BICENTENÁRIO DO CONDE DE PORTO ALEGRE(1804-1875)

Cel Cláudio Moreira Bento(x)


Conde de Porto Alegre

Projeção histórica

O dia 13 jun 2004 assinala o bicentenário de nascimento, na cidade de Rio Grande, do Tenente General Manoel Marques de Souza (3ª ) e Conde de Porto Alegre

Sua vida e obra se projetaram com relevo na História do Brasil, na do Rio Grande do Sul e na de Porto Alegre, como um bravo cabo de guerra que muito serviu a Independência, a Unidade, a Integridade e Soberania do Brasil A Independência ao ajudar na sua consolidação na Província Cisplatina.

Combateu em Passo do Rosário em 20 fev 1827, ao final da Guerra Cisplatina 1825/28; na Revolução Farroupilha, 1835/45; na Guerra contra Oribe e Rosas 1851/52 , onde comandou a 1º Divisão Brasileira que integrou o Exército Aliado que derrotou forças ao ditador argentino Rosas em Monte Caseros a 2 fev 1852 e, na Guerra do Paraguai 1865/68, em que foi o comandante brasileiro das forças que obrigaram os paraguaios, que invadiram o Rio Grande do Sul por São Borja, a se renderem em Uruguaiana em 18 set 1865, em presença do Imperador D. Pedro II e dos presidentes Bartolomeu Mitre e Venâncio Flores da Argentina e do Uruguai.

Participou de esforço na Guerra do Paraguai a frente de seu 2º Corpo de Exército, a base de Cavalaria da Guarda Nacional gaúcha, tendo conquistado o forte de Curuzu, que usou por largo tempo .como base do 2º Corpo.

Seu grande momento como líder de combate foi comandar pessoalmente a derrota inimiga na 2a Batalha de Tuiuti e com extrema e memorável bravura.

Seu título de Conde de Porto Alegre foi em razão de haver, com ousado, golpe de mão, liderado a reconquista definitiva de Porto Alegre aos farrapos em 15 jun 1836, depois de fugir o barco prisão Presiganga onde fora preso pelos farrapos. Em conseqüência deste notável feito que liderou, Porto Alegre recebeu o titulo de Leal e Valorosa e exigiu mais tarde, em memória do herói que a libertou e a defendeu nos 3 sítios farrapos a que foi submetida, de levantar-se estátua para o imortalizar. Estátua que foi a primeira erigida em Porto Alegre e inaugurada pela Princesa Izabel em 1885, na Praça do Matriz e transferida em 1910 para a Praça Conde de Porto Alegre, junto do antigo Portão de entrada do complexo de fortificações que protegeram Porto Alegre dos 3 sítios farrapos que o herói enfrentara com valor e determinação.

 

Os generais Manoel Marque de Souza 1º ,2º e 3 º

Manoel Marques de Souza (3º ), por homônimo de seu pai e de seu avô. Este o Marechal de Campo Manoel Marques de Souza 1º, o patrono da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada sediada em Pelotas, a qual estudamos em obra específica, em parceria com o Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis, dentro do projeto em curso ,a História do Exército na Região Sul em execução pela Academia de História Militar Terrestre do Brasil .

Ele ingressou no Exército aos 13 anos, como cadete do 1º Regimento de Cavalaria Ligeira da Divisão de Voluntários Reais em Montevidéu, após esta praça ser ocupada pela citada Divisão, em 20 jan 1817, ao comando do General Carlos Frederico Lecor.

E ali ao lado de seu pai, General Manoel Marques de Souza (2º) participou de diversas ações de guerra até 1822, para a consolidação militar da posição de Portugal no atual Uruguai.

Em 1818, aos 14 anos, foi promovido a Alferes Ajudante de Campo do General Lecor, comandante dos Voluntários Reais vindos de Portugal para ocupar a Banda Oriental(atual Uruguai).

Terminada as guerras contra Artigas em 1820, que culminaram com a incorporação do atual Uruguai ao Brasil, como sua Província a Cisplatina, ali o herói permaneceu até a Independência, e participando das guerras da Independência do Brasil, com vistas a sua consolidação naquela novel Província.

 

Participação na Guerra Cisplatina 1825/26

Cursou no Rio, a Academia Militar do Largo do São Francisco em 1824, por curto período, retornando a Montevidéu para combater na Guerra Cisplatina 1825/28, Nesta guerra integrando a 1ª Divisão ao Comando do Marechal Sebastião Pereira Pinto, participou com destaque, como tenente do Estado - Maior desta Divisão , e foi citado por sua boa atuação por aquele chefe.

Capitão em 20 mar 1827, um mês após a Batalha do Passo de Rosário, passou a Ajudante de Ordens do General Lecor comandante do Exército do Sul. Finda a Guerra permaneceu em Montevidéu integrando a Divisão de Observação Brasileira.

Major em 29 mar 1829, aos 24 anos. assumiu o comando da 6ª Cia do 4º Regimento de Cavalaria Ligeira , unidade anteriormente comandadas pelo avô e pelo pai e com ela retornou ao Rio Grande onde passou a comandar a citada unidade, que por transformações, fusões , movimentações e denominações sucessivas é o 8º R C Mec- Regimento Conde de Porto Alegre, em Uruguaiana e abordado em livro pelo historiador da AHIMTB Sargento Carlos Fonttes.

 

Participação na Revolução Farroupillha 1835/45

 

Ao estourar a Revolução Farroupilha em 20 set 1835, conservou-se fiel ao Império. E terminou por apresentar-se ao Rio de onde retornou a Pelotas no comando de uma força de 80 homens, assumindo o comando desta cidade.

Ao general farrapo Antônio Neto tomar Pelotas, o Major Marques de Souza foi capturado e enviado preso para Porto Alegre onde lhe serviu de prisão o barco Presiganga, ancorado no meio do rio Guaíba.

E foi a partir do barco Presiganga de onde conseguiu se evadir que o Major Marques de Souza liderou a retomada de Porto Alegre aos farrapos em 15 jun 1836 e passou a participar com destaque da defesa de Porto Alegre dos diversos ataques aqui foi submetida durante os 3 sítios farrapos por nós estudados em Porto Alegre Memória dos sítios farrapos e do administrativo de Caxias Brasília : EGGCE 1989.

Este feito o imortalizou na História de Porto Alegre e é a origem de seu título Conde de Porto Alegre, e da cidade então títulada de Leal e Valorosa.

A sua saúde fora afetada por sua prisão por cerca de 2 meses no Presiganga .E entrou em licença de saúde por largo período. Assumiu comando do 2º Regimento de Cavalaria Ligeira só em 1840 e a sua frente participou de varias ações contra os farrapos, sendo que em 1844 Caxias o designou como coronel, para guardar importante posição em São Gabriel, o forte Caxias, como comandante de sua guarnição. Quase ao final da revolução foi enviado ao Rio em companhia de um irmão de Caxias e de Antônio Vicente da Fontoura a serviço da pacificação da revolução. Celebrada a paz em D. Pedrito atual, Caxias o encarregou de viajar mais uma vez ao Rio, agora para comunicar a pacificação ao governo imperial.

Ao se estudar a sua história e a do seu primo irmão e amigo, o futuro Almirante Tamandaré e mais a de Osório, se percebe os constrangimentos que revelavam em combater a revolução. O Tenente Osório a ela aderiu no primeiro momento dela se retirando quando tomou o rumo de República

Em 1846 foi graduado brigadeiro e comandante da 2ª Brigada de Cavalaria.

Participação destacada em Monte Caseros contra Oribe

A guerra contra Oribe e Rosas em 1851/52 lhe reservou destacado papel, como brigadeiro e efetivo( gen bda) desde 14 ago 1850.

Coube-lhe a honra de comandar a 1ª Divisão Brasileira que brilhou na Batalha de Monte Caseros, integrando a força aliada que terminou por derrubar o governo de ditador argentino Rosas.

Do Boletim do Exército Aliado sobre a Batalha se lê:

" O Sr Brigadeiro Manoel Marques de Souza, chefe do centro aliado e das forças brasileiras, deu um dia de glória a sua pátria, acrescentando novos louros a sua fronte e granjeando o respeito e gratidão dos aliados".

Caxias referindo-se a 1ª Divisão na batalha de Monte Caseros escreveu: "O Brigadeiro Manoel Marques de Souza, comandante da 1ª Divisão, mostrou no dia desta memorável batalha, muito tino e valor, dirigindo o combate no centro da linha inimiga, o seu ponto mais forte, prevenindo o ataque inimigo na ocasião oportuna. Nossos batalhões manobraram como se estivessem em parada. E isso aterrou considerávelmente o inimigo. Eu recomendo a sua Majestade, o Imperador este oficial general que faz honra ao Exército Brasileiro."

Em 18 fev 1852, o Brigadeiro Marques de Souza desfilou com sua 1ª Divisão Brasileira pelas ruas de Buenos Aires que ela ajudara irmãos argentinos a libertar do ditador Rosas.

Em 1º mar 1852, Marques de Souza reuniu em Montevidéu a 1ª Divisão ao Exército ao Comando de Caxias onde foi elogiado " por sua coragem e sangue frio na batalha".

Foi então que o Império o agraciou por sua invejável conduta, com o título de Barão de Porto Alegre, com honras de grandeza e com a medalha de ouro de oficial general das campanhas do Uruguai e Argentina e com sua promoção a Marechal de Campo ( general de divisão ).

Em 24 set 1852 assumiu em Porto Alegre o comando da atual 3ª Região Militar que exerceu até 5 de mar 1853, continuando a residir na Leal e Valorosa, e terminando por pedir reforma em 20 fev 1856, levado pelo sofrimento de doença crônica adquirida em campanha. Foi reformado como Tenente General (General do Exército) aos 52 anos. Havia contraído 2º casamento no ano anterior como uma filha do Coronel Soares de Paiva herói da resistência imperial ao ataque farrapo de São José do Norte.

Reformado passou a ter agitada carreira política. Em 1862 foi eleito deputado imperial tendo sido Ministro de Guerra por 6 dias.

 

Participação na Guerra do Paraguai 1865/68

Com a eclosão da guerra do Paraguai e conseqüente invasão do Rio Grande do Sul, foi nomeado em 21 jul 1865, Comandante- em- Chefe do Exército Brasileiro em Operações no Rio Grade do Sul.

E coube-lhe comandar o sitio do invasor paraguaio em Uruguaiana onde teve que assumir atitude firme e enérgíca, junto com seu ilustre primo irmão o Almirante Tamandaré, para impedir que argentinos comandassem o sítio do inimigo em território brasileiro.

E na proclamacão feita aos soldados brasileiros para o ataque ao invasor, a certa altura proclamou:

"Tendes por companheiros nesta luta de honra, os valorosos soldados das nações aliadas e para testemunhas de vossos feitos, os chefes das mesmas nações que comigo vos guiarão na marcha gloriosa que vamos empreender".

E teve o Barão de Porto Alegre papel militar de destaque na rendição do invasor do Brasil em Uruguaiana em 18 set 1865.

Após a rendição paraguaia, na Ordem do Dia nº 13 Porto Alegre ali escreveu entre outras coisas.

"Soldados da liberdade! Em nome do Imperador, o General- em- Chefe do Exército Imperial vos sauda, e vos conjura a que respeites a desgraça do inimigo vencido. O General- em- Chefe agradece a dedicação de cada um de vós esperando poder ainda uma vez orgulhar-se de haver-se achado a vossa frente.

Ass: Barão de Porto Alegre."

A seguir passou a comandar o 2º Corpo de Exército que a partir de São Borja foi lançado para combater no Paraguai em reforço ao 1º Corpo de Exército.

E sob sua liderança o 2º Corpo conquistou Curuzu em 3 set 1866. E em 14 set ele proclamou:

"Sobre as trincheiras de Curuzu tremula altivo o pavilhão nacional, que sustentado pelos bravos a cuja frente me acho, percorrerá triunfante este solo aonde ainda impera a tirania A jornada do dia 3 foi brilhante prólogo da obra, de cujo desempenho a pátria nos incumbe.....

....Soldados! Vingar a honra vilmente ultrajada, o direito conculcado, e a liberdade oprimida foi, é, e será sempre a mais nobre missão que pode ter um exército de um país livre, ufanai-vos, porque tal e a nossa incumbência- Barão de Porto Alegre".

Em 22 set 1866 teve lugar o malogrado ataque aliado a Curupaiti, sobre o qual três dias depois Porto Alegre escreveu a um amigo, carta publicava na Reforma de 2 fev 1885.

E em Ordem do Dia nº88 de 10 out de 1866 Porto Alegre declarou: "Em Curupaiti ficou ilesa a honra da Bandeira Brasileira.

Sob o comando de Caxias, Porto Alegre, muito doente solicitou dispensa do comando do 2º Corpo . Retornou em 1º mar 1867, reassumindo o seu comando. Pouco depois estabeleceu sua base em Tuiuti onde ela foi atacada de surpresa por forças paraguaias e teve que as repelir como líder de combate, como Caxias o havia feito em Itororó.

Nesta ação gloriosa, Porto Alegre aos 63 anos,, combateu com a mesma agilidade de um moço, não recebendo nenhum ferimento, apesar de terem sido crivados de balas os dois cavalos que montava. Houve um momento em que foi derrubado cavalo e teve que combater a pé.

O Conde de Porto Alegre se retirou do Teatro de Operações em jan 1868 por doente, sendo louvado por Caxias " pelo zelo, inteligência e valor com que sempre se houve no desempenho de suas funções."

Sem melhorar sua saúde terminou por falecer no Rio de Janeiro em 18 jul 1875 aos 71 anos. Embalsamado, o seu corpo foi transportado com todas as honras em navio de guerra ate Rio Grande e depois até Porto Alegre e ali foi sepultado em 5 nov. 1875 no cemitério São Miguel e Almas .

Em 2 fev 1885, com toda a pompa e circunstância foi inaugurada a sua estátua pela Princesa Izabel e presente seu esposo o Conde D´Éu. e Marechal Gastão de Orleans, autor do melhor memória sobre a Rendição de Uruguaiana em sua Viagem ao Rio Grande do Sul em 1865.

Entre seus biógrafos destaco Décio Vignoli das Neves em Vultos de Rio Grande. Santa Maria:Pallotti,1981.

A Academia de História Militar Terrestre do Brasil além do seu Guararapes nº 41, através de sua Delegacia Gen Rinaldo Pereira da Câmara no Rio Grande do Sul, esta trabalhando nas comemorações do bicentenário do Conde de Porto Alegre através de seu delegado e acadêmico Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis que fará conferência em 17 jun no Solar do Conde de Porto Alegre e da sócia efetiva daquela Delegacia jornalista Carmen Lúcia Ferreira da Silva, tetraneta do herói, que já o focalizou em O Gaúcho 23, mar 2004, informativo do Instituto de História e Tradições do RGS, a qual, associada ao CMPA,IHTRGS e AHIMTB, lavrarão no CMPA, no dia 13 jun as 17 horas, um Protocolo de Intenções, com vistas a uma reedição comentada do livro Conde de Porto Alegre editado pela BIBLIEx em 1952 , por Carlos Maul, De Paranhos Antunes e Jaime Ribeiro da Graça.

 

Fontes consultadas

1 -ALMEIDA, Antônio Rocha, Vultos da Pátria. Porto Alegre: Ed. Globo, 961.v.1

2 -BENTO, Cláudio Moreira. História da 3ª Região Militar 1808-1889 e Antecedentes.

Porto Alegre: 3ªRM/SENAI,1994.

3 -FONTTES, Carlos .Regimento Conde Porto Alegre. Uruguaiana:ed/autor,1985.

4 -MAUL, Carlos et alli. Conde de Porto Alegre. Rio de Janeiro:BIBLIEx,1952.

5 -NEVES, Décio Vignoli das .Vultos de Rio Grande.Santa Maria:Pallotti,1981.

6 -PORTO ALEGRE, Conde de. Ordens do Dia do 2º Corpo de Exercito. Rio de Janeiro: Tip Francisco Alves,1877.( Cotem 103 ordens do Dia de 21 ago 1865 a 15 mai 1867 , com referencias a nomes dos integrantes do Corpo e ordem alfabética pelo primeiro nome).

7 -SILVA, Alfredo Pretextato Maciel da. Tem Gen Manoel Marques de Souza in: Os generais do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: M.Orosco, 1907.

8- SILVA, Carmen Lúcia Ferreira da. Conde de Porto Alegre. O gaúcho. mar 2004

(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul