PROFESSOR ANTÔNIO JOAQUIM BENTO (1832-1915)

(O 1º Professor régio para meninos do município de Canguçu em 1857)

Cel Cláudio Moreira Bento (x)

 

Criado e instalado o município de Canguçu em 1857, foi nomeado, como seu primeiro professor régio para meninos, o jovem Antônio Joaquim Bento nascido em Pelotas em 17 de maio de 1832 e batizado na atual catedral São Francisco de Paula em 14 de julho de 1832 e filho do casal Antônio Bento e Cecília Matos de Guimarães, segundo sua certidão de idade a nós fornecida pela grande historiadora pelotense Heloisa Assumpção Nascimento.

Antônio Bento, segundo seu bisneto Adail Bento Costa, era natural do Conselho de Moncorvo em Portugal e chegou ao Brasil integrando a Divisão de Voluntários Reais, integrada por muitos veteranos das guerras contra Napoleão e que conquistou o Uruguai em 1821 para Portugal, culminando com a sua incorporação em 1825 como Província Cisplatina. Sua mãe Cecília era filha do português José Mattos de Guimarães, por natural da cidade de Guimarães e foi quem construiu um moinho em Piratini que deu o nome de arroio do Moinho e em 1811/12 construiu a primeira igreja de Piratini que foi a igreja da capital farrapa.

Ao término da Guerra Cisplatina 1825/28, os alferes Antônio Bento e Vicente Ferrer de Almeida, desmobilizados do Exército do Sul se fixaram em Piratini onde casaram com duas irmãs Mattos de Guimarães. E foi com o apoio de sua tia e de seu tio político Vicente Ferrer de Almeida, primeiro funcionário da Câmara de Canguçu em 1857, que o jovem professor Antônio Joaquim aos 22 anos se estabeleceu em Canguçu. Sua habilitação como professor a adquiriu com seu pai que durante a Revolução Farroupilha, segundo o jornal farrapo O Povo, foi o primeiro professor da Alegrete farrapa e nomeado pela República Rio Grandense.

O avô materno do professor Antônio Joaquim, José Mattos Guimarães, foi um dos signatários, junto com Bento Gonçalves, Bernardo Pires e de Serafim José da Silveira da instalação de Piratini.

Projetando-se hoje a descendência de José de Mattos de Guimarães ele é nosso tetravô bem como de Odilon de Almeida Meskó, por sermos bisnetos de duas irmãs Mattos de Guimarães. O professor Antônio Joaquim Bento casou com a jovem Isabel de tradicional família cerritense originária de Bragança e que ali deram origem aos Vaz de Bragança. Ele residiu inicialmente em casa que existiu no fundo e a esquerda do prédio ao lado da igreja.

Prédio este onde também residiu e onde funcionou depois de 1861 a sua escola régia para meninos e que ultimamente serviu de sede da Secretaria de Educação e Cultura de Canguçu.

Além de professor teve a iniciativa de no antigo sobrado velho que existiu no local da Câmara Municipal. onde inicialmente funcionou a sua escola para meninos organizar um Grupo Dramático que encenou pioneiramente em Canguçu peças de teatro, no que deve ter se inspirado seu aluno André Leão Puente para encenar em Bagé a peça O mártir da Independência.

Se destacou como notável orador comunitário. Ao retornar da Guerra do Paraguai o Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional de Canguçu ao comando de seu grande amigo Ten Cel Theóphilo de Souza Mattos e em tributo a Lei do Ventre Livre em cerimônia organizada pelo Clube Abolicionista local , ele foi o orador da cerimônia de que resultou a liberdade de duas escravas meninas Maria da Conceição Batalha de 8 anos filha de sua escrava Josefa e de Elvira de 7 anos irmâ da aguateira D. Lindinha , mãe de Maria que viveu com Romeu irmão de Mário Silveira. Ato que a partir daí consagro o local da cerimônia com nome de Cerro da Liberdade, este um monumento canguçuense natural que foi arrasado sob protestos de Marlene Barbosa Coelho, Clóvis Rocha Moreira ao que recordo, restando a nós tirar uma foto quando o arrasamento estava pela metade.

Segundo sua neta Leontina Aguiar Valente de memória privilegiada Antônio Joaquim Bento mandou colocar o seguinte epitáfio no túmulo de sua escrava Josefa e mãe preta que ajudara a criar seus filhos, segundo apurou Marlene Barbosa Coelho.

" Aqui jazem os restos mortais de uma mãe preta, exemplo de amor e bondade, Josefa ela chamou-se em vida, e Santa se chamara na Eternidade."

Para Antônio Joaquim Bento foi comum com advogado licenciado proferir discursos em festas sociais, como casamentos nos quais, com freqüência, era dada liberdade a escravos, como parte da cerimônia, conforme registros de jornais de Pelotas a nós fornecidos pelo Major Ângelo Pires Moreira. Atuou igualmente como criminalista bem sucedido em vários júris locais.

Ao grande tribuno Gaspar Silveira Martins visitar Canguçu coube ao professor Antônio Joaquim Bento, como líder liberal local, fazer-lhe a recepção em nome de Canguçu.

Foi construtor de casas como a que pertenceu a suas netas Diná Bento Barbosa e Daura Bento e mais a defronte a esta, conforme nos contou o marceneiro seu França que com ele trabalhou. Foi igualmente Chefe da Seção de Estatística de Pelotas por volta de 1896. Foram seus filhos:

- Hermes Laranja Bento que foi Oficial de Órfãos e Ausentes e avô entre outros de Maria Elvira Barbosa , esposa de Basílio Barbosa atual secretário de Educação de Canguçu e de Maria Cândida S. Terres e filhas de Diná Bento Barbosa e Dulce Bento Shepft(?)

- O Cel Genes Gentil Bento que foi intendente de Canguçu de 1905/1917,Chefe de Policia do Estado e Secretário do Presidente Dr Antônio Augusto Borges de Medeiros e pai de Conrado Ernani Bento.

- O Dr José Vaz Bento( Cazuza), que foi o primeiro engenheiro agrônomo a formar-se pela Faculdade Eliseu Maciel e nela lecionar.

-Lydia, esposa de Genuíno Aguiar e pais de Leontina Aguiar Valente, com expressiva descendência local, e mais Maria Aguiar Amaral, mãe de Coleta ,Álvaro e Jaime, com descendentes.

-Tídia (Chininha) esposa de Maneco Costa e mãe do artista Adail Bento Costa que reconstruiu a igreja de Canguçu e planejou e dirigiu a construção da casa de José Moreira Bento.

Antônio Joaquim Bento fora vice Provedor da Irmandade Conjunta do Santíssimo Sacramento e de N.S da Conceição da Igreja Matriz de Canguçu, cuja atuação para tentar recuperar as terras que pertenceram a N.S da Conceição abordamos na obra : Os 200 anos da Igreja Matriz N. S da Conceição de Canguçu. Edição entregue a seu trineto Luiz Carlos Valente da Silveira, então presidente da Paróquia. Nesta condição lhe coube requerer um terreno para a construção do atual cemitério de Canguçu que até então era usado o cemitério no interior ,na frente e principalmente no local onde hoje se ergue o Colégio Estadual Irmãos Andrade.

O professor Antônio Joaquim Bento faleceu aos 83 anos em 11 de junho de 1915, aniversário da Batalha de Riachuelo ,vencida pelo Almirante Barroso, sendo sepultado a direita de quem entra no cemitério. Segundo nos contou seu neto, Adail Bento Costa o professor Antônio Joaquim Bento membro do Partido Liberal, se correspondia com o General Osório como seu eleitor, e foi candidato certa feira a deputado provincial.

Ao falecer o jornal Correio Mercantil de Pelotas em nota resgatada pelo Major Ângelo Pires Moreira fez extenso registro das pessoas que compareceram ao sepultamento e enviaram cartões e telegramas de pêsames e registrando a certa altura:

"O que Canguçu possui de mais seleto e mais distinto acompanhou o falecido até a sua última morada. Esposo e pai amantíssimo, amigo dedicado e dotado de um espírito superior, o falecido deixou no coração de todos que o conheceram e que com ele conviveram, um vácuo de saudade imorredoura e de profunda mágoa pelo seu desaparecimento."

Enviaram telegramas de pêsames entre outros o Presidente do Estado Dr Borges de Medeiros, Protásio Alves, André da Rocha, Joaquim Luiz Osório. Entre o que enviaram grinaldas para o esquife registre-se seu afilhado Silvino Freitas pai de nosso velho amigo Francisco Ávila Freitas.

Hoje seu retrato e de sua esposa figuram no Museu Municipal levado pela Professora Marlene Barbosa Coelho .E no livro do município destinado ao registro de posses em cargos públicos ,existente no citado museu, o seu termo de posse abre o livro.

Mas seu nome foi esquecido por Canguçu, como o mestre das primeiras gerações de canguçuenses, entre os quais se destacaram por sua projeção local e fora de Canguçu o Arcebispo D.Otaviano de Albuquerque, André Leão Puente, seu filho Coronel Genes Gentil Bento, o Cel Leão Silveira Terres e o Tenente Coronel Carlos Norberto Moreira, hoje consagrados patronos de cadeiras na Academia Canguçuense de História.

Em que pese a grande projeção de sua obra não existe em Canguçu a não ser segundo a falecida historiadora Professora Marlene Barbosa Coelho, que pesquisou sua vida, o Centro Cívico Antônio Joaquim Bento da U.E.E João de Deus Nunes, nem uma escola, edifício ou rua com o seu nome e que lhe faça justiça a enorme projeção de sua obra como professor pioneiro de Canguçu, e marco inicial do grande edifício educacional construído em Canguçu desde 1857, onde entre seus vários descendentes professores registre- se sua tetraneta e acadêmica da ACANDHIS Maria Helena Fonseca Rodrigues . Votos de que lhe seja feita justiça histórica a altura de seus méritos.

(X) Acadêmico presidente da Academia Canguçuense de História

 

PS: A presente estudo fruto de nossas pesquisas para a qual concorreram dados fornecidos pelos historiadores J. Lopes Neto, Heloísa Assumpção Nascimento, Major Ângelo Pires Moreira, Marlene Barbosa Coelho e netos do professor Antônio Joaqui, Leontina Aguiar Valente e Adail Bento Costa.