A GEOPOLÍTICA DE PORTUGAL E DEPOIS DO BRASIL NO PRATA E SUAS PROJEÇÕES NO RIO GRANDE DO SUL 1680-1908

Cláudio Moreira Bento

Generalidades

Recorrendo inicialmente a definição de Geopolítica de Eduardo Backheuser, assunto de complexa conceituação e definição e endossado pelo nosso mestre no assunto, o Brigadeiro Lysias Rodrigues.

Disciplina que teve como pioneiro entre nós o Marechal Mário Travassos e da qual hoje é a mais renomada e reconhecida autoridade no assunto, o General Carlos de Meira Mattos e, ambos, ex comandantes de nossa Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN )e membros Academia de História Militar Terrestre do Brasil. O Marechal Travassos como patrono de sua Delegacia em Capinas/SP, e 0 General Meira Mattos como seu acadêmico emérito e o primeiro a tomar posse na mesma , inaugurando cadeira que tem por patrono o comandante e historiador de nossa Força Expedicionária Brasileira( FEB) Mal João Baptista Mascarenhas de Morais. E escreveu Backheuser:

"A Geopolítica é a política desenvolvida em decorrência das condições geográficas de um país considerado".

E assim procurou explicar seu conceito:

"A política é a arte de administrar os povos, procurando tornar possível o que é necessário. A Geopolítica é a parte da alta administração de um Estado que traça as diretrizes para investigar, valorizar e explorar o solo de um país no tríplice aspecto: Território, Situação Geográfica e Domínio de suas riquezas reais e potenciais".

E a seguir ensaiaremos como Portugal e o Brasil tem conduzido sua Geopolítica no Sul, na denominada "Área Geopolítica da Ala Sul – Paraná – Santa Catarina – Rio Grande do Sul" pelo coronel Golbery Couto e Silva, gaúcho de Rio Grande, em seu livro Geopolítica do Brasil (Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1976).

E especial atenção daremos ao Rio Grande do Sul, cujas fronteiras foram de mais difícil fixação por a mais turbulenta, difícil , sangrenta e dispendiosa, merecendo o apodo de Fronteira de Vai e Vem , em que pese sua legitimação pelo Tratado de Madrid de 1750 que reconheceu a sua conquista por bandeirantes, por estancieiros e tropeiros lagunenses e , por Silva Paes. Este ,ao fundar o Rio Grande em 1737 e estabelecer os limites de Portugal nos arroios Chuí e São Miguel.

Neste ensaio a nossa homenagem, além dos já citados, a Alexandre de Gusmão, José Bonifácio, Alberto Torres, Oliveira Vianna, Paulo Henrique da Rocha Correia, Terezinha de Castro que também abordaram superiormente assuntos de Geopolítica do Brasil, influenciando positivamente em seu destino .

 

Brasil – objetivo geopolítico prioritário de Portugal

 

O Brasil de cerca de 1580-1777 foi o eixo dominante da Geopolítica de Portugal e onde ele aplicou ,concentrado e prioritariamente, todo o seu poder.

Aplicou-se na posse e ocupação efetiva do nosso litoral e sua defesa da intromissão estrangeira e sua diplomacia ,no período da União das Coroas Ibéricas 1580-1640, aplicou-se na expansão do espaço terrestre que lhe coube pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, na procura de fronteiras geográficas naturais com a Espanha aqui na América.

Na Bacia do Rio da Prata foi procurar limites naturais no rio Uruguai e no estuário do Rio da Prata, para o que teria que expandir seu território para o Sul de Laguna, em Santa Catarina , até aqueles limites.

 

Fundação da Colônia do Sacramento em 1680

 

Para tal objetivo fundou em 1680, defronte a Buenos Aires ,a Colônia do Sacramento, para participar das grandes riquezas drenadas para Buenos Aires da Bacia do Prata e da exploração das manadas de gado vacum selvagem, monopólio do rei da Espanha, que povoavam as atuais campanhas do Uruguai e do Rio Grande do Sul ,depois de ali introduzidas pelos jesuítas, por volta de 1622.

Em torno e em conseqüência da posse de Colônia do Sacramento, espanhóis e portugueses e descendentes de ambos ,lutaram por cerca de 190 anos transformando a região do Rio da Prata num campo de batalha.

Depois de cicatrizadas aquelas lutas, aos brasileiros , uruguaios argentinos, e paraguaios e bolivianos em especial compete isolarem as preciosas lições que colheram do livro da História Militar do Rio da Prata .Lições capazes de construir uma Doutrina Militar Terrestre Comum , a serviço da defesa militar do Mercosul, contra inferência exterior no insondável 3º Milênio. Creio que seria este o maior objetivo Geopolítico comum a ser conquistado pelas Forças Armadas das nações do Prata.

 

Expansão Portuguesa no Brasil no período de União das Coroas Ibéricas

 

No período de União das Coroas de Portugal e Espanha, de 1580-1640, o rei comum, permitiu que cada um de seus reinos conquistasse ,em seu nome, os territórios que desejassem.

Grande parte deste período coincidiu com as invasões e dominação holandesa na Bahia e Pernambuco.

Na Amazônia, o Capitão Pedro Teixeira a conquistou para Portugal em nome do rei comum em 16 ago 1639 ,conforme abordamos em A conquista da Amazônia ( Rio de Janeiro : DNER/Sev Gráfico,1971)

No Sul e no Oeste ,os bandeirantes partindo de São Paulo , expulsaram as reduções jesuíticas do Rio Grande do Sul(Tape), do Oeste do Paraná (Guaíra) e do Sul de Mato Grosso(Itatins) que forçavam o Meridiano das Tordesilhas em direção ao Atlântico .

Este fato assinalou o início da penetração, reconhecimento e exploração portuguesa do atual Rio Grande do Sul, com a destruição das 18 reduções que constituíram o Tape, conforme registramos em História da 3a Região Militar 1808-1889 e Antecedentes (Porto Alegre: 3a RM,1994)

 

Fundação de Laguna 1688

 

Em 1680 Portugal fundou Colônia do Sacramento e 8 anos depois foi fundada Laguna, por santistas .Local que foi centro irradiador e base de apoio para a exploração, conquista e povoamento português do Rio Grande do Sul.

Por esta época os jesuítas retornaram ao Rio Grande e fundaram os Sete Povos das Missões e estabeleceram 11 estâncias no Rio Grande para abastecer os 7 povos da margem esquerda do rio Uruguai e 4 povos da margem direita

Em 1705 os portugueses estabeleceram contato terrestre Laguna-Colônia. De 1705-15 a Colônia passou para mãos da Espanha. Nesta fase teve início , por portugueses de Laguna a preia( captura) de gado alçado nas campanhas do Uruguai e Rio Grande, o qual era transportado por terra para Laguna. E dali para outros destinos por mar .

Com a recuperação de Colônia por Portugal ,em 1715 ,intensificou-se a preia de gado alçado( selvagem) no Rio Grande e Uruguai, atraindo muitos paulistas que haviam sido expulsos de Minas na guerra dos Emboabas 1710.

O gado se destinava a suprir com força animal( muares) e alimentação(vacuns)a atividade de exploração do Ouro em Minas, Goiás e Mato Grosso.

Foi necessário a abertura de caminho pela Serra Geral até Sorocaba/SP passado por Vacaria ,Lages ,Curitiba atuais etc, para escoar a riqueza representada pelas tropas preiadas (apresadas)no Sul. Este caminho integrou o litoral do Rio Grande ,por terra ,ao restante do Brasil.

Em 1722 se estabeleceu em São José do Norte atual por cerca de 2 anos a Frota de João de Magalhães para proteger o canal da Lagoa dos Patos, melhorar os meios de travessia das tropas, protegê-lo dos espanhóis e índios Tapes(que habitavam Canguçu atual, na Serra dos Tapes) e fazer aliança com os índios Minuanos e cobrar impostos de passagem.

 

Objetivos geopolíticos em conflito no Prata

 

Em 1723 Portugal fundou Montevidéu de onde foi desalojado por crioulos espanhóis(espanhóis nascidos na América). Fato que segundo o consenso de intérpretes da História do Prata definiu o destino do Uruguai, como nação independente e que encontraria em Artigas o grande intérprete e apóstolo deste sonho que entrou em choque com a Geopolítica de Portugal no Prata, de igual forma que a Argentina com seu sonho de reconstituir o Vice Reinado do Prata e o do Paraguai de reconstituir o Império Teocrático Guarani e todos estes sonhos conflitantes incluindo partes do atual Rio Grande do Sul.

Foram esses objetivos geopolíticos em conflito, que fariam a fronteira do Brasil no Sul oscilar ,gerando a figura citada ,Rio Grande Fronteira do Vai Vem!

Em 1733 o governo de São Paulo estimulou o estabelecimento de estâncias em torno da região genericamente denominada de Viamão. Estância com o sentido de permanência, ou seja, era exigido para concretizar a posse da terra ,"um tempo mínimo de estância no local ."

Já nesta época rendiam impostos para Portugal as minas de Guiabá e Goiás , obrigadas a passarem por um registro no rio Grande ,no atual Triângulo Mineiro e outro no sangradouro da Lagoa dos Patos conhecido por Rio Grande. E os dois locais de registros passaram a serem chamados em Portugal de Rio Grande e Rio Grande o do Sul .Daí a origem, segundo Hélio Moro Mariante (patrono de cadeira da Brigada Militar na AHIMTB) de Rio Grande do Sul .

 

A Fundação do Rio Grande do Sul

 

Em 1736, Colônia do Sacramento foi cercada pela Espanha. Do Rio de Janeiro foi enviado uma expedição ao comando do Brigadeiro de Infantaria José da Silva Pais com três objetivos sucessivos: Expulsar os espanhóis de Montevidéu, livrar Colônia do cerco espanhol e fundar o presídio Jesus, Maria José, na atual cidade de Rio Grande.

Com o insucesso dos objetivos relacionados a Montevidéu e Colônia, Silva Paes desembarcou ,ao entardecer, de 19 fev 1737, em Rio Grande atual, fundando assim o Rio Grande do Sul atual. Era esperado em terra por estancieiros e tropeiros liderados pelo Cel de Ordenanças Cristóvão Pereira de Abreu e escudados num forte que construíram com 4 pequenos canhões.

A base militar então fundada foi nucleada pelo forte Jesus Maria José erigido em terreno arenoso e protegido a retaguarda pelo Forte N. S. da Conceição e ,a distância, pelos postos militares avançados que estabeleceu no Chuí e arroio São Miguel, respectivamente guarnecidos por 12 Dragões de Minas e um Pelotão de Infantaria de 32 homens, aos quais mandou pagar soldo dobrado.

Silva Paes criou a primeira unidade de Linha – uma Companhia de Dragões, cujo comando entregou ao 2º estancieiro a fixar-se em Viamão, Francisco Pinto Bandeira, pai do legendário gaúcho Rafael Pinto Bandeira. Em 1759 terminou a organização do Regimento de Dragões do Rio Grande, valioso instrumento da Geopolítica do Brasil no Sul, cuja história por quase um século se confundiu com a do Rio Grande do Sul.

 

Gaúcho Primitivo - história, romance, evolução

 

Nesta época surgiu a figura do gaúcho primitivo, brancos ou um misto de índio branco, um tipo de corsário dos pampas, sem lei e sem rei ,vivendo da matança do gado alçado, monopólio do Rei da Espanha, para tirar o couro e vendê-lo de contrabando a portugueses na Colônia do Sacramento e mais tarde, a partir de 1754, em Rio Pardo.

Foram assim grandes instrumentos a serviço da geopolítica de Portugal que os tinha como aliados e eram combatidos pelos espanhóis. Eles facilitaram a expansão por terra de Portugal no território entre Laguna e Colônia.

Com as guerras no Rio da Prata entre espanhóis e portugueses e dos platinos contra a Espanha e depois brasileiros e descendentes e descendentes platinos dos espanhóis, o gaúcho primitivo transformou-se no gaúcho histórico como grande soldado de Cavalaria ,apto para grandes movimentos com apoio no cavalo e no boi,. O primeiro como transporte e o segundo como alimento auto transportável que o supria com o couro para sua improvisada barraca e como barco para a travessia de rios da região ( as pelotas ) etc. Circunstância interpretada pelo Cel BM Hélio Moro Mariante como a Idade do Couro no Continente de D’El Rey ( Porto Alegre: IGTG,1974)

Gaúcho que depois de curadas e cicatrizadas as feridas daquelas lutas e das revoluções no Prata ,deu origem ao gaúcho romance, o gaúcho tradicionalista que cultua as tradições criadas pelo gaúcho histórico ,hoje numa impressionante rede de Centros de Tradições Gaúchas espalhados pelo Rio Grande, pelo Brasil e até no exterior, a partir do GTG 35 ,onde exerceu seu apostolado Luiz Carlos Barbosa Lessa ,de justiça consagrado um dos gaúchos do século passado, para a glória de Piratini, seu berço acidental e para Canguçu, terra natal de seus pais e onde tomou contato com o Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul 1889-1917 que havia sido colecionado e curtidos pelos seu colaboradores em Canguçu, os irmãos Francklin Máximo Moreira e Carlos Norberto Moreira ( nosso avô e bisavô de Lessa) .E tanto a obra impressionou Lessa que a nora Francklin e filha de Carlos Norberto , Alice Moreira terminou por doá-la ao gaúcho do século citado ,dado o seu grande interesse .

Mas penso que este movimento perdeu o sentido predominante da participação bélica do gaúcho como Sentinela do Sul e assim instrumento da geopolítica na definição das fronteiras do Rio Grande e na defesa das mesmas.

Depois de havermos fundado em 10 set 1986, 150 anos da vitória do Seival, em Pelotas ,o Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul para dar apoio histórico ao culto das Tradições que tendiam descambar para fantasias e desconhecer o processo histórico do Rio Grande do Sul, com identidade fundamentalmente castrense até cerca de 20 set 1932, com o combate do Cerro Alegre, em Piratini, último confronto armado no Rio Grande.

O Tratado de Madrid de 1750

Em 1750 em clima de mútuo entendimento e amizade, Portugal e Espanha celebraram o Tratado de Madrid

O Tratado previa a entrega a Portugal dos Sete Povos das Missões e este por sua vez a entregar a Espanha a Colônia do Sacramento. Os limites entre Portugal e Espanha no Rio Grande do Sul seriam naturais, o rios Uruguai – Ibicui - Santa Maria, mas em linha seca no atual Uruguai , na bacia da Lagoa Mirim .

Casais de açorianos deveria ocupar os Sete Povos das Missões .Mas com o insucesso da demarcação os casais trazidos dos Açores se espalharam ao longo de rio Jacuí e pelas imediações de Rio Grande e Porto Alegre. Esta presença açoriana foi estudada pelos patronos da AHIMTB ,General João Brges Fortes em Casais.(Porto Alegre,1932) e pelo Tem Cel Henrique Oscar Wiedersphan em A colonização açoriana do RGS .(Porto Alegre:LCP/EST,1979) e pela correspondente da AHIMTB , em Pelotas , Heloisa Assumpção Nascimenmto em A saga dos açorianos .( Pelotas ,1999) ,romance histórico em que homenageia seu falecido esposo Cel Exército Plínio do Nascimento com esta trova açoriana ."Para Plínio com saudade :

Ausente do bem que adoro , não tenho gosto de nada , na solidão em que vivo, somente o choro me agrada ."

Para demarcar os limites do Tratado no atual Rio Grande do Sul, Portugal enviou para o Sul o Exército Demarcador forte de 1633(Infantaria, Artilharia e Aventureiros) ao comando do governador do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo General Gomes Freire de Andrada que permaneceu no Rio Grande do Sul(atual) até 1759 por cerca de 7 anos. Trouxe quase toda a Guarnição do Rio .

Em 1753, depois de ser colocado o 1º marco divisório em Castilhos, no Uruguai, ao prosseguirem a demarcação, na altura de Bagé – Santa Tecla atuais, índios missioneiros, liderados por Sepé Tiaraju impediram o prosseguimento da demarcação pelos exércitos de Portugal e Espanha.

A seguir a teve lugar a tentativa feita para a demarcação do Tratado a partir do estratégico Passo São Lourenço , no rio Jacuí, acima de Cachoeira do Sul

Tentativa impedida pelos índios, resultando somente a Fundação do Forte Jesus Maria José do Rio Pardo – "A tranqueira invicta" a primeira base militar portuguesa no interior do Rio Grande do Sul e estímulo ao povoamento do rio Jacuí até Rio Pardo .

Na derradeira tentativa demarcatória de 1755/56, O Exército de Portugal partiu do forte São Gonçalo que erigira na margem norte do rio Piratini, próximo ao Canal São Gonçalo que une as lagoas dos patos e Mirim e que recebeu seu nome em razão do forte ali construído . Em 16 ago 1756 operou junção com o Exército da Espanha no Campo das Mercês ( nas cabeceiras do rio Negro próximo a Bagé )e, assim chamado pelas condecorações e graças que ambos os exércitos conferiram a seus integrantes.

E a partir da região atual Bagé – Santa Tecla ,os índios missioneiros liderados por Sepé Tiarajú levaram a efeito uma guerra de guerrilhas contra os exércitos demarcadores, dando início a uma guerra típica da região chamada A Guerra a gaúcha que abordamos na Antologia do CIPEL 1996–em Regionalismo Sul-Rio-Grandense.

Os índios queimavam as pastagens no eixo de progressão dos exércitos, matavam os cavalos cansados para não serem reaproveitados, tiravam os vacuns do eixo de progressão e trucidavam patrulhas e soldados isolados que ousassem se afastar do grosso dos exércitos.

Os índios foram massacrados no combate de Caiboaté e morto Sepé Tiarajú, pelo Governador de Buenos Aires .Eventos ocorridos no município de São Gabriel e abordados por Osório Santana Figueiredo no citado História de São Gabriel , os quais abordamos com detalhes na citada História da 3a RM ,v.1.Autor também de Carreteadas heróicas.(Santa Maria : Pallotti,1986 ) que aborda o uso militar da carreta no Rio Grande , importante e único meio de trasnsporte terrestre de cargas no Rio Grande e importante ferramenta a serviço da geopolitica por dilatado período

A impossibilidade de demarcação do Tratado e da devolução por troca de Sete Povos por Colônia, traria a guerra ao território gaúcho e alterou o destino dos casais de açorianos que vieram para povoar e defender os Sete Povos ,com uma espingarda a ser distribuída por casal .

 

A 1ª invasão espanhola do Rio Grande do Sul

 

Em 1762 Portugal foi invadido por Espanha e França. No Brasil o governador de Buenos Aires D. Pedro Ceballos conquistou Colônia do Sacramento e invadiu o Rio Grande do Sul pelo litoral. Depois de conquistar a Fortaleza de Santa Tereza, então construída por Portugal, conquistou a Vila de Rio Grande e São José do Norte.

 

A 2ª invasão do Rio Grande do Sul 1773/77

 

Em 1773/74 o mexicano governador de Buenos Aires o D. Vertiz y Salcedo invadiu o Rio Grande do Sul para combater as guerrilhas portuguesas estabelecidas nas Serras dos Tapes e do Herval(atuais Canguçu e Encruzilhada do Sul) que cumpriam a seguinte estratégia emanada do Rio de Janeiro depois da invasão de 1763 pelo litoral.

"A guerra contra o invasor espanhol será feita com pequenas patrulhas, localizadas nas matas e passos dos rios e arroios. Destes locais sairão ao encontro dos invasores para surpreendê-los, cursar-lhes baixas, arruinar-lhes cavalhadas e suprimentos e ainda trazer-lhes constante e contínua inquietação".

Marchando em duas colunas .D Vertiz sofreu fragorosa derrota em 10 jan 1774, em Tabatingai e teve destroçada, em Santa Bárbara ,coluna vinda dos Sete Povos trazendo cavalhadas e bovinos(transporte e alimentação).

Foi uma modelar Ação Retardadora liderada pelo comandante e governador do Rio Grande do Sul atual, o Cel Cav Marcelino de Figueiredo.

Ao chegar frente ao Rio Pardo, com sua mobilidade e alimentação seriamente comprometidas, Vertiz y Salcedo retornou para Rio Grande através dos atuais Encruzilhada do Sul e Canguçu , bases das guerrilhas portuguesas, deixando plantada no Rio Grande do Sul a Fortaleza de Santa Tecla ,para impedir as incursões das guerrilhas no atual Uruguai para preiar vacuns, cavalares e destruir estabelecimentos espanhóis e colher informações militares .

Vertiz y Salcedo sofreu grande pressão guerrilheira ao atravessar o Passo da Armada, no Camaquã , desde então assim chamado pelas dificuldades ali passadas pela Armada( nome de Exército em espanhol) .

Assim, com as fortalezas de Santa Tereza e Santa Tecla os espanhóis começaram a barrar as incursões guerrilheiras no atual Uruguai e com o forte São Martinho, incursões nos Sete Povos das Missões .

Os limites de Portugal com Espanha recuaram por 13 anos ,período em que os espanhóis chegaram a controlar 2/3 do Rio Grande do Sul .Os portugueses ficaram confinados a faixa litorânea entre São José do Norte e Viamão e ao norte do rio Jacuí até Rio Pardo e com suas bases de guerrilhas nas serras dos Tapes(Canguçu atual ) e na serra do Herval (Encruzilhada do Sul ,atual ).

 

A Guerra da Restauração do Rio Grande 1774-76

 

Como mencionado ,com as invasões de 1763 e 1774, os espanhóis passaram a controlar cerca de 2/3 ao atual Rio Grande do Sul, com apoio em suas forças baseadas nos fortes de São Martinho, ao norte de Santa Maria, de Santa Tecla(próximo a Bagé atual) e na Vila do Rio Grande e corte do canal São Gonçalo.

Foi então que o Marquês de Pombal decidiu expulsar os espanhóis do Rio Grande, assunto que resgatamos em detalhes em nosso livro: A Guerra de Restauração.( Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1994) .

Portugal concentrou poderosa força no Rio Grande do Sul assim articulada: .

E o Exército do Sul conduziu seu esforço ofensivo sobre 3 pontos fortes:

Forte São Martinho: por barrar o acesso português aos Sete Povos e ameaçar o flanco do Rio Pardo, defendido pelo forte Jesus Maria José(2º). Este local foi conquistado em 31 out 1775 por Rafael Pinto Bandeira com suas guerrilhas e dragões

Forte Santa Tecla: Por barrar o acesso das guerrilhas portuguesas às campanhas de Maldonado, Montevidéu e Colônia, ameaçar Rio Pardo e, possibilitar ,através do passo do Rosário, o intercâmbio e de reforços com os Sete Povos. Foi reconquistado em 25 jan 1776 , depois de prolongado sítio e demolido depois de levantada a sua planta.

Vila de Rio Grande: Por barrar o acesso português pelo litoral para o Sul , e base de partida espanhola para ataques sobre Porto Alegre e Laguna. Data desta época a fortificação de Porto Alegre por uma linha pelo alto onde se ergue a Santa casa e apoiada nas margens do Guaíba e que seria bem desenvolvida por ocasião da Revolução Farroupilha, quando Porto Alegre foi objeto de 3 sítios farrapos .Linha de fortificação cuja história resgatamos em mapa em Porto Alegre – memória dos sítios farrapos e da administração de Caxias. Brasília: EGGCF, 1989.

A vila de Rio Grande foi reconquistada na madrugada de 1º de abr 1776, dia de São Francisco de Paula que daria origem ao primitivo nome da atual cidade de Pelotas , como Povo de São Francisco de Paula , desde então padroeiro desta cidade.

Guerrilheiros de Rafael Pinto Bandeira, baseados em Canguçu atual passaram a usar o seguinte caminho , em linha seca, ao longo do itinerário hoje balizado por Canguçu – Piratini – Pedras Altas – Herval – passo do Centurion no rio Jaguarão – Mello, no Uruguai.

Este caminho de invasão seria barrado em 1801 pelos espanhóis com o forte de Cerro Largo(atual Mello ) no Uruguai.

 

O Tratado de Santo Ildefonso 1775

 

Foi celebrado em 1777 o Tratados de Santo Ildefonso e imposto a Portugal ,pelo qual ele perdeu em definitivo a Colônia do Sacramento e temporariamente os Sete Povos, mantendo suas bases militares em Rio Grande, no litoral e, em Rio Pardo no interior com jurisdição , sobre a vasta campanha. Bases articuladas , por terra ,através do Vao dos Prestes( atual) no rio Camaquã entre Encruzilhada e Canguçu.

O novo traçado dividia São Gabriel atual ao meio ,bem como Bagé e abrangia quase todo D. Pedrito. Seu limite de fato na Bacia da Lagoa dos Patos foi o rio Piratini. Foi estabelecida nos limites uma faixa denominada Campos Neutrais que no litoral abrangia todo o atual município de Santa Vitória do Palmar.

Foi demarcado entre Bagé e Santa Maria atuais ,com uma faixa chamada Campos Neutros que teoricamente isolaria espanhóis e portugueses Mas não evitou o contrabando franco do gado pertencente ao rei da Espanha pelo gaúcho ,personagem sem lei e sem rei que surgiu nas campanhas do Uruguai e Rio Grande do Sul e que de abatedor de manadas de vacuns selvagens para tirar o couro e vender de contrabando , passou a contrabandear gado em pé para as charqueadas portuguesas estabelecidas por volta de 1780 ,em Pelotas atual e na margem esquerda do rio Piratini junto a sua foz.

Contrabando focalizado por Guilhermino Cesar em O contrabando no sul do Brasil (Caxias do Sul :UCS-EST,1978) e que se constituiu em poderoso instrumento geopolítico a serviço de Portugal .

De igual forma as charqueadas gaúchas que se expandiram a partir de de 1780 viriam a se tornar instrumentos de geopolitica a serviço da fixação de nossa fronteira Sul ,cuja história foi abordada Alvarino Foutoura Marques em Episódios do ciclo do charque .(Porto Alegre:EDIGAL,1987). E continuada em Evolução das charqueadas rio-grandenses.( Porto Alegre : Martim Livreiro,1990)

Não poderiamos deixar de mencionar o mate como instrumento da geopolítica de Portugal no Sul e abordada em tese de Maria Emília Barcellos da Silva em O Chimarrão uma vivência gaucha .( Rio de Janeiro :Fac.Letras UFRJ,1987).E mais o tropeirismo de mulas ,conforme estudamos em Caminhos históricos estratégicos de penetração e povoamento do Vale do Alto e Médio rio Paraíba 1565-1822.(Resende: AHIMTB ,1998) ,como contribuição ao XIV Simpósio de História do Vale do Paraiba promovido pelo IEV ,em Campos do Jordão e publicado na RIHGB .Tropeirismo estudado por Aluisio Almeida em Vida e morte do tropeiro. (São Paulo : ED. Martins ,1971 ) e por Pedro Ari Veríssimo da Fonseca em Tropeiros de Mula .( Passo Fundo: Diario da Manhã,1985). Evento providencial que segundo Ari Verissimo foi responsável por haver dado o Rio Grande do Sul ao Brasil. Afirmação assim justificada :

Para transportar a prata das minas de Potosi para a América Central para dali seguirem para a Espanha foi necessário criar-se mulas em Entre –Rios na atual Argentina para transportar a prata até o Caribe .Com o esgotamento da prata em Potosi que coincidiu com a descoberta das Minas Gerais , os tropeiros espanhóis inicialmente com suas mulas do eixo Potosi- Caribe se transferiram para o eixo Rio Grande do Sul atual – Sorocaba , centro dispersor dos tropeiros de mulas para atingirem Minas Gerais ,Mato Grosso e Goiás abastecendo os mineradores de vários gêneros e fornecendo-lhes mulas para movimentar a atividade mineira .

"Sem a abertura do caminho por tropeiros ligando o Rio Grande – São Paulo –Minas não teria ocorrido os ciclos do ouro e do café e se completado a Unidade Nacional , unindo o Rio Grande ao restante do Brasil.."

A marcha das estâncias gaúchas se constituiu igualmente em poderoso instrumento geopolítico em favor da consolidação do Rio Grande do Sul brasileiro o que pode ser avaliado da obra de patrono de cadeira na AHIMTB ,o General João Borges Fortes em Rio Grande de São Pedro .(Rio de janeiro:BIBLIEX,1941).

A demarcação do Tratado de Santo Ildefonso ficou indefinida entre os rios Piratini e Jaguarão .Esgotadas as manadas selvagens elas passaram a ser criadas extensivamente por fazendeiros e estancieiros

O Tratado de Santo Ildefonso significou uma grande perda territorial com a qual os gaúchos não se conformaram e se prepararam para o troco .

 

A Guerra de 1801

 

O Rio Grande de 1777-1801 por 20 anos trabalhou com afinco e acumulou riquezas, mas inconformado com o Tratado de São Ildefonso de 1777 – um retrocesso.

A guerra se aproximava. Como preparativos para um futuro conflito Portugal fundou , no início de janeiro de 1800 ,as povoações de Caçapava e Encruzilhada para barrarem ,em caso de guerra, o histórico caminho de invasão: Aceguá – Santa Tecla – Lavras – Caçapava – Encruzilhada – Pântano Grande – Rio Pardo.

E fundou Canguçu aprofundando a defesa feita em Piratini ,desde 1789 para barrar o caminho de invasão usado pelos guerrilheiros de Rafael Pinto Bandeira na guerra 1777-76: Canguçu – Piratini – Pinheiro Machado – Pedras Altas – Herval do Sul – passo Centurion no rio Jaguarão e Forte de Cerro Largo.

Estourando a guerra na Europa, Espanha invadiu Portugal e conquistou Olivença. No Rio Grande a guerra seria sustentada com recursos humanos e materiais fornecidos pela iniciativa privada.

Na Fronteira do Rio Grande , sob a liderança do Cel Manoel Marques de Souza 1º, atual patrono da 8ª Brigada Motorizada de Pelotas e no comando da Legião de Cavalaria da Fronteira de Rio Grande, criada em 1776 ,ao comando de então Coronel Rafael Pinto bandeira invadiu o contestado território ao Sul do rio Piratini e levou nossa fronteira até o rio Jaguarão ,depois de neutralizar r as guardas espanholas de São José, Santa Rosa, Quilombo e da Lagoa.

Data daí a fundação de Jaguarão com o estabelecimento ali de uma Guarda Militar ao comando do Major Vasco Pinto Bandeira.

Na Fronteira do Rio Pardo, ao comando do Cel Patrício Correia da Câmara, (atual denominação histórica da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada em Bagé) , a frente de seus Dragões do Rio Grande, baseados no Rio Pardoexpulsou os espanhóis de Batovi (a primitiva São Gabriel) e de Santa Tecla para onde haviam retornado e da Guarda São Sebastião, na Coxilha São Sebastião. Esta oeste Patrício colou a fronteira no rio Santa Maria, como previra o Tratado de Madrid.

A partir de Santa Maria atual, 40 dragões e aventureiros, sob a orientação do Cel Patrício em Rio Pardo, conquistaram sucessivamente a guarda espanhola de São Martinho e os Sete Povos que foram incorporados pela força das armas.

A vitória portuguesa foi decidida no passo N.S. da Conceição do Jaguarão (atual Passo Centurion), com a retirada ,em 13 dez , da tropa de Espanha para o forte de Cerro Largo.

Em 17 dez 1801 foi conhecida a paz na Europa, onde a Espanha não devolveu Olivença e aqui no Brasil Portugal não devolveu o que conquistara.

Assim com esta vitoriosa guerra sustentada com recursos materiais das fazendas e charqueadas , o Rio Grande do Sul foi bastante ampliado.

Conquistou os territórios com ricas pastagens dos Sete Povos, entre os rios Piratini e Jaguarão e o território entre o rio Santa Maria e o divisor de águas das bacias da Lagoa dos Patos e do rio Uruguai ,acrescendo aos atuais municípios de São Gabriel (mais da metade), a Bagé cerca de mais 1/3 e a D. Pedrito quase a metade. E sem esquecermos todo o município de Santo Vitória.

Enfim a Fronteira do Brasil no Rio Grande do Sul se apoiava agora em acidentes naturais na linha balizada pelos rios Uruguai – Ibicuí – Santa Maria – Jaguarão – Lagoa Mirim e, em linha seca em Aceguá. Do que hoje é o Rio Grande só faltava o quadrilátero chamado distrito de Entre Rios, formado pelos atuais municípios de Santana, Rosário, Alegrete, Uruguaiana e Quaraí.

 

A Campanha do Exército Pacificador da Banda Oriental 1811-12

 

Com a independência das províncias que constituíram o Vice Reinado do Prata, o governador de Élio de Montevidéu se manteve fiel à Espanha. Montevidéu foi cercada por argentinos e por orientais liderados por Artigas.

Portugal organizou um Exército ao comando de D. Diogo de Souza, primeiro governador e capitão general do Rio Grande do Sul , então capitania instalada em 1808.

Seu objetivo era o de prevenir no Rio Grande do Sul os reflexos das lutas que incendiavam o Prata. Artigas em seu sonho de Independência do Uruguai incluía nele partes do Rio Grande do Sul, bem como a Argentina em refazer sob sua égide o antigo vice Reinado do Prata.

A concentração do Exército foi em Bagé atual ,que então surgiu como Guarda e Distrito Militar ,cujo dirigente de fato foi o ex Dragão do Rio Pardo, Capitão Ricardo de Mello( bisavô do escritor Erico Veríssimo)que respondeu pelo distrito de 1811 – 25, por 14 anos.

Élio, sitiado em Montevidéu por Artigas e pelo argentino Rondeau, pediu socorro a D. João VI , cunhado do rei Fernando de Espanha preso por Napoleão e que era irmão da rainha D. Carlota Joaquina.

E ficou decidida a invasão do Uruguai que teve início em 25 jul 1811, com a travessia do passo Centurion ,no rio Jaguarão, seguida da conquista do Forte Cerro Largo. E prosseguiu conquistando o Forte de Santa Tereza, se apossou de Castilhos e atingiu Maldonado onde se incorporou ao Exército , como coronel auditor, o futuro Visconde de São Leopoldo, deixando precioso testemunho em sua obra Anais da Província de São Pedro(Rio de Janeiro: INL, 1942). Foi o presidente fundador em 1838 do Instituto Histórico e geográfico Brasileiro e é considerado Pai das histórias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul .

Em 14 out o governador Élio de Montevidéu pediu para D. Diogo que retornasse a Bagé com seu Exército , em razão de armistício que celebrou com argentinos e Artigas por imposição britânica. Por temor de ameaças de Artigas, D. Diogo destacou para o acampamento próximo a Santana atual ,em dez 1812 ,os regimentos de Dragões e de Milícias do Rio Pardo. Acampamento dentro do distrito espanhol de Entre Rios.

Em 1812,depois de convocar no Rio Grande todos os homens entre 16 e 46 anos, D. Diogo deixou Maldonado com o seu Exército e atravessou Uruguai e foi até Paissandú em 48 dias de marcha, de 16 mar – 2 mai 1812, percorrendo 96 léguas e entrincheirando-se em Paissandú. Esta marcha ,não pacífica ,foi desenvolvida no itinerário Maldonado – Pão de Açúcar – Passo de Cuelo – Cerro Pelado – Passo do Durazno – Rio Yi – Rio Negro – Arroio Malo, sob o argumento de uma ameaça de Artigas , em posição entre os rios Quaraí e Ibicuí , no distrito de Entre Rios. E tiveram lugar vários combates com artiguenhos.

A partir do Distrito Militar dos Sete Povos das Missões, criado em 1801, portugueses atacaram os povos de Japejú (local de nascimento de San Martin) e São Tomé). A vanguarda de Artigas foi batida junto ao arroio Laureles e em todas estas ações foram apreendidos muitos bovinos e cavalos.

Depois de cerca de 40 dias em Paissandu, por ordem de D. João, D. Diogo começou a retomar ao Rio Grande, permanecendo 3 meses nas cabeceiras do Cunha Perú fronteiro a Santana do Livramento atual .

Em 12 set 1812 ,o Exército Pacificador retornou a Bagé pelo Passo N. S. da Conceição no Jaguarão , em Herval do Sul atual.

A conseqüência deste evento foi a incorporação de fato ,pela força das armas, por ações combinadas do Exército Pacificador em Paissandú e depois em Cunha Peru com as forças no acampamento São Diogo e da que guarnecia São Borja, contra seguidores de Artigas que ocupavam o distrito de Entre-Rios . Distrito , onde hoje se situam os municípios de Santana, Quaraí, Uruguaiana, Alegrete e parte dos de Rosário do Sul e D. Pedrito e com fronteiras naturais nos rios Uruguai e Quaraí e linha seca em Santana.

Mesmo antes e principalmente depois da guerra de 1774 /76, como da de 1801 e Campanha do Exército Pacificador 1811/12, militares que delas participaram receberam terras para a criação de gado e também para defendê-las, tornando-se cada estância ou fazenda uma célula militar a ser mobilizada ao primeiro sinal de perigo.

Sobre isto escreveu Oliveira Vianna em Populações Meridionais do Brasil (Rio de Janeiro, 1952).

"Na verdade a maior parte da gente que povoou a campanha rio-grandense era composta de militares profissionais que de soldados que fizeram estancieiros atraídos pelo encanto e liberdade da vida pastoril..."

Não foi só! Dessa aristocracia pastoril os elementos que não tinham como os militares acima nomeados, uma origem militar, possuíam em regra, uma educação militar. Porque se havia soldados que se faziam estancieiros, havia estancieiros que se faziam soldados: E eram quase todos!

Todos os estancieiros da fronteira, por ocasião das guerras e das invasões platinas eram naturalmente levados a se tornarem poderosos caudilhos, valentes capitaneadores dos bandos da peonagem das estâncias recrutada de improviso, formando centro de agrupação da população da campanha, tornados em falanges particulares de civis ,ou guerrilheiros.

Incorporados aos Exércitos em marcha, eles eram verdadeiros soldados, sujeitos aos rigores da disciplina e da hierarquia militar.

Terminada a guerra, esses caudilhos civis tornavam a seus pagos armados em companhia de seus guerrilheiros. Estes ensarilhavam as suas lanças ... Camarada e amigo dos seus soldados, estes agora tornados a sua faina de peões e capatazes, continuavam a manter a mesma obediência militar. Como lhe prestaram na guerra, continuavam agora a prestá-la já ,em pleno regime de paz e de trabalho!

Esta combinação , estâncias nas fronteiras distribuídas a militares ,se constituiu poderoso e econômico instrumento de concretização da geopolítica de Portugal e depois do Brasil no Rio Grande do Sul.

Foi com muita justificacia e sensibilidade tradicionalista gaúcha que em 1954 o deputado Ruy Ramos, ao prefaciar Galpão de Estância .( São Luiz Gonzaga: Graf.Porto Seguro ,1954 1 ed) do inspirado poeta gaúcho Jaime Caetano Braun escreveu:

" O culto das tradições gaúchas represento no Rio Grande do Sul um impulso espontâneo e irresistível da alma da raça ... Falar das lutas e das dores do gaúcho para definir e fixar os limites do Brasil no Rio Grande do Sul e manter a posse da terra e dominá-la, e tocar na corda sensível das gerações gaúchas ".

Observamos com pesar que o tradicionalista gaúcho em geral desconhece esta realidade mencionada por Ruy Ramos, da qual tem uma noção romanceada e fantasiosa da luta dos rio-grandenses como Sentinelas do Brasil, conhecendo só que lutamos com os castelhanos, mas sem saber as circunstâncias históricas dessas lutas, no tempo e no espaço.

Ao contrário se concentra no culto da Revolução Farroupilha em bases históricas manipuladas, olvidando que ela só foi possível com adesão e condução da mesma, pela participação efetiva de oficiais do Exército e Unidades do Exército que guarneciam a então maior guarnição do Brasil: 4 Regimentos de Cavalaria Ligeira , um Batalhão de Infantaria e um Batalhão de Artilharia, afora a Guarda Nacional , cujo comandante era o Coronel de Estado –Maior do Exército Bento Gonçalves da Silva

Circunstâncias que reproduzi com fidelidade em nosso livro de cunho profissional militar. O Exército Farrapo e os seus chefes (Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1992. 2v).

Bento Gonçalves e Bento Manoel eram coronéis de Estado-Maior do Exército. Os majores José Mariano de Mattos e João Manoel Lima e Silva comandavam respectivamente a Infantaria e a Artilharia da guarnição do Exército no Rio Grande do Sul. José Mariano é considerado o 1 o comandante do 22o GAC –Grupo Uruguaiana .

Cultua-se os lenços branco e vermelho dos tempos da sanguinária, feroz e cruel Revolução Federalista de 1893-95, marcada pelos massacres fratricidas, por degolas , de irmãos gaúchos inermes em Rio Negro – Bagé e do Boi Preto em Palmeira das Missões. Conjuntura perversa em que foram degoladas as virtudes de Firmeza e Doçura simbolizadas por dois amores perfeitos nos ângulos do losango do brazão farrapo, adotado com o do Rio Grande do Sul em 1891 .

Firmeza simbolizando em combate lutar com toda a garra, coragem e valor.

Doçura representada pelo respeito ,como religião, depois da vitória, à vida, à honra, à família e ao patrimônio do vencido inerme.

Doçura de qual deu exemplo Flores de Cunha ao receber a rendição de Honório Lemes, o Tropeiro da Liberdade , ao se recusar a receber a sua espada e o seu revólver ,para em seguida se abraçarem comovidos.

Sobre este assunto produzimos o livro: Símbolos do Rio Grande do Sul - subsídios para sua revisão histórica, tradicionalista e legal.( Recife: UERPE, 1971) . Obra em que resgato a figura do simbolista farrapo Bernardo Pires.

Penso, salvo melhor juízo que o MTG que tem por patrono o Ten Cel Cav João Cezimbra Jacques, criador em 1903 do Grêmio Gaúcho em Porto Alegre que devia exaltar e divulgar as tradições guerreiras do Rio Grande do Sul e dos que a construíram ,para se buscar coerência com o filósofo Shesterton: "A Tradição é a democracia dos mortos", Ou seja, a maneira como os mortos se sentem votando quando as tradições que eles construíram ou o Trado(legado) são respeitadas e cultuadas no caso pelos tradicionalistas.

Cezimbra Jaques a quem se deve o exelente Assuntos do Rio Grande do Sul .( Porto Alegre: ERUS,1979) , cuja figura foi resgatada pelo Cel Hélio Moro Mariante que obteve vitória em sua tese de tornar Cezimbra Jaques patrono do MTG , por seu pioneirismo no Tradicionalismo Gaúcho no Prata .Pois na Argentina o tradicionalismo surgiu forte em 1914 por italo-argentinos ,que segundo Maddaline W. Nicholes em seu O Gaúcho .( Rio de Janeiro: Zelio Valverde ,1946 ) traduzido por Castilhos Goycochêa, "havia na Argentina mais de 200 clubes, sendo mais de 50, em Buenos Aires ,cuja finalidade ostensiva era perpetuar a tradição gaúcha .. "

E sobre as tradições militares com apoio na História existe um silêncio sepulcral de parte da Mídia. Seria bom que os líderes tradicionalistas parassem um pouco para pensar. Isto para que não se dê motivo esta piada que circulou de boca em boca em 1961 no episódio da Legalidade.

Que um CTG imitando um Regimento de Cavalaria ,fez solene alto defronte ao Mata Borrão, na Avenida Borges de Medeiros.

E boleou a perna um gaúcho e se dirigiu solene aos alistadores para seguir para o norte do Brasil para defender a Legalidade.

E perguntou-lhe o alistador: - E os demais vão bolear a perna e se alistarem? . E obteve como resposta: - Não! Pois de briga só sou eu! Os outros são só de dança!

 

As guerras contra Artigas de 1816-1820

 

Em 20 jun 1814 Montevidéu sitiada capitulou a Argentina. E o futuro do Uruguai oscilou entre quatro objetivos geopolíticos conflitantes:

Será província Argentina? Será independente com Artigas? Será protetorado da Inglaterra ?Será província portuguesa ,sonhada pela rainha Carlota Joaquina, irmã do rei Fernando de Espanha prisioneiro de Napoleão ?

E Portugal optou pela invasão, que no mínimo traria a vantagem geopolítica de definir os limites entre os atuais Uruguai e Brasil, no Rio Grande do Sul.

Em 1815 o Brasil foi elevado a condição de Reino Unido com sede no Brasil. D. João VI decidiu invadir e ocupar o Uruguai com a Divisão de Voluntários Reais que mandou vir de Portugal.

Concentrou na Fronteira do Rio Pardo poderoso Exército e estimulou a mobilização de forças de guerrilhas e de voluntários.

 

A 1ª Guerra contra Artigas

 

Artigas ao que parece pretendia barrar o avanço pelo litoral da Divisão de Voluntários Reais rumo a Montevidéu e conquistar os Sete Povos das Missões. Reforçado nos Sete Povos, bater as forças do Rio Grande do Sul ,na Fronteira do Rio Pardo e, a seguir, cair pela retaguarda sobre a Divisão de Voluntários Reais.

O Plano de Portugal visava invadir o Uruguai pelo litoral com a Divisão de Voluntários Reais e conquistar Montevidéu. Defender com as tropas da Fronteira do Rio Pardo as linhas dos rios Uruguai e Quaraí ,contra invasões de Artigas. Caso invadido o Rio Grande ,expulsar Artigas e suas tropas.

O Rio Grande foi invadido por Artigas por Santana e São Borja.

Ao final Artigas foi derrotado em Catalão em 4 jan 1817 e a partir de São Borja foi destacada força contra povoações indígenas na margem direita do Uruguai, bases da partida de ataques de Artigas contra o Rio Grande.

A Divisão de Voluntários Reais entrou em Montevidéu em 20 jan 1817, decorrido 16 dias da Batalha de Catalan e , Portugal ,mais uma vez ,decorridos 40 anos , colocava os limites do Brasil no rio da Prata, seu antigo e perseguido sonho geopolítico.

 

A 2ª campanha contra Artigas 1819-20

 

Artigas reuniu um Exército frente a Santana atual . As tropas do Rio Grande foram concentradas em Bagé, em condições de apoiar a Divisão de Voluntários Reais de Montevidéu.

Artigas invadiu os Sete Povos pelo passo Santo Isidoro, em 25 abr 1815 e se apossou dos povos de São Luiz Gonzaga e São Nicolau. Foi destacado para enfrentá-lo em São Nicolau no comando de um Regimento de Cavalaria de Milícias o Cel Diogo de Morais Arouche Lara que foi repelido e morto em ação. Foi o primeiro historiador militar do Brasil como Reino Unido por haver escrito sobre a campanha anterior contra Artigas. É patrono de cadeira na Academia de História Militar Terrestre do Brasil ,ocupada pelo historiador paulista Hernani Donato e é nosso patrono no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo .

O Conde de Figueira, governador do Rio Grande ,socorreu os Sete Povos das Missões e junto com tropas deste distrito militar encontrou São Nicolau abandonado e terminou por livrar os Sete Povos da ameaça de Artigas.

O Conde de Figueira deixou o Cel José de Abreu na cobertura do rio Arapeí (no Uruguai hoje) e deslocou uma força de Bagé para Las Canas no Uruguai, face ao forte do Cerro Largo e guarneceu Jaguarão, Guarda Militar criada em 1801 .

Em jan 1820, Artigas em seu acampamento de Taquarembó ,próximo a Santana, invadiu o Rio Grande, obrigando o Cel José de Abreu a retirar-se para o passo do Rosário (atual Rosário do Sul).

O Conde da Figueira, governador do Rio Grande, em manobra fulminante deslocou-se de Porto Alegre e assumiu o comando das tropas de Rio Grande em Operações E atacou Artigas acampado nas nascentes de Taquarembó ,em 20 jan 1820 e derrotou seu Exército ,obrigando-o a deslocar-se para Corrientes . Em 29 set 1820 Artigas foi obrigado a exilar-se no Paraguai de onde não mais retornou.

 

Uruguai Província Cisplatina do Brasil 1821 e Guerra Cisplatina 1825-28

 

O Uruguai em 31 jul 1821 foi incorporado ao Império do Brasil como Província Cisplatina. Portugal conquistara dois objetivos geopolíticos . Ou sejam: definir os limites do Rio Grande do Sul com o Uruguai que permanecem até hoje , exceto alteração ocorrida em 1809 e ,pela segunda vez ,ter o seu limite extremo no Rio da Prata. Este duraria cerca de 7 anos.

Em 7 set 1822 o Brasil proclamou a sua Independência e teve de voltar suas atenções para consolidá-la na Cisplatina, no Maranhão, Pará e Bahia e ainda enfrentar a Confederação do Equador no Nordeste, em 1824.

Foi nesta conjuntura adversa que o nascente Exército Brasileiro, desfalcado das lideranças militares e da tropa representada pelas 3 divisões portuguesas que em maioria retornaram a Portugal , teve de enfrentar duas invasões argentinas e orientais no Rio Grande do Sul.

Assim ,em 19 abr 1825, 33 orientais vindos da Argentina iniciaram o processo de Independência do Brasil do atual Uruguai. Esta proclamada em 25 out 1825 e o Uruguai declarado confederado às Províncias Unidas do Rio da Prata(Argentina). O Congresso argentino aprovou a Independência e o Império do Brasil declarou guerra à Argentina. E sofreu o Brasil derrotas no Uruguai como a de Sarandi , ao comando do agora Marechal José de Abreu e então destituido.

O Brasil concentrou seu Exército no acampamento Imperial do Carolina(Santana). Carolina era o último nome da Imperatriz D. Leopoldina.

Massena Rosado incompetente comandante elevado de comandante de batalhão a comandante de Exército, foi o mentor dessa infeliz estratégia, que deixou a descoberto toda a fronteira e o Exército e o Rio Grande presas fáceis . O Exército de ser envolvido e batido em de Santana seguido de conquista do Rio Grande .Ao Marquês de Barbacena assumir o comando do Exército em Santana declarou:

"Encontrei um exército descalço, sem munição de boca(alimentos) e de guerra, sem remédios, sem cavalos e reduzido depois de um ano a mais humilhante defensiva!!! "

O Exército Argentino que invadiria o Rio Grande era regular e veterano das lutas da Independência do Chile, Bolívia e Peru.

Para evitar ser envolvido, o Marquês de Barbacena determinou que o Exército deixasse Santana e se concentrasse em Bagé para enfrentar ali a invasão e interpor-se entre o inimigo e os principais centros urbanos gaúchos.

O Exército Argentino se apossou de Bagé onde ficou ilhado por cerca de 116 horas de 26 a 30 jan 1827, em razão de violento temporal. Este atraso foi providencial para o êxito da bem sucedida manobra estratégica de Barbacena de conseguir interpor-se entre os centros do poder da Província e o invasor, nas serras de Caçapava, favoráveis a Infantaria, o forte o Exército Brasileiro que ali foi reforçado com elementos enviados do Rio de Janeiro por D. Pedro I .

Isto obrigou o Exército invasor a tomar o rumo de São Gabriel. E o Exército Brasileiro saiu em seu encalço . E no dia 20 fev 1827, tem lugar defronte a cidade de Rosário atual, a indecisa Batalha do Passo do Rosário, a maior batalha campal travada no Brasil e em realidade um grande combate encontro após o qual os argentinos retornaram ao Uruguai e o Exército Brasileiro manobrando em retirada para não ser destruído pelos generais, Vento e Fogo procurou o Passo São Lourenço no rio Jacuí. Abordamos este assunto em detalhes nos números os 672 e 680 da Revista A Defesa Nacional .

Mais tarde os Exércitos do Brasil e da Argentina deslocaram-se para o corte do rio Jaguarão onde ficaram frente a frente ,até ser celebrada a Convenção Preliminar de Paz que reconheceu a Independência do Uruguai que fora incorporada artificialmente ao Brasil por 7 anos e cujo destino fora selado em 1723 com a conquista de Montevidéu por crioulos argentinos.

A posição do Uruguai independente entre os imaturos Brasil e Argentina ,representou "um algodão entre dois cristais" por prevenir choques armados potenciais entre ambos no Rio da Prata.

Os limites do Brasil continuaram os mesmos com o Uruguai e com o território equivalente do previsto pelo Tratado de Madrid, pois o que se perdeu ao sul do Jaguarão, fronteira seca ,foi compensado com o território conquistado no quadrilátero(rios Quaraí, Uruguai, Ibicuí, Santa Maria) tendo fronteiras naturais bem definidas com a Argentina e com o Uruguai.

O Exército foi desmobilizado em Piratini que serviria de foco de insatisfações que levariam o Rio Grande a Revolução Farroupilha

 

Revolução Farroupilha 1835-45

 

Uma série de desgostos acumulados contra o Governo Central e seus representantes no Rio Grande do Sul, levaram os rio-grandenses inicialmente a uma revolução para depor o Presidente da Província e o seu Comandante das Armas e depois a proclamação da República Rio-grandense que duraría cerca de 9 anos e cuja atração exercida pelo bloco das repúblicas platinas era fortíssima e ameaçadora. Face a este grande perigo o Imperador D. Pedro II encarregou o Barão de Caxias de pacificá-la.

E depois de grande esforço neste sentido conseguiu pacificar a Revolução Farroupilha em 1 mar 1845, conformo abordo nas seguintes obras:

Contribuição à História de D. Pedrito. D. Pedrito: Prefeitura, 2001

O Exército farrapo e os seus chefes. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1992- 94 2v.

Caxias foi escolhido Presidente da Província e eleito por ela seu senador vitalício, cargo que exerceu com grande orgulho por cerca de 30 anos.

Seu trabalho pacificador foi assim reconhecido pelo líder farrapo Bento Gonçalves em carta a um amigo.

"Por fim temos uma paz que só conseguimos algumas vantagens pela generosidade do Barão de Caxias, desse homem verdadeiramente amigo dos rio-grandenses, que não podendo fazer-nos publicamente a Paz nos fez o Barão o que já não podíamos esperar, salvando assim em grande parte, nossa dignidade .

Ao Manoel Rosas, ditador argentino proporo atravessar a fronteira com tropas argentinas e ajudar os farrapos ,recebeu esta resposta do General Davi Canabarro , último comandante do Exército Farrapo :

"Com o sangue do primeiro soldado argentino que atravessar a fronteira assinaremos a Paz com o Império ...."

O sentimento de brasilidade era mais forte naquele momento do que o de República. Vale lembrar que a Revolução Farroupilha foi um laboratório de técnicas, táticas e estratégias militares no Rio Grande do Sul. E mais do que isto, foi uma escola de formação de líderes de combate, que depois de combaterem por quase 9 anos como republicanos farrapos e imperiais, se irmanaram na defesa do Brasil nas guerras externas que se seguiriam contra Oribe e Rosas 1851-52, contra Aguirre 1864 e do Paraguai 1865-70.

Na vitória contra Oribe e Rosas ficaram definidos os limites do Brasil com o Uruguai ,através de acidentes naturais. Ajudou-se a confirmar as independências do Uruguai e do Paraguai de influência de Rosas e foi assegurado o direito do Brasil a sua livre navegação no rio da Prata, essencial para comunicar-se com a sua província Mato Grosso. Enfim equilíbrio político no Rio da Prata um objetivo geopolítico conquistado temporiamente .

Na Guerra contra Aguirre do Uruguai o Brasil nela se envolveu para defender estancieiros brasileiros da fronteira que tinham suas propriedades invadidas e os cerca de 40.000 brasileiros residentes no Uruguai que tinham propriedades confiscadas e interesses desrespeitados.

Mais uma guerra em defesa do objetivo geopolítico do Brasil de assegurar o equilíbrio político no Rio da Prata .

 

A Guerra do Paraguai

 

A invasão do Uruguai em 1864 provocou a intervenção no conflito do Marechal Solano Lopes do Paraguai que invadiu o Rio Grande do Sul por São Borja e conquistou Uruguaiana e também invadiu o Mato Grosso pela Colônia Militar de Dourados

Estes fatos provocaram a guerra da Tríplice Aliança Argentina – Brasil – Uruguai contra o Paraguai 1865-70.

Com a presença de D. Pedro II e dos presidentes da Argentina e Uruguai renderam-se em Uruguaiana em 18 set 1865 , 550 oficiais e 5.131 soldados paraguaios que haviam invadido o Rio Grande e ocupado Uruguaiana por largo período .

Nesta guerra o Brasil defendeu a sua Integridade e sua Soberania .A última ameaçada pelo Paraguai em seu direito de livre navegação no rio Paraguai essencial para as comunicações do Governo central no Rio com a Província de Mato Grosso e impedida com a construção pelo Paraguai da Fortaleza de Humaitá – a Sebastopol da América do Sul .

Os aliados derrotaram a Marinha do Paraguai em Riachuelo em 11 jun 1865, e o seu Exército em 24 mar 1866 na batalha de Tuiti ,onde destruíram a capacidade ofensiva tática e a seguir a Dezembrada onde destruiram a capacidade defensiva tática de Solano Lopes depois de haverem destruido a sua capacidade defensiva estratégica com a conquista da Fortaleza de Humaitá que abriu o rio Paraguai a livre navegação pelo Brasil .E finalmente a atuação do Brasil no sentido da manutenção da Integridade e independência do Uruguai ,com vistas a manutenção do equilíbrio político no Prata.

No período 1680 –1870 ,o Brasil ,no Rio Grande do Sul ,conseguiu definir e proteger suas fronteiras em obstáculos naturais. Fato que exigiu da diplomacia portuguesa e depois brasileira imperial e republicana atuação e negociação permanentes e com muita freqüência luta armada, conforme abordado.

Não conseguiu a diplomacia colonial e depois a imperial brasileira superar o gigantesco antagonismo geopolítico do Prata representado por uma convergência para Buenos Aires de sua influência sobre as bacias dos formadores do rios da Prata os rios Uruguai, Paraná e Paraguai que penetram fundo no território brasileiro.

Antagonismo geopolítico superado por períodos intermitentes de 1680-1777, durante quase 100 anos em que Colônia do Sacramento pertenceu a Portugal e de 1821-20, por cerca de 7 anos mquando o Uruguai integrou o Brasil como sua província Cisplatina.

Hoje esta influência de Buenos Aires sobre áreas brasileiras banhadas pelos afluentes citados, vem sendo compensadas com a malha ferroviária e corredores de exportação terminando nos portos de Porto Alegre e Rio Grande, no caso do Rio Grande do Sul. Soluções estas sugeridas pelo Marechal Mário Travassos como capitão e pioneiro em estudos geopolíticos entre nós, ao qual se atribui a localização da Academia Militar das Agulhas Negras em Resende, atendendo a critérios de Geopolítica. Estabelecimento militar do qual viria a ser o seu primeiro comandante em 1944 e o único no posto de coronel . Hoje ele é patrono da Delegacia da Academia de História Militar Terrestre do Brasil em Campinas –SP

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

A seguir apresentamos ao leitor e pesquisador interessado, algumas fontes de interesse da História da Geopolítica do Brasil no Prata e de sua projeção no Rio Grande do Sul menos algumas citadas no texto .

 

  1. BACKHEUSER, Everaldo. Curso de Geopolítica Geral e do Brasil. Rio
  2. de Janeiro: BIBLIEX, 1982.

  3. BENTO, Cláudio Moreira. A Guerra da Restauração do RGS. Rio de Janeiro:
  4. 1996.

  5. (____) História da 3ª RM 1808-1889 e antecedentes. Porto Alegre: 3ª RM
  6. (SENAI), 1994.

  7. (____) Caminhos históricos estratégicos de penetração e povoamento do Vale do Alto e Médio Paraíba 1565-1822.Resende:AHIMTB,1998. Usa a cronologia que informa o que se passava no Brasil em determinado momento integrando atividades econômicas .Foi publicado na RIHGB também).
  8. (____) Real Feitoria do Linho Cânhamo do Rincão do Canguçu. Canguçu:
  9. Prefeitura, 1982.

  10. (____) Apresentação in: NEVES, Ilka. Canguçu – RS primitivos moradores
  11. primeiros batismos 1800-1813. Pelotas: Ed. Universitária/UFPEL,

    1998 . (Registra o fluxo migratório para a área e origem dos migrantes).

  12. (____) Como estudar e pesquisar a História do Exército Brasileiro.
  13. Brasília: EME/EGGGF, 2000.

  14. (____) Brasil Conflitos externos 1500-1945. ( site www.resenet.com.br/users/
  15. ahimtb).

  16. CÉSAR, Guilhermino. História do Rio Grande do Sul – Período Colonial.
  17. Porto Alegre: Liv. Globo,1970..

  18. CIDADE, Francisco de Paula. Notas de Geografia Militar sul-americanas.
  19. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1940(Curso ministrado na ECEME).

  20. (____) Lutas ao sul do Brasil com espanhóis e seus descendentes. Rio de
  21. Janeiro: BIBLIEX, 1946.

  22. FORTES, João Borges. O povoamento do Rio Grande do Sul. Rio de
  23. Janeiro, 1931.

  24. MATTOS, Carlos de Meira. A Geopolítica e as projeções do Poder. Rio de
  25. Janeiro, 1950 (Prefácio de Luiz Vianna Filho).

  26. (____) Brasil – Geopolítica e destino. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1975.
  27. MONTEIRO, Jonathas do Rego. A Colônia do Sacramento 1680-1777. Porto
  28. Alegre: Liv. Globo, 1937 2v.

  29. SILVA, Golbery do Couto e. Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. José
  30. Olympio, 1976.

  31. (____) Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1955.
  32. SILVA, João Ribeiro. A Geopolítica e a Geoestratégia dos descobri-
  33. mentos portugueses(Nota oferecida pelo autor a AHIMTB).

  34. RODRIGUES, Lysias. Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: BIBLIEX,
  35. 1951. ( Prefaciada por Everaldo Backheuser. )

  36. SOARES, Teixeira. História da formação das Fronteiras do Brasil. Rio de
  37. Janeiro: BIBLIEX, 1975.

  38. TRAVASSOS, Mário. Projeção Continental do Brasil. Rio de Janeiro, 1931
  39. (prefácio de Pandiá Calógeras).

  40. (____) Introdução à Política de Comunicações brasileiras. Rio de Janeiro,

1941(Prefácio de Gilberto Freire).

 

Obras sobre cidades brasileiras situadas na Fronteira do Brasil no Rio Grande do Sul com o Uruguai que ajudam a comprovar o resultado da projeção Geopolítica de Portugal e depois do Brasil no Rio Grande do Sul.

  1. Santa Vitória do Palmar
  1. AZAMBUJA, Péricles. História das terras e mares do Chuí. Caxias do Sul:
  2. UCS, 1978(Prefácio de Cláudio Moreira Bento).

  3. BENTO, Cláudio Moreira. Santa Vitória do Palmar na História Militar. Revista
  4. Militar Brasileira, v. 105, 1974 jul/dez.

  5. AMARAL, Anselmo. Campos Neutrais. Porto Alegre: Of Grafisilk,1973

 

  1. Jaguarão
  1. FRANCO, Sérgio da Costa. Origem de Jaguarão 1790-1833. Caxias do Sul:

UCS, 1980.

 

  1. Herval do Sul
  1. MEDEIROS, Manoel da Costa. História do Herval. Caxias do Sul: UCS, 1980.

 

  1. Bagé
  1. SALIS, Eurico Jacinto. História de Bagé. Porto Alegre: Liv. Globo, 1955.
  2.  

  3. TABORDA, Tarcísio da Costa. Bagé de sempre. Bagé: FUNBA, 1981.
  4.  

  5. BENTO, Cláudio Moreira Bento .Retrospecto da História Militar de Bagé 1680-

1921. in:História da 3a Bda C Mec –Brigada Patricio Correia da Câmara

Porto Alegre: Pallotti,2002

 

  1. D. Pedrito
  1. BENTO, Cláudio Moreira. Contribuição à História de D. Pedrito. D. Pedrito:

Prefeitura, 2001 (Org. por Adilson Nunes Ferreira ,aborda origens e a

Paz de D. Pedrito em 1845).

 

  1. Santana do Livramento
  1. CAGGIANI, Ivo. Sant’ana do Livramento. Sant’ana do Livramento: ASPES/

Museu Folha Popular, 1984 3v.

 

  1. Alegrete e Quaraí
  1. TRINDADE, Miguel Jacques. Alegrete do século XVII ao século XX. Porto

Alegre: Ed. Pallotti, 1972 2v.

 

  1. Uruguaiana
  1. PONT, Raul. Campos Realengos. Porto Alegre: EDIGAL, 1983 2v.

b) F0NTTES,Carlos .Uruguaiana. aqui te canto. Porto Alegre: Evangraf,2.000

 

Outros municípios diretamente a retaguarda dos citados da Fronteira:

  1. São Gabriel

 

  1. FIGUEIREDO, Osório Santana. História de São Gabriel. Santa Maria: Ed.

Pallotti, 1993.

b) SILVA, Aristóteles Vaz de Carvalho e .São Gabriel na História. s/l:CITAL 1963

 

  1. Caçapava do Sul
  1. CASSOL, Arnaldo. Caçapava capital farroupilha. Porto Alegre: Martim Livrei-
  2. ro, 1986 (parceria com Nicolau Abrão).

  3. ABRÃO, Nicolau. História de Caçapava. Porto Alegre: Martim Livreiro, 1990.

 

  1. Lavras do Sul
  1. TEIXEIRA, Edilberto. Lavras do Sul na batéia do tempo. Lavras do Sul:

Prefeitura, 1992.

 

  1. Piratini
  1. ALMEIDA, Davi. Roteiro histórico e sentimental de Piratini. Piratini
  2. BENTO, Cláudio Moreira. Piratini um sagrado símbolo farrapo. Resende:

AHIMTB/IHTRGS, 2001.

 

  1. Canguçu
  1. BENTO, Cláudio Moreira. Canguçu reencontro com a História. Porto Alegre:
  2. IEV, 1983.

  3. (____). Canguçu 200 anos. Resende: Graf. Patronato, 2000.
  4. (____).Real Feitoria do Linho cânhamo do Rincão do Canguçu 1783-89 --
  5. (Localização em Canguçu Velho) : São Lourenço do Sul : Prefeitura

    Municipal ,1892

  6. ACADEMIA CANGUÇUENSE DE HISTÓRIA. Revista Canguçu 200 anos.

Resende: Graf. Patronato, 2000 (organizado por Cláudio Moreira Bento).

 

  1. Pelotas
  1. OSÓRIO, Fernando Luiz.. Cidade de Pelotas. Porto Alegre: Ed. Globo, 1962.
  2. (____) Sangue e alma do Rio Grande. Porto Alegre: Liv. Globo, 1997.
  3. MOREIRA. Angelo Pires .Pelotas na tarca do tempo. Pelotas .1990.3v.
  4. NASCIMENTO, Heloisa Assumpção. Nossa cidade era assim .Pelotas :Graf

UFPEL,1999.3v.

e) BENTO ,Formação de Pelotas- síntese .Diário Popular, Pelotas 21 maio 1971.

 

  1. Rio Grande (Antiga sede da Fronteira do Rio Grande)
  1. NEVES, Décio Vignoli. Vultos do Rio Grande. Santa Maria: Pallotti, 1980.
  2. FORTES. João Borges. Rio Grande de São Pedro (.Rio de Janeiro: 1941)

 

  1. Rio Pardo (Antiga sede da Fronteira do Rio Pardo)
  1. ANTUNES, Deoclécio de Paranhos. História do Rio Pardo. Porto Alegre: Liv.

Globo, 1933.