A FORTALEZA BRASIL
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Texto e Projeto Cel CLAUDIO MOREIRA BENTO
Ilustrações Pintor MÁRIO NEVES
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SUMÁRIO
Forte São João da Bertioga - São Paulo
Fortaleza de Santa Cruz - Rio de Janeiro
Fortaleza Nossa Senhora da Assunção - Ceará
Forte dos Reis Magos - Rio Grande do Norte
Forte das Cinco Pontas - Pernambuco
Fortaleza de São José da Ponta Grossa - Santa Catarina
Forte Jesus - Maria - José - Rio Grande do Sul
Forte Príncipe da Beira - Rondônia
Forte São Marcelo ou do Mar - Bahia
Forte de Coimbra - Mato Grosso do Sul
Forte de Copacabana - Rio de Janeiro
PATROCÍNIO:
APRESENTAÇÃO
Durante o processo histórico do Brasil, de quase cinco séculos, ele foi protegido por um cinturão de cerca de 350 fortificações militares que terminaram por transformá-lo numa imensa fortaleza, que integrou muralhas artificiais com as naturais. Elas foram construídas progressivamente, ao longo das grandes batalhas travadas pelo Brasil para preservar fundamentalmente sua Integridade e por vezes sua Unidade, Soberania, Independência e Democracia, sob ameaças.
Durante mais de quatro séculos foram erigidas fortificações sob as formas de praças-fortes, presídios, fortalezas, fortes, fortins, hornaveques, redutos, redentes, baterias, feitorias e casas-fortes, trincheiras, portões, portas, etc... Muitas foram batizadas com nomes de santos, coerente com o ideal político português de "Dilatar a Fé Católica do Império Lusitano", do qual decorreu o pensamento militar, responsável pelos feitos dos soldados luso-brasileiros:
"Julgada a causa justa, pedir a proteção de Deus e atuar ofensivamente, mesmo em inferioridade de meios", segundo o general F. Paula Cidade.
As fortificações concentram-se no litoral, particularmente no estuário e Baixo Amazonas, portos de São Luiz, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá, Florianópolis e Rio Grande. Muitas, foram os núcleos iniciais, em torno das quais nasceram e cresceram sob suas proteções as cidades de Manaus, Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Rio de Janeiro, Florianópolis, Rio Grande e Rio Pardo, etc...
Nas fronteiras além de balizá-las, serviram para vivificá-las e barrarem vias de acesso ao nosso território, ao longo dos rios Paraguai e afluentes do Amazonas, comprovando todas, a visão estratégica superior dos portugueses que não dispuseram de mapas para localizá-las. O cinturão de fortalezas brasileiras foi essencial, durante quase quatro séculos, na defesa contra índios, piratas, corsários, aventureiros, invasores estrangeiros e nas guerras internas e externas e pela Independência e, assim, para a definição e preservação das dimensões continentais do Brasil, até hoje balizadas em seus extremos por algumas delas. Nem todas foram construídas pelos portugueses ou pelos brasileiros. Muitas o foram pelo invasor como instrumentos das conquistas. As fortificações brasileiras em seu conjunto, ou como elemento de dissuasão ou disparando seus canhões, cumpriram sua destinação militar e geopolítica. Algumas tiveram papel expressivo na conquista e preservação de nossa Independência, como na Bahia, os fortes de São Pedro e São Lourenço e a torre de Garcia D'Ávila, casa fortificada dos Ávilas, veterana das lutas contra índios, piratas, corsários e holandeses, que serviu de base de operações do Exército Libertador, ao comando de Antônio Joaquim Pires Albuquerque, primeiro titular do Império do Brasil, com o título de Barão da Torre, por relevantes serviços prestados à Independência na Bahia.
A maioria das fortificações foi expressiva na defesa de nossa integridade. Outras na de nosso Soberania, como a fortaleza N. S. dos Prazeres de Paranaguá, no célebre incidente com a fragata inglesa "Cormoran". Outras desempenharam papel de destaque na preservação da Unidade Brasileira, como durante a Revolução Farroupilha, 1835-45, o forte Caxias, construído em São Gabriel, as trincheiras de Canguçu, Alegrete, Bagé e Rio Grande. O padrão técnico e a qualidade do material empregado na construção variaram muito, desde os monumentos forte Príncipe da Beira, em Rondônia e as fortalezas Santa Catarina, na Paraíba, e Santa Cruz, E São João no Rio, até os fortes dos Arraiais Velho e Novo do Bom Jesus, no Recife. Estes tiveram suas históricas muralhas de terra batida tragadas pela voragem do tempo. Elas foram gloriosas testemunhas da maturação, na luta contra o invasor holandês, dos espíritos de Nacionalidade e de Exército Brasileiro que despertaram gloriosos nas vitoriosas batalhas dos Guararapes. Tivemos, por outro lado, fortificações cujas muralhas foram construídas com areia escorada com estacas de madeira, como a fortaleza N. S. de Santana e o forte Jesus Maria José que formaram a base militar fundada pelo Brigadeiro Silva Pais, em 1737, com o nome de Presídio Jesus Maria José, na atual cidade de Rio Grande. Cabeça-de-praia que se constituiu em marco da fundação oficial do Rio Grande do Sul, além de base de partida para a definição de seu destino inicialmente português e ora brasileiro.
De natureza medieval existiram no Nordeste, durante as guerras holandesas, fortificações denominadas casas-fortes, muito comuns nas crônicas militares do passado. Entrou para a História construção deste tipo do Engenho de Ana Pais, onde os patriotas venceram no combate de Casa Forte, em 17 ago 1645, o resto do Exército Holandês batido em 3 ago 1645, em Monte das Tabocas. Batalha esta que abriu a campanha da Insurreição Pernambucana, só fechada em 26 Jan 1654, defronte ao forte das cinco Pontas, no Recife, com a capitulação holandesa em todo o Brasil.
Todas as fortificações brasileiras são das épocas Moderna e Contemporânea. A expressiva maioria não mais existe. De muitas ainda restam tênues vestígios, semelhantes a cicatrizes do solo pátrio, para lembrar à posteridade as seculares pugnas que enfrentaram para ajudarem a configurar e a preservar um Brasil Continente. É o caso das mais de 4 dezenas de fortificações do Rio Grande do Sul, das quais restou o inacabado forte D. Pedro II, em Caçapava do Sul, iniciado em 1851 e jamais guarnecido. Os que ainda existem tornaram-se símbolos e mudas testemunhas dos sacrifícios, privações, raça, denodo, valor e patriotismo dos soldados de Portugal, e depois do Brasil, que as construíram, guarneceram e defenderam anonimamente, durante mais de 4 séculos, ao custo muitas vezes de suas preciosas vidas, de seus generosos sangues ou de padecerem doenças, sacrifícios, tristezas e solidão, para assim definirem, balizarem, preservarem e nos legarem um país íntegro, soberano, unido, independente e tradicionalmente cristão.
Aqui a Academia de História Militar Terrestre do Brasil evoca e reverencia a memória dos soldados portugueses e brasileiros, e familiares que, por mais de 4 séculos, ao guarneceram nossas fortificações, contribuíram para nos legar um Grande Brasil que nos cabe transformar em Brasil Grande, inspirado e alicerçado nos imortais exemplos de virtudes militares e de patriotismo que nos proporcionaram e nos valores espirituais e morais da Nacionalidade.
Na impossibilidade de evocar uma a uma as centenas de fortificações brasileiras, foi feita uma seleção de 12 mais representativas, por razões diversas e que permitisse ensaiar-se pela primeira vez, sinteticamente e por interpretação, a História Militar do Brasil à luz de cada uma das fortificações reconstituídas plasticamente por Mário Neves, com apoio em pesquisa a nosso cargo. Maiores detalhes o leitor interessado poderá buscar na bibliografia indicada ao final.
N: Diferença entre forte e fortaleza: O primeiro compõe-se de uma ou mais baterias de Artilharia localizadas na mesma obra. A Segunda de duas ou mais baterias localizadas em obras independentes e com largo intervalo entre elas.
Forte São João da Bertioga
Mandado erigir sob a forma de paliçada em 1532, por Martim Afonso de Souza, donatário de São Vicente, em local escolhido por João Ramalho ao norte do canal de Bertioga. Sua finalidade era defender a novel São Vicente, atingida pelo canal por Tamoios vindos de Ubatuba (Iperoig) e São Sebastião (Maembique). Em 1537, os defensores da paliçada foram massacrados pelos Tamoios. Os sobreviventes, os irmãos Braga e novos colonos erigiram no local o forte São Tiago. A partir de 1550 o forte passou a ser auxiliado pelo de São Felipe, erigido por Bráz Cubas, do outro lado do canal. Foi atacado na época, teve aprisionado seu construtor e comandante Hans Stadem e foi arrasado pelos Tamoios. Em 1557 foi reconstruído, ampliado e reforçado, sob o traço de Antônio Rodrigues de Almeida. O mesmo aconteceu com o forte São Felipe, em 1560. A paz de Iperoig (Ubatuba), obtida com os Tamoios em 1564, pelos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, com o apoio dos irmão Adornos, pôs fim à ameaça dos Tamoios sobre São Vicente. Foi do forte S. Tiago que em 1665 e1667 partiram os irmãos Adornos e o padre José de Anchieta com tropas de São Vicente e Salvador para retomarem a Guanabara, por duas vezes e, na última, de lá expulsaram definitivamente os franceses em apoio a Mem de Sá e a Estácio de Sá, além de fundarem o Rio de Janeiro, a partir de uma cabeça-de-praia na atual fortaleza S. João que abrigou em 1857 a Escola Militar do Exército (de Aplicação) e atualmente as escolas de Educação Física do Exército e a Superior de Guerra. Desde 1765, primitivo e heróico forte São Tiago passou a chamar-se São João de Bertioga.
Durante a Guerra 1763-77 possuiu enorme guarnição, com responsabilidade sobre Ubatuba (Iperoig) e São Sebastião. Sua frente atual é a de 1817, quando dispunha de 9 canhões de ferro.
Em 1945 foi restaurado pelo IPHAN. Em 1962, mediante acordo IPHAN - Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, passou a abrigar o Museu João Ramalho, para perpetuar a memória de sua gloriosa e imensa projeção geopolítica e como testemunha muda e instrumento de segurança de cabeça-de-praia onde teve início a colonização efetiva do Brasil, além de, segundo o historiador e museólogo Veinicio Stein Campos, base de partida da conquista por vicentinos, do litoral desde o Rio de Janeiro até Laguna e do Planalto Central pelos bandeirantes, à semelhança dos papéis de cabeça-de-praia desempenhados por Salvador, Recife e Belém, na conquista do restante do Brasil, de 1531-1821.
Seus três canhões históricos foram oferta da Escola Naval, que este ano comemora seu bicentenário de criação em Portugal, como classe de Guarda-Marinha, transferida em 1808 para o Brasil junto com a Família Real.
Fortaleza de Santa Cruz
É a mais majestosa como conjunto arquitetônico. Ao longo de 4 séculos foi a que mais lutou e foi a mais respeitada pelo seu grande poder de fogo e posição.
Remonta o ano de 1555 quando foi estabelecida por Villegaignon, junto com a da Laje, ou Almirante Tamandaré e o forte Coligny, atual Escola Naval, para defender a França Antártica. Em 1567 passou a controle português. Foi melhorada a denominada N. S. da Guia. Seu batismo de fogo foi vitorioso e ocorreu em 11 Fev 1551, contra a esquadra de Van North que pretendia transpor a barra. Em 1632, em função da invasão holandesa em Pernambuco, ela foi ampliada e denominada de Santa Cruz. A partir daí passou a ser poderoso instrumento de dissuasão contra ataques navais ao Rio. Em 17 Ago 1710, suas 44 peças impediram que o corsário Du Clerc forçasse a barra da Guanabara. Em 12 Set 1711, desamparada de Armada para auxiliar a bloquear a barra, não conseguiu impedir que Dugay Trouin se infiltrasse na Guanabara aproveitando-se do nevoeiro. Então caiu por dois meses em mãos do corsário.
Durante a guerra 1763-76, para a reconquista do Rio Grande do Sul, como novel capital do Brasil e de embarque do ouro das Gerais, tornou-se o mais bem armado o, tendo como chave a fortaleza de Santa Cruz, a mais poderosa e temida do Brasil. A Regência reduziu consideravelmente seu poder de fogo e a transformou em presídio de políticos, inclusive o temporário de Bento Gonçalves, líder farrapo.
Floriano Peixoto, "O Marechal de Ferro" perguntado como seria recebida uma força naval estrangeira com intenção oculta de interferir na Soberania brasileira, respondeu: -- "A bala"! Seguramente escudado pelo valor da fortaleza onde assentara praça em 1857. Em conseqüência da Questão Cristie 1861-65, suscitada por inábil embaixador inglês, ela sofreu, segundo F.P.A. Pondé, junto com a da Laje e de São João, significativa reforma. Em 21 Dez 1861 flotilha inglesa do almirante Warren bloqueou o porto do Rio. Apresou barcos mercantes e ameaçou nossa capital de bombardeio e de desembarque pelo não atendimento, por parte do Brasil, de humilhante ultimatum que agredia nossa Soberania e desrespeitava uma tradicional aliança Portugal-Inglaterra, continuada pelo Brasil independente. A reação popular foi grande. Subscrições populares financiaram a defesa da barra. A fortaleza passou a contar com dois andares com pedras de 1,40m de espessura. No primeiro a bateria 5 de março, com 20 peças. No segundo a 2 de Dezembro, com 21 peças e mais a Santa Tereza com peças de grosso calibre e a Imperador D. Pedro II, com dois Armstrong e dois Whitwort. A fortaleza foi posta em serviço em 7 Set 1872, cinqüentenário da Independência. Na revolta ns Armada em 1893-94, ela bombardeou a ilha de Villegaignon e duelou com os navios, "Aquidabã" e "Javari". O último afundado pelo Krupp da fortaleza de São João. Em 5 jul 1922ela fez 40 disparos contra o forte de Copacabana que se rebelara junto com a Escola Militar do Realengo, pela humilhante prisão disciplinar do Marechal Hermes da Fonseca e fechamento do Clube Militar. Na revolução de 24 duelou com o couraçado "São Paulo" e em 1955 fez seu último disparo para advertir o cruzador "Tamandaré". Esta é a síntese a história de nossa mais monumental e bela fortificação que nos últimos 4 séculos, tem sido testemunha ou agente importante de gloriosos fatos do Brasil.
Forte N. S. da Assunção - Fortaleza/CE
A origem dessa importante fortaleza, que abriga o Quartel General da 10ª Região Milita,r remonta a construção, em 1649, pelos holandeses, na colina Marajaitiba, na margem do Pajeú, de um forte com o nome do governador holandês de Pernambuco. Forte imortalizado em pintura por Nieuhoff. Ele fora antecedido pelos de São Tiago e São Caetano. Ela repeliu o pirata francês Du Prat, em 1614 e barcos holandeses em 1624. Em 21 Out 1631, caiu em poder dos holandeses. Em 1644 foi incendiado e destruído pelos Tapuias, depois de o invadirem e matarem seu comandante holandês Gedeon Morris de Jonge, acusado de os explorar e submetê-los a trabalhos forçados. Para a construção do forte no rio Pajeú, retomado com a expulsão dos holandeses do Brasil em 1654, quando então passou a denominar-se forte N. S. da Assunção, o de São Sebastião do rio Ceará, concorreu com cinco canhões de ferro e telhas. Durante quase 60 anos, até 1812, o forte N. S. da Assunção dispondo de 4 peças, apontando inclusive para a Vila de Fortaleza, não possuiu poder de fogo para atingir sequer um navio no ancoradouro. Em 12 Out 1812, no lugar dele passou a ser erigida a atual e histórica fortaleza N. S. de Assunção, inaugurada em 1817 e concluída no limiar da Independência.
O início da obra, no dia do aniversário do Príncipe da Beira, foi assinalado por três enxadadas na terra, em presença da Câmara, Nobreza e Povo, desferidas pelo governador Manuel Sampaio. O engenheiro foi o Ten Cel Antônio Paulet. Os donativos particulares representaram 44% das despesas. Sua forma original foi um quadrado com quatro baluartes, guarnecidos com 27 canhões, com capacidade de cruzarem fogos e baterem o porto de Fortaleza e seu ancoradouro, particularmente os baluartes N. S de Assunção, ao N e D. João VI ao NE. Ao ser inaugurada, quando da Insurreição Pernambucana de 1817, foi-lhe acrescida placa em latim, significando:
"As naus escarneciam de mim, quando eu era um monte informe. Agora que sou grande fortaleza, de longe tomam -se de respeito. Aqui reinando D. João VI, Sampaio me fundou bela. O engenheiro de Paulet me resplandeceu. Os donativos do povo me tornaram fortes pelas muralhas e as despesas reais me fazem forte pelas armas".
Foi na sombra e sob proteção dos canhões do forte e depois fortaleza N. S. de Assunção que surgiu, recebeu seu nome e floresceu a Vila Fortaleza instalada em 13 Abr 1726, depois Fortaleza de Nova Bragança e finalmente Fortaleza, a capital do Ceará.
Hoje suas fortes muralhas depois de resistirem a ação do tempo, se apresentam ainda majestosamente nítidas, com algumas de suas peças testemunhas ou agentes mudos de três séculos da história gloriosa da terra e do povo cearense, conforme se conclui do historiador Carlos Studart Filho, natural e estudioso do Ceará e de seus conterrâneos Gustavo Barroso e o coronel Aníbal Barreto. Os dois últimos grandes estudiosos das Fortificações do Brasil.
Forte do Castelo - Belém
Iniciado após 8 Jan 1616, quando ali aportou,proveniente de São Luiz do Maranhão, reconquistada aos franceses, a expedição de cerca de 100 homens comandada pelo Capitão-Mor do Rio Grande do Norte - Francisco C.M.Bento Castello Branco. No local, hoje, junto a atual doca de Ver o Peso, então habitada por Tupinambás hostis, a guarnição iniciou o forte.
Ele foi artilhado com 12 peças para defendê-lo dos índios e de estrangeiros que possuíam redutos e feitorias no estuário e Baixo Amazonas. Consolidada a cabeça-de-praia estabelecida, o forte foi denominado Presépio de Belém, referência à partida da expedição de São Luiz, no Natal de 1615. A região foi denominada Feliz Lusitânia e a sua sombra surgiu um núcleo denominado N. S. da Conceição de Belém, origem da capital do Pará, hoje com mais de três séculos e meio de existência. A partir da cabeça-de-praia protegida pelo forte, desenvolveu-se e espraiou-se Belém.
Ela serviu de base de partida para a expulsão de estrangeiros que dominavam o estuário e o Baixo Amazonas e, sobretudo, para o reconhecimento, exploração e conquista da Amazônia brasileira, além da concretização da ligação terrestre Belém-São Luiz.Todos feitos épicos que levaram a marca do legendário Capitão Pedro Teixeira. Em 1621, o forte foi melhorado e denominado Castelo do Senhor Jesus Cristo. Depois de um século entrou em ruína sendo reedificado em pedra, em 1728, sob a direção do engenheiro Major Carlos Varjão Rolim.
Por ocasião da Independência, foi reedificado. Na regência foi desguarnecido e desarmado, fenômeno generalizado e de inspiração liberal. Em 1850, sendo Presidente do Pará o Cel Jerônimo Francisco Coelho, Pai da Imprensa Catarinense e da Engenharia Civil no Brasil, além de Ministro da Guerra do Brasil que ditou os termos de Paz de Ponche Verde, na Revolução Farroupilha, o forte sofreu grandes reformas. Passou a dispor de uma ponte sobre o fosso e uma muralha da cantaria. A questão Cristie que resultou de humilhante ultimatum inglês ao Brasil e altivamente repelido, impôs reformas ao forte até hoje notáveis.
Foi artilhado com 27 peças. Em 1876, foi desativado para abrigar o Arsenal de Guerra. Depois serviu de depósito regional.
Atualmente seus velhos canhões transformados em atração turística, voltam-se simbolicamente para a baia de Guarajá, dissuasório e sem disparar um só tiro, sua destinação militar e geopolítica de imensa projeção na conquista, definição e preservação da inviolabilidade da imensa Amazônia Brasileira, segundo se conclui do historiador Arthur César Reis, grande estudioso da área.
Forte Reis Magos
Sua construção foi iniciada na foz do rio Potengi, no dia dos Reis Magos de 1598, para assinalar a posse portuguesa da terra ameaçada, desde o descobrimento, por franceses com apoio dos índios Potiguares.
No Natal do mesmo ano, foi inaugurada a 3 Km acima, a matriz da povoação, desde então denominada Natal. O forte pronto em junho teve como seu primeiro comandante o intrépido e legendário Jerônimo de Albuquerque, que dele partiu em 1614, para expulsar os franceses do Maranhão. Em 1631, os holandeses foram repelidos pelo forte. Em 12 Dez 1633, frota de 20 navios e 1500 soldados holandeses obrigaram o forte a render-se, depois de sua guarnição resistir com valor e coragem, durante dias. O comandante Pedro Mendes de Gouveia foi ferido e recusou-se a assinar a rendição, após a ocupação do forte. Em 1645 os holandeses em Uruaçu massacraram os brasileiros e portugueses prisioneiros no forte. Este permaneceu sob domínio holandês com o nome de castelo Ceulen por mais de 20 anos, até 1654, rendição holandesa na Campina da Taborda, no Recife. Foi reocupado pelo herói da 2ª Batalha de Guararapes, Francisco Figueiroa, que o encontrou evacuado e com tudo queimado pelo invasor, segundo Câmara Cascudo, "julgando assim fazer desaparecer o passado sujo de sangue e úmido de lágrimas".
Em 1688, para combater os índios que ameaçavam o Rio Grande do Norte, ali chegou e permaneceu 36 anos, o Terço dos Paulistas ao comando do Mestre de Campos Domingos Jorge Velho, tendo uma de suas companhias guarnecido do forte.
Em 1817, o coronel André Albuquerque Maranhão liderou em Natal a Revolução Pernambucana. Depois de ferido mortalmente, o cel André foi preso no forte, onde morreu. Era quarto neto de Jerônimo de Albuquerque. O forte foi reconstruído e ampliado em sua feição atual, durante a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865/70).
Em 1901, as imagens dos Reis Magos foram retiradas para a igreja de Natal.
Em 1903 o forte passou ao Ministério da Marinha e serviu de farol até 1953.
Foi guarnecido durante a 1ª Guerra Mundial com uma bateria Independente. Tombado pelo IPHAN em 1949, foi incorporado à Fundação José Augusto em 1965. Em 1975 foi tema de selo nacional.
Desde 31 Jan 1970, depois de restaurado, foi aberto à visitação pública, como testemunha ou agente, faz 4 séculos, segundo o cônego José Adelino Dantas, da Academia Norte Riograndense de Letras como "glória perene da história da gente e da terra Potiguar" ou "glória qualque Potiguarum tibi dico salutem".
O forte dos Reis Magos exerceu papel geopolítico e militar relevante. Inicialmente como defesa da cabeça-de-praia estabelecida para conquista do Rio Grande do Norte, além de base de partida para apoiar a conquista do Ceará, Maranhão e Amazônia, bem como da Paraíba.
Forte das Cinco Pontas
Erigido em 1630 pelos holandeses junto às cacimbas de Ambrósio Machado, senhor de engenho local. Popularmente, forte das Cacimbas para os luso-brasileiros e das Cinco Pontas para os holandeses, o que passou à História. Oficialmente chamou-se forte Ernesto Henrique, homenagem ao Príncipe de Orange, herói militar das lutas pela independência das sete províncias dos Países Baixos, sendo, então, o chefe supremo das forças de terra e mar de cinco das mais importantes delas.
A forma atual com quatro baluartes, ao invés de cinco que lhe deu o nome, data do final do século XVII. Sua função era chave na defesa terrestre do Recife holandês. Protegia o porto e prevenia golpes de mão vindos dos rios Afogados e da Barreta que desaguavam no porto e na Barreta dos Afogados. Esta uma passagem estreita no cordão de arrecifes que caracterizam e deram o nome à cidade de Recife. Foi erigido com o traço de Commersteijn, pelo governador Theodore Vaerdenburch, dispondo de 14 peças.
Ainda em 1630 foi acrescido na direção Sul, de suas fortificações denominadas hornaveques. O primeiro, para uma defesa mais eficaz e denominar as cacimbas citadas, vitais ao abastecimento de toda a praça de guerra em que Recife foi transformada. O segundo, de duração efêmera, foi construído sobre a campina onde morava o pescador Antônio Taborda e demolido em 1713 por ordem de Nassau.
Em 14 Jan 1654, a campina, o pescador e o forte citados entraram gloriosamente para a história, em razão da Capitulação Holandesa no Brasil, na Campina do Taborda, defronte ao forte em tela, ponto chave da defesa terrestre do Recife e prestes a render-se depois de 10 dias de ação fulminante da Companhia Geral do Comércio e do Exército Patriota.
Assim, suas muralhas testemunharam a rendição do invasor, que, por 30 anos ameaçou a Unidade e a Integridade do Brasil e viram passar vitoriosos, em 28 Jan, por seu interior, o General Barreto de Menezes e outros líderes patriotas que receberam as chaves do Recife. Ao longo da História, os fortes das Cinco Pontas e o do Brum tiveram presença histórica assinalada em Pernambuco.
Na Revolução Pernambucana de 1817 o governador abrigou-se no forte do Brum que foi rendido pelos revolucionários. Na Confederação do Equador em 1824, mais uma vez os revolucionários conquistaram o Brum e nele prenderam o governador, enquanto que os das Cinco Pontas foi cenário do fuzilamento do líder revolucionário Frei Caneca. O forte, hoje transformado em Museu do Recife, tem sido testemunha há mais de três séculos e meio, segundo Jordão Emerenciano "da raça e valor da brava gente pernambucana na luta contra o invasor e pelo ideal republicano".
Ele foi restaurado em data recente com o concurso do Dr. Aírton Carvalho do SPHAN, em razão do imenso sentido cívico que encerra, como testemunha muda da Capitulação Holandesa a sua frente, oficializadora do destino do Brasil segundo Gilberto Freyre, "escrito a sangue nas Batalhas dos Guararapes, o de ser um só Brasil e não dois ou três...".
Fortaleza São José da Ponta Grossa
Foi erigida em 1741, no extremo NE da ilha de Santa Catarina, segundo traço do brigadeiro José da Silva Pais, dentro do contexto de transformar a ilha em poderosa base naval e terrestre para apoio logístico e operacional às forças de terra e mar atuando em Colônia do Sacramento e no atual Rio Grande do Sul, recém fundado.
Ela destinava-se, em conjunto com outras duas e concurso naval, a fechar o acesso à baia norte, entre a ilha e o Continente.
Ela situa-se em local elevado, inacessível aos canhões navais e de difícil escalada por tropas terrestres, pelos lados do mar. Seu poder de fogo era assegurado por 31 peças, sendo oito poderosas de 24 libras.
Possuía ampla dominância de fogo sobre o mar e duas baterias em níveis diferentes. Seus canhões provinham da Bahia. Eram veteranos das guerras contra os holandeses. Um deles era de data anterior ao Descobrimento. A Leste era protegida pela bateira de São Caetano.
Na madrugada de 20 Fev 1777, foi esta fortaleza que avistou a enorme esquadra da Espanha, que trazia a bordo D. Pedro Cavallos, nomeado Vice-Rei do Rio da Prata, com a missão de conquistar a ilha de Santa Catarina, expulsar o Exército do Sul da Vila do Rio Grande e arrasar a Colônia do Sacramento. A poderosa Esquadra Espanhola invadiu a ilha indefesa e desamparada da Esquadra de Mac Douall. O invasor teve como objetivo inicial atacar a fortaleza São José.
Ela foi a única a oferecer resistência.
Inicialmente, ao fazer três disparos sobre a belonave "Setentrião", usada por Cevallos para reconhecê-la. Ao ser atacada por terra, a fortaleza disparou seis vezes. Sem dispor de Infantaria para defendê-la nas muralhas, sua guarnição a abandonou. A partir daí foi conquistada e usada pelo Vice-Rei do Rio da Prata como posto de observação e de comando. Ali os desamparados defensores da ilha, representados pelo Cel Custódio de Faria, assinaram a capitulação da Ilha de Santa Catarina, devolvida a Portugal em 11 Mar 1788, por força do Trabalho de Santo Ildefonso. Depois da guerra do Paraguai a Fortaleza foi desativada. Em 1881, o Ministro da Guerra, Barão Homem de Mello, ilustre historiador e preservador de nossa Memória Militar, baixou ato visando preservar suas históricas ruínas. Na revolução 1893-95, os revolucionários baseados na Ilha de Santa Catarina, segundo o General Souto Malan, nela montaram peça para se defenderem da chamada "Esquadra Legal armada pelo Presidente Marechal Floriano Peixoto, para combater a Revolta na Armada..
O Exército, em 1976, regularizou sua posse, criou condições para preservar para posteridade suas ruínas, as mais antigas e em melhor estado de conservação do Sul do Brasil, tarefa que se impõe por seu imenso valor histórico e arquitetônico, antes que seja tarde demais. Foi com alegria que hoje ela se encontra restaurada e servido ao Turismo, apelo que fizemos em artigo "Em torno da Fortaleza São José da Ponta Grossa". (Revista Militar Brasileira. jul-dez 1977.p.23/47), depois de visitarmos e pesquisarmos a fortalezas da ilha .
Forte Jesus Maria José do Rio Pardo - "Tranqueira Invicta"
Erigido em 1754, no contexto da guerra guaranítica 1754-56, como base logística de apoio à marcha do Exército Demarcador do Tratado de Madrid 1750, no Sul. Exército sob o comando do General Gomes Freire, Governador de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
O Rio Grande do Sul é hoje brasileiro graças, em grande parte, à visão superior de estadista daquele general.
Seu Exército pretendeu atingir ao Sete Povos ao longo do rio Jacuí. Lá, junto com um Exército da Espanha, tomaria pela força a região, dela evacuando os índios e jesuítas que reagiram ao tratado, para substituí-los por casais de açorianos, já na Vila de Rio Grande. O forte foi erigido pelo Cel Thomaz Luiz Osório e seu Regimento de Dragões, desde então para lá transferido de Rio Grande. Em 24 Abr 1757 o índio Sepé Tiarajú do povo de São Miguel comandou ataque frustado ao forte. Após apresentou-se como amigo, para tomá-la de dentro para fora. Descoberto, foi preso com seus 53 índios. Sob promessa de devolver 70 cavalos que tomara ao forte, fugiu ao ludibriar a escolta, indiferente ao destino de seus liderados, retidos como reféns. A maioria deles morreu tragicamente na Lagoa dos Patos, em rebelião, quando transportados para o Rio Grande.
De 1756-59, o forte foi edificado em terra e pedra, sob a direção de Gomes Freire e traço do Cel Alpoym.
Desempenhou importante papel dissuasório na invasão de 1774 pelo governador de Buenos Aires, General Vertiz y Salcedo. Mais do que por suas muralhas valia por sua posição dominante sobre o estratégico passo do Jacuí.
Em 1775, o general Bóhn comandante do Exército do Sul, constatou dele haver restado "o mastro, um velho armazém da época da construção e peças de ferro de alguma utilidade sem grande risco".
Foi restaurado em grande parte com pedras. Prestou serviços, até 1812 quando com a expansão da fronteira até os rios Uruguai e Jaguarão, surgiram bases avançadas em Bagé e São Borja e a intermediária em Batovi (São Gabriel).
Em 1813, parte de suas muralhas serviram para calçar ladeira que ligava o forte à Vila, após haver cumprido papel relevante, como base para o reconhecimento, exploração, conquista gradativa e defesa da campanha riograndense e Missões. E mais, como polo irradiador para todas as regiões citadas sob sua influência, no dizer de Dante de Laytano, de uma civilização castrense ou militarizada, tendo como principais agentes, algumas gerações do legendário Dragões do Rio Grande ,em Rio Pardo . , a célula mater de toda a guarnição federal no Rio Grande do Sul.
Por jamais ter sido vencido ou ultrapassado na sua relevante missão, também de sentinela avançada, destinada a proporcionar segurança a Porto Alegre contra possíveis ataques com origem na campanha riograndense e Missões, passou para história como "A Tranqueira Invicta".
Forte Príncipe da Beira
Iniciado em 20 Jun 1776, no local da antiga guarda de Santa Rosa Velha, só foi concluído em 1785, pelo intrépido Coronel Ricardo de Almeida Franco, "maior fronteiro do Oeste",e segundo projeto do Capitão Sambucetti, que morreu durante a obra. O esforço despendido para implantá-lo foi ciclópico, comparável, guardadas as devidas proporções no tempo, ao despendido para a construção de Brasília.
Concorreram neste esforço, as capitanias de Mato Grosso, Goiás, Pará e Rio de Janeiro, que forneceram além de mais de 200 operários. O forte foi um imponente quadrado com muralhas de 8 metros de altura e cerca de 480 de perímetro, com quatro baluartes tipo Vauban, com 14 canhoneiras cada e facilidades para a vida em seu interior. O fosso possuía 2m de fundo e 32m de largura. A entrada era através de imponente portão, que fazia descer ponte elevadiça de 4 metros, que assentava noutra fixa de 28m, que ia até a plataforma. Os blocos de pedra canga férrea vieram em Guaporé, segundo Marcos Carneiro de Mendonça, estudioso da projeção no Brasil da obra do governo do Marquês de Pombal, cujo bicentenário de falecimento ocorreu em 8 de maio último. Os canhões procediam de Belém e atravessaram de Porto Velho ao forte 20 acidentes de navegação do rio Guaporé.
Quatro, de bronze, levaram 5 anos desde Belém. Sob o forte cruzaram caminhos secretos para a selva e margem do rio. O forte Príncipe da Beira, junto com o de Tabatinga e os do Rio Negro, asseguraram a inviolabilidade da Amazônia, em combinação com os do estuário, fato relevante e vital para Portugal, depois de perder, em 1777, sua posição no estuário do Prata, com a conquista definitiva da Colônia de Sacramento, pelos espanhóis.
A partir da transferência da capital para Cuiabá, o forte entrou em ruína e foi desguarnecido na República. Foi reencontrado tomado pela selva, em 1914, pelo Gen Cândido Mariano Rondon, e em 1930, a partir do que vem sendo protegido pelo Exército. Localiza-se no município de Guarajá Mirim. Hoje as velhas muralhas e canhões do forte da fronteira mais imponente, sofisticado e bem acabado do Brasil, depois de cumprirem sua destinação militar e geopolítica, além de símbolo de Rondônia, são testemunhas mudas do hercúleo esforço dos soldados brasileiros anônimos que construíram e guarneceram o forte com sacrifícios que presumimos enormes, hoje apagados da Memória Nacional. E, assim procedendo, ajudaram de modo decisivo a alicerçar e a preservar durante mais de um século, naquelas, até hoje remotas paragens do território pátrio - Um Brasil Continente.
Conforme afirmou a Revista Militar Brasileira, "o forte Príncipe da Beira não chegou sequer a disparar um tiro, porque exprime senão nossa determinação em permanecer onde estamos".
Forte do Mar, de São Marcelo ou de N. S. Pópulo
Foi iniciado em 1604, após a agressão sofrida por Salvado por parte do holandês Paulus Van Caarden. Destinava-se a reforçar a proteção do ancoradouro do porto de Salvador, distante 300m. Sua construção, sobre um banco de areia, foi intensificada a partir de 1624. Por ocasião da invasão holandesa na Bahia, o forte do mar estava em construção e ofereceu resistência notável ao invasor, segundo se conclui de Pedro Calmon, grande historiador, natural da Bahia e ex-presidente do IHGB.
Foi atacado pelo famoso corsário Pieter Heyn, à noite, num ousado golpe de mão.
Aproveitando-se na escuridão, escalou as muralhas do forte, saltou em seu interior, obrigando sua guarnição a abandoná-lo. A partir de 1650, passou a Ter seu estilo e forma original circular com o qual há mais de três séculos caracteriza a Bahia de Todos os Santos, como a primitiva Bateira Ratier e atual forte Tamandaré ou da Lage, caracteriza a Bahia da Guanabara. Em 1777 era a maior e a mais de 54 peças, sendo 21 na bateira alta e 31 na baixa.
Nele esteve preso, em 1835-36, o Cel Bento Gonçalves da Silva, depois de feito prisioneiro na ilha do Fanfa, no rio Jacuí, e haver passado pela fortaleza de Santa Cruz, no Rio. No forte do Mar foi gestada a Sabinada durante contato de Bento Gonçalves com os baianos. O líder farrapo eleito à revelia Presidente da República Riograndense, fugiu espetacularmente do forte em 10 Set 1837, com o auxílio da Maçonaria da Bahia, indo reaparecer em Piratini para assumir a Presidência. Dois meses decorridos de sua fuga estourou a revolução Sabinada, em Salvador, marcada em 7 Nov 1837 pela tomada através de um ardil do histórico forte São Pedro.
Os revolucionários passaram a ocupar também o forte do Mar, onde haviam urdido a revolução com o líder farrapo.
O início do fim da Sabinada teve lugar com a rendição do forte São Pedro, ocupado por 700 sabinos, ao entardecer de 15 Mar 1836.
O seu epílogo concorreu para a queda do último núcleo de resistência - o forte do Mar.
Entre seus prisioneiros famosos registre-se o major Fidié que comandou a resistência à Independência no Maranhão e Piauí.
O forte do Mar, o mais popular e característico da Bahia, já colocou seus canhões a serviço da população de Salvador para marcar a alvorada e o recolher, dar salvas à Procissão de N. S. dos Navegantes e nos dias de júbilo ou luto nacional.
Por longos anos seus canhões responderam às salvas de navios de guerra e alertaram ,com três disparos, a ocorrência de incêndios em Salvador. Já serviu de prisão de estudantes relapsos e indisciplinados, de Casa de Pólvora,de Escola de Aprendizagem de Marinheiros e de quartel de escoteiros do mar.
O forte do Mar lembrará sempre aos gaúchos a intrepidez, coragem, valor e bravura de seu vulto maior - o Gen Bento Gonçalves, também herói do Exército nas guerras no Sul, 1812-28.
Até hoje o forte do Mar lá permanece em sua privilegiada posição de testemunha muda das glórias, tradições e história da gente e da terra baiana, além de símbolo da primeira capital do Brasil.
Forte de Coimbra
De todos os fortes de fronteira, o de Coimbra foi o que lutou contra dois fortes ataques. Fundado em 13 Fev 1775, no estreito de São Francisco no Rio Paraguai, como Presídio de Nava Coimbra e sob a proteção de N. S. do Carmo, foi erigido sob dois erros providenciais - nem na margem esquerda e nem em Feixodos-Morros, 44 léguas abaixo, contrariando ordens superiores. Desde então passou a exercer papéis da maior projeção geopolítica e militar na definição da fronteira Oeste: assegurar a posse do médio Paraguai; dificultar ali a navegação dos espanhóis e a ação hostil dos Paiguás; criar condições para Portugal explorar e povoar terras altas da margem direita do citado rio; fundar Corumbá (1778) e Miranda (1797), além de explorar e conquistar áreas à margem esquerda, até o Apa, onde outrora se estenderam as reduções jesuíticas do Itatins arrasadas pelos bandeirantes, no sec XVII.
No início, os índios cavaleiros Guaicurus hostilizaram o forte, como haviam feito com os bandeirantes. Em 6 Jan 1778, depois de usarem suas mulheres como isca de uma armadilha, trucidaram 54 defensores da estacada e fora dela. Em 1785, o forte os pacificou e com eles celebrou tratado de aliança.
Isto possibilitou ao Brasil defender, vigiar e manter o rico território entre os rios Apa e Miranda. Os Guaicurus tiveram como historiador o Cap Francisco Rodrigues do Prado, de São João Del Rei, que comandou Coimbra de 1752-57, fundou o forte de Miranda e conquistou,na guerra de 1801, os territórios até o Apa. Nesta guerra, o forte de Coimbra que vinha sendo construído ao lado do primitivo, repeliu ataque do Governador de Assunção apoiado em 4 navios, 12 peças e 900 homens. O comandante e construtor do forte, o legendário Cel Ricardo Franco, respondeu ao ultimatum: "A inferioridade numérica foi sempre um estímulo aos nossos soldados para defenderem seus postos, até as últimas conseqüências - ou repelir o inimigo ou sepultarem-se sob as ruínas dos fortes cuja defesa lhes confiaram".
Em 1865, foi atacado por poderosa coluna paraguaia de 11 navios, 39 peças e 3100 homens. O Cel Portocarrero que o comandava assim respondeu o ultimatum:
"Segundo doutrina que rege nosso Exército, só pela sorte das armas entregarei o forte".
Sua esposa D. Ludovina, com 70 mulheres, escreveram páginas épicas do valor da esposa militar, no apoio logístico à resistência armada e na moral ao ataque.
Após memorável resistência, em 27/28 Dez 1864, a guarnição deixou o forte ilesa, sob a proteção de N. S. do Carmo. Arrasado durante a ocupação, foi reconstruído na forma atual.
Assim, segundo o Gen Raul Silveira de Mello, gaúcho de Cruz Alta, e o maior historiador do forte, "o Coimbra ainda está lá de atalaia, à margem oeste do Paraguai. Saibam e recordem todos quanto ele valeu e vale para o Brasil este velho forte".
Segundo o Gen Tasso Vilar de Aquino,ex- Presidente do Clube Militar, o forte lá permanece "como símbolo de tenacidade, valor, bravura e síntese das mais nobres virtudes militares" e, completaríamos, em seus mais de dois séculos de história, fé e glórias.
Forte de Copacabana
É o mais moderno e poderoso forte do Brasil. É dotado de canhões de maior calibre na América do Sul e do que havia de mais moderno na época da I Guerra Mundial.
Foi construído por empenho pessoal do Mal Hermes da Fonseca, como Ministro da Guerra e Presidente da República de 1908-14. Seguiu projeto do Maj Tasso Fragoso, mais tarde destacado chefe do EME, além de consagrado historiador militar. Ao ser inaugurado, em 28 Set 1914, seus canhões não dispararam em homenagem e a pedido da Primeira Dama do Brasil - D. Nair de Tefé da Fonseca. O seu primeiro exercício ocorreu em 1º Out 1916. Suas duas cúpulas de pares de canhões 305mm e 150mm, auxiliados pelos de 75mm das torres Ricardo Franco e Estácio de Sá, protegidas por muralhas de 12m de espessura, dispararam com excelentes resultados. O forte destinava-se a completar o triângulo de defesa e a prevenir desembarque em Copacabana (mãe de Deus, em quechua), Segundo o Mal João Nepomuceno Mallet - o pai da Artilharia de Costa, criador do EME e filho do Mal Emílio Luís Mallet, patrono da Artilharia. Fatos político-militares que deram origem à Revolução de 22, terminaram por fechar o Clube Militar e a provocar a prisão disciplinar, em local incompatível com o seu posto, no 3ª RI da Praia Vermelha, do Mal Hermes, a mais alta patente do Exército, ex-ministro e ex-presidente. O fato tomado como uma ofensa ao Exército, resultou na decisão de uma revolução. O seu início seria dado à 1 hora da madrugada de 5 Jul 1922, pelo disparo de uma peça de 150mm do forte, comandado pelo Cap Euclydes Hermes da Fonseca, filho do velho marechal. O plano foi descoberto. O forte, como fora combinado e sob a orientação de Siqueira Campos, disparou seu canhão de 150mm, sem resposta de adesão. E prosseguiu na luta, depois de traído seu comandante, ao ser preso, quando iria parlamentar. O forte disparou durante a madrugada e todo o dia 5 de Julho contra objetivos diversos. Duelou com os encouraçados "Minas Gerais e 'São Paulo", a fortaleza de Santa Cruz e aviões. Cercado por terra, mar e ar, a guarnição abandonou o forte e foi lutar na praia de Copacabana, onde teve lugar o épico episódio dos 18 do Forte, que marcou o epílogo da Revolução de 22. No entanto, o disparo para o ar do canhão 150mm, às 01:17 horas de 5 Julho, marcou o início da Grande Revolução Brasileira, gestada e difundida por instrutores e alunos da Escola do Realengo em 22, cuja tentativa de revolta fora então abafada. Revolução que teve seu ponto de inflexão de anseios para realidades, em 31 Mar 1964, com o início da Contra Revolução Democrática de 64, em seu objetivo de fazer do Brasil uma Democracia. Movimento histórico para o qual o forte de Copacabana como o Concurso de 26 alunos da ECEME, concorreu decisivamente e na primeira hora, fato testemunhado e difundido em seus lances mais decisivos pela TV-Rio.
Os canhões e muralhas do forte testemunharam em 1944 e 1945 a entrada e saída dos navios que transportaram nossa FEB para a Itália, onde ela lutou com notável desenvoltura operacional em aliança ou contra os melhores exércitos do mundo, segundo o expedicionário e historiador Cel Francisco Ruas Santos em nossa segunda ação militar extra-continental terrestre e fruto do louvável esforço dispendido no período da Reforma Militar (1889-45) para a modernização do Exército.
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