OS ESTABELECIMENTOS MILITARES DE ENSINO PORTUGUESES (1)

 

O INSTITUTO MILITAR DOS PUPILOS DO EXÉRCITO

 

 

RUI SANTOS VARGAS

santosvargas.rui@gmail.com

 

 

O Exército Português, através do seu Comando de Instrução e Doutrina, dispõe de diversas escolas, sendo que umas, os estabelecimentos de ensino militar, visam a formação de oficiais e sargentos (a Academia Militar e a Escola de Sargentos do Exército, respectivamente), e outras, os estabelecimentos militares de ensino que visam o ensino de jovens rapazes e raparigas segundo programas definidos pelo Ministério da Educação aos quais se acrescenta uma componente militar. São três os estabelecimentos militares de ensino portugueses: o Colégio Militar (CM), o Instituto de Odivelas – Infante D. Afonso (IO) e o Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE).

É sobre este último que nos vamos debruçar neste artigo, a sua História, o seu plano de estudos, as suas Honras, e os seus antigos alunos.

 

Armas do Instituto Militar dos Pupilos do Exército

 

 

 

INSTITUTO MILITAR DOS PUPILOS DO EXÉRCITO

 

Fundação e História

O IMPE foi fundado nos alvores da República em Portugal, a 25 de Maio de 1911, com o objectivo de ajudar socialmente na educação e formação dos filhos varões de sargentos e praças das Forças Armadas, e formar cidadãos úteis à Pátria. Tinha a designação de Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar[i], nele se depositava muito do sentido regenerador social que marcou o início do século XX.

Foi seu fundador o General António Xavier Correia Barreto, à época Ministro da Guerra e ainda com a patente de Coronel. Homem invulgar, Correia Barreto foi, para além de um militar de eleição, político republicano que exerceu por três períodos diferentes a função de Ministro da Guerra, foi Senador e Presidente do Senado, e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Como maçon foi Grão-mestre da Maçonaria portuguesa. Foi ainda um notável cientista na área da química, ficando-se a dever ao seu trabalho e dedicação a descoberta de uma fórmula de pólvora sem fumo de nível superior à concorrente Nobel, que ficaria conhecida como Pólvora Barreto.

Ao longo da existência do IMPE, os seus planos de estudos sofreram diversas reestruturações para melhor se poderem adaptar às necessidades e realidades do Exército e do País. Independentemente dos níveis profissionais, Médio ou Superior (atribuindo o grau de Bacharel) dos cursos ministrados, a oferta de formação no IMPE centrou-se maioritariamente nas áreas da Contabilidade, Mecânica, Electricidade e Electrónica.

Em 1976 foram admitidas as primeiras alunas do Instituto, e hoje em dia, podem concorrer ao IMPE as filhas e filhos de militares e de civis.

Os alunos e os antigos alunos dos Pupilos do Exército são conhecidos popularmente como Pilões[ii].

 

General António Xavier Correia Barreto

 

 

 

 

Actualidade

Hoje em dia, o IMPE ministra o 2.º e o 3.º ciclos do Ensino Básico e cursos profissionais de nível III (equivalentes para todos os efeitos ao 12º ano de escolaridade) de Técnico de Gestão, Técnico de Manutenção Industrial Electromecânica e Técnico de Manutenção Industrial Mecatrónica.

Ministra igualmente cursos de especialização tecnológica[iii] de nível IV de Contabilidade, Electrónica e Telecomunicações, Instalações Eléctricas e Automação e Tecnologia Automóvel.

Para além das disciplinas que constituem o curriculum aprovado pelo Ministério da Educação, os alunos dos Pupilos do Exército têm Instrução Militar, que nos 11.º e 12.º anos constitui a primeira parte do Curso Geral de Milicianos, o que equivale à recruta do Exército para oficiais e sargentos do quadro de complemento.

Para promover uma formação integral, inúmeras outras actividades extra-curriculares são postas à disposição dos alunos, quer no campo desportivo (esgrima, remo e remo indoor, andebol, futebol, voleibol, basquetebol, tiro, pára-quedismo, equitação, tae kwon-do, etc.) quer no campo artístico-cultural (canto coral e instrumental, artes plásticas, fotografia, etc.).

Há regime de internato e de semi-internato exclusivamente para rapazes, e nos cursos profissionais e de especialização tecnológica o regime é de semi-internato, sendo também admitidas alunas.

O IMPE é dirigido por um Oficial General do Exército no activo, geralmente Major-General, e os seus quadros docente e de apoio são preenchidos com militares de todos os ramos das Forças Armadas, bem como civis.

Convidam-se os caros leitores a visitar a página oficial do IMPE na internet cujo endereço é http://pupilos.eu.

 

O Estandarte Nacional do IMPE e a sua escolta em Uniforme de Gala

 

 

 

Condecorações, Lema e Patrono

Como prova de apreço nacional e de distinção, o Estandarte Nacional do Instituto ostenta diversas honrosas condecorações, que lhe foram sendo atribuídas ao longo dos seus quase 100 anos. São elas:

-          Comendador da Ordem da Instrução Pública[iv] (1953);

-          Comendador da Ordem Militar de Cristo[v] (1957);

-          Membro Honorário da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada[vi] (1981);

-          Membro Honorário da Ordem Militar de Avis[vii] (1988);

-          Medalha Militar de Serviços Distintos - grau Ouro[viii] (1996).

 

 

Ordem Militar de Avis     Ordem Militar de Sant'Iago da Espada

 

 

O lema do Instituto é, desde a sua fundação, Querer é Poder. Esta divisa, incitadora de convicções profundas, tem sido uma bandeira que os alunos e antigos alunos dos Pupilos do Exército têm empunhado com veemência, sendo-lhes reconhecida publicamente essa capacidade de trabalho e de realização.

O IMPE tem como patrono D. João de Castro, herói impoluto da gesta das Índias da qual foi Vice-Rei, e cuja sepultura está na capela do Instituto.

 

Antigos Alunos

A melhor maneira de avaliar uma escola, é analisar a sua “produção”. Os antigos alunos do IMPE têm-se distinguido nas mais diversas áreas de actividade.

Muitos foram os que seguiram a carreira das armas, no Exército, na Armada, na Força Aérea, e na Guarda Nacional Republicana. Destes, perto de 50 atingiram as estrelas do generalato ou do almirantado. Inclusivamente vários antigos alunos tiveram o privilégio de ser Directores do Instituto.

Podemos mencionar ainda Ministros, Secretários de Estado, Presidentes e vereadores de Câmara Municipais, professores dos ensinos superior e secundário, advogados, médicos, polícias, engenheiros, contabilistas, gestores, economistas, arquitectos, sacerdotes católicos, historiadores, desportistas, escultores, pintores, escritores, etc. Todos eles com pontos em comum: um grande respeito pelo trabalho e um sentido de solidariedade e de entre-ajuda muito forte.

Mesmo correndo o eminente risco de omitir antigos alunos dignos de referência especial, destaco alguns:

- Engº Afonso Lemos Proença - antigo Presidente da Câmara Municipal de Leiria

- Capitão de Mar e Guerra Alberto Rebordão de Brito – Oficial Superior Fuzileiro Especial; Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada; Medalha de Prata de Valor Militar, com Palma; Cruz de Guerra de 1ª Classe

- Alexandre Cabral – Escritor Neo-realista e Camilianista

- Prof. António Vidigal – Professor de Belas Artes, Escultor, Académico da Academia Nacional de Belas Artes

- Engº Carlos Alberto Dias Teixeira – Presidente da Câmara Municipal de Loures

- Dr. Henrique Medina Carreira – antigo Ministro das Finanças e antigo Secretário de Estado do Orçamento

- General João Barroso Letras - Oficial General Piloto Aviador da Força Aérea Portuguesa

- Engº Joaquim Videira – Atleta Olímpico em Espada (Pequim 2008)

- Dr. José Cardoso da Silva – antigo Secretário de Estado para a Indústria, Vereador da Câmara Municipal de Lisboa

- Engº José Caro Proença – Historiador especialista nos Descobrimentos Portugueses

- Ten. Coronel José Manuel Pedroso da Silva – Heraldista; Director do Gabinete de Heráldica do Exército; Académico-fundador da Academia Lusitana de Heráldica

- Prof. José Sousa Gomes – Presidente da Câmara Municipal de Almeirim

- General Mário Jorge Ribeiro de Almeida Vergas Rocha – Oficial general do Exército

- Políbio Gomes dos Santos – Poeta

- Ruy Cinnati – Engº Silvicultor, Poeta

- Contra-Almirante Victor Gonçalves de Brito – Oficial General Construtor Naval da Armada, Professor Universitário, Vice-Presidente da Ordem dos Engenheiros

- General Victor Mota de Mesquita – Oficial General do Exército

- Dr. David Sequerra – Jornalista desportivo; antigo seleccionador nacional de futebol de júniores

 

D. João de Castro - Vice-Rei da Índia

Patrono do IMPE

 

A Associação dos Pupilos do Exército (APE) fundada a 1 de Junho de 1932, é a associação que congrega os antigos alunos, actuando em três vectores principais: a solidariedade, a cultura e a educação física.

Edita, desde 1943, o Boletim da APE.

Disponibiliza na internet o sítio www.ape.pt .

 

 

Emblema da Associação dos Pupilos do Exército

 

 

Terminava este breve apontamento sobre o Instituto Militar dos Pupilos do Exército com um poema, da autoria do antigo Professor Artur Lobo de Campos, que usando a força superior da poesia tão bem define o que é ser Pupilo.

 

 

 

SER PUPILO

 

 

Ser Pupilo é trazer no coração

O amor da Pátria, a fé nos seus destinos

É sentir dentro d’alma a gratidão

Por quem homem nos fez, sendo meninos.

 

É ser obediente a quem nos guia

E ensina que não há prazer que valha

Esta alegria sã de quem trabalha

Para ganhar o pão de cada dia.

 

É ter orgulho de vestir a farda

Que a honra e brio do soldado encerra;

Aprender o manejo da espingarda

P’ra defender um dia a nossa Terra.

 

Ser Pupilo é ser forte e ser leal

Na bravura o primeiro entre os primeiros

Tomando o exemplo em nobres cavaleiros

Que deram fama e glória a Portugal!

 

 

 

 


 

[i] Até aos dias de hoje, teve ainda a designação de Instituto Técnico-Militar dos Pupilos do Exército.

[ii] Há várias teorias para justificar a denominação, mas a que considero mais provável é que Pilões seja a redução do termo pupilões.

[iii] Os cursos de especialização tecnológica são formações pós-secundárias não superiores que visam suprir as necessidades verificadas, no tecido empresarial, ao nível dos quadros intermédios, e a sua conclusão confere um Diploma de Especialização tecnológica (DET).

[iv]  A Ordem da Instrução Pública tem o intuito de galardoar altos serviços prestados à causa da educação e do ensino.

[v] A Ordem Militar de Cristo é concedida por destacados serviços prestados ao País.

[vi] A Ordem Militar de Sant'Iago da Espada tem por objectivo distinguir o mérito literário, científico e artístico.

[vii] A Ordem Militar de Avis é destinada a premiar altos serviços militares, sendo exclusivamente reservada a oficiais das Forças Armadas, da Guarda Nacional Republicana e da Guarda Fiscal e, ainda, a unidades, órgãos, estabelecimentos e corpos militares.

[viii] A medalha de serviços distintos destina-se a galardoar serviços de carácter militar, relevantes e extraordinários, ou actos notáveis de qualquer natureza ligados à vida da instituição militar, de que resulte, em qualquer dos casos, honra e lustre para a Pátria ou para a própria instituição.