensivas e secretas
Duas difíceis missões foram dadas a Mendonça Furtado no Governo do Grão-Pará,
que assim podem ser sintetizadas:
1- Proibir a escravidão dos índios na Amazônia, cujo trabalho devia ser
remunerado e recorrer ao braço escravo africano.
2- Conseguir que os padres com excessivo poder temporal na Amazônia, com
possuidores de grandes patrimônios, abdicassem dos mesmos e ficassem restritos
só ao poder espiritual.
No combate a esta supremacia temporal e na tentativa de assegurar a liberdade
indígena, Mendonça Furtado mediu forças com os religiosos e com os colonos e,
inclusive, com uma insurreição abortada, visando entregar Belém ao Rei de
França, através de Caiena.
Em 31 Mai 1751, Mendonça Furtado, entre as várias instruções de Diogo de
Mendonça Corte Real, que dirigia os Negócios de Ultramar, recebeu esta diretriz
relacionada com a Defesa do Grão-Pará:
“A defesa do Estado do Grão-Pará pelo equipamento e disciplina das tropas e a
fortificação das fronteiras, principalmente a de Macapá, está carecendo de
atenção especial.
Que o Governador nomeado do Grão-Pará veja o assunto com presteza e cautela,
para não provocar suspeitas dos confinantes estrangeiros”. (REIS, Estadistas
portugueses na Amazônia. p.69).
O Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, enviou
19 cartas secretas a seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1752/56),
Capitão General do Grão-Pará.
Aqui abordaremos, em linguagem e ortografia atual, somente os assuntos ligados à
Defesa da Amazônia, ou à História Militar Terrestre da Amazônia.
Cartas exploradas por João Abel da Fonseca em Amazônia Pombalina...in: Portugal
e Brasil no Advento do Mundo Moderno. (Lisboa: Edições Colibri, 2001.p,207-244)
e em: A propósito do Tratado de Limites ao Norte do Brasil – 7 cartas secretas
do Marquês de Pombal. (Lisboa: FLUL, 2001.p.279/304).
E Pombal iniciou com este conselho ao irmão de 51 anos, em sua primeira carta
secreta, de 10 de maio de 1753:
“Sendo débeis as tuas forças corporais te peço para não trabalhares sem ordem e
sem regras. Repartas o teu tempo de modo que haja tempo de trabalhar e que
preserves sempre as horas de comer, dormir e respirar, pois nenhum morto poderá
fazer o teu serviço. Quem governa os outros e a si próprio pode regular tudo
isto com facilidade”.
E mais adiante:
“S. Majestade o rei D. José te honrou ao te nomear o seu principal Comissário e
Plenipotenciário com amplíssimos e ilimitados poderes”.
Pombal antecipou ao irmão em carta secreta o que ele receberia como orientação
especial e lhe faz sugestões:
“A primeira consiste em ires deitando tuas linhas (informações) para saberes de
onde tirarás índios para serviços e para a guerra, bem como suprimentos para
suprir os espanhóis (demarcadores) quando aí chegarem instruções a respeito.
E de como deverás alojar em Belém e prover os oficiais que daqui de Portugal
forem enviados para que ai possam viver, supondo para tal, ordem para ai se
estabelecerem, além de regras de polícia. Guarda por ora a este respeito
inviolável segredo.
A segunda é levares em conta que os hóspedes espanhóis (demarcadores) não devem
achar que o Grão Pará está em fraqueza e abandono como hoje ele se encontra.
Assim deves trabalhar para exercitar algumas milícias com a pouca gente que ai
houver, mandando-os praticar exercícios militares e os assistindo para
animá-los.
Não deves esperar ordem do Conselho para logo ires formando o maior Corpo de
Tropas regulares que te for possível juntar (mobilizar).
Para tudo enviarei fardas para que depois eles sejam vestidos.
Ainda enviarei tropas para elas marcharem e desfilarem ai em Belém, pois nesta
cidade se deve conservar um Corpo Militar, capaz de ser visto, para quando a ela
retornarem os hóspedes (espanhóis) não achem Belém desguarnecida e deserta como
ela até agora esteve. E que desse abandono os espanhóis e mais vizinhos não
tirem proveito para virem se estabelecer em Belém, conhecendo que ela não possui
quem a defenda pela força das armas.
E não seria decente e, mesmo sem perigo, que estrangeiros vissem os domínios de
S Majestade abandonados e desguarnecidos militarmente, até o ponto onde se
acham”...Pombal procurava assim impressionar os demarcadores espanhóis sobre
serem suficientes os meios militares que possuía para assegurar a soberania
sobre as terras de Portugal previstas na Amazônia pelo Tratado de Madrid de
1750.
Noutra carta alerta o irmão sobre o rio Guaporé:
“Os espanhóis já estão bem estabelecidos com aldeias na margem oriental do rio
Guaporé, (em Rondônia atual) tirando proveito de nosso anterior descuido. Consta
que os fundadores destas aldeias (os jesuítas) costumam treinar militarmente os
índios no bom uso das armas. E certo que eles se esmeraram neste particular ao
conhecerem o Tratado de Madrid”.
E a este respeito prossegue:
“A reflexão acima me fez suspeitar de insincera a ostentação que os espanhóis
tem feito da falta de forças militares naquela parte e da necessidade que nós os
socorramos. Será prudente todo o cuidado que tiveres sobre este assunto
fazendo-me lembrar de nosso judicioso vulto Luiz de Camões ao dizer:
Eu nunca louvarei o capitão que diz: Eu não cuidei!
E como nada disto se oculta às incomparáveis e perspicazes luzes de El Rey Nosso
Senhor e Majestade, ele dará a esse respeito a providência cabível possível. É
necessário que estejas de acordo com esta matéria para aí ires lançando as tuas
linhas com antecipação, à chegada ai de oficiais e soldados para socorrer-te”.
Os socorros enviados foram dois regimentos de Infantaria de 500 homens cada um,
para guarnecerem Belém e Macapá.
Noutro trecho ele orienta o irmão sobre manter livre o caminho ligando as bacias
do Amazonas e a do Prata através dos rios Guaporé e Cuiabá.
...”a navegação do rio Jauru dever ficar privativa de Portugal e também que nos
fique a salvo o Caminho do Cuiabá para o Mato Grosso”.
Consistia em um caminho de transposição da bacia do Guaporé, de Vila Bela (atual
Mato Grosso) para Cuiabá.
Na Segunda carta, oito meses depois da primeira, Pombal refere-se a 3 medidas a
serem tomadas quando da chegada dos demarcadores espanhóis:
“A primeira é com toda a cautela ser instruído o comandante escalado para
comandante-em-chefe da tropa que irá fazer a demarcação, ou seu substituto, no
caso de morte ou impedimento, no sentido de quando se estabelecerem as duas
extremidades da linha divisória, que eles saibam, desde já, os locais precisos
das extremidades e, com segurança, e neles atuem com desembaraço e sem dúvidas”.
Em outra carta Pombal, preocupado com a boa imagem do irmão, sugeriu-lhe o
seguinte artifício.
“A este respeito devo lhe advertir que as tropas que Gomes Freire levou (para o
atual Rio Grande do Sul) para a sua guarda foram somente 4 companhias de
granadeiros e tão faustosas e bem disciplinadas que assombraram os espanhóis.
Ai no Grão-Pará podes fazer o mesmo, armando com barretes de granadeiros mais 2
companhias ligeiras e dispondo tudo o mais com o possível luzimento (brilho) e
com a bem praticada economia que tenho certeza observarás, fazendo a despesa por
conta da Fazenda Real”.
Sobre as fortificações da Amazônia Pombal escreveu:
“Ao mesmo tempo em favor da faculdade que El Rey Nosso Senhor te enviou para
fundares no Grão Pará as fortalezas que forem necessárias.
Deves tomar por objetivos o fundar vilas junto a elas e também em algumas
fazendas grandes e populosas dos nobres deste Estado. E sugerindo que eles peçam
a S. Majestade o senhorio honorífico delas. E, com a condição que fiquem
sujeitos os seus juizes e oficiais à existência e correição dos ouvidores dos
Estados.
E que as concessões sejam feitas nos puros termos acima indicados e debaixo de
justas condições”.
Sobre a criação da Capitania de São José do Rio Negro (atual Estado do
Amazonas), Pombal assim escreveu ao irmão em carta secreta:
“Quero referir a criação do novo governo de São José do Rio Negro que deve ser
promovido (instalado) com o maior cuidado pela indispensável necessidade de se
povoar esta fronteira ocidental e mantermos com ele a navegação do rio Madeira
para o Mato Grosso e a passagem para as minas do rio Cuiabá“.
Noutro trecho se refere ao local que seria Mariuá, atual Barcelos.
“Um segundo problema que é colocado ao governador e principal comissário, é a
necessidade de que seja fundado um arraial, onde se concentre o núcleo de apoio
e que sirva de sua residência enquanto durar a demarcação. O Arraial do Rio
Negro (futura Barcelos), foi um sugestão sua que colheu de Lisboa total
aprovação”.
Acerca do relacionamento com os espanhóis, franceses e holandeses confinantes
com Portugal na Amazônia:
“Sua Majestade me ordenou que lhe instrua sobre o seguinte: Ao falar com o
Comissário espanhol atue de modo a despertar nele estar tratando com pessoa
confiável e sincera, mas sem perder de vista a circunspecção que requer este
grave negócio, para não causarmos ciúmes aos holandeses, mas também porque sendo
os franceses nossos confinantes mais próximos, não se deve dar nenhum passo que
anime contra nós uma Potência como ela, pois há muitos anos não fizemos aliança
para a provocar, sendo ela a autora de guerras na Europa”...
Pombal, preocupado na Europa com o segredo inviolável dos trabalhos de
demarcação e fortalecimento militar da Amazônia, fez a seguinte recomendação ao
irmão:
“Deveis proibir teus colaboradores de escreverem para Lisboa sobre novas ligadas
as negociações da demarcação. Pois só os generais costumam escrever. E é
sumamente prejudicial que se publiquem semelhantes notícias, pois algumas vezes
se impõe conservar segredo inviolável sobre elas e outras vezes publicá-las com
determinadas restrições, por não ser possível publicar tudo, sem graves
prejuízos”.
Noutra carta, Pombal sugere ao irmão que destruísse ou violasse a
correspondência dos jesuítas portugueses com os jesuítas espanhóis, para impedir
a troca de informações que pudessem prejudicar as negociações em curso.
Para Pombal realizar a sua política na Amazônia, segundo João Abel da Fonseca,
citado, repetimos, ”ele via, como grandes opositores, as congregações
religiosas, que se digladiavam na disputa de privilégios, em especial a
Companhia de Jesus, voltadas para controlar a Amazônia, onde formariam um Estado
de Deus, independente da tutela de Portugal e Espanha”.
E do confronto com os jesuítas no Sul e na Amazônia resultou serem os mesmos
expulsos da América do Sul por Portugal e Espanha. No Sul, lideraram os índios
dos Sete Povos das Missões a resistirem militarmente à entrega das Missões aos
exércitos demarcadores de Portugal e Espanha, sendo derrotados com o sacrifício
de centenas de índios nos combates de Caiboaté e Churueby, conforme abordamos na
já citada História da 3a Região Militar, 1808-1889 e Antecedentes .v.1.
Segundo ainda João Abel da Fonseca, em suas cartas secretas Pombal revelou,
entre outras, as seguintes preocupações:
- Grande preocupação de que o irmão não praticasse qualquer erro no desempenho
da sua missão que pudesse descontentar o governo central em Lisboa e um grupo de
lá que não viu com bons olhos a nomeação do irmão para tão importante função no
Brasil.
- A sua preocupação em que não se causasse desconfianças aos comissários
espanhóis da demarcação.
- A necessidade de encobrir à cobiça espanhola a existência das minas de ouro e
diamantes de Cuiabá.
- Postura intransigente de não motivar conflitos com a França.
- Revelação de clima de indisfarçável desinteligência com os jesuítas.
Creio que podemos acrescentar ainda mais as seguintes preocupações:
- Preocupação em manter na Amazônia efetivo militar terrestre compatível, com
capacidade dissuasória suficiente e parecendo até superior do que em realidade,
ao simular, com uniformes, tratar-se de tropa de granadeiros;
- Manter aberto o caminho entre Belém e Cuiabá, através de Vila Bela, aberto a
membros autorizados e fechado para os demais.
Uma tentativa de secessão na Amazônia
O bispo D. Frei Miguel de Bulhões, o 3º bispo do Pará, foi encarregado de
substituir Mendonça Furtado no governo do Grão-Pará, quando este estivesse em
missão de demarcação. E o substituiu interinamente em 2 Out 1754, quando
Mendonça Furtado se transferiu para Barcelos atual e pela 2a vez em 15 Jan 1758.
A este bispo se deve a organização eclesiástica da Amazônia e o fato de ter se
colocado ao lado de Pombal, segundo Arthur César Ferreira Reis em A Amazônia e a
integridade do Brasil.
Na ausência de Mendonça Furtado, o bispo D. Miguel conheceu, por um padre, a
existência de uma conjuração de moradores de Belém, dispostos a entregarem a
Amazônia ao Rei de França. E, neste sentido, teriam escrito ao bispo, através de
Caiena, em carta assinada pela maior parte dos conspiradores.
A motivação era a revolta dos colonos proibidos de escravizar os índios e dos
padres obrigados a abdicarem de poderes temporais e se restringirem aos poderes
espirituais.
Foi aberto um inquérito. O Capitão de Infantaria João Henrique Pereira foi
encarregado de deter o morador Manoel Pereira Dinis que ora confirmava ora
negava a conspiração e terminou fugindo, sendo presos sua mulher e cunhado.
O local da conspiração fora o Engenho Itapicuru, na foz do rio Acará, e os
principais conspiradores o jesuíta padre Roque Huntertfundt, o padre Miguel
Ângelo de Morais, clérigo de Hatros e o Sargento-Mór das Ordenanças de Belém
João Furtado de Vasconcelos.
O bispo D. Miguel mandou prendê-los. E apresentou-se o citado Manoel Dinis.
Feito o processo, concluiu-se existir a conspiração para entregar a Amazônia à
França.
Não foi confirmado se fora escrita carta e remetida ao rei da França e se este a
respondeu. E por fim ficaram dúvidas se, em realidade, houve esta conspiração.
O bispo D. Miguel pelo certo e pelo não, tratou de se prevenir militarmente,
para evitar um ataque de surpresa dos franceses a partir de Caiena, organizando
assim a melhor defesa possível de Belém. Para tanto, visitou as fortalezas,
autorizando providências para que elas funcionassem com eficiência.
Sobre o Fortim da Barra ele dizia: ”Ele é o mais interessante para a defesa, por
estar junto ao canal. E mandei logo continuar o trabalho de construção de uma
cortina, acabar-se a plataforma e construir-se os parapeitos necessários à
Artilharia”.
Na fortaleza da Barra mandou engrossar o parapeito e consertar as carretas dos
canhões para que estes pudessem manobrar com facilidade. Pela praia de Belém
determinou a construção de alguns redutos de faxina (feixes de paus curtos, para
fortificação).
Tudo com vistas à orientação superior de aplicação imediata de todos os meios
para organizar uma mediana defesa de Belém, enquanto o rei D. José I não
determinasse a fortificação regular da cidade.
O bispo D. Miguel foi elogiado pelo rei através do Ministro D. Diogo Mendonça
Corte Real em 26 Mai 1756, em especial por sua atuação no episódio da
conspiração, escrevendo:
“É preciso toda a vigilância sem desprezar nem os pensamentos... Que os
franceses de Caiena nada fariam sem comunicar a sua Corte... Pelo que respeita
aos cúmplices da conspiração proceda na forma que dispõe o direito”.
Segundo o mestre Arthur César Ferreira Reis em Estadistas portugueses na
Amazônia, os capitães generais que sucederam Mendonça Furtado no governo do
Grão-Pará foram fiéis às diretrizes por ele implantadas.
“E ali praticaram serviços de benemerência notável. Expressão que não implica em
generosidade na apreciação do processo histórico da Amazônia Brasileira que eles
ativaram, uma realidade admirável que o exame sereno refletido do que ali
fizeram, balanço ao qual vimos nos entregando há algum tempo, e não pudemos
deixar de confirmar.
Plantando cidades, organizando municípios, criando núcleos povoadores,
facilitando a miscigenação intensiva entre o ádvena branco e a mulher da terra,
destruindo assim a distância entre brancos e índios até então existente,
policiando a fronteira, defendendo-a da cobiça do espanhol e do francês (Amapá),
demarcando-a sob os rigores do ambiente hostil, estudando o espaço da Amazônia
nas suas particularidades mais difíceis, identificando as espécies naturais que
serviam aos objetivos econômicos da colonização, disciplinando o trabalho,
equipando o Grão-Pará com peças que lhe dariam a movimentação mais rápida e mais
produtiva e organizando a vida agrária”...
O Real Hospital Militar de Barcelos
Entre as notáveis providências administrativas do Capitão-General Mendonça
Furtado destaque-se o estabelecimento do Real Hospital Militar de Barcelos,
local que utilizou como sua morada em sua longa permanência naquela localidade,
pouco depois tornada a capital da Capitania de São José do Rio Negro, criada em
1755. Capital que ali permaneceu até Manaus tornar-se a capital definitiva, meio
século mais tarde.
Nele trabalhou o cirurgião Dr. Araújo Braga. Em 1772 a atividade do hospital foi
regulamentada. Vale lembrar alguns ítens do seu regulamento:
“Método que se deve praticar no Hospital Real da Vila de Barcelos:
Haverá um inspetor que poderá ser oficial, sargento ou soldado que seja, em
verdade, de boa economia e caridade, o qual será o detentor da carga dos móveis
ou alfaias do hospital. Carga registrada nos livros da Fazenda Real e assinada
pelo Inspetor.
Haverá um livro rubricado pelo Provedor da Fazenda, no qual o Cirurgião
receitará os medicamentos para os enfermos e pelo qual o encarregado da
Arrecadação reunirá citados medicamentos.
Haverá outro livro para o Cirurgião lançar diariamente a qualidade (tipo) e
quantidade dos alimentos que manda dar aos enfermos e por ele assinado.
O oficial da Guarda Principal irá diariamente assistir as visitas do Cirurgião,
bem como o jantar e a ceia dos enfermos e participará tudo ao Governador em
parte por ele assinada.
Não entrará jamais no Hospital um doente sem haver se confessado, aceito pelo
Cirurgião e sem ordem do Governador. O inspetor deverá participar por escrito ao
Governador.
Ex: O fulano de tal foi aceito pelo Cirurgião e se confessou.
Convém que o Governador vá ou envie pessoa de sua confiança ao Hospital algumas
vezes para saber dos soldados se estão bem ou mal atendidos”.
E a seguir um modelo para o pedido diário de alimentos para os enfermos e que
nos dá uma idéia da alimentação fornecida naquela época no hospital:
“Hospital Real dos Soldados da Vila de Barcelos
Inspetor..................................................... 4 de março de 1772
___________________
Governador/Provedor
3 galinhas ............................................................A 6
enfermos
6 pães...................................................................A 6
enfermos
7 rações de tartaruga............................................A 7 enfermos
7 rações de farinha (mandioca) ............................A 7 enfermos
2 quartilhos de vinho..............................................A 4 enfermos
6 onças de farinha do Reino para caldos..................A 3 enfermos
3 libras de arroz para jantar e ceia .........................A 9 enfermos
6 libras de açúcar para caldos.................................A 3 enfermos
4 onças e ½ de manteiga do Reino para caldos.......A 3 enfermos
Nome/Sobrenome
Escrivão da Fazenda Inspetor do Hospital
Mais detalhes Arthur César Ferreira Reis revela na RIHGB, v.231,p.331/254.
Foi recolhido ao hospital, para alívio do impaludismo que o atacara ali no Vale
do rio Negro, o Coronel Lobo d’ Almada, que mais tarde reconheceria, demarcaria
e estabeleceria fortes e destacamentos militares protetores dos limites do
Tratado de Santo Ildefonso nas bacias do rios Negro e Branco, como se verá mais
adiante.
As fortificações do Grão-Pará antes da chegada de Mendonça Furtado
Antes da chegada de Mendonça Furtado para assumir seu posto de Capitão-General
do Grão-Pará e Comissário de Demarcação de Limites na Amazônia, a situação de
suas defesas militares era crítica, conforme se constata pelas documentos a
seguir, constantes da citada obra Amazônia na era pombalina. Pois, ao assumir a
Capitania do Grão-Pará e inspecionar as fortificações da Amazônia, Mendonça
Furtado escreveu:
“Achei que as fortalezas estavam arruinadas e quase todas as povoações
perdidas”.
E em carta de 9 de novembro de 1752 escreveu a seu irmão, o Marquês de Pombal:
Pelo que respeita as fortificações que há no país (Grão-Pará), esta V. Excia
está muito bem informado e não tenho nada de novo a lhe dizer, senão que todos
os dias elas se vão pondo em pior estado.
E a Fazenda Real na maior impossibilidade de as poder remir (reparar). E, em
conseqüência, eu não posso me defender de qualquer insulto que me quiserem
fazer, e ainda que as ameaças sejam fomentadas com muito poucas forças, pois
quaisquer que elas sejam, hão de ser superiores às nossas, e os domínios de S.
Majestade ficam expostos à primeira pessoa que quiser se apoderar deles”...
Isto provocaria a construção das fortalezas mencionadas no período de seu
governo, razão pela qual ao final do mesmo proclamou:
“Que ao chegar encontrará o Pará somente com o Maranhão a ele subordinado e o
deixava com mais governos dependentes do Grão Pará e com 40 aldeias convertidas
em vilas, além de 4 vilas mais, por ele fundadas no Macapá, no rio Negro, no
Javari e no Madeira, etc. “
O Capitão-General Francisco Xavier Furtado de Mendonça comunicou em 22 Fev 1754
que pretendia explorar o rio Branco para determinar o local onde seria erigido o
Forte São Joaquim.
E toda esta consolidação do domínio luso-brasileiro da Amazônia foi exercido a
partir de Mariuá (Barcelos) por cerca de 40 anos, até 1791, período em que
funcionou como a capital do hoje Estado do Amazonas. A capital ainda retornou
ali por algum tempo até se fixar em definitivo em 1804 no Local da Barra e, mais
tarde, Manaus atual.
Em 14 Nov 1753, o Capitão-General do Grão-Pará, em carta a seu irmão Marquês de
Pombal assim referiu-se aos seus encargos e à guarnição militar:
Que “iria aumentar as escoltas das tropas castelhanas empenhadas na Demarcação
do Tratado de Madrid, sem desfalcar os dois regimentos de Infantaria em Belém e
Macapá”. E “forneceria gastadores (sapadores) que fossem precisos, para apoiar
as 3 partidas que aplicaria na demarcação”.
Que “os citados dois regimentos recebidos de Portugal com 500 homens cada não
poderiam ser desfalcados e que poderia mobilizar mais 100 homens”. E “com estes
1100 homens guarneceria as fortificações do interior da Amazônia, colocando por
hora em Macapá 150 homens”.
E “que logo que chegasse ao rio Branco edificaria a nova Fortaleza de São
Joaquim, a guarnecendo com uma Companhia de Infantaria completa de 150 homens e
colocaria no local em que eu me localizar (foi em Mariuá, Forte do Rio Negro e
atual Barcelos) uma tropa ao menos de 200 homens, além de destacar soldados para
a segurança das 3 partidas demarcadoras”. E assim, Belém não poderia ficar com o
efetivo que Pombal ordenara.
Um teste para uma vaga de Sargento-Maior de Regimento
Mencionou ao irmão que ao fazer um exame militar para preencher uma vaga “se
apresentaram 3 candidatos. O primeiro chegara atrasado e foi mandado ordenar
formar de 5 para 4 e fazer esvaziar uma praça de guerra.
O segundo veio em melhor horário. Comandou com mais desembaraço diversas
evoluções sob aplauso geral, e encheria a tarde se uma chuva torrencial não o
obrigasse a interromper o exame.
O terceiro em pouco ou nada superou o primeiro. Estes exames me informaram eram
para completar a vaga de Sargento-Maior do Regimento do Maranhão.
O primeiro tem aqui dado mostras de possuir temperamento revoltoso e faltou com
atenções dívidas ao governador do Maranhão Brigadeiro Gonçalo Pereira que por
isso não gostava dele. E se for designado Sargento Maior daquele regimento do
Maranhão não agradara aquele governador.
E dos 3 examinados, não se igualando, excede o segundo, em ciência, desembaraço
e préstimo como em conduta. O terceiro o tenho como honrado, mas é menos
desembaraçado do que o segundo“.
A oficialidade do Grão-Pará e a fundação da Companhia Geral de Comércio do Pará
Em sua 52ª Carta ao seu irmão Marquês de Pombal, de 24Jan1754, Mendonça Furtado
mencionou que sua idéia de criação de uma Companhia Geral de Comércio no
Grão-Pará, que visava atalhar a pobreza da Capitania, encontrara repulsa geral
dos habitantes.
E que então recorreu à oficialidade da Guarnição Militar e, após informá-los da
ruína do Grão-Pará, convidou os que possuíssem algum dinheiro para se associarem
à Companhia, do que lhes poderia resultar algum lucro.
“E corresponderam à minha expectativa, conhecendo a ruína em que se achava o
Grão Pará.
Mencionaram que ainda que não esperassem lucro algum, estavam prontos, cada um,
a dar o que possuíssem para auxiliar o rei em desenvolver a tão importante
conquista do Grão Pará.
E desses pobres oficiais obtive a soma que me parecia impossível sair de seus
bolsos“.
A esta Companhia, para cuja existência houve a contribuição de militares
luso-brasileiros, se deve a exploração da navegação fluvial na Amazônia, a
plantação de arroz em Carolina, do café no Pará, do cacau no Baixo Amazonas,
etc. A Companhia seria, posteriormente, desativada pela rainha D. Maria I.
A preocupação com a defesa do Amapá, ameaçada por franceses
O Doc. 29, constante da obra citada, Amazônia na era pombalina, é revelador da
preocupação, na época, com a defesa do atual Amapá.
“Agora resta dizer a V. Excia. que necessitamos com a brevidade possível
fazermos junto àquela povoação alguma fortificação que a cubra e a defenda de
algumas violências ou insultos que se intente contra ela.
Que eu não tenho aqui oficial algum a quem encarregue esta diligência, porque o
Engenheiro que aqui está é velho e está sumamente esquecido de sua profissão.
Que na Fazenda Real não há dinheiro com que se faça esta obra, como a V. Excia.
tenho feito presente. Que suposta a necessidade que há da obra, e a falta de
dinheiro que há nesta Provedoria, não me resta outra coisa que fazer.
Era preciso que houvesse um clérigo que fosse com esta gente, para lhes dizer
missa e confessá-los. Pedi ao Bispo me desse algum que quisesse ir de graça a
fazer esta obra de misericórdia.
Com efeito um apareceu e lá está fazendo ofício de pároco, sem côngrua nem pé de
Altar.
Também me era preciso um oficial militar que fosse governar em paz e sossego
aquela gente e fazer-lhes quartéis em que se acomodassem.
E como não achei nesta Praça mais do que os oficiais de que tive a honra de
informar a V. Excia., encontrei aqui, por acaso, um moço que acabava de ser
Capitão-Mór de Gurupá, chamado João Batista de Oliveira, que serviu comigo nas
naus, (na Marinha) com préstimo e atividade, e lhe disse que por serviço de S.
Majestade, adiaria o recolher-se à sua casa, até o fim do ano. E que neste ano
me fosse acudir a esta gente que ia ao desamparo.
No mesmo instante me disse que estava pronto, e foi com muito boa vontade, sem
soldo nem ajuda de custo, estando na verdade pobríssimo.
Parece-me que ele faz um requerimento a S. Majestade para tornar a entrar na
Marinha.
Se S. Majestade lhe der esta mercê (graça), persuado-me a que terá nele um
oficial de préstimo, porque tem gênio e curiosidade, e a sua pobreza o fez sair
do Regimento da Marinha e ver se podia remir no Gurupá, de onde irá com o mesmo
cabedal que trouxe de Lisboa“.
Desapreço pelo serviço militar em Belém em 1752
12ª Carta: “Ilmo. o Exmo. Sr. Meu irmão do coração: Achei nesta terra (Belém) um
ódio estranhável ao serviço militar. E é rara a pessoa de distinção que quer
servir nas tropas.
O primeiro que pude conseguir que o fizesse é o dono da petição que remeto a V.
Exa. e lhe peço que veja se pode conseguir a dispensa que ele pede, para ver se
com este exemplo os posso persuadir a que sirvam a S. Majestade. Fico para
servir a V. Exa. com a vontade que devo. Deus guarde a V. Exa. muitos anos.
Pará, 28 de janeiro de 1752.”
Dificuldades de apoio logístico à tropa luso-brasileira
24ª Carta: “Ilmo. e Exmo. Sr. Tudo se vence, e não há coisa dificultosa. O
sustentar toda aquela gente que deve andar naquelas tropas é o grande trabalho
que eu imagino, porque esta terra é falta de todos os víveres e dos seus
habitantes raros são os que lavram mais do que aquilo que apenas chega para a
sustentação da sua casa.
Pelo que respeita aos soldados, tenho trabalhado o que posso para os tirar da
vileza, penúria e confusão em que os achei.
Como, porém, não tenho oficiais é necessário que este trabalho carregue sobre
mim e que não estão tão adiantados como eu quisera.
Porém, em lugar de baeta preta, de que a maior parte andavam vestidos, e outros
sem véstia (túnica) e descalços, os convenci a que vestissem uniforme de
linhagem, com canhões encarnados, com a qual já parecem soldados.
E assim vão-se desembaraçando bastante na instrução.
Já marcham sofrivelmente, fazem fogo muito bem. Finalmente já parece isto um
Corpo Militar.
Porém, como já lhes disse, não posso fazer-lhes pagamento, nem tenho esperança
do meio por que os socorrerei.
Receio que tudo isto não vá adiante, porque é uma quantidade de pobres, que, sem
comerem, é impossível que possam trabalhar.
Se S. Majestade for servido mandar para aqui alguns oficiais, peço a V. Exa. que
faça com que venha algum a quem eu possa encarregar da economia e da disciplina
destas tropas, pois sem um oficial como o que peço, eles não poderão se
conservar em ordem.
Acho-me com 270 soldados, dos quais tenho 113 destacados, e entre doentes,
presos, licenças e diligências 73. Atualmente se acham 90 prontos para o
serviço, dos quais destacarei um dia destes 40, para irem ao rio Capim socorrer
aqueles moradores que se acham consternados pelos insultos de uns poucos
mocambos estabelecidos nas vizinhanças daquele rio.
E ficarei na Praça (Belém) com 50 homens que creio ficarão de guarda
perpetuamente”.
As fortificações da Amazônia em 1752
“Pelo que respeita às Fortificações que há no país está V. Exa. muito bem
informado, e não tenho nada de novo que lhe dizer, senão que todos os dias se
vão pondo em pior estado e a Fazenda Real em maior impossibilidade de as poder
remir (reparar).
Em conseqüência eu não posso me defender de qualquer insulto que me queiram
fazer. Pois quaisquer que sejam as forças que insultem, hão de ser superiores às
nossas e assim os domínios de S. Majestade expostos à primeira pessoa que quiser
apoderar se deles.
Enquanto a divisão pelo rio Japurá tem seu trabalho e perigo, porque ali duas
vezes por ano ocorrem epidemias trabalhosas, ali é preciso entrar com o rio
cheio e sair antes dele principiar a vazar para se livrar das epidemias. Pois
não se navegando nesta conjunção, são indispensáveis as tais epidemias.
No Japurá perdemos todas as terras que vão desde a sua boca ocidental até o
Napo, em que antigamente Pedro Teixeira, na era de 1639, colocou os marcos dos
domínios portugueses.
A tropa que subir pelos Madeira e Guaporé, deve ser poderosa, porque os padres
(jesuítas) têm as três aldeias que devem ceder-nos.
A de Sta. Rosa é considerável, pois me afirmam que tem muita gente de armas, e
chegam até o ponto de me dizerem que possuem mais de três mil arcos. (Nela seria
erigido o Forte de Bragança).
Para o sucesso da missão, me parecia que para dar calor às nossas tropas,
deveriam também ir naquele corpo de gente duas pecinhas de novo invento (tipo de
canhão) para rebater qualquer desobediência ou insulto que estes padres
(jesuítas), se apresentar-se ocasião, queiram nos fazer.
Creio que as tais peças (canhões) farão um excelente efeito, e causarão horror a
estes bárbaros, e que nenhum deles parará diante delas. Deus guarde a V. Exa.
muitos anos. Pará, 9 de novembro de 1752”.
A ameaça potencial de holandeses do Suriname sobre a atual Roraima e a ordem de
construção do Forte São Joaquim em 1752 e de outros que forem necessários
Londres, II, Mss.20988. Este documento, em MENDONÇA. A Amazônia na era
pombalina, revela a preocupação do Rei D. José I pela segurança da atual Roraima
em 1752, ameaçada por holandeses vindos do Suriname.
“Dom José, por graça de Deus, etc. - Faço saber a vós Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará, que
sendo-me presente que pelo rio Essequibo têm passado alguns holandeses das
terras de Surimam, ao rio Branco, que pertence aos meus Domínios e cometido
naquelas partes alguns distúrbios, fui servido ordenar, por resolução de 23 de
outubro deste ano (1752), tomada em consultas do meu Conselho Ultramarino, que
sem dilação alguma se edifique uma fortaleza nas margens do rio Branco, na
passagem que considerares ser mais própria, ouvidos primeiro os Engenheiros que
nomeares para este exame.
E que esta Fortaleza esteja sempre guarnecida com uma companhia do Regimento de
Macapá, a qual se mude atualmente.
E aos ditos engenheiros fareis visitar também outras paragens e postos dessa
Capitania, de que a defesa seja importante, particularmente das que forem mais
próximas às colônias e estabelecimentos estrangeiros.
E formarem um Mapa das fortificações que julgarem convenientes, e que remetereis
com o vosso Parecer, declarando ao mesmo tempo as fortificações de que
necessitarem as cidades do Pará e do Maranhão e as suas barras.
El-Rei nosso Senhor o mandou pelos Conselheiros do seu Conselho Ultramarino,
abaixo assinados, e se passou por duas vias. Teodósio de Cobellos Pereira fez em
Lisboa, a 14 de novembro de 1752. O Conselheiro Diogo Rangel de Almeira Castelo
Branco, a fez escrever”.
A carta ao Capitão-General do Grão-Pará sobre visita a Macapá em 1752 e as
fortificações da Amazônia
“Depois que saiu a Frota desta cidade também saí eu dela e fui ao Macapá ver
aquele novo Estabelecimento, e animar e ajudar aqueles povoadores nos seus
trabalhos.
E depois de 2 meses daquele exercício, me meti na minha canoa, e fui pelo rio
Amazonas acima visitar as fortalezas e ver que cousa era umas povoações chamadas
aldeias.
Achei que as fortalezas estavam arruinadas e quase todas as povoações perdidas,
como a V. Excia. informarão melhor o seus colegas, por Deus de a V. Excia.
muitos anos. Pará, 19 de novembro de 1752. Ilmo Exmo. Snr. Pedro da Mota e
Silva.
O contato do Capitão-General do Grão-Pará com o Governador de Mato Grosso Dom
Antônio Rolim de Moura em 1752
Londres, II-20991. Documento constante de MENDONÇA. A Amazônia na era pombalina,
dá a seguinte notícia sobre o contato dos governos do Grão-Pará e de Mato
Grosso:
“Ao Governador do Mato Grosso. Ilmo. e Exc. Senhor. - Dando-se-me parte das
fortalezas dos Pauxis (Óbidos) e Gurupá que, no inicio do mês de outubro, havia
passado por elas um correio expedido por V. Excia.
Chegando-me esta noticia muitos dias antes de que ele aparecesse, e tendo eu
neste porto um navio a partir para Lisboa, esta demora me colocou em grande
cuidado, e me obrigou a mandar por estes rios acima um oficial em busca do tal
correio.
E o encontrou ao 3º dia da viagem e se recolheu com ele a esta cidade de Belém,
no dia 15 do mês passado, no qual recebi uma mesma honra com que sempre me
favoreceu V. Excia. como toda a sua Exma Família.
A jornada que V. Excia fez, mais a fadiga e trabalho de um tão prolongado
escabroso caminho, não podia deixar de muito molestar a V. Excia. E para aliviar
e sossegar o ânimo no fim dela, não foi grande remédio as sezões (febres) de que
V. Excia. foi atacada neste sítio.
Espero em Deus que V. Excia. esteja não só livre delas, mas logrando aquela
perfeita e constante saúde que eu sempre lhe desejo.
Das vias que V. Excia. entregou ao Manuel Roiz Capelo, somente chegou uma e com
o endereço tão apagado que me custou perceber que pertencia à Secretaria de
Estado.
A do Conselho diz que lhe ficara na última cachoeira, aonde se alagou a canoa. E
esta que me chegou a mão foi logo remetida para Lisboa.
A Vila que V. Excia. fundou em dia de São José (Vila Bela e atual Mato Grosso)
tenho por sem dúvida que em pouco tempo será uma populosa cidade, porque tendo
nela para fomentar as obras, uma tal pessoa como V. Excia, com o seu grandíssimo
zelo e atividade, é impossível que não cresçam à proporção do magnânimo coração
de V. Excia.
A situação em que ela se fundou era impossível que fosse melhor, principalmente
se S. Majestade for servido a permitir a comunicação desta cidade (Belém) com
essas Minas, cidade na qual se podem embarcar os efeitos em uma canoa e irem
desembarcar em Vila Bela.
E isto é tão grande avanço para o comércio que é impossível que em poucos anos
deixem de crescer as lavras (minas) que se não excederem ao menos se igualem sem
dúvida às das Minas Gerais.
A este respeito fiz já presente a nossa Corte aqueles fundamentos que me
pareceram mais sólidos, para que S. Majestade permitisse a abertura deste
comércio com o qual se remirão essas minas e este Estado.
O embaraço que ha para esta comunicação, e que me foi ratificado quando saí de
Lisboa, assim como me desembaraçou o ir satisfazer a precisa obrigação de ir aos
pés de V. Excia. tomar-lhe as ordens, também colocou essas terras na
consternação em que V. Excia. me diz que elas se acham.
Para poder permitir que fosse este socorro, me vi bastante duvidoso, face as
supostas ordens positivas que tenho para embaraçar, por ora, esta comunicação,
resolvi-me com tudo me socorrer a V. Excia. , e a dar parte a S. Majestade.
E espero que o mesmo Senhor haverá por bem, e se for servido estranhar-mo, terei
neste grande mal ao menos a pequena consolação de que obrei unicamente naquilo
que me pareceu que era mais conforme ao seu Real Serviço.
Aqui estou todas as horas esperando uma nau de guerra com os oficiais e
geógrafos que hão de fazer a divisão dos reais Domínios de S. Majestade por esta
parte do norte.
E estava a partir com tal pressa que saindo o navio que fora as ilhas (Açores)
buscar os casais que para aqui deveria transportar, lhe disse o senhor Diogo de
Mendonça que lhe não entregava as vias porque haviam de vir na nau de guerra que
chegaria primeiro do que ele.
Depois, parece que foi embaraçada a partida da tal nau pelos práticos, pois
nenhum quis tomar conta dela em semelhante tempo, e suposto isto, me convenço
que em Lisboa se entendendo que a nau poderia vir com menos risco a expediram.
E em janeiro ela poderá chegar, porque cessam as ventanias e estão as terras já
claras.
Como se entendeu em Lisboa que vinha logo a nau de guerra, todos se guardaram
para escrever por ela, e não tive mais carta de parte alguma do que uma
particular de meu irmão o senhor Sebastião José, escrita em Belém, (em Portugal)
aonde se achava com S. Majestade (Rei D. José), e feita com tal pressa que
apenas me dava nela a nova mais importante qual era a de que a preciosíssima
saúde de SS. Majestade e mais família real se conservava como todos nós
desejamos.
As outras novas que vieram são tão incertas e se contradizem umas às outras, de
sorte que não merecem atenção alguma.
João de Moura parte com o pouco que conseguiu achar nesta terra, que sobre ser
miserável lhe faltou este ano a frota.
Eu lhe perguntei se tinha aparecido alguma farinha e vinho, e me diz que vinho
muito pouco e farinha nenhuma.
Para poder socorrer a V. Excia. com estes gêneros, tomo a liberdade de
oferecer-lhe o pouco com que por ora me acho, porque também a malotagem ficou
para vir na nau de guerra e apenas me meteram neste navio um par de barris de
farinha, um barril de vinho e uns poucos de presuntos.
João de Sousa de Azevedo se acha dilatado aqui por ordem de S. Majestade. Creio
que para acompanhar aos geógrafos que hão de subir pelo rio Guaporé fazer esta
divisão, por cuja razão não está em min podê-lo remeter logo a V. Excia., nessa
terra.
Da expedição que se fez do Rio de Janeiro para principiarem as divisões pela
parte do sul, estará V. Excia. mais bem informado do que eu, sendo a única coisa
que aqui consta, com certeza, e a de que o senhor Gomes Freire fora por primeiro
Comissário e Plenipotenciário de S. Majestade, não se sabe porém ainda quem será
desta parte do norte, nem em Lisboa tinha havido nada a este respeito. Em pouco
tempo nós o tiraremos desta dúvida.
Em toda ocasião que V. Excia me permitir a honra de servi-lo me achará para esse
exercício com aquela fiel vontade, que é inseparável de minha obsequiosa
obrigação. Deus G. e a V. Excia. D. Antônio Rolim de Moura”.
Guarda Militar do Trocano – Vila de Borba
O Capitão-General do Grão-Pará enviou o tenente D. Antônio de Castro e Menezes,
com escolta, para a aldeia jesuítica do Trocano (a atual Borba), próxima à foz
do rio Madeira, e com a ordem de ali estabelecer um quartel para uma Guarda
Militar que ali deveria permanecer. E, logo que ali chegasse, erigir um quartel
militar com o auxílio dos índios.
“O quartel deve ser feito junto a aldeia, separado da casa dos índios. E ali se
devem recolher todos os soldados depois das Ave Marias, e para todas as noites
responderem a Revista, devendo castigar com aspereza, os ausentes da Revista do
Recolher.
Deverá vigiar com o máximo cuidado que os soldados não pratiquem desordens e
humilhações aos índios. Não consentir que os soldados tomem nada dos índios sem
pagamento e nem permitindo que os desprezem, mas antes os tratem com muito amor
e caridade.
Submeter os viajantes precedentes de Mato Grosso a obrigação de declaração do
ouro que transportam. E feito isso dar uma busca rigorosa nas canoas. E tudo o
que achar lavrar um Auto assinado por V. S. pelo Sargento e dois soldados
testemunhas, enviando tudo a Belém com discriminação e clareza. A apreensão deve
abranger só o ouro em pó, que deve ser remetido com o Auto de Apreensão. O ouro
em barras, com guias da Casa de Fundição deve conferi-los com argúcia, para
concluir se conferem, fazendo uma memória delas para meu conhecimento.
Se conhecer que no rio exista um desvio por onde os viajantes possam contornar,
evitando o Registro da Aldeia, envie escolta para lá e proceda da mesma forma
como na aldeia.
Enfim, cuide que não se extravie ouro algum por este local, pois esta é a
principal e única finalidade que envio esta Guarda Militar a esta vila.
Os índios que trabalharem no quartel como romeiros deverá apontar seus trabalhos
diariamente e remeter a relação deles com respectivos tempos de trabalho para
lhes mandar pagar pela Fazenda Real.
Por conta da Fazenda Real mande fazer roças de manibas (mandioca), feijão e
milho para apoiar a gente que deve assistir no Arraial do Rio Negro e o viajar
de embarcações.
Cuidará de reunir a maior parte de galinhas, patos e demais criações que for
possível, porque necessitarei muito destes gêneros.
Espero que nesta missão se distinga com a eficiência e honra na qual deposito
confiança e que diligencie tão importante mercê (graça).
P.S.: Vigiará com todo o cuidado para não deixar passar ninguém a montante desta
Aldeia, sem minha licença por escrito e com o objetivo de alcançar as minas de
Mato Grosso, e remetendo os que prendeu a minha ordem para Belém, com segurança.
Quando se tratar de eclesiásticos (padres) apreenderá tudo que lhes pertencer,
exceto suas pessoas e o padre D. José dos Anjos que deve vir puro por ordem do
Exmo. Sr. Bispo (Belém, 27 de maio 1754)”.
A viagem do Capitão-General do Grão-Pará de Belém a Marina (atual Barcelos) de 2
de outubro a 28 de dezembro de 1754 (87 dias)
“Outubro: O Capitão-General Mendonça Furtado deixou Belém em 2 Out 1754, depois
de assistir missa e comungar. E embarcou em sua grande canoa acompanhado do
Bispo D. Miguel de Bulhões.
A Infantaria de Belém, formada na Praia, deu 3 salvas de mosquetes e toda a
Artilharia dos fortes da mesma deu uma salva. A expedição era composta de 23
canoas grandes.
A canoa do Capitão-General possuía um camarote espaçoso, forrado de damasco
carmesim com filetes dourados e mobiliado com caixas cobertas de forração de
damasco, 6 tamboretes (bancos), 2 cadeiras estofadas e uma mesa grande, com uma
papeleira com o retrato do Rei D. José no topo.
Tinha 2 janelas de cada lado e 2 na copa e tudo bem dourado e a canoa pintada de
encarnado e azul.
Sua guarnição era de 26 remeiros vestindo calças brancas, calções azuis e
barretes de veludo azul e seda cor de ouro, com chapas de prata das armas.
O piloto (Jacarnaúba) levava libré de caça como o de V. Excia, comum, com
talabarte de veludo e seda”.
A canoa pequena, das mesmas cores que a grande, era guarnecida por 1 piloto e 16
remeiros vestidos como os da canoa grande.
Outras 11 canoas transportavam pessoas, tanto oficiais como astrônomos e
engenheiros.
Outras 10 serviram de armazéns e levavam parte de Infantaria da Expedição. E
mais 5 canoas de pescaria que foram aumentando e que atingiram 18 ao todo.
(Total: 41 canoas).
A primeira parada foi em Maju.
Em 5 de outubro o Bispo deixou a expedição sob salva dos soldados de Infantaria.
Viajavam juntos os capitães-engenheiros Gaspar João Geraldo Grönfeld e João
André Schwebel.
E ao longo do caminho o Capitão-General não aceitou doações e pagava tudo que
adquiria para a expedição.
No dia 10 desembarcaram numa aldeia (depois da Vila de Meforma) que encontraram
vazia por orientação do padre, como forma de protesto ao Tratado Preliminar de
Limites. (Madrid).
Em 19 de outubro atingiram a Fortaleza de Gurupá que recebeu o Capitão-General
com pompa e circunstância e salva de Artilharia. Ele hospedou-se na casa do
comandante.
Dali destacou o Capitão Miguel de Siqueira Chaves para conseguir índios no Xingú
para substituir os índios remeiros que desertaram, devendo encontrar-se com a
expedição em caminho.
Ordenou ao tenente da Fortaleza de Gurupá que desse toda a ajuda ao término da
construção da igreja local.
E deu uma gratificação em dinheiro aos soldados da fortaleza, que ficaram
contentes.
Os engenheiros fizeram a planta da Fortaleza de Gurupá. Próximo, a expedição
teve de tomar cuidado com as onças que haviam devorado dois índios, dois dias
antes.
Em 22, a Expedição partiu com menos 16 índios remeiros que desertaram, dos quais
cinco da canoa do Capitão-General.
No dia 23 chegaram em Carrazêdo (atual). A expedição recebeu 30 alqueires de
farinha de mandioca e as índias ofereceram grande quantidade de bananas que
foram repartidas pelos oficiais de Infantaria.
Em 24 atingiram a aldeia Caviana e depois Tapará, local onde aquartelava uma
Companhia de Granadeiros do Maranhão, comandada pelo Capitão João Teles de
Menezes e Melo e que recebeu o Capitão-General com três salvas de mosquetes.
No dia seguinte o Capitão-General deu uma pataca a cada soldado e levou dali o
Tenente de Granadeiros Luiz Alves por estar em desordem com seu capitão.
Na foz do Xingu a expedição pescou de redes. Recebeu bananas das índias. E
constatou 36 deserções da Expedição de índios das aldeias dos jesuítas. Foi
feito o recompletamento das deserções com índios trazidos pelo Capitão Siqueira.
Novembro. Depois de uma viagem sem incidentes chegaram em 4 de novembro, depois
de um mês de viagem, na Fortaleza de Tapajós (atual Santarém, na foz do Tapajós)
onde o Capitão-General foi recebido com uma salva de Artilharia e três de
mosquetes da Companhia de Granadeiros do Capitão José da Silva Delgado. E a
seguir hospedou-se nas casas dos oficiais.
Era aldeia fundada pelo jesuítas. Ali desertaram 28 índios, recompletados na
área.
Ali, a Expedição permaneceu de 5 a 9 de novembro. Deram um apoio à construção da
igreja e mandou dar uma gratificação aos militares da Fortaleza e da Companhia
de Granadeiros que ali aquartelava.
O Capitão Miguel trouxe índios e saiu para conseguir outros como remeiros.
No dia 12 atingiram a Fortaleza dos Pauxis (atual Óbidos), que se encontra num
local elevado e agradável. O Capitão-General foi recebido com salva da pouca
Artilharia dela e outras honras militares, o qual mandou dar uma gratificação em
dinheiro a todos os militares.
Em 14 encontraram na foz do rio Trombetas uma canoa com um Sargento e 4 soldados
da recém criada Guarda Militar da Missão de Trocano (atual Borba) como escolta
de uns mineiros vindos das minas de Mato Grosso, os quais se extraviaram deles
numa tempestade.
Os mineiros foram encontrados logo adiante e o Capitão-General mandou apreender
15,6 kg de ouro para ficar sob a guarda do tesoureiro. E permitiu que os
mineiros viajassem para Belém e assim não arriscassem a perder o ouro numa canoa
tão precária.
Em 26, depois de viajar sob chuvas intermitentes, chegaram à boca do rio Saiacã
ou Urubu, onde o Capitão-General mandou canoas apanhar tartarugas que fartaram a
Expedição. Suprimento que duraria vários dias. E mais adiante os índios tiraram
grande número de ovos de tartaruga.
Nos dias 5 e 6 ultrapassaram as correntezas antes de Puraquequara, sendo
necessário serem puxadas por cordas as canoas do Capitão-General e a do Capitão
Siqueira.
Dezembro. A seguir começaram a remontar o rio Negro. E ao meio-dia de 7 de
dezembro chegaram à Fortaleza São José do Rio Negro. Nela o Capitão General
mandou distribuir uma gratificação à guarnição. Desde Belém até o rio Negro era
possível viajar a noite. O rio Negro não permitia isto. (Vale lembrar que a
navegação era feita a remo e a vela quando possível).
Dia 9 foi despachado na frente o Sargento Marçal Cordeiro para comprar
suprimentos nas aldeias. Dia 10 acamparam junto ao igarapé Anavilhenas
(Anavilhanas), numa ilhota.
E navegaram pelo rio Negro entre pontas de pedra e com vento de proa.
No dia 16 prosseguiram com o vento favorável, que durou pouco, e veio a
calmaria. Em 17 atingiram Airão (atual), onde os índios ofereceram presentes
correspondentes à sua grande pobreza e rusticidade.
Em 18 enfrentaram uma forte tempestade de 4 horas.
Em 19 a Expedição viajou entre pedras e ilhas e passou por uma cachoeira.
Atingiu uma laje, onde a veio encontrar o Comandante Mór Gabriel de Souza
Filgueiras.
Em 21 atingiu a aldeia da Pedreira onde a Expedição se dirigiu à igreja e ouviu
missa cantada pelo padre e índios, que à noite fizeram oferendas e culminaram
com músicas e bailes rústicos.
Pelas 5 horas da madrugada do dia 21 entramos a navegar e favorecendo-nos um
vento brando.
Chegamos pelas 10 horas na aldeia da Pedreira e, encaminhando-nos logo para
Igreja. Cantou missa o padre Frei José da Madalena, e com as índias da aldeia.
Nesta tarde concorreram as índias com as suas costumadas putavas (cestas) à S.
Exa. e a noite o vieram lisonjear com músicas e baile, à altura da sua
rusticidade.
A 22, depois de ouvirmos a missa saímos dessa aldeia e, navegando todo este dia
com bastante calma e por muitas pedras, aportamos pelas 5 horas da tarde em uma
enseada que passamos a noite com bastante chuva.
No dia 23, pelas 6 horas da manhã continuamos nossa viagem com vento, que nos
favoreceu até a aldeia de Aracari (atual Carvoeiro) onde chegamos pelas 3 horas
da tarde e nela pernoitamos.
No dia 24, pelas 7 horas da manhã, depois de ouvirmos a missa, saímos desta
aldeia e, favorecendo-nos um vento brando, chegamos pelas 5 horas da tarde a um
lago em que nos recolhemos por causa de umas trovoadas que estavam armadas e
descarregaram depois de estarmos abrigados.
No dia 25, (Natal) pelas 4 horas da madrugada, seguimos a nossa viagem e pelas 7
aportamos em uma boa praia em que disseram os capelães as missas do Natal, e
depois prosseguimos até às 7 horas da noite, e ficamos em umas ilhas bastante
abrigadas a todo tempo.
Pelas 5 horas da madrugada do dia 26 continuamos a nossa viagem sem mais demora.
E navegamos este dia sem vento algum até que pelas 4 horas da tarde avançamos
bastante caminho com uma intensa trovoada com que corremos por ser em popa, e
pelas 11 horas da noite aportamos em uma boa praia de areia.
No dia 27, pelas 4 horas da madrugada seguimos a nossa derrota, e pelas oito
chegamos à aldeia do Cumaru (atual Poisares) onde ouvimos missa na qual recebeu
S. Exa as costumadas ofertas, ou putavas das índias, às quais mandou remunerar e
respeitar na forma ordinária.
Depois de feita esta diligência, que foi breve, saímos com vento por proa. Foi
preciso chegarmo-nos ao mato enquanto passou a força. Ficou depois uma noite
muito serena e clara e navegamos até a meia-noite, em que ficamos em uma praia
para descansarem os índios.
Pelas 4 horas da madrugada do dia 28 entramos a navegar e pelas 9 horas da manhã
chegamos à aldeia de Mariuá, (atual Barcelos) em que estava formado o arraial
onde S. Exa foi recebido com muitas demonstrações de alegria. Ele saltou da sua
canoa com apoio em uma boa escada.
E por um caminho todo guarnecido por arcos de flores chegou ao lugar da aldeia
de Mariuá que é eminente.
No principio dela estava formado um pórtico de madeira em forma de arco de
triunfo, e junto dele repetiu um índio o bom sucesso da viagem.
E logo entramos em uma pequena praça em que estavam formados os soldados do
Destacamento, que aqui se achava, os quais receberam a S. Exa com três descargas
de mosquearia e ao mesmo tempo também salvaram com Artilharia duas fortalezas
formadas de madeira.
Logo S. Exa se encaminhou para a Igreja onde se cantou pelas índias da aldeia o
Te Deum Laudamus com todo o primor e depois celebrou missa, com toda solenidade,
o Revdo. Padre Comissário e cantada pelas mesmas índias músicas, admirando-se
todos de que, em país tão remoto, de comunicação e civilidade das gentes e tão
faltos de professores, pudessem ser bem instruídas.
Os oficiais da Expedição foram aquartelados em casas preparadas que o
Capitão-General visitou todas. Depois foi hospedado em quarto que o acomodou com
toda decência no Hospício dos Padres (Hospital).
No outro dia o Capitão General começou a trabalhar. Despachou canoas para
buscarem suprimentos.
Mandou vestir, à sua custa, as índias que andavam nuas e expediu ordens às
aldeias para que todas na mesma situação viessem para Mariuá para trabalharem
para o rei e ganharem para se vestirem.
A seguir passou 11 dias visitando aldeias e inspecionando roças e desenvolvendo
atividade para abastecer os armazéns para suprir o arraial de Mariuá e a
Comissão de Demarcação Espanhola que ali era esperada.
A Expedição era constituída de 1.025 pessoas, das quais 511 índios (ou 50%) dos
quais fugiram 165. Número de 1.025 que os paraenses julgavam impossível
alimentar numa viagem tão longa (87 dias) por falta de alimentos.
Porém a atividade e grande zelo do Capitão-General superou estas grandes
dificuldades, fazendo com que todos viajassem contentes, em que pese a maior
parte das aldeias não cumprirem as providências que 2 anos antes lhes tinha sido
recomendado. Ass: João Antônio Pinto da Silva (Secretario da Expedição)”.
A viagem de Mendonça Furtado de Belém à Fortaleza do rio Negro (atual Manaus)
durou 72 dias. Decorridos quase 100 anos, em navios à vela a viagem durava 30
dias. Em 1843 o navio a vapor Guapiassu, do Barão de Mauá, cobriu o trecho em 10
dias. Hoje, este trecho é coberto em cerca de 3 dias, por navios modernos.
Enquanto transcorria esta viagem, em 21 Out 1754 o Ajudante José Barros e o
Tenente Inácio Soares foram mandados pelo comandante de Macapá com alguns
soldados para a aldeia de Santana no Amapá, para civilizar seus índios, enviando
os jovens à escola e ensinando a todos a língua portuguesa, além de estimular a
produção agrícola para que eles a vendessem em Macapá.
E mais, orientar os índios para que construíssem uma canoa capaz de ir de Amapá
atual até Belém, levando seus produtos para vender, sempre acompanhados de 2
soldados e com o conhecimento do bispo D. Miguel de Belém do que eles levavam
para vender, para evitar que fossem explorados.
Em novembro de 1756, autorizado pelo rei, Mendonça Furtado, adoentado e irritado
pela demora da chegada a Barcelos do Comissão Demarcadora da Espanha, viajou a
Belém, onde chegou viajando rio abaixo em 22 Dez, depois de 29 dias de viagem.
Vale lembrar que levara de Belém a Barcelos, rio acima, 83 dias de viagem.
O esforço para liberar o caminho Belém-Vila Bela das missões jesuíticas
O Capitão-General Mendonça Furtado, do Grão-Pará, abordou a facilidade com que
as aldeias dos jesuítas liberaram seus locais (em Rondônia atual) e foram para o
lado espanhol.
E menciona os índios charruas do Rio Grande do Sul, hoje consagrados na
denominação histórica da 2a Brigada de Cavalaria Mecanizada- Brigada Charrua,
sediada em Uruguaiana- RS, cuja história estamos desenvolvendo no 10º volume da
História do Exército na Região Sul, junto com o Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis.
“A facilidade com que estes padres evacuaram as aldeias do Guaporé me faz entrar
em idéia de que a Corte de Madrid expediu as ordens a este respeito, e que no
rio Guaporé as executaram, porque os padres nesta parte não conservam em segredo
o alto mistério de todas as povoações da margem do Uruguai, e das imensas que há
entre eles e o Paraguai, sendo soberanos de todas as nações que habitam naquelas
vastíssimas terras, entre as quais é mais importante, segundo as notícias que eu
tenho, a nação dos Charrua, que, por serem infinitos, são sumamente guerreiros.
E ainda que tudo se acha no mundo, parece que se faz incrível que El-Rei
Católico (Espanha) queira, em obséquios daqueles benditos padres, ceder os
importantes tesouros que todas aquelas terras deveriam entrar nos seus reais
cofres, se não tivessem tiranizadas à força de tanta virtude.
E enfim, o tempo nos descobrirá a verdade.
Se o Senhor (Deus) não fosse servido fertilizar estes rios que me socorreram em
grandíssima abundância de peixes, tartarugas e caça, de que tudo houve uma
quantidade indizível, com bem vê V. Excia o meio que esta gente seguiu para me
por na prisão, ou ser obrigado a recolher-me ao Pará, ou morrer, eu e toda a
gente que passava fome, entre estes matos, como tinham prognosticado e divulgado
naquela cidade (Belém), tendo-se por impossível nela que eu concluísse a viagem
a Mariuá, com o bom sucesso que tive nela”.
Refere Mendonça Furtado que a população de Belém previa que ele não conseguiria
atingir Mariuá por falta de alimentos para tão numerosa Expedição.
Uma revolta contra o Capitão-General do Grão-Pará
O Capitão-General Mendonça Furtado prosseguiu seu relato descrevendo revolta
contra ele em Mariuá, sob a liderança do padre Aleixo Antônio:
...”Deus Nosso Senhor, porém, foi servido socorrer-me com mão tão larga como
acima disse, para se destruírem todas aquelas sediciosas idéias.
Outro caminho que seguiram para me atormentar, é o mais escandaloso, qual seja o
de entrarem na diligência de revoltarem contra min todos os oficiais que
puderam, principalmente os astrônomos e engenheiros da Comissão.
Colocou-se à testa deste insulto (revolta) o Pe. Aleixo Antônio, que é um dos
maiores inimigos que aqui tem os interesses da coroa e o bem comum.
Ele é o mais perigoso, porque debaixo de uns acidentes (permita-me que me
explique assim) do seu bigodão, é de um ânimo revoltoso, soberbo e avarento, que
não perdoa a meio algum de arruinar o público para fazer toda inconveniência à
sua comunidade.
E, para por em prática a idéia que intentava, seguiu os meios que direi.
Continuando o dito Pe. Aleixo Antônio na mesma idéia, se meteu com uns poucos
oficiais debaixo de virtuoso pretexto.
Pelo que tenho referido verá V. Exa a contínua guerra que esta gente me esta
fazendo, e a aflição de espírito em que é necessário estar continuamente para
tirar a estes padres todo o pretexto de alguma invectiva, e servir a S.
Majestade, com a eficácia e exatidão que devo, e espero em Deus que me há de
ajudar a consegui-lo, porque conhece a sinceridade com que obro.
Devo ultimamente informar a V. Exa que entre todos os oficiais que vieram, o
ajudante Filipe Sturm não se meteu nunca em parcialidades, e tem procedido na
forma que em outro aviso fiz a V. Exa.
O Capitão João André Schwebel em que pese haver sido atacado para aquela união
se retirou dela logo e veio dela a min dar parte e tem vivido neste arraial com
quietação e servido com préstimo.
O outro, Capitão Grönfeld, tem também préstimo e como não lidei com ele mais do
que na jornada até aqui, pois que logo chegou em Mariuá foi doente para o Pará.
Não sei se emendaria (aderiria) a causa que fez uma grande desordem no
caminho”...
A criação da Capitania do Rio Negro, o atual Estado do Amazonas
Por Carta-Régia, 5 de março de 1755, D. José I organizou o governo do Rio Negro,
constituindo-se numa capitania separada do Grão-Pará.
A criação foi conseqüência do Tratado de Madri de 1750. E visava atender às
necessidades de segurança e demarcação das fronteiras norte e oeste.
A sede de seu governo funcionaria até 1791 em Mariuá (Barcelos), transferindo-se
depois para Manaus. Essa transferência respondeu à necessidade da presença de
uma autoridade política mais próxima e assim foi a criada a Capitania do Rio
Negro, futuro Estado do Amazonas.
O chefe das 3 partidas de demarcação no Norte
Em carta ao Marquês de Pombal de 12 Jul 1755, o Capitão-General deu a seguinte
idéia da chefia e organização das 3 partidas de demarcação de limites na
Amazônia:
...”Pelo que acima digo se vê que a tropa que for ao Mato Grosso é a que deve
nos dar maior cuidado. E para a qual se deve escolher os oficiais mais hábeis e
de maior autoridade e inteligência.
Como Coronel, Antônio Carlos Pereira de Souza foi oficial da Marinha, e o tenho
por homem de honra, faço intenção de que ele seja o primeiro Comissário daquela
tropa, porque entendo que executará completamente as ordens de que for
encarregado, e mesmo porque tem juízo e honra, e não há de deixar de ter
conhecimento das cartas geográficas, e do que é meridiano e paralelo. E com ele,
me parece que S. Majestade ficará bem servida.
Para Segundo Comissário, se não houver novidade, faço intenção de que vá o
Capitão de Granadeiros Manuel José Henrique de Lima, que serviu muitos anos na
Marinha e tem bastante conhecimento da esfera.
Como leva também dois Comissários, faço intenção de aproveitar para Terceiro
Comissário a um Ajudante, que aqui servia, chamado Acinte Francisco de Távora,
que sempre há de ir nesta tropa porque já foi aquelas minas (Cuiabá), e possui
grande pratica da navegação de todos estes rios, e serve a S. Majestade com
grande zelo e préstimo.
E faço a intenção de lhe dar uma patente de Capitão de Infantaria, para ir
cobrindo o Corpo de Soldados que for aquela expedição e ficar assim mais
graduado.
O astrônomo que deve ir é o Pe. Inácio Sanmartoni e por companheiro do novo
Ajudante Henrique Wilckens, que é nascido e criado em Portugal.
Para fazer o mapa deve ir o Ajudante Filipe Sturm, que é hábil, e tem a
circunstância de ser casado em Lisboa com portuguesa e esta estabelecido com a
casa e família naquela corte.
Deve ir mais um oficial subalterno de Infantaria e 2 sargentos.
O numero de soldados me parece que não deve ser grande, porque por aquela parte
não temos quem nos resista com força, e, como o caminho que se há de fazer por
terra é no nosso continente, não temos que recear.
E quando haja alguma novidade não imaginada o Governador de Mato Grosso
socorrerá com o que puder.
E ele mesmo assenta e me pede que a tropa que for não seja mui numerosa.
E postas estas circunstâncias, faço intenção de mandar de 40 até 50 soldados,
mas todos escolhidos e dos que houver melhor conceito.
Para a que deve entrar no Javari, Juruá e Purus, faço intenção de que vá por
Primeiro Comissário o Sargento-Maior Gabriel de Sousa Filgueiras de cujo oficial
faço uma inteira confiança.
Ainda não me resolvi quem será o segundo e ando ainda examinando o préstimo e
probidade de algum oficial para o por neste lugar.
O astrônomo desta tropa deve ser o Dr. João Ângelo Bruneli. Para fazer a
delineação do mapa há de ir a estes rios o Capitão João André Schwebel, que é
habilíssimo e capaz de fazer tudo com grande perfeição.
Há de ir mais um oficial de Infantaria e 2 sargentos com 60 até 70 soldados,
porque naqueles rios há infinitos índios e alguns deles guerreiros. E é
necessário força para lhes resistir.
A 3ª tropa que é a do Japurá, ainda não tenho resoluto quem seja o Primeiro
Comissário.
E naturalmente irá isto passar a um dos Oficiais da Sala, pois qualquer deles
dará conta de si. E João Pereiras Caldas é moço, tem muito juízo e honra, e
infinito brio, e há de dar conta de tudo de que for encarregado.
Enfim, daqui até que se expeça esta tropa, verei qual deles poderá dar melhor
conta da diligência, ou se aparece outro que me ponha o meu cuidado (zelo) em
maior descanso.
Também ainda não me determinei (defini) o nome do Segundo Comissário, porque
isto por cá não esta mui abundante de homens em quem eu sossegue e que possa
separar de min.
Não tenho até agora a quem encarregar as observações astronômicas ou ao menos
quem determine as latitudes, que é, na minha estimação, nestes negócios coisa
sumamente importante.
Para delinear o mapa, faço intenção de mandar ao Capitão Grönfeld, que entendo
fará a sua obrigação muito bem.
Nesta tropa deve ir outro oficial subalterno de Infantaria com outro igual
numero de soldados, porque os índios daquele rio são bastante atrevidos e
traidores.
As ordens que levam são fielmente as de S. Majestade e que foi servido mandar-me
expedir assim na Instrução, como nas mais que vieram alusivas a esta importante
diligência.
Se alguma destas disposições não for aprovada por S. Majestade, será preciso que
V. Exa logo me avise, porque poderão chegar os castelhanos, e eu devo despedir
as tropas com a brevidade que couber no possível. Deus guarde a V. Exa muitos
anos. Arraial de Mariuá, em 12 de julho de 1755”.
As instruções passadas ao Tenente Diogo Antônio de Castro para a Vila de Borba,
a Nova, na antiga Aldeia do Trocano
O Capitão General do Grão-Pará, depois de mandar construir quartel na Aldeia do
Trocano, como abordado anteriormente e também como Registro de Ouro, passou as
seguintes instruções ao seu comandante:
...”Sendo S. Majestade servido mandar freqüentar a comunicação desta Capitania
para as minas do Mato Grosso, e querendo que os seus vassalos que fizeram esta
larga navegação achem nela não só descanso mas socorro e refresco pronto.
E não havendo outros meios para conseguir aqueles interessantíssimos fins, senão
haver povoações civis e população, nas quais os seus moradores cultivem todo o
gênero de mantimento para acudirem às necessidades que se experimentavam na dita
navegação, foi servido o dito senhor, em benefício comum, assim dos passageiros
(viajantes) como dos moradores, mandar erigir em Vila esta povoação, que até
agora se conhecia por aldeia do Trocano, impondo-lhe o nome de Borba, a Nova.
Troca-se por esta forma a rusticidade da povoação antiga dos miseráveis índios
que nela viviam, em civilidade ou polícia, com cujo meio só adquirirão todos os
moradores que nela assistem e novamente os que se vierem estabelecer por meio de
comércio a se fazer com os passageiros (viajantes), vendendo-lhes os frutos e
mais gêneros que tiverem.
E mais, tirarão os índios o sólido interesse de conseguirem o verdadeiro
conhecimento da nossa santa fé, na qual estão superficialmente instruídos, como
a V. Mce. tem sido assaz notório.
A primeira coisa em que V. Mce. deve empregar todo o cuidado, é em fazer
conservar todo este povo em paz e união, e que assim que Índios como é o único
meio que há, não só para sua conservação.
Para absolutamente desarraigar nesta Vila o prejudicial abuso que esta arraigado
em todo este Estado, de que só os índios são os que devem trabalhar e que a todo
o branco é injurioso o pegar instrumento para cultivarem a terra.
Com base neste principio não consentirá V. Mce que Índio algum sirva a morador
que pelas suas mãos não cultive as terras que lhe forem dadas, vigiando com
grande cuidado quais são os que se empregam no trabalho com atividade para
ajudar a estes, dando-lhes os Índios que V. Mce entender que são preciosos para
adiantar as plantações que quiserem fazer, e declarando diante de todos os
outros que S. Majestade tanto manda ajudar aos que fazem, quanto cabe no
possível para adiantar a cultura das terras, quando manda castigar e desprezar
os que pondo-se em vida ociosa querem viver à custa do trabalho dos outros. E
que por essa razão, ajuda aqueles e sem dúvida alguma há de castigar a estes.
Como presentemente virão para esta Vila alguns casais de homens brancos, casados
com Índias, pode suceder que pelo tempo adiante queiram por em desprezo as
mulheres para alguma sujeição de algumas pessoas menos intencionadas, que não
zelam como devem os interesses sociais do Estado.
Se a V. Mce lhe chegar nota alguma de desordem a este respeito, cuidará muito em
evitar, fazendo compreender ao agressor a deformidade da ação, e o quanto deve
estimar sua mulher, em contemplação da qual se lhe fizeram todas as honras e
mercês (graças) que ele experimentou.
E, mais que S. Majestade manda fazer aos que contraírem semelhantes matrimônios
e que seus filhos chegarem a fazer algum serviço, se lhes faça mercê (concessão)
do Hábito de Cristo, e necessitarão só de dispensa dos pais; porquanto, pelo
mais, estão habilitados para todas as honras.
E que isto é uma demonstração clara e evidente de que casaram com mulheres mais
nobres do que eles, e como tais, as devem estimar.
Se não contiverem, os que continuarem a tratar mal as suas mulheres, como suas
escravas; pelas primeiras vezes os castigará V. Mce como lhe parecer justo, e se
não emendarem me remeterá informações seguras. Pois se não se favorecerem estes
casamentos, perderemos certamente um dos mais principais estabelecimentos do
Estado.
Aos que estimarem as mulheres, louvará V. Mce publicamente, e os favorecerá o
quanto puder no possível, para que esta demonstração sirva de estimulo aos
outros para viverem como devem, e são obrigados.
Porquanto não podemos fazer um estabelecimento sólido nesta Vila se os Índios
não concorrerem conosco igualmente, para a causa comum, fazendo os interesses
recíprocos.
É preciso que nos benquistemos com eles, e que façamos todo o possível para que
eles conheçam não só que os estimamos, mas que buscamos todos os meios de os
fazer ricos e opulentos.
V. Mce cuidará muito em distinguir e honrar aos Principais e mais Oficiais que
havia na antiga Aldeia, que hoje se acham moradores desta Vila; fazendo
repetidas práticas em que se lhes mostre por obras a verdade e sinceridade com
que fala, seguirá V. Mce a este respeito os meios que vou indicar-lhe”...
Em 1º Jan 1756, a Aldeia do Trocano, cujo missionário era o jesuíta Anselmo
Eckart, teve mudado seu nome para Vila de Borba, a Nova. Fato que exacerbaria o
incidente do Marquês de Pombal com os jesuítas. A Vila de Borba era considerada
um dos mais importantes estabelecimentos do Grão-Pará. Pois além de evitar com
sua guarda militar e registro o descaminho de ouro e diamantes de Cuiabá,
apoiava logisticamente viajantes que circulavam entre Vila Bela e Belém.
A instrução ao Sgt Mor Eng Sebastião José da Silva, para governar Mariuá
enquanto o Capitão-General foi fundar A Vila de Borba, a Nova
Ao viajar para fundar em Trocano a Vila de Borba, a Nova, o Capitão-General
deixou a seu substituto as instruções a seguir, em que omitimos os números 5 a
8. Ressalta a esperança da chegada da Comissão de Espanha.
“1. Porquanto me é forçoso sair deste Arraial (Mariuá) por algum tempo, enquanto
não chega a ele o Brigadeiro Antônio Carlos Pereira de Souza, ou outro oficial
de maior patente do que V. Mercê, deve V.M. ficar comandando o mesmo Arraial, e
fazendo dar as providências que forem precisas, não só para a sua subsistência,
mas igualmente para se continuar na cultura e adiantamento das roças e mais
obras em que atualmente se trabalha e da mesma forma conservar este
aquartelamento em quietação e sossego, os soldados em disciplina, de forma que
não se atrevam a cometer as desordens e excessos que naturalmente podem fazer,
se os não contiver o respeito que devem ter a quem os governa.
2. Quando as roças, não se deve perder um instante, assim em beneficiar as que
estão plantadas, como em fazer todo o possível para as ampliar.
A que está junto a esta Povoação tenho encarregado o cuidado dela ao Sargento
Francisco Brune, que tem dado conta de sua obrigação com zelo e atividade, e V.
M. terá cuidado de ir a ver todas as vezes que lhe for possível.
Ao dito Sargento mandará dar toda a gente que ele entender que lhe é precisa,
assim para conservar o que está plantado, como para plantar o que falta, e fazer
o roçado que lhe deixo recomendado.
3. A roça em que se acha o Tenente Antônio José Rebelo, saberá V. M. do mesmo
oficial, o que lhe é necessário, assim para acabar a plantação que esta fazendo,
como para a replanta que lhe deixo recomendada, e dará para se adiantar aquela
cultura, toda a providência que o dito oficial lhe pedir, não omitindo meio
algum para se conseguir o importante fim de podermos ter mantimentos certos
destas roças. 4. Tenho mandado principiar a desfazer (colher) uma parte das
sobreditas roças, para se sustentar este Arraial.
E a mandioca deve vir para a Fábrica que está junto a esta Povoação, entregue ao
Sargento Francisco Brune, o qual, depois de a mandar reduzir a farinha, entrará
com ela nos armazéns, declarando na entrada a roça a que pertence.
9. As obras dos Quartéis para o Ministro de El-Rei Católico, e para os seus
Oficiais se deve fazer toda a diligência que couber no possível para as
adiantar, até que com efeito se concluam. E para cuidarem nas ditas obras, estão
destinados o Ajudante Engenheiro, Filipe Sturm, e o Tenente Valentim Ribeiro da
Silva, aos quais V.M. deve recomendar que não percam tempo algum ou perdoem a
meio algum de conseguirmos aquele fim.
10. Na quietação e disciplina dos soldados se deve cuidar muito, para evitar as
desordens que costumam fazer, em havendo, em quem os manda, algum descuido nesta
grande matéria.
11. Para se conseguir o fim de se evitar uma grande parte das mesmas desordens,
se deve fazer executar a ordem que tenho passado, para que os soldados e
sargentos (que não estão dispensados de dormirem nos Quartéis) estejam às oito
horas, passando-se-lhes, às horas costumadas as revistas ordinárias, a tempo
competente.
12. Contra os que perturbarem o publico, ou violentarem mulheres, ou lhes
fizerem qualquer força, procederá V. M. com toda a atividade, e os réus destes
delitos ficarão logo presos à minha ordem.
14. Na canoa grande que deve ir receber aquele Ministro de Espanha, deve ir,
tendo chegado a este Arraial, o Ajudante de Sala João Batista de Oliveira, ou
quando não tenha vindo, deve ir o Capitão de Granadeiros Manuel José Henriques
de Lima, e na falta destes dois, aquele Oficial que V. M. julgar mais hábil para
uma ação tão séria como esta. (Tratava da recepção do Comissário espanhol e
comitiva).
15. Nas ocasiões que ocorrerem, e que aqui não estão expressadas, dará V.M.
aquelas providências que lhe parecerem mais úteis ao serviço de S. Maj e ao
sossego deste Arraial”...
A presença de duas peças de Artilharia com os jesuítas em Trocano
151ª Carta. ”Ilmo. e Exmo. Sr. Meu irmão do meu coração. A V. Exa. avisei em
carta de 15 de novembro do ano passado de que, sem embargo da pouca saúde com
que achasse logo que expedisse a via que devera levar o iate para esse corte,
saía deste arraial (Mariuá) para ir fundar a Vila de Borda, a Nova, no rio da
Madeira, na forma que me ordena.
O que restava eram duas outras canoas velhas, uma forja de ferreiro e uma
balança de pesar o seu negócio, o sino, e duas peças de artilharia que me disse
que lhes serviam para se defender dos Muras.
O segundo foi tirar aos padres toda a presunção de que, se houvesse novidade
maior, lhes pudesse fazer deixar nas aldeias os outros bens mais importante que
nelas tem, porque do procedimento que houvesse com eles nesta primeira fundação
havia de fazer argumentos para as outras, e por isso pelejei o que pude para
poder nas outras obrar mais livremente, nas quais o espólio há de ser mais
importante, principalmente nas grandes, que estão mais perto da cidade.
Porém , para não dar jogo aos ditos padres, lhe escrevi na forma da cópia que em
outra hei de remeter a V. Exa., na qual lhes dizia que a decisão da pessoa a
quem pertenciam aqueles bens tocava inteiramente a S. Majestade.
E escrevi ao padre visitador, de cuja carta e resposta também remeto copia a S.
Exa onde dizia respeito ao altar, o sino e as duas peças de Artilharia da aldeia
do Trocano, porque estas, de sorte nenhuma, lhe competiam e muito menos nestes
centros, porque eram armas que não as costumavam possuir senão Príncipes
Soberanos, e que eu não lhes podia consentir em parte nenhuma a posse das peças.
E que deveriam ficar com aqueles pobres bens em depósito até S. Majestade
determinar a quem pertenciam tudo”...
Segundo Marcos Carneiro de Mendonça, as 2 peças de Artilharia na aldeia de
Trocano deram motivo ao que, contra os jesuítas, levantou o governador Mendonça
Furtado.
Isto porque estando ele, como se constata nesta correspondência, senhor das
notícias vindas do sul (a Guerra Guaranítica), achava, com razão, que em momento
oportuno os jesuítas, com seus índios na Amazônia, podiam servirem-se delas,
como os jesuítas e índios que reagiram militarmente no Rio Grande do Sul, na
mesma época, sob a liderança dos padres, à entrega, a Portugal, dos Sete Povos
das Missões, conforme determinava o Tratado de Madrid.
Fundada a vila de Borba, a Nova, pelo Capitão-General Mendonça Furtado, este
deixou governando-a o Tenente Diogo Antônio, conforme comunicou ao Marquês na
sua 152ª Carta.
Os casamentos de soldados com índias na Vila de Borba e medidas para desenvolver
este local
154ª Carta. “Ilmo. e Exmo. Sr. Meu irmão do coração. Como era preciso introduzir
alguns soldados, depois de publicada a lei por que S. Majestade foi servido
habilitar aos descendentes destes de índios, para todas as honras, para os que
se casassem com índias.
E logo o primeiro casamento se ajustou. E seguiram-se uma quantidade deles e até
agora completei os 23 casais soldados x índias e ficam para se receber 3 ou 4
casamentos .
E muitos mais teriam casado, se pudessem constar aqui que não tem embaraços.
Dos conteúdos na dita relação se acham já 20 na vila de Borba e os restantes
irão em poucos dias.
O dote que lhes dou é o pouco que cabe nas presentes circunstâncias, porque os
armazéns estão bastante desprovidos, pelo que apenas mandei dar a eles umas
fardas velhas que havia.
Uma farda a cada noivo, e a sua mulher, camisa de pano e saia de aniagem,
enxada, machado e foice.
Enquanto houve serras, enxós, e martelos, mandava dar uma peça de cada
ferramenta, e meio alqueire de sal.
E com este bom dote e com a mulher os soldados se foram mui contentes para a sua
nova terra.
Como, porém, a mesma vila (de Borba) não pode se manter sem nela haver gados,
mandei ordem ao Tenente dos Pauxis (Óbidos), para que nas aldeias do Surubi e
Jacundás faça toda a diligência para comprar de 20 até 30 cabeças de gado vacum
para repartir por aqueles moradores, de acordo com o que S. Majestade foi
servido praticar com moradores que vieram das ilhas (Açores) para as novas vilas
que se fizeram junto ao Pará.
E ainda quando não houvesse esta real determinação sempre se deveria na vila de
Borba introduzir gado para que os passageiros (viajantes) do Mato Grosso
tivessem naquela vila todo o gênero de mantimentos.
E como os novos moradores de Borba são tão pobres, seria impossível aquela
introdução de vacuns se S. Majestade não fosse prove-los deste remédio.
Também seria mui conveniente que se pudesse introduzir éguas, porque aquela
vila, em que pese estar sumamente bem situada, tem 7 ou 8 léguas de terras
firmes em roda de si e todas excelentes”... Deus aguarde a V. Exa muitos anos.
Arraial de Mariuá, 13 de outubro de 1756.’
A revolta de tropas de Portugal em Mariuá, conforme relato do Capitão-General
Mendonça Furtado ao Marquês de Pombal em 1757
178ª Carta. “Limo. e Ex.mo. Sr. Meu irmão do meu coração. Neste instante lhe
acabo de dar conta da desordem acontecida no arraial do rio Negro (Mariuá), e
será agora preciso fazer-lhe mais alguma reflexão nesta matéria, e dar-lhe
notícia que V. Ex.a. creio que nunca soube, nem eu quis falar nela, por se não
entender que em mim havia segunda intenção, ou que nas minhas representações
podia haver coisa que não fosse puro serviço de S. Majestade.
Como se apresenta esta ocasião, já não é tempo senão de dizer o que sinceramente
entendo sobre o que se passou com estas tropas, que há 4 anos vieram para este
Estado, e que me tem dado o que fazer e mais do que se pode imaginar, sem nunca
tirar delas outro fruto do que se conterem (comportarem-se) na parte em que vivo
com elas, não chegando na minha presença a fazerem excesso maior.
E pois o caso que passando S. Majestade positivas ordens para que dois
regimentos que foi servido mandar para guarnição desta capitania do Grão Pará
não fossem compostos daquela vivíssima canalha que se costuma mandar para Índia
e para as outras conquistas, por castigo.
E ratificando V. Ex.a. esta ordem um par de vezes, como me constou, totalmente a
desfiguraram.
Pois a maior parte da gente que veio eram ladrões de profissão, assassinos e
outros malfeitores semelhantes, que principiaram logo a por a terra em uma
perturbação grande, cometendo toda a qualidade de crimes, obrigando-me a
proceder contra eles com castigos rigorosíssimos, sem nunca os poder fazer
conter dos seus excessos.
Também soube muito bem, que dizendo-se a V. Exa. que estava uma capoeira cheia
desta gente para mandarem para cá, o fez V. Exa. presente a S. Majestade. E foi
o mesmo servido ordenar que tal gente viesse.
Sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de
Setúbal, 72 ou 73 soldados, conforme me diz o Tenente-Coronel Luís José Soares
Serrão, suprindo-se aquelas praças com estes malfeitores, que por um milagre da
onipotência divina, não tem feito aqui maiores excessos, como normalmente se
deveria esperar de homens de tal procedimento, e castiga-los quanto me parece
justo, sem contudo colher o fruto que desejava.
Com cujo objeto rogo a V. Exa. queira representar a S. Majestade que, se for
servido mandar algumas recrutas, sejam daqueles mesmos homens que S. Majestade
ordenou já que viessem nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores
se distribuam por outras partes e não por um Estado que se esta criando, pois
não servem de outra coisa aqui, aqueles delinqüentes, senão de arruinarem estas
miseráveis plantas tão tenras, como V. Exa. tem muito bem compreendido.
Torno a rogar a V. Exa. que a este respeito se tomem aquelas providências que
parecerem mais condizentes a este importante fim, em forma que se executem as
ordens de S. Majestade, da maneira que o mesmo Senhor mandou.
Tenho metido nos regimentos 140 recrutas de filhos da terra e ainda me faltam
mais outros tantos para os completar. E vou trabalhando por ver se posso
conseguir, e não me dou mal com eles.
Porém, se houver até 50 dos bem procedidos em que entrem alguns casados,
estimaria que S. Majestade me fizesse a mercê (graça) de os mandar para esta
praça, porque concorrendo neles aquelas qualidades, não serão indiferentes entre
os outros.
S. Maj., porém, resolverá o que julgar mais conveniente ao seu real serviço.
Deus guarde a V. Exa. Pará, 13 de junho de 1757 “.
Um pedido de promoção a Brigadeiro, para um grande soldado
180ª Carta. “Ilmo. e Exmo. Sr. Meu irmão do meu coração. Como V. Exa. conhece
muito bem ao Coronel Cipriano de Azevedo, é notória não só a grande honra deste
oficial mas os relevantissimos serviços que fez, em toda a guerra a S.
Majestade, não tenho que cansá-lo em recordá-los e só dizer-lhe que se ele acha
com 78 anos de idade e com pouquíssima saúde, e que pretende que S. Majestade o
honre no último quartel da sua vida com a patente de Brigadeiro, e provera a
Deus que ele a pudesse conservar muitos anos, porque é tão benemérito, como é
notório.
Para conseguir, pois, aquele fim, me trouxe aqui a petição inclusa para a
remeter a V. Exa.
E se V. Exa. lhe achar a justiça que eu compreendo que possui este pobre velho,
a apresentará a S. Majestade para lhe definir como lhe parecer justo, esse
conceder o despacho que me parece que se lhe dá mais um par de anos de vida.
Deus guarde a V. Exa. Pará, 17 de junho de 1757“.
O Capitão-Geral deixara Mariuá em 18 de outubro de 1756.
Nesta altura, o Capitão-General retornou a Belém do Pará depois de liderar uma
série de medidas que muito concorreram para a Segurança e Desenvolvimento da
Amazônia Brasileira, e que iriam em grande parte constituir a infra-estrutura
para apoiar a demarcação do Tratado de Santo Ildefonso de 1777.
O Capitão-General Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1769) e a sua
Projeção Histórica na Amazônia Brasileira
Ao concluirmos esta parte é justo tentarmos interpretar a projeção histórica de
sua obra na Amazônia Brasileira, com apoio na consulta de variadas fontes e
tentar pela primeira vez resgatar seu perfil biográfico a ser completado com
dados que não nos foi possível obter.
Mendonça Furtado foi um soldado português com obra pouco conhecida e divulgada,
mas de grande projeção na consolidação da conquista da Amazônia Brasileira, como
Governador e Capitão-General do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1758, ao executar
ali a política traçada por seu irmão, o Marquês de Pombal e Conde de Oeiras,
Sebastião José de Carvalho e Mello (1699-1782), ministro do rei D. José I.
Mendonça Furtado nasceu no Solar dos Carvalhos, na Freguesia Nossa Senhora das
Mercês, em Lisboa, em 1700, filho de Manuel de Carvalho Ataíde e de D. Teresa
Luiza de Mendonça e Mello, da qual herdou o ilustre nome Furtado. Era um ano
mais moço do que o Marquês de Pombal, nascido em 1699.
Faleceu aos 69 anos, em 1769 em Vila Viçosa, 13 anos antes que seu famoso irmão
e na época em que chegou ao Brasil o mais tarde Brigadeiro Lobo d’Almada, que
abordaremos mais adiante, ainda nesta parte.
Foi oficial do Regimento da Armada de 14 de abril de 1735 a 7 Jan 1751, por mais
de 14 anos. Ocupou os postos de soldado, tenente, capitão-tenente e por último,
capitão-de-mar-e- guerra, participando de várias missões navais no Brasil.
Serviu no quartel de Vidigueira. Em 1736 recolheu-se a Lisboa e embarcou na Nau
N. S. da Arrábida que foi em socorro de Colônia do Sacramento e lá se incorporou
à Esquadra Portuguesa. E no mesmo navio, em 1737, retornou de Colônia para o Rio
e deste para Pernambuco. Dali foi enviado junto com a Esquadra comandada pelo
Capitão-de-Mar-e-Guerra José Soares de Andrade, para confirmar se em Fernando de
Noronha se haviam estabelecido franceses. E ali, além do serviço de mar, ajudou
nos serviços de fortificações e de faxinas na ilha ”com grande atividade,
distinção e zelo que foram bem notórios aos cabos e oficias daquela esquadra.”
E depois da ilha de Fernando de Noronha ficar fortificada e preparada para a sua
defesa, ele retornou a Pernambuco em 7 Fev 1738. Retornou de Pernambuco a
Portugal comboiando a frota de Pernambuco. Ele participou, em 1736, do socorro à
Colônia do Sacramento no atual Uruguai, cercada por espanhóis, que iniciaram a
bombardeá-la em 28 de novembro de 1735 e tentaram assaltá-la em 10 de dezembro
do mesmo ano, chegando a 120 metros de uma brecha, quando foram repelidos. E
continuaram o bombardeio até 6 de janeiro de 1736, quando os seus canhões
emudeceram. E a razão teve explicação na manhã seguinte, dia 7.
É que haviam entrado no porto de Colônia 7 navios de guerra conduzindo reforços.
E entre eles vinha Francisco Xavier de Mendonça Furtado. E os atacantes foram
obrigados a se retirarem para Buenos Aires. Mas, convênio assinado em Paris,
permitiu que a Colônia ficasse sitiada. E dali retornou Mendonça Furtado para
Pernambuco em novembro de 1737 depois de permanecer na Colônia por cerca de 18
meses.
E voltaria ao Brasil 13 anos mais tarde, aos 51 anos, nomeado em 19 de abril de
1751, para assumir as suas importantes funções, em cujo exercício realizou
importantes ações que resultariam na consolidação da conquista da Amazônia, obra
que seria completada expressivamente, até 1791, pelo Brigadeiro Gama Lobo
d’Almada, que chegou na Amazônia no ano de sua morte.
Sua atuação no Brasil, na História Militar Terrestre do Grão-Pará (atual
Amazônia Brasileira) a documentamos expressivamente neste trabalho, com apoio em
obras de Arthur César Ferreira Reis, Marcos Carneiro de Mendonça, João Abel da
Fonseca e outras que aqui serão citadas e indicadas.
Sua missão principal no Brasil era de demarcar a nossa fronteira na Amazônia com
os domínios de Espanha, em acordo com o Tratado de Madrid de 1750.
E, no contexto desta tarefa, conter os jesuítas e submeter ao governo de
Portugal os índios que eles lideravam.
Recebeu do irmão, Marquês de Pombal, cartas secretas sobre sua missão no Brasil
e publicadas por João Abel da Fonseca em Amazônia Pombalina-Portugal e
Brasil...(Lisboa: Ed. Colibri, 2001). p. 207/244, e aqui abordadas
anteriormente, no tocante à História Militar Terrestre da Amazônia.
E enviou ao irmão, Marquês de Pombal, cartas publicadas em Portugal na obra
Relação abreviada da república que os religiosos jesuítas das províncias de
Portugal e Espanha estabeleceram nos domínios ultramarinos das duas monarquias e
da guerra que nela tem movido e sustentado contra os exércitos espanhóis e
portugueses. Na realidade só houve guerra no Rio Grande do Sul - A Guerra
Guaranítica, que focalizamos na História da 3ª RM–1808-1953 e Antecedentes
(Porto Alegre: 3ª RM, 1995).
Ao retornar a Portugal foi nomeado, em 20 de março de 1759, Secretário dos
Negócios do Reino, como adjunto de seu irmão Marquês de Pombal.
Em 1762, ocupou a pasta da Marinha e Ultramar, continuando a projetar sua ação
no Brasil.
Mendonça Furtado chegou em junho de 1751 ao Maranhão e logo a seguir viajou para
Belém do Pará. Depois de uma viagem fluvial de 83 dias (de 3 de outubro a 28 de
dezembro de 1754), de Belém atingiu Mariuá (atual Barcellos ou Forte do Rio
Negro) onde permaneceu cerca de 4 anos, até retornar a Belém.
Antes de deixar Belém tomou as providências iniciais para a aldeia Trocano,
próximo da foz do rio Madeira, passar a chamar-se Vila Nova de Borba,
providencia que consolidou mais tarde, ao partir de Mariuá para fundá-la
oficialmente.
E transformou a Vila de Borba numa Guarda Militar, Registro de Ouro e Base
Logística para impedir a descida pelo rio Madeira para as minas de ouro e
diamantes, registrar o ouro daquelas minas passando pelo local e ali produzir
suprimentos para apoiar os viajantes autorizados, procedentes ou para as minas
de Cuiabá.
E para fortalecer esta vila estimulou com dotes, o casamento de soldados com
índias, além de introduzir na Vila de Borba, a Nova, gado vacum.
Segundo interpretação da publicação Público, Lisboa, 9 de abril de 1995:
“Francisco Xavier de Mendonça Furtado, como responsável pela demarcação das
fronteiras no Norte do Brasil com a América Espanhola, empreendeu várias viagens
pelo território sob sua administração que lhe permitiram reconhecer, por um
lado, o estado de conservação e eficiência das fortificações que vigiavam o
acesso e navegação da bacia hidrográfica do rio Amazonas e, por outro, o tipo de
colonização estabelecido, até à data, no interior do Estado.
Como conseqüência, empreendeu um programa de reformas administrativas,
econômicas e militares, destinado a consolidar o domínio da coroa portuguesa
sobre a região.
Saliente-se a difusão das leis de liberdade aos índios e da abolição da
autoridade temporal dos missionários sobre as aldeias indígenas, em 1757.
Mendonça Furtado regressou ao Reino em 1759”. Interpretação esta de Ângela
Domingues, no Dicionário da História da Colonização Portuguesa do Brasil.
Lisboa: Verbo, 1994.
Segundo Izabel Viera Rodrigues, fundamentaram a ação de Mendonça Furtado no
Grão-Pará e no Maranhão, 1751/59:
“A posse da terra e sua delimitação. O objetivo primordial era geopolítico:
consistia em reclamar para a Coroa portuguesa os vastos territórios da bacia
amazônica e impor a autoridade do Estado aos moradores que a desconheciam ou a
desafiavam.
Para atingir este desiderato teve que realizar viagens ao hinterland, povoar e
fundar povoações, constituir uma expedição de demarcações, enfrentar os
elementos rebeldes, fossem ameríndios, reinóis ou regulares.
Ele, o irmão de Pombal, executou a política traçada em Lisboa. Iniciou uma
dinâmica de povoamento e desenvolvimento que permitiriam integração política,
administrativa, econômica, social e também cultural do Estado no todo do
Império. Foi sob a sua égide que se formou e preservou a unidade do território”.
A cidade de Bragança está muito a lhe dever, segundo Armando Bordallo da Silva.
Pois, fundada em 13 de fevereiro de 1634, ela recebeu grande impulso de
desenvolvimento pelo Capitão General Xavier de Mendonça que ali colocou, para
colonizá-la, 30 casais de açorianos e batizou o local com o nome de Nossa
Senhora do Rosário de Bragança.
A Mendonça Furtado coube a missão de implementar a colonização do atual Amapá:
“Ele assumiu o governo do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 24 de setembro de
1751, e já em dezembro organizava uma expedição a Macapá sob comando do
Sargento- Mór João Batista do Livramento, constituída de soldados e
principalmente, de colonos da Ilha dos Açores.
Foram recepcionados pelo comandante da guarnição, Manoel Pereira de Abreu e
padre Miguel Ângelo de Morais que estavam em conflito, porque o militar
negava-se em atender os pedidos e solicitações do sacerdote, inclusive de
alimentação.
O povoado rapidamente progredia, mas a insalubridade do local tornava-se um
grave problema a ser enfrentado pelos colonos.
Em 1752, uma epidemia de cólera grassou em Macapá. A notícia chegou a Belém e em
7 de março desse ano, inesperadamente, Mendonça Furtado aportou na povoação,
trazendo o único médico que havia na Capitania e medicamentos, conseguindo
controlar a moléstia.
Mendonça Furtado, no início de fevereiro de 1758, novamente aportou em Macapá em
numerosa comitiva. Estava em missão de demarcação de fronteiras da Colônia com
as terras pertencentes à Espanha, na região amazônica, definida pelo Tratado de
Madrid, assinado em 1750.
Veio para elevar o povoado à categoria de vila. No dia 2 de fevereiro, começou
com as providências, criando a Câmara Municipal e empossando os vereadores
Domingos Pereira Cardoso, Feliciano de Souza Betancort, Francisco Espindola de
Betancort, Antonio da Cunha Davel, Thomé Francisco de Betancourt e Simão Caetano
Leivo.
No transcurso de uma solenidade, no dia 4 de fevereiro, Mendonça Furtado mudou a
categoria administrativa do povoado de Macapá, elevando-o à condição de Vila de
São José de Macapá”.
Em 1758, ao passar pela aldeia Surubiu, no Pará, elevou-a à Vila de Alenquer, em
acordo com a Carta Régia de 6 de junho de 1755 que determinava a elevação à
vila, das povoações com condições para tal, batizando-as com os nomes de cidades
portuguesas, como no caso Alenquer, berço em Portugal de Camões, de D. Dinis, da
rainha Santa Izabel, do infante D. Duarte, etc.
Também ganhou nome de local de Portugal a aldeia de Mariuá, que foi a base de
Mendonça Furtado na Amazônia e então denominada de Barcelos. Foi também
conhecida como Forte do Rio Negro.
E o mesmo aconteceu com as atuais localidades da Amazônia com nomes tirados de
locais em Portugal: Moura, Silves, Vila de Borba, Faro, Óbidos, Santarém,
Almeirim, Porto de Mós, Melgaço, Porto, Aveiro, Barão, Adivelas, Alcobaça,
Oeiras, Chaves, Bragança, Benfica, Ourém, Viseu, Belém, Mazagão (o antigo
Marrocos português), etc.
Gilberto Paim em artigo Informação para desvendar o Mistério Amazônico em Carta
Mensal, nº 567, v. 48, Jun 2002, assim interpretou a missão de Mendonça Furtado:
“Não foi difícil a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, chefe do governo das
províncias do Norte (1751/59) com sede em Belém, fincar marcos portugueses na
embocadura de dezenas de tributários do rio Negro e pouco depois, em 1755,
instalar a Capitania de São José do Rio Negro, núcleo do futuro Estado do
Amazonas.
Outra providência de largo alcance político foi o fechamento do Amazonas à
navegação espanhola, entre a colônia peruana e a metrópole, e no ano seguinte
partindo para assegurar, por meio de povoamento, o efetivo domínio da Amazônia.
O casamento de soldados com índias, premiado com terras, instrumentos de
trabalho e mantimentos, contribuiu para legitimar a ocupação de vastas partes
ermas da vasta superfície territorial que se estendia do Piauí ao Mato Grosso.
Este esforço provocou a sua utilidade”...
A era pombalina, a partir do governo de Mendonça Furtado (1751/1759),
consolidou, em definitivo, o domínio das terras nos limites com o atual Acre e
outros ajustes. Data desta época a introdução do arroz em Carolina, no Maranhão,
do café da Guiana no Pará, do cacau no Baixo Amazonas, a criação da frota
pesqueira no Solimões e introdução do boi nos vales dos rios Branco e Madeira.
A presente síntese biográfica, até então inexistente, a ensaiamos com apoio do
dedicado escritor e historiador Sargento-Ajudante Antonio E. Sucena do Carmo, do
Exército de Portugal e operoso sócio correspondente naquele país da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil e também estudioso de problemas da Amazônia
na Revista Boina Verde (vide bibliografia).
A nós interessou, na obra de Mendonça Furtado, aspectos relacionados com a
História Militar Terrestre da Amazônia que procuramos resgatar dos seguintes
autores, cujas obras constam da bibliografia: Arthur César Ferreira Reis, Berta
Leite, Marcos Carneiro de Mendonça, João Abel da Fonseca, Isabel Vieira
Rodrigues, etc.
Mendonça Furtado: Secretário de Marinha e a Amazônia, 1765
Mendonça Furtado obteve permissão para voltar para Portugal, tendo chegado em
Lisboa em 28 Mai 1758, para convalescer de graves e perigosas enfermidades que
lhe provocaram grande fadiga. E em 14 junho foi nomeado pelo Rei como Secretário
de Estado dos Negócios da Marinha. Mendonça Furtado continuou preocupado com a
defesa da Amazônia, e agora dos espanhóis, conforme documento que transcrevemos,
adaptado a linguagem atual e publicado na RIHGB, t.4.v.4 nº 16, Jan 1843,
p.502/503.
Entre suas atribuições destaque-se: Regulação e pagamento de dívidas de
Armazéns; direção e economia do Arsenal de Ribeira das Naus; direção do comércio
de Portugal; e intendência da Fundição de Artilharia para os arsenais da Marinha
e do Exército.
E as desempenhou bem, tendo por esta razão recebido, em doação, diversas mercês,
ao serem considerados seus bons serviços.
Vale lembrar que em 1763, dois anos antes, os espanhóis haviam invadido o atual
Rio Grande do Sul, de onde só foram expulsos 13 anos mais tarde, em 1776,
conforme abordamos em detalhes na obra A Guerra da Restauração (já citada). Rio
de Janeiro: BIBLIEx, 1996.
“Ordem Régia pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha para se deitarem
canoas de observação pelo rio Branco”
Dirigida a Fernando da Costa de Attaide Teive Capitão-General do Grão Pará
Sendo presentes à S. Majestade as cartas de V. S. de 7 de outubro de 1763, e de
31 de julho de 1764, nas quais deu conta das negociações que D. José de
Yturriaga, e outros espanhóis estabelecidos no rio Negro, pretenderam quando
Manoel Bernardo de Mello e Castro governou esse Estado, determino que V. S.
vigie com grande cuidado o vale do rio Branco, mantendo nele sempre 2 ou 3
canoas bem guarnecidas, principalmente em tempos de águas (cheias) , que é
quando se pode navegar pelos centros.
Estas canoas encontrando canoas explorando os Domínios de S. M., as deve
apreender, remetendo todas as pessoas que nelas se acharem para Belém, segurando
todos os papeis que trouxerem, e os remetendo igualmente, para V. S., dar conta
de tudo pela primeira ocasião que se oferecer.
As canoas de observação devem cruzar ao centro do rio Branco tanto quanto
puderem, nele vigiando o rio Caraterimani (Catrimani) que é essencial por vir da
parte do Poente (oeste), e receber as águas do Orinoco, onde nunca há seca
porque sempre é abundante a sua corrente, e a boca fica distante 6 dias de
viagem da embocadura do rio Branco com o rio Negro.
Também vem outro rio da mesma parte, distante 5 dias deste, chamado Yayarany,
que corre o mesmo e por ele há menos risco de invasões.
Porém S. M. ordena que haja cuidado com ele e que seja sempre vigiado, ainda que
o principal objeto seja o Careterimani (Catrimani atual), por ser o mais próprio
para navegação.
Ainda há outro rio na mesma área acima da cachoeira e dela distante 4 dias de
viagem. E é muito conveniente que também se possa vigia-lo. Pois, além de ser
navegável (de águas), corre por largas campinas, onde estão estabelecidos os
índios Paravilhanos, Chaperos, e Guajuros, que são os mais fáceis de domar.
Quanto aos outros rios que deságuam pela parte esquerda, ou da parte de leste,
não merecem cuidado algum, porque os holandeses, que algumas vezes desceram por
eles, se tem abstido há muitos anos daquela navegação.
Quanto, porém, V. S. receber cartas dos Castelhanos, que tragam alguma novidade,
determinou Sua Majestade que eu previna a V. S para que as responda sempre no
sentido de como o fez Manoel Bernardo.
Isto é, referindo-se aos artigos da paz, sem se meter em novas disputas, e
dizendo que informará a Corte (Lisboa), para na Europa se decidirem as questões
nos Gabinetes dos Monarcas de Portugal e Espanha.
Deus Guarde a V. S. Palácio de N. S. da Ajuda a 27 de Junho de 1765. - Francisco
Xavier de Mendonça Furtado”.
Como se conclui, Mendonça Furtado temia invasões espanholas vindas por rios com
nascentes na atual Venezuela. E estava despreocupado com rios nascidos que
permitissem o acesso de holandeses do Suriname.
A demarcação do Tratado de Santo Ildefonso de 1777 na Amazônia
Os limites previstos pelo Tratado de Madrid não foram demarcados por ausência na
Amazônia, conforme fora acertado, da Comissão de Demarcação de Espanha que foi
aguardada em vão até 1756 em Mariuá (atual Barcelos). Mas as providencias para
defender a Amazônia e apoiar os trabalhos prosseguiram.
Assim, em janeiro de 1770, ela recebeu 163 famílias portuguesas cristãs,
precedentes de Mazagão, em Marrocos, na África.
Segundo o correspondente da AHIMTB em Portugal, historiador Sargento-Ajudante
Antônio E. Sucena do Carmo:
”Mazagão era uma cidade fortificada portuguesa na costa ocidental do Marrocos de
1513 a 1769, por 250 anos, e de lá removida pelo Marquês de Pombal em 1769,
sendo que parte de sua guarnição e povoadores vieram em 1770 guarnecer o Forte
de Macapá e fundarem a atual cidade de Mazagão no Amapá. A antiga Mazagão no
Marrocos é atualmente a cidade marroquina de El Djadidá, importante centro
turístico próximo ao Mediterrâneo.
Esta imigração foi forçada pelos mouros mazaganenses convertidos aos islamismo
que entraram em conflitos armados com os portugueses cristãos, culminando com a
saída forçada destes para o Amapá onde se fixaram em local que denominaram
Mazagão, trazendo do Marrocos a tradição da festa de São Tiago.
O Amapá havia recebido no tempo do Capitão-General Mendonça Furtado uma
imigração açoriana que não se adaptou ali, pela malária, a insalubridade, ao
clima local e às desinteligências do Coronel João Baptista do Livramento com o
padre Miguel Ângelo de Morais, em cuja companhia ali chegaram.
Manoel da Gama Lobo d’Almada- atuação na Amazônia, 1770-1799
Entre outros imigrantes de Mazagão, no Marrocos, e que se distinguiram na
Amazônia, veio o Capitão Manuel da Gama Lobo d’Almada, natural de Lisboa e que
ali se encontrava desde 1760. Era um homem ilustre e inteligente, engenheiro
militar, geógrafo e cartógrafo. Ele havia combatido em defesa da integridade dos
territórios ultramarinos de Portugal, em Mazagão, no Marrocos.
Foi encarregado, em 1770, de comandar a Fortaleza de Macapá, prestando juramento
ao governador do Pará, Fernando da Costa Attaide Teive. E em 1771, com como
sargento maior (major) organizou a colônia de Mazagão no Amapá com as famílias
que vieram do Marrocos com as quais convivia há cerca de 10 anos.
Organizada Mazagão e promovido a Ten Cel retornou a Macapá para comandar
novamente a Fortaleza de Macapá, a mais poderosa da Amazônia, à cuja frente
ficou por cerca de 9 anos, de 1773 a 1784, quando no Sul era travada a guerra de
1774/77, que expulsou os espanhóis do Rio Grande do Sul, que o ocuparam
expressivamente por cerca de 13 anos, o que abordamos em detalhes na já citada
obra A Guerra da Restauração. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1996.
Personagem (d’Almada) sobre o qual escreveu o mestre Arthur César Ferreira Reis:
Lobo D’Almada–um estadista colonial. Manaus, 1940 e ultimamente pelo Dr. Alcir
Gurgen Miranda em artigo “Lobo d‘Almada na terra de Macunaíma” na Folha de Boa
Vista, 21 de julho de 1995.
Lobo d‘Almada devia inspecionar as obras de fortificação de Macapá, cuja
finalidade era garantir a soberania portuguesa em região ambicionada pelos
franceses de Caiena.
Em 19 março de 1782, dia de São José, coube-lhe como tenente coronel comandante
da Fortaleza de Macapá a inaugurar, fazendo romper fogo com todos os canhões de
seus baluartes.
Macapá tornara-se a menina dos olhos de Lobo d‘Almada. Ele trabalhou no Amapá
por mais de 10 anos, até 1784, tendo concorrido decisivamente para a segurança e
desenvolvimento da região.
Promovido a coronel em abril de 1884, recebeu nova missão, a de integrar
Comissão de Demarcação de Limites com a Espanha e a de comandante do Forte de
São Gabriel. Neste, com a missão de defender a região encachoeirada do rio Negro
e explorar os principais rios desta bacia.
Foi ciente que, em carta de 13 de dezembro de 1771, o Governador do Pará
denunciara a infiltração de holandeses na atual região de Roraima e sugeria a
fundação de uma povoação que se tornaria a atual cidade de Rio Branco. E
informava que os holandeses desciam pelo rio Tacutu e a seguir pelos rios Branco
e Negro para comerciarem com nossos índios e escravizar outros que levavam para
a Guiana Holandesa.
E mais, que holandeses haviam feito fogo contra os índios de nossa missão do
Aricari, que tentaram impedir as suas descidas, obrigando nossos índios a uma
retirada.
Sugeriu a criação de uma povoação na atual Roraima, para impedir a entrada em
nosso território de holandeses e para ali defender a Fé Católica e os domínios
de Portugal. Mencionava que a região ficava distante 50 dias de viagem de Belém.
Em 1784, quando estavam em curso os trabalhos de demarcação do Tratado de Santo
Ildefonso de 1777, na Amazônia, Lobo d’Almada foi mandado assumir também, em
Barcelos (Mariuá ou Forte do Rio Negro), o Comando Militar do Alto Rio Negro.
A sua missão principal era executar explorações geográficas em uma vasta área,
da atual Calha Norte, então praticamente desconhecida e muito ameaçada por ações
de espanhóis e de holandeses do Suriname.
Deveria estabelecer contato com as tribos da área, organizar povoados, promover
a defesa do território e desenvolver a cultura do anil.
Ele chegou em S. Gabriel da Cachoeira, em 3 de maio de 1784. E ali instalou a
sede provisória de sua administração. Encontrou, no comando da fortaleza de São
Gabriel da Cachoeira o Tenente Marcelino José Cordeiro, grande conhecedor da
região, e que seria o seu braço direito no governo do Alto rio Negro.
O General João Pereira Caldas, governador do Grão Pará, era o seu chefe e
plenipotenciário da Demarcação. E deu-lhe, em 5 de outubro de 1784, as seguintes
instruções minuciosas de caráter técnico e político: “Explorar e cartografar
toda a rede potamográfica da bacia do rio Negro”. E Lobo d’Almada, segundo o dr.
Alcir Gurgen Miranda, descobriu duas ligações do rio Negro com o rio Jaburi. A
ligação do Canaburis com os rios da Carabina, hoje venezuelanos, e uma passagem
do rio Ixié para as águas do rio Negro, que correm em território atualmente
venezuelano.
Nos últimos meses de 1784, e em 1785 e 1786 Lobo d’Almada dedicou-se ao
cumprimento de sua missão, dando exemplos de coragem, capacidade e rusticidade.
Em 30 de dezembro de 1786, o Coronel Lobo d’Almada foi instruído por Portugal
para reconhecer e explorar o vale do Rio Branco, cobiçado por espanhóis. Contou
com a colaboração do grande cientista português Alexandre Rodrigues Ferreira.
Devia retomar os trabalhos do Capitão Ricardo Franco de Almeida Serra, atual
patrono dos engenheiros militares do Exército, auxiliado pelo astrônomo Antônio
Pires da Silva Ponte, segundo ainda Alcir G. Miranda. Devia reconhecer as
cabeceiras do dos rios Rapunami e Aneuá e os cursos dos rios Xeruini e
Catrimani.
Assim, foi penetrando na selva, subindo rios de curso desconhecido, em frágeis
embarcações, atravessando pantanais, galgando cachoeiras, acampando sem
conforto, sempre observado de perto por índios bravios, em plena mata.
Em contato com a natureza amazônica vigorosa e hostil foi colhido pela maleita,
minando-lhe a saúde, e reconheceu as cordilheiras do Parima e Paracaima, em
cujos divisores deveriam passar os limites estabelecidos pelo Tratado de Santo
Ildefonso de 10 de outubro de 1777.
E prosseguiu na missão, sem queixas, indecisões, e fraquezas.
A liderança do grande explorador impunha-se aos companheiros pela coragem e pela
lição de patriotismo permanente que sempre evidenciava. E afirmava com
freqüência:
“Eu vou pessoalmente a todas estas expedições. Não sou capaz de permitir que os
que me acompanham passem por trabalho ou perigo algum em que eu não seja o
primeiro a dar-lhes exemplo”.
E sobre os perigos de vida que corria com seus comandados, em suas missões,
dizia:
“Todo o sangue que verte a serviço da Pátria é nobre“.
Assim levantou preciosas e precisas cartas dos cursos d’água, ao custo de
sacrifícios ingentes que não o faziam desanimar e sempre exaltando os esforços e
sacrifícios de seus companheiros de jornada.
Empenhou-se a fundo em reconhecer e mapear todos os cursos d’água afluentes do
rio Negro.
Nesta tarefa atravessou igapós com água pelo peito e fez previsões dos espanhóis
que poderiam descer sobre território de Portugal pelos rios Orenoco e
Cassiquiare, estabelecendo em conseqüência, postos militares para barrar estas
descidas.
Ele deixara Barcelos em 20 de fevereiro de 1787, para reconhecer e explorar o
Alto rio Branco. E de tudo deu conta em relatório sobre povoados, indígenas,
fauna e flora e as gramíneas que revestem os campos da região em seu
Planogeografia do Rio Branco, seus afluentes e cabeceiras do Rapunami.
E retornando da Terra de Macunaíma continuou seu esforço notável para definir as
redes hidrográficas do Alto Rio Negro e Japurá, que espanhóis disputavam com os
portugueses. E mais uma vez teve de retornar a Barcelos para tratamento de febre
palustre.
No vale do rio Branco havia reconhecido as cabeceiras do Rapunami e do Ananau e
verificado as cordilheiras por onde devia passar a linha do Tratado de Santo
Ildefonso.
Em seu citado Planogeografia, segundo o Dr. Alcir Gurgen Miranda, sugeriu que
portugueses povoassem o vale do rio Branco, com colonos de outras partes do
Brasil, favorecendo a introdução do gado vacum. E mais, que atraíssem o maior
número de índios, ”os convencendo das vantagens do sistema português e
sustenta-los, vesti-los, não os fatigar; dar o que se promete e paga-los
prontamente sem usuras; deixar que cultivem as próprias roças e alimentarem-se
segundo seus próprios costumes; não obriga-los a trabalhos forçados; não
arrancar os filhos e mulheres das famílias índias e favorecer os casamentos
entre soldados e índias, até incentivando-os com o donativos de vacas”.
Durante o tempo em que trabalhou no Alto Rio Negro, por duas vezes teve de
recolher-se para tratamento de saúde a Mariuá (Barcelos), sede da capitania do
Rio Negro desde 1755.
Traduziu o resultado do seu trabalho em minucioso levantamento cartográfico da
região.
Com base nele, Lobo d’Almada, em cumprimento a ordens recebidas, apresentou
grande número de alternativas para a ligação entre os rios Negro e Japurá.
Serve de amostra sobre esta missão o Relatório de sua subida ao rio Uapés em
1785.
Dele retiramos estas notícias, enviadas ao Comissário da Demarcação Cel José
Pereira Caldas, relatando suas dificuldades e a sua determinação no cumprimento
da missão:
“Está V.S ciente do total abandono em que me deixaram os índios e soldados no
meio de um sertão fechado.
Em 7 de abril fugiram outros só me restando 11 índios...Quando eles fugiram só
me faltava subir a última cachoeira, a mais trabalhosa que o rio Uaupés possui.
Mas eu prossegui rio acima, ajudado por índios locais. E depois de 34 dias de
viagem, a montante da última cachoeira, acabou toda a farinha.
Parei para faze-la com mandioca colhida numa roça de índios.
E sem poder prosseguir com a despedida do índios locais, e sem índios remadores,
desci até a foz do Juacari para ali esperar o socorro de índios que pedi.
Um guia índio me informou que as cabeceiras do Uaupês são serras de pedra e
montes (matas) e que elas vem do lados dos castelhanos.
Eu já estava informado da existência de uma comunicação do Uaupês para o Japurá.
Com notícias favoráveis, logo que tive mais índios, além dos 11 que haviam
ficado, subi para reconhecer as comunicações do Uaupês com o Japurá.
Os índios foram fugindo e eu fui prosseguindo enquanto os que ficaram não
abandonassem de todo as canoas da expedição.
Em Ussa-paraná me fugiu parte dos índios, restando-me 25 índios doentes ou
convalescendo, pois com saúde nenhum estava.
Fui obrigado a retornar depois de 1 ano e 7 meses de haver saído de meu quartel
e a ele me recolhi tão amofinado e consumido, como se retornando de uma campanha
militar derrotado pelo inimigo.
E toda a minha mortificação e o embaraço em que me encontro de não dar conta e
satisfação completa do Real Serviço de que tenho a honra de ser encarregado.
E a razão de semelhantes missões não poderem ser realizadas sem ser com índios e
soldados do Pais, é por tratar-se de gente de tão falta de espírito, que
qualquer pequena doença, os impede de qualquer esforço.
Alem de tudo que referi estou prontíssimo desde hoje, desde já, neste instante,
para tornar a sair em missão, me nomeando e determinando V.Excia a equipe com a
qual devo me por em ação”.
Na região do Alto rio Branco foi grande o esforço dos militares que ali atuaram
sob a liderança de Lobo d'Almada para definir o seu destino brasileiro.
E entre eles o já citado Ricardo Franco, atual patrono dos Engenheiros Militares
do Exército.
No vale do rio Branco, Lobo d’Almada naufragou na cachoeira de Uriracoera.
Perdeu mapas e instrumentos de trabalho como geógrafo e quase a vida, ao
submergir 4 vezes no rebojo da correnteza, tendo se ferido seriamente nas pernas
e braços.
Antes, já havia passado maus momentos ao ser colhido por uma enchente no vale do
igarapé Anucapra.
Nos mapas que levantou no vale do rio Branco identificou os divisores das
serras.
Segundo o mestre Arthur César Ferreira Reis, o Coronel Lobo d’Almada
revolucionou a Geografia Física da Amazônia com sua obra Descrição relativa ao
rio Branco e seu território, em que detalhou tudo com precisão.
Até o Tratado de Madrid elas eram, na prática, terras de ninguém. E Lobo
d’Almada e seus comandados percorreram e levantaram as seguintes possibilidades
de possíveis inimigos a pressionarem a região:
- Os espanhóis poderiam passar do rio Orenoco ao rio Branco, atravessando uma
cordilheira.
- Os holandeses podiam remontar o rio Essequibo, passarem ao rio Rapunami e as
Campinas (região do Pirara) e o Tacutu e atingir o rio Branco e por tantos
caminhos, quantas fossem as passagens na Cordilheira.
Mais tarde por aí passaram os ingleses, terminando por incorporar por laudo
arbitral esta planície do Pirara, pelo qual foi negado ao Brasil o acesso ao Mar
das Antilhas pelo Essequibo e proporcionando a Inglaterra o acesso à Amazônia
Brasileira.
Os franceses de Caiena não podiam comunicar-se com o rio Branco e só
pressionavam muito no Amapá (atual).
Os espanhóis reclamaram soberania sobre a área do rio Branco, sendo repelidas
suas pretensões com a informação que expedições luso-brasileiras exerciam
soberania sobre a área.
Pois ali estiveram: Em 1725, os capitães Francisco Xavier Mendes de Morais e
Balduo Mendes. Em1736, Cristóvão Álvares Botelho. Em 1740, os capitães Cristóvão
Francisco Xavier de Andrade e Lourenço Belfort. E em 1744, os capitães Joseph
Miguel Ayres, Sebastião Valente, Francisco Ferreira, etc.
Para fazer frente a todas estas ameaças foi mandado erigir o Forte São Joaquim o
qual já estudamos aqui e que foi construído com dinheiro enviado de Portugal.
Com a demarcação do Tratado de Santo Ildefonso e construção das fortificações na
entrada dos principais afluentes do Amazonas, nascidos em terras estrangeiras, a
Amazônia tornou-se inviolável por aquelas partes, todas elas sob segura
soberania luso-brasileira.
Desse modo a nossa fronteira terrestre e o interior da Amazônia foi bordada com
os fortes do Castelo, Gurupá, Paru, Macapá, Araguari, Óbidos, Santarém, São José
do Rio Negro, São Joaquim, São José das Moarabitanas, São Gabriel da Cachoeira,
reduto São José, Forte Gurupá e Parque da cidade.
No braço norte, constantemente ameaçado pelos franceses, havia a fortaleza de
Macapá, guarnecida pelo Regimento de Macapá com 646 homens, além dos corpos
auxiliares com 1.200 homens. Guarnição que possuía um contingente mais ao norte,
no rio Araguari.
Realizando a ligação entre o Amapá e Belém, havia companhias de auxiliares na
ilha de Marajó, com cerca de 400 homens.
Existia também um destacamento de 60 milicianos na vila de Almeirim, outro com o
mesmo efetivo em Santarém, na foz do rio Tapajós, e um em Manaus.
Em 9 de fevereiro de 1788, o Coronel Lobo d’Almada assumiu o governo da
Capitania de São José do Rio Negro (atual Estado do Amazonas).
Por doente, segundo Arthur César Ferreira Reis, o General Pereira Caldas, chefe
da Comissão Demarcadora passou a chefia da mesma a Lobo d’Almada, sem lhe deixar
os meios necessários. Levou com ele, de Barcelos para Belém, a Carta Régia de 7
de janeiro de 1780, que regulava os trabalhos de demarcação, o secretário, o
cirurgião, o capelão e os oficiais e soldados da Comissão. Lobo d’Almada sentiu
esta hostilidade de José Pereira Caldas.
Estava baseado em Tefé o Comissário da Demarcação por Espanha e ex-governador de
Maynas, D. Francisco Requena y Herrera, que se considerava e agia como senhor
absoluto das terras na margem esquerda do rio Solimões, do trecho entre Tefé e
Tabatinga, onde se comentava que ele legislava, cobrava impostos e montara em
território de Portugal, em Tefé, no lago Cupacá, um pesqueiro e ribeiras para
reparos de embarcações.
E reclamava da falta de apoio e de outras questões, provocando a suspensão da
demarcação pelo General José Pereira Caldas.
Lobo d’Almada assim reagiu preventivamente às reclamações de D. Requena:
- Não permitir a entrada de ninguém na Amazônia, nos postos militares de
Portugal, em Tabatinga e em Içá, sem sua ordem por escrito.
- Vigiar todos os passos dos espanhóis em território considerado de Portugal.
Ao conhecer que o Destacamento Espanhol no rio Javari abandonou seu posto por
falta de alimentos e desceu até sua embocadura, ele representou a D. Requena,
como violação de instruções em vigor.
Lobo d’Almada determinou que fosse impedido, a todo o custo, e inclusive pelas
armas, se necessário, o deslocamento do destacamento espanhol no Javari. Passou
a controlar manobras espanholas em território de Portugal e inclusive atitudes
de D. Requena, de suborno a trabalhadores portugueses humildes. E orientou, como
bom político, além de excelente soldado, que os espanhóis, ao comando de Requena
fossem tratados com brandura, mas com firmeza. Orientação que transmitiu ao
Capitão João Henrique Wilkens, nosso 2º Comissário da Demarcação, com base em
Tefé.
Requena colocara no rio Içá, distante 3 dias de sua foz, um destacamento que
violava instruções em vigor. Lobo d’Almada solicitou sua retirada e Requena
desculpou-se, atribuindo que fora iniciativa tomada à sua revelia.
Lobo d'Almada foi informado de haver partido ordem de Espanha para uma possível
ação militar do Comissário Requena.
E, por via de conseqüência, reforçou os postos militares de Tabatinga, Javari,
Ega e Içá e ordenou vigilância rigorosa sobre os movimentos de Requena, além de
outras providências para defender militarmente a integridade da capitania de São
José do Rio Negro.
Em 21 de maio de 1791, Lobo d’Almada mandou ocupar militarmente o lago Cupacá,
em Tefé. E de modo diplomático reclamou de Requena que a Comissão de Demarcação
da Espanha que este chefiava, estava praticando excessos em território de
Portugal.
Em protesto, Requena abandonou Ega, finalizando a demarcação, viajou para Belém
e dali retornou para a Espanha em janeiro de 1791. A demarcação estava
encerrada!
Antes, em 1786, quando explorava e demarcava no vale do rio Negro, na qualidade
de Comandante do Alto Rio Negro, Lobo d’Almada propunha a seus superiores, no
caso de guerra que ali pudesse ocorrer:
“Adotar atitude ofensiva imediata e não a defensiva. Atacar o forte espanhol de
São Agostinho e tomar posição fixa na barra do Cassiquiare. Uma ofensiva rápida,
viva, uma guerra relâmpago”.
E justificava:
“A guerra viva é o meio mais seguro de uma paz rápida. E neste particular até a
humanidade grita, contra uma guerra sem atividade (ação) e com lentidão”.
Se fosse obrigado a adotar a defensiva propunha guarnecer Cucuí, a foz do Tié e
do Cauabores e guarnecer, com 400 homens cada, os fortes de Moarabitanas e São
Gabriel, além de outras providências complementares.
Felizmente não se confirmaram as ameaças espanholas em sua área. E os efetivos
de d’Almada foram rocados da frente do rio Negro para a entrada da Bacia
Amazônica, em Macapá e Belém, para ali ficarem em condições de enfrentarem uma
ação militar da França, partida de Caiena.
Mais tarde, em 1792, correu a novidade de que Espanha iria declarar guerra a
Portugal. Se houvesse um ataque em sua capitania ele disporia de somente 86
homens para defendê-la. E mostrou-se disposto a sacrificar sua vida em defesa de
sua capitania contra uma invasão espanhola. Manifestou-se assim à autoridade
superior:
“Não querendo sobreviver ao descrédito de ver conquistados, por inimigos, no meu
governo da Capitania de São José do Rio Negro, estes Reais Domínios de Sua
Majestade, terei de me sepultar com alguns pouco defensores com os quais eu
socorreria a primeira fronteira atacada. Resolução a que estou determinado,
porque volto a dizer, não sobreviverei a perda de um só palmo desta Capitania”.
O Capitão-General do Grão-Pará determinou que ele transferisse a sede da
Capitania de São José do Rio Negro, de Barcelos (ou Forte do Rio Negro), onde
ela estava situada, fazia 37 anos, desde que criada em 1755, para o Logar da
Barra (atual Manaus).
Lobo d’Almada, como governador da Capitania de São José do Rio Negro, ao chegar
no Logar da Barra (atual Manaus) foi se hospedar na casa do comandante daquela
fortificação.
E como soldado dotado de grande capacidade de vida rústica e de conviver com o
desconforto, assim comentou sobre o seu “novo palácio”:
“Uma casa de palha é muito suficiente para min, que não pretendo figurar
(ostentar, aparecer) e somente servir a S. Majestade e com zelo a sua Real
fazenda, como sempre tenho servido. Os demais que estão comigo seguirão o meu
exemplo e se acomodarão todos sem conseqüências maiores de despesas, as quais
sempre busco evitar”.
Não sucateou a antiga capital Barcelos (Forte do Rio Negro), a qual havia
melhorado em muito, antes de deixá-la, em benefício do Logar da Barra (atual
Manaus), onde tudo faltava.
Com sua presença, Manaus conheceu vida nova. Foram erguidas várias construções,
teve início a construção da nova igreja e de casas para a guarnição militar da
nova capital da Capitania.
A descrição relativa ao rio Branco e seu território, que o Coronel Lobo d'Almada
escreveu em 1787, foi publicado pela RIHGB, depois de ser ofertada ao IHGB por
João Wilckens de Mattos.
Sua descrição, depois da exploração do vale do rio Branco e de seus confluentes
(afluentes) contém o seguinte, que adaptamos à linguagem atual:
- Uma relação do rio Branco, onde e quais são os seus principais afluentes, as
suas cabeceiras e todas as suas fontes.
- A continua cordilheira que fica ao longo da fronteira.
- Quais as nações ali confinantes, como podem elas se comunicarem com os
domínios portugueses e a demonstração, por coleção de documentos autentificados,
nos competentes arquivos, das injustas pretensões dos espanhóis ao rio Branco e
do direito de Portugal a este rio e a seus afluentes.
- Alguns produtos naturais da região e a propriedade de seu comércio e de sua
agricultura.
- A situação da população do rio Branco e de suas povoações em geral.
- As nações indígenas que habitam as matas e montanhas, os meios de fazê-las
descerem e colonizar com elas o vale.
- A fortificação que lá existe (Forte São Joaquim), suas vantagens e defeitos e
mapa de sua guarnição militar.
Lobo d’Almada levantou as populações das seguintes localidades: do Carmo (221
hab.), dos quais um cabo como diretor e um soldado. Santa Maria (167hab), sendo
um soldado como diretor e sua mulher. São Felippe (249 hab.), sendo um cadete
diretor e um soldado. Conceição (288 hab.) e dois soldados, dos quais um
diretor.
“Quanto a fortificação ela se reduz a um forte dos mais pequenos. O lado da
porta é fortificado por uma cortina, nos flancos e faces. O lado que está para o
rio não permite manobra da Artilharia, que consta de 12 peças de ferro
calibradas, de 6” até uma quarta.
Este forte de São Joaquim está situado no foz do rio Tacutu, em local
apropriado, pois protege a passagem do rio Branco na altura da confluência dos
rios Tacutu e Uraricoera, defendendo estes canais, por onde nações estrangeiras
confinantes poderiam comunicar-se com o rio Branco”.
A guarnição do forte era de 34 homens (1 capitão comandante, 1 alferes, 32
soldados). Fora da Fortaleza 8 integrantes: 1 cabo, 1 cadete e 6 soldados, que
dirigiam e auxiliavam a administração das 5 povoações citadas, com uma população
total de 931 habitantes.
Sobre os produtos do rio Branco, o Coronel Lobo d’Almada referiu-se à prodigiosa
quantidade de veados e à abundância de tartarugas, com cujos ovos e banhas fazem
manteiga. E mencionou a plantação de um cafézal junto a aldeia do Carmo e sobre
o anil que era encontrado ali na região.
Enfim, um bom levantamento estratégico do Rio Branco, como os Decretos 4.411 e
4.412, de 7 out 2002, de proteção de reservas indígenas e ambientais, diriam
hoje.
Registrou, à p. 72, os nomes do pessoal militar e dos índios que conheciam a
ligação do rio Uapês com o Japurá, que ele reconheceu com incontáveis
sacrifícios, mas cumprindo a missão. Eram eles 9 soldados do Regimento de
Macapá, 5 do Regimento de Belém e 44 índios, num total de 58 homens.
Na obra Lobo d’ Almada - um estadista na Amazônia, Arthur César Ferreira Reis
transcreve, às p.93/97, o Mapa da Força da tropa fornecida pelos regimentos de
Infantaria de Belém e de Macapá e a sua disposição no vale do rio Negro:
Guarnição do Forte de Moarabitanas (Cucuí): 1 oficial superior, 2 oficiais, 1
anspeçada e 27 soldados. Total: 31 militares.
Guarnição do Forte de São Gabriel da Cachoeira: 2 oficiais, 2 oficiais
inferiores (hoje graduados),1 tambor, 1 ajudante e 26 soldados. Total: 33
homens.
Guarnição de Xié: 1 oficial e 8 soldados (Este era um posto avançado próximo do
Forte espanhol de Santo Agostinho).
Mandados (destacados): 3 oficiais inferiores (graduados) e 12 soldados,
diretores das aldeias Castelo Novo, São José, São João Batista, Caldas, Camanao,
São Felipe, São Miguel, Nazareth, Camide e S. Joaquim. Esta era dirigida pelo
Cabo de Esquadra Raimundo Maurício, com auxílio de um soldado, por ser
constituída “de índios altanados com pouca sujeição“.
Explicava que havia colocado militares de diretores de aldeias em razão de no
rio Branco só existirem 3 homens brancos.
O relacionamento do Coronel Lobo d’Almada com os Capitães-Generais do Grão-Pará
fora muito bom. Mas, a partir de quando D. Francisco de Souza Coutinho assumiu o
Governo do Grão-Pará, o seu relacionamento com Lobo d’Almada foi se
deteriorando.
D. Francisco viera com outra orientação e os dois não se entenderam no tocante a
defesa do Grão-Pará. D. Francisco julgava que os projetos de defesa de Lobo
d’Almada colocavam sob ameaça as relações de boa vizinhança com espanhóis.
E deste clima de desentendimento tiraram proveito inimigos de Lobo d’Almada, ao
ponto deste ser acusado de enriquecimento ilícito, o que o obrigou a fazer um
Inventário, o que hoje chamamos de Declaração Patrimonial, para comprovar a sua
probidade administrativa. Inventário que reproduzimos a seguir, em linguagem
atual:
“Inventário de próprio punho, sob juramento dos Santos Evangelhos, por tudo que
há de mais sagrado na Religião Católica que professo, pela hóstia consagrada que
reverente adoro e temo, com o mais profundo respeito:
Que eu não possuo nenhuma pedra preciosa, ouro ou prata senão o seguinte:
-2 pares de fivelas de ouro de sapatos, com o peso de131 oitavas e 21 graus.
-1 par de fivelas de ouro de calção, pesando 17 oitavas.
-1 fivela de ouro de pescocinho, pesando 9 ½ oitavas e 10 graus.
-1 par de botões de punho, pesando 8 oitavas e 8 graus.
-1 cadeia de ouro de relógio de sua chave, pesando 7 oitavas
-1 cordão de ouro servindo de cadeia de relógio, com 7 oitavas e 5 graus.
-1 castão de ouro de que não sei o peso, em uma bengala de cana da índia.
-1 anel inventado por Bartolomeu Costa encastoado de ouro.
- Galões de ouro da farda e do chapéu.
-1 Espadim de prata dourada com gancho, também de prata.
-1 par de esporas e fivelas de prata.
-1 Faqueiro com 12 talheres e 12 colheres para chá, escumadeira e tenaz, tudo de
prata.
-2 colheres de prata.
-1 colher de prata para tirar sopa.
-1 colher de prata para tirar arroz.
-1 salva de prata pesando 136 oitavas.
-6 castiçais com casquinha de prata (banhados de prata) e em um deles uma banda
com varão de prata.
-1 Espevitador com seu pratinho de prata pesando 38 oitavas.
-1 Barra de ouro valendo 23$00, conforme guia.
-1 Barra de ouro valendo 20$00, conforme guia.
- Dinheiro, 30 meias dobras no valor de 162$00.
- Em moeda provincial 520$00.
NB (Notem bem): Em tudo o que declaro entram objetos de minha propriedade que
não chegam ao total de 4 mil cruzados.
Vale lembrar que tenho a cobrar da Fazenda Real 2.081$422 (cruzados) dos meus
soldos vencidos até o dia de hoje (2 Jan 1798) e líquido dos socorros, com os
quais tenho sido assistido e da quantia com que pela permissão de Sua Majestade
eu socorro em Lisboa, minhas 2 irmãs. (Dado que sugere ele ser lisboeta).
Declaro que não possuo dinheiro algum em meu poder, nem que eu o tenha remetido
para entesourar na mão de alguém, nem em moeda, nem em coisa que valha moeda, e
nem dívida alguma ativa para cobrar, senão meu soldo vencido”.
Com o físico e a saúde abaladas pelo paludismo, contraído desde os detalhados e
sofridos reconhecimentos que fez no rio Negro, e desgostoso, magoado, humilhado
e apaixonado, não resistiu às injustiças e veio a falecer na Amazônia em 23 de
outubro de 1798, decorridos cerca de 9 meses da sua citada declaração, depois de
excepcionais serviços para a consolidação e defesa da conquista da Amazônia, por
cerca de 28 anos, de capitão a brigadeiro, segundo se conclui de Arthur César
Ferreira Reis.
O Brigadeiro Lobo d’Almada faleceu cinqüentenário, em Barcelos, onde foi
sepultado, em 27 de outubro de 1798, depois da obra notável para o
reconhecimento, demarcação e defesa da então terra de ninguém, a região
setentrional da Amazônia (atual Calha Norte), contribuindo, expressivamente,
para a sua dominação e a consolidação da posse definitiva por Portugal. Segundo
o Dr. Alcir Gurgen Miranda ele foi sepultado em Barcelos.
Fora militar de escol, governador, demarcador, explorador geográfico, pioneiro e
cartógrafo e também fiel ao pensamento militar de Portugal, decorrente de seu
pensamento político de Dilatar a Fé Católica e o Império de Portugal, assim
interpretado pelo General Francisco de Paula Cidade, patrono de cadeira na
AHIMTB e que na época da 2a Guerra Mundial comandou a 8a RM:
“Julgada a causa justa, pedir proteção divina e atuar ofensivamente, mesmo em
inferioridade de meios”.
A capital voltara para Barcelos em março de 1798 de onde retornou em definitivo
para Manaus (atual) 6 anos mais tarde, em 28 Mai 1804.
Como se conclui, Portugal, de 1750 a 1791 não descurou da defesa da Amazônia e
nela desenvolveu um grande esforço militar para consolidar a conquista
luso-brasileira da área, destacando-se sobremodo neste contexto as ações do
Capitão-General Mendonça Furtado, hoje consagrado como denominação histórica da
12ª Região Militar e a do Brigadeiro Manoel Gomes Lobo d 'Almada e de seus
liderados.
Por decreto de 13 Nov 1991, foi desativada a 1ª Brigada de Infantaria
Motorizada, em Petrópolis-RJ e reativada em Boa Vista-RR como 1ª Brigada de
Infantaria de Selva - Brigada Lobo d'Almada. Justa homenagem a este engenheiro e
bravo soldado que ali se imortalizou na definição do destino brasileiro de
Roraima, através do reconhecimento e demarcação meticulosos e precisos de nossos
limites, ao custo de ingentes sacrifícios, todos heraldicamente imortalizados no
brasão da Brigada.
Foi de iniciativa de Lobo d' Almada a introdução, em 1789, do gado bovino e
cavalar, em Roraima, nas fazendas Santo Antônio (no rio Uraricoera), São Felipe
(no rio Tacutu) e em 1799, na São Marcos, defronte ao Forte São Joaquim e até
hoje propriedade indígena.
4ª Parte
A DEFESA, A MANUTENÇÃO E A VIGILÂNCIA DA UNIDADE, DA INTEGRIDADE E DA SOBERANIA
DO BRASIL NA AMAZÔNIA
(contra a ambição estrangeira e a degradação por maus brasileiros: os inimigos
azuis)
_______________________________________________
14 - A CONQUISTA DE CAIENA POR PORTUGAL EM 1808
Antecedentes
Em 1637, o rei Felipe IV de Espanha e III de Portugal doou a capitania do Cabo
do Norte (atual Amapá) a Bento Maciel Parente, então governador do Estado do
Maranhão, por serviços militares prestados na expulsão de estrangeiros da
entrada do rio Amazonas.
Foram usados os jesuítas para consolidar a capitania do cabo Norte, os quais
tinham suas bases de missões entre os rios Araguari e Oiapoque, cartografadas
pelo Padre Conrado Pfeil.
Em 1640, foi desfeita a União das Coroas Ibéricas (1580/1640) e D. João IV, rei
de Portugal, em 1665 reconheceu a patente de capitão-mor e senhor daquela
capitania hereditária, de Bento Maciel.
Esta capitania ia do Cabo Norte, ao sul, ao Oiapoque, ao norte, com uma extensão
de cerca de 40 léguas de litoral. Residia aí a origem da soberania
luso-brasileira sobre o atual Amapá.
Os ingleses e franceses também voltaram para as Guianas, respeitando, de início,
o limite com Portugal, ou seja, o Oiapoque.
Em 22 de maio de 1604, o inglês Charles Leigh tomou posse da margem esquerda do
Oiapoque, onde estabeleceu uma colônia com 76 homens, chamada pelos índios de
Caribote,que malogrou em 31 de maio de 1606.
Em 17 de maio de 1698, o inglês Robert Harcourt, com 60 homens, desembarcou na
margem esquerda do Oiapoque, fundando nova colônia que também teve curta
duração.
Os franceses, em 1633, com permissão do Cardeal Richelieu organizaram a
Companhia do Cabo Norte ou Guiana na região entre os rios Maroni e Oiapoque, mas
ela fracassou.
Após a concessão a Bento Parente da Capitania do Cabo Norte foi estabelecida na
área a 2a Companhia do Cabo Norte, liderada por Jacob Bomtemps. Ele tinha a
permissão de explorar as terras entre o Orenoco e o Amazonas. Mas dos 300
franceses que desembarcaram emCaiena, em novembro de 1643, poucos sobreviveram
após um ano.
Em 29 de dezembro de 1652, a França organizou nova companhia. E 500 homens
desembarcaram em Caiena, com permissão para ocupar toda a Guiana, do Orenoco ao
Amazonas, em flagrante atentado à soberania de Portugal sobre o atual Amapá.
Era a França Equinocial, tendo como principal acionista desta companhia o
Secretário- Geral da Marinha da França.
Mas, em menos de um ano, cerca de 400 colonos franceses foram exterminados por
doenças tropicais. Os poucos que restaram foram transportados para o atual
Suriname por um navio holandês.
Em 1664, foi fundada Caiena, capital da Guiana Francesa.
Em 17 de novembro de 1678, a Espanha, pelo Tratado de Nimègue, cedeu à França
seus supostos direitos sobre o Cabo do Norte (Amapá), anulando a concessão, em
1637, a Bento Maciel Parente. Então o Marquês de Ferrolles, governador da Guiana
Francesa, por ordem de Luís XIV, e em plena paz com Portugal atacou o Forte de
Cumau (Macapá) e o retomou aos franceses, restaurando a soberania
luso-brasileira sobre o Amapá.
Foi providencial esta retomada, assim consolidada em razão de, na Europa, a Liga
de Augsburgo: Inglaterra, Espanha, Holanda e Alemanha terem colocado um fim ao
expansionismo do rei Luís XIV da França, o que teve efeitos diretos em nosso
território no Amapá.
O Governador Antônio de Albuquerque reagiu, equipando expedições lideradas pelos
capitães Francisco de Souza e Souza Fundão, que retomaram as fortificações e
aprisionaram os invasores e seu material de guerra e até uma bandeira, como
troféu.
Mas os franceses pressionavam o Amapá através de missionários e de colonos
escravizadores de índios e de pescadores autorizados por Caiena. E os
luso-brasileiros, civis, militares e religiosos se opunham a estes intrusos
aprisionando-os e devolvendo-os à Guiana.
Flotilhas de canoas foram construídas em Belém, consagrado ponto de irradiação
luso-brasileira sobre o Cabo Norte (Amapá), como o foi Gurupá, centro irradiador
da expansão luso-brasileira para o interior da bacia Amazônia e ponto de partida
do Capitão Pedro Teixeira para a conquista da Amazônia em 1637, as quais,
guarnecidas por soldados de Infantaria, policiavam a costa do Amapá, assegurando
a soberania luso-brasileira.
Um dos resultados das decisões tomadas pela Liga de Augsburgo foi a assinatura
do Tratado Provisional, entre Portugal e França, em 1700. Tratado que,
felizmente, teve curta duração. Por este Tratado, a França concordou em
neutralizar a capitania do Cabo do Norte (Amapá). Portugal teria de abandonar e
demolir os fortes, construídos no atual Amapá. O Rei D. Pedro II assinou-o, sob
pressão de ameaças de Luís XIV, com sérios prejuízos à nossa integridade
territorial. Curta seria a duração.
Em 11 de abril de 1713, foi assinado o Tratado de Utrecht, entre Portugal e
França que, pelo artigo IX, anulou o Provisional de 1700. Os franceses
pressionaram, mas em 1713 a fronteira foi declarada como sendo no Oiapoque.
Expedições militares, em 1723 e 1728, foram até o Oiapoque, comandadas pelos
capitães João Paes do Amaral, Diogo Pinto Gavier Botero e Francisco de Melo
Palheta, para localizarem os marcos de pedra balisadores de fronteira, os quais
os franceses destruíram para confundir.
Houve forte tensão militar, e Portugal acabou afirmando a fronteira no Oiapoque.
A França renunciou, pelo artigo VII, a todas as suas pretensões no Cabo do Norte
(atual Amapá), situadas entre o Amazonas e o Oiapoque. E reconheceu a posse
plena do Amapá por luso-brasileiros.
Em fevereiro de 1727, o Governador-Geral do Estado do Maranhão enviou reclamação
a Claude D'Orvilliers, governador da Guiana Francesa, exigindo observância do
Tratado de Utrecht, constantemente violado pelos franceses, que traficavam
índios em terras sob controle de Portugal.
Seguiu-se um período de calma, até o advento da Revolução Francesa, em 1789,
ocasião em que D. Francisco Inocêncio de Souza Coutinho, Governador do Pará,
projetou a conquista da Guiana Francesa, mas o projeto não foi aprovado por
Portugal.
Pombal havia ampliado a Fortaleza de São José de Macapá, guarnecendo-a com 62
canhões e com um Regimento de Infantaria.
Mas a idéia do Governador do Pará foi posta em prática em 1808 pelo Conde de
Linhares, seu irmão, e nosso Primeiro-Ministro da Guerra do Brasil, hoje com
Museu Militar em sua memória em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, como
organizador de nossa estrutura militar.
Após uma série de lutas desenroladas na Europa, inclusive na península ibérica,
onde Portugal se aliara à Espanha para uma frustrada incursão em território
francês, houve uma mudança de posição do governo espanhol em favor da França.
Em 27 de março de 1802, a Grã-Bretanha, que combatia os franceses, assinou um
tratado de paz com a França e seus aliados (Espanha e República Batava). Esse
tratado, firmado em Amiens, fixava a fronteira pelo rio Araguari, para delimitar
os territórios do Brasil e da Guiana Francesa. Portugal, ausente, não aderiu a
estas resoluções do Tratado de Amiens.
A Conquista de Caiena por Portugal
Com a invasão da península ibérica pelos franceses, e a entrada do General Junot
em Lisboa, o governo português emigrou para o Brasil, de onde continuou a
governar Portugal e seu Império Ultramarino.
Em 22 de janeiro de 1808, aportou na Bahia a maior parte da esquadra, trazendo a
Família Real, a corte e o governo.
Uma das primeiras medidas do príncipe-regente D. João foi ordenar a conquista de
Caiena, não só como represália à França, mas para fixar em definitivo os limites
do Brasil no rio Oiapoque. Declarou nulos os tratados anteriores impostos pela
força das armas e ordenou a expulsão das tropas francesas de Caiena.
A organização da expedição coube ao Tenente-General José Narciso de Magalhães de
Menezes, Governador e Capitão-General da capitania do Grão-Pará e Rio Negro
(atuais Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Roraima).
A expedição foi formada basicamente por brasileiros, mas também com oficiais e
praças ingleses e portugueses.
Seu objetivo militar, segundo proclamação de seu comandante, ficou bem claro em
1º de outubro de 1808:
“Se pretende estabelecer outra vez os limites no rio Oiapoque, ou rio de Vicente
Pinzon, barreira original da América Portuguesa, ao norte do Equador, marcada
com os antigos padrões, firmados com a posse útil daqueles territórios e já nos
primeiros tempos cultivados por vassalos portugueses e depois solenemente
ratificados com a cessão e garante do Tratado de Utrecht”.
Organização da Força Expedicionária
A força terrestre foi comandada pelo Tenente-Coronel Manoel Marques d’Elvas.
Foi constituída por duas companhias de Granadeiros dos 1º e 3º Regimentos de
Linha, duas companhias de Caçadores dos 1º e 3º Regimentos de Linha e 1
companhia de Artilharia.
A 3 de dezembro de 1808, ela deixou o Pará. E chegou à baía do Oiapoque, onde as
tropas expedicionárias desembarcaram e ocuparam posição na sua margem esquerda.
A força naval era constituída pela corveta inglesa Confiance (20 bocas de fogo),
sendo comandante o Capitão-de-Mar-e-Guerra James Lucas Yeo; pelos brigues Voador
e Infante D. Pedro; pela escuna General Magalhães (12 canhões), pelos cuters
Vingança e Leão (oito canhões cada) e por três barcos-transporte.
Integravam a expedição cariocas, fluminenses, paulistas, mineiros e um
contingente de soldados paraenses.
Os combates
Não houve resistência no desembarque da Expedição, que marchou ao encontro do
inimigo.
Em 15 de dezembro, combateram com o fortim Apronague, que foi conquistado,
depois de breve combate, pelos CMG Lucas Yeo e CT Luís da Cunha Moreira.
Prosseguindo nas ações, em 7 de janeiro de 1809, o CMG Lucas Yeo e o Major
Joaquim Manuel Pinto desembarcaram, às 0300 horas da madrugada, na costa
oriental da ilha de Caiena, na entrada do Mahuri.
Após este desembarque naquela região, o CMG Lucas Yeo, à frente de 80 ingleses e
80 brasileiros, depois de vigorosos combates, apoderou-se da bateria do barco
Diamant, com 3 peças, cujo comandante, Capitão Chevreuil, morreu na ação.
O Major Joaquim Manuel Pinto, com 140 luso-brasileiros, em violenta luta,
conquistou a bateria de Degras-des-Cannes.
Terminado o confronto, o comandante da Expedição, Manuel Marques, desembarcou à
frente de 350 luso-brasileiros e atacou a bateria Trió.
Finalmente, às 1800 horas, nossa Infantaria ficou dona da praça, na entrada da
Crique-Fouille e de outra bateria no canal Torcy.
Às 1900 horas, o comandante Marques de Souza repeliu um contra ataque francês,
dirigido por Victor Hughes, governador da Guiana.
No dia seguinte, 8 de janeiro de 1809, prosseguiu o combate. Os franceses,
manobrando à noite, ocuparam uma posição junto ao canal Torcy. Coube ao
comandante Yeo, com 80 marinheiros ingleses e 100 soldados luso-brasileiros,
travar nova luta, desalojando-os da posição, e apoderando-se de duas peças de
Artilharia de Campanha.
A capitulação e entrada em Caiena
A expedição marchou para Legrand Beau-Regard em 9 de janeiro de 1809. No dia 10,
foi enviado um parlamentar ao governador da Guiana, Hughes. E este fez um pedido
de trégua, por 24 horas, e indicou lugar onde pudesse solicitar explicações e
fazer sua proposta.
Em 12 de janeiro, foi assinada a capitulação em Bourda (ilha de Caiena), entre o
Tenente-Coronel Manuel Marques e o comandante James Lucas Yeo, comandantes das
forças aliadas de terra e mar, do Brasil e da Grã-Bretanha, e Victor Hughes,
governador de Caiena.
Foi ajustada a entrega da Guiana Francesa ao príncipe-regente D. João, sendo
concedidas à guarnição francesa de Caiena as honras de guerra e seutransporte
até à França.
As tropas luso-brasileiras e inglesas entraram em Caiena em 14 de janeiro de
1809.
O Tenente-Coronel Manuel Marques, em carta-relatório ao Governador do Pará
escreveu:
“O artigo 1.º (da Capitulação) foi exatamente cumprido no dia 14, em que entrei
com a minha tropa nesta cidade e fiz arvorar a nossa bandeira, solenizando este
ato com uma salva de 21 tiros.
A tropa francesa embarcou logo para bordo das nossas pequenas embarcações, e são
ao todo 593 homens.
E para se dar cumprimento aos artigos 2º e 3º, faz-se preciso que V. Exa. envie
aqui as embarcações competentes.
Os negros, a quem se devia a liberdade, também embarcaram. Achou-se na praça
muita Artilharia, porém quase toda desmontada e muito pouca munição de guerra.
Fico inventariando todos os diferentes artigos que nos vieram à mão.
Sendo necessário velar pela segurança interior, política e pela tranqüilidade da
Colônia, e não tendo a quem encarregasse destas importantes comissões, organizei
uma Junta Provisória, como verá, composta de 8 dos principais habitantes (da
Guiana), cuja constituição, deveres e condições verá V. Exa. na Ordenança n.º 7,
pela qual a instituí ea criei…”
Vitória final
Com a conquista de Caiena, o embarque dos franceses para a Europa e com a plena
posse de toda a Guiana, estava encerrada a parte militar do período.
Destaque-se o desempenho em ação de nossos combatentes. O episódio serviu não só
para testá-los, como também para impor nossa soberania diante de soldados de uma
das maiores potências militares da época.
Foi mais uma página de valor e glória, escrita na História Militar do Brasil.
Este ato de guerra firmou a soberania e o limite norte do Brasil no rio
Oiapoque, além de hostilizar a França, invasora de Portugal, forçando a vinda,
para o Brasil, da família real, da corte e do governo.
O primeiro acerto entre as potências, após a conquista de Caiena, fez-se por
ocasião da assinatura do ato final do Congresso de Viena, em 9 de junho de 1815.
O Barão do Rio Branco escreveu em suas Efemérides Brasileiras:
“O artigo 107 tratava nos seguintes termos a restituição da Guiana Francesa,
conquistada em 1809 por Portugal:
Sua Alteza Real, o Príncipe-Regente do Reino de Portugal e do Brasil, para com
Sua consideração particular para com Sua Majestade Cristianíssima, obriga-se a
restituir a Guiana Francesa até o rio Oiapoque“.
Era mais uma afirmação da soberania do Brasil sobre a atual Amapá.
A Guiana foi devolvida à França em 1817, depois de nove anos sob domínio de
Portugal. Mas a pendência continuaria até 1900 quando, por laudo arbitral, foi
definido o Amapá como território brasileiro.
Como se conclui, o Amapá, de igual forma que o Rio Grande do Sul, se constituiu
em fronteiras do Vai e Vem, pelas oscilações de seus limites, fruto de disputas
diplomáticas e militares, felizmente vencidas por Portugal e depois pelo Brasil
e para as quais concorreram os soldados luso-brasileiros e depois brasileiros.
Os portugueses travaram luta épica, no atual Amapá, contra os estrangeiros e
índios e contra a natureza hostil do local, em especial a sua insalubridade.
A região era encharcada pelas águas dos inúmeros lagos da bacia do Araguari e de
outros rios, o que a tornava impraticável no inverno. Mas a orientação
estratégica de Portugal foi manter o Amapá a todo o custo.
Nesta tarefa distinguiram-se dois soldados e grandes governantes da Amazônia:
Gomes Freire de Andrade e Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho.
Gomes Freire fez Portugal visualizar a importância estratégica militar do Amapá.
Antônio Albuquerque viajou pelo Amapá mais de uma vez e desfechou uma ofensiva
contra os franceses, os índios hostis e o meio ambiente hostil do Amapá.
A saga da definição do destino brasileiro do Amapá é relatada com minúcias e
circunstâncias, com apoio em fontes brasileiras e francesas, pelo já falecido
historiador Sílvio Meira na obra Fronteiras Setentrionais - 3 séculos de lutas
no Amapá. (São Paulo, SUP, 1989), na qual prestou grande contribuição à História
Militar Terrestre do Brasil.
15 - A REAÇÃO À INDEPENDÊNCIA NO PARÁ
De 1808 a 1817 o Pará teve destacada participação militar na conquista e defesa
da Guiana Francesa.
Depois da devolução da Guiana, o Pará e o Amazonas foram sacudidos por agitações
políticas que iriam desaguar na revolta da Cabanagem, de 1835 até 1840, durante
a Regência.
A Amazônia Brasileira subordinava-se diretamente a Lisboa antes da
Independência. Sua produção não tinha mercado no restante do Brasil, e sim na
Europa e nos Estados Unidos.
A atual Amazônia Brasileira fora a primeira a aceitar, em 1820, a Revolução
Liberal do Porto e a mostrar-se disposta a ficar unida a Portugal na condição de
um Vice-Reinado, com a participação de Goiás e Maranhão e desvinculada do Rio de
Janeiro.
Em 1º de janeiro de 1821, o Pará se manifestou a favor da Revolução Liberal do
Porto, sob a liderança do universitário Felipe Alberto Patroni Martins Maciel
Parente, em Coimbra, que foi apoiado pela guarnição militar. E teve lugar a
formação de um novo governo.
Com a retirada dos portugueses da Bahia, o Lord Cochrane deslocou-se para o
Maranhão, com a nau D. Pedro I, a fim de impedir desembarques inimigos em São
Luís. Ali aprisionou o brigue de guerra lusitano São Miguel e vários outros
navios, surtos no porto.
Pouco tempo mais tarde, Lord Cochrane enviou ao Pará o Capitão John Pascoe
Greenfell com a missão de pacificar aquela província.
No Pará, o quadro era confuso, devido às constantes divergências entre as
lideranças locais.
A rebelião libertadora, chefiada pelo Capitão Boaventura Ferreira da Silva e
pelos alferes Antônio Loureiro Barreto e Mariano de Oliveira Belo, fracassara. E
foram presos os chefes e numerosos implicados na luta pela Independência.
Grenfell, em 10 de agosto de 1823, chegou a Belém com o brigue D. Miguel (com
nome mudado para Maranhão). Usando, inteligente, um ardil, dominou a situação e
estabeleceu uma Junta Governativa, composta de 4 militares: Coronel Geraldo José
de Abreu, Capitão José Ribeiro Guimarães, porta-bandeira Feliz Antônio Clemente
Malcher, Capitão João Henrique de Matos e 1 religioso, o cônego João Batista
Gonçalves Campos.
As discordâncias entre radicais e moderados provocaram várias divisões, que se
refletiram na disciplina das tropas e na onda de desordens e tropelias.
Nessa emergência ocorreu o trágico e cruel episódio no navio Palhaço, em cujo
porão morreram, por asfixia, mais de 200 prisioneiros para lá enviados no
contexto da repressão. Foi uma grande tragédia!
O Pará não se tranqüilizou, surgindo mais tarde, na Regência, a grave Revolta
dos Cabanos, fruto de animosidade e desacordos políticos.
Só serenaram os ânimos no segundo reinado, depois de ser pacificada a citada
revolta, a qual ameaçou seriamente a Unidade Nacional e o Brasil correu o risco
de, por sugestão de franceses, de perder a Amazônia, por seu desligamento do
Brasil, e a região ficar sob proteção da Inglaterra.
16 - REVOLTAS NA AMAZÔNIA, DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA
A adesão do Pará à Independência foi abordado por Arthur César Ferreira Reis na
obra Adesão do Pará à Independência. Belém: Graf. Ed. Globo, 1973.
No atual Estado do Amazonas houve reação, depois da Independência, à permanência
de Portugal, com portugueses ocupando postos e funções de Comando militares e
civis.
Em Cametá teve lugar uma insurreição que envolveu o Vale do Tocantins e o baixo
Amazonas, dando origem a um governo militar em Santarém, para restabelecer a
ordem, evento do qual o Arquivo Público de Belém guarda fontes primárias.
Os transportes fluviais foram decisivos para a movimentação dos rebelados e das
forças navais.
De 1823 a 1829, Belém foi cenário de revoltas de tropas, com apoio popular,
indignadas com a presença dominante de portugueses na sociedade, no comércio e
na liderança das tropas.
Parte da guarnição militar derrubou o presidente da Junta de Governo, saqueou
Belém e praticou homicídios durante dois dias. A ordem foi restabelecida em 15
Out 1823 por marinheiros e voluntários, que fuzilaram seis rebeldes e
dissolveram unidades suspeitas.
Em 2 Jun e 16 Jul 1829, Belém foi sacudida por dois motins militares sem
motivação política.
Como reflexo da revolta de Belém, em outubro de 1823 eclodiram motins militares
em Cametá; em 17 Nov 1823, em Monte Alegre; e em 13 e 20 Mar 1823 em São Caetano
de Odivelas.
Em Monte Alegre, revoltosos atacaram de madrugada, dominando-a e
saqueando-a.Assassinaram 3 personalidades locais, retalhando seus corpos, cujas
partes foram amarradas àscolas dos cavalos e arrastadas pelas ruas.
Dominaram a localidade por cerca de sete dias, até a chegada de tropas enviadas
de Santarém e Óbidos. Elas chegaram a Monte Alegre às 3 horas da madrugada e
decidiram descansar até o clarear do dia, tendo sido surpreendidas com um ataque
dos revoltosos. No confronto, a tropa legal perdeu por morte um tenente e vários
soldados, e ainda houve 30 feridos em ação.Isso reforçou o arsenal dos
revoltosos com armas e munições.
O governo enviou uma expedição com Artilharia, ao comando do Ten Cel José Coelho
de Miranda Leão. Este, depois de parlamentar, fez um acordo com os revoltosos,
que deixaram Monte Alegre.
Em São Caetano de Odivelas, nativistas e povo, revoltados contra a administração
civil e militar de portugueses e pela permanência destes no comércio, temendo
que a Amazônia voltasse a ser colônia, assumiram o controle da vila e
hostilizaram os portugueses, surdos aos apelos de paz do bispo D. Romualdo.
Partiu de Vigia uma força militar que, depois de choques, com vítimas, acalmou a
situação, mas não os espíritos dos nativistas.
Estas agitações nativistas foram o sinal do que estava por vir - a Revolta da
Cabanagem.
Em 1832, depois da Abdicação de D. Pedro I, fato que acalmou os ânimos na
Amazônia Brasileira, a comarca do Rio Negro (atual Estado do Amazonas)
desligou-se do Pará e arvorou-se em Província, no bojo de uma grande turbulência
política na área amazônica.
Para coibir sua desobediência, partiu de Belém uma força naval transportando
tropas do Exército ao comando do Cel Cunha Baiana. Este venceu as resistências
opostas em Manaus atual, que foi ocupada sem reação. Mas não foi abandonada a
sua idéia de autonomia do Pará.
Este episódio foi resgatado pelo mestre Arthur César Ferreira Reis em seu livro
A Autonomia do Amazonas. Manaus: Governo do Amazonas, 1965.
Em 1832, a situação em Belém era tensa e ameaçadora. O Cel João Batista
Camecram, comandante do 1º Batalhão da Guarda Nacional e integrante do Conselho
Provincial, homem radical e impulsivo, em pronunciamento em sessão no citado
Conselho em 7 Abr 1833, se dispôs a evitar com sua tropa a ascensão dos
Caramurus ao governo, em razão de pretenderem separar a Província do Império.
Assumiria a Presidência da Província o deputado Bernardo Lobo de Souza,
experimentado administrador, trazendo a fama de violento, e como comandante das
Armas o Ten Cel José Joaquim da Silva Santiago, "homem áspero e intratável".
O clima na Amazônia era de efervescência, e a sua sociedade estava insegura e
dividida pelo ódio. A Província do Pará foi a que mais sofreu entre a
Independência e o início da Revolta da Cabanagem.
À exceção do presidente do Pará, Marechal Soares Andréa, desde a Independência
seus presidentes e comandantes de Armas foram vítimas ou contribuíram para
revoltas e sedições paraenses no período.
Vale recordar que, com a Abdicação de D. Pedro I, o Presidente do Pará, Barão de
Itapicuru-Mirim recomendou aos paraenses respeito à Constituição e às
autoridades.
O Partido Liberal local quis depor o presidente, o então Brigadeiro Soares
Andréa e seu comandante da Armas, no que foi impedido pelo Partido Conservador.
Em 16 Jul 1831, o novo presidente do Pará, Visconde de Goiana, e o seu
comandante de Armas, o Coronel José Maria da Silva Bittencourt, nomeados pela
Regência, chegaram a Belém.
Decorrido pouco tempo, o comandante das Armas liderou um sedição que depôs o seu
presidente. Na ocasião, foi preso o influente cônego João Baptista Gonçalves
Campos e mais cinco opositores da sedição, e a presidência passou a ser exercida
pelo mais antigo membro do Conselho Provincial.
Em 23 Fev 1832, chegaram os novos presidente e comandante das Armas, os
tenentes- coronéis José Joaquim Machado de Oliveira e Antônio Correia
Seara.Ficaram impunes os líderes da sedição de 7de Ago que depôs o presidente
Visconde de Goiana.
O cônego João Baptista escapou quando ia ser degredado. Ganhou o interior do
Amazonas, onde levantou o partido que chefiava e que fora derrotado na sedição.
Seu argumento: os portugueses trabalhavam para entregar o Pará ao príncipe D.
Miguel (ex-D. Pedro I), que não tardaria a chegar a Belém, para ali se manter,
até mesmo com o Pará separado do Brasil.
O presidente, Ten Cel Machado de Oliveira, convocou o cônego do interior e lhe
fez várias concessões. Assim, conseguiu acabar com as constantes revoltas e
indisciplinas, como a do Destacamento da Barra do Rio Negro (atual Manaus), em
12Ago1832, que se revoltou e assassinou seu comandante, o Coronel Joaquim
Felippe dos Reis.
E ocorreu nova substituição do presidente e do comandante das Armas do Pará,
pela Regência, pelo desembargador José Mariani e pelo Ten Cel Ignácio Corrêa de
Vasconcellos, respectivamente, que chegaram em Belém em abril de 1833, tendo
sido repelidos e rejeitados pelo partido do cônego Baptista, como este ficou
conhecido.
E então teve lugar violenta rebelião popular em 16 de abril, com verdadeiras
hordas populares comportando-se como selvagens, que ensangüentaram as ruas de
Belém, onde praticaram atos de horror, de violência e anarquia.
A Regência decidiu nomear novo presidente e comandante das Armas do Pará, os
quais seguiram para seu destino, sem meios para dominar a situação
revolucionária. Foram os já citados presidente deputado geral Lobo de Souza e
comandante das Armas o Ten Cel Santiago.
Em 7 Jan 1835 rebentou, outra revolução a qual depôs e assassinou o presidente e
seu comandante das Armas. Estourava assim a Revolta da Cabanagem,abordada mais
adiante.
Neste dia trágico, partidários do Cel Malcher entraram em Belém e atacaram o
quartel do Exército, obrigando sua tropa a debandar e libertando, a seguir, os
prisioneiros.
Antes mesmo do amanhecer, os revoltosos assassinaram, no Palácio do Governo, o
comandante das Armas Ten Cel Santiago e o Capitão-de-Fragata Guilherme James
Inglis, que comandara uma expedição contra o Cel Malcher, e mais o presidente
Lobo de Souza, quando este procurava ocultar-se. Foram assassinados também seis
oficiais e 14 populares. Tinha início a Revolta da Cabanagem, enquanto ingleses
lutavam para conquistar a região do Pirara.
17 – OCUPAÇÃO INGLESA DA REGIÃO DO PIRARA, 1835-1842
Os ingleses chegaram à Guiana Inglesa em 1781, depois de a conquistarem aos
holandeses.
Em 1810, pela primeira vez, subiram o rio Essequibo, sendo detidos por um
destacamento militar português do Forte São Joaquim, que forçou os ingleses a
voltarem para a margem esquerda do rio Rapumani.
Os ingleses, representados por missionários evangélicos, formaram no Pirara um
pequeno núcleo, aumentado por índios contratados e por exilados do Pará
favoráveis à idéia de não-independência do Brasil. E formaram o que chamaram
Forte de Nova Guiné, de onde foram expulsos por contingentes militares
brasileiros.
Em 1827, quando o Brasil enfrentava a Guerra da Cisplatina (1825-28), desfalcado
de três divisões que retornaram a Portugal com a nossa Independência, se refazia
das lutas para a consolidação da Independência e do combate à Confederação do
Equador, em 1824, o Governador da Guiana Inglesa aproveitou para contestar os
limites Brasil x Guiana Inglesa.
Em 1837, quando o Brasil enfrentava a Balaiada no Maranhão, a Cabanagem no Pará
e a Farroupilha no RGS, o Lord Palmerston promoveu a missão Schoburgk “de
reconhecer as montanhas que dividiam as bacias do Amazonas e Essequibo, dando
continuidade a reconhecimentos realizados em 1835 por conta da Royal Geographic
Society“.
Mais tarde, ao contrário de dois relatórios anteriores, afirmou que o Forte de
São Joaquim havia sido sempre considerado o limite do Brasil com a Guiana
Inglesa. Aí teve início a manobra espoliadora do Brasil da planície do Pirara.
Em junho de 1838, estabeleceu-se no Pirara, então brasileiro, com uma missão, o
reverendo inglês Thomas Youd.
Em fevereiro do ano seguinte, o Capitão Leal, comandante do Forte São Joaquim,
forçou o Reverendo Youd a retirar-se da região em litígio.
Esta ação provocou reação dos ingleses, que comunicaram ao Brasil terem
encarregado Schoburgk “de delimitar as fronteiras Brasil x Guiana Inglesa“ e ao
governo da Guiana ”para se opor a toda a usurpação sobre o Pirara ou sobre o
território até agora ocupado por tribos independentes“. Ou seja, os índios
macuxis, para ali atraídos pelos ingleses.
O Pirara foi ocupado pelo missionário brasileiro, frei José dos Santos
Inocentes, que foi intimado a abandonar o Pirara por um oficial inglês, e o
território brasileiro limítrofe foi ocupado por “índios independentes”.
O Brasil, sob a Regência, e enfrentando lutas internas, ingenuamente concordou
em retirar do Pirara seu destacamento militar e seus delegados, assim como,
também, dos territórios ocupados por “tribos independentes“, reconhecendo assim,
em caráter provisório, a neutralidade dos territórios citados.
Estabeleceu como condição: “Que os índios permaneçam ali independentes do Brasil
e Inglaterra e na posse exclusiva do terreno, até a definição dos limites
contestados entre o Brasil e Inglaterra”.
O Brasil cometeu um equívoco diplomático ao concordar com a tese de “tribos
independentes“.
Mas aí veio a manobra de esbulho ao Brasil, liderada por Schoburgk em fevereiro
de 1842, quando iam acesas e vivas as revoluções Farroupilha, no Rio Grande do
Sul, a Liberal em São Paulo e depois a de Minas Gerais, que roubavam a atenção
do Governo Imperial.
Com a proteção de um destacamento militar inglês, Schoburgk chegou ao Pirara e
colocou os marcos fronteiriços, sem esperar por uma decisão sobre a área em
litígio. A Inglaterra contestava uma área de 54.687 km2.
Em 1888, protestou junto à Rainha Victória o General Dionísio Cerqueira, como
Ministro das Relações Exteriores, contra decisão do Tribunal Anglo-Venezuelano,
que decidiu traçar os limites entre os dois países por território brasileiro não
contestado. Protesto renovado no ano seguinte.
Em 1891, na época da renúncia do Presidente Marechal Deodoro, forçada por uma
revolta, a Inglaterra reduziu a área a menos da metade, ou seja, 25.687 km2.
Desta área, o Brasil renunciou a cerca de 3/5, ou 15.087 km2, ao aceitar, em
1904, o laudo arbitral do Rei Vittório Emmanuel, da Itália.
Com este final, o Brasil perdeu o acesso ao rio Essequibo através do rio
Rapunami e, conseqüentemente, ao Mar das Antilhas, e a Inglaterra passou a
desfrutar de acesso à Bacia Amazônica pelo Pirara, descendo o rio Tacucú,
afluente do rio Branco. O limite do Brasil no rio Rapunami recuou para o rio
Mahú.
Joaquim Nabuco foi encarregado de defender o Brasil. A solução, que foi julgada
injusta e que passou a História como Questão do Pirara, foi aceita pelo Brasil
como fidelidade aos princípios de respeito às decisões de arbitramento
internacional.
Schoburgk foi premiado por seus serviços à Inglaterra com o título de Sir.
A retirada do Pirara do destacamento do Forte São Joaquim, que a guarnecia,
possibilitou a presença na área de faiscadores de diamantes, o que serviria de
argumento à Inglaterra paraalegar sua soberania sobre a área.
Em 1975, em viagem como aluno da Escola Nacional de Informações, então
subordinada à Presidência da República, ouvimos exposição do Comandante Militar
da Amazônia, General Bethlem, que em território brasileiro, ao leste de Airão,
fora encontrada uma tribo falando inglês. Então alertamos pelo precedente ali
ocorrido com a perda da planície do Pirara.
Foi informado, na ocasião, que na fronteira Brasil x Guiana Inglesa, por onde
havia se infiltrado esta tribo falando inglês, fora colocado um Pelotão de
Fronteira.
Estudou este episódio o acadêmico da AHIMTB Cel João Ribeiro da Silva, na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro,
162(411)159/161, Abr/Jun2001, na qual indicou alguns outros trabalhos, entre
eles o do General Mário Travassos, patrono da Delegacia da AHIMTB em Campinas-SP
e o do General Antônio de Souza Junior, patrono de cadeira na AHIMTB.
18 - A REVOLTA DA CABANAGEM NO PARÁ
Antecedentes
Dois fatos associaram-se para dar início à rebelião: inconformismo de
fazendeiros e comerciantes locais contra o presidente, deputado geral Lobo da
Costa, nomeado para a província pelo governo central, e a extrema pobreza em que
vivia a população paraense. A grande maioria vivia em cabanas, perto dos rios;
daí a designação “cabanos”, dada aos revoltosos.
Revolta
As notícias da abdicação de D. Pedro I, ao chegarem ao Pará, provocaram uma
série de manifestações populares que culminaram com a queda de numerosas
autoridades locais, conforme já abordado anteriormente.
Vale lembrar que, mobilizando a comarca do Rio Negro (atual Estado do Amazonas),
o cônego João Batista Gonçalves Campos submeteu o governo da província a suas
determinações, passando a controlá-la indiretamente.
Só em fins de 1833, com a nomeação do deputado geral Bernardo Lobo de Sousa para
a presidência do Pará, tendo como comandante das Armas o Major Santiago, o
governo regencial procurou restabelecer sua autoridade. A enérgica repressão,
impulsionada por Lobo de Sousa, logo o tornou impopular.
A facção de Batista Campos conspirava contra o novo presidente e, nas páginas de
A Sentinela Maranhense e na Guarita do Pará, Vicente Ferreira Lavor denunciava
as arbitrariedades governamentais.
Em 1834, Lobo de Sousa ordenou a prisão do cônego, que se refugiou numa
propriedade de Félix Antônio Clemente Malcher, editor do jornal A Sentinela.
Ali entrou em contato com Eduardo Angelim e com os irmãos Francisco Pedro,
Manuel e Antonio Vinagre, dispostos a pegar em armas contra o governo do Pará, e
se auto-intitulou o "1º presidente cabano".
Em 7 de janeiro de 1835, já falecido o cônego Baptista, os cabanos investiram e
conquistaram Belém, sob a liderança de Antônio Vinagre e Souza Aranha.
Dominaram facilmente a guarnição do Exército e o Palácio do Governo e
comunicaram sua conquista à Regência, em 16 de março de 1835.
Formou-se, então, o governo cabano, agora presidido por Malcher, e bem
solidificado, graças às medidas de controle militar adotadas.
Representante dos proprietários rurais, Malcher pretendia manter o Pará unido ao
Império. Contrários a essa política, Vinagre, Angelim e outros líderes populares
refletiam a radicalização das camadas populares.
As divergências entre os dois grupos explodiram a 19 de janeiro, quando
Malcherordenou a prisão de Angelim e de Ferreira Lavor.
A seguir, voltou-se contra Francisco Pedro Vinagre, que ocupou o Arsenal de
Guerra e depôs o governador.
A fraqueza e a falta de visão da Regência e as ambições irreconciliáveis dos
partidos locais ameaçavam jogar Belém no caos, enquanto o domínio cabano, cada
vez mais, encontrava apoio no interior da Amazônia Brasileira.
Em 1º de abril de 1835, foi nomeado Presidente e Comandante das Armas o Marechal
Manoel Jorge Rodrigues. Aportou em Belém em 1º de junho de 1835, apoiado em
forte esquema militar. Foi bem recebido, inclusive pelos cabanos.
Apesar da oposição dos setores mais radicais liderados por seu próprio irmão
(Antônio Vinagre), o líder cabano acabou negociando com as autoridades e, a 26
de julho de 1835, entregou o governo ao Marechal Manuel Jorge Rodrigues, nomeado
pela Regência.Governo do Pará que Francisco Vinagre exercera por meio ano. O
Marechal Manoel Jorge substituiu as forças cabanas pelas suas.
Os cabanos, simbolicamente, devolveram suas armas e munições. Em realidade, as
melhores, incluindo canhões, eles as contrabandearam para o interior, para suas
bases.
Insatisfeitos com o acordo obtido, os líderes mais radicais, Antônio Vinagre e
Eduardo Angelim, retiraram-se da capital e refugiaram-se entre os sertanejos, os
índios tapuias e os negros e, em pouco tempo, estavam prontos para investir
sobre Belém, o que fizeram em 14 de agosto de 1835, menos de dois meses depois
da posse do Marechal Manoel Jorge.
Em 22 de agosto, pela desproporção de efetivos, tornou-se insustentável a
situação das forças legais, sitiadas por terra.
Na madrugada de 23 de agosto, o Marechal Manoel Jorge evacuou Belém e
estabeleceu o Governo e seu Quartel General na ilha Tatuoca, bloqueando o porto
de Belém.
Em 26 de agosto de 1835, Eduardo Angelim foi aclamado o “3o presidente cabano”,
proclamou a república e desligou a província do império. Começou então a ter
grande dificuldade para dominar a situação:
por não conhecer os manejos da administração;
por estar sob bloqueio naval; e
por desentendimentos entre as lideranças cabanas que o sustentavam no poder.
O Tenente-General Manoel Jorge Rodrigues (1777-1845), foi estudado por A.
Pretextato Maciel da Silva in: Os generais do Exército Brasileiro. Rio, BIBLIEx,
1940, v.2,2 ed. p. 255-262.
Em 1815, foi condecorado com a medalha inglesa de York, por haver se destacado
no comando de um batalhão, nas batalhas de Otriz e Toulouse, onde se houve "com
intrepidez, energia e muito tino".
Integrando a Divisão de Voluntários d’El Rei, veio para o Brasil em 1817 e
participou da incorporação da Província Cisplatina ao Brasil. Tomou posição
francamente a favor da Independência e da sua defesa na Colônia do Sacramento.
Em 1825, foi efetivado como brigadeiro.
Na Colônia do Santíssimo Sacramento, na então Província Cisplatina, no Uruguai
atual, como seu governador, destacou-se no combate aos argentinos na Guerra da
Cisplatina, 1825-28, sendo, em conseqüência, promovido a Marechal de Campo.
Em 1829-30, foi governador das Armas no Rio Grande do Sul, onde debelou motim do
14º BC, em Porto Alegre. Logo a seguir foi comandante das Armas em Minas Gerais.
Em 1835, pediu reforma, que lhe foi negada. Foi nomeado Presidente e Comandante
Governador das Armas (atual 8a RM) do Pará em 1835, onde perdeu, em luta contra
a Cabanagem, seu filho Jerônimo Herculano Rodrigues.
Vogal do Conselho Supremo Militar de Justiça, foi graduado tenente-general.
Em 24 de julho de 1839, assumiu o comando do Exército do Sul, que combatia a
Revolução Farroupilha.
No indeciso combate de Taquari de maio de 1840, teve morto o seu cavalo.
Em 14 de julho de 1841, passou a Conselheiro de Guerra e, em 1842, assumiu as
funções de Governador das Armas da Corte (atual 1a RM).
Em 1845, foi distinguido com o título de Barão de Taquari, ano em que faleceu no
Rio, em 14 de março de 1845, como tenente-general.
Não cursou Escola Militar. Possuía passado operacional notável como veterano das
campanhas da Península, 1808-14, em Portugal e na Província Cisplatina, 1817-18.
Em 9 de abril de 1836, foi substituído pelo Marechal Soares Andréa, que
reassumiu a Presidência e o Comando das Armas do Pará.
Utilizando operações conjuntas, Andréa foi retomando várias posições cabanas e
tornando insustentável a posição dos revoltosos em Belém.
Em 13 de abril de 1836, depois de cerca de sete meses sob domínio cabano, Belém
retornou, em definitivo, ao controle da Regência.
Os cabanos deixaram a cidade em pequenos barcos e foram, em grande número,
capturados pela Marinha.
No interior da província, o governo não se fez presente, deixando espaços
vazios. Espaços ocupados por lideranças cabanas, que conquistaram o apoio
popular, até por coação.
O Marechal Andréa procurou identificar concentrações cabanas e batê-las por
partes, sem, no entanto, conseguir capturar Eduardo Angelim e outros líderes,
escondidos no labirinto aquático da Amazônia. Só foram capturados em 20 de
outubro de 1836, no rio Pequeno, próximo do lago do Porto Real.
Em dezembro, o Marechal Andréa conseguiu retomar Santarém dos cabanos.
Houve um momento em que a Integridade Nacional do Brasil esteve em perigo,
traduzido pelo apoio aos cabanos no Amapá de parte dos franceses que ali
litigavam com Portugal e depois com o Brasil em torno de limites. Os ingleses
também propuseram aos revoltosos se separarem do Brasil, mas estes se recusaram.
Este fato merece ser assinalado como patriotismo paraense.
Mas o esforço para desintegrar a resistência cabana, atomizada na imensidão da
Amazônia, prosseguiu durante os anos de 1837 e 1838.
Designado para combater na Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina, o Marechal Andréa passou o governo do Pará ao Dr. João Antônio
de Miranda, que realizou excelente administração. Eis o perfil do Marechal
Andréa, que abordamos em nosso livro O Exército Farrapo e os seus chefes. Rio de
Janeiro:BIBLIEx,1991.2v:
Francisco José de Soares Andréa (1781-1858), Marechal de Exército, foi estudado
por Pretextato Maciel da Silva in: Generais do Exército Brasileiro, Rio de
Janeiro: BIBLIEx, 1940, v. 1, 2 ed., p. 75-91 e por Andréa in: Andréa, Rio de
Janeiro:BIBLIEx, 1977.
Nasceu em Lisboa, em 21 de Janeiro de 1781. Cursou a Real Academia de Marinha de
onde saiu formado, com distinção, em Engenharia Militar.
Fez a campanha de 1801 em Portugal, como cadete na Artilharia.
Em 1807, serviu como voluntário da Esquadra do Estreito e veio para o Brasil com
a Família Real.
No Brasil, já como capitão, passou a trabalhar no Arquivo Militar, criado em 7
de abril de 1808 (e do qual não descende o Arquivo Histórico do Exército, como
comprovamos ao dirigi-lo de 1985-91).
Durante três anos e até 1811, trabalhou como engenheiro em diversos projetos no
Rio de Janeiro (Quinta da Boa Vista, Copacabana e na cidade em geral).
Como Major, integrou o Estado-Maior da expedição que combateu a Revolução
Pernambucana de 1817.
Permaneceu no Recife por quatro anos, no comando da Brigada de Engenheiros e na
direção de todas as obras civis e militares, tendo sido secretário do governo.
Já como Coronel, retornou de Pernambucano para o Rio, onde aderiu à
Independência.
Durante quatro anos, até 1826, no Rio, aplicou-se em reconhecimentos do litoral
do Rio a Sepetiba, tendo dado início ao farol da Ilha Rasa.
Foi promovido a brigadeiro quando se encontrava em São João d'El Rei,
inspecionando rodovias.
Dali seguiu para o Sul, em novembro de 1826, tendo participado da Batalha do
Rosário, em 20 de fevereiro de 1827 como Ajudante-General do Exército "onde foi
insuperável durante a batalha e prestou muitos grandes serviços", segundo o
General Marquês de Barbacena.
Em 1828 e 1829, trabalhou na fortificação da Fronteira do Rio Grande e projetou
o farol da Barra do Rio Grande.
Governou as Armas de Santa Catarina em 1829 e as do Pará em 1830, de onde foi
demitido em função do 7 de abril de 1831, por suspeito de ser influente membro
da Sociedade Militar.
Respondeu a Conselho de Guerra no Rio e foi preso em 14 de dezembro de 1833 e
enviado para São José do Norte, no Rio Grande do Sul, aguardando ordens da
Regência, numa espécie de desterro.
Em 1835, foi enviado para combater a Cabanagem no Pará. Com ele seguiram os,
mais tarde, heróis de nossa Marinha: Frederico Mariath, Francisco Barroso e
Tamandaré.
Permaneceu até 1835 no Pará, depois de vencer a Cabanagem, tendo recebido
acerbadas críticas, pelos métodos empregados, dos quais procurou justificar-se,
face às circunstâncias que enfrentou.
Do Pará, já Marechal de Campo efetivo, foi mandado para Santa Catarina como
Presidente e Comandante das Armas, para lutar contra a República Juliana,
proclamada em Santa Catarina pelos farrapos, conforme abordamos em A Grande
Festa dos Lanceiros, Recife: UFPE,1971.
Com forças de terra e mar, sendo esta ao comando do Almirante Frederico Mariath,
atacou e reconquistou Laguna aos revolucionários em 15 de novembro de 1839 e
frustrou a efêmera república que, 50 anos mais tarde, seria implantada em todo o
Brasil, em 15 de novembro de 1989.
Suas tropas sofreram o revés de Santa Vitória em 14 de dezembro de 1839, vencido
pelo Cel Joaquim Teixeira Nunes, comandando Lanceiros Negros farrapos, inclusive
com o sacrifício do brigadeiro Xavier da Cunha, conforme abordamos no já citado
O Exército farrapo e os seus chefes.
Em 1840, foi enviado para a Província do Rio Grande do Sul como seu Presidente e
Comandante das Armas, ao início da Maioridade de D. Pedro II, ocasião em que o
General Bento Manuel Ribeiro passou à neutralidade mediante acordo com ele.
Andréa tentou a paz com o líder farrapo General Bento Gonçalves e se convenceu
de que ela aconteceria quando mostrasse possuir forças imbatíveis.
Bento Gonçalves era a favor da sustentação da guerra, como meio de obter-se paz
honrosa. E quanto melhor fosse a posição militar obtida, melhor trunfo teriam
para negociar.
No campo militar foi executada estratégica operação através da Divisão de
Labatut, mobilizada em São Paulo, com a qual conseguiu que o sítio farrapo de
Porto Alegre fosse levantado em definitivo, conforme abordamos em Porto
Alegre-memória dos sítios farrapos e da administração de Caxias.
Brasília:EGGCF,1989.
A seguir, reocupou a sua cadeira de deputado no Rio de Janeiro e passou a
comandar o Corpo de Engenheiros.
Em 1843, foi eleito deputado pelo Rio de Janeiro.
De 1843 a 44, foi Presidente e Comandante das Armas de Minas Gerais (atual 4a
RM) e, de 1845 a 46, exerceu idênticas funções na Bahia (na atual 6a RM), bem
como no Rio Grande do Sul, de 1848 a 50, quando executou diversos trabalhos em
Caçapava do Sul, visando a transformá-la em base militar e logística para
operações contra Oribe, do Uruguai, trabalho que lhe valeu o título de Barão de
Caçapava, em 1855.E ali deixou plantado o Forte D. Pedro II, que nunca foi
acabado e utilizado.
Faleceu em São José do Norte, em 20 de outubro de 1858, como tenente-general,
local onde ainda devem se encontrar os seus restos mortais, atrás do altar
principal.
Ligou-se à fundação de Santa Vitória do Palmar, fato que abordamos em “Santa
Vitória na História Militar”. Revista Militar Brasileira, 1974, Jul/Dez p.
63-76.
Em 1840, o poder central declarou a Cabanagem pacificada.
A impunidade cabana e a ausência do Estado na imensa área amazônica estimularam
esta guerra quase sem fim, que teria sido vitoriosa se maior capacidade
intelectual e política tivessem tido as lideranças cabanas, e se tivessem também
cedido às tentações da França e da Inglaterra de se separarem do Brasil.
Entre os diversos estudos sobre a Cabanagem, destacamos a obra do oficial de
Artilharia do Exército e historiador militar LOBO, Luiz. História Militar do
Pará. Rio de Janeiro: BIBLIEx ,1943. O mestre Arthur César Ferreira Reis também
abordou o assunto na RIHGB, v.347, Abr/Jun 1985: A Cabanagem, p.7/29.
19 - A HISTÓRIA MILITAR DO PARÁ NO SEGUNDO REINADO, 1840-89
No segundo Reinado, pacificadas a Cabanagem e a Balaiada, o Pará era guarnecido
por 1.560 homens, sendo 1.015 do Exército, dos quais dois corpos de Infantaria e
um de Artilharia.
A Marinha dispunha de 101 homens, que guarneciam uma flotilha de 3 a 5 navios.
O Corpo de Caçadores de Polícia do Pará possuía 229 homens, e a sua Guarda
Policial, 155 homens, que eram os chamados para o serviço. Mas estavam nela
alistados 661 oficiais e 15.528 guardas, distribuídos pelas comarcas de Belém,
Bragança, Cametá, Macapá, Alto e Baixo Amazonas.
Esta era a força que guarnecia a entrada do Amazonas depois da Revolta da
Cabanagem.
O apoio logístico era propiciado pelo Trem de Guerra, que foi reforçado em 3 de
Maio de 1874, pela criação da Companhia de Aprendizes, com 40 aprendizes.
As unidades do Exército sediadas em Belém passaram a ligar-se mais tarde, por
terra, bem como com o Depósito de Pólvora e Artifícios de Guerra em Uaurá.
Combateu a Revolta Praieira em Pernambuco o Batalhão de Artilharia, sediado em
Belém, forte de 300 homens.
Em 1852, foi reerguida a Guarda Nacional no Pará, subordinada a três comandos
superiores: 1º comando em Belém e Bragança, 2º comando em Cametáe 3º comando em
Macapá. Esta Guarda Nacional, reerguida devido a ausência de soldados do
Exército, era constantemente convocada para desempenhar funções do Exército.
Para a Guerra do Paraguai, Belém enviou o seu Corpo Provincial de Caçadores de
Polícia que passou a se constituir no 13º Corpo de Voluntários da Pátria que, em
Montevidéu, ao Comando do Ten Cel Joaquim Cavalcanti de Albuquerque Belo, foi
incluído na 10ª Brigada de Infantaria. Teve vida efêmera. Foi dissolvido pelo
General Osório, e seu efetivo completou o 6º de Voluntários da Pátria.
Participou da invasão do Paraguai em 16 de abril de 1886, em Passo da Pátria, e
no outro dia combateu em Laguna Serena e em diversos outros embates.
O 13º VP retornou a Belém em 8 de julho de 1870, trazendo a bandeira que
recebera, ao partir, das mãos da mulher paraense, a qual foi guardada na
Catedral de Belém.
Com a ausência do 13º VP e de forças do Exército enviadas para o Teatro da
Guerra, todas as fortificações de Belém foram ocupadas pela Guarda Nacional,
para ficarem em condições de enfrentar ameaças francesas vindas da Guiana.
Foi ferido mortalmente no combate da Ponte de Itororó o bravo paraense
Brigadeiro Hilário Maximiliano Antunes Gurjão, o qual faleceu no dia 10 de
janeiro de 1869, em Humaitá, tendo recebido o seguinte elogio póstumo do Marquês
de Caxias, que comandava o Exército na conquista da ponte:
“O brigadeiro Hilário Maximiliano Antunes Gurjão, já vantajosamente conhecido e
respeitado no Exército, por seu amor à disciplina, inteligência superior,
bravura e intrepidez, de que tantas e tão brilhantes provas dera nas difíceis e
arriscadas comissões de que foi encarregado no Chaco, selou as listas do seu
nome pela intrepidez e calma com que se portou no combate de 6 de dezembro de
1868 e pelo honroso ferimento que nele recebeu, como se publicou em ordem do dia
14 de janeiro de 1869“.
Em 1951, aluno do 2o ano da Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre
(EPPA), quando despertava a minha vocação de historiador militar, e eu não
possuía consciência disto, ao colecionar frases célebres de chefes militares em
combate, sempre exerceram forte impressão as palavras do Brigadeiro Gurjão ao
ser ferido em Itororó: Assim é que morre um general brasileiro!
Ele era filho do Capitão Hilário Pedro Gurjão que, depois da Independência,
durante a luta do atual Amazonas para separar-se do Pará, foi nomeado Comandante
das Armas do Pará por seu presidente José Felix Pereira Burgos. E a luta
prosseguiu até que, em 1832, o Amazonas elegeu seu 1o presidente e o Pará mandou
tropa ao comando do Ten Cel Domingos Simões da Cunha Baiana, para obrigar a
normalizar a situação de dependência do atual Amazonas ao Pará. Houve um
confronto, segundo Milton Miró Vernalha, no local denominado Lages, vencendo os
legalistas do Capitão Hilário Gurjão. Mas o Amazonas tornou-se independente, e a
atual capital, então chamada Lugar da Barra, foi elevada a vila e passou a se
chamar de Manaus. E o governo imperial nomeou um presidente para a nova
província do Amazonas.
Em 1871, a Guarda Nacional do Pará passou a ter cinco comandos, com cerca de
4.000 homens de Infantaria e 642 adidos: 1º Comando - Belém. 2º Comando -
Cametá. 3º Comando – Igarapé-Mirim. 4º Comando - Santarém. 5º Comando - Vigia.
6º Comando - Bragança. 7º Comando - Marajó e Cachoeira. 8º Comando – Macapá, e
9º Comando - Gurupá.
Em 1876, a tentativa do Serviço Militar Obrigatório, implementada pelo Ministro
da Guerra e Presidente do Gabinete de Ministros Duque de Caxias, conseguiu
alistar 129 sorteados para o serviço de Paz e 1346 para o Serviço de Guerra.
Proclamada a República, às 15 horas de 16 Nov 1885, o 15º BI saiu do seu quartel
em direção ao Palácio do Governo para depor seu presidente.Operou junção com o
4º Batalhão de Artilharia na praça Saldanha Marinho, para a seguir cercarem o
Palácio do Governo. No caminho encontraram o Corpo de Polícia, ao comando do Ten
Cel em Comissão e Tenente do Exército Raimundo Antônio Fernandes de Miranda, que
aderiu ao movimento.
Este movimento cercou o Palácio do Governo e recebeu a adesão do Corpo de
Bombeiros, que estava formado na frente do Palácio.
O Presidente do Pará foi deposto sem resistência, e foi eleita uma Junta
Provisória, da qual fez parte o Ten Cel Bento José Fernandes Júnior, do
Exército, como comandante das Armas do Pará.
Foi eleito governador o Major Dr. Lauro Sodré, natural de Belém e propagandista
da República desde 2º Tenente no 4º Batalhão de Artilharia.
Mais tarde seria o único governador a opor-se, em 1891, ao fechamento do
Congresso pelo Marechal Deodoro e um dos conspiradores responsáveis pela Revolta
da Vacina Obrigatória na Escola Militar da Praia Vermelha em 1904, o que
determinou o seu fechamento, seguido de sua extinção.
Ainda não está bem clara a projeção de sua ação no Amapá, em 1895, sob a
liderança do Triunvirato e Exército do Amapá na região aurífera, contestada pela
França ao Brasil, entre os rios Araguari e Oiapoque, assunto que será tratado
mais adiante.
20 - PRESSÕES DOS EUA NA AMAZÔNIA EM TORNO DA BORRACHA
Em 1845, depois da Balaiada, foi patenteado um processo de vulcanização da
borracha de que a Amazônia era a única produtora, fato que daria origem ao Ciclo
da Borracha, 1844-1912, atraindo a cobiça de lideranças dos Estados Unidos e de
nações européias para a Amazônia. Ciclo esse, interrompido em 1912, pela
concorrência da borracha plantada na Ásia, com sementes contrabandeadas, em
1876, pelo inglês Wickman.
Em função disto, o interesse pela Amazônia cresceu nos Estados Unidos,
disfarçado na versão de que o Brasil cometia um crime contra os interesses da
humanidade, com a política de restrições à livre navegação internacional da
Amazônia Brasileira por barcos estrangeiros.
Lideranças nos Estados Unidos, a partir de meados do século XIX, passaram a
advogar a abertura da Amazônia ao livre comércio, imigração e colonização.
Durante algum tempo, a campanha em favor da abertura do Amazonas, iniciada em
1850, em período de tensão política no Brasil motivada pela atuação dos
ditadores do Uruguai e Argentina, Oribe e Rosas, foi dirigida por um oficial da
Marinha norte-americana, o Tenente Mathew Fontaine Maury, Diretor do
Observatório Naval.
Em artigos de jornais e documentos endereçados ao governo norte-americano a
respeito da Amazônia, ele apresentava a Amazônia Brasileira como o paraíso das
matérias-primas, área que aguardava raças fortes e decididas para a empresa de
sua conquista científica e econômica. E concluía com a tese de que a Amazônia
não poderia permanecer trancada à humanidade. As expedições que ele realizou
faziam parte da sua estratégia para a abertura do rio Amazonas à navegação
internacional e à expansão norte-americana na Amazônia.
O Tenente Maury considerava que a livre navegação do Amazonas era necessária
para o bem-estar e para a prosperidade dos Estados Unidos.
Paralelamente, o governo norte-americano, através de Maury, iniciou campanha
para forçar o Brasil a abrir o rio Amazonas à navegação.
Para tanto, foi solicitada permissão ao Governo brasileiro para que uma corveta
americana subisse o Amazonas. O Governo Imperial, sob D. Pedro II, negou a
permissão.
Entretanto, a campanha para a abertura do rio Amazonas questionava o direito de
soberania brasileira sobre a região e procurava demonstrar, pelos argumentos
utilizados, a ascendência dos direitos norte-americanos para a incorporação da
região aos Estados Unidos.
A campanha de difamação, decorrente da recusa do Governo em abrir o rio
Amazonas, levou D. Pedro II a convocar o Conselho de Estado, em 1º de abril de
1854, sendo as pretensões norte-americanas prontamente rejeitadas. A Marinha e o
Exército se mobilizaram para defender a área em caso de uso da força. Foi um
corre-corre sem fim.
Hoje se constata fato semelhante, consistente em difamação internacional, de que
o “Brasil está queimando e desmatando a Amazônia e massacrando suas populações
indígenas”, com o objetivo de conquistar a opinião pública internacional para
manobras ofensivas contra a soberania brasileira da área, como têm explicado
diversas autoridades brasileiras e também este autor, baseado nestas, conforme
relacionado na bibliografia.
Por via de conseqüência, houve a decisão, concretizada, de criação de empresa
brasileira de Navegação e Comércio no Amazonas pelo Visconde de Mauá, por esta
razão consagrado mais tarde patrono da Marinha Mercante do Brasil.
Não obstante, a Amazônia continuou a ser pressionada pelo Governo dos Estados
Unidos. Pressão que foi aliviada temporariamente por ocasião da Guerra Civil nos
Estados Unidos, a Guerra de Secessão.
Em 1902, o então Presidente Theodore Roosevelt, entusiasmado com o rush da
borracha, participou ativamente do esforço de um consórcio internacional, o
Bolivian Syndicate of New York, para apropriar-se da maior parte territorial do
Acre, então objeto de litígio entre o Brasil e a Bolívia.
Mais tarde, fora do governo, Theodore Roosevelt visitou a Amazônia, sendo
acompanhado pelo Marechal Rondon, conforme abordamos em Rondon–o guerreiro da
Paz, no site www.resenet.com.br/users/ahimtb e na Revista do Instituto Histórico
e Geográfico do Mato Grosso, de 2001.
21- PRESENÇA E ATUAÇÃO DO MARECHAL RONDON, 1890-1955
Ao tratar-se da História Militar Terrestre da Amazônia, não se pode olvidar a
imensa projeção direta ou indireta na Amazônia da obra do Marechal Cândido
Mariano Rondon como construtor de linhas telegráficas e de estradas, explorador
geográfico, geógrafo, inspetor de fronteiras e protetor dos seus índios de 1890
a 1955, cerca de 65 anos.
Suas ações na Amazônia encontram-se sintetizadas, as quais ele precisou, como
suas memórias, na obra Rondon conta a sua vida, de Esther Viveiros (Rio de
janeiro: Coop. Esperantista, 1969) e que interpretamos em artigo nos sites
www.resenet.com.br/users/ahimtb e no título História Militar Terrestre, no site
www.militar.com.br, publicado também na Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso. v. 59, 2001. p. 177/201.
(1890-91). Foi Membro da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Cuiabá
ao Araguaia, sob a Chefia do Cel Ernesto Gomes Carneiro. Foi quando este colocou
sob a proteção do Exército os índios Bororós, marco inicial da saga rondoniana
de proteção aos índios.
(Jun1892-93). Foi Chefe do 16o Distrito Telegráfico e Inspetor Permanente dos
Destacamentos Militares ao longo da Linha Telegráfica Cuiabá-Araguaia. Foi
quando adotou o lema: "Morrer se necessário for! Matar nunca"!
(1893- 98). Trabalhou na construção da Estrada Estratégica trecho
Cuiabá–Araguaia, dentro do contexto de litígio entre Brasil e Argentina, sobre o
território das Missões.
(1907–1909). Foi Chefe da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas Mato
Grosso–Amazonas. Comissão esta que teve por núcleo principal o 5º Batalhão de
Engenharia, com missões de Construção, Transporte e Vigilância. Ele escolheu,
como sua base de partida, a vila Diamantino e, a seguir Tapirapoam, no rio
Sepotuba, afluente do Paraguai. Foi depois de 237 dias que, no dia de Natal de
1908, atingiu o rio Madeira, ocasião em que Rondon, exultante, mandou seu
corneteiro dar o toque:- Viva o 5º Batalhão de Engenharia.
(1910- 13). Foi Diretor do Serviço de Proteção dos Índios e Trabalhadores
Nacionais, serviço criado em 20 Jun 1910.
(Out1913-30Abr1914). Comissão de Acompanhamento do Cel Theodore Roosevelt,
ex-presidente dos EUA, ao Centro-Oeste e Amazonas. Viagem imortalizada nas obras
do Cap Amílcar de Magalhães Pelos sertões do Brasil e Impressões da Comissão
Rondon, e do Coronel Theodore Roosevelt nos EUA – Nas selvas do Brasil.
(Mai1914-1ºJan1915). Construção da Linha Telegráfica Cuiabá a Santo Antônio do
Madeira, em Rondônia atual, com 1.490 Km e 20 estações, da qual Rondon
executaria a conservação até 1930.
(1915–19). Sua Campanha sertanista, acumulando a Comissão Construtora de Linhas
Telegráficas e o Serviço de Proteção aos Índios. A partir desta Campanha, Rondon
acumulou, por muitos anos, a Construção de Linhas Telegráficas com o Serviço de
Proteção dos Índios.
(20Set1919-24). Foi Diretor de Engenharia do Exército e Chefe das Linhas
Telegráficas. Nesta época construiu quartéis do tipo Calógeras por todo o
Brasil.
(1927-6Nov1930). Inspetor de Fronteiras, de 15.000 Km delas, por quatro anos,
tarefa que lhe consumiu, na 1a partida, 257 dias, sendo 10.702 Km por água;
1.801 em lombo de cavalo; 2.917 em automóvel e 1816 em ferrovia, num total de
17.316 km. Foi esta a sua última missão no Serviço Ativo, pois a Revolução
vitoriosa de 1930, como figura expressiva que ele fora da República Velha,
causou-lhe sérios aborrecimentos, levando-o a pedir transferência para a
Reserva. Foi reformado como General de Divisão, posto máximo no Exército de
então, em 6 Nov 1930.
(1931-Jun34). Inspetor de Fronteiras (mesmo já reformado), tendo elaborado
muitos e preciosos relatórios, e Chefe da Comissão Telegráfica, por insistência
de Getúlio Vargas.
(Jun1934-04Ago38). Presidente de Comissão Mista: Peru, Colômbia e Brasil, com
vistas ao cumprimento do Tratado de Paz entre o Peru e Bolívia. Desta missão,
retornou com a perda de uma vista pelo glaucoma e a outra com reduzida visão.
(1939-55). Presidente do Conselho Nacional de Proteção ao Índio, por cerca de 15
anos, até falecer, cego e viúvo.
Rondon foi defensor e protetor dos índios, atuando como paladino da preservação
de suas culturas, desde que o Coronel Gomes Carneiro, seu chefe, decidiu colocar
os índios sobre a proteção do Exército, durante os trabalhos de construção da
linha telegráfica, ocasião em que ameaçou com castigos quem praticasse atos
hostis contra os índios.
E isto, por insistência de Rondon, que ficou muito triste, na medida em que se
internava em Mato Grosso e na Amazônia, ao constatar o estado de abandono em que
viviam os índios, isolados do resto do Brasil e vistos como inimigos, ou vivendo
como escravos a serviço do branco dominador e cruel.
Foi aí que decidiu, por volta de 1890, reverter esta situação e nela se empenhou
a fundo por 65 anos, fazendo dela o norte de sua luta pela Humanidade e pelo
Brasil.
Ao ser encarregado pelo Presidente Afonso Pena para ligar pelo telégrafo Mato
Grosso ao Amazonas, impôs, como condição para aceitar o desafio, autorização
presidencial para que as populações indígenas encontradas ao longo da construção
da ligação telegráfica Mato Grosso Amazônia fossem colocadas sob a sua proteção,
o que foi aceito.
Somente para inspeção das fronteiras do Brasil no Pará e Amazônia Rondon
percorreu 12.140 Km e cumpriu fielmente a missão, deixando preciosos relatórios
muito bem documentados, inclusive fotograficamente, os quais, em grande parte,
encontrei como adjunto da Comissão de História do Exército do Estado-Maior do
Exército (CHEB/EME) em Brasília, em 1971/74. Esta missão inspetora se
transformou igualmente em instrumento de boa vizinhança com os países fronteiros
do Brasil.
Como geógrafo, Rondon levantou a carta do extremo norte, em território limítrofe
com a Guiana Francesa e o Alto Rio Branco, na escala 1/500.000.
Comissão de Acompanhamento do Cel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos EUA, ao
Centro Oeste e Amazonas (Out1913-30Abr14): viagem imortalizada nas obras do
Capitão Amílcar de Magalhães Pelos sertões do Brasil e Impressões da Comissão
Rondon e na do Coronel Theodoro Roosevelt nos EUA – Nas selvas do Brasil. Rondon
produziu relatório em que assinalava, como uma das causas das secas, a
desertificação promovida pelo homem através do desmatamento. Tese que era
adequada à época, como é hoje.
Foi o implantador de modernas casernas e obras militares pelo Brasil afora, as
quais somaram 86, concluídas em sua administração e 36 em vias de conclusão ao
final de sua administração, além da aquisição de 25 imóveis. Entre as obras
espalhadas pelo Brasil, sob a direção técnica de Rondon, registrem-se os prédios
do atual 1o BPE, construído para ali funcionar a ECEME, o quartel da EsAO, o da
EsSA, o da antiga Escola de Veterinária e um grande número de quartéis tipo
Calógeras, como os de Pouso Alegre e o do 4º BE Cmb, em Itajubá, que tivemos a
honra de comandar de 1981 a 1982 e cujos registros assinalam a visita de Rondon
em 14 Out e em 15 Dez 1922, um domingo, ambas para inspeção das obras executadas
pela Companhia Construtora de Santos, presidida por Roberto Simonsen. A última
visita, foi para agradecer a colaboração do Batalhão, que enviara elementos de
Comunicações para o apoiar, no Paraná, no combate à Revolução de 1924, nas
cabeceiras do rio Liso. Batalhão cujo comandante, Major Volmir Augusto da
Silveira, registrou em Ordem do Dia de 7 set 1922 – Centenário da Independência:
“A situação do Exército do ponto de vista da eficiência é florescente. Aí estão:
A sua organização, à moderna, para a paz e para a guerra...o seu aquartelamento
em casernas higiênicas, confortáveis e ricas de conforto...”
Esta situação de novos quartéis, iniciados pelo Ministro Marechal Hermes, teve
grande impulso com o Ministro Pandiá Calógeras, ao entregar a direção técnica a
Rondon.
Rondon, quando aluno da Missão Militar Francesa, teve como seu instrutor o
próprio chefe da Missão, o Gen Gamelin, herói da 1a Guerra Mundial. Foi quando
surgiu uma amizade e admiração recíprocas, ao ponto de Rondon visitar Gamelin em
sua casa e ver o seu retrato de consagrado sertanista na sala do mestre. Rondon
foi um dos comandantes de uma das peças de manobra das célebres Manobras de
Saicã de 1922 e nas de Pirassununga em 1926. Quando perguntado ao Gen Gamelin,
em caso de uma guerra, quem ele indicaria para comandar o Exército Brasileiro,
ele respondeu que indicaria o General Rondon. E acreditamos que tenha seu dedo a
indicação de Rondon ao Ministro da Guerra, para pacificar o Paraná e Santa
Catarina, em 1924.
Rondon considerava os índios como pessoas humanas, com direitos de liberdade e
prosperidade. Acreditava que os índios, pela inteligência, poderiam evoluir
gradualmente para estágios mais adiantados, através da adaptação de seus
costumes primitivos às vantagens da civilização, ou seja, habitação, alimentação
e uso de novas técnicas e ferramentas.
Sua teoria foi incorporada em 1910, com o então criado Serviço de Proteção dos
Índios e dos Trabalhadores Nacionais, o SPI, do qual foi o primeiro presidente.
Fez a aproximação, a pacificação e a integração dos índios à sociedade
brasileira. Serviço no qual, com os nomes de SPI e CNPI, ele esteve à frente, de
1939 a 1955, até findar os seus dias. Serviço que, hoje, tem o nome de Fundação
Nacional do Índio – FUNAI.
Como explorador e descobridor de milhares de inéditos exemplares botânicos,
durante mais de 40 anos percorrendo nossos sertões, a Rondon deve-se a
descoberta inédita de 8.000 exemplares de vegetação e 6.000 exemplares
zoológicos, bem como de centenas de exemplares mineralógicos, espalhados em
diversos locais, mas reunidos em precioso e bem cuidado acervo, e enumerados em
conferência do Dr. Alípio de Miranda Ribeiro no Jornal do Comércio, (Rio de
Janeiro, 23Mar1916), sob o título de “Trabalhos de Campo publicados sobre
Mineralogia, Geologia, Botânica, Antropologia e Zoologia“. Conferência esta
proferida no Museu Nacional, em 26Mar1916.
Rondon e seus comandados fizeram, numa área de 50.000 Km quadrados, completos
levantamentos topográficos, geográficos, etnográficos, lingüísticos e
zoológicos.
Como Inspetor e demarcador de nossas fronteiras, com a missão de nelas proceder
minuciosa inspeção, para avaliar as suas condições de povoamento, de segurança e
de soberania, plantaram, na Amazônia, marcos de afirmação da soberania do
Brasil, complementando a obra dos desbravadores, fronteiros, militares e
diplomatas brasileiros, durante mais de três séculos de História do Brasil.
Como acompanhante do ex-Presidente dos EUA, Cel Theodore Roosevelt, em viagem de
estudos, através do Mato Grosso e Amazonas, de 12Dez1913 a 30Abr1914, Rondon foi
secretariado pelo Cap Amílcar Botelho de Magalhães, que escreveria três livros
sobre o feito, como os já citados e mais A Obra Ciclópica do General Rondon (Rio
de Janeiro: BIBLIEX, 1956).
Este fato foi politicamente constrangedor, em razão de Theodoro Roosevelt ser
pai do presidente do Bolivian Syndicate que atuou na tentativa de controlar no
Acre, com apoio armado, as fontes de borracha, como se verá adiante.
O grande objetivo fora o reconhecimento do rio de Dúvida, que Rondon batizou de
rio Roosevelt, e um afluente dele, de Alfredo de Taunay. Nesta penosa jornada
gastaram 59 dias para percorrer 686 Km. Esta expedição foi de dezembro de 1913 a
maio de 1914.
Roosevelt emitiu o seguinte conceito sobre Rondon em seu livro:
“O Coronel Rondon tem, como homem, todas as virtudes de um sacerdote. É um
puritano de uma perfeição inimaginável na época moderna.
Como profissional e cientista de escol, tão grande é o conjunto de seus
conhecimentos que se pode considerar o Coronel Rondon um sábio...
Nunca vi, nem conheço obra igual. Os homens que junto com Rondon a estão
realizando, são, pela sua abnegação e patriotismo, os maiores que existem...”!
Olintho Pillar, em seu clássico Os Patronos das Forças Armadas (Rio de Janeiro:
BIBLIEx, 1982), assim se referiu à obra de Rondon:
“Trinta anos em plena selva consolidaram a personalidade de Rondon, esse
esclarecido soldado, geógrafo dinâmico, redentor do índio, bandeirante do século
XX, apóstolo da paz, um dos filhos prediletos do Brasil, cujos sertões e
florestas por ele desbravados servem hoje de pedestal a sua glória imperecível”.
Foi na Amazônia que Rondon, como chefe do Serviço de Proteção ao Índio, quase
perdeu a vida por setas venenosas disparadas pelos Nhambiquaras, depois da
descoberta do rio Juruema, em 7 Set 1913, conforme contou mais tarde:
"Eu caminhava pela selva e de repente senti um vento junto ao meu rosto. Percebi
que era uma seta. Uma segunda flecha roçou minha nuca. Divisei, bem próximo,
dois nhambiquaras com arcos retesados prestes a desferir novas flechadas.
Disparei duas vezes sem fazer pontaria e recebi uma terceira flechada.
A bandoleira de couro de minha espingarda impediu que a flecha me atingisse o
peito. Tratava-se de uma flecha envenenada que figura, hoje, no Museu Nacional.
Os estampidos espantaram os índios.
Meus companheiros queriam ir ao encalço dos nhambiquaras, mas, fiel ao meu
programa de só penetrar no sertão com a paz e jamais com a guerra, não consenti
na menor represália.
Resolvi, pondo de lado qualquer orgulho militar, bater em retirada.
Tive muita dificuldade em convencer o pessoal de que nossa missão devia ser
fraternal e pacífica, nunca de guerra”!
Foi numa de suas expedições que, passando por Rondônia atual, nome dado em sua
homenagem, que descobriu, completamente coberto pela mata, o Forte Príncipe da
Beira que, sem disparar um só tiro, cumprira a sua destinação geopolítica.
O regresso foi difícil. Gastara, na expedição, dois meses e vinte e sete dias.
Percorrera 967 Km.
22 - INTRUSÃO FRANCESA NO AMAPÁ EM 1895-O MASSACRE DA VILA AMAPÁ
Em 15 de maio de 1895, teve lugar na Vila Amapá, localidade principal do
território contestado entre a França e o Brasil, entre os rios Oiapoque e
Araguari, um sangrento confronto armado entre brasileiros e franceses, seguido
de um massacre na população brasileira civil da Vila Amapá por tropas de
Infantaria da Marinha da França, enviadas de Caiena a bordo da canhoneira
Bengali.
Estas tropas foram enviadas com a missão de libertar o colaboracionista
brasileiro Trajano, que representava interesses franceses, e de prender o líder
militar e civil brasileiro Francisco Xavier Veiga Cabral (o Cabralzinho), do
Triunvirato que governava o território contestado em nome de interesses
brasileiros.
Este combate, de graves repercussões internacionais, passou à História como
combate da Vila Amapá.
A Vila Amapá, em realidade Vila do Espírito Santo do Amapá (depois chamada
Montenegro), nasceu na foz do Igarapé do Campo, à margem direita do rio
Amapazinho.
O Igarapé do Campo comunicava-se com o lago Grande do Amapá.
A Vila Amapá era das mais movimentadas, em razão de sua situação geográfica.
Para ela convergiam figuras importantes do Contestado e nela se estabeleceram
brasileiros abastados vindos de Belém e de outros locais, atraídos pela Corrida
do Ouro em pleno apogeu, pois o Contestado, área de 260.000 km2, era cortado por
rios auríferos que produziam anualmente 10 toneladas de ouro.
A disputa entre a França e Portugal e, depois, Brasil e França, pela posse do
atual Amapá, se resumiu da forma abaixo.
Cronologia dos fatos da disputa pelo Amapá, com a França
1494 - 7 de junho - Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha.
1533 - Portugal concedeu autorização para ocupação do atual Amapá.
1544 – Feitas concessões para ocupação do atual Amapá pela Espanha.
1637 - 14 de junho - Bento Maciel Parente recebeu de Felipe IV, de Castela, o
atual Amapá como Capitania hereditária, através de carta de doação. O Amapá era,
então, território da Costa do Cabo do Norte.
1697 - Os franceses tentaram a ocupação militar do Amapá.
1700 - 4 de março. Tratado entre Portugal e França.
1713 - 11 de abril. Tratado de Utrecht, pelo qual os franceses reconheceram como
fronteira do Brasil com a Guiana Francesa o rio Vicente Pinzon ou Oiapoque, sob
a mediação da rainha inglesa Anne.
1723 –1728. O Capitão-General do Grão-Pará e Maranhão, João Maia da Gama, além
de expedições de rotina na costa do Amapá enviou ao atual Amapá 4 expedições
militares comandadas pelos capitães João Pais do Amaral, Francisco de Mello
Palheta, Diogo Pinto Gaya e Francisco Xavier Brotero. Eles reduziram as invasões
da região pelos franceses da Guiana Francesa que, sob o governo de Claude
d’Orvilhers, invadiam o Amapá para capturar e escravizar os índios. Foi aí que o
Capitão Mello Palheta trouxe o café, que foi introduzido no Rio de Janeiro, e
daí para Resende por volta de 1800, de onde se espalhou por todo o Brasil. Por
oportuno, vale lembrar que foi da Guiana Francesa que veio o nosso abacateiro, a
palmeira imperial e a cana caiana (cana de Caiena), responsável, por 250 anos,
por nossa produção de açúcar e aguardente.
1738 – Foi fundada Macapá, onde foi colocado um destacamento militar.
1748 - A região do atual Amapá foi denominada, por D. João, de Província dos
Tucujus, ou Tucujulândia. O nome visava a planejamentos militares para a defesa
da área e ao controle dos índios que habitavam a região, para usá-los como mão
de obra, e dos soldados, para combater invasões de estrangeiros.
1751 – O Capitão-General do Grão-Pará Mendonça Furtado enviou expedição a
Macapá, ao comando do Sargento-Maior João Batista do Livramento, levando
soldados e colonos açorianos, que foram recebidos pelo comandante da praça,
Manoel Pereira de Abreu, que estava em conflito com o padre Miguel Ângelo, pois
este não era atendido em seus pedidos, inclusive alimentação.
1752 – O Capitão-General Mendonça Furtado chegou a Macapá levando o único
médico, que clinicou, com remédios levados por si, colonos e militares atingidos
por uma epidemia de cólera, controlando-a.
1758 – Em 7 de março o Capitão-General Mendonça Furtado retornou ao Amapá com
numerosa comitiva para elevar Macapá a vila, criou a Câmara e empossou os
vereadores. Macapá passou, em 4 de fevereiro, à condição de Vila de São José de
Macapá.
1764 - 29 de janeiro –Teve início a repotencialização da poderosa Fortaleza de
Macapá, que dominava o principal canal de acesso á bacia Amazônica.
1770 – Formação do núcleo colonial de 340 famílias vindas de Mazagão, no
Marrocos, África. O núcleo fixou-se no Amapá, em Nova Mazagão, às margens do
Mutuacá. Para comandar a fortaleza em construção e a região, veio de Mazagão
Lobo d’Almada.
1782 - 10 de março - conclusão da repotencialização da poderosa Fortaleza de
Macapá.
1797 - 10 de agosto - Tratado ente Portugal e França.1809- 12 de janeiro -
Assinatura da ata de capitulação da Guiana Francesa às forças militares
luso-brasileiras enviadas do Pará.
1817 - 17 de novembro - Início da desocupação da Guiana Francesa pelos
luso-brasileiros.
1853 – Butenval, jurisconsulto francês, insistia na tese de considerar o rio
Vicente Pinzon como sendo o Araguari e não o Oiapoque.
1853 - 1 de julho - O senador Cândido Mendes de Almeida apresentou projeto de
criação da Província do Oiapoque.
1856 – Macapá é elevada à categoria de cidade.
1859 - As populações de Macapá e Mazagão fazem memorial ao parlamento pedindo
criação da província.
1870 - As populações de Macapá e Mazagão repetem o memorial.
1885 - O romancista Júlio Gross, membro da Sociedade de Geografia da França,
tentou criar a República do Cunani.
1889 - Mazagão é elevada à categoria de cidade.
1893 –Corrida do Ouro no Amapá, com a descoberta de ouro pelos irmãos Germano e
Firmino Ribeiro, garimpeiros brasileiros, na bacia do rio Calçoene, que foi
invadida por aventureiros de todas as nacionalidades, gerando violência,
problemas de saúde e criando um clima de revolta na área. Face à descoberta do
ouro, o governador da Guiana Francesa ali colocou como seu delegado Eugene
Voissin, que passou a fiscalizar o Contestado e desviar seu ouro para a Guiana,
cobrando altos impostos e protegendo os mineradores franceses, em detrimento dos
luso-brasileiros gerando, de 1893 até Nov94, um clima de intranqüilidade que
resultaria numa revolta liderada por Cabralzinho e na invasão militar francesa,
derrotada por Cabralzinho, que foi consagrado Herói do Amapá e general honorário
do Exército Brasileiro.
1895 - 15 de maio - ataque francês ao Amapá, comandado pelo Cap Lunier, que foi
morto por Cabralzinho. Combate que será abordado adiante.
1900 - 1 de dezembro - O Presidente da Confederação Suíça, Walter Hauser,
Presidente da Comissão de Arbitramento, reconhece o direto do Brasil ao
Contestado (o atual Amapá), sendo advogado do Brasil o Barão do Rio Branco, em
razão de Rui Barbosa haver hesitado em assumir a defesa.
1901 - Decreto nº 938, de 21 de janeiro de 1901, incorporou o Amapá ao Estado do
Pará.
A origem do Contestado entre os rios Araguari e/ou Oiapoque
Em 1841, os franceses mais uma vez contestaram a posse brasileira do território
entre os rios Araguari e Oiapoque, até que decorreu esta região ser tornada
neutra ou contestada.
Vale lembrar que o Brasil havia saído do período regencial marcado pela Revolta
dos Cabanos no Pará, Revolta dos Balaios no Maranhão, Sabinada na Bahia e pela
Farroupilha no Rio Grande do Sul, que ainda prosseguia.
Portanto, período favorável para os franceses pressionarem, e os brasileiros
procurarem ganhar tempo.
Em 1881, moradores do Contestado, sob a liderança de Júlio Gross fundaram ali a
República do Cunani, abrangendo território rico em ouro. “República” que
avançava até Roraima atual.
A Vila Amapá era uma espécie de capital do Contestado, onde a febre do ouro
ensandeceu seus moradores e acirrou a disputa França x Brasil por sua posse.
Aos poucos o Contestado se afrancesou, e o acesso às minas de ouro passou a ser
negado aos brasileiros. Os interesses franceses eram representados por Eugene
Voissen.
A revolta do Contestado sob a liderança de Veiga Cabral (Cabralzinho)
Em 10 de dezembro de 1894, quando o Brasil estava envolvido pela Guerra Civil na
Região Sul e pela Revolta na Armada, 1893-95, os brasileiros do Contestado se
revoltaram sob a liderança de Francisco Xavier Veiga Cabral.
Depuseram Eugene Voissen e o substituíram por um Triunvirato, constituído por
Francisco Xavier da Veiga Cabral (o Cabralzinho), Desidério Antônio Coelho e o
Cônego Domingos Maltêz.
O Triunvirato enfeixou poderes administrativos, financeiros e militares e teve,
como encargo, organizar a chefia militar da região, organizando mais tarde o
Exército do Amapá. Passou a adotar a Constituição do Pará.
O governador da Guiana Francesa nomeou então, como seu representante, o capitão
Trajano, um negro humilde e aliado dos franceses, ou um colaboracionista, para
os brasileiros, que teria passado a fazer o jogo dos franceses e a perseguir
brasileiros.
Trajano passou a exercer sua missão de representante de interesses franceses no
Cunani, onde tentou refazer a situação anterior ao Triunvirato, afrontando-o.
Trajano foi convidado pelo Triunvirato para ir até a Vila Amapá, sendo
encarregado da missão o Major Félix Antônio de Souza, que tentou em vão
demovê-lo de seus atos contra brasileiros como ele.
Aí os ânimos se exaltaram, pois estava em jogo o futuro do Contestado. Houve
revolta contra Trajano, por ser um brasileiro que se pôs a serviço da causa
estrangeira.
Trajano foi preso e castigado fisicamente e levado para a Vila Amapá. E esta
notícia se espalhou entre os franceses de Caiena da seguinte forma:
“Trajano, o representante de M. Charvein, e delegado do Governo de Caiena e
portanto do Governo Francês,fora seviciado e preso na Vila Amapá.”
E a reação de Caiena não se fez esperar.
A reação militar de Caiena contra a revolta liderada por Veiga Cabral
Foi organizada em Caiena uma expedição militar com a canhoneira
Bengali, transportando Infantaria da Marinha da França com a missão de libertar
Trajano e prender seus raptores, (leia-se Cabralzinho).
A expedição teria por chefe o comandante Audibert, da canhoneira Bengali.
A expedição “não deveria utilizar a força, senão em caso de absoluta necessidade
e não empregá-la nunca em face de tropas do Exército Brasileiro”.
A Infantaria da Marinha da França era constituída de um Destacamento de 60
homens, divididos em duas secções, cada uma com 30 homens. O comandante do
Destacamento era o Capitão Lunier e seu imediato o tenente Destouf. Cada soldado
levava 120 cartuchos de fuzil, deixando 80 em reserva na canhoneira Bengali.
A criação do Exército Defensor do Amapá
No curso da disputa pela posse do domínio do Contestado, o Triunvirato criou o
Exército Defensor do Amapá, sem nenhuma ligação com o Exército Brasileiro, então
voltado para combater a Guerra Civil no Sul, 1893-95 e a Revolta na Armada,
1893-94.
O Exército do Amapá foi criado em 27 de dezembro de 1894 pelo Triunvirato do
Amapá nos seguintes termos:
“O Triunvirato do Amapá, eleito pelo povo, decreta o seguinte:
1º - Fica criado o Exército de Infantaria, defensor do Amapá, composto de 4
batalhões com 4 companhias cada.
2º - É nomeado General Comandante Geral do Exército, o Sr. Francisco Xavier da
Veiga Cabral.
3º - São nomeados oficiais (seguia-se a relação de todos)”.
Os oficiais foram diplomados. O 1º Batalhão era comandado pelo Coronel Antônio
C. Vasconcellos e tinha por Estado-Maior o Tenente-Coronel Bernardo Batista da
Silva, Major fiscal Raimundo Marcelino do Amaral, Capitão Ajudante Antônio de
Carvalho, Alferes Quartel Mestre (intendente) Lucas Evangelista Pinheiro,
Alferes Secretário Elizeu Leite.
Comandavam suas companhias os capitães Manoel do Nascimento Cardoso, Pedro de
Alcântara de Macedo Lima, João Gualberto da Costa e Estevão Antônio Alves.
O 2º Batalhão era comandado pelo Coronel Joaquim Felix Belfort e suas companhias
eram comandadas pelos capitães Tertuliano Belfort, João Augusto da Silva, Felix
Lopes de Sá e Pedro Henrique de Noronha Filho.
O 3º Batalhão ficou sob a direta orientação do Coronel Antônio Veiga, e suas
companhias sob o comando dos capitães Cândido de Souza Teles, Manoel Roriz de
Oliveira, Damázio Pedro de Minimeia e João Florêncio Lameira.
O 4º Batalhão era comandado pelo Coronel Antônio Pinto de Almeida, e suas
companhias ao comando dos capitães Bento de Azevedo, João de Azevedo, Idelfino
de Oliveira Tavares e Agildo de Araújo Maltês.
Levantaram-se recursos com comerciantes e proprietários no Contestado e foram
concedidos títulos de generais protetores do Exército do Amapá a personalidades
eminentes do Amapá e Pará, entre eles o Dr. José Paes de Carvalho, Governador do
Pará e Antônio José Lemos, Prefeito do Pará.
Decorridos cerca de três meses da criação do Exército Protetor do Amapá,
chegaram ao Triunvirato numerosasqueixas contra Trajano, Delegado do Governo de
Caiena. Entre elas esta queixa:
Queixas de brasileiros contra o brasileiro Trajano, a serviço de Caiena
“Senhores presidentes e membros do Triunvirato Amapaense.
O povo brasileiro residente em Cunani leva ao conhecimento de V. Exªs. que o
ex-capitão Trajano tem continuado aqui a hastear a bandeira francesa, depois de
ter por várias vezes rasgado e pisado o nosso pavilhão e com impropérios tem
sempre o insultado e à nossa cara Pátria Brasileira.
Trajano, Exmºs senhores, é brasileiro e essa razão mais influi para o seu grande
crime.
Trajano tem metido a ferros e troncos cidadãos sem culpas nem crimes, cidadãos
que aqui têm vindo por passeio, e como não lhe deixam as somas que exigia,
sofriam tudo de martírio que Trajano e seus companheiros entendiam.
Pedimos a V. Exªs a deportação desses indivíduos de nosso torrão, porque aqui só
servem de estorvos ao progresso do brasileiro”.
Ainda em 25 de abril de 1895, o Triunvirato escreveu ao Conselho Municipal de
Cunani:
“Este governo (Triunvirato), atendendo às queixas que tem recebido do infame
procedimento que aí tem tido o degenerado brasileiro Trajano e seus comparsas,
de desrespeito a nossa cara pátria, tendo tido o arrojo de rasgar e pisotear o
pavilhão brasileiro e também perseguindo os nossos bons patrícios e patriotas
que não se tem quando se sujeitar aos procedimentos como os ditos.
Atendendo que o fim de nosso governo (Triunvirato) é especialmente tratar do
progresso do nosso território e, mais, acabar de uma vez para sempre com os
abusos praticados por brasileiros.
Resolve este Governo expulsar deste território o infame e mísero brasileiro
Trajano e seus companheiros de igual procedimento.
Vão daqui encarregados deste governo a capturar o indivíduo Trajano e mais
culpados, o dr. Major Felix Antônio de Souza, que tem como seus auxiliares o Cap
Luis Borralho Bentes, Ten Sabino Leite e outros patriotas, que cumprirão as
ordens dos encarregados desta diligência.
Recomendamo-vos todo o vosso auxílio para o mais breve possível serem capturados
os criminosos a nos serem apresentados aqui para terem o destino que merecem.
Cumpram e façam cumprir sob pena de desobediência a este Governo.
Cidade do Amapá, 25 de abril de 1855.
Assinam Veiga Cabral e Antônio Gomes Lopes Pereira”
A missão da tropa da Marinha Francesa contra Cabralzinho
E a reação de Caiena assim foi feita:
O comandante Audibert, da canhoneira Bengali e comandante das operações recebeu
a seguinte missão:
“Atingir a Vila do Amapá para retirar o capitão Trajano, que se acha prisioneiro
e também o chamado Cabral, seu raptor. E no caso de nem Cabral nem Trajano se
encontrarem na Vila, prender o número de reféns que julgar necessário”.
E prosseguem as instruções para a operação francesa, que Sílvio Meira reproduziu
com detalhes em seu Fronteiras Setentrionais -3 séculos de lutas no Amapá (São
Paulo, SUP, 1989). Conhecedor da ameaça de ataque, Cabralzinho mandou cortar as
árvores onde os franceses previamente, como preparativos para o ataque, haviam
marcado o nível da maré.
E o ambiente na vila Amapá foi de agitação e intranqüilidade. Mas Cabralzinho,
comandante do Exército Amapaense, incentivou a todos que o respeitavam e
admiravam. O contrabando de ouro, cacau e café para a Guiana era intenso.
O combate, seguido de massacre, de Vila Amapá, em 15 de maio de 1895
Há 107 anos, depois de o Brasil enfrentar na Região Sul e Sudeste as
desgastantes Guerra Civil de 1893-95 e a Revolta na Armada de 1893/94 ocorreu
este fato expressivo, atentatório à soberania brasileira na Amazônia, mas pouco
conhecido episódio da História Militar Terrestre do Brasil.
Foi o do combate, seguido de massacre, da Vila Amapá, travado entre forças
brasileiras, sob comando do intrépido e legendário General do Exército do Amapá,
Francisco Xavier de Veiga Cabral (o Cabralzinho), e uma Companhia de Infantaria
da Marinha francesa, sob o comando do Capitão Lunier, mandada pelo Governador da
Guiana para libertar um colaboracionista brasileiro de nome Trajano.
Esse evento foi relatado competentemente, com todas as minúcias e
circunstâncias, com apoio em fontes brasileiras e francesas, pelo historiador
Sílvio Meira na obra Fronteiras Setentrionais- 3 séculos de lutas no Amapá, já
citada, na qual o autor prestou grande contribuição à História Militar Terrestre
do Brasil.
O combate foi travado num contexto interno adverso ao Brasil, no qual a França
insistia, contrariando o art.107 do Tratado de Viena de 1815, em confundir nosso
extremo Norte no Araguari e não no Oiapoque, o que seria definido em função do
episódio em foco e a ação de Rio Branco, em Berna, em 1º de dezembro de 1900.
A tropa francesa aportou na Vila Amapá, a bordo da canhoneira Bengali.
Desembarcou e tomou posições de combate.
Seu comandante, o Capitão Lunier, à frente de 20 homens, dirigiu-se à casa de
Cabralzinho, que saiu altivo ao seu encontro.
Lunier perguntou-lhe três vezes se ele era o Governador do Amapá.
Cabralzinho respondeu - sim!
Então, Lunier deu-lhe voz de prisão e Cabralzinho respondeu-lhe determinado: “Um
brasileiro não se rende a bandidos“!
Lunier então ordenou a sua tropa que fizesse fogo sobre Cabralzinho que então se
jogou ao chão e os tiros passaram por sobre sua cabeça.
Lunier sacou seu revólver para alvejar Cabralzinho e este com extrema rapidez e
agilidade, deu uma rasteira em Lunier e o desarmou.
E nova rajada da tropa não o atingiu. E, ato contínuo, alvejou à bala o Capitão
Lunier e a seguir um tenente e um sargento que lhe foram em socorro. Matou os
três, deixando a tropa francesa acéfala.
Seguiu-se cerrado e demorado tiroteio entre soldados franceses e brasileiros,
que só terminou com a retirada dos franceses. Aí surgiu mais uma tropa de
franceses, ao comando do Tenente Jean Destoup. Teve lugar o combate contra os
brasileiros, tocaiados nas casas e matas, o que prosseguiu até às 14 horas.
Neste espaço, Cabralzinho defrontou-se num corpo a corpo com o porta-bandeira D’
Escrienne. E terminou levando a melhor, ferindo-o à bala na cabeça e
arrebatando-lhe a bandeira francesa, o seu revólver e a sua espada.
Pouco mais tarde, matou em duelo à bala dois marinheiros franceses. Um deles
assassinara a menina Joana, de 12 anos, e o outro matara o prático do porto.
Sob pressão, a força brasileira retraiu para a mata. O porta-bandeira,
parcialmente recuperado, incitou a tropa francesa ao saque, ao massacre e à
destruição do mastro e da bandeira brasileira.
Do massacre, resultou a morte de 38 brasileiros, ferimentos em 22, tendo sido
feitos dois prisioneiros.
A tropa francesa pagou o pesado tributo de retornar à Guiana derrotada, sem
bandeira, com seis mortos e 22 feridos e com o peso na consciência de ter de
explicar o covarde massacre e saque da Vila Amapá.
O intrépido Cabralzinho teve melhor sorte que o Tenente Antônio João em
Dourados, em 1865.
Governava o Pará, de 1891 a 1987, o Coronel Lauro Sodré, abolicionista,
republicano histórico, constituinte de 1891, senador de 1897 a 1917 e novamente
governador do Pará de 1917 a 1930.
Era pai do Almirante Benjamin Sodré, que comandou o V Distrito Naval em
Florianópolis, de 1949 a 1951 e que biografou seu pai na obra Lauro Sodré –vida,
caracter e sentimento a serviço de um povo.Rio de Janeiro, s/d.
Ao Cel Lauro Sodré, Cabralzinho enviou o relatório do ocorrido, o armamento e o
fardamento deixados pelos franceses quando da retirada de vila Amapá.
Foi imprudente o governador de Caiena ao despachar um navio de guerra, com tropa
de Infantaria de Marinha, sem ordem do governo francês; e também foi imprudente
o Capitão Lunier, ao cumprir ordem do governador de Caiena, que lhe custou a
vida e que provocou tantas e negativas repercussões internacionais.
Lições colhidas pelos franceses deste triste e lamentável episódio
O historiador Sílvio Meira, oficial da Reserva, por haver cursado o CPOR em
Belém, apontou as seguintes lições, colhidas do episódio, com as quais
concordamos:
“A guerra na selva não se ganha com o aparato de tropas de elite;
Na selva, homens bravos, destemidos e rústicos, conhecedores de seus segredos,
podem enfrentar tropas bem equipadas, armadas e treinadas, mas sem experiência
em guerra na selva.
As forças morais (coragem, razão moral, destemor, fé na causa) constituem armas
poderosas de difícil sujeição.
A defesa do lar ameaçado pelo invasor, por mais aguerrido que este seja,
constitui motivação para rechaçar qualquer ataque”.
Os franceses revelaram inexperiência em combate na selva e não deviam ter
invadido e massacrado civis em um território que era contestado.
Na análise do massacre da vila Amapá, vale este alerta do historiador citado,
hoje muito atual:
“Estes exemplos históricos, esquecidos muitas vezes por entidades que tinham por
dever revelá-los à juventude brasileira, devem sempre ser lembrados”.
O General do Exército do Amapá – Cabralzinho
Francisco Xavier da Veiga Cabral nasceu em 5 de maio de 1861, no Pará (em Cametá
ou Belém?).
Com 30 anos viajou para os Estados Unidos, talvez em conseqüência de haver sido
líder da Revolta do Corpo Policial em Belém, na madrugada de 11 de junho de
1891. Assunto a seguir abordado em A Revolta. Foi definido por um francês que
residiu defronte à sua casa em Belém “como um homem ativo, enérgico, bom para
tudo e pronto para qualquer missão”.
Foi subchefe de Polícia, depois jornalista e revolucionário.
Ele liderou, na madrugada de 11 de junho de 1891, uma revolta que o Diário
Oficial do Pará de 13 de junho de 1891 aborda em detalhes, sob o título A
Revolta, que é transcrita a seguir:
“A Revolta”
(Transcrita pelo Cel Jorge Diehl do Diário Oficial do Pará, Belém, sábado 13
junho 1891, a pedido da Academia de História Militar Terrestre do Brasil,
através do acadêmico Cel Manoel Soriano Filho e adaptado à linguagem atual pelo
autor).
Muito lamentáveis são os acontecimentos que se têm passado nesta capital
(Belém), nestes últimos dias, levando o terror e o pânico ao seio das famílias.
À 1 hora, mais ou menos, da madrugada de 11 de junho, um bando de revoltosos,
capitaneados por Francisco Xavier da Veiga Cabral (Cabralzinho), tendo de
antemão entrado em conluio com sargentos e praças do Corpo de Polícia,
apoderou-se do quartel assenhorando-se de armamentos e munições. Depois saíram
acompanhados por grande número de praças e seguiram em direção à casa do Dr.
Vicente Miranda, em frente da qual estiveram parados e daí dirigiram-se para a
chácara Conceição, de propriedade do mesmo Dr. Vicente Miranda, no Cacoalinho,
onde se entrincheiraram.
O Governo, como lhe cumpria, tomou todas as providências a fim de defender a
cidade, salvaguardar as famílias e garantir o comércio e os cidadãos pacíficos.
Organizada a defesa, o Esquadrão de Cavalaria (Policial) devidamente municiado,
foi reconhecer o lugar onde se achavam os revoltosos, seguindo depois para o
mesmo local o 15º Batalhão de Infantaria, uma bateria do 4º Batalhão de
Artilharia, marinheiros nacionais conduzindo metralhadoras, um contingente de
bombeiros, Esquadrão de Cavalaria de Polícia ficando toda esta força sob o
comando do bravo Tenente Coronel Savaget. A canhoneira Guarany atacou os
revoltosos pelo lado do rio Guamá.
Depois de breve resistência foram debandados, entranhando-se nas matas, onde
foram perseguidos pela força legal.
Ao cair da noite, a tropa recolheu-se aos quartéis, vitoriando (dando vivas),
com entusiasmo, ao Governo, e sendo recebida pelo povo que, reconhecido a esses
bravos e leais militares, os aclamaram em delírio.
A noite passou-se sem maior incidente. Pela manhã de ontem, o Esquadrão de
Cavalaria, continuou na perseguição dos rebeldes, apoderando-se de grande número
de espingardas e munições, entranhando-se eles ainda mais para o centro das
matas, já dispersos, e em diversas direções. Acha-se, hoje, pois, a
tranqüilidade pública restabelecida, graças à energia do ilustre governador Dr.
Huet Bacellar Pinto Guedes, e à lealdade, heroísmo e dedicação da força de terra
e mar.
Desde que a revolta foi conhecida na cidade, provocada por homens insensatos
que, sem motivo e sem causa, levantaram o pendão da anarquia, o povo se colocou
ao lado do governo, pronto para a defesa da ordem. A alfândega, as companhias de
comércio puseram o seu pessoal à disposição do governo.
À frente das forças reunidas achavam-se os distintos militares: Capitão de Mar e
Guerra Bernardinho José de Queiroz, inspetor do Arsenal de Marinha; General
Bento Fernandes Júnior, Comandante das Armas e o General José de Magalhães,
Inspetor dos Corpos de Milícia do Estado, que se houveram com a prudência e
coragem características dos bravos.
O Arsenal de Guerra achava-se sob a guarda de seu ilustre diretor, Major
Vasconcellos de Drumond, que determinou a defesa do estabelecimento militar sob
sua direção, dando, por seu exemplo, coragem aos seus comandados, enérgicos e
distintos oficiais, que mostraram que são dignos sucessores desses bravos e
heróicos brasileiros, que em igual dia cobriram-se de louros na gloriosa batalha
do Riachuelo.
Mostraram, mais uma vez, que quando a pátria precisa de seus serviços, os
prestam com heroísmo inexcedível.
Os batalhões de linha (do Exército) 15º de Infantaria e 4º de Artilharia, são
dignos dos maiores elogios.
Logo que tiveram conhecimento da revolta e traição vergonhosa do Corpo de
Polícia, prepararam-se para a luta e bateram-se como bravos na perseguição dos
inimigos da pátria.
O soldado brasileiro, que proclamou a República no Brasil, tem o dever de
sustentá-la e manter a ordem.
O 15º de Infantaria e o 4º de Artilharia deram um brilhante exemplo de
disciplina, de lealdade, de patriotismo colocando-se ao lado da legalidade, ao
lado do povo – Bravos! (louvor) a esses valentes e a seus distintos oficiais.
O Esquadrão de Cavalaria (de Polícia) e o Corpo de Bombeiros portaram-se com
denodo inexcedíveis. Foram infatigáveis no desempenho da árdua missão confiada
ao seu patriotismo.
A disciplina que reina nesses corpos, devida a boa organização dada pelos seus
distintos comandantes e oficiais, que são dignos de todo louvor, pelo modo
brilhante que se houveram, nos acontecimentos do dia 11.
Que contraste enorme entre esses leais militares, e a traição sem qualificação
possível do Corpo de Polícia!
Esse Corpo tornou-se indigno de continuar a ombrear com soldados valentes,
leais, patriotas, como mostraram ser - a Marinha, o 15º de Infantaria e 4º de
Artilharia, o Esquadrão de Cavalaria e o Corpo de Bombeiros. Honra ao povo
paraense, à força; ao enérgico, prudente e bravo governador do Estado".
O Governador era o Tenente de Marinha Duarte Huet de Bacellar Guedes, que
sucedera o primeiro governador do Pará na República, Dr. Justo Leite Chermont,
que foi convocado para ser o Ministro do Exterior. O Tenente Duarte governou o
Pará por cerca de ano e meio. Seu Governo promulgou a Constituição do Pará, em
11 Jun 1891, justo no dia da revolta liderada por Cabralzinho. Em 24 de junho,
decorridos 13 dias da Revolta, o Major Lauro Sodré foi eleito o primeiro
presidente constitucional do Pará, cargo que exerceu por cerca de 5 anos e meio.
Em 3 de novembro de 1891, Lauro Sodré foi o único governador do Brasil a não
apoiar o Marechal Deodoro da Fonseca na dissolução do Congresso e adoção do
Estado de Sítio.
E, pelo visto, contaria com o apoio de Cabralzinho, líder da Revolta de
11Jun1891 na conquista do Contestado no Amapá, conforme Sílvio Meira, o qual
mencionou, que aquele, que expusera Belém, naquela data, ao perigo de sua
revolta, por volta de 1894:
“Era visto em relação constante com altos funcionários, auxiliares imediatos do
Governador (Lauro Sodré), sob os próprios olhos deste Chefe deste Estado!
Ele vai e vem com toda a segurança do Pará ao território Contestado, recruta e
organiza bandos, arma-os com fuzis de guerra, e ninguém protesta na cidade
vítima de sua revolta?...
E não se é levado a pensar que Cabral recebeu mandato (de Lauro Sodré) para
cumprir qualquer missão secreta, da qual só ele poderia encarregar-se, porquanto
era mais capaz do que qualquer outro para a levar a bom fim”.
Cabralzinho faleceu em Belém, em 18 de maio de 1905, às 5h 30 da manhã, com 44
anos. É impositivo que no Pará e no Amapá se pesquise mais a vida de
Cabralzinho, conquistador do Amapá em 1895.
Em 15 de março de 1895, o governador da Guiana Francesa, responsabilizado pelo
massacre, foi afastado do cargo.
Cabralzinho foi reconhecido pelo Governo Brasileiro como herói nacional e
foi-lhe concedido pelo Presidente da República o título de General Honorário do
Exército Brasileiro.
Tudo indica que a ação de Cabralzinho foi executada com a orientação e o apoio
do governador Cel Lauro Sodré, o que novas fontes poderão, seguramente,
esclarecer, negando ou confirmando esse fato.
Em 1896, Cabralzinho viajou ao Rio de Janeiro para entrevista com o presidente
Prudente de Morais. Por onde passou foi homenageado como herói do Amapá.
Um orador inflamado falou:
“Se é grande o Cabral que nos descobriu, maior é o Cabral que nos defendeu”!
Ele desembarcou do navio Brasil no cais Pharoux, em meio a delírio popular,
tendo merecido esta poesia.
Ao bravo general Veiga Cabral
Rola dos tempos pelo espaço, lento
Um todo imenso que a uma lei se indigna!
Que... no seu gravitar, seguro, atento...
Que o rege, senhor? Quem o domina?
Quem lhe dá força a centelha que fulmina,
Rebramidos do mar, furor ao vento.
Quem ergueu uma vez a mão divina,
Sentado irás ao túmulo elemento?
Esse, para quem é paz a guerra,
Dorme alerta em meio do escarcéu
Esse, que na morte a vida encena.
Quando da morte dissipar-se o véu
Dissipará também sonho da terra
Para por ti levar outro ao céu?
(João Antônio Magalhães. Diário de Notícias. 14Jun1896 – Belém - PA).
O final da grande disputa militar e diplomática pelo Amapá
Em 1897, o governador do Pará, José Paes de Carvalho anexou o Amapá ao Pará,
sendo presidente do Brasil o Dr. Campos Salles.
Esta questão do Amapá teve fim em 1900, por felizes gestões do Barão do Rio
Branco e laudo arbitral favorável do Presidente da Suíça, quando foram
incorporados, em definitivo, 260.000 km2 ao Brasil. E assim teve fim um grande e
prolongado litígio com a França, que custou o derramamento de sangue e a perda
da vida de brasileiros inocentes.
Ao finalizar, a nossa homenagem ao historiador e amigo Sílvio Meira, que tanto
esclareceu a questão, ao pesquisar e publicar sobre esse interessante e pouco
conhecido tema.
Homenagem ao gaúcho de Jaguarão, Joaquim Caetano da Silva, diplomata que foi
Consul - Geral do Brasil nos Países Baixos, autor da obra em 2 Volumes L’Oyapock
et l’Amazone, redigido em francês, e da qual se valeu o Barão do Rio Branco para
defender os interesses do Brasil no Amapá. Essa obra contém poderosos
argumentos, que não deixaram dúvidas sobre os direitos do Brasil sobre a área
contestada entre os rios Araguari e Oiapoque.
A Colônia Militar do Oiapoque
Em 1840 , como já foi referido anteriormente, foi criada, junto ao rio Araguari,
a Colônia D. Pedro II, que foi a 1a criada no Brasil.
E em 1907, ela foi transferida para o rio Oiapoque, com o nome de Colônia
Militar do Oiapoque, em Ponta dos Índios. Mais tarde, foi transferida para Santo
Antônio, defronte à vila francesa de Santo Jorge.
Quando da fundação da Colônia Agrícola de Clevelândia, em 1922, esta Colônia
Militar “possuía poucos soldados que viviam empéssimas condições pelos descuidos
das autoridades da 8ª RM em Belém”, segundo o padre Rogério Alcínio em
Clevelândia do Norte (Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1971), que estudou em detalhes a
questão de Clevelândia e que registrou:
“E foi mesmo a ineficiência desta Colônia Militar de Fronteira no Oiapoque que,
deixando a zona despovoada e à mercê dos estrangeiros, que determinou, junto com
outros motivos, a fundação do Centro Agrícola de Clevelândia”. (Grifo nosso).
Hoje a fronteira no Oiapoque é guarnecida por uma Companhia Especial de
Fronteira do Exército. E próxima a ela foi criada a Reserva Ambiental das
Montanhas de Tumucumaque.
A Colônia Agrícola de Clevelândia, 1921/30
Com o objetivo de povoar, nacionalizar e desfrutar a faixa de fronteira com a
Guiana Francesa, bem como coibir o contrabando e a atração pela França da área
do antigo Contestado França - Brasil, foi criada junto ao rio Oiapoque (o grifo
é nosso) a Colônia Agrícola de Clevelândia ou Centro Agrícola de Clevelândia.
Ela foi inaugurada em 5 Mai 1922. Os primeiros colonos chegaram no final de maio
de 1921 e foram distribuídos ao longo da margem brasileira do rio Oiapoque. Os
primeiros a chegarem para a inauguração foram militares do Destacamento de
Fronteira do Exército.
De julho a agosto de 1923, o Coronel Raimundo Barbosa, comandante da 8ª RM,
visitou Clevelândia e registrou estas impressões:
“De visita a Clevelândia, levo na minha alma de patriota uma impressão
eminentemente consoladora.
É que vejo neste afastado ponto do nosso vasto, formoso e amplo território, que
o progresso incrementa, e a nossa soberania se assegura de modo indelével e o
nosso povo, o heróico povo patriota, se robustece, se instrui e se aperfeiçoa.
Salve os obreiros desta cruzada, iniciada sobre os melhores augúrios e executada
com inteligência, dedicação e patriotismo”.
Mas estas positivas perspectivas sofreram rudes golpes com a escolha de local
para receber presos políticos revolucionários de 1922 e 1924.
A primeira turma, de 250 presos, chegou ao agora também presídio político de
Clevelândia, em 26 de dezembro de 1924, vindos do Rio, a bordo do Cuiabá.
Em 26 de janeiro chegaram 120 presos de Manaus. E logo depois mais 577, dos que
haviam sido aprisionados no combate de Catanduvas, na Revolução de 1924.
O número total de presos políticos e comuns atingiu 1.630, segundo o prisioneiro
paulistano Manoelzinho dos Santos, que ali passou a residir depois de anistiado.
Após a chegada dos presos de Catanduvas, minguou o fluxo migratório para o local
e aumentou o dele para outros locais, inclusive de muitos colonos já
estabelecidos. E isto coincidiu com uma violenta e espantosa epidemia de
disenteria bacilar, que vitimou muitos presos e colonos.
A partir daí entrou em colapso o projeto da Colônia Agrícola de Clevelândia e os
seus objetivos de resguardo da soberania brasileira naquela fronteira.
Em 3 de julho de 1927, o General Rondon enviou de Clevelândia telegrama do
seguinte teor ao senador Miguel Calmon:
“Recebi nesta primeira célebre Colônia Agrícola telegrama com que V. Excia me
honrou. Aqui estou desde 25 de junho de 1927, onde estabeleci meu Quartel
General de Inspeção de Fronteiras. Levo impressão de que tudo está feito, o
clima estável e regular.
Os palúdicos (atacados de impaludismo) existentes foram trazidos dos seringais,
e a população aqui localizada goza saúde. Convém insistir em fixar trabalhadores
nestas fronteiras (o grifo é nosso), para evitar se percam tantos esforços e
dinheiro despendidos.
Sem tenaz persistência não se alcançará a vitória. Afetuosas saudações – General
Cândido Mariano Rondon”.
Com a Revolução de 30 e conseqüente anistia para os presos, a Colônia Agrícola
de Clevelândia fracassou.
Cooperou para este insucesso a criação, por esta época, da Fordlândia, por Henry
Ford, no Vale do Tapajós.
O Parque Nacional das Montanhas de Tumucumaque
Levando em conta os antecedentes históricos que foram abordados sobre nossos
problemas militares com franceses, ingleses e holandeses no passado, no atual
Amapá, a criação ali do Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso é vista na publicação Alerta Científico e
Ambiental como uma ameaça à Soberania do Brasil no Amapá, historicamente
ameaçada pela França, até 1900. Também pela Inglaterra e França, durante a
Revolta da Cabanagem, e por holandeses que invadiam o Amapá, no passado, para
tirarem madeiras, além de, no período da União das Coroas Ibéricas terem
construído fortificações e feitorias no Amapá e no baixo Amazonas.
Segundo o citado Alerta Científico e Ambiental, ano 9, nº 33 de 12/19 Ago 2002:
“O Parque, com 3,8 milhões de hectares, do tamanho da Bélgica, localiza-se na
fronteira com a Guiana Francesa e é lindeiro (limita-se) com reserva indígena de
dois milhões de hectares, que abriga índios Tiriós, Apalaé, Waiana e Kaxuiana,
localizada no Pará, junto a Guiana Holandesa (atual Suriname)”.
E assim, esta fronteira com o Suriname e Guiana Francesa estaria se tornando
terra de ninguém, o que a História nos dirá!!!.
Assim, para estudiosos da Amazônia, como nós, no presente caso, julgamos, salvo
melhor juízo, que a existência de 5,8 milhões de hectares de reservas naturais e
indígenas, junto à fronteira do Brasil, desguarnecida, com o Suriname e com a
Guiana Francesa, com apoio nas lições de História da Amazônia Brasileira, que
aqui resgatamos, constitui séria ameaça, potencial, real e estratégica à
integridade e à soberania brasileira no III Milênio.
O Governo do Amapá, segundo o Alerta Científico e Ambiental, e outras entidades
locais, opuseram-se ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria afirmado:
“Crio o parque assim mesmo, porque tenho a força da persuasão. E se não a tiver,
tenho poder”.
Consta também que comandos das Forças Armadas na Amazônia teriam assessorado o
comandante Supremo das Forças Armadas, no mesmo sentido que o Governo do Amapá,
mas não foram atendidos.
Encaminhamos artigo de nossa autoria sobre restrições feitas por um grupo
ambientalista à criação do Parque Nacional das Montanhas de Tumucumaque, no
Amapá, a diversos estudiosos, no seguinte teor:
“Apreciaríamos saber se procede ou não o temor de perigo para a nossa soberania.
Assunto no qual introduzimos conclusões de estudo que procedemos no Amapá, sobre
a História Militar Terrestre da Amazônia, que estou ultimando. Agradeceríamos
receber apreciações negativas e positivas ou acréscimos à matéria. Abraços. Cel
Bento”.
Recebemos as seguintes considerações de dois acadêmicos com ligações com a
Amazônia:
Do General Raimundo Negrão Torres, nascido em Belém, recebemos o seguinte:
“Meu caro Presidente,
Só agora pude ler seu trabalho sobre as preocupações com o novo Parque. Uma bela
e instrutiva recapitulação sobre a história daquele longínquo rincão de nosso
país.
Tenho minhas dúvidas sobre alguns pontos dos receios apresentados e que, de
resto, são os que ultimamente vêm sendo objeto de grande polêmica.
Diferentemente de muitos, considero que a criação de parques nacionais não
inibiria as Forças Armadas brasileiras de sobre eles exercerem o nosso direito
de legítima defesa da soberania.
Tanto quanto sei, o Ministério da Defesa está dando prioridade a exercícios
combinados e conjuntos na região amazônica como sinal de presença dissuasória e
treinamento militar”.
Do acadêmico Cel Luís Carneiro de Paula, que comandou a unidade de Engenharia de
Construção em Rio Branco, recebemos estas considerações:
“Os parques em si não derrogam leis sobre a faixa de fronteira e projetos como o
Calha Norte. Apenas criam obrigações para o que se fizer em sua área.
Nada teríamos, portanto, que temer. Mas os ambientalistas e indigenistas têm
usado a existência dos parques e áreas indígenas e áreas de preservação para
tentar impedir a ação governamental integradora e de desenvolvimento nessas
áreas.
A maioria está a serviço de ONGs, cujos interesses que representam hoje já estão
bem conhecidos... Precisamos encontrar e motivar algumas lideranças políticas
nacionais, de todos os matizes, para empreendermos uma cruzada, não contra os
parques, etc., mas a favor da ação e presença nacionais em todas essas áreas.
Precisamos executar as últimas fases do processo de integração territorial e
humana da Amazônia, executando o Calha Norte e realizando o projeto da Amazônia
ocidental. Há chances de fazer isso... Vale lembrar que o falecido presidente
Mitterrand da França, em abril de 1998 teria afirmado: “O Brasil devia renunciar
à parcela de sua soberania sobre a região amazônica”.
O citado Alerta Científico e Ambiental mencionou que o Amapá reclama que milhões
de dólares foram doados do exterior para criar parques naturais no Amapá,
enquanto a sua principal rodovia Macapá - Oiapoque não é asfaltada.
Tomara que o Presidente Fernando Henrique Cardoso tenha razão e que não se
esteja repetindo com o parque o cochilo brasileiro na questão do Pirara ou se
colhendo um fracasso como a Colônia Agrícola de Clevelândia. Enfim só nos resta
ficar apreensivos. E lembrar aos patriotas:
“A vigilância é o eterno preço da liberdade!, segundo o Brigadeiro Eduardo
Gomes, patrono da Aeronáutica.
A viúva do citado ex-presidente da França, D. Danielle Mitterrand, defende a
criação da Nação Maia com pedaços do México, Guatemala e Belize e por isto é
persona non grata no México.
D. Danielle esteve no Oiapoque e reuniu-se com lideranças indígenas em Aça,
ondeprometeu denunciar projetos de contestação às reservas indígenas e de
prestigiar a posse do 1º prefeito indígena João Neves, que representou os índios
brasileiros em Paris, no Encontro dos Povos Ameríndios, sendo recebido pelo
presidente da França, Sr. Jaques Chirac e D. Danielle Miterrand.
Aqui parece impositivo um esclarecimento bem transparente da questão, como a que
envolve a cessão da Base de Alcântara, que preocupa patriotas brasileiros, na
possibilidade de ali se estar estabelecendo um local definitivo, como a base
americana de Guantânamo, em Cuba.
Neste projeto, Parque das Montanhas de Tumucumaque, estariam presentes o Banco
Mundial, associado a WWW(Fundo Mundial para a Natureza), presidido
honorariamente pelo Príncipe Philip da Inglaterra, que articulou a idéia do
Parque.
Mais tarde, em 1998, juntaram-se a esta parceria mais a Forest Alliance, e no
Brasil, a ARPA (Áreas protegidas da Amazônia), com duração de quatro anos, a
criação de 18 milhões de hectares em novas unidades de conservação na Amazônia
Legal e de um fundo de financiamento para o custeio de áreas protegidas. Fundo
esse que teria como fonte 30 milhões de dólares doados pelo GEF (Fundo do Banco
Mundial).
Quando concluíamos este trabalho, a imprensa noticiava encontro da ministra
brasileira do meio Ambiente com autoridade francesa relacionada com o assunto.
Fica no ar a pergunta: o que ficou decidido?!
Decretos 4.411 e 4.412 de 07Out2002, para proteção das reservas indígenas e
ambientais
Consultado o Ministério da Defesa Institucional sobre medidas de segurança
adotadas para reservas indígenas e ambientais de conservação, recebemos cópias
dos decretos a seguir, do final de 2.002:
DECRETO Nº 4.411, DE 7 DE OUTUBRO DE 2002
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,
inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 11 da Lei no
9.985, de 18 de julho de 2000, no art. 15 da Lei Complementar no 97, de 9 de
junho de 1999, no art. 1o da Lei no 6.634, de 2 de maio de 1979, e nos arts. 142
e 144, § 1o, inciso III, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1o No exercício das atribuições constitucionais e legais das Forças Armadas
e da Polícia Federal nas unidades de conservação, estão compreendidas:
I - a liberdade de trânsito e acesso, por via aquática, aérea ou terrestre, de
militares e policiais para a realização de deslocamentos, estacionamentos,
patrulhamentos, policiamento e demais operações ou atividades relacionadas à
segurança e integridade do território nacional, à garantia da lei e da ordem e à
segurança pública;
II - a instalação e manutenção de unidades militares e policiais, de
equipamentos para fiscalização e apoio à navegação aérea e marítima, bem como
das vias de acesso e demais medidas de infra-estrutura e logística necessárias,
compatibilizadas, quando fora da faixa de fronteira, com o Plano de Manejo da
Unidade; e
III - a implantação de programas e projetos de controle, ocupação e proteção da
fronteira.
§ 1°. No caso de o plano de manejo da unidade não estar concluído, as atividades
previstas no inciso II, quando fora da faixa de fronteira, deverão ser
compatíveis com as diretrizes de implantação da unidade de conservação.
§ 2°. O órgão responsável pela administração da unidade de conservação será
comunicado das atividades a serem desenvolvidas na unidade, sempre que possível.
Art. 2° O Ministério da Defesa participará da elaboração, da análise e das
atualizações do plano de manejo das unidades de conservação localizadas na faixa
de fronteira.
Parágrafo único. Os planos de manejo e respectivas atualizações, referidos no
caput, serão submetidos à anuência prévia do Conselho de Defesa Nacional, por
meio de sua Secretaria-Executiva.
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 7 de outubro de 2002; 181o da Independência e 114o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Geraldo Magela da Cruz Quintão, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, José Carlos
Carvalho e Alberto Mendes Cardoso
DECRETO Nº 4.412, DE 7 DE OUTUBRO DE 2002.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,
inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 6.001, de 19
de dezembro de 1973, no art. 15 da Lei Complementar no 97, de 9 de junho de
1999, e nos arts. 142 e 144, § 1o, inciso III, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1o No exercício das atribuições constitucionais e legais das Forças Armadas
e da Polícia Federal nas terras tradicionalmente ocupadas por indígenas estão
compreendidas:
I - a liberdade de trânsito e acesso, por via aquática, aérea ou terrestre, de
militares e policiais para a realização de deslocamentos, estacionamentos,
patrulhamento, policiamento e demais operações ou atividades relacionadas à
segurança e integridade do território nacional, à garantia da lei e da ordem e à
segurança pública;
II - a instalação e manutenção de unidades militares e policiais, de
equipamentos para fiscalização e apoio à navegação aérea e marítima, bem como
das vias de acesso e demais medidas de infra-estrutura e logística necessárias;
III - a implantação de programas e projetos de controle e proteção da fronteira.
Art. 2° As Forças Armadas, por meio do Ministério da Defesa, e a Polícia
Federal, por meio do Ministério da Justiça, deverão encaminhar previamente à
Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa Nacional plano de trabalho relativo à
instalação de unidades militares e policiais, referidas no inciso II do art 1°,
com as especificações seguintes:
I - localização;
II - justificativa;
III - construções, com indicação da área a ser edificada;
IV - período, em se tratando de instalações temporárias;
V - contingente ou efetivo.
Parágrafo único. A Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa Nacional poderá
solicitar manifestação da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, acerca de
eventuais impactos em relação às comunidades indígenas das localidades objeto
das instalações militares ou policiais.
Art. 3° As Forças Armadas e a Polícia Federal, quando da atuação em terras
ocupadas por indígenas, adotarão, nos limites de suas competências e sem
prejuízo das atribuições referidas no caput do art. 1°, medidas de proteção da
vida e do patrimônio do índio e de sua comunidade, de respeito aos usos,
costumes e tradições indígenas e de superação de eventuais situações de conflito
ou tensão envolvendo índios ou grupos indígenas.
Art. 4o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 7 de outubro de 2002; 181o da Independência e 114o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Geraldo Magela da Cruz Quintão, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro e Alberto Mendes
Cardoso.(Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.10.2002)
23 - A CAMPANHA MILITAR DO ACRE, 1900-1903
Plácido de Castro foi um jovem gaúcho, líder militar nato, que o destino
caprichoso impeliu para o Acre, para um grande encontro com nossa História, ao
prestar serviço, sem igual neste século, à defesa e preservação da Integridade,
Soberania e Unidade brasileiras
Liderando bravos nortistas, desbravadores e povoadores da região, proclamou o
Acre Estado Independente, em 6 de agosto de 1902, em Xapuri.
Consolidou-o pelas armas, em duros combates, em 171 dias de campanha. Libertou a
região de séria ameaça potencial representada por poderosos grupos econômicos
internacionais, interessados em dominar, inclusive com apoio militar, fontes de
produção de borracha na Amazônia.
Evocamos sua vida e obra, apontando-as como exemplo e inspiração a brasileiros
de hoje, que velam pela Soberania e Integridade do Brasil na Amazônia, ou que
participam da grande cruzada patriótica de integrá-la e desenvolvê-la de forma
sustentável.
Da ação militar e política desse herói, combinada com a diplomática do grande
patriota Barão do Rio Branco, resultou a incorporação ao Brasil, pelo Tratado de
Petrópolis, de 17 de novembro de 1903, do atual Estado do Acre, comprado à
Bolívia.
Descendente de guerreiros
Plácido de Castro nasceu em São Gabriel, Rio Grande do Sul, em 8 de dezembro de
1872. Era filho, sobrinho, neto e bisneto de militares que lutaram de 1801 a 70,
em defesa da Soberania e Integridade do Brasil, em nossa Fronteira Sul – A
fronteira do Vai e Vem.
A casa de seu pai tornou-se ponto de encontro de veteranos da Guerra do
Paraguai. Nela, o assunto principal era a recordação de lances militares deste
conflito.
A mente infantil de Plácido foi povoada pelos feitos guerreiros de seus
antepassados, durante seis campanhas contra os espanhóis e seus descendentes.
Adolescência difícil
Com 9 anos começou a trabalhar. Com 12 anos perdeu o pai e passou a sustentar a
mãe e seis irmãos menores. À procura de maior salário, trabalhou em Bagé e São
Francisco de Paula até atingir idade para realizar seu sonho, ingressar no
Exército.
Soldado do Regimento Mallet
No mês seguinte à Proclamação da República, com 16 anos e 4 dias, ingressou no
Exército como soldado.
Escolheu, em São Gabriel, a unidade de maior tradição guerreira, o legendário
1ºRegimento de Artilharia de Campanha, o atual Regimento Mallet, de Santa Maria.
Esta unidade escrevera páginas imortais de glória militar nas guerras contra
Oribe e Rosas (1851-52) e na do Paraguai (1864-70).
Após seis meses, Plácido era cadete.
Cadete em Rio Pardo e Porto Alegre, e carreira frustrada
No segundo semestre de 1890, ingressou na Escola Tática e de Tiro do Rio Pardo,
onde, após dois anos e meio, já era 2º sargento.
Em 1893, passou a freqüentar a Escola Militar de Porto Alegre, último degrau
para tornar-se oficial do Exército.
Ao entrar para a Escola Militar, a política dividia a família brasileira. Ela
penetrou na Escola e dividiu seus alunos em Florianistas e Federalistas.
Estourara no Rio Grande do Sul a Guerra Civil de 1893-95 ou Revolução de 1893,
caracterizada por uma violência inaudita e grande desrespeito à vida do
adversário.
Cadetes florianistas encabeçaram abaixo-assinado, pedindo o fechamento da Escola
para lutarem contra a Revolução.
Plácido, apolítico, segundo seus biógrafos, recusou-se a assinar o documento.
Foi desligado da Escola, declarado suspeito, preso e enviado à Bagé para servir
no Batalhão de Transportes, ao comando de um neto de mesmo nome do General Bento
Gonçalves da Silva. Foi privado do uso de armas de fogo.
Neste exato momento frustraram-se, para sempre, seus sonhos de ser oficial do
Exército.
Revolucionário federalista
Na véspera do combate do Rio Negro, em Bagé ele abraçou a causa da Revolução.
Apresentou-se aos chefes revolucionários e conseguiu a libertação de dois
companheiros do Exército, presos na véspera. Um deles era seu inimigo. Dessa
generosidade ele daria várias mostras na Revolução Acreana.
Em 1893, Plácido participou de quase 40 ações de combate. Completou sua formação
militar na Academia Militar das Coxilhas, “vendo, tratando e pelejando”.
Com 21 anos incompletos, era major por bravura e disputado entre seus chefes.
O jovem não se deixou envolver por práticas bárbaras introduzidas nesta
revolução, entre as quais o degolamento de adversários inermes, costume
abominável introduzido por caudilhos orientais, e contrários à tradição de
Firmeza e Doçura do gaúcho brasileiro. Tradição que encontrou no general Osório
seu grande expoente.
A forja do guerreiro e seu temporário Adeus às Armas
Os 3 anos e meio passados no Exército e os 2 anos de revolução seriam
responsáveis por sua escolha como general e comandantedo Exército do Acre, à
frente do qual realizaria feitos militares retumbantes, dentro de critérios
táticos e estratégicos de grande validade em Arte e Ciência Militar que ele
soube adaptar à realidade amazônica, diametralmente oposta às coxilhas do Rio
Grande do Sul a que se acostumara.
Com a Paz de Pelotas, em 1895, que pôs fim à Revolução, Plácido não retornou ao
Exército. Assistia-lhe, de direito, esta faculdade.
São desconhecidos os motivos do não-retorno. Após breve período em São Gabriel,
foi para o Rio de Janeiro onde se tornou guarda e inspetor de alunos do Colégio
Militar.
Um incidente com um oficial professor de Geografia o obrigou a demitir-se.
Após, trabalhou nas Docas de Santos, onde praticou o oficio de agrimensor,
condição que o levou à Amazônia, contratado para demarcar seringais.
A Amazônia fervilhava com a Questão Acreana
Os limites entre Brasil e Bolívia no Acre eram discutidos. As diplomacias dos
dois países esforçavam-se por definí-los.
A seca de 1877, no Nordeste, atraiu para o Acre milhares de nordestinos que
terminaram por desbravar e povoar aquela região selvagem, ao custo de 100.000
vidas imoladas por uma ecologia adversa, paraíso defebres palustres.
O Brasil reconheceu o domínio boliviano sobre parte da área desbravada e povoada
por nordestinos, que já se consideravam acreanos.
Eles argumentavam: “Se o Brasil não quer o Acre, os acreanos não desejam ser
bolivianos”.
Em 14 de julho de 1899, em Empresa, o espanhol Luiz Galvez, após descobrir
tratado entre os governos da Bolívia e EEUU, lesivo aos interesses acreanos,
proclamou o Acre estado independente.
O Brasil interferiu e ajudou a Bolívia a restabelecer seu domínio sobre a área.
Jovens de Belém, inconformados, organizaram uma força para libertar o Acre.
Esta força passou à história como Expedição dos Poetas. Após alguns êxitos,
fracassou, por falta de um líder militar.
Plácido recusou comandá-la, obediente à decisão do governo brasileiro. Nesta
época, atacado de febre palustre, dedicava-se, como agrimensor, a demarcar
seringais.
Um Cavalo de Tróia ameaça a Soberania do Brasil na Amazônia
O governo boliviano, visando a lucros e a manter seu domínio sobre o Acre,
recorreu a capitais privados norte-americanos e ingleses, sedentos de dominarem
as fontes de produção de borracha na Amazônia.
Formou-se o Bolivian Syndicate de Nova York. Este adquiriu o direito, por
arrendamento, de administrar o Acre e ali manter uma força armada.
O arrendamento incluiu área reconhecidamente brasileira, segundo constatação de
Plácido de Castro.
Era um Cavalo de Tróia a ser introduzido, na Amazônia, por poderosos capitais
internacionais, com apoio oficial dos EEUU que, desde 1850, forçava a abertura
do Amazonas ao livre comércio, conforme abordamos anteriormente.
Precedentes, na África e Ásia, mostraram que grupos idênticos terminaram por
colonizar e dominar importantes áreas de alguns países, onde penetravam com os
mesmos propósitos.
Era uma ameaça à Soberania e Integridade do Brasil, da Bolívia e do Peru.
Alegavam os acreanos legítima defesa preventiva contra a espoliação de seus
direitos centenários colocados em perigo pela United States Rubber Company, com
possibilidades de apoiar grupos estrangeiros que poderiam ocupar toda a região,
sob a proteção de força armada dirigida pelo Bolivian Syndicate.
A obra reservada ao jovem gaúcho
Eram imprevisíveis, se concretizadas, e a longo prazo, as conseqüências do
acordo do Bolivian Syndicate.
Teríamos hoje por certo uma grande nação a dominar grande parte da Amazônia
brasileira, boliviana e peruana?
O Brasil exerceria soberania sobre a navegação no Amazonas e seus principais
afluentes?
Quais os reflexos negativos sofridos pela geopolítica brasileira na Amazônia?
Seria mantida a Integridade e Soberania do Brasil na área?
Estas e outras perguntas assaltaram a mente do patriota e estudioso de Geografia
– Plácido de Castro.
Projeção da obra de Plácido no Brasil
Neste contexto, é que se insere a grande obra que iria realizar Plácido de
Castro, sem rival, de preservação da Unidade e Soberania do Brasil na Amazônia,
área em que somente agora os brasileiros tiveram condições, com grandes
sacrifícios, de dar início à grande batalha, para integrá-la e desenvolvê-la,
para não entregá-la, malgrado as pressões econômicas mundiais, imprevisíveis
sobre ela no insondável 3º Milênio, num mundo em acelerada explosão demográfica
e carente de espaço vital.
Por outro lado, seria então abandonar-se à própria sorte milhares de brasileiros
acreanos, desbravadores e povoadores da região, desde quase meio século.
No Acre encontram-se sepultos milhares de nordestinos, imolados na luta para
dominar aquela região selvagem e remota.
Plácido - o encontro com seu destino e com a História - a independência do Acre
Plácido encontrava-se na Amazônia desde 1898, com 25 anos de idade. Acompanhava
com simpatia a Questão Acreana, sem nela envolver-se.
Brasileiros e bolivianos da área chegaram a um acordo de convivência fraterna.
Ao tomar conhecimento do teor do contrato, lesivo ao Acre, ao Brasil e também à
Bolívia, decidiu impedir que se consumisse. Aderiu à revolução!
Daí por diante foi o catalisador, organizador e pregador da Revolução, com
vistas a impedir a invasão e o controle da área por capitais alienígenas,
interessados em controlar fontesde produção de borracha, com apoio e força
armada. E partiu para a luta armada!
Em 6 de agosto de 1902, conquistou Xapuri e proclamou a Independência do Acre.
Fez com que todos os presentes assinassem a Ata de Independência, a fim de
comprometerem-se no movimento.
Durante mais de um mês percorreu a pé, a cavalo e em canoas, todos os recantos
do Acre, no afã de mobilizar adeptos para a reação militar que, dentro em breve,
se faria sentir.
Nos seus mais agudos momentos de febre palustre, fez-se transportar em rede.
Decorrido cerca de um mês, conseguiu mobilizar, organizar, equipar, adestrar e
motivar um pequeno exército de 66 homens e fortificar diversos seringais.
Um duro insucesso - Emboscada em Volta da Empresa- lição aprendida!
Ao retornar para Xapuri, à frente de 66 homens, Plácido foi informado da chegada
ao Acre de um batalhão boliviano. Para compensar seu pequeno efetivo, concebeu
emboscar o adversário em Volta da Empresa (atual Rio Branco).
O Batalhão boliviano se antecipou a ele no local, ao ser guiado por um traidor.
Sua tropa foi emboscada. Após uma hora de violento combate, acabada a munição de
sua tropa, ele foi obrigado a retirar-se com as seguintes baixas: 22 mortos, 8
feridos graves e 6 desertores.
O adversário teve 18 baixas, 10 mortos e feridos.
Plácido analisou profundamente o revés e dele tirou valiosas lições de cunho
tático e estratégico, adaptadas às realidades da selva amazônica.
Em pouco tempo Plácido mobilizou o Exército do Estado Independente do Acre, com
efetivo de 850 homens, divididos em 4 batalhões: O Novo Destino, o Pelotas, o
Acreano e o Xapuri.
Seus soldados estavam armados com rifles Winchester 44 e armas de caça, com 60
tiros por homem.
Aclamado General e Comandante do Exército do Acre
Em 2 de outubro de 1902, foi aclamado general e comandante do Exército do Acre.
E em 171 dias de campanha, de 5 de agosto de 1902 a 24 janeiro de 1903, o
pequeno Exército Acreano, liderado pelo bravo gaúcho, consolidou a Independência
do Acre, após vencer em diversos combates fortes e bem armados efetivos
adversários.
Conseguiu assim, afastar da Amazônia a grande ameaça à Soberania, Integridade de
Unidade do Brasil e Bolívia, representada pelo Bolivian Syndicate de Nova York.
O Sindicato, face ao fracasso militar, tentou subornar a população acreana, no
que foi repelido.
Financiou então, na Bolívia, uma poderosa expedição para esmagar os acreanos. O
Brasil tomou posição para evitar o massacre.
Tratado de Petrópolis
A diplomacia brasileira, através do Barão do Rio Branco, consolidou o ideal do
Acre de ser brasileiro, conquistado pelas armas pelo Coronel Plácido de Castro e
seus bravos soldados acreanos, com a celebração do Tratado de Petrópolis, a 17
de novembro de 1903.
Pelo Tratado, o Brasil definiu a situação do atual Estado do Acre, em troca de
compensações territoriais (3.164 km2), em dinheiro (10.000.000 de dólares) e em
obras civis de grande projeção econômica para a Bolívia, como a ferrovia
Madeira-Mamoré, a liberação da livre navegação do rio Amazonas, a utilização dos
portos de Manaus e Belém e, ainda, reembolso dos valores adiantados à Bolívia
pelo Bolivian Syndicate.
O Acre foi elevado a Território Federal pela lei 1.181, de 25 Fev 1904, e foi
dividido em Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá, governados por prefeitos
autônomos, nomeados pela Presidência da República.
A figura de Território Federal era uma inovação no Direito Constitucional do
Brasil, idéia sugerida pelo Dr. Assis Brasil, gabrielense, como Plácido de
Castro, e Ministro Plenipotenciário do Brasil nos EUA.
Plácido morreu em 1908, vítima de uma emboscada, preparada por desafetos
políticos, dois dias antes. Teve o mesmo destino trágico de seu avô, do qual
herdou o nome, o Major do Exército José Plácido de Castro.
Seus restos mortais repousam em Porto Alegre. Dia virá em que o Acre os
reclamará para fazê-los repousar no cenário de sua glória, na terra de seus
intrépidos comandados acreanos, que escreveram uma epopéia em defesa da
Integridade e Soberania do Brasil.
Na terra daqueles heróis que submergiram, um após outro, sob balas inimigas, na
tarefa de cortar uma corrente que barrava a navegação do rio Acre defronte a
Puerto Acre.
Na terra da Heroína Angelina Gonçalves de Souza que combateu a luta mais
desigual com o inimigo, em protesto pelo trucidamento de seu marido.
Enfim, na terra de outros tantos heróis assinalados, que lutaram pela libertação
do Acre, muitos esquecidos ou desconhecidos. Tanto que somente Deus sabe seus
nomes.
Seu retorno é um imperativo cívico, para a referência eterna dos acreanos, aos
quais ajudou a conquistar a liberdade e o direito de serem brasileiros. E para o
respeito dos irmãos bolivianos ao adversário valoroso e generoso que lutava, não
contra a Bolívia ou contra seus irmãos bolivianos, mas contra o Bolivian
Syndicate, que ameaçava não só a Integridade e Soberania do Brasil, como também
a da própria Bolívia, assim como a Liberdade de seu povo, seriamente
comprometida, a longo prazo.
Em 1972, estivemos no Acre, como adjunto da Presidência da Comissão de História
do Exército do EME, para lá realizar pesquisa solicitada pelo General Adauto
Bezerra de Araújo e pelo Governador do Acre sobre o centenário de Plácido de
Castro. Percorremos os locais de combates ao longo do rio e por terra. Visitamos
e fotografamos em seus últimos dias o Sgt Feitosa, que foi mateiro de Plácido de
Castro, do qual conservava uma bússola que seu chefe lhe fizera presente.
Encontramos também o soldado de Plácido que cortara a corrente que barrava o rio
em Puerto Acre e que depois se homiziara nos seringais bolivianos por temor de
repressão a seu ato, só voltando a Rio Branco em 1972, muito velho e doente,
para aguardar a morte. Nós o entrevistamos, fotografamos e reproduzimos as
fotos, inclusive a do Sargento Feitosa, no Guararapes 22.
24 – A GUARNIÇÃO DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA, 1888-1938
Guarneceram a Amazônia as seguintes unidades:
Em Belém, Infantaria: 5º Batalhão de Fuzileiros, em 1857; 15º BC de 1888 a 1908,
o qual, com a Reorganização do Exército de 1908, passou a chamar-se 47º Batalhão
de Caçadores; este, em 1919, depois da 1a Guerra Mundial, passou a denominar-se
26º Batalhão de Caçadores, até 1938.
Em Manaus, Infantaria: o 45º Batalhão de Caçadores, de 1917 a 1919, durante o
final da 1a Guerra Mundial, até ser transformado em 27º Batalhão de Caçadores,
de 1919 a 1938.
Artilharia: O Grupo Independente de Artilharia de Dorso no Pará em 1934.
Foi no 5º Batalhão de Caçadores, de Belém que, em 16 Fev 1857, sentou praça
Augusto Julião Serra Martins, mais um dos heróis da consolidação da República na
resistência da Lapa, o qual estudamos pioneiramente na obra Comando Militar do
Sul – 4 décadas de História e antecedentes. Porto Alegre: CMS, 1995.p.251-259,
sob o título “Um herói da Lapa pouco conhecido e reverenciado”. Ele nasceu em
São Luiz –MA em 9 de Junho de 1841, logo depois do término da Balaiada,
pacificada por Caxias. Seu último comando foi como general do 1o Distrito
Militar em Belém, correspondente hoje ao Comando Militar da Amazônia, mais o
Piauí, onde foi reformado em 26 Jan 1908 aos 65 anos de idade, falecendo 20 dias
após e sepultado em Belém, onde deve estar sepultado e, talvez um dia, exumado,
sendo seus restos mortais trasladados para o Panteon ao heróis da Lapa no
Paraná, onde é uma grande e muito injusta ausência.
Artilharia: Permanecia ativo o forte de Óbidos, guarnecido desde 1889 pelo 4º
Batalhão de Artilharia de Posição, colocado num local do Amazonas com 1800
metros de largura e mais de 150 metros de profundidade, onde as embarcações que
subiam ou desciam o Amazonas eram inspecionadas. E ali permaneceu até 1934,
quando foi extinto, depois de participar de revolta em 1932.Em 1889, em Belém,
existia o 4º Batalhão de Artilharia.
Reflexos militares do fim do ciclo da Borracha na Amazônia,1840-1912
Em 1905, houve o início da desvalorização da borracha, cujo ciclo durara de 1840
a 1912.
Em 1910, Manaus sofreu um bombardeio por uma flotilha de guerra.
Com a 1ª Guerra Mundial (1914-18) a navegação no rio Amazonas causou surpresa,
inclusive para barcos brasileiros.
E a “débâcle” econômica castigou violentamente pobres e ricos.
Esta situação calamitosa no campo econômico se projetou no campo social e
político de forma muito negativa e durou até 1924.
Em Jul 1924, em apoio à Revolução de 1924 em São Paulo, os tenentes do 27º BC de
Manaus, Joaquim Cardoso de Magalhães Barata, comandante da 3a Cia, Alfredo
Ribeiro Júnior, Sebastião Mendes de Holanda e outros, liderando integrantes do
BC, atacaram o Quartel de Polícia e, a seguir, destituíram o governo oligárquico
do desembargador César Augusto Rego Monteiro que, num quadro de miséria e de
dificuldades do funcionalismo do Amazonas, à míngua de recursos, promoveu rico
baile comemorativo do centenário de Independência. Governo que era acusado de
meter as mãos nos pobres cofres do Amazonas.
Assumiu a chefia da Junta Governativa do Amazonas o Tenente Alfredo Augusto
Ribeiro Júnior, que instituiu o célebre Tributo da Redenção, visando arrecadar o
dinheiro desviado pelos políticos.
Seu governo, assessorado por uma Junta de Militares, durou 30 dias. Taxou
fortementeos abastados, em benefício dos pobres; extinguiu casas de jogos;
prendeu atacadistas de gêneros alimentícios; expropriou o matadouro, explorado
por ingleses, e o entregou à Comuna de Manaus. Conseguiu a adesão do Forte de
Óbidos.
O Governo Central enviou a Manaus, ao comando do General João de Deus Mena
Barreto (1874-1933), o denominado Destacamento do Norte, organizado para
combater a revolta do 27º BC e composto de cerca de 3.000 homens que deixaram o
rio a bordo do cruzador Barroso, dos couraçados São Paulo e Floriano e do
paquete Poconé. No dia 23 de julho, revoltou-se o 26º BC de Belém, sob a
liderança do Capitão Augusto Assis de Vasconcelos, que travou violentos combates
com policiais do Pará.
Quando o General Mena Barreto chegou a Belém, em 11 de agosto, a revolta já
havia sido dominada e ele assumiu o comando da 8a RM.
Em 23 de agosto, tropas do Destacamento do Norte ocuparam Santarém e realizaram
diversas prisões.
A caminho de Manaus enfrentaram resistência revolucionária oferecida pelo forte
de Óbidos, sob a liderança do Tenente Magalhães Barata, que enfrentou um
bombardeio e forte ataque das forças terrestres e navais do Destacamento do
Norte que chegou a Manaus em 28 de agosto. A Junta Governativa foi destituída
sem resistência expressiva, e seus líderes e demais implicados foram presos e
enviados para o agora presídio militar em Clevelândia do Norte, junto ao rio
Oiapoque, no Amapá. Magalhães Barata conseguiu fugir da prisão em Belém e
refugiou-se no Uruguai, de onde retornou ao Rio Grande do Sul alguns meses antes
da Revolução de 30. Em agosto, com identidade falsa, retornou a Belém onde foi
preso e enviado para o Rio de Janeiro. Com a vitória da Revolução de 30 foi
enviado para Belém para assumir as funções de Interventor Federal em 12 Nov
1930, em companhia de Juarez Távora e José Américo de Almeida. Em 15 Nov foi
promovido a capitão, aos 42 anos.
A Revolução de 32 refletiu-se em Belém. E revolucionários paraenses atacaram o
prédio da Polícia Civil, o QG da 8a RM, o quartel do Corpo de Bombeiros e a
cadeia São José. Coube ao interventor comandar forças do Exército, da Marinha,
da Polícia e dos Bombeiros, que sufocaram o movimento.
Magalhães Barata nasceu em 2 Jun 1888 em Val de Cans, filho do Major Marcelino
Cardoso Barata. Cursou a Escola de Guerra em Porto Alegre, onde foi declarado
Asp Of de Infantaria em 1911, e foi servir no 27º BC. Em 1915, comandou a
Fronteira do Oiapoque. Em 1920, foi servir no Rio, onde ingressou no movimento
tenentista, na revolução de 22. Preso, foi recambiado para o 27º BC, onde se
encontrava em 1924.
Em 1936, retornou à Ativa, como major comandante do 6o BC em Ipameri-GO. Como
Ten Cel comandou o 22º BC, em João Pessoa. Como coronel comandou o 15º BC em
Curitiba, PR e a 21ª Circunscrição de Recrutamento (CR) em Recife, 1940/43.
Em 1943, voltou às funções de interventor do Pará. Mais tarde foi senador e, em
1955, foi eleito governador do Pará, falecendo no exercício do cargo em 29 de
maio de 1959, aos 70 anos, sendo considerado um dos maiores líderes da História
de seu estado natal.
O presidente deposto pela revolta tenentista se recusou a reassumir o governo,
tendo o General Mena Barreto nomeado, como Governador Militar do Amazonas, o
Coronel Raimundo Barbosa.
O General Mena Barreto deixou o comando da 8a RM em outubro de 1924 para assumir
o comando da 1a RM, à cuja frente permaneceu até março de 1926. A ele se deve,
em 1925, a sugestão ao Ministro da Guerra, General Setembrino de Carvalho, de
instituir, em 25 de agosto, o Dia do Soldado, na data do nascimento do Duque de
Caxias. Ele deixou a 1a RM em março de 1926, para não cumprir determinação do
STM, que concedeu habeas corpus ao Major José Pessoa, o futuro idealizador da
AMAN, e então comandante interino do atual RCG - Dragões da Independência, de
Brasília, que fora punido por motivos disciplinares.
O General Mena Barreto foi eleito presidente do Clube Militar em 1926, o qual
fora fechado pelo Presidente da República desde a Revolução de 1922. Ao final de
seu 1º mandato, foi criada a Revista do Clube Militar, da qual fomos diretor,
além de diretor Cultural do Clube em seu centenário, em 1987.
Participaram das Forças de Terra e Mar em operações na Amazônia, em 1924, ao
comando do general Mena Barreto: Chefe do EM, o Major Leopoldo Jardim de Matos;
Chefe da 1ª Seção, Ten Cel Aurélio Frederico de Lima; Chefe da 3ª Seção,
0perações, Cap Eurico Gaspar Dutra; Chefe do Serviço de Saúde, Ten Cel
Dr.Joaquim Moreira Sampaio; Chefe da Caixa Militar de Guerra, Ten Cel Aurélio
Frederico de Lima. Como auxiliares atuaram os capitães Mário Coutinho, Alberto
Magioli, Ângelo Autran Dourado e o 2º Ten Waldemar Noronha Mena Barreto. O
Ajudante de Ordens era o 2º Ten Sérgio Mura de Castro.
Existe foto do grupo na revista Nação Armada, nº 31, p.59.
A equipe viajou no navio Poconé, com as seguintes escalas após o Rio de Janeiro:
Recife - Belém - Santarém – Óbidos – Parentins – Itacotiara - Manaus.
O Capitão Dutra recebeu o seguinte elogio do General Mena Barreto: “Capitão
Eurico Gaspar Dutra: já é sobejamente conhecido entre nossos chefes e camaradas,
como oficial de escol, não sendo pois surpresa sua maneira de proceder como
chefe da 3ª Seção, onde mais uma vez pôs em relevo os excepcionais predicados de
que é dotado“.
O General Dutra seria o Ministro da Guerra no Estado Novo e o Presidente da
República, eleito por maioria absoluta, em 1946, após o Estado Novo.
Mas em 12 Ago 1930, Manaus voltou a se agitar. Alunos do Ginásio Amazonense -
Dom Pedro II, realizaram um movimento contra a Polícia. E esta atacou o ginásio
com reforço da Polícia Militar.
Os alunos que pertenciam à Escola de Instrução Militar 184, arrombaram a
arrecadação do 27º BC, apanharam armas e munições e travaram por 3 horas um
tiroteio com a Polícia que só teve fim por interferência do Tenente do Exército
Plínio de Abreu, com a ajuda do professor Álvaro Maia.
25 - A AMAZÔNIA NA 2a GUERRA MUNDIAL
Houve pouca preocupação com a Defesa Territorial da Amazônia
durante a 2ª Guerra Mundial. Nela foi criado, mas não implementado, o Teatro de
Operações do Norte, cujas missões foram desempenhadas pela 8a Região Militar,
sediada em Belém.
A 8ª Região Militar teve, entre seus comandantes, o General Francisco de Paula
Cidade que, em suas Memórias inéditas, que exploramos bastante ao tomarmos posse
no Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, em cadeira em sua
homenagem e em artigo na Revista A Defesa Nacional, nº 709, set/out, 1983,
p13/35, sob o título Paula Cidade, um soldado a serviço do progresso do
Exército.
Ele comandou a 8a Região Militar a partir de 15 Mar 1943, por cerca de um ano,
até sair para integrar a FEB, como membro do seu Supremo Conselho de Justiça.
Antes de partir para Belém, recebeu do Presidente Getúlio Vargas, seu colega na
antiga Escola Preparatória e Tática do Rio Pardo, a seguinte missão:
“Ficar em condições de ocupar a Guiana Francesa”.
Motivo: Com um governo francês pró-Alemanha em Vichy, certamente uma nação
extracontinental irá ocupar a Guiana Francesa e não mais sair dali. E se alguém
deva fazer isto é o Brasil”.
Esta idéia aos poucos foi perdendo a consistência, com o evoluir da guerra, e a
missão do General Cidade se concentrou em especial no seguinte:
“Proteger a base aérea norte americana de Val de Cans em Belém, próxima do Canal
do Panamá. Base ponto obrigatório de passagem das comunicações militares aéreas
dos Estados Unidos com a África, a Europa e o Oriente Médio, junto com as bases
aéreas americanas no Amapá e em Natal”.
Seu principal meio para proteger a base aérea de Val de Cans foi a 1a Companhia
de Metralhadoras Antiaéreas, comandada pelo Capitão Janari Gentil Nunes Nunes,
nascido em Alenquer, em 1912, o qual logo a seguir seria empossado, em janeiro
de 1944, o 1º governador do recém-criado Território do Amapá, à cuja testa
permaneceu até 1949. Ele servira no 26o BC, que guarnecia Belém na época da
Guerra. Em Manaus, ele dispunha do 27º BC. Foi obrigado a criar um Pelotão
Disciplinar, à semelhança dos americanos, para coibir abusos disciplinares de
alguns reservistas convocados, com a finalidade de serem expulsos e processados
e, assim, não serem enviados para a FEB. E sua medida teve bons resultados.
Orgulhava-se de haver sido, na época, o introdutor da inseminação artificial de
eqüinos, graças a seu Chefe de veterinária, o Major Waldemiro Pimentel, mais
tarde historiador destacado. Ambos são hoje patronos de cadeira da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil.
Com sêmen de cavalos de alta linhagem, inseminou 752 éguas da ilha de Marajó,
que produziram 751 potros e potrancas de belo aspecto.
Foi a época em que milhares de brasileiros se internaram na Amazônia, para
produzir a borracha para o fabrico de pneus para viaturas e aeronaves aliadas e
assim fazer com que o Brasil e, no caso, a Amazônia, contribuísse de modo muito
expressivo para a vitória dos aliados. Isto com o concurso vital das bases
aéreas de Macapá, no Amapá, e a de Val de Cans, em Belém. Os brasileiros que
colhiam a borracha eram denominados com justiça Soldados da Borracha. As citadas
Memórias do Gen Cidade, em exemplar que deixamos no Arquivo Histórico do
Exército, possuem valiosas referências à História de Belém no período.
O General Paula Cidade, em suas Memórias, referiu que, ao viajar para a Europa
em avião militar, de Natal a Dakar, observou por longo tempo no mar o que lhe
pareceu um submarino se deslocando imerso. E levou algum tempo para perceber que
se tratava da sombra do avião em que viajava, projetada sobre o oceano.
Uma acusação repelida de imperialismo e sub-imperialismo do Brasil
Em 1984, como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e como
Presidente da Comissão de História da Revista A Defesa Nacional, assistimos à
veemente comunicação do mestre Arthur Cézar Ferreira Reis de análise de três
livros de má-fé, de autores sul-americanos, apresentando o Brasil como
imperialista e subimperialista. O Presidente Pedro Calmon solicitou que
tentássemos publicar o trabalho na Revista A Defesa Nacional.
E foi o que fizemos. O trabalho foi publicado em artigo com nossa Apresentação e
sob o título ”Imperialistas e subimperialistas” na revista A Defesa Nacional, nº
715, ano 1984, em cujo final o seu autor concluiu:
“Na Revista A Defesa Nacional, podemos encontrar respostas positivas, realistas,
às reflexões maldosas que constam dos livros que aqui indiquei e analisei, como
responsáveis pelo clima da reserva, que nos fazem entre os povos da Sul América.
São artigos elaborados à luz de provas irrefutáveis, que talvez fosse
interessante e útil os
reunir num volume e o texto vertido para ser bem entendido lá fora.
Não somos imperialistas. Em nossa história não encontramos uma página sequer que
possa permitir afirmação diversa.
Temos um território imenso, e muito dele ainda por ocupar. Como, portanto,
admitir-se a conclusão cavilosa de que pretendemos ocupar os espaços disponíveis
de nossos vizinhos?
Nosso desenvolvimento processa-se com potencialidade.
Em nenhum momento, porém, procuramos obter essa potencialidade em desfavor de
nossos vizinhos da Sul América.
Essa é a grande verdade, que é obrigação nossa proclamar e defender. Os
problemas brasileiros são muitos e graves. Exigem planejamento objetivo,
recursos técnicos e humanos; e tempo, bastante tempo.
Não somos imperialistas nem subimperialistas, como pretendem nossos acusadores“.
26 – O COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA (CMA)
A Amazônia Brasileira é guarnecida pelo Comando Militar da Amazônia, com
responsabilidade de dar continuidade à defesa da área, inspirada na síntese
abaixo, emitida pelo General Rodrigo Otávio Jordão Ramos, que estruturou aquele
comando, e que consta, em letras garrafais, na parede da entrada do Memorial em
sua homenagem, no 2o Grupamento de Engenharia de Construção, do qual foi
consagrado patrono, ou denominação histórica:
"Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil,
porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la". General Rodrigo
Octávio.
Acreditamos já ter dado, à esta altura de nosso trabalho, uma mostra concreta
das dificuldades vencidas por nossos antepassados luso-brasileiros e depois por
brasileiros em conquistar a Amazônia e mantê-la por três séculos e meio.
O trabalho notável do General Rodrigo Otávio, de estruturação da defesa
terrestre da Amazônia, foi assim definido pelo Ministro do Exército, o General
Aurélio de Lyra Tavares, consagrado patrono, em vida, de cadeira da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil:
"O Exército do meu tempo e o Brasil de todos os tempos muito ficaram devendo ao
General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, pelo vigoroso e seguro equacionamento da
problemática da dinamização da Amazônia e pelo grande impulso à programação
projetada, graças a qual a região ganhou o aspecto de uma civilização em marcha,
encontrando-se em franca evolução para uma nova realização, já agora
irreversível".
General de Exército Aurélio de Lyra Tavares - Ministro do Exército, 1969
O CMA tem origem no Comando de Elementos de Fronteira, subordinado à 8ª Região
Militar em Belém, criado em 15 Jul 1948 e instalado em Manaus em 2 Abr 1949, com
a missão de apoiar elementos do Exército destacados na Fronteira: 3ª Cia de
Fronteira, em Porto Velho, e os Pelotões de Fronteira do Forte Príncipe da
Beira, Guajará-Mirim, Rio Branco, Japurá e Cucuí.
Em 1952, o CMA inaugurou intercâmbio com militares colombianos, dentro do
princípio de que a Amazônia, como um todo, deve ser preocupação de todos os
militares e civis dos países a que ela pertence.
Em março de 1957, passou a denominar-se grupamento de Elementos de Fronteira,
que passou a integrar o Comando Militar da Amazônia, criado e comandado, a
partir de 1958, pelo então Gen Div Humberto de Alencar Castelo Branco, 6 anos
mais tarde líder da Contra- Revolução Democrática de 1964 e, em conseqüência,
eleito Presidente da República pelo Congresso.
Em 1960, o Grupamento de Elementos de Fronteira passou a ser comando de general
e a ocupar como seu QG, em setembro de 1960, na Praça Gen Osório, o antigo
quartel do 27º BC.
Em 2 Jul 1969, sob o comando do Gen Ex Rodrigo Otávio Jordão Ramos, instalou-se
em Manaus o Comando Militar da Amazônia e 12ª Região Militar - Região Mendonça
Furtado, na qual foi transformado o Grupamento de Unidades de Fronteira.
Ficou subordinado ao CMA a 8ª RM, Região Forte do Presépio, mudando assim o
centro de gravidade da guarnição do Exército da Amazônia de Belém para Manaus,
como fora mudado, a partir de 1750, de São Luiz para Belém.
E a Amazônia Brasileira passou por intensa e profícua atividade na articulação
de suas unidades criadas ou transformadas, sob a liderança do General Rodrigo
Otávio que, hoje, de justiça, na voz da História, é a denominação histórica do
2º Grupamento de Engenharia de Construção (2º GEC), criado em setembro de 1970
por empenho daquele General.
Em 1972, o 2º GEC estava articulado da seguinte maneira, com seus batalhões de
construção, e tinha as seguintes missões de implantação da rede rodoviária, na
Amazônia:
5º BE Cnst - PORTO VELHO-RO
Batalhão Cel Carlos Aloysio Weber BR 236-ABUNÁ-JURITIPARI 533
BR 364-PTO. VELHO-GUAJARÁ-MIRIM 342
BR 319-PTO. VELHO-B. QUEIMADO 791
BR 406-LÁBREA-HUMAITÁ 342
BR 421-ARIQUEMES-ALTO CANDEIAS 110
6ºBE Cnst - BOA VISTA-RR
Batalhão Simon Bolívar
B 174-MANAUS-Front. c/a VENEZUELA 970
BR 401-BOA VISTA-Front. c/a GUIANA 240
7ºBECnst-Cruzeiro do Sul –AC
Batalhão
Barão do Rio Branco BR 236-JURITIPARI-Front c/o PERU 480
BR 165-SANTARÉM-CACHIMBO 954
8ºBE Cnst-SANTARÉM-PA
Batalhão Rondon BR 165-CUIABÁ-CACHIMBO 792
9ºBE Cnst-CUIÁBA -MT BR 364-CUIABÁ-QUEIMADO 593
TOTAL11.540 km
Em São Gabriel da Cachoeira existe a Companhia de Engenharia de Construção,
Companhia Guilherme Carlos Lassance, do 1o BE de Construção.
Em 5 Jan 1982, o CMA/12ª RM desmembrou-se em dois comandos, o CMA e a 12ª RM,
atual Região Mendonça Furtado, passando o primeiro a ser privativo de General de
Exército.
E desde 1948 o Exército tem tido progressiva e crescente presença na Amazônia
Brasileira, lado a lado com organizações de nossa Marinha e Aeronáutica, para
assegurar o melhor grau possível de segurança à estratégica área, honrando a
memória e a herança dos que a defenderam e preservaram a Integridade e a
Soberania do Brasil na área, há quase 3 séculos e meio, ou seja, desde 1639.
Dividem a responsabilidade de defender a integridade e a soberania do Brasil na
Amazônia o I e o VII Comandos Aéreos Regionais, o 4º Distrito Naval e o Comando
Naval da Amazônia Ocidental.
E todos embalados por este lema:
"Soldado da Amazônia! O Brasil confia em você. Cumpra a missão, custe o que
custar"!
Lema ou idéia-força que lembra o pensamento militar português, em grande parte
responsável pelo reconhecimento, exploração, conquista e manutenção da soberania
de Portugal sobre a Amazônia, superando dificuldades sem fim, o que resgatamos
neste trabalho pioneiro.
"Julgada a causa justa, pedir proteção divina e atuar ofensivamente, mesmo em
inferioridade de meios".
Pensamento decorrente do ideal político de Portugal de dilatar a Fé Católica e o
Império português, uma associação da cruz e da espada, de que a conquista e
manutenção da Amazônia, ligada ao Brasil, é um exemplo eloqüente, através da
ação das suas forças terrestres e de 6 ordens religiosas.
Hoje guarnecem a Amazônia quatro brigadas de Infantaria de Selva, articuladas em
Porto Velho (Brigada Príncipe da Beira), Tefé (Brigada das Missões), Boa Vista
(Brigada Lobo d’Almada) e a 23ª, de Marabá, com seus Batalhões de Selva,
adestradas em guerra da Selva, conforme doutrina desenvolvida por seu Centro de
Instrução de Guerra na Selva (CIGS) Centro Cel Jorge Teixeira, criado em 1964,
como Centro de Operações e Ações de Comandos (COSAC) do Exército, em Manaus,
especializado em guerra na selva amazônica.
O CIGS realiza cursos freqüentados por militares de outros países, mas com
restrição sobre determinados assuntos, como é prática em todos os exércitos,
segundo o então Comandante do Exército e Presidente de Honra da AHIMTB, Gen Ex
Gleuber Vieira, em entrevista ao Jornal do Grupo Inconfidência, setembro de
2002.
Os Batalhões de Selva estão articulados em Imperatriz-MA (Batalhão Capitão-Mór
Moniz Barreto), em Marabá, Altamira, Itaiatuba, Humaitá, Tefé (Batalhão
Curupaiti), Tabatinga (Batalhão Forte São Francisco), Cruzeiro do Sul (Batalhão
Mal Thaumaturgo de Azevedo), Boa Vista (Batalhão Forte de São Joaquim),
Guajará-Mirim (Batalhão Forte Príncipe da Beira), São Gabriel da Cachoeira
(Batalhão Forte de São Gabriel) e Manaus (Batalhão Amazonas).
Existem ainda os batalhões de Selva subordinados à 8a RM, em Macapá e Belém
(Batalhão Pedro Teixeira), herdeiros das tradições dos dois primeiros regimentos
de Infantaria mandados pelo Marquês de Pombal depois do Tratado de Madrid de
1750 para guarnecerem a entrada da Bacia Amazônica e os fortes do interior, na
consolidação da conquista da Amazônia.
Salvo melhor juízo, há necessidade de um maior adensamento de tropa do Exército
na fronteira do Brasil, no Pará e no Amapá, com a Guiana Inglesa, o Suriname e a
Guiana Francesa, onde só existem, nesta vastidão, um Destacamento Militar em
Tiriós e uma companhia de Fronteira do Oiapoque.
Parece que está faltando alguma coisa ali, ou talvez exista uma explicação
lógica e convincente para esta ausência, por desnecessária, ou ainda por haver
possibilidade da presença pela mobilidade, com o uso de helicópteros da Aviação
do Exército, acionados pelo SIPAM, com base em informações colhidas pelo SIVAM,
ali mesmo em Tiriós.
Com satisfação assistimos pela TV, por certo por eficiência do SIVAM, ao
bombardeamento de pistas de pouso na floresta por aeronaves da Aeronáutica, o
que é um excelente sinal a curto prazo. Mas, a médio e longo prazos, no
insondável 3o Milênio, estes meios serão suficientes para conter pressões sobre
a Amazônia?
Como novidade, possui parada em Manaus, desde 1993, o atual 4o Esquadrão de
Aviação do Exército, Esquadrão Cel Ricardo Pavanello; desde 1995, a Companhia de
Inteligência; desde 1996, o Centro de Embarcações do CMA, para apoio logístico
da tropa do Exército, guarnecendo a fronteira e, desde 1998, o 4o Centro de
Telemática de Área.
Hoje estão funcionando quatro Tiros de Guerra, em locais ermos, onde o
estabelecimento de unidades é inviabilizado por altos custos.
A nossa faixa de fronteira setentrional e ocidental da Amazônia nos coloca em
contato com a expansão da civilização das Guianas Inglesa, Francesa, Suriname,
Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia.
E tarefa fácil concluir o grande esforço do Exército para assegurar a vida
daqueles seus elementos de vigilância das fronteiras que, ao lado de seus
familiares, preservam a soberania e a integridade do Brasil, e que constituem
embriões de ilhas de desenvolvimento.
Fato que provocou a transferência do Comando Militar da Amazônia, de Belém para
Manaus, e a criação, no Amazonas, de mais uma Região Militar, com todo o sistema
administrativo de apoio, como foi abordado.
Deste modo, o Exército exerce, com grande vibração, de longa data, como
apontamos, uma ação colonizadora no território nacional, em zonas não
desbravadas e até mesmo em áreas ainda não atingidas pelo desenvolvimento.
É o que se poderia denominar ação complementar da presença dos elementos de
fronteira em missão de guarda e vigilância de pontos estratégicos ou críticos
das fronteiras do Brasil na Amazônia.
Estas ações crescem de importância, em particular nos imensos espaços vazios da
Amazônia, reconhecidamente ainda não incorporados ao processo civilizatório
brasileiro, com o agravante da ameaça potencial real, sobre eles e sobre suas
riquezas, da cobiça estrangeira, alimentada pela exploração, junto à Opinião
Pública Mundial, de desrespeitos por parte de maus brasileiros às regras de
desenvolvimento sustentável da Amazônia.
E isto, em especial, na Calha Norte, no trecho fronteiriço no Pará e Amapá com
as Guianas e o Suriname. Assim, repetimos: vigiar e proteger é preciso!
Espera-se que o SIVAM e o SIPAM, bem integrados, bem realizem estas patrióticas
missões, com tolerância zero para maus brasileiros, “os inimigos azuis” que
degradam a nossa Amazônia, alimentando as “idéias-força” da cobiça
internacional, para a internacionalização da área, a limitação da soberania
brasileira sobre ela, privando nossos filhos e netos dos benefícios do
desenvolvimento sustentável da mesma.
E que consigam ajudar a preservar a integridade e a imensa riqueza da Amazônia,
sob ameaça de pressões para sua internacionalização, impedindo o contrabando de
exemplares preciosos da biodiversidade amazônica, como a que ocorreu com a
seringueira, plantações clandestinas de drogas, ação devastadora de mineradores,
abate e incêndio da floresta, narcotráfico, etc.
Os militares do Exército na Amazônia e seus desafios, a partir de 2000
O jornal O Estado de São Paulo, de 11 Jan 2000, sob o título “Os novos e os
velhos dilemas dos militares-Amazônia, é o tema que exerce maior apelo”, fez
diversas considerações: “Sobre o que oficiais de alta patente advertem para o
potencial desestabilizador de ações externas na selva amazônica”. Exemplos:
"Advertem que a fronteira desguarnecida torna o Estado brasileiro vulnerável,
não só às invasões estrangeiras, no sentido clássico do termo, mas sobretudo ao
potencial desestabilizadorde ações de origem externa, envolvendo o narcotráfico,
o garimpo, associação com índios brasileiros, incêndios provocados e outras
agressões à ecologia".E dão como exemplo:
"Uma catástrofe ambiental na Amazônia propiciaria uma mobilização internacional
e abriria caminho para pressões em favor de intervenção externa, sob o argumento
de que o Brasil não é capaz de cuidar da região. A nossa soberania sobre a
Amazônia seria colocada em questão".
Segundo ainda o Estado de São Paulo, "Os militares brasileiros vêem, com grande
preocupação, as ONGs, principalmente as que possuem matrizes no exterior,
empenhadas em criticar a situação do Governo Brasileiro na Amazônia, bem como
missões religiosas, que atuam em reservas indígenas e biológicas, entrando e
saindo com sua avionetas, sem nenhum controle do Estado brasileiro, sobre o que
levam e o que trazem. Para os militares a grande resposta a essas ameaças será o
Sistema de Vigilância de Amazônia"(Jan2000).
Em realidade, no ano de 2002 assistimos pela Academia de História Militar
Terrestre do Brasil, no BNDES no Rio de Janeiro, a Simpósio sobre a Amazônia,
promovido pela Escola Superior de Guerra, então comandada pelo acadêmico General
de Divisão Carlos Patrício de Freitas.
A síntese do que lá foi debatido encontra-se no Informativo Guararapes nº 23,
Abr/Jun 2002, que se encontra no site da AHIMTB www.resenet.com.br/users/ahimtb,
com opiniões de diversos ministérios.
E em outros itens, segundo o citado Estado de São Paulo, os militares vêem "a
aculturação indígena como inevitável e como desejada pela maioria dos índios”.
Aculturação, atendendo à doutrina de Integração Nacional, que se processa desde
1616 e, além disso, de que 95% dos recrutados pelo Serviço Militar Obrigatório
na Amazônia são índios, que também se espalham pela Amazônia nos Tiros de
Guerra. E, junto com ribeirinhos voluntários, que realizam trabalhos
comunitários como vacinação e socorros, em convênio entre o Exército e
Prefeituras.
O Estado de São Paulo colheu ainda estes depoimentos: de um coronel do Exército
"Nos isolamos por muito tempo. O isolamento gerou preconceitos entre civis e
militares”.
Segundo um general “os civis foram levados a crer que todo o militar é burro e
que os militares pensam que somente nós somos patriotas. Isso precisa mudar”!
Um ex-ministro do Exército disse, há dois anos atrás:
"As Forças Armadas estão tranqüilas, não estão satisfeitas, nem acomodadas,
porém dedicadas às suas missões".
O SIVAM foi inaugurado e através da TV foi observado, em outubro de 2002, pistas
de pouso clandestinas bombardeadas pela Aeronáutica na Calha Norte, na fronteira
do Pará com Guiana Inglesa, Suriname e Guiana Francesa, conforme citado
anteriormente.
E, a certa altura, mencionou o Estado de São Paulo:
“Quando se fala em Amazônia, no Exército, a palavra chave é - Ação de presença
física e pela mobilidade. Esta, pela capacidade de deslocar efetivos, para
locais isolados da fronteira, de helicópteros da Aviação do Exército, que
substituíram os heróicos Catalina, hidroaviõesde apreciável presença no passado
em diversos locais da Amazônia”.
O incidente do rio Traíra
Para controlar o narcotráfico e garimpo, foi deslocado para o norte de Tabatinga
um Deslocamento do Exército. E ele teria sido atacado por guerrilheiros das
FARC, da Colômbia, que mataram cinco soldados do Exército. O socorro enviado em
reforço matou alguns guerrilheiros.
Esse fato causou grande repercussão internacional, tendo sido objeto de um
Inquérito Policial Militar, cujos resultados desconhecemos, em que pese nosso
esforço para saber: o que em realidade ali ocorreu?
A médio prazo, estima-se a possibilidade de grandes pressões das lutas armadas
entre as forças de direita e de esquerda na Colômbia, a serem exercidas sob a
força de intensas emigrações de colombianos descendo pelos vales do Uapés e
Japurá e buscando proteção na área da Calha Norte denominada Cabeça do Cachorro.
Instabilidade política na Venezuela (Out 2002), com possibilidade de revolta
armada também causou preocupação. A civilização dos nossos vizinhos na Calha
Norte se aproxima da nossa fronteira, impondo vigilância mais atenta sobre ela e
levando em conta que não existe uma cooperação efetiva entre os países que
possuem frações da Amazônia, problema não resolvido pela diplomacia dos países
envolvidos.
Lições desta História Militar Terrestre da Amazônia
O artigo do Sargento-Ajudante Antônio Euletério Sucena do Carmo, do Exército
Português, na Revista Boina Verde nº 139 Jan/Mai 2002, de Portugal, traz esta
estas sábias palavras do padre Antônio Vieira:
“A desunião num edifício é ruína. Num navio é naufrágio. Num Exército é
derrota...E os mais fortes muros de uma nação não são os de pedras ligadas, mas
os de corações unidos ...”
E foram corações unidos do patriotas luso-brasileiros que venceram a 1a Batalha
dos Guararapes, em 19 de abril de 1648, hoje consagrada como o Dia do Exército
Brasileiro.
Registre-se na História Militar Terrestre da Amazônia que as pressões de nações
poderosas tiraram proveito de corações brasileiros desunidos em lutas
fratricidas, ou de corações unidos, mas preocupados com lutas externas, deixando
sua retaguarda vulnerável a atuações adversas. Conferir é trabalho de simples
raciocínio e verificação.
E aqui cabe lembrar a lição deixada pelo patrono da Força Aérea do Brasil, o
Brigadeiro Eduardo Gomes:
“Opreço da Liberdade é a eterna vigilância”
E vigiar é preciso!!! Sem esquecer os maus brasileiros, os “inimigos azuis“, que
desobedecem as regras de convivência com a Amazônia.
Esperamos que o programa Calha Norte seja implementado e que o SIVAM (Sistema de
Vigilância da Amazônia), recém-inaugurado, reforce sobremodo a nossa capacidade
de vigilância da Amazônia e, por via de conseqüência, haja maior grau de
proteção assegurada pelo SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia).
Inclusive vigilância e proteção de omissões e corrupções de maus agentes do
governo e de maus brasileiros, os ”inimigos azuis”, que a degradam e alimentam
ambições estrangeiras adversas, de natureza econômica, que tentam convencer a
Opinião Pública Mundial de que ”o Brasil está queimando e abatendo a floresta
amazônica e destruindo seus índios“.
E, por via de conseqüência, desenvolvendo idéias que, se executadas, podem ferir
de morte a Soberania de mais de 3 séculos e meio de Portugal e, a partir de
1922, do Brasil, sobre a estratégica e preciosa Amazônia Brasileira.
No mais, que cada soldado brasileiro do presente e do futuro saiba desenvolver
as melhores ações para evitar que isto aconteça. Cumpre o teu dever, custe o
custar!
SIVAM, um passo de gigante para a proteção da Amazônia
Segundo concluímos do Vídeo Institucional II, sobre o SIVAM (Sistema de
Vigilância da Amazônia), elaborado em 13 Jan 2001, a desprotegida e cobiçada
Amazônia Brasileira está sendo traída pelo “inimigo azul”, ou seja, brasileiros
que a desrespeitam, agredindo o desenvolvimento sustentável da área, que abriga
1/3 da água doce do mundo e a maior quantidade de animais e plantas de planeta,
além de constituir 60% da área do Brasil, etc.
Ela se estende por 9 estados onde os maus brasileiros conferem, há anos, um
perfil perverso à Amazônia Brasileira, representado por queimadas,
desmatamentos, garimpos clandestinos, que poluem seus rios com mercúrio,
grilagens fabulosas de terras, extração ilegal de essências raras de vegetais,
narcotráfico, contrabandos diversos, especialmente de armas e pedras preciosas,
madeiras e vegetais com princípios ativos para curar doenças, conflitos
fundiários, envolvendo colonos, fazendeiros, posseiros e grileiros,
especialmente no extremo sul da Amazônia, exploração desordenada do solo em
desrespeito ao desenvolvimento sustentável, organizações guerrilheiras em países
vizinhos, em regiões fronteiriças com instabilidade política em alguns desses
vizinhos e potencialmente geradores de reflexos negativos para o Brasil,
presença de estrangeiros e organizações estrangeiras, com objetivos
não-identificáveis com segurança e, finalmente, problemas sociais, decorrentes
do baixo estágio de desenvolvimento de Amazônia: desnutrição, baixa expectativa
de vida, alta mortalidade infantil, baixa densidade de médicos e leitos
hospitalares, insuficiência de meios de comunicações e quase que total ausência
de saneamento básico.
Eis o perfil perverso da Amazônia, que tem sido alvo no exterior de satanização
quanto a exageros no tocante ao desmatamento, queimadas e mau tratamento dos
índios.
E tudo isso com o objetivo inconfessável de convencerem a Opinião Pública
Mundial, ligada ao G/7, da necessidade de internacionalizar a Amazônia ou de
limitar ali a soberania do Brasil. E tudo por culpa do descontrole pelo Brasil
do “inimigo azul da Amazônia”, incluindo-se, como tal, autoridades e
funcionários públicos, corruptos, omissos ou indiferentes, que fornecem os
argumentos para o inimigo vermelho tentar se apossar da Amazônia Brasileira e de
suas riquezas, com o apoio da opinião pública mundial manipulada.
Essa manipulação chegou ao ponto de, em alguns países da Europa, automóveis
trazerem em seus pára-brisas esta agressiva frase: Você já matou hoje um
brasileiro?
E o SIVAM, idéia surgida na ECO 92, se apresenta com uma arma notável, se bem
utilizada pelos amigos azuis, os brasileiros patriotas, conscientes da riqueza,
a deixar para seus descendentes, que a Amazônia guarda em seu interior.
Para ajudar a controlar este mal e tentar eliminá-lo, o SIVAM exercerá
atividades de Controle de Tráfego Aéreo, Defesa Aérea e de Vigilância e
Monitoramento Ambiental, através de 25 radares para localizar aeronaves;
construção de obras civis em 12 localidades, onde o SIVAM se estrutura; 200
plataformas flutuantes para controlar via satélite o estado das águas dos rios;
10 radares meteorológicos; 914 terminais de usuários com telefone, fax,
transmissão via satélite e um computador, 81 estações meteorológicas; 300 rádios
que recebem e enviam mensagens e localizam seu portador e 14 estações detetoras
de raios.
O material usado nas construções foi adaptado à realidade da Amazônia.
Suas instalações se repartem pelo seguintes locais:
Manaus - além do Armazém do SIVAM e outras instalações, numa área de 138.000 m2
situa-se o CVA - Centro de Vigilância Aérea, que cuida da Defesa Aérea.
Tefé – há uma Unidade de Vigilância Transportável e uma Unidade de Comunicações.
Belém - possui um Centro do SIVAM e uma Unidade de Vigilância.
Tiriós – há um Pelotão de Fronteira provisório, naquela fronteira do Suriname,
onde se chega só de avião, mas existe fábrica para o material necessário à
construção.
Jacareacanga - possui uma Unidade de Vigilância.
Porto Velho - possui diversos tipos de radares e a mais completa Unidade de
Vigilância. Ali se encontra a Base Aérea dotada de aviões Super Tucano,
operáveis de dia e à noite. Seu aeroporto é dotado de equipamento de pouso por
instrumentos.
SINOP - possui uma Unidade de Vigilância e um radar transportável para
instalação onde se fizer necessário.
ANÁPOLIS - GO - possui ali sua base o 2º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação, que
opera a Vigilância com cinco aviões R-99 A, destinados à vigilância do Espaço
Aéreo, monitorando o espaço de cima para baixo, com radar sueco, localizando
aeronaves a baixa altura. Opera também três aeronaves R-99 B, destinadas ao
sensoriamento remoto de incêndios, desmatamentos e movimentos na floresta,
dispondo também de radar sueco. Ele opera dia e noite, e seu radar ultrapassa as
nuvens.
O SIVAM se constitui no maior e mais sofisticado projeto de controle ambiental
do mundo sendo dotado de um eficiente Sistema de Comunicações.
Ele constitui um passo gigantesco a serviço da preservação ambiental, do
desenvolvimento sustentável e da manutenção da Soberania do Brasil sobre a
Amazônia Brasileira.
Usamos neste livro algumas figuras que serão explicadas. Em exercícios
militares, o inimigo é tratado por Vermelhos, e os amigos por Azuis. O inimigo
Azul seria um falso amigo Azul que, consciente ou inconscientemente faz o jogo
do inimigo Vermelho. Na Amazônia, os inimigos azuis estão presentes, fazendo o
jogo dos Vermelhos! Confirmar é obra de simples raciocínio e verificação!
E, assim, com o SIVAM, a parte do Exército com responsabilidades no SIPAM
(Sistema de Proteção da Amazônia), tem expressivamente aumentada a sua
capacidade de defender a Integridade e a Soberania do Brasil na área e de
cooperar com nações vizinhas amigas, para que façam o mesmo em relação a elas. E
tudo graças aos esforços das equipes do Comando Militar da Aeronáutica, que há
10 anos trabalham febrilmente para implantar o Sistema.
SIVAM - Em ação desde Julho de 2002
(Dados obtidos da turma AAA pela Internet, egressa do Colégio Naval em 1976 e da
Escola Naval em 1979-http://www.taaa.hpg.com.br).
Segundo Roberto Godoy, o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), identificou
e apreendeu 84 aviões em vôo irregular na região apenas nos primeiros 30 dias de
atividade da rede de radares e sensores eletrônicos. No mesmo período, foram
localizadas 33 pistas clandestinas usadas pelo narcotráfico, por contrabandistas
e garimpeiros ilegais. Um número não revelado dessas instalações já foi
destruído pela Polícia Federal. A média de ocorrências nos períodos seguintes
tem se mantido na mesma proporção.
A maioria dos aviões foi apresada depois do pouso, a princípio por não ter plano
de vôo registrado. "Muitos dos pilotos não eram habilitados. Havia aeronaves sem
documentação ou com homologação claramente fraudada", revelou um dos oficiais da
Aeronáutica envolvidos no processo.
Segundo o mesmo militar, é possível que em algumas situações tenha sido
necessário conduzir o avião em situação irregular ("logo, considerado um
intruso") com o emprego de um turboélice T-27 Tucano, armado, lançado de uma das
bases da Força Aérea Brasileira (FAB) na Amazônia.
O SIVAM entrou em operação em 25 de julho e ainda está na fase preliminar dos
serviços integrados. Durante as primeiras quatro semanas, no fim do ano passado,
entraram em ação quase todas as 25 estações fixas e móveis dos radares de
superfície, combinadamente com dois jatos R-99A de alerta avançado e vigilância,
mais um R-99B de sensoriamento remoto, ambos os modelos fabricados pela EMBRAER,
sobre a plataforma do Emb-145.
Os números iniciais revelam que o trabalho conjunto apresentou resultados
“altamente produtivos", afirma o diretor de mercados de Defesa da EMBRAER para a
América Latina, Nilton Medina.
Em julho, a empresa começa a entregar as primeiras unidades do lote de 76
turboélices A-29 e AT-29 Supertucanos, o avançado avião de ataque leve que será
o braço armado do Sistema de Vigilância da Amazônia. Com capacidade para levar
1,5 tonelada de armamento, é dotado de sofisticados sistemas eletrônicos da
última geração tecnológica, semelhantes aos utilizados nos caças supersônicos
pesados.
Guerrilha rica - O anúncio do bom rendimento inicial do SIVAM é oportuno. A
tensão na fronteira noroeste e norte voltou a crescer depois da identificação de
bases regulares das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) nos
municípios de Letícia - na margem colombiana do rio, diante da brasileira
Tabatinga - e La Tercera, muito próximas da divisa. Nessas localidades estão
abrigadas, na selva, as Frentes 11 e 13 dos rebeldes.
Há dez dias ambas as colunas apareceram citadas em um relatório reservado da
Diretoria de Investigações e Informações do Banco Mundial como bases de
transferência do dinheiro das FARC para compras no exterior. De acordo com o
documento, assinado pelo diretor do grupo de pesquisa estratégica do banco, Paul
Collier, a guerrilha movimentou cerca de US$ 1 bilhão nos mercados financeiros,
nos últimos 20 anos.
Esse dinheiro, "parte de uma atividade econômica que pode chegar a US$ 4
bilhões" é o resultado do pagamento de resgates cobrados pela libertação de
seqüestrados, da extorsão exercida sobre empresários e da venda de uma espécie
de seguro, comprado por organizações multinacionais para garantir imunidade
contra ataques às suas instalações ou dirigentes. O principal segmento na
composição da renda da guerrilha, segundo o documento do Banco Mundial, provém
do crime organizado - as FARC são acusadas de guarnecer os canais de escoamento
de cocaína e heroína rumo aos Estados Unidos e Europa.
Paul Collier apresentou parte desses dados durante uma sessão reservada do Fórum
de Economia de Bogotá, na semana passada. Na opinião do especialista, países
como o Brasil, a Argentina, a Inglaterra "e os centros financeiros
internacionais de legislação branda" deveriam adotar uma política que pudesse
bloquear o ingresso dessas aplicações em seus mercados.
Alerta - Como extensão dessa atitude, seriam aplicadas rigorosas regras de
controle da venda de armas. O Banco Mundial considera que, "enquanto não se
atacarem as fontes de financiamento da guerrilha e dos grupos terroristas, será
impossível enfrentá-los com eficiência".
A recomendação coincide com a divulgação de um alerta da Inteligência militar
dos Estados Unidos. Um informe do Comando Sul do Pentágono sinaliza o interesse
das FARC na compra de helicópteros de ataque leve Defender e de aviões civis que
permitam adaptação de armas.
O Defender é muito ágil e pode ser armado com metralhadoras, foguetes livres e,
eventualmente, mísseis. Negociantes paralelos de equipamentos de defesa têm
oferecido exemplares em bom estado, desmobilizados pela aviação de países da
Ásia, do Oriente Médio e da África.
Quando vai às compras, a guerrilha colombiana é ousada. Uma comissão parlamentar
de inquérito apurou que, de 2000 a 2002, uma quadrilha chefiada por "um
destacado comandante" forneceu aos rebeldes explosivos de alto poder, minas
antiblindado e antipessoal, além de munição de diversos tipos.
Por US$ 10 milhões, o material era desviado da fábrica INDUMIL - uma estatal
controlada pelo Exército.
5ª Parte
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
_______________________________________________
BIBLIOGRAFIA DA HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DA AMAZÔNIA
A seguir, relacionamos as fontes em que procuramos apoio para resgatar e
interpretar, pela primeira vez, a História Militar Terrestre da Amazônia de 1616
à atualidade. Outras fontes, a descobrir-se, poderão ampliar progressivamente o
assunto sobre a História Geral da Amazônia, no qual, segundo o seu maior
historiador, o falecido Arthur César Ferreira Reis, existem muitos ponto a
iluminar.
A presente bibliografia reflete, referentemente a estudos realizados por
militares terrestres sobre a Amazônia, parte da História Militar Terrestre da
mesma, através de trabalhos que foram publicados na BIBLIEx, na revista A Defesa
Nacional, na Revista Militar Brasileira, na Revista do Instituto de Geografia e
História Militar Terrestre do Brasil e na Revista do Clube Militar.
Aqui se impõe uma síntese biográfica do maior historiador da Amazônia
Brasileira, com quem tivemos a honra de privar e muito aprender no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, de 1979 a 1993, por 14 anos.
Arthur César Ferreira Reis (1906-93, síntese biográfica)
Arthur César Ferreira Reis nasceu em Manaus em 8 Jan 1906, onde viveu a maior
parte de sua vida, tendo sido governador de 1964 a 1967. Formou-se em Direito em
1927, no Rio de Janeiro, pela atual UFRJ. Foi fundamentalmente um professor de
História em Manaus e no Rio de Janeiro.
Com a revolução vitoriosa de 30, chefiou o Gabinete da Junta Governativa
Revolucionária do Amazonas. Foi diretor de Instrução Pública no Amazonas, de seu
Departamento de Educação e Cultura; representou o Pará no Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional em 1940.
Foi superindente do SPEVEA, 1953/55, e Diretor do IPEA, 1950; foi Diretor do
Departamento de História e Documentação da Guanabara, 1961, Presidente e membro
do Conselho Federal de Cultura e membro da Comissão de Textos de História do
Ministério das Relações Exteriores.
Entre suas condecorações registro a Medalha do Pacificador, Grã-Cruz do Mérito
Militar e méritos Aeronáutico e Naval. Foi vice-presidente do IHGB e seu grande
sócio benemérito.
Colaborou em História em diversas revistas: RIHGB, Cultura, Província de São
Pedro, Revista Brasileira da ABL, Revista de História da USP, Carta Mensal da
CNC e outras.
Escreveu Américo Jacobina Lacombe, nas orelhas, ou abas, de um livro de Arthur
César:
“Arthur César nunca tomou a pena a não ser com o seu coração e mente voltados
para a sua imensa e misteriosa Amazônia, região em que veio à luz. E tudo o que
sobre ela escreveu está dominado por um esclarecido, sincero, profícuo e
desinteressado amor à Amazônia, a região mais discutida, mais atraente e mais
futurosa da América”.
Em que pese ter sido até o presente o maior historiador da Amazônia, registrava
em seus escritos que muito ainda faltava para resgatar satisfatoriamente a
História da Amazônia Brasileira. A sua bibliografia parcial, relacionada a
seguir, explica a razão da presente referência.
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(artigo de Humberto Trezi e Rodrigo Lopes).
Lista especial na REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO.
O AMAZONAS NA RIHGB, POR VICENTE TAPAJÓS.Homenagem aos 150 anos do IHGB,
dedicado a Arthur Cézar Ferreira Reis, mestre e amigo. Existe um índice na Sala
de Consulta do IHGB. (Extrato de interesse, a seguir).
1) RIHGB, Tomo II, 3º e 4º trim, 1840, Cap IX, Das guerras dos índios. Motivos:
Antropofagia; instigados pelos brancos e por causa de mulheres, o mais comum.
Registra as táticas guerreiras que usavam.
2) RIHGB, Tomo IV, V.4, nº 16, Jan 1843.
Provisão régia para construção da Fortaleza de São Joaquim do Rio Branco.
Finalidade: Defesa contra os holandeses, saídos do Suriname para fazerem
escravos ou comprarem escravos (índios?).Ordem para despacharem canoas de
observação para o norte a partir do forte. Ass: Francisco Xavier de Mendonça
Furtado.
3) RIHGB, 2a série, Tomo V, v.13, nº 18, 2o trimestre 1850.
Cap III - Tentativas espanholas de se estabelecerem no corte do Rio Branco. Cap
IV - Chegada ao rio Negro da notícia da tentativa espanhola de infiltração no
rio Branco. 4) Tomo 18, nº 18, 2º trim 1855.
Viagem de Hilário Gurjão desde a barra do Rio Negro até Cucui p.171/189 (Missão:
construir um quartel em Moarabitanas, perto de Cucuí. Relata notícia do Forte
Moarabitanas, 12 Fev 1855. Mais tarde general morto em Itororó).
Tomo 24 .V.24, 4º trim 1861 p.617/683
LOBO d’ALMADA, Manoel da Gama. Descrição relativa ao território do Rio Branco em
1787 referência a Espanhóis no Orinoco, Holandeses no Suriname e Franceses em
Caiena. Refere-se ao Forte São Joaquim e sua guarnição de 34 homens.
Tomo 51, v. 76, 4º folheto, 1886,p 15/165.
Sugere envio de pescadores para sustentar as guarnições dos fortes da Fronteira.
(Ver Governo Militar).
7) Tomo Especial, Anais da Imprensa Periódica. Parte II, V.1, p.5/891, 1908.
Jornais e revistas da Amazônia, 1851/1908.
8) V.175, 1940, p. 217/330.
Ver: paulistas na Amazônia na cata de ouro nos rios Tapajoz, Madeira e Tocantins
e lutas contra índios no vale do rio Branco. Francisco Xavier de Morais capturou
132 índios.
9) V.193 out/dez 1946 Arthur Cesar Reis .
A Incorporação da Amazônia ao Império .A Amazônia torna-se brasileira com as
ações de Grenfell e Cochrane. As agitações.
10)V.206, Jan/Mar 1950.
O processo de emancipação da Amazônia p.158/170
V 251, Abr/Jun 1961.
De Marcos Carneiro de Mendonça. O caminho de Mato Grosso e as
fortificaçõespombalinas da Amazônia, p.3/32.
12) V.344, Jul/Set, 1984.
De Arthur Cézar Reis. As fortificações da Amazônia no Período Colonial, p.
217/227. Importante.
13) V.347, Abr/Jun, 1985.A Cabanagem, p.7/29, de Arthur César Reis.
ESTUDOS MILITARES TERRESTRES BRASILEIROS SOBRE A AMAZÔNIA, POR ALUNOS DA ESCOLA
DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, PERÍODO 1969-2002
Dentre as numerosas e alentadas monografias produzidas por alunos da Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército, 1969-99, como exigência curricular,
alinhamos as seguintes, relacionadas com a Amazônia Brasileira, as quais
pertencem hoje à História Militar Terrestre da Amazônia, que este trabalho
abordou pioneiramente.
Em muitas delas está presente o que caracterizamos como História Militar
Crítica, à qual deve estar capacitado de realizar o profissional militar do
Exército, em seu respectivo nível cultural militar.
Ou seja, extrair de subsídios de História Descritiva e de História Militar
Crítica ensinamentos doutrinários militares, à luz dos fundamentos da crítica
que escolheu, conforme abordamos em Como estudar e pesquisar a História do
Exército Brasileiro. Brasília: EME/AHIMTB/EGGCF, 2000. 2ª edição.
Nota: Os termos Lassidão e Usura, não mais usados pela ECEME, correspondem ao
atual termo guerra de Resistência. Esta é a estratégia indireta, onde o oponente
mais fraco pode enfrentar e derrotar militarmente o oponente mais forte. Na
guerra de Resistência, na luta do fraco contra o forte, o mais fraco pode
compensar a fraqueza de suas forças materiais com o uso de suas forças morais,
caracterizadas pela vontade de lutar.
Enquadra-se como guerra de Resistência a Guerra Brasílica, levada a efeito
contra o invasor holandês, a qual abordamos em nosso livro As Batalhas dos
Guararapes –análise e descrição militar. Recife: UFPE, 1971.2v e disponível em
“Livros” no site www.resenet.com.br/users/ahimtb.
E igualmente a “Guerra à gaúcha”, que abordamos em A Guerra da Restauração do
Rio Grande, 1774/1776. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1994 e também em O Exército
Farrapo e os seus chefes. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1992.2v e em A Guerra à
gaúcha in: Regionalismo sul-riograndense. Porto Alegre, Círculo de Pesquisas
Literárias/Nova Dimensão, 1996.
Enfim, Guerra de Resistência é a estratégia do fraco contra o forte, segundo a
definia o então Coronel Golbery do Couto e Silva.
Lista das Monografias por autores em ordem alfabética
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organização, materiais peculiares, limitação e formas de emprego. 1983, 28 f.
VAZ, Evandro Augusto Pamplona. Situação da República Cooperativa da Guiana e do
Suriname, seus reflexos no Brasil. 1988, 95 f.
VEIGA, Paulo Cezar. Análise da adequação do C 100 – 10, a logística na Amazônia.
1998, 41 f.
VIDAL, Evandro Bartholomeu. O Projeto Calha Norte, importância. 1991, 72 f.
VOGT, Cláudio Frederico. Amazônia, sugestões para a defesa, ocupação,
desenvolvimento e integração. 1995, 58 f.
WANDERLEY NETO, Arthur de Souza. A redivisão da Amazônia em territórios federais
do Rio Negro e Alto Solimões, reflexos na segurança. 1999, 42 f.
ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL
A Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), foi por nós fundada
há sete anos em Resende, A Cidade dos Cadetes, em 1o de março de 1996. Tem por
fim desenvolver a História das Forças Terrestres do Brasil: Exército, Fuzileiros
Navais, Infantaria da Aeronáutica, Forças Auxiliares, Guarda Nacional,
Voluntários da Pátria e de outras forças que as antecederam desde o
Descobrimento.
Com sede em Resende, em dependência da AMAN, mas de amplitude nacional, tem como
patrono o Duque de Caxias e, como patronos de cadeiras, historiadores militares
terrestres assinalados, por vezes também ilustres chefes militares como os
marechais José Pessoa, Leitão de Carvalho, Tasso Fragoso, Mascarenhas de Moraes,
Castelo Branco e Gen Aurélio de Lyra Tavares. Foram consagrados em vida alguns
patronos de cadeiras, em razão de notáveis serviços prestados à História Militar
Terrestre do Brasil.
Figuram como patronos civis o Barão do Rio Branco, Dr. Eugênio Vilhena de
Morais, Gustavo Barroso, Pedro Calmon e José Antônio de Mello Neto, pelas
contribuições assinaladas à História Militar Terrestre do Brasil. A Academia
tem, como 1o presidente de Honra, o Comandante do Exército, como 2º Presidente
de Honra, o chefe do DEP, 3º Presidente de Honra, o comandante da AMAN e 4º
Presidente de Honra, o Presidente da AEDB.
A Academia possui como órgão de divulgação o Informativo O GUARARAPES, que é
dirigido a especialistas no assunto e a autoridades com responsabilidade de
Estado, pelo desenvolvimento deste assunto de importância estratégica, por
gerador da perspectiva e identidade históricas das Forças Terrestres do Brasil
e, principalmente, pelo desenvolvimento de suas doutrinas militares.
Essa divulgação é potencializada através de vários sites e, em espacial, do site
http://www.resenet.com.br/users/ahimtb, já com cerca de 18.000 visitas onde
implantou vários livros e artigos entre os quais As batalhas dos
Guararapes,relacionadas com o Dia do Exército, e Como estudar e pesquisar a
História do Exército Brasileiro, recém reeditado pelo EME. Em Resende, divulga
seus trabalhos em “Caserna”, no Portal Agulhas Negras no sitewww.resenet.com.br.
A Academia desenvolve a História militar crítica e não descritiva em duas
dimensões:
A 1a - a clássica, como instrumento de aprendizagem da Arte Militar com vistas
ao melhor desempenho constitucional das Forças Terrestres, com apoio em suas
experiências passadas.
A 2ª - com vistas a isolar os mecanismos geradores de confrontos bélicos
externos e internos para que, colocados à disposição das lideranças civis, da
OEA e da ONU, estas evitem futuros confrontos bélicos, com todo o seu rosário de
graves conseqüências para a Sociedade Brasileira.
A Academia vem dando especial atenção à Juventude masculina e feminina que
estuda nos sistemas de ensino das Forças Terrestres Brasileiras, com vistas a
promover encontro dela com as velhas gerações e as atuais de historiadores
militares terrestres e soldados terrestres e, além disso, tentar despertar no
turbilhão da hora presente, no insondável 3º milênio, novas gerações de
historiadores militares terrestres, especialidade hoje em vias de extinção por
falta de apoio e sobretudo estímulo editorial.Constatar é obra de simples
raciocínio e verificação!
É assunto que merece, salvo melhor juízo, séria reflexão de parte de lideranças
das Forças Terrestres com responsabilidade funcional de desenvolver a identidade
e a perspectiva históricas das mesmas e, além disso, as suas doutrinas
militares, expressivamente nacionalizadas, calcadas na criatividade de seus
quadros e em suas experiências históricas bem sucedidas, o que se impõe a uma
grande nação, potência, ou grande potência do 3º milênio.
No desempenho de sua proposta, realizou nos últimos sete anos sessões solenes
junto à juventude militar terrestre brasileira, a par de posses de novos
acadêmicos do Exército, Fuzileiros Navais, Infantaria da Aeronáutica e Polícias
Militares, que vêm progressivamente mobilizando e integrando em sua cruzada
cultural, e centralizando subsídios em seu Centro de Informações de História
Militar Terrestre do Brasil em Resende, em dependência cedida pela AMAN.
Complementarmente, procura a Academia apontar aos jovens, seu público alvo, os
homens e instituições que lutam patrioticamente, a maioria das vezes sem nenhum
apoio, para manter acesas e vivas as chamas dos estudos de História do Brasil e
seus desdobramentos, com o apoio na análise racional e não-passional de fontes
históricas, íntegras, autênticas e fidedignas, que com grandes esforços
garimpam, em vez das manipulações históricas predominantes entre nós feitas por
historicidas, fruto das mais variadas paixões, fantasias e interesses, o que Rui
Barbosa já denunciava em seu tempo. Confirmar é obra de simples verificação e
raciocínio. E se os jovens disto se convencerem, e exercerem o seu espírito
crítico, será meia batalha ganha.
A Academia vem atuando, em escala nacional, com representantes em todo o Brasil,
em suas várias categorias de sócios e já possui em Brasília, no CMB, a Delegacia
Marechal José Pessoa; em Porto Alegre no CMPA, a Delegacia General Rinaldo
Pereira da Câmara; em Fortaleza, no CMF, a Delegacia Cel José Aurélio Câmara; no
Rio de Janeiro, no IME, a Delegacia Marechal João Baptista de Matos. Em
Curitiba, no CMC, a Delegacia Gen Luiz Carlos Pereira Tourinho; em Campinas, a
Delegacia Marechal Mário Travassos; em Caxias do Sul, no Grupo Conde de Caxias,
a Delegacia Gen Morivalde Fagundes e em Pelotas, no 9º BI Motorizado, a
Delegacia Fernando Luiz Osório, etc. Em outros locais, estabelece sócios
correspondentes e em São Paulo, na Polícia Militar, a Delegacia Cel Pedro Dias
de Campos, na qual é cultuada a memória do General Miguel Costa, em verdade o
comandante da Grande Marcha que passou a História por manipulação ideológica bem
sucedida de Coluna Prestes.
A Academia em seus sete anos de atuação se orgulha das realizações concretizadas
e ressalta os seguintes trabalhos em curso:
O desenvolvimento do Projeto História do Exército na Região Sul. Já publicou a
História da 3a RM, em 3 volumes, a do CMS, a da 6a Divisão de Exército, a da 8a
Brigada de Infantaria Motorizada, a da 3a Brigada de Cavalaria Mecanizada, a da
6a Brigada de Infantaria Blindada e a da Artilharia Divisionária da 6ª DE
(AD/6). E já pesquisa a História da 2a Brigada de Cavalaria Mecanizada, prevista
para este ano. E tem consciência da importância desta contribuição, não sabendo
se é avaliada em sua real projeção.
Já desenvolveu para a Escola de Estado-Maior do Exército, para seu projeto de
ensino à distância, os compêndios integrados: Brasil-Lutas Externas, 1500-1945 e
Brasil-Lutas Internas até nossos dias. E agora lança Amazônia Brasileira–a
conquista, a consolidação e a manutenção história militar terrestre da Amazônia,
1616-2003,que aborda as lutas internas e externas que a envolveram, tudo na
tentativa de ajudar amelhor orientar o esforço de defesa daquela estratégica
área no insondável 3º Milênio.
Lançou, em 2003, a obra Caxias e a Unidade Nacional, comemorativa do
bicentenário de seu patrono e também o do Exército, e 2002-175 anos da Batalha
do Passo do Rosário, ilustrada com mapas coloridos didáticos.
Eis, portanto, leitores e leitoras, uma síntese do perfil sintético da Academia
de História Militar Terrestre do Brasil e de suas vitórias, sem mencionar o
valioso acervo que reuniu em seu modestíssimo Centro de Informações de História
Militar Terrestre do Brasil, onde em paralelo possui valioso acervo
bibliográfico sobre as histórias da AMAN, de Resende e Itatiaia.
DADOS DO AUTOR
Coronel de Engenharia e de Estado-Maior Reformado Cláudio Moreira Bento: É
natural de Canguçu - RS, onde nasceu em 19 Out 1931. Filho de Conrado Ernani
Bento e Cacilda Moreira Bento. Asp de Eng em 15 Fev 1955, da Turma Aspirante
Mega. Comandou o 4º BE de Combate em Itajubá - MG no biênio 1981-82 e dirigiu o
Arquivo Histórico do Exército de 1985-91, tendo, como oficial de Estado-Maior,
servido no Comando Militar do Nordeste, no Estado-Maior do Exército, no
Departamento de Engenharia e Comunicações, no Comando Militar do Sudeste, na
Academia Militar das Agulhas Negras, como instrutor de História Militar, de
1978/80 e na 1ª Região Militar.
Historiador militar consagrado, com mais de 65 títulos publicados (livros,
plaquetas, álbuns) e cerca de mais de 1.000 artigos em periódicos civis e
militares do Brasil e EUA, sobre História Militar e, em especial, a do Exército.
Integra as principais instituições nacionais de História: Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, 1978 (sócio emérito); Instituto de Geografia e História
Militar do Brasil (membro benemérito); Academia Brasileira de História e as
academias de História de Portugal, da Real de Espanha, da Argentina e os
institutos Histórico e Geográfico do Uruguai, Bolivariano do Rio de Janeiro e o
Marechal Ramon Castilha Brasil-Peru. Integra instituições históricas no Rio
Grande do Sul (IHGRGS, CIPEL, IHTSL, IHGG, São Luis Gonzaga, IHGPel e Academia
Canguçuense de História, a qual fundou em 1988 e a preside) e ainda o IGHSC,
IHGParaná, IHGSP, IHGMG, IHGMT, IHGDF, IHGPE, IHGParaibano, IHGRN, IHGCE e os de
Sorocaba e as academias de História de Itajubá -MG, de Resende-RJ, de
Itatiaia-RJ e a de Barra Mansa –RJ .
Em 1986, fundou e preside o Instituto de História e Tradições do Rio Grande do
Sul (IHTRGS) e em 1996 fundou a Academia de História Militar Terrestre do
Brasil, em Resende-RJ, a qual funciona em instalações cedidas pela Academia
Militar das Agulhas Negras.
Possui sete prêmios em concursos literários no Brasil e EUA, onde se destacam:
pela BIBLIEx, 1o lugar com O Exército e a Abolição, O Exército na Proclamação da
República e O Negro na Sociedade do Rio Grande do Sul, (1º lugar em Concurso
Nacional). 1º lugar pela Military Review com a pesquisa O Exército no
desenvolvimento- o caso brasileiro; 2º prêmio com O Gaúcho fundador da Imprensa
Brasileira, pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul e Associação Rio
Grandense de Imprensa; 2º lugar em concurso nacional com a obra Estrangeiros e
descendentes na História Militar do Rio Grande do Sul, comemorativo ao Biênio da
Colonização e Imigração para o Rio Grande do Sul em 1975-76. Foram destaque
especial em 1989 e 1990 pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial
(ABERJ) suas obras Quartéis Generais das Forças Armadas do Brasil, A Guarnição
Militar do Rio de Janeiro na Proclamação da República, Escolas de Formação de
Oficiais das Forças Armadas (FHE-POUPEx) e A História do Brasil através de seus
fortes (GBOEx), que decoram paredes de comandos e tropas espalhados por todo o
Brasil.
Sua bibliografia parcial consta do Dicionário de historiadores brasileiros, v.1,
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Dicionário Biobibliográfico
Gaúcho. A biobibliografia está completa no site
www.resenet.com.br/users/ahimtb,que publica também suas obras mais recentes.
Colabora com a Revista Eletrônica sobre História Militar Terrestre do Brasil no
site www.militar.com.br. O e-mail é bento@resenet.com.br, ou
ahimtb@resenet.com.br.
O Cel Cláudio Moreira Bento, por recente legislação passou a ser consagrado
Mestre em Aplicações Militares pela ESAO e Doutor em Aplicações, Planejamento e
Estudos Militares.
Como homenagem ao Bicentenário de Caxias em 2003, lançou o livro Caxias e a
Unidade Nacional, mais 2002 - Os 175 anos da Batalha do Passo do Rosário e
História da Artilharia Divisionária da 6ª DE.
É Comendador da Ordem do Mérito Militar, entre outras condecorações.
POSFÁCIO - A AMAZÔNIA BRASILEIRA
Muito se fala sobre essa região; muito se escreve e muito se comenta.
Entretanto, a Amazônia é muito pouco conhecida para a grande maioria dos
brasileiros. E só se ama o que se conhece.
Que existe um movimento internacional em prol da internacionalização da
Amazônia, é um fato incontestável! Caso contrário, não se ouviria expressões
proferidas por autoridades internacionais como “a Amazônia é um patrimônio da
humanidade” ou formulações de doutrinas, adotadas por grandes potências, do tipo
“soberania compartilhada”, referindo-se àquela região.
Por outro lado, afora algumas iniciativas de sucesso promovidas por alguns
governos para integrar a região ao restante do País, o Estado não tem
desenvolvido políticas eficazes e continuadas que favoreçam o desenvolvimento
sustentado daquela região. Em grande parte da área, o Estado está representado
apenas por frações das Forças Armadas que estão presentes na região há mais de
dois séculos.
Para fazer frente a esse quadro e, se eventualmente, tivermos que defender a
posse dessa região tão arduamente conquistada por nossos antepassados, faz-se
necessário que a nação brasileira tenha vontade de manter a Amazônia como parte
do território nacional. Será insuficiente o esforço de alguns setores, mesmo das
Forças Armadas, se não houver a vontade da nação. É imperioso que a “vontade
nacional” ganhe proporções tal como considerar aquela região tão brasileira como
qualquer outra, tão importante para a nação como os pampas gaúchos, o pelourinho
na Bahia, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, ou as belas
praias do nordeste brasileiro etc. Sem esse ingrediente - a vontade nacional -
que nos dias atuais necessita ser muito fortalecida, nós - nação brasileira -
corremos um sério risco: de termos que compartilhar, no futuro, com outras
nações, a soberania da Amazônia!
A selva nos une!
A Amazônia nos pertence!
Selva!
Gen Bda Claudimar Magalhães Nunes
Comandante da Academia Militar das Agulhas Negras e 3o Presidente de Honra da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil. Comandou a 1ª Brigada de
Infantaria de Selva, com sede em Boa Vista – Roraima. no período de 01 Set 2000
a 07 Jan 2003.