O BRIGADEIRO ANTÔNIO DE SAMPAIO NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA 1865-1870

 

 

No banner ao lado, foto real do Brigadeiro Antonio de Sampaio, tirada em Uruguaiana 8 meses antes da Batalha de Tuiuti depois da rendição paraguaia ao Imperador D. Pedro II, e  no dia em que o mesmo recebia carta da Rainha Vitoriada Inglaterra  desculpando-se do incidente que causou a Questão Christie ofensiva a Soberania Brasileira. Acima brasões das instituições sob cuja égide foi editado o livro do autor Bicentenário do Brigadeiro Antônio de Sampaio patrono da Infantaria do Exército, cujas capas estão na parte inferior

Cel Cláudio Moreira Bento

 


 

        O Brasil enfrentou o Paraguai em Aliança com a Argentina e o Uruguai em 1865 – 70, em Defesa de sua Soberania, a livre navegação do rio Paraguai, impedida pela fortaleza de Humaitá. Livre navegação essencial  para o governo do Brasil  comunicar-se com sua Província de Mato Grosso. E principalmente em defesa de sua Integridade agredida com as invasões pelo Paraguai das  províncias brasileiras de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. e também  em defesa da Honra Nacional

        A guerra durou quase 5 anos e teve os seguintes pontos de inflexão para a conquista dos seguintes objetivos da Tríplice Aliança;

 

 

  Objetivo Militar: a conquista da poderosa  Fortaleza de Humaitá a Sebastopol sul-americana. onde estava instalado o poderoso canhão El Cristiano fundido com sinos das igrejas paraguaias. Arma

  que tantos problemas causou à Marinha Brasileira até a conquista a histórica fortaleza. Canhão conquistado a duras penas e conservado como troféu de guerra e que  faz mais de um século esta no Museu Histórico Nacional Este ,local da antiga Casa do Trem onde, há  218anos   teve inicio nas Américas o ensino militar acadêmico e o ensino superior civil no Brasil na então Real Academia de Artilharia Fortificação e Desenho criada pelo vice rei Conde de Resende em 1792 e destinada a formar oficiais de Infantaria, Cavalaria, Artilharia e engenheiros militares e civis para o Brasil Colônia, conforme abordamos em nosso livro no prelo 2010-200 anos da criação da Academia Rela Militar á Academia Militar das Agulhas Negras.

Objetivo Político da Tríplice Aliança. A conquista da capital do Paraguai Assunção.

 

Pontos  de inflexão da guerra:

 

     Batalha Naval do Riachuelo, 11 de junho 1865, anulação da capacidade ofensiva estratégica do Paraguai, por forças da Marinha reforçada por forças do Exército comandas pelo Almirante Barroso

 

   - Batalha de Tuiuti – 24 de maio 1866. a maior batalha campal da America do Sul Anulação da capacidade ofensiva, tática do Paraguai por forças brasileiras, argentinas e orientais ao comando do General Osório;

 

  - Conquista de Humaitá Em 5 agosto 1868. por forças navais e terrestres brasileiras Anulação da capacidade defensiva estratégica do Paraguai;

 

  - Batalhas da Dezembrada – dezembro 1868. Anulação da capacidade defensiva tática do Paraguai.

 

      O Brigadeiro Sampaio conquistou suas estrelas de oficial general por sua notável atuação em operação de combate em localidade, no comando de uma Brigada na conquista da cidade uruguaia de Paissandu na Guerra contra Aguirre 1864, quando já era uma legenda na Infantaria Brasileira. E veterano de 36 ações de combate

      Assistiu a rendição paraguaia em Uruguaiana em setembro de 1865 de cuja ação participou um Batalhão de sua  heróica 3ª Divisão.

     Sampaio  ali foi retratado ao lado de Conde D’Eu, logo depois da rendição paraguaia de Uruguaiana  em que o embaixador inglês na Argentina, em cerimônia histórica especial entregou com pompa e circunstância D. Pedro II  a carta da Rainha Vitória que pôs fim a Questão Christie, resultado de uma ofensa inglesa a soberania Brasileira.

     Escolhido  a dedo pelo General Osório o Brigadeiro Sampaio  comandou a 3ª Divisão desde março de 1865, em Montevidéu e constituído de duas Brigadas;

     A 5ª Brigada constituída do 4°, 6° e 12° Batalhões de Infantaria e mais a 8ª Brigada integrada pelos 8° e 16°Batalhões de Infantaria  e o 10° Batalhão de Voluntários da Pátria.

     E marchando para o Paraguai, segundo cronista Dionísio Cerqueira patrono de Cadeira da AHIMTB e que comando o Casarão da Várzea como coronel em 1891.

      “O Brigadeiro Sampaio não dava descanso aos seus Batalhões, Era rigoroso e exigente, dava exercícios uma a duas vezes por dia a seus batalhões. Pois sentia que era preciso instruir seus soldados bisonhos, mas de boa vontade, animados pelo amor a Pátria, os fazendo praticar façanhas imortais.

     Mal sua Divisão depois de marcha penosa chegava a um acampamento, ouvia-se o toque “Para quem quiser” por Sampaio ordenado. Em seguida saiam os belos batalhões de Sampaio garbosos e elegantes, ora realizando manobras, ora entendendo linhas de atiradores, tudo executado a toques de cornetas.

      O Corpo de Voluntários da Pátria de sua Divisão já rivaliza seu desempenho com os soldados grisalhos do Exército  trazendo no peito as medalhas de Monte Caseros na Guerra contra Oribe e Rosas  há treze anos passados.

      Estas evoluções obedeciam às Ordenanças  de Portugal com adaptações introduzidas pelo Marquês de Caxias com Ministro da Guerra em 1861 e Chefe de Estado do Brasil, do que aprendera como realidade operacional sul americana  e praticara em 5 campanhas vitoriosas que comandara e” com a ressalva até que o Brasil disponha de uma doutrina militar genuína”,enfatizou.  Sonho ainda por realizar!

      A 3ª Divisão foi a Vanguarda na invasão do Paraguai pelo Passo da Pátria, segundo o General Tasso Fragoso no v. 2 da sua notável  História desta  guerra e num e efetivo  de 4, 428 homens e então com a seguinte organização:

 

    - 5ª Brigada ao Comando do Cel. Oliveira Belo, com o 4° BI, o 12° BI do Exército e o 8° e 16° batalhões de Voluntários da Pátria.

 

    - 6ª Brigada ao comando do Cel. José Silveira com o 8º e16° BI do Exercito e o  10° Batalhão de Voluntários da Pátria.

       E até 20 de abril a 3ª Divisão foi a Vanguarda da invasão do Forte de Itapiru até Tuiuti em missão de reconhecimento e  proteção dos presidentes da Argentina, Bartolomeu Mitre e Venâncio Flores do Uruguai e do General Osório.

       Na Batalha de Tuiuti a 3ª Divisão se constituiu em fator decisivo da vitória em sua defesa a todo custo do que resultou o Brigadeiro Sampaio haver sido gravemente ferido e perder 339 de seus bravos que representaram 33% das baixas brasileiras e 29% das baixas aliadas

       Eram comandantes subordinados de, de seus batalhões;

     3ª BI Tem Cel. Francisco de Mesquita;

     4ª BI – Ten. Pereira Carvalho;

     4º Batalhão de Voluntários da Pátria o Ten.Cel. Doutor Pinheiro Guimarães (que foi ferido em ação).

     Na 7ª Brigada ao comando do Cel. Machado Bittencourt integrada pelos 1º BI (Atual Regimento Sampaio ferido em ação seu comandante), 6º BVP Major Agnaldo Valente, 9º BVP TC. Oliveira Bueno e 11º BVP Maj. Cavalcanti de Albuquerque.

       Nesta Batalha, a maior batalha campal sul-americana ocorreram 3.011 baixas brasileiras das quais 1.033 da Divisão Sampaio a Encouraçada que representaram cerca de 33% das baixas brasileiras ou 29% das baixas aliadas.

       O Cel. Cav. José Lima Figueiredo assim analisou Sampaio e sua valorosa Divisão.

 

     “Quando o chefe é bom, a tropa colhe fartamente os louros, porém não é lhe é dado um momento de descanso, todo o trabalho difícil, áspero e perigoso é dado a ela.”        

      A Divisão Sampaio não parava. E tal era o seu desprezo  pela saraivada de metralha que recebeu o apodo de Divisão Encouraçada”

      No Dia da Infantaria em 1971 na área do IV Exército e comemorado em Tamboril e onde tivemos presente, como chefe da 5ª Sec/IV do Exército, em companhia de nosso comandante Gen Ex João Bina Machado um famoso poeta popular assim  traduziu em literatura de cordel o sacrifício supremo do Brigadeiro Sampaio;

 

Entre os corpos dos infantes feridos e mortos também.

Da Divisão Encouraçada, que à Pátria fez tanto bem.

Aos 24 de maio com o exemplo de Sampaio.

A grande glória veio.

Foi recolhido nos braços dos soldados de ação.

Todos se achavam presos. de incontida emoção.

Seu heroísmo não falhou.

Foi retirado da batalha com grande consternação. .

 

      Acreditamos que o Brigadeiro Sampaio padeceu de modo indescritível seus últimos 44 dias de Tuiuti até falecer próximo de Buenos Aires a bordo do navio Eponina que o .evacuava para aquela cidade, e onde foi sepultado no cemitério Ricoleta, onde esteve por três anos até ser exumado e trazido para o Brasil.

       Estivemos em abril Buenos Aires em busca de dados no Museu Mitre de seu sepultamento e exumação, mas não foi possível em razão dos museus Nacional e o Mitre estarem fechados para reformas com vistas o Bicentenário de Independência da Argentina agora em maio

        Mas lá pedimos a um oficial brasileiro.de Infantaria cearense que lá tira um curso que tentasse obter os dados que não conseguimos.Temos convicção que o Brigadeiro Antônio de Sampaio além de herói brasileiro é um herói da Argentina e Uruguai que compunham a Tríplice Aliança

       Sobre o Brigadeiro Antônio de Sampaio na campanha do Paraguai o citado  historiador Dionísio Cerqueira em suas Reminiscências da Guerra do Paraguai também escreveu.

            ‘A odeia de eu passar a Infantaria não me abandonava. Esta arma exercia sobre mim indizível fascinação. Quando passava a 3ª Divisão de Sampaio, a Encouraçada, de bandeira desfraldada, os pelotões elegantes, ao som alegre de um dobrado vibrante, não me podia conter, e punha-me a marcar passo...”

       E mais adiante: “Fui apresentar-me ao brigadeiro Sampaio”. O ilustre general, já glória do Exército, pelo valor e amor à disciplina, estava uniformizado debaixo de uma ramada lendo uma história de Napoleão Bonaparte, o seu capitão predileto. Quando me viu fechou o livro marcando-o.

       Este é um aspecto notável de Brigadeiro Sampaio chamado de O Infante Imortal por um de seus biógrafos.

       Ou o fato de em 1830 o recruta voluntário Antônio de Sampaio haver ingressado no Exército semi analfabeto e estar 35 anos depois em plena campanha do Paraguai, lendo Napoleão até então o maior cabo de guerra da História Universal, aperfeiçoando sua cultura em Arte da Guerra.diz muito de seu auto didatismo  

      Sampaio antes da Guerra da Tríplice Aliança, já era  consagrado como um consumado condutor de homens e mestre em adestrar e empregar a Infantaria brasileira.

      Arma em cujo seio ele se forjou e se destacou como bravo e modelo líder de combate e instrutor e disciplinador da Infantaria, a Rainha das Armas.

       O Brigadeiro Sampaio vive na Alma do Exército brasileiro e, sobretudo nas melhores tradições e valores da Infantaria brasileira que ele ajudou a forjar  e hoje cultuados pelas Legiões de Infantaria espalhadas pelo Brasil e em especial pelas grandes unidades; 3ª Divisão do Exército – A Divisão Encouraçada em Santa Maria e a 8ª Brigada de Infantaria Motorizada em Pelotas.

         A nação, reconhecida ao seu grande herói, o inscreveu no Livro de Aço dos heróis do Brasil no Panteon da Pátria, na  Praça dos Três Poderes, em Brasília, por certo lembrando Péricles, líder democrata ateniense, chefe de Estado de Atenas por 14 anos, com grande e benéfica influência na construção da Democracia grega e cujo século em que viveu recebeu o seu nome. Foi dele esta declaração:

“Aquele que morre por sua Pátria serve-a mais em um só dia que os outros em toda a vida”