A Revolução Nativista Pernambucana 1817.

Generalidades

As lutas internas fratricidas ocorridas no Brasil tem o sabor de tragédias gregas, nas quais as partes em confronto estão com a razão e a verdade.E parece que o Duque de Caxias entendeu isto logo em sua ação pacificadora da Família Brasileira, dividida por ideais elevados, mas conflitantes e até inoportunos como a República .

Caxias levou em sua campanha pacificadora o sábio conselho de Simon Bolívar :

"Nas lutas internas impõs-se a generosidade para com o adversário ,senão a violência cresce em escala geométrica."

Os ideais republicanos irradiados da França, dos Estados Unidos,da Inconfidência Mineira e Carioca e mesmo com origem na Guerra dos Mascates ,em Olinda ,encontraram acolhida em Pernambuco em 1817.

A República encontrou guarida entre os padres do Seminário de Olinda,entre oficias brasileiros do Regimento de Artilharia do Recife, (situado em local, no passado, defronte a Santa Casa) , em razão da fortíssima rivalidade que possuíam com os oficias portugueses e ,na Maçonaria.

Na Maçonaria lideranças militares, clericais e civis republicanas acertavam os ponteiros, como o maçon cap Domingos Teotônio que será o líder da Revolução e mais 60 padres e 10 frades todos maçons, liderados pelo padre João Ribeiro Pessoa, alma da revolução e mestre, junto com o padre Miguelinho, do Convento de Olinda, incluindo-se o Frei Caneca qua atuará como secretário de um corpo militar revolucionário e irá liderar 7 anos mais tarde outra revolução republicana - a Confederação do Equador.

Na Europa a Maçonaria havia congregado secretamente homens crentes em Deus de diversas confissões religiosas para combater o Absolutismo e implantar os ideais de Liberdade,Igualdade e Fraternidade no mundo.

Como defrontavam-se dois regimes ,o Monárquico e o Republicano,maçons desejavam independente de República ou Monarquia, serem os povos dirigidos por uma Constituição ou Carta Magna.

Deste modo passaram a incidir na América do Sul duas correntes maçônicas:

A Maçonaria inglesa ou azul ,defensora da Monarquia Constitucional e a Maçonaria francesa ou vermelha, favorável a República Constitucional. E nos subterrâneos da política brasileira iriam degladiar-se estas duas correntes ,gerando em grande parte as lutas internas na Monarquia.

A Monarquia Constitucional era vista na época como capaz de manter a unidade da América do Sul portuguesa e da espanhola que davam seus primeiros passos como independentes. O general San Martim era favorável à Monarquia Constitucional e Simon Bolívar à Republica Constitucional. Num encontro entre ambos os libertadores, em reunião maçônica, San Martim teria sido voto vencido e retirou-se para a Europa sem dar explicações ,deixando o campo livre para Bolívar que não conseguiu, como é público e notório, manter a sonhada unidade da América do Sul espanhola.

O nosso Duque de Caxias pertenceu discretamente à Maçonaria inglesa ou azul favorável à Monarquia Constitucional ,por julgar a mais indicada para a época .O general Osório, por seu turno, ligado à maçonaria francesa ou vermelha desde tenente em Rio Grande cidade. Ali segundo a tradição recebera simbolicamente uma armadura para seu peito guerreiro. Mas achava que não havia chegado o tempo da República e que o trono significava ainda e por muito tempo a Unidade Nacional.

A compreensão desta idéia de Osório pela linha maçônica vermelha que caracterizou a Revolução Farroupilha ,irá somar-se às forças que Caxias dispôs para pacificar a Família Brasileira, em 1 o março de 1845 ,em Ponche Verde-RS.

A presença de Caxias na maçonaria e estudada por ;

PROBER,Kurt.O Duque de Caxias sua vida na Maçonaria.

Rio de Janeiro,1972(150 anos da Maçonaria no Brasil).

 

O desenvolvimento da revolução pernambucana de 1817

Pernambuco dispunha na época de duas unidades do que hoje seria o Exército.Uma de Infantaria e outra de Artilharia .Nesta última teria inicio a revolução. Possuía dezoito corpos de Milícias ,sendo 11 no interior e além ,oito fortes litorâneos.

O estopim da revolução foi um incidente numa festa comemorativa da expulsão dos holandeses em que um alferes do Regimento dos Henriques surrou um português que havia injuriado os brasileiros. A oficialidade portuguesa ,dominante ,achando tratar-se de um incidente grave envolvendo aspectos políticos e sociais, tratou de punir os militares brasileiros envolvidos.

Ao comandante do Corpo de Artilharia ,um brigadeiro português ,tentar efetuar a prisão dos três oficias brasileiros de sua unidade , inclusive o líder cap Teotônio, foi assassinado pelo cap José de Barros Lima," O Leão Coroado", que o atravessou com sua espada, auxiliado por um familiar. Espada que se encontra no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, junto também com valiosas fontes sobre esta tentativa republicana.

O cap Teotônio começou a agir com vistas a implantar um governo republicano em Pernambuco. O Governador procurou proteção no Forte do Brum (atual Museu do Soldado do Nordeste ) onde capitulou sem resistir ,em 7 de mar 1817 e embarcou para o Rio.

Foi criado um Governo Provisório representativo das diversas categorias sociais. A militar foi representada pelo cap Domingos Teotônio ; a eclesiástica pelo padre João Ribeiro Pessoa e a comercial por outro líder maçon - Domingos José Martins.

Foram melhorados os vencimentos e promoções na tropa depois de alguns protestos contra privilégios .Os ideais da Revolução Francesa se alastraram pelo Nordeste e conquistaram a Paraíba em 14 março e o Rio Grande do Norte em 29 de março.

Foram enviados emissários ao Ceará, à Bahia e aos Estados Unidos .Este com dinheiro para comprar armas e munições e contratar oficiais franceses e obter apoio daquela República.

O padre Roma enviado a Bahia foi preso e fuzilado defronte ao seu filho o cap de Artilharia Francisco Abreu e Lima que lá se encontrava preso no forte São Pedro "por assuada, resistência e ferimento" ,ao envolver-se em incidente com oficiais portugueses, quando servia na unidade de Artilharia em Recife. Conseguiu dali evadir-se em 18 fev 1818 e fugir para os Estados Unidos onde se uniria a Simon Bolívar e participaria ,com destaque ,da Libertação da América conforme artigo do cel Claudio Moreira Bento -"O brasileiro que foi general de Simon Bolívar."A Defesa Nacional .725,1986,que resgata sua vida militar como oficial de Artilharia egresso da Academia Real Militar que freqüentou de 1812-16.Conhecimentos que colocou a serviço da libertação da América, como Chefe de Estado -Maior de lideranças libertadoras da Venezuela,Colômbia,Equador e Perú,razão porque muito justamente figura em monumento na Venezuela -Aos libertadores da América.

Em 3 abr 1817, os comandantes de unidades revolucionárias foram apresentados à bandeira e tope nacional da nova república ,que é a atual bandeira de Pernambuco. E juraram solenemente defendê-los até a morte.

A reação do governo não se fez esperar. Em 23 abr uma esquadra do governo com 4 barcos bloqueou o porto do Recife e foram lançadas proclamações anti revolucionárias em Alagoas ,Paraíba e Rio Grande do Norte .Neste ,o povo aos brados de: Viva El Rei! varou a espada um oficial revolucionário ,numa espécie de resposta ao ato do Leão Coroado. Na Paraíba a contra revolução foi vitoriosa.

O Conde de Arcos lançou tropas da Bahia pelo litoral e teve início a debacle revolucionária. Em 13 e 14 de mai no Engenho do Trapiche os revolucionários, em grande inferioridade numérica ,se retiram e abandonaram sua Artilharia em presença das forças do Conde de Arcos que mais tarde seria propietário do edifício onde funcionou por muitos anos o Senado e que atualmente abriga no Rio uma Faculdade de Direito.

No Recife os revolucionários se renderam à força naval .Recife foi abandonada e ocupada pela força naval .

E teve início a repressão dura e violenta contra revolucionários, simpatizantes e suspeitos. Violência que teve como agentes inclusive ex-revoluconários .Violência resposta à revolução iniciada com a violência inominável nos meios castrenses ,por ferir de morte a Hierarquia e a Disciplina. Ou seja a violência gerando a violência em escala geométrica, segundo Bolívar.

Os ideais desta revolução nativista seriam concretizados 72 anos mais tarde com a Proclamação da República, pelo alagoano mal Manoel Deodoro da Fonseca e consolidada por outro alagoano o mal Floriano Peixoto .Esta ao custo das sangrentas e cruéis Guerra Civil 1893-95 na Região Sul e Mato Grosso e Revolta na Armada 1893-94 com reflexos em todo o pais. Ocasião em que foi organizada em Pernambuco a Esquadra Legal que teve papel decisivo na vitória do Governo no domínio da revolta na Armada na Baia de Guanabara e no refluxo federalista do Paraná para o Sul.

Caso a Revolução Pernambucana tivesse vencido como teria sido o destino do Brasil ,cuja Unidade e Integridade haviam sido preservadas pela Insurreição Pernambucana 1640-1654 que expulsou os holandeses do Brasil .Evento que na interpretação do grande pernambucano Gylberto Freire,"-Em Guararapes escreveu-se a sangue o destino do Brasil! O de ser um só e não dois ou tres hostis entre si ."E convidamos o leitor a meditar e fazer uma simulação futorológica !

A repressão violenta e outras questões pendentes como o conflito nativistas x portugueses levará Pernambuco a tentar, 7 anos mais tarde ,mais uma tentativa republicana -A Confederação do Equador 1824 ,além de outras revoltas de intensidades variadas, assunto que esta a merecer um estudo integrando todas.

Hoje sabe-se que no contexto desta revolução foi planejado libertar Napoleão da ilha Santa Helena e trazê-lo para Brasil para colocar-se a frente da revolução o que aborda Donatelo Grieco em Napoleão e o Brasil, do editorial 1995 da BIBLIEx.

Caxias então com 13 anos ultimava seus estudos preparatórios no Seminário Real São Joaquim,na atual rua Marechal Floriano, que viria ali a se transformar no Colégio Pedro II.Decorridos pouco mais de 2 meses ,em 25 ago 1817 jurou a Bandeira do Reino Unido do Brasil,Portugal e Algarve e iniciava de fato a sua brilhante carreira de soldado.Próximo do Seminário Real ficava a sua casa na rua das Violas entre as atuais Mal Floriano e Av.Getúlio Vargas e ,o Quartel do Campo de Santana que resultaria no atual Palacio Duque de Caxias .