BICENTENÁRIO DO BRIGADEIRO ANTONIO DE SAMPAIO

Cel Cláudio Moreira Bento(X)

        

        O dia 24 de maio de 2010 assinala os 200 anos de nascimento, em Tamboril- Ceará, do Brigadeiro António de Sampaio, o Bravo dos Bravos da Batalha de Tuiutí  que foi  a maior batalha campal travada na América do Sul.

        Ele foi consagrado, pelo Decreto nº 51.429, de 13 de março de 1962, como o Patrono da Arma de Infantaria do Exército Brasileiro. Arma de Infantaria, a rainha das armas e em cujo seio ele se forjou e se destacou sobremodo como bravo e modelar líder de combate, instrutor e disciplinador da Infantaria Brasileira, à frente da qual, representada pela sua 3ª Divisão  – a “Divisão Encouraçada”, teve seu glorioso encontro com a glória militar em 24 Mai 1866, na Batalha de Tuiutí, no dia do seu 56º aniversário. Ali, então, a sua 3ª Divisão se constituiu em fator decisivo para a vitória, em que pesassem os três ferimentos recebidos, que determinaram sua morte, depois de 43 dias de grandes sofrimentos, em 06 Jul 1866, a bordo do vapor "Eponina" próximo a Buenos Aires onde esteve sepultado cerca de 3 anos antes de ser exumado e retornar ao Brasil.

          Registre-se o fato de quatro cavalos que montou, durante a resistência a todo o custo que liderou, terem tombado por perfurações de balas e baionetas inimigas. E  ainda  o fato  de sua heróica “Divisão Encouraçada” haver concorrido com 33% das baixas brasileiras neste dia, por haver se constituído em ponto chave da defesa aliada.

          Sampaio chegou de Pernambuco ao Rio Grande do Sul ao final da Revolução Farroupilha, aos 35 anos. E no comando da 8ª Companhia, destacada do 4º Batalhão de Infantaria, chegado de Pernambuco para guarnecer a fronteira em Jaguarão, ele foi enviado para a vila de Canguçu. E, segundo os historiadores General Antonio Rocha Almeida, Mallet Jobim e Hugo Ramirez, permaneceu por cerca de 4 anos na então vila de Canguçu, subordinada  à Piratini, e como instrumento de consolidação da Paz de Ponche Verde, próximo da citada Piratini e de Caçapava, antigas capitais da República Rio-Grandense (1836-45).

       

 O citado Hugo Ramirez, ex-presidente do Conselho em discurso homenagem às autoridades  militares do III Exército,( atual CMS) em churrasco na Estância do Minuano, no Dia da Infantaria de 24 Mai 1971 falou, à certa altura:

         “Tanto se agauchou esse nobre cearense que casou com dama natural de Canguçu, casando na sede de sua unidade em Jaguarão, formando família com filhos gaúchos, passando a nos amar, depois de nos compreender e se identificar nestas plagas com o mesmo anseio de brasilidade que percorre a nação desde o Amazonas”.

        A concluir-se do General Antônio da Rocha Almeida em Vultos da Pátria volume 1, o Capitão Sampaio casou-se em Jaguarão com a jovem Júlia dos Santos Miranda, de Canguçu. Local onde a conhecera, namorara e noivara, durante os cerca de 4 anos que ali comandara seu destacamento.

       Sabe-se hoje que ele teve, como seu Posto de Comando, a cadeia pública, mandada construir em 1843 pelo comandante da Ala Esquerda do Exército de Caxias, que teve aquela, então vila Canguçu , por Base de Operações. Cadeia que só foi demolida cerca de um século mais tarde e que ficava no local onde hoje se ergue o Teatro Municipal. Era subordinado, Sampaio, à 2ª Brigada, esta ao comando do Cel Manoel Marques de Souza III, futuro Conde de Porto Alegre, que seria o seu comandante superior na Batalha de Monte Caseros em 2 de fevereiro de 1852, como comandante da Divisão Brasileira.

        A seguir, Sampaio empenhou-se a fundo no comando sucessivo de batalhões e brigadas de Infantaria. Em pouco se transformou num consumado condutor de homens, conhecedor profundo do terreno e mestre em adestrar e empregar a Infantaria Brasileira. Combateu na guerra contra Oribe e Rosas (1851-52) quando participou da Batalha de Monte Caseros, como integrante da Divisão Brasileira, ao comando do agora Conde de Porto Alegre, já citado.

      Comandou um Batalhão da Divisão de Observação que penetrou em Montevidéu em 07 Mai 1859, a pedido do Presidente oriental Venâncio Flores. Na guerra contra Aguirre, do Uruguai, teve atuação destacada à frente de uma brigada, na conquista da cidade uruguaia de Paissandu, o que lhe valeu a sua promoção a brigadeiro.

      Durante a guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-70), que fez como oficial-general, teve atuação destacada até Tuiutí.

      Sobre o seu conceito e o de sua tropa escreveu, em Reminiscências da campanha do Paraguai, Dionísio Cerqueira, o maior cronista deste conflito, que foi integrante da Divisão Encouraçada e subordinado de Sampaio:

 

      "A idéia de eu passar para a Infantaria não me abandonava. Esta arma exercia sobre mim indizível fascinação. Quando passava um daqueles belos batalhões da Divisão Sampaio, a Encouraçada, de bandeira desfraldada, os pelotões alinhados, guardando bem as distâncias, marchando airosos e elegantes, ao som alegre de um dobrado vibrante, não me podia conter, e punha-me a marcar passo..."

     E mais adiante: "Fui apresentar-me ao brigadeiro Sampaio. O ilustre general, já glória do Exército, pelo valor e amor à disciplina, estava uniformizado debaixo de uma ramada lendo uma história de Napoleão Bonaparte, o seu capitão predileto. Quando me viu fechou o livro marcando-o com o indicador da mão esquerda".

 

     Sampaio era cearense de Tamboril, onde nasceu em 24 Mai 1810. Foi morto heroicamente aos 56 anos, após sublimar as Virtudes Militares de Coragem, Bravura, Honra Militar e Desprendimento.

    Vive ainda Sampaio na memória do Brasil, na alma do Exército e sobretudo nas melhores tradições e valores da Infantaria Brasileira, que ele ajudou a forjar, e hoje cultuados pelas Legiões de Infantaria espalhadas por diversas guarnições do Exército.

     Os seus restos mortais repousavam, desde 1873, em mausoléu no Cemitério São João Batista, em Fortaleza-CE. Hoje estão em Panteon defronte a Fortaleza N.Sª da Assunção em Fortaleza, onde nosso herói ingressara no Exército Imperial em 1830 como soldado voluntário e que hoje abriga o comando da 10ª Região Militar.

      É denominação histórica, desde 19 de janeiro de 1940, do 1° Regimento de Infantaria, hoje 1º BIMtz, que integra na Vila Militar, no Rio de Janeiro, a 1ª Divisão de Exército – Divisão Marechal Mascarenhas de Morais. Unidade originária do Terço Velho de Mem de Sá, e a única unidade do Exército que participou de duas expedições extra-continentais. Em 1648, de expedição partida do Rio de Janeiro e que libertou Angola do dominio holandês e, em 1944/45, na Europa, integrando a Força Expedicionária Brasileira onde conquistou a expressiva vitória na conquista de Monte Castelo aos alemães.

         Nesta Guerra, o seu nome foi lembrado na criação da Medalha de Sangue para os que fossem feridos em ação, ao colocarem três estrelas na mesma, lembrando os três ferimento à bala recebidos pelo patrono da Infantaria em Tuiutí.

        As tradições de sua 3ª Divisão de Infantaria - Divisão Encouraçada, são cultuadas em especial por duas grandes unidades de origem comum em 1908, as hoje centenárias 8ª Brigada de Infantaria Motorizada, sediada em Pelotas, que tem entre suas unidades o 9º Batalhão de Infantaria Motorizada - Batalhão Tuiutí, e a 3ª Divisão de Exército - Divisão Encouraçada, em Santa Maria-RS, onde ele figura como o seu primeiro comandante

      Grandes Unidades estas cujas histórias resgatamos no Projeto História do Exército na Região Sul, em parceria com o historiador militar Cel Inf Luiz Ernani Caminha Giorgis, nas obras 8ª Brigada de Infantaria Motorizada – Brigada Manoel Marques de Souza I e 3ª Divisão de Exército - Divisão Encouraçada.

        No Dia da Infantaria, em 24 de maio de 1967, foi emitido selo comemorativo da Efeméride do Centenário de morte do Brigadeiro Sampaio em Tuiutí com uma tiragem de três milhões de exemplares, no valor de 5 centavos, com a sua efígie e, sob ela, três estrelas lembrando os três ferimentos à bala recebidos em Tuiutí.  A Espada do herói integra o patrimônio do Batalhão Sampaio na Vila Militar.

         A nação, reconhecida ao seu grande herói, o inscreveu no Livro de Aço dos heróis do Brasil no Panteon da Pátria, Praça dos Três Poderes, em Brasília, por certo lembrando Péricles, líder democrata ateniense, chefe de Estado de Atenas por 14 anos, com grande e benéfica influência na construção da Democracia grega e cujo século em que viveu recebeu o seu nome. Foi dele esta declaração:

 

“Aquele que morre por sua Pátria serve-a mais em um só dia que os outros em toda a vida”

 

Enviamos este trabalho em versão em português e inglês para possível publicação pela Military Review

 

(x)Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)  e da Academia Canguçuense de História (ACANDHIS) e autor do livro Bicentenário do Brigadeiro Antônio de Sampaio , o Patrono da Arma de Infantaria do Exército, em lançamento