O  COMBATE DE MONTE CASTELO - 65o ANIVERSÁRIO

 

Cel Cláudio Moreira Bento

(Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil ,do Instituto de Histórias e Tradições do Rio Grande do Sul e Academia Canguçuense de História sob cuja égide foi editada a obra Bicentenário do Brigadeiro Antônio de Sampaio)

 

        O COMBATE DE MONTE CASTELO ORA A ABORDAR COMO EXEMPLO DE HISTÓRIA MILITAR CRÍTICA E UMA HOMENAGEM AO REGIMENTO SAMPAIO, EM 22 FEVEREIRO DE  2010  NA COMEMORAÇÂO DOS 65  ANOS DESTE COMBATE EM QUE ELE  TEVE A SEU CARGO O ATAQUE PRINCIPAL.

    E MAIS O LANÇAMENTO DO LIVRO DO AUTOR, BICENTENÁRIO DO BRIGADEIRO ANTÔNIO DE SAMPAIO O PATRONO DA INFANTARIA . PATRONO TAMBÉM  DO 1º BATALHÃO DE INFANTARIA MOTORIZADA DA 1ª DIVISÂO DE EXERCITO, DIVISÂO MARECHAL MASCARENHAS DE MORAES DO COMANDO MILITAR DO LESTE.

 

 

 

1ª e 4ªcapas  da obra do Cel Cláudio Moreira  Bento figurando na 4ª capa suas principais obras publicadas sobre História Militar Terrestre do Brasil

 

       A matéria a seguir sobre o Combate de Monte Castelo é um exemplo de análise histórica crítica militar que produzimos, em 1978, como instrutor de História Militar na AMAN e que havíamos  inserido em nosso livro Como estudar e pesquisar a História do Exercito Brasileiro editado pelo Estado- Maior do Exercito em 1978 e 1999 e disponível em Livros no site da Academia www,ahimtb.org.br.

    O Combate de Monte Castelo é abordado criticamente ou militarmente nos Apedices  5 -1 a 5-3 à luz dos Fundamentos da Arte e Ciência Militar que abordamos no capitulo 4 – Fundamentos para o estudo crítico da História Militar, em 28 páginas.

    História militar crítica a ser realizada por profissionais com o Curso de Estado-Maior, à luz de reconstituições de  História Descritiva feitas com isenção por profissionais de História com o apoio de fontes históricas classificadas como fidedignas, .autênticas e integras E este exemplo nos foi dado por Caxias ao analisar criticamente e com isenção a batalha do Passo do Rosário E em, 1862,  como Ministro da Guerra haver adaptada a Doutrina do nosso Exército, baseada na Doutrina de Portugal, às realidades operacionais sul- americanas que ele vivenciara em quatro campanhas pacificadoras que ele comandou suas operações, bem como na Guerra externa contra Oribe e Rosas e acrescentando “ ATE QUE NOSSO EXÈRCITO DISPONHA DE UMA DOUTRINA GENUINAMENTE BRASILEIRA. É este o seu sonho a ser realizado pelos seus sucessores. Pois o Brasil enriquece e deve ser forte como as grandes nações, potencias e grande potências que são ricas e fortes militarmente, A riqueza de uma nação não convive com a sua fraqueza militar . è o que a História nos ensina. E ai estão a Amazônia e o Pré Sal a serem protegidos da ambição internacional.

 

COMBATE DE MONTE CASTELO

21 Fev 1945

 

 

 

1.   AMBIENTAÇÃO

Perdurava, em Fev 1945, enorme saliente inimigo apoiado nos Montes Apeninos, coincidente com a área de responsabilidade do IV C Ex (EUA) que a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) integrava. Ocupava aquelas alturas dos Apeninos, entre o rio Panaro e a Rodovia 64, o XIV Exército Alemão.

Isto impedia o uso da Rodovia 64 - trecho PORRETA TERME-BOLONHA, pelo V Exército (EUA) para abastecer cinco de suas dez divisões.

 

2. SITUAÇÃO GERAL

O V Ex (EUA) atribuiu ao seu IV Corpo, ao qual integravam a 10ª Divisão de Montanha (EUA) e a 1ª DIE (BRASIL), a missão:Atacar alturas dos Montes Apeninos, divisoras das águas dos rios RENO e PANARO9 (A esquerda no alto), para eliminar ou reduzir o saliente alemão nelas apoiado.

 

 

3. SITUAÇÃO PARTICULAR

A 1ª DIE (BRASIL), segundo a primeira fase do Plano Encore teria a seguinte missão:

Conquistar MONTE CASTELLO em íntima ligação com a 10ª Divisão de Montanha (EUA) que atacaria paralelamente, à sua esquerda, na direção BELVEDERE-MONTE DE LA TORRACIA.

A Manobra da 1ª DIE foi assim planejada:

- Ataque principal sobre Monte Castelo, a cargo do Regimento Sampaio (1ª RI), reforçado por dois pelotões de Carros de Combate dos  (EUA),mais  1ª Cia do 9º BE de Combate  (para remoção de minas e acompanhamento) e fogos de apoio direto dos 1º e 2º Grupos de Artilharia 105 mm, reforçados pelas companhias de obuses 105, do 11º RI e Regimento Sampaio;

- Ataque secundário limitado a cargo do 2º Batalhão, do 11º RI (S.João Del Rey), para cobrir o flanco direito do Regimento Sampaio no Ataque principal;

- Defensiva no restante da frente, a cargo do 6º RI (Caçapava);

- Reserva da 1ª DIE:

         - 11º RI (menos o 2º Batalhão); e

          - Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado.

          - O 9º BE, menos a 1ª Cia, foi encarregado de reparar e conservar as rodovias de interesse da operação;

          - Os 4º Grupo e 3º Grupo (menos uma Bia), realizariam ações de Apoio ao Conjunto;

- As Comunicações deveriam estabelecer três eixos de comunicações com a tropa atacante.

Para melhor assegurar o comando da operação, o Cmt da 1ª DIE (Gen MASCARENHAS), instalou-se em seu PC Avançado e destacou, para dar assistência ao comandante do Ataque principal, o Gen ZENÓBIO DA COSTA (Cmt da ID) e seu E-3, o tenente-coronel  Humberto de Alencar Castelo Branco.

 

 

4. COMBATE DE MONTE CASTELO

Às 05:30 h de 21 Fev, teve início o ataque a MONTE CASTELO, pela 1ª DIE, após conquistados nos dois dias anteriores, , GORGOLESCO e MAZZANGANA. A última, comauxílio de aviões da Força Aérea Brasileira.

Aquelas alturas flanqueavam a via de acesso a MONTE CASTELO, a cargo da 1ª DIE.

A 10ª Div Montanha (EUA) foi detida face à reação apresentada pelos alemães em MONTE DELLA TORRACIA.

Apesar disso, a 1ª DIE prosseguiu para seu objetivo com perfeita coordenação entre os ataques principal e secundário e modelar apoio de fogo proporcionada pela A D. Fogo preciso e concentrado que transformou MONTE CASTELO num vulcão e mereceu de um adversário a seguinte expressão:

 “As concentrações de Artilharia aqui em MONTE CASTELO eram de arrebentar os nervos de qualquer um”.

Depois de 12 horas de combate, o Regimento Sampaio conquistou MONTE CASTELO após ser fixado pelo 3º Batalhão (FRANKLIN) e desbordado pelo 1º Batalhão (UZEDA).

O ataque secundário, apoiado pelos fogos do 3º Grupo de Artilharia, avançou na direção de ABETAIA e assegurou cobertura ao ataque principal, em virtude da ameaça representada pela cota 884.

A conquista de MOd aquele objetivo da 10ª Div de Montanha (EUA).

 

5. TÓPICOS PARA DISCUSSÃO

Discutir o Combate de Monte Castelo, à luz da Manobra e seus elementos e dos Princípios de guerra.

- Figura nº 1 -

6. UMA SOLUÇÃO

a. Manobra e seu elementos

1) Objetivo: Conquistar MONTE CASTELO.

2) Forma: Ofensiva - Defensiva.

- Parte Ofensiva - Central; por - Penetração.

- Parte Defensiva - Defesa em Posição.

3) Direções: Paralelas, dos ataques principal e secundário.

4) Repartição de Meios:

- Ação Principal (Ataque principal sobre o MONTE CASTELO):

- Regimento Sampaio (1º RI);

- 2 Pel Carros de Combate dos (EUA);

- 1ª Cia Eng/9ª BE, em reforço;

-1º e 2º Grupos de Artilharia 105, em apoio direto, reforçados por duas Cia de obuses 105, dos 1º RI e 11º RI.

- Ações Secundárias: - Ataque Secundário a cargo do 2º Btl do 11º RI, com apoio de fogos de uma Bia do 3º Grupo;

- Defesa do restante da frente, a cargo do 6º RI.

- Reserva: - 11º RI (S. João Del Rey), menos o 2º Btl;

- Esquadrão de Cavalaria.

5) Amplitude:da manobra  Tática.

6) Comando: Centralizado.

7) Desencadeamento: Ações simultâneas

b. Princípios de Guerra

1) Objetivo: Conquista de MONTE CASTELO, ponto chave da ruptura das defesas alemãs nos Apeninos, entre os vales do RENO e MARANO.

2) Surpresa: Não caracterizada.

3) Massa: Regimento Sampaio reforçado por 2 Pelotões de CC (EUA),1ª Cia/9º BE e apoio direto de fogos dos 1º e 2º Grupos de Artilharia 105, reforçados por duas Bia 105 do Regimento Sampaio e 11º RI.

4) Economia de Meios: 2º Batalhão, do 11º RI, no ataque secundário; 6º RI na defensiva, no restante da frente; e 2 Grupos de Artilharia, menos uma Bia, em apoio ao conjunto.

5) Ofensiva: Deslocamento do Regimento Sampaio para MONTE CASTELO,mantendo a iniciativa das ações e ali impondo sua vontade ao inimigo, auxiliado pelo eficiente apoio dos carros de combate, da engenharia de acompanhamento e dos grupos em apoio direto. Prosseguimento para o objetivo, após ser a unidade vizinha detida.

6) Manobra: Deslocamento do Regimento Sampaio, com rapidez e segurança, para colocar-se em posição vantajosa relativamente ao objetivo, conquistado através de um desbordamento realizado no âmbito do próprio Regimento Sampaio  (1 BI fixando e o outro desbordando).

7) Segurança: Pelas informações colhidas sobre o terreno e inimigo, através de patrulhas e outros meios. Segurança pelo dispositivo: Ação principal coberta à esquerda pelo ataque da 10ª Div Montanha dos EUA e à direita pelo ataque secundário, reserva forte e defensiva no restante da frente.

8) Simplicidade: Manobra simples - Um ataque principal e um  secundário, defensiva no restante da frente e com ordens . claras e precisas entendidas por todos os executantes.

9) Unidade de Comando: Perfeita coordenação e ligação entre 1ª DIE e  a GU vizinha (10ª Div Montanha dos EUA). Coordenação e comando propiciados pelos três eixos de comunicações estabelecidos, e mais, a presença de representantes categorizados do comandante da 1ª DIE, o general Zenóbio da Costa e o E/3 da 1ª DIE, tenente-coronel Castelo Branco, junto ao PC do Regimento Sampaio, e em estreita ligação com o comandante da 1ª DIE, em seu PC Avançado.

Nenhum Cmt subordinado tomou iniciativa comprometedora da unidade de Comando

 


Nota importante do autor. A razão dos insucessos dos 4 ataques frontais de Monte Castelo por forças brasileira e americanas tem a seguinte explicação

      Foi a 232a Divisão de Infantaria alemã, que fez frente à FEB  nos Apeninos E foi  em Monte Belvedere, que dominava e flanqueava o   Monte Castello, que o comandante alemão,  veterano comandante de  Corpo de Exército na Batalha de Stalingrado,  concentrou todo o seu esforço defensivo da ampla frente que . lhe coube defender, por ser Belvedere , o pivô da defesa alemã nos Apeninos.

      Daí a resistência enorme que os alemães ofereceram aos americanos frente a  Monte Belvedere e aos americanos e brasileiros em Monte Castello, que só caiu após o 5º  ataque aliado em 21 fevereiro de 1945 e desfe­chado pela FEB, com o Regimento Sampaio no Ataque Principal  quando Monte Bel­vedere já havia sido conquistado pela 10ª Divisão de Montanha dos EÜA.

        Do contrário, ataques frontais americanos e brasileiros, não teriam  nenhuma pos­sibilidade de surpresa e  continuariam a serem  mal-sucedidos.pela dominância sobre ele de vistas e fogos  de Belvedere, o Pivot da defesa alemã nos Apeninos

Detalhamos esta considerações em artigo As duas fades da glória na Revista A Defesa Nacional nº 755, jan/jun 1992.p52/62, em resposta ao livro do repórter Willian Waak. As duas faces da gloria.Rio de Janeiro:.Ed Nova Fronteira,1985.


Fontes consultadas

AMAN. Combate de Monte Castello.In HISTÓRIA MILITAR DO BRASIL.Volta Redonda:Gazetilha, Cadeira de História, 1978.

ESTADO-MAIOR DO EXERCITO. O EXERCITO BRASILEIRO NA 2ª GUERRA NUNDIAL.in: História do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Comissão  de História do EME, 1972. v.3, p.841/849

BENTO.Cláudio Moreira Cel. Como estudar e pesquisar a História do Exército. Brasília: EME/IGGCF, 1978 e 19 99 ,distribuído a AMAN,EsAO e ECEME

(       ). As Forças Armadas e a Marinha Mercante do Brasil na 2ª  Guerra Mundial. Volta Redonda:Gazerilha, 1995 ( Capa e prefácio do General Plínio Pitaluga. Obra  comemorativa do Jubileu de Ouro do Dia da Vitória

(    ),Marechal Mascarenhas de Morais- significação histórica. Revista do  instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume 344. jul/set . p.119/156( Conferencia como membro do IHGB no centenário do  comandante da FEB a convite de Pedro Calmon).

(      ) .Reflexos no Poder Nacional da pesquisa  estudo militar crítico da História Militar Terrestre do Brasil. . Revista do  instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume 344. jul/set . p.107/109