INFORMATIVO GUARARAPES- 2013              

                         AHIMTB/Resende
Mal.              Mal. Mário Travassos


 
Fundada em 23 de abril  de 2011
em continuidade a AHIMTB,
fundada
  em 1º Março 1996

 

 

O GUARARAPES

ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES DA

 FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE HISTÓRIA MILITAR

TERRESTRE DO BRASIL (FAHIMTB) E DA AHIMTB/Resende

 MARECHAL MÁRIO TRAVASSOS

          CGC 0149.52/0001-09                                           www.ahimtb.org.br

 

JOSÉ PESSOA E A 1ª GRANDE GUERRA, e INFLUÊNCIAS DOUTRINÁRIAS NA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE BRASILEIRA AO LONGO DA HISTÓRIA

 

Ano 2013,  nº 20 – FAHIMTB AHIMTB/Resende  FEV.

    

 

Sumário

- JOSÉ PESSOA E A 1ª GRANDE GUERRA.

- INFLNCIAS DOUTRINÁRIAS, NA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE BRASILEIRA, AO LONGO DA HISTÓRIA.

 


JOSÉ PESSOA E A GRANDE GUERRA

Luiz Ernani Caminha Giorgis, Coronel Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul (lecaminha@gmail.com)

(Homenagem da FAHIMTB ao idealizador da AMAN e de suas mais caras Tradições)

 

            A Grande Guerra, depois chamada de I Guerra Mundial, aconteceu entre 1914/18 na Europa. Até hoje são debatidas as prováveis causas daquele grande conflito, o primeiro da era moderna e do século XX. De certa maneira, a guerra inaugurou o novo século. Confrontaram-se a Tríplice Entente (Alemanha e Império Austro-Húngaro) e a Entente Cordiale (França, Reino Unido e Império Russo, depois a Itália).

            A América do Sul seria pouco afetada pelo conflito mas, em 1917, submarinos alemães afundaram os seguintes oito navios brasileiros: Rio Branco, Pará, Tijuca, Macau, Guaíba, Acari, Taquari e Maceió. Em face disto, o Ministro da Marinha Almirante Alexandrino Faria de Alencar organizou a Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG). Ela teve a missão de patrulhar o trecho Dakar-Gibraltar-São Vicente.

            O Exército Brasileiro declarou-se sem condições de enviar uma força expedicionária à Europa mas enviou uma Missão Militar, sob o comando do General Napoleão Aché, e uma Missão Médica Militar, sob a chefia do Coronel Nabuco de Gouveia. Inserida na Missão Militar foi criada a Comissão de Estudos de Operações e Aquisição de Material na França. Esta Missão teve a seguinte organização: Serviço de Estado-Maior, Serviço de Administração, Serviço de Veterinária, Aviação, Artilharia, Infantaria, Cavalaria e Corpo de Saúde. Da Cavalaria, fazia parte o então 1° Tenente José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.

            Em 1917, a Europa já estava no 3° ano da guerra, e a derrota das chamadas Potências Centrais, lideradas pela Alemanha, já parecia evidente.

            Os oficiais componentes da Missão Militar na França foram os seguintes: General Napoleão Fellipe Aché; Tenente-Coronel José Fernandes Leite de Castro; Majores João Baptista de Oliveira Brandão Júnior, Tertuliano de Albuquerque Potyguara, Rodrigo de Araújo Aragão Boccão, Joaquim Moreira Sampaio e Firmino Antônio Borba; Capitães Praxedes Theódulo da Silva Júnior, Cleómenes Lopes de Siqueira, João Affonso de Souza Ferreira, Alarico Damázio, João Florentino Meira e Manoel Esteves de Assis; 1°s Tenentes José Nery Eubanck da Câmara, Alzir Mendes Rodrigues Lima, Izauro Regueira, José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, Christóvão de Castro Barcellos, Carlos da Rocha Fernandes, Demócrito Barbosa, Sebastião do Rego Barros e Álvaro Arêal; 2°s Tenentes Mário Barbedo, Bento Ribeiro Carneiro Monteiro, Carlos de Andrade Neves, Onofre Muniz Gomes de Lima, Octávio Monteiro Aché e Ildefonso Escobar. Seguem-se mais três capitães, cinco primeiros-tenentes e dois segundos-tenentes, todos médicos.      

            Todos eles merecem os maiores encômios pela participação e em bem representar o Brasil na Europa em plena 1ª Guerra Mundial. Em nome de todos, ressaltamos um deles.

 

            José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque nasceu em Cabaceiras (PB) no dia 12 Se­t 1885, filho de Cândido Clementino e de Maria Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Era sobrinho de Epitácio Pessoa, presidente da República de 1919 a 1922, e irmão de João Pessoa, presi­dente da Paraíba de 1928 a 1930 e candida­to à vice-presidência da República pela Ali­ança Liberal em 1930; de Cândido Pessoa, deputado federal pelo Distrito Federal de 1934 a 1937, e de Aristarcho Pessoa, coman­dante militar da Revolução de 1930 em Mi­nas Gerais.

            Estudou na cidade da Paraíba, hoje João Pessoa. Praça em 1903 no 29° BI, em Recife, seguiu depois para a Escola Preparatória e de Tática, em Realengo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Em 1909 foi para a Escola Militar de Porto Alegre, de onde saiu aspirante-a-oficial. Foi promovido a 2° tenente em 1913 e, em 1918, a 1° tenente. Foi professor de es­grima em unidades militares e instrutor em academias de tiro na Bahia e em São Paulo, onde organizou e treinou uma unidade de voluntários na Faculdade de Direito em apoio à campanha de Olavo Bilac para convencer a juventude paulista a aceitar o serviço militar obrigatório (McCann, 2009, p. 438). Esteve à disposição do Ministério da Justiça no Distrito Federal, foi ajudante-de-ordens e as­sistente do comando da divisão de operações enviada a Mato Grosso para pacificar o esta­do em 1917 e, finalmente, serviu como aju­dante-de-ordens e assistente do inspetor da 10a Região Militar, na Bahia.

         Em 1918, viajou para a França, onde estagiou na Escola Militar de Saint-Cyr e participou de combates na guerra, comandan­do um pelotão de soldados franceses do 49° Regimento de Dragões. Conforme Frank McCann, comandou também um esquadrão formado por soldados turcos os quais, conforme ele próprio, à guisa de elogio, foram os responsáveis pelas medalhas que recebeu. Na Europa, conheceu uma enfermeira inglesa da Cruz Vermelha, Blanche Mary Edward, com quem casou (Ibidem, p. 438). Pelos serviços presta­dos nessa ocasião, foi diversas vezes citado em ordens-do-dia das forças francesas e pro­movido a capitão, por ato de bravura, em ja­neiro de 1919. Permanecendo na Europa, fez parte da comissão de compras de material bélico e frequentou o curso prático de artilharia de assalto no Centro de Estudos de Carros de Combate, na França, em 1920. No mesmo ano, foi nomeado em comissão especial para acompanhar os reis da Bélgica, Alberto e Elisabeth, em sua viagem ao Brasil e de volta à Bélgica.

         Conforme Ivan Rodrigues de Faria, José Pessoa recebeu as seguintes condecorações pela participação na I Guerra Mundial: Comendador da Legião de Honra, Cruz de Campanha, Medalha da Vitória, Cruz de Guerra (França), Cruz Militar de 2ª classe (Bélgica), Cruz de Guerra da Bélgica e Medalha de Guerra. Sua participação foi a seguinte: estágio em Saint Cyr, Comandante de Pelotão do 4° Batalhão de Dragões Franceses na Campanha de Flandres, promovido a capitão por ato de bravura na guerra (Faria, 1996, p. 72).

         Retornando ao Brasil ainda em 1920, aplicou os conhecimentos adquiridos na Fran­ça na organização da primeira unidade de carros-de-combate do Exército brasileiro, permanecendo no comando até 1923, quando foi promovido a major. Em seguida, assumiu o posto de sub-comandante da Escola Militar do Realengo, RJ. Foi fiscal e comandante interino do 19° Regimento de Cavalaria Divisionária (os Dragões da Independência), além de ter reor­ganizado e comandado o 39° Regimento de Cavalaria Independente, no Rio Grande do Sul, antes de ser promovido a tenente-coronel em 1927. No ano seguinte, comandou a 2ª Brigada de Cavalaria. Em 1929, como Tenente-Coronel, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, juntamente com o Curso de Estado-Maior sendo então promo­vido ao posto de Coronel.

         Em 3 de outubro de 1930, eclodiu no Rio Grande do Sul e em outros estados o movi­mento revolucionário chefiado por Getúlio Vargas. No dia 24 do mesmo mês, quando os revoltosos gaúchos se encontravam às portas do estado de São Paulo, a alta hierarquia militar da capital da República, antecipando-se à ação revolu­cionária, decidiu intimar o presidente Washing­ton Luís a desistir de qualquer reação e renun­ciar. Washington Luís recusou-se a deixar o cargo e a abandonar o palácio Guanabara, mas as tropas legalistas não apresentaram resistência: o batalhão de polícia que guardava o palá­cio fez saber que não reagiria se o Exército mandasse ocupá-lo. Desse modo, o 3° Regi­mento de Infantaria e um batalhão de civis, sob o comando do coronel José Pessoa, ocupa­ram o palácio Guanabara. Finalmente, cedendo às pressões, Washington Luís foi conduzido, preso, para o forte de Copacabana.Após um breve período como comandante do Corpo de Bombeiros do Distrito Fede­ral, José Pessoa assumiu, ainda em 1930, o comando da Escola Militar do Realengo. Lá, inspirado em sua experiência europeia, ope­rou uma transformação radical do ensino mi­litar, reformando as instalações da escola e tentando estabelecer uma doutrina de forma­ção do corpo de oficiais brasileiros. Para tan­to, procurou atrair para a escola instrutores que possuíssem o curso de estado-maior, introduzido no Exército pela Missão Militar Francesa de 1920, trazida ao Brasil para for­necer uma instrução profissional mais adequa­da para a oficialidade.Sua figura nesta época foi descrita por um aluno da Escola Mi­litar e mais tarde seu ajudante-de-ordens:

"O coronel Pessoa era oficial a respeito de quem as opiniões divergiam muito; alguns o inveja­vam, afirmando que fizera carreira à sombra do tio...diziam que seus conhecimentos profissionais eram insuficientes, que impres­sionava pelo aspecto exterior. Era, realmente, caprichoso no fardar-se, pince-nez sempre no nariz... De polidez convencional, enraivecia-se com facilidade...Era vaidoso,fazendo alto juízo de seus próprios méritos. Mas é fato que os tinha...Na Escola Militar, foi grande co­mandante, marcou época”.

         José Pessoa foi também o idealizador da Academia Militar das Agulhas Negras, que só veio a ser fundada em 1944. Através dela, pretendia dotar o Exército de uma escola de formação moderna, mas ainda segundo uma outra versão seu projeto foi desfigurado, restando apenas do que planejara a localização do novo estabelecimento, em Resende (RJ). Conforme Frank McCann, na Escola Militar do Realengo, Pessoa adotou o uniforme de gala chamado de ‘azulão’, usado até hoje, e também, para uso dos cadetes, a miniatura da espada de Caxias, o ‘espadim’. Restabeleceu também a denominação de ‘cadete’ para o aluno da Escola Militar (McCann, 2009, p. 523).

         Em 1933, foi promovido a general-de-brigada e enfrentou, em 1934, um movimento de rebeldia dos cadetes do estabelecimento que comandava. Inconformado com a solução dada para o caso, demitiu-se do comando da escola, sendo nomeado em seguida inspetor e comandante do Distrito de Artilharia de Costa da l Região Militar, no Distrito Federal. Nesta função, determinou que o forte do Leme, no Rio, passasse a ser chamado de Forte Duque de Caxias (Ibidem, p. 651). Ainda no desempenho desse cargo, teve sob suas ordens a primeira missão norte-americana de artilharia de costa, composta de um general e vários oficiais superiores. Essa missão operou profunda modificação técnica e profissional nos quadros dessa arma.

         Em dezembro de 1935, no Rio de Janeiro, esteve presente à reunião dos generais convo­cada em razão do Levante Comunista ocorrido em novembro daquele ano. Essa reunião tinha por finalidade o exame da situação do país em face do levante, bem como a discussão sobre a suficiência das leis repressivas existentes para punir os insurretos. José Pessoa discordou da maioria dos presentes, considerando irrelevan­te a discussão das leis existentes ou de uma nova legislação para punir os crimes cometi­dos, uma vez que o assunto era da competên­cia de juristas, e não dos generais do Exército. A seu ver, a reunião devia limitar-se a hipote­car o apoio dos generais ao ministro da Guerra para que este, agindo junto aos poderes com­petentes, reivindicasse severa punição aos cri­mes praticados e a promulgação de uma nova lei, mais repressiva, para salvaguardar a nação. Da mesma forma que os demais, prestou total apoio ao ministro, General João Gomes Ribeiro Filho, para que este conse­guisse no menor prazo possível a punição pa­ra os implicados no levante. Ao fim da reu­nião, o ministro encaminhou ao presidente da República um projeto de lei segundo o qual ficava decretado que os oficiais envolvidos na revolta não só estariam sujeitos às penalidades previstas co­mo seriam tambem expulsos das fileiras do Exercito.

         Em junho de 1937, quando se ampliou o debate sobre a sucessão presidencial, a cor­rente militar que se opunha à realização de eleições procurou cercear os passos dos mili­tares neutros ou favoráveis ao pleito. Em ra­zão disso, e sob o pretexto de uma reunião "conspiratória" realizada na casa do general José Pessoa, o general Pedro Aurélio de Gois Monteiro, então inspetor da Região Sul, acusou de "inimigos do regime" o próprio general Pessoa e mais o general Valdomiro Castilho de Lima. José Pessoa escreveu diretamente a Getúlio Vargas, desmentindo Gois Monteiro, e tentou mover um processo con­tra seu acusador. Na sequência dos aconteci­mentos, porém, a situação acabou favorecen­do os partidários da supressão das eleições, que receberam o apoio do governo, e os postos-chave de comando acabaram sob o controle dos generais favoráveis à solução ditatorial. Em decorrência disso, o general José Pessoa ficou, temporariamente, sem comissão, adido à Casa Militar da Presidência da República. Conforme Frank McCann, Pessoa remeteu uma carta a Vargas defendendo-se da acusação de conspirador e acusando Gois Monteiro. Na carta, comprometeu-se com vargas a se demitir do Exército se as acusações a si fossem verdadeiras. Mas Vargas entendeu diferente e prendeu-o por seis dias (McCann, 2009, p. 514). Só em março de 1938, quatro meses após o advento do Es­tado Novo, recebeu outra comissão de coman­do.

         Inicialmente cogitado para um posto em Belo Horizonte, acabou nomeado comandan­te da 9ª Região Militar, em Mato Grosso, fi­cando assim afastado do centro de decisões nacionais. Promoveu combate ao banditismo que então grassava em Mato Grosso, iniciando uma campanha militar contra os bandos armados que assolavam o sul do esta­do. Nessa campanha, apreenderam-se milha­res de armas e munições pertencentes ao Exér­cito que haviam sido roubadas dos depósitos do governo.

         No início de 1939, foi nomeado inspetor da arma de cavalaria, a qual tratou de moderni­zar, dotando-a de novos regulamentos. Pro­movido a general-de-divisão em maio de 1940, ocupou o cargo de inspetor de cavalaria até 1945.

         Ainda em 1943, integrou a comissão que elaborou o anteprojeto de defesa dos portos do Rio de Janeiro e de Santos, bem como dos portos fluviais de Mato Grosso e do rio São Francisco, como parte do esforço de guerra brasileiro previsto nos acordos militares entre o Brasil e os Estados Unidos, e passou a inte­grar a Comissão de Promoções do Exército.

         Eleito presidente do Clube Militar em maio de 1944, assumiu o cargo em junho e nele permaneceu até junho de 1946. Sua gestão atra­vessou o fim do Estado Novo, e se mostrou adequada à atmosfera política de restauração dos princípios democráticos. Por ocasião do re­torno da Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviada à Itália, organizou comitês de recepção para os ex-combatentes e em ou­tubro de 1945 contribuiu para a queda de Vargas ao lançar uma proclamação contra o continuísmo (queremismo) e contra a nomea­ção de Benjamin Vargas, irmão do presiden­te, para a chefia de polícia do Distrito Federal.

         Adido militar em Londres de 1946/47, retornou ao Brasil e, em 1948, partici­pou da fundação do Centro de Estudos e De­fesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN), juntamente com Arthur Bernardes e os generais Estêvão Leitão de Carvalho e Júlio Caetano Horta Barbosa. Em torno do CEDPEN se articularam de modo amplo estu­dantes, jornalistas, militares, professores e ho­mens públicos, e em pouco tempo o centro se tornou o núcleo de uma campanha de mobili­zação da opinião pública em favor de uma so­lução nacionalista para a questão do petróleo. A Campanha do Petróleo, como ficou co­nhecida, desembocou no estabelecimento do monopólio estatal (1953) e na consequente criação da Petrobrás (1954).

         Em julho de 1948, foi nomeado para o comando da Zona Militar Sul (antecedente do III Exército), abrangendo tropas sediadas nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Gran­de do Sul. Em 12 de setembro de 1949, foi transferido para a reserva no posto de general-de-exército.

         Foi promovido a marechal em 26 de janeiro de 1953, de acordo com o a Lei nº 1.267, de 09 Dez 1959 a qual recompensou, com a promoção ao posto seguinte, os Oficiais e Praças da 1ª RM que combateram a Intentona Comunista em 1935.

         Em 1954 foi convidado pelo presidente Café Filho para ocupar a presidência da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, en­carregada de examinar as condições gerais de instalação da cidade a ser construída. José Pessoa criou uma série de subcomissões téc­nicas especializadas, que apresentaram em 1955 o resultado de seus estudos num relató­rio que foi integralmente aprovado. Em segui­da, Café Filho homologou a escolha do sítio da nova capital e delimitou a área do futuro Distrito Federal, determinando que a comis­são encaminhasse o estudo de todos os proble­mas correlatas à mudança. A comissão encer­rou seus trabalhos em 1956.

         Pessoa publicou alguns livros técni­cos, conferências e relatórios, destacando-se Os Tanks na guerra europeia, publicado pouco depois de seu retorno da Europa, que recebeu parecer extremamente favorável do Estado-Maior do Exército. O Marechal José Pessoa é patrono e denominação histórica do 12° Regimento de Cavalaria Mecanizado, Jaguarão, RS, e é Patrono, também, da turma de 1989 da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, Campinas, SP E é patrono da Cadeira da FAHIMTB que foi ocupada sucessivamente pelo Cel Claudio Moreira Bento, que a inaugurou e pelos academicos  eméritos generais de Exército Gleuber Vieira e Gilberto Barbosa Figueiredo, tendo como seu atual ocupante o acadêmico Gen Div Edson Leal Pujol,comandante da AMAN que acolheu no interior da AMAN a FAHIMTB e AHIMTB Mário Travassos.Faleceu no Rio de Janeiro em 16 de agos­to de 1959.

Fontes:

AMAN.Academia Militar.Dois séculos formando oficiais para o Exército Brasileiro.Resende:IPSIS.2011.(Prefácio  do 1º Presidente de Honra da FAHIMTB Gen Ex Enzo Martins Peri.Apresentação do Academico Gen Div Edson Leal Pujol.Coordenação do academico CelCarlos Roberto Peres e contribuiçoes dos academicos Cel Claudio Moreira Bento e Cel Ernildo Heitor Agostini Filho).

BENTO, Claudio Moreira. O idealizador da AMAN e de suas tradições, in: 1810-2010 200 anos da criação da Academia Real Militar a AMAN: Resende: AHIMTB, Graf. Drumond, 2010, p. 64-75.

(_____). O Escritor e historiador militar Marechal José Pessoa. Rio de Janeiro: Revista do Clube Militar, set/out 1985 (Comemorativa do centenário do Marechal).

(_____). O Exército na 1ª Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Revista A Defesa Nacional nº 752,1991.

(_____) et FIGUEIREDO, Osório Santana. 6ª Divisão de Exército. Porto Alegre: Pallotti, 2001, p. 214

(_____) O Espadim de Caxias dos cadetes do Exército RIHGB.v.326, jan/mar 1980,p.99/105.

CÂMARA, Hiram Freitas. Marechal José Pessoa - a força de um ideal. Rio de Janeiro: BIBLIEx,1985.

ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO. Fé de Ofício do Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Rio de Janeiro: Fé de Ofício nº XII – 113 – SAPM -

FARIA, Ivan Rodrigues de. Participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial, in Revista do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: DPHCEx, 1996, p. 67.

McCANN, Frank. Soldados da Pátria. Rio de Janeiro: Bibliex, 2009.


             INFLUÊNCIAS DOUTRINÁRIAS NA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE BRASILEIRA AO LONGO DA HISTÓRIA

Cel Claudio Moreira Bento, Historiador Militar e Jornalista

Presidente da FAHIMTB e AHIMTB Resende Marechal Mário Travassos

                O Exército Colonial de Portugal no Brasil, até a União das Coroas de Portugal e Espanha (1580-1640) possuía sua doutrina emanada de Portugal. Durante a União das Coroas Ibéricas 1580-1640, recebeu influência da Doutrina Militar Espanhola, caracterizada pelo terço, as bandeiras e os troços, nomes da­dos aos equivalentes, hoje, Regimento, Companhia e Pelotão. O comandante do Terço, atual Regimento, era chamado de Mestre de Campo, que equivalia ao hoje Coronel.

                Essa Doutrina Militar, ao tempo das guerras holandesas, estava em decadência na Europa e os luso-brasileiros, desenvol­veram uma Doutrina Militar genuína cha­mada na Europa, por especialistas, de Guerra Brasílica. Ela aligeirou os terços e deu liberdade de iniciativa a cada com­batente, que tinha como arma de cho­que a espada ou o chuço, por falta ou carência de armas de fogo e a munição corresponden­te, em razão, do bloqueio naval do Brasil.

                Traduziu a diferença de doutrinas, a Brasílica e a Holandesa, a mágoa de um oficial holandês revelada ao Major An­tônio Dias Cardoso, ao final da 1ª Bata­lha dos Guararapes, durante uma troca de prisioneiros:

                Oficial holandês: - Da próxima vez seremos nós que venceremos, pois com­bateremos dispersos como vocês com­bateram. Dias Cardoso: - Melhor para nós, pois para cada soldado de vocês disper­so, necessitarão de um capitão ao lado deles, enquanto que cada soldado nosso é um capitão!

                Com a rendição dos holandeses, na Campina da Taborda, (1654), a Doutrina luso-brasileira passaria a ter influência in­glesa, direta ou indireta, através das Orde­nanças, do Exército de Portugal. Ela per­durou mesmo após a Independência, no todo ou com adaptações (1654-1910). Em Canudos, ela fracassou, e a criatividade dos quadros do Exército encontrou soluções originais, como a transformação de uma Companhia de Infantaria em Esquadrão de Cavalaria, como tropa de reconhecimen­to que passou a prevenir emboscadas e, ao mesmo tempo, como instrumento de suprimento, ao recolher, na caatinga, ani­mais que pudessem alimentar a tropa, até a chegada do Ministro da Guerra, Mare­chal Bittencourt, que solucionou o Apoio Logístico. Enfim, soluções genuínas não constantes das Ordenanças de Portugal e que foram adotadas então.

                Como influência inglesa marcante tivemos o Corpo de Doutrina baixado pelo Conde de Lippe, o qual enviou, para o Brasil seu delegado, o Tenente-General Henrique Böhn, que organizou o Exérci­to Colonial do Brasil, fortificou o Rio de Janeiro e terminou por liderar o Exército do Sul, na expulsão definitiva dos espa­nhóis que ocupavam o Rio Grande do Sul, havia 13 anos, ao reconquistar a Vila de Rio Grande (1° de abril de 1776). Existem, em coleções de obras, alguns exemplares da Doutrina do Conde de Lippe.

                Com a vinda da Família Real para Brasil, foi implantada na tropa a Doutrina Militar do Marechal William Carr Beresford, um inglês a serviço de Portugal.

                Mas, na Academia Real Militar, o Príncipe Regente D. João introduziu fortíssima influência francesa nos ensinos fundamental e profissional. Neste último, era muito usada a obra do Conde Cessac, um expert no assunto do Exército da França. Em 1861, o Duque de Caxias, Ministro da Guerra, com base em sua vitoriosa experiência operacional em quatro campanhas pacificadoras e na guerra externa contra Oribe e Rosas (1851-52) e também na sua experiência de cerca de oito anos no comando da atual Polícia Militar do Rio de Janeiro, adaptou as Ordenanças de Portugal para as armas, às realidades que vivenciara. E com esta a ressalva “até que o nosso Exército disponha de uma Tática (Doutrina) genuinamente nossa”.

                Com isso ele se tornou pioneiro da nacionalização progressiva da Doutrina Militar Terrestre Brasileira conforme temos repetido, e, como focalizou pioneiramente, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), em 1958, o Coronel Amerino Raposo Filho em seu trabalho ‘Caxias e o Problema Militar Brasileiro’ (Rio de Janeiro: SGEx, 1969- p. 56-63).

                Essa Doutrina Militar baixada por Caxias foi a que presidiu o emprego do Exército Bra­sileiro na Guerra do Paraguai (1865-70), e usada por ele como Comandante-em-Chefe das forças brasileiras e aliadas (1866-68).

                Antes, Caxias, como Ministro da Guerra, em 1855, aproveitando a estru­tura operacional que imprimiu ao Exército em Operações na Guerra de 1851-52, introduziu no Ministério da Guerra, duas estruturas, uma operacional e outra logística: a operacional sob a égide do Ajudante-General do Exército, que passou a ser efetivamente o comandante do Exército e que, em 1899, foi substituído pelo Estado-Maior do Exército. A estrutura Logística ficou sob a égide do Quartel-Mestre General e se ramificava por toda a organização na paz e de guerra. O Ajudante-General foi substituído pelo Estado-Maior do Exército, ór­gão de influência doutrinaria prussiana sugerida pelo então Capitão Augusto Tasso Fragoso, na Revista do Brasil, e que viria a chefiá-lo na decada de 1920.

                Depois da Guerra do Paraguai, houve um grande declínio doutrinário, por cerca de trinta anos (1874-1905). O Exército foi dominado pelo bacharelismo militar, com outras preocupações que não o desenvolvimento da Doutrina do Exército como força operacional. A Doutrina era de responsabilidade da Congregação de Profes­sores da Escola Militar da Praia Vermelha, mas que não a implementaram efetivamente. E sobre este período escreveram criticamente, entre outros, os generais Augusto Tasso Fragoso e Estevão Leitão de Carvalho, assinalados historiadores de nosso Exército e patronos de cadeira na FAHIMTB. Conta-se que certa feita, o Coronel Conrado Bittencourt, heroico comandante do Batalhão de Engenheiros aquartelado na Praia Vermelha, encaminhou um importante regulamento militar francês solicitando à Congregação que o traduzisse para ser lido pela tropa. Veio a resposta: “Não é necessário pois nós o lemos no original!”

                Nesse período, raros oficiais brasi­leiros tarimbeiros valiam-se da obra (tra­duzida) do General Favé: Curso de Arte Militar (Rio de Janeiro: Tipografia Mi­litar 1892.)

                Esta involução doutrinária refletiu-se nos conflitos internos no início da Re­pública: Guerra Civil, Revolta na Arma­da (1892-95) e Canudos (1897). Neste úl­timo apareceu a citada e complexa Or­denança de Portugal, que recebeu o nome de Regulamento Moreira Cezar, em ra­zão de a Comissão encarregada de sua feitura haver homenageado o coronel morto em Canudos, colocando o seu re­trato ilustrando a capa. Era este regulamento incom­patível com as realidades dos pampas sulinos e das caatingas nordestinas, a não ser na defesa de localidades como foi o caso de Bagé e Lapa, sitiadas por federa­listas em 1893-94.

                Ainda em Canudos, para enfrentar as mesmas realidades operacionais e logísticas, foi que o Coronel Carlos Telles, co­mandante do 31° Batalhão de Infantaria, de Bagé, teve a inspiração de improvisar um Esquadrão de Cavalaria com o qual preveniu futuras emboscadas e recolheu cabeças de gado e de caprinos esparsas na caatinga para alimentar a tropa.

                O problema logístico só seria, porém, solucionado com a Ca­deia de Apoio Logístico que o Ministro da Guerra, Marechal Bittencourt, estabe­leceu na Bahia, em apoio às forças ope­rando contra Canudos. Foi o que lhe va­leu a consagração, como patrono da In­tendência do Exército.

                De 1910-20 o Exército sofreu gran­de influência prussiana. O Marechal Hermes da Fonseca, como Ministro da Guerra, enviou oficiais para estágio no Exército Alemão. De retorno fundaram, em 1913, a centenária revista A Defesa Nacional, que passou a difundir a Doutrina Alemã, a qual ganhou grande impulso pelas mãos da Missão Indígena, da Escola Militar do Realengo (1919-21), integrada por mui­tos dos oficiais com curso na Alemanha ou a eles ligados. Revista cujo centenário abordamos no O Guararapes nº 13 da FAHIMTB, sugerindo que fosse feito um índice de autores e assuntos da mesma e que, segundo formos informados pelo Acadêmico Cel Luiz Carlos Carneiro de Paula, este relevante trabalho estava sendo executado por decisão superior pela Biblioteca do Exército. Providência de alta relevância para tornar possivel resgatar a evolução do Pensamento Militar Brasileiro, sepultado em suas coleções, hoje de difícil acesso.

                Em 1918, quase ao final da guerra, o Brasil enviou à França 24 oficiais, em caracter reservado, que in­tegraram a Comissão de Estudos e Ope­rações e de Aquisição de Material Bélico (1918-19). A finalidade era absorver, in­clusive combatendo nos exércitos alia­dos, ensinamentos da Doutrina Militar Terrestre da França e adquirir material bélico para implantá-lo no Brasil, no Exército e na sua Aviação. E eles trouxeram valiosos subsídi­os e ideias, como o Tenente-Coronel José Fernandes Leite de Castro, e os te­nentes José Pessoa Cavalcanti de Albu­querque e Cristóvão de Castro Barcellos, que tiveram grande projeção nos desti­nos do Exército depois da Revolução de 1930.

                Estudou a vida do Marechal José Pes­soa, o chefe de maior projeção dessa Comissão, idealizador da AMAN e introdutor dos blindados em nosso Exér­cito, o Coronel Hiram Freitas Câmara, em ‘Marechal José Pessoa, a força de um ide­al’. (Rio de Janeiro, BIBLIEX, 1986.) E de igual modo nós o temos estudado conforme as fontes que produzimos constantes do artigo anterior Jose Pessoa do historiador militar Cel Caminha. Era adido militar na França o Major Alfredo Malan d`Angrone, pai do patrono de cadeira na FAHIMTB Gen Ex Alfredo Souto Malan, quando foi encarregado de contratar a Missão Mili­tar Francesa (MMF), para o nosso Exér­cito, sendo a primeira chefiada pelo Ge­neral Gamelim.

                Esta Missão Militar chegou ao Brasil, em 1920 e, por cerca de 19 anos, até a Segunda Guerra Mundial, exerceu gran­de influência doutrinária no ensino do Exército. Em 1939, ela foi substituída por uma Missão Militar dos Estados Unidos.

                No Arquivo Histórico do Exercito foi iniciado, em 1985, um projeto deno­minado História da Doutrina do Exército Brasileiro, reunindo numa sala regulamentos que de longa data presidiram ou vinham presidindo o empre­go do Exército Brasileiro.

                Eis, pois em largos traços as influências doutrinárias recebidas pelo nosso Exército, que herdou doutrinas genuínas, a Guerra Brasílica, a Guerra à Gaucha, e que desenvolve, através do CIGS, doutrina especifica de Guerra na Selva para a proteção de nossa Amazônia.

                Sentindo, a necessidade de um aprofundamento maior na História Militar Terrestre na Amazônia, pouco conhecida, pesquisada e, sobretudo, não interpretada quanto às lições táticas, estratégicas e logísticas que sugere, a serviço da segurança militar da Amazônia, hoje com mais ameaças potenciais que no passado, publicamos nosso livro Amazônia Brasileira. Conquista. Consolidação. Manutenção. História Militar Terrestre da Amazônia1616-2004. Porto Alegre: AHIMTB, 2004. Obra prefaciada pelo acadêmico emérito da FAHIMTB Gen Ex Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex- comandante do Comando Militar da Amazônia e que desenvolveu, ao deixar a Amazônia, intensa campanha nacional de concientização da importância daquela área.

 

Editor: Cel Claudio Moreira Bento - Historiador Militar e Jornalista

 

 

"Para alimentar o cérebro de um Exército na paz, para prepará-lo para a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em meditações e lições do que o da História Militar."