A DEPOSIÇÃO DO GENERAL FLORES DA CUNHA 
DO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL EM 17 OUTUBRO 1937

                                    

 

Cel Claudio Moreira Bento

 

 

Avizinhavam-se as eleições de 1938. Constava que o valoroso General Honorário do Exército José António  Flores da Cunha  seria candidato e se oporia ao desejo do Getúlio Vargas de permanecer no poder.

 Decidida a implantação do Estado Novo, ele seria   o seu maior obstáculo militar, com apoio de parcela do Exército, de Corpos  Provisórios e da Brigada Militar. Dai as repercussões graves para a 3ª Região Militar pela  possibilidade de repetição de fatos, como os de 1930, humilhantes para chefes do Exército no ataque dos revolucionários de 30 , ao Quartel General da 3ª  Região  Militar.

 E teve curso um longo e cuidadoso  processo, à semelhança de  um jogo de xadrez, para afastar de modo incruento e digno, numa manobra de Inteligência. o General Flores da Cunha do Governo do Rio Grande do Sul. E a seguir implantar o Estado Novo numa conjuntura de Estado de Guerra vigorante.

 Este assunto foi 'tratado em detalhes na seguinte obra com apoio no Arquivo do Marechal do  Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra  e organizado por seus familiares:

LEITE, Mauro Renault et NOVELI Junior. Marechal Eurico Dutra - O Dever da Verdade, Rio de Janeiro: Nova  Fronteira, 1983

 Este livro focaliza, das p.. 115 a 257, as preocupações do Comando da 3ª  Região Militar, com uma possível reação da armada do General  Flores da Cunha, com apoio em parcela do Exército, Corpos Provisórios e Brigada Militar.

Estas preocupações foram transmitidas ao Ministro General  Dutra pelo comandante da 3ª Região Militar General Lúcio Esteves em 10 de Dez de. 1936, dia seguinte  a  posse do Ministro Dutra no Ministério da Guerra.

No 1º despacho ministerial com o presidente, o General  Dutra conheceu o plano do  Presidente Getúlio Vargas de intervir no Rio Grande do Sul, com apoio em planejamento  elaborado pelo General Aurélio  Goes Monteiro e aprovados pelo presidente.

Mas o  Ministro Dutra desaprovou o plano citado que foi abandonado.

 Vigorava no  Brasil, desde 16 Set. 1936, o Estado de Guerra. Condição  que  foi prorrogada por mais  90 dias, por Dec. 1259, de 16 Dez. 1936.

 Ainda em 16 Dez. 1936, o Ministro da Guerra baixou a Instrução Pessoal e Secreta n.º 1,  ao General. Pedro Aurélio  de Goes Monteiro, inspetor do 2º Grupo de Regiões Militares (com Jurisdição sobre as 2ª Região Militar em São Paulo, a 3ª Região Militar  no Rio Grande do Sul, a 5ª Região Militar do Paraná e Santa Catarina  e a 9ª Região Militar  em  Mato Grosso).

      Esta Instrução Pessoal e Secreta na 1, constante do livro citado, provocaria  a deposição do General. Flores da Cunha, em 17 Out. 1937, conforme relata o Marechal. Odylio Denys, na época Ten. Cel e Oficial de Informações da 3ª Região Militar ao comando do General Daltro Filho e que a seguir assumira o comando do 7º Batalhão de Caçadores  na Praça do Portão. O então Ten Cel Denys foi Chefe militar que executou o lance final incruento, relacionado com a deposição do General Flores  da Cunha do Governo do  Rio Grande do Sul, em condições cavalheirescas e dignas, conforme obra a seguir:

 

      DENYS, Odylio, Marechal. O Ciclo Revolucionário Brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 49-53.

 

Neste livro o Marechal Denys descreve com detalhes as operações incruentas, e cavalheirescas e dignas até o embarque no Aeroporto de Porto Alegre do General Flores da Cunha para Santana

O General Flores da Cunha formado em advocacia consagrou-se como  líder militar, bravo, valoroso e generoso nas revoluções das décadas de 20 e 30 no Rio Grande do Sul, razão de sua merecida promoção ao posto de General Honorário do Exército, condição de que muito se orgulhava. Seus feitos militares são por demais  celebrados por seus biógrafos.

Aos 23 anos demonstrou seu valor e coragem ao assumir Delegacia de Policia, em bairro do Rio de Janeiro que devia ser sanado por habitado por bandidos e malfeitores. E ele deu conta da missão com coragem e energia e saneou o bairro.

Sobre ele escrevemos artigo sob o título “Um santanense- um gaucho brasileiro símbolo”.  A Platéia. Santana, 5 de abril de 1994

Nele referíamos que o General Flores da Cunha havia se reencontrado com as virtudes de Firmeza e Doçura que os farrapos representaram sob a forma de dois amores perfeitos colocados nos ângulos agudos do losango da Bandeira da Republica Rio Grandense. Símbolo adotado pelos constituintes gaúchos de 1891 como a Bandeira do Rio Grande do Sul e da qual sumiram os amores perfeitos substituídos por estrelas. Firmeza, simbolizando em combate. Lutar com toda a garra . bravura e determinação. Doçura, simbolizando depois da vitória. Respeito como religião. A vida, à família, a honra, e ao patrimônio do vencido inerme.

Exemplo eloqüente destas virtudes o General Flores da Cunha deu ao prender o valoroso revolucionário  Honório Lemes e se recusar a receber o seu revolver e a sua espada

O autor é natural de Canguçu e preside a Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB) e sua filiada a AHIMTB/Resende, o Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS) e a Academia Canguçuense de História (ACANDHIS). End: Rua Florença, 266, Jardim das Rosas, CEP 27580-000, Itatiaia-RJ. E-mail: bento1931@gmail.com - Sites www.ahimtb.org.br e www.ihtrgs.com.br