CANGUÇU EM NOSSAS GUERRAS E REVOLUÇÕES

A NOSSA INTERPRETAÇÃO

- Acadêmico da ACANDHIS Cel Cláudio Moreira Bento

Como historiador militar brasileiro , fundador e presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e instrutor deste assunto na Academia Militar das Agulhas Negras 1978-80, não poderíamos deixar de lado a avaliação e participação honrosa mas coberta pela patina dos tempos de Canguçu na História Militar, mas ignorada em interpretações de nossa História Militar .

E temos feito em diversos trabalhos que relacionamos ao final e muito especialmente na publicação Canguçu 200 anos recentemente lançada.

Nela demonstramos que Canguçu e seu povo foram poupados por "Marte, o Deus da Guerra" e que suas terras serviram de base de guerrilhas em três ocasiões distintas:

Vale recordar que em 1737 foi fundada a cidade de Rio Grande como base militar de Portugal no litoral e ,em 1754, foi fundada Rio Pardo como base militar de Portugal na Campanha. E a ligação terrestre entre ambas foi feita através do local da atual sede de Canguçu, nó orográfico, através do rio Camaquã, pelos passos Vao dos Prestes e Armada .E por este caminho Dragões do Rio Grande aquartelados em Rio Pardo atravessaram Canguçu várias vezes aproveitando trilhas indígenas pré existentes, sobre os divisores de água das serras e seus contrafortes .

Assim Canguçu serviu de base de guerrilhas em 3 oportunidades:

Em 1763-77, contra os espanhóis controlando cerca de 2/3 do Rio Grande apoiados na Vila de Rio Grande e fortes de São Martinho, ao norte de Santa Maria atual e Santa Tecla próximo a Bagé atual.

Demonstramos que nesta guerra Dragões do Rio Grande sediados em Rio Pardo atravessaram as terras de Canguçu em 1762 para fundarem o Forte de Santa Teresa, hoje no Uruguai, bem como a tentativa de pequeno contigente de socorrer aquela praça conquistada pelo governador de Buenos Aires, Gen D. Pedro Ceballos e que cruzou de ida e de volta as terras de Cançuçu.

Demonstramos que a 2ª invasão espanhola e, pela campanha, comandada pelo outro governador de Buenos Aires, o mexicano D. Vertiz Y. Salcedo passou por Canguçu depois de atravessar o passo ( com a sua Real Armada, nome de seu Exército) e, desde por esta razão passo da Armada do Camaquã, por ali ele haver atravessado o rio acossado pelos guerrilheiros do Major Rafael Pinto Bandeira e rumo ao Rio Grande, ocupado pelos espanhóis fazia 10 anos .

Demonstramos que depois da conquista de Santa Tecla, no início de 1776, parte do Regimento de Dragões de lá proveniente vitorioso e ao comando do Major Patrício Correia Câmara, futuro 1º Visconde de Pelotas, e com destino ao Taim , atravessou as terras de Canguçu deixando circunstanciado relatório de sua marcha e pousadas e já o local da cidade de Canguçu e arredores conhecido por arroio das Pedras. Relatório que publicamos em linguagem atual em nosso História da 3a Brigada de Cavalaria Mecanizada –Brigada Patrício Correa da Câmara.

Canguçu mais uma vez seria base de guerrilhas agora dos farrapos na Revolução Farroupilha e considerado pelos imperiais o "distrito de mais perigo e mais farrapo", junto com a capital Piratini e parte de São Lourenço. Por sua posição estratégica foi enviado para nele se basear e fortificar a Ala Esquerda do Exército ao comando do Barão de Caxias e sob o comando do célebre guerrilheiro imperial Francisco Tenente Coronel da Guarda Nacional Francisco Pedro Azambuja Brusque de Abreu (Chico Pedro ou Moringue, mais tarde Barão de Jacuí) que venceu os 2 combates de Canguçu contra Bento Gonçalves e Antônio Netto ao final da Revolução e que construiu a cadeia da vila só demolida em 1938.

Demonstramos que cerca de 1/4 da Brigada Liberal de Antônio Netto , resultado da transformação de Corpo da Guarda Nacional de Piratini e que venceu os imperiais em Seival em 10 set 1836 que respaldou a proclamação da República Rio Grandense no dia seguinte, no Campo do Meneses ,era de canguçuenses que habitavam distrito subordinado a Piratini, logo a seguir transformada em capital da República .

Demonstramos que Canguçu ao final da Revolução Farroupilha acantonou uma companhia de Infantaria ao comando do Capitão Antônio de Sampaio, atual e heróico patrono de Infantaria do Exército.

E que nesta Revolução brilhou o canguçuense Coronel farrapo, Joaquim Teixeira Nunes "a maior lança farrapa "segundo o general Tasso Fragosos e o primeiro que foi porta bandeira do pavilhão tricolor da República Rio - Grandense, o qual hoje adotamos como lenço de pescoço no Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul ,que presidimos e fundamos nos 150 anos do combate do Seival em 10 set 1986.

Demonstramos que em 1923 Canguçu serviu de base de guerrilhas dos revolucionários sob a liderança do canguçuense e General revolucionário Zeca Netto,(patrono de cadeira na ACANDHIS) tendo Canguçu sido palco de diversos combates e escaramuças onde se destacaram os do Cerro Partido e Canguçu Velho. E foi de Canguçu que Zeca Netto partiu para seu grande feito ,a conquista de Pelotas, há 80 anos, repetindo feito de seu tio o General Antônio Netto, 88 anos antes e cuja única resistência efetiva apresentada foi a do canguçuense, Coronel da Brigada Militar Orlando Cruz, intendente de Canguçu eleito no ano seguinte.

E, que nesta revolução Zeca Netto foi combatido por mais outro grande soldado filho de Canguçu, o Cel da Brigada Militar Juvêncio Maximiano Lemos( patrono de cadeira na ACANDHIS) , que como simples soldado fora atravessado por uma bala de fuzil federalista no sitio de Bagé em 1893.E que em Porto Alegre segundo o grande historiador Cel Arthur Ferreira Filho, o canguçuense e ex intendente de Canguçu(1905-1917), Cel GN Genes Gentil Bento( patrono de cadeira na ACANDHIS) foi encarregado pelo presidente do Estado Dr Borges de Medeiros de organizar a Guarda Republicana em Porto Alegre para a defender de ameaças de revolucionários de 23.

Focalizamos igualmente a participação de Canguçu em apoio aos governos estadual e federal no combate à Revolução Federalista de 93, ou mais precisamente Guerra Civil de 1893-95, levantando as injustiças e calúnias históricas contra lideranças de Piratini e Canguçu que entraram em Bagé , depois da queda do Governicho e por ordem do Presidente do Estado . Fato pelo qual alguns canguçuenses seriam degolados inermes, entre os 300 civis da Cavalaria Patriota supliciados no Massacre do Rio Negro, em 28 nov 1893,por mercenários platinos ,às ordens diretas de Zeca Tavares, que maculou para sempre a memória de seu irmão Joca Tavares, o comandante geral que, segundo máxima militar:

"O comandante militar é responsável por tudo que aconteceu ou deixou de acontecer na área de seu comando".

Morreu em combate nesta Revolução o canguçuense Cel Honório Bandeira, comandante de um tropa enviada de Canguçu, requisitada pelos governos Estadual e Federal.

No combate a esta revolução se destacaram os coronéis Bernardino Mota e Leão Silveira Terres,(patrono de cadeira na ACANDHIS) ex intendentes de Canguçu e o Ten Cel João Paulo Prestes( patrono de cadeira na ACANDHIS), vice intendente de Canguçu .Este escapou do sítio do Rio Negro, e morreu em combate como revolucionário em 23 ,no Passo do Mendonça, depois de se destacar no combate a Gripe Espanhola na vila de Canguçu. Nesta revolução foi preso em Rio Negro o canguçuense Cel Joaquim Maria Soares que foi libertado no combate de Sarandi pelo canguçuense Gen Honorário Hipólito Ribeiro e de cujas forças passou a fazer parte e que depois foi intendente de Canguçu .1817/20.

Focalizamos a Guerra do Paraguai 1865-70, onde se consagrou como grande comandante de Cavalaria, o canguçuense, mais tarde general Honorário Hipólito Pinto Ribeiro, que se destacara no combate a Revolução Federalista e hoje esta consagrado no Piquete o Vanguardeiro, além de haver sido herói da batalha de Monte Caseros em 2 fev 1852, próximo a Buenos Aires, como Alferes comandado de Osório e junto com o Alferes Pedro Osório(sobrinho de Osório).

Guerra do Paraguai em que Canguçu participou com um Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional, lá comandado pelo, mais tarde Tenente Coronel Honorário do Exército Theóphilo de Souza Matos. Guerra em que participou seu futuro genro Ten Honorário do Exército Franklin Máximo Moreira e o Capitão Henrique José Barbosa .Este pereceu em campanha e hoje está imortalizado no nome Museu Municipal.

Focalizamos a participação de Canguçu na Revolução de 30 e 32.Nesta participaram de expedição do 9 o RI de Pelotas no Vale do Paraíba, os canguçuenses cabos Rubens Barcellos( ferido em ação) e Angelo Pires Moreira, o atual acadêmico Major Angelo e Santos (Vitrola) Pereira ,pai do radialista Adão Jesus Marques

Destacamos que na 2º Guerra Mundial Canguçu pagou pesado tributo em vidas humanas. Pois 10% dos gaúchos mortos na Força Expedicionária Brasileira na Itália - os soldados Isidro Matoso e Hortêncio Rosa , eram filhos de Canguçu.

E segundo Péricles pai da Democracia grega ;"Aquele que morre em defesa de sua pátria faz mais por ele naquelle momento que os demais vivos em toda as suas existências !"

Não ficou Canguçu ausente da missões de paz. O consagrado trovador canguçuense José Lima Dias, participou do último contingente no Brasil em Suez e lá foi ferido por estilhaço de granada no confronto entre árabes e israelenses. Saga que imortalizou em cassete. Um caudilho no deserto.

Abordamos a atuação do Exército Brasileiro na construção da ferrovia Canguçu - Pelotas e sua participação no progresso local com a construção do Hospital de Caridade , da Avenida Exército Brasileiro( em gratidão) e parte do Campo do América e da represa que abastece a CORSAN. Citamos os então tenentes Hélio Ibiapina Lima ( hoje acadêmico da Academia de História Militar Terrestre que fundei e presido) e Dalmo Pragana como homens que deixaram boas lembranças. Dalmo recém falecido casou com Moraima Nunes ,a 1a canguçuense a formar-se pela Escola Normal Assis Brasil .

Citamos os canguçuenses que como nos dedicaram a carreira militar: No Exército -coronéis Fernando Oscar Lopes, Jairo Casarim, Paulo Morales Nunes, Genes Gentil Moreira, Adonai Camargo, majores Ângelo Pires Moreira e Ubiratan Terres .E, na Brigada Militar, coronéis Juvêncio Maximiano Lemos e Jaques Rocha Motta e, na Polícia Militar de São Paulo o coronel (médico) Paulo Meskó.

Da Junta de Alistamento Militar deixaram marcas muito positivas na comunidade os tenentes Oscarlindo ligado a fundação do Cruzeiro, Cândido Schepf, avô de Mirta Terres dos Santos, Osvaldo, que presidiu o Clube Harmonia, Guilherme de Carvalho e ,João Amélio Noguês, pioneiro radialista.

Funciona há 18 anos em Canguçu, importante braço de uma estratégica instalação da Aeronáutica, o SINDACTA 2 que zela pela segurança do tráfego e do espaço aéreo no Sul do Brasil.

Finalizando não poderíamos deixar de ressaltar que Canguçu foi fundado junto com Caçapava e Encruzilhada, num contexto estratégico de uma guerra inevitável que se avizinhava - a Guerra de 1801. Isto ,para impedir que uma invasão espanhola partida do Forte de Cerro Largo (atual Mello) no Uruguai, percorrendo o lombo da Serra dos Tapes, a partir de Herval do Sul, pudesse ultrapassar Piratini ( a Vila dos Casais, desde 1789 ) e atingir Canguçu de onde poderia partir para atacar Rio Grande ou Rio Pardo, ou as duas ao mesmo tempo.

É ligada à História Militar Luso-brasileira e a Nossa Senhora da Conceição, a padroeira de Canguçu, pois também foi a padroeira do Exército de Portugal e do Exército Imperial do Brasil e ,a maior devoção de seu atual patrono, o Duque de Caxias , que mandou, na Revolução Farroupilha que seus soldados recuperassem das ruínas a atual e bicentenária Igreja Matriz N. S. da Conceição.

Canguçu possui ruas homenageando grande heróis militares da guerra do Paraguai: Duque de Caxias, General Osório. General Câmara, Conde de Porto Alegre, Barão do Triunfo, Paranhos e o canguçuense General Hipólito Pinto Ribeiro que divide sua rua com o posto de Coronel com a Avenida Exército Nacional .E mais os chefes farrapos Bento Gonçalves ,Cel Teixeira Nunes .E sem esquecer o Cerro do Ataque onde teve lugar o 2 o combate de Canguçu ,em 6 nov 1843, no 7 o aniversário da Republica Rio Grandense, na tentativa frustrada de desalojar de canguçu ,onde havia se instalado fazia pouco mais de 2 meses a Ala Esquerda do Exército de Caxias ao comando de Chico Pedro .Com se conclui são vigorosas as raízes de Marte o Deus da Guerra nas sepultadas tradições canguçuenses e que ora resgatamos para que sejam mais pesquisadas, preservadas, cultuadas e divulgadas em especial pelos tradicionalistas canguçuenses .

Principais fontes de História Militar de Canguçu

BENTO, Cláudio Moreira. Canguçu reencontro com a História.

Porto Alegre: IEL,1983.

(_____).Canguçu 200 anos.Resende:AHIMTB,2.000

(_____). Cel Joaquim Teixeira Nunes. A Grande festa dos

Lanceiros. Recife: UFPE, 1971.

(_____). O Exército Farrapo e os seus chefes. Rio de Janeiro:

BIBLIEx, 1993 v. 2.

(_____). História da 3ª Região Militar 1889-1953. Porto Alegre :

3ª RM, 1995.v II.

(_____). O Massacre Federalista do Rio Negro em Bagé,28nov93

Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.nº

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(_____).General Hipólito Pinto Ribeiro - um consolidados da Repa

bloca. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

1989.( v .III Anais Congresso Nacional República p.85)

(_____).História da 3a Brigada de Cavalaria Mecanizada.Porto

Alegre: Ed.Pallotti,2002.

(_____).O Gaúcho fundador da Imprensa Brasileira.( Exemplar

existente na Biblioteca do Colégio Aparecida)