Sumário
- JOSÉ PESSOA E A 1ª
GRANDE GUERRA.
- INFLUÊNCIAS
DOUTRINÁRIAS, NA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE BRASILEIRA, AO LONGO DA
HISTÓRIA.
JOSÉ PESSOA E A
1ª
GRANDE GUERRA
Luiz Ernani Caminha Giorgis, Coronel Presidente da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul (lecaminha@gmail.com)
(Homenagem
da FAHIMTB ao idealizador da AMAN e de suas mais caras Tradições)
A Grande
Guerra, depois chamada de I Guerra Mundial, aconteceu entre 1914/18
na Europa. Até hoje são debatidas as prováveis causas daquele grande
conflito, o primeiro da era moderna e do século XX. De certa
maneira, a guerra inaugurou o novo século. Confrontaram-se a
Tríplice Entente (Alemanha e Império Austro-Húngaro) e a Entente
Cordiale (França, Reino Unido e Império Russo, depois a Itália).
A América
do Sul seria pouco afetada pelo conflito mas, em 1917, submarinos
alemães afundaram os seguintes oito navios brasileiros: Rio Branco,
Pará, Tijuca, Macau, Guaíba, Acari, Taquari e Maceió. Em face disto,
o Ministro da Marinha Almirante Alexandrino Faria de Alencar
organizou a Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG). Ela teve a
missão de patrulhar o trecho Dakar-Gibraltar-São Vicente.
O
Exército Brasileiro declarou-se sem condições de enviar uma força
expedicionária à Europa mas enviou uma Missão Militar, sob o comando
do General Napoleão Aché, e uma Missão Médica Militar, sob a chefia
do Coronel Nabuco de Gouveia. Inserida na Missão Militar foi criada
a Comissão de Estudos de Operações e Aquisição de Material na
França. Esta Missão teve a seguinte organização: Serviço de
Estado-Maior, Serviço de Administração, Serviço de Veterinária,
Aviação, Artilharia, Infantaria, Cavalaria e Corpo de Saúde. Da
Cavalaria, fazia parte o então 1° Tenente José Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque.
Em 1917,
a Europa já estava no 3° ano da guerra, e a derrota das chamadas
Potências Centrais, lideradas pela Alemanha, já parecia evidente.
Os
oficiais componentes da Missão Militar na França foram os seguintes:
General Napoleão Fellipe Aché; Tenente-Coronel José Fernandes Leite
de Castro; Majores João Baptista de Oliveira Brandão Júnior,
Tertuliano de Albuquerque Potyguara, Rodrigo de Araújo Aragão Boccão,
Joaquim Moreira Sampaio e Firmino Antônio Borba; Capitães Praxedes
Theódulo da Silva Júnior, Cleómenes Lopes de Siqueira, João Affonso
de Souza Ferreira, Alarico Damázio, João Florentino Meira e Manoel
Esteves de Assis; 1°s Tenentes José Nery Eubanck da Câmara, Alzir
Mendes Rodrigues Lima, Izauro Regueira, José Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque, Christóvão de Castro Barcellos, Carlos da Rocha
Fernandes, Demócrito Barbosa, Sebastião do Rego Barros e Álvaro
Arêal; 2°s Tenentes Mário Barbedo, Bento Ribeiro Carneiro Monteiro,
Carlos de Andrade Neves, Onofre Muniz Gomes de Lima, Octávio
Monteiro Aché e Ildefonso Escobar. Seguem-se mais três capitães,
cinco primeiros-tenentes e dois segundos-tenentes, todos
médicos.
Todos
eles merecem os maiores encômios pela participação e em bem
representar o Brasil na Europa em plena 1ª Guerra Mundial. Em nome
de todos, ressaltamos um deles.
José Pessoa
Cavalcanti de Albuquerque nasceu em Cabaceiras (PB) no dia 12
Set 1885, filho de Cândido Clementino e de Maria Pessoa Cavalcanti
de Albuquerque. Era sobrinho de Epitácio Pessoa, presidente da
República de 1919 a 1922, e irmão de João Pessoa, presidente da
Paraíba de 1928 a 1930 e candidato à vice-presidência da República
pela Aliança Liberal em 1930; de Cândido Pessoa,
deputado federal pelo Distrito Federal de 1934 a 1937, e
de Aristarcho Pessoa, comandante militar da Revolução de 1930 em
Minas Gerais.
Estudou na cidade da Paraíba, hoje João
Pessoa. Praça em 1903 no 29° BI, em Recife, seguiu depois para a
Escola Preparatória e de Tática, em Realengo, no Rio de Janeiro,
então Distrito Federal. Em 1909 foi para a Escola Militar de Porto
Alegre, de onde saiu aspirante-a-oficial. Foi promovido a 2° tenente
em 1913 e, em 1918, a 1° tenente.
Foi
professor de esgrima em unidades militares e instrutor em academias
de tiro na Bahia e em São Paulo, onde organizou e treinou uma
unidade de voluntários na Faculdade de Direito em apoio à campanha
de Olavo Bilac para convencer a juventude paulista a aceitar o
serviço militar obrigatório (McCann, 2009, p. 438). Esteve à
disposição do Ministério da Justiça no Distrito Federal, foi
ajudante-de-ordens e assistente do comando da divisão de operações
enviada a Mato Grosso para pacificar o estado em 1917 e,
finalmente, serviu como ajudante-de-ordens e assistente do inspetor
da 10a Região Militar, na Bahia.
Em 1918, viajou para a França, onde estagiou
na Escola Militar de Saint-Cyr e participou de combates na guerra,
comandando um pelotão de soldados franceses do 49° Regimento de
Dragões. Conforme Frank McCann, comandou também um esquadrão formado
por soldados turcos os quais, conforme ele próprio, à guisa de
elogio, foram os responsáveis pelas medalhas que recebeu. Na Europa,
conheceu uma enfermeira inglesa da Cruz Vermelha, Blanche Mary
Edward, com quem casou (Ibidem, p. 438). Pelos serviços prestados
nessa ocasião, foi diversas vezes citado em ordens-do-dia das forças
francesas e promovido a capitão, por ato de bravura, em janeiro de
1919.
Permanecendo na Europa, fez parte da comissão de
compras de material bélico e frequentou o curso prático de
artilharia de assalto no Centro de Estudos de Carros de Combate, na
França, em 1920. No mesmo ano, foi nomeado em comissão especial para
acompanhar os reis da Bélgica, Alberto e Elisabeth, em sua viagem ao
Brasil e de volta à Bélgica.
Conforme Ivan Rodrigues de Faria, José
Pessoa recebeu as seguintes condecorações pela participação na I
Guerra Mundial: Comendador da Legião de Honra, Cruz de Campanha,
Medalha da Vitória, Cruz de Guerra (França), Cruz Militar de 2ª
classe (Bélgica), Cruz de Guerra da Bélgica e Medalha de Guerra. Sua
participação foi a seguinte: estágio em Saint Cyr, Comandante de
Pelotão do 4° Batalhão de Dragões Franceses na Campanha de Flandres,
promovido a capitão por ato de bravura na guerra (Faria, 1996, p.
72).
Retornando ao Brasil ainda em 1920, aplicou
os conhecimentos adquiridos na França na organização da primeira
unidade de carros-de-combate do Exército brasileiro, permanecendo no
comando até 1923, quando foi promovido a major. Em seguida, assumiu
o posto de sub-comandante da Escola Militar do Realengo, RJ.
Foi fiscal e comandante interino do 19° Regimento de Cavalaria
Divisionária (os Dragões da Independência), além de ter
reorganizado e comandado o 39° Regimento de Cavalaria Independente,
no Rio Grande do Sul, antes de ser promovido a tenente-coronel em
1927.
No ano seguinte, comandou a 2ª Brigada de Cavalaria.
Em 1929, como Tenente-Coronel, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais, juntamente com o Curso de Estado-Maior sendo então
promovido ao posto de Coronel.
Em 3 de outubro de 1930, eclodiu no Rio
Grande do Sul e em outros estados o movimento revolucionário
chefiado por Getúlio Vargas. No dia 24 do mesmo mês, quando os
revoltosos gaúchos se encontravam às portas do estado de São Paulo,
a alta hierarquia militar da capital da República, antecipando-se à
ação revolucionária, decidiu intimar o presidente Washington Luís
a desistir de qualquer reação e renunciar. Washington Luís
recusou-se a deixar o cargo e a abandonar o palácio Guanabara, mas
as tropas legalistas não apresentaram resistência: o batalhão de
polícia que guardava o palácio fez saber que não reagiria se o
Exército mandasse ocupá-lo. Desse modo, o 3° Regimento de
Infantaria e um batalhão de civis, sob o comando do coronel José
Pessoa, ocuparam o palácio Guanabara. Finalmente, cedendo às
pressões, Washington Luís foi conduzido, preso, para o forte de
Copacabana.Após um breve período como comandante do Corpo de
Bombeiros do Distrito Federal, José Pessoa assumiu, ainda em 1930,
o comando da Escola Militar do Realengo. Lá, inspirado em sua
experiência europeia, operou uma transformação radical do ensino
militar, reformando as instalações da escola e tentando estabelecer
uma doutrina de formação do corpo de oficiais brasileiros. Para
tanto, procurou atrair para a escola instrutores que possuíssem o
curso de estado-maior, introduzido no Exército pela Missão Militar
Francesa de 1920, trazida ao Brasil para fornecer uma instrução
profissional mais adequada para a oficialidade.Sua figura nesta
época foi descrita por um aluno da Escola Militar e mais tarde seu
ajudante-de-ordens:
"O coronel Pessoa era oficial a respeito de quem as
opiniões divergiam muito; alguns o invejavam, afirmando que fizera
carreira à sombra do tio...diziam que seus conhecimentos
profissionais eram insuficientes, que impressionava pelo aspecto
exterior. Era, realmente, caprichoso no fardar-se, pince-nez
sempre no nariz... De polidez convencional, enraivecia-se com
facilidade...Era vaidoso,fazendo alto juízo de seus próprios
méritos. Mas é fato que os tinha...Na Escola Militar, foi grande
comandante, marcou época”.
José Pessoa foi também o idealizador da
Academia Militar das Agulhas Negras, que só veio a ser fundada em
1944. Através dela, pretendia dotar o Exército de uma escola de
formação moderna, mas ainda segundo uma outra versão seu projeto foi
desfigurado, restando apenas do que planejara a localização do novo
estabelecimento, em Resende (RJ). Conforme Frank McCann, na Escola
Militar do Realengo, Pessoa adotou o uniforme de gala chamado de
‘azulão’, usado até hoje, e também, para uso dos cadetes, a
miniatura da espada de Caxias, o ‘espadim’. Restabeleceu também a
denominação de ‘cadete’ para o aluno da Escola Militar (McCann,
2009, p. 523).
Em 1933, foi promovido a general-de-brigada
e enfrentou, em 1934, um movimento de rebeldia dos cadetes do
estabelecimento que comandava. Inconformado com a solução dada para
o caso, demitiu-se do comando da escola, sendo nomeado em seguida
inspetor e comandante do Distrito de Artilharia de Costa da l Região
Militar, no Distrito Federal. Nesta função, determinou que o forte do Leme, no Rio, passasse a ser
chamado de Forte Duque de Caxias (Ibidem, p. 651). Ainda
no
desempenho desse cargo, teve sob suas ordens a primeira missão
norte-americana de artilharia de costa, composta de um general e
vários oficiais superiores. Essa missão operou profunda modificação
técnica e profissional nos quadros dessa arma.
Em dezembro de 1935, no Rio de Janeiro, esteve
presente à reunião dos generais convocada em razão do Levante
Comunista ocorrido em novembro daquele ano. Essa reunião tinha por
finalidade o exame da situação do país em face do levante, bem como
a discussão sobre a suficiência das leis repressivas existentes para
punir os insurretos. José Pessoa discordou da maioria dos presentes,
considerando irrelevante a discussão das leis existentes ou de uma
nova legislação para punir os crimes cometidos, uma vez que o
assunto era da competência de juristas, e não dos generais do
Exército. A seu ver, a reunião devia limitar-se a hipotecar o apoio
dos generais ao ministro da Guerra para que este, agindo junto aos
poderes competentes, reivindicasse severa punição aos crimes
praticados e a promulgação de uma nova lei, mais repressiva, para
salvaguardar a nação. Da mesma forma que os demais, prestou total
apoio ao ministro, General João Gomes Ribeiro Filho, para que este
conseguisse no menor prazo possível a punição para os implicados
no levante. Ao fim da reunião, o ministro encaminhou ao presidente
da República um projeto de lei segundo o qual ficava decretado que
os oficiais envolvidos na revolta não só estariam sujeitos às
penalidades previstas como seriam tambem expulsos das fileiras do
Exercito.
Em junho de 1937, quando se ampliou o debate
sobre a sucessão presidencial, a corrente militar que se opunha à
realização de eleições procurou cercear os passos dos militares
neutros ou favoráveis ao pleito. Em razão disso, e sob o pretexto
de uma reunião "conspiratória" realizada na casa do general José
Pessoa, o general Pedro Aurélio de Gois Monteiro, então inspetor da
Região Sul, acusou de "inimigos do regime" o próprio general Pessoa
e mais o general Valdomiro Castilho de Lima. José Pessoa escreveu
diretamente a Getúlio Vargas, desmentindo Gois Monteiro, e tentou
mover um processo contra seu acusador. Na sequência dos
acontecimentos, porém, a situação acabou favorecendo os
partidários da supressão das eleições, que receberam o apoio do
governo, e os postos-chave de comando acabaram sob o controle dos
generais favoráveis à solução ditatorial. Em decorrência disso, o
general José Pessoa ficou, temporariamente, sem comissão, adido à
Casa Militar da Presidência da República. Conforme Frank McCann,
Pessoa remeteu uma carta a Vargas defendendo-se da acusação de
conspirador e acusando Gois Monteiro. Na carta, comprometeu-se com
vargas a se demitir do Exército se as acusações a si fossem
verdadeiras. Mas Vargas entendeu diferente e prendeu-o por seis dias
(McCann, 2009, p. 514). Só em março de 1938, quatro meses após o
advento do Estado Novo, recebeu outra comissão de comando.
Inicialmente cogitado para um posto em Belo
Horizonte, acabou nomeado comandante da 9ª Região Militar, em Mato
Grosso, ficando assim afastado do centro de decisões nacionais.
Promoveu combate ao banditismo que então grassava em Mato Grosso,
iniciando uma campanha militar contra os bandos armados que
assolavam o sul do estado. Nessa campanha, apreenderam-se milhares
de armas e munições pertencentes ao Exército que haviam sido
roubadas dos depósitos do governo.
No início de 1939, foi nomeado inspetor da
arma de cavalaria, a qual tratou de modernizar, dotando-a de novos
regulamentos. Promovido a general-de-divisão em maio de 1940,
ocupou o cargo de inspetor de cavalaria até 1945.
Ainda em 1943, integrou a comissão que
elaborou o anteprojeto de defesa dos portos do Rio de Janeiro e de
Santos, bem como dos portos fluviais de Mato Grosso e do rio São
Francisco, como parte do esforço de guerra brasileiro previsto nos
acordos militares entre
o Brasil e os Estados Unidos, e passou a integrar a
Comissão de Promoções do Exército.
Eleito presidente do Clube Militar em maio
de 1944, assumiu o cargo em junho e nele permaneceu até junho de
1946. Sua gestão atravessou o fim do Estado Novo, e se mostrou
adequada à atmosfera política de restauração dos princípios
democráticos. Por ocasião do retorno da Força Expedicionária
Brasileira (FEB) enviada à Itália, organizou comitês de recepção
para os ex-combatentes e em outubro de 1945 contribuiu para a queda
de Vargas ao lançar uma proclamação contra o continuísmo
(queremismo) e contra a nomeação de Benjamin Vargas, irmão do
presidente, para a chefia de polícia do Distrito Federal.
Adido militar em Londres de 1946/47,
retornou ao Brasil e, em 1948, participou da fundação do Centro de
Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN),
juntamente com Arthur Bernardes e os generais Estêvão Leitão de
Carvalho e Júlio Caetano Horta Barbosa. Em torno do CEDPEN se
articularam de modo amplo estudantes, jornalistas, militares,
professores e homens públicos, e em pouco tempo o centro se tornou
o núcleo de uma campanha de mobilização da opinião pública em favor
de uma solução nacionalista para a questão do petróleo. A Campanha
do Petróleo, como ficou conhecida, desembocou no estabelecimento do
monopólio estatal (1953) e na consequente criação da Petrobrás
(1954).
Em julho de 1948, foi nomeado para o comando
da Zona Militar Sul (antecedente do
III
Exército), abrangendo tropas sediadas nos estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 12 de setembro de
1949, foi transferido para a reserva no posto de
general-de-exército.
Foi
promovido a marechal em 26 de janeiro de 1953,
de acordo com o a Lei nº 1.267, de 09 Dez 1959 a qual
recompensou, com a promoção ao posto seguinte, os Oficiais e Praças
da 1ª RM que combateram a Intentona Comunista em 1935.
Em
1954 foi convidado pelo presidente Café Filho para
ocupar a presidência da Comissão de Localização da Nova Capital
Federal, encarregada de examinar as condições gerais de instalação
da cidade a ser construída. José Pessoa criou uma série de
subcomissões técnicas especializadas, que apresentaram em 1955 o
resultado de seus estudos num relatório que foi integralmente
aprovado. Em seguida, Café Filho homologou a escolha do sítio da
nova capital e delimitou a área do futuro Distrito Federal,
determinando que a comissão encaminhasse o estudo de todos os
problemas correlatas à mudança. A comissão encerrou seus trabalhos
em 1956.
Pessoa publicou alguns livros técnicos,
conferências e relatórios, destacando-se Os Tanks na guerra
europeia, publicado pouco depois de seu retorno da Europa, que
recebeu parecer extremamente favorável do Estado-Maior do Exército.
O Marechal José Pessoa é patrono e denominação histórica do 12°
Regimento de Cavalaria Mecanizado, Jaguarão, RS, e é Patrono,
também, da turma de 1989 da Escola Preparatória de Cadetes do
Exército, Campinas, SP E é patrono da Cadeira da FAHIMTB que foi
ocupada sucessivamente pelo Cel Claudio Moreira Bento, que a
inaugurou e pelos academicos eméritos generais de Exército Gleuber
Vieira e Gilberto Barbosa Figueiredo, tendo como seu atual ocupante
o acadêmico Gen Div Edson Leal Pujol,comandante da AMAN que acolheu
no interior da AMAN a FAHIMTB e AHIMTB Mário Travassos.Faleceu no
Rio de Janeiro em 16 de agosto de 1959.
Fontes:
AMAN.Academia Militar.Dois séculos formando
oficiais para o Exército Brasileiro.Resende:IPSIS.2011.(Prefácio do
1º Presidente de Honra da FAHIMTB Gen Ex Enzo Martins
Peri.Apresentação do Academico Gen Div Edson Leal Pujol.Coordenação
do academico CelCarlos Roberto Peres e contribuiçoes dos academicos
Cel Claudio Moreira Bento e Cel Ernildo Heitor Agostini Filho).
BENTO, Claudio Moreira. O idealizador da AMAN e de
suas tradições, in: 1810-2010 200 anos da criação da Academia Real
Militar a AMAN: Resende: AHIMTB, Graf. Drumond, 2010, p. 64-75.
(_____). O Escritor e historiador militar Marechal
José Pessoa. Rio de Janeiro: Revista do Clube Militar, set/out 1985
(Comemorativa do centenário do Marechal).
(_____). O Exército na 1ª Guerra Mundial. Rio de
Janeiro: Revista A Defesa Nacional nº 752,1991.
(_____)
et FIGUEIREDO, Osório Santana. 6ª Divisão de
Exército. Porto Alegre: Pallotti, 2001, p. 214
(_____) O Espadim de Caxias dos cadetes do Exército
RIHGB.v.326, jan/mar 1980,p.99/105.
CÂMARA, Hiram Freitas. Marechal José Pessoa - a força
de um ideal. Rio de Janeiro: BIBLIEx,1985.
ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO. Fé de Ofício do
Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Rio de Janeiro: Fé
de Ofício nº XII – 113 – SAPM -
FARIA, Ivan Rodrigues de. Participação do Brasil na
Primeira Guerra Mundial, in Revista do Exército Brasileiro. Rio de
Janeiro: DPHCEx, 1996, p. 67.
McCANN, Frank. Soldados da Pátria. Rio de Janeiro:
Bibliex, 2009.
INFLUÊNCIAS DOUTRINÁRIAS NA DOUTRINA
MILITAR TERRESTRE BRASILEIRA AO LONGO DA HISTÓRIA
Cel Claudio
Moreira Bento, Historiador Militar e Jornalista
Presidente da FAHIMTB e AHIMTB Resende Marechal Mário Travassos
O Exército Colonial de Portugal no
Brasil, até a União das Coroas de Portugal e Espanha (1580-1640)
possuía sua doutrina emanada de Portugal. Durante a União das Coroas
Ibéricas 1580-1640, recebeu influência da Doutrina Militar
Espanhola, caracterizada pelo
terço,
as
bandeiras
e os
troços,
nomes dados aos equivalentes, hoje, Regimento,
Companhia e Pelotão. O comandante do Terço, atual Regimento, era
chamado de Mestre de Campo, que equivalia ao hoje Coronel.
Essa Doutrina Militar, ao tempo das
guerras holandesas, estava em decadência na Europa e os
luso-brasileiros, desenvolveram uma Doutrina Militar genuína
chamada na Europa, por especialistas, de
Guerra
Brasílica.
Ela
aligeirou
os terços e deu liberdade de iniciativa a cada
combatente, que tinha como arma de choque a espada ou o
chuço,
por falta ou carência de armas de fogo e a munição
correspondente, em razão, do bloqueio naval do Brasil.
Traduziu a diferença de doutrinas, a
Brasílica e a Holandesa, a mágoa de um oficial holandês revelada ao
Major Antônio Dias Cardoso, ao final da 1ª Batalha dos
Guararapes,
durante uma troca de prisioneiros:
Oficial holandês: -
Da próxima vez seremos nós que venceremos, pois
combateremos dispersos como vocês combateram.
Dias Cardoso: -
Melhor para nós, pois para cada soldado de vocês
disperso, necessitarão de um capitão ao lado deles, enquanto que
cada soldado nosso é um capitão!
Com a rendição dos holandeses, na
Campina da
Taborda,
(1654), a Doutrina luso-brasileira passaria a ter
influência inglesa, direta ou indireta, através das
Ordenanças,
do Exército de Portugal. Ela perdurou mesmo após a
Independência, no todo ou com adaptações (1654-1910). Em Canudos,
ela fracassou, e a criatividade dos quadros do Exército encontrou
soluções originais, como a transformação de uma Companhia de
Infantaria em Esquadrão de Cavalaria, como tropa de reconhecimento
que passou a prevenir emboscadas e, ao mesmo tempo, como instrumento
de suprimento, ao recolher, na caatinga, animais que pudessem
alimentar a tropa, até a chegada do Ministro da Guerra, Marechal
Bittencourt, que solucionou o Apoio Logístico. Enfim, soluções
genuínas não constantes das
Ordenanças
de Portugal e que foram adotadas então.
Como influência inglesa marcante
tivemos o Corpo de Doutrina baixado pelo Conde de
Lippe,
o qual enviou, para o Brasil seu delegado, o
Tenente-General Henrique Böhn, que organizou o Exército Colonial do
Brasil, fortificou o Rio de Janeiro e terminou por liderar o
Exército do Sul, na expulsão definitiva dos espanhóis que ocupavam
o Rio Grande do Sul, havia 13 anos, ao reconquistar a Vila de Rio
Grande (1° de abril de 1776). Existem, em coleções de
obras, alguns exemplares da Doutrina do Conde de Lippe.
Com a vinda da Família Real
para
Brasil, foi implantada na tropa a Doutrina Militar do
Marechal William Carr
Beresford,
um inglês a serviço de Portugal.
Mas, na Academia Real Militar, o
Príncipe Regente D. João introduziu fortíssima influência francesa
nos ensinos fundamental e profissional. Neste último, era muito
usada a obra do Conde
Cessac,
um
expert no assunto
do Exército da França. Em 1861, o Duque de Caxias, Ministro da
Guerra, com base em sua vitoriosa experiência operacional em quatro
campanhas
pacificadoras e
na guerra
externa contra
Oribe
e Rosas (1851-52) e também na sua experiência de
cerca de oito anos no comando da atual Polícia Militar do Rio de
Janeiro,
adaptou as
Ordenanças
de Portugal
para
as armas, às realidades que vivenciara. E com esta
a ressalva “até
que o nosso Exército disponha de uma Tática
(Doutrina)
genuinamente nossa”.
Com isso ele se tornou
pioneiro
da nacionalização progressiva da Doutrina
Militar Terrestre Brasileira
conforme
temos repetido, e, como focalizou pioneiramente, na
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), em 1958, o
Coronel
Amerino
Raposo Filho em seu trabalho ‘Caxias
e o Problema Militar Brasileiro’
(Rio de Janeiro: SGEx, 1969- p. 56-63).
Essa Doutrina Militar baixada por
Caxias foi a que presidiu o emprego do Exército Brasileiro na
Guerra do Paraguai (1865-70), e usada por ele como
Comandante-em-Chefe das forças brasileiras e aliadas (1866-68).
Antes, Caxias, como Ministro da
Guerra, em 1855, aproveitando a estrutura operacional que imprimiu
ao Exército em Operações na Guerra de 1851-52, introduziu no
Ministério da Guerra, duas estruturas, uma operacional e outra
logística: a operacional sob a égide do Ajudante-General do
Exército, que passou
a ser efetivamente o comandante do Exército e que, em
1899, foi substituído pelo Estado-Maior do Exército. A estrutura
Logística ficou sob a égide do Quartel-Mestre General e se
ramificava por toda a organização na paz e de guerra. O
Ajudante-General foi substituído pelo Estado-Maior do Exército,
órgão de influência doutrinaria prussiana sugerida pelo então
Capitão Augusto Tasso Fragoso, na Revista do Brasil, e que viria a
chefiá-lo na decada
de 1920.
Depois da Guerra do Paraguai, houve
um grande declínio doutrinário, por cerca
de trinta anos (1874-1905). O Exército
foi dominado pelo
bacharelismo militar,
com outras preocupações que não o desenvolvimento da
Doutrina do Exército
como força operacional. A Doutrina era de
responsabilidade da Congregação de Professores da Escola Militar da
Praia Vermelha, mas que não a implementaram efetivamente. E sobre
este período escreveram criticamente, entre outros, os generais
Augusto Tasso Fragoso e Estevão Leitão de Carvalho, assinalados
historiadores de nosso Exército e patronos de cadeira na FAHIMTB.
Conta-se que certa feita, o Coronel
Conrado Bittencourt,
heroico comandante do Batalhão de Engenheiros
aquartelado
na Praia Vermelha, encaminhou um importante
regulamento militar francês solicitando à Congregação que o
traduzisse para ser lido pela tropa. Veio a resposta: “Não
é necessário pois nós o lemos no original!”
Nesse período, raros oficiais
brasileiros
tarimbeiros
valiam-se da obra (traduzida) do General Favé:
Curso de Arte Militar
(Rio de Janeiro: Tipografia Militar 1892.)
Esta involução doutrinária
refletiu-se nos conflitos internos no início da República: Guerra
Civil, Revolta na Armada (1892-95) e Canudos (1897). Neste último
apareceu a citada e complexa
Ordenança
de Portugal,
que recebeu o nome de
Regulamento Moreira Cezar,
em razão de a Comissão encarregada de sua feitura
haver homenageado o coronel morto em Canudos, colocando o seu
retrato ilustrando a capa. Era este regulamento incompatível com
as realidades dos pampas sulinos e das caatingas nordestinas, a não
ser na defesa de localidades como foi o caso de
Bagé
e Lapa, sitiadas por
federalistas
em 1893-94.
Ainda em Canudos, para enfrentar as
mesmas realidades operacionais e logísticas, foi que o Coronel
Carlos
Telles,
comandante do 31° Batalhão de Infantaria,
de
Bagé,
teve a inspiração de improvisar um Esquadrão de
Cavalaria com o qual preveniu futuras emboscadas e recolheu cabeças
de gado e de caprinos esparsas na caatinga para alimentar a tropa.
O problema logístico só seria, porém,
solucionado com a Cadeia de Apoio Logístico que o Ministro da
Guerra, Marechal Bittencourt, estabeleceu na Bahia, em apoio às
forças operando contra Canudos. Foi o que lhe valeu a consagração,
como patrono da
Intendência
do Exército.
De 1910-20 o Exército sofreu grande
influência prussiana. O Marechal
Hermes da Fonseca, como Ministro da Guerra, enviou
oficiais para estágio no Exército Alemão. De retorno fundaram, em
1913,
a centenária revista
A Defesa Nacional,
que passou a difundir a Doutrina Alemã, a qual ganhou
grande impulso pelas mãos da
Missão Indígena,
da Escola Militar do Realengo
(1919-21),
integrada por muitos dos oficiais com curso na
Alemanha ou a eles ligados. Revista cujo centenário abordamos no O
Guararapes nº 13 da FAHIMTB, sugerindo que fosse feito um índice de
autores e assuntos da mesma e que, segundo formos informados pelo
Acadêmico Cel Luiz Carlos Carneiro de Paula, este relevante trabalho
estava sendo executado por decisão superior pela Biblioteca do
Exército. Providência de alta relevância para tornar possivel
resgatar a evolução do Pensamento Militar Brasileiro, sepultado em
suas coleções, hoje de difícil acesso.
Em
1918,
quase ao final da guerra, o Brasil enviou à França
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oficiais, em caracter reservado, que integraram a
Comissão de Estudos e Operações e de Aquisição de Material Bélico
(1918-19).
A finalidade era absorver, inclusive combatendo nos
exércitos aliados, ensinamentos da Doutrina Militar Terrestre da
França e adquirir material bélico para implantá-lo no Brasil, no
Exército e na sua Aviação. E eles trouxeram valiosos subsídios e
ideias,
como o Tenente-Coronel José Fernandes Leite de
Castro, e os tenentes José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e
Cristóvão de Castro Barcellos, que tiveram grande
projeção
nos destinos do Exército depois da Revolução de
1930.
Estudou a vida do Marechal José
Pessoa, o chefe de maior
projeção
dessa Comissão, idealizador da AMAN e introdutor dos
blindados em nosso Exército, o Coronel Hiram Freitas Câmara, em ‘Marechal
José Pessoa, a força de um ideal’.
(Rio de Janeiro, BIBLIEX,
1986.) E de igual modo nós o temos estudado conforme
as fontes que produzimos constantes do artigo anterior Jose Pessoa
do historiador militar Cel Caminha.
Era adido militar na França o Major Alfredo Malan
d`Angrone, pai do patrono de cadeira na FAHIMTB Gen Ex Alfredo Souto
Malan, quando foi encarregado de contratar a Missão Militar
Francesa (MMF), para o nosso Exército, sendo a primeira chefiada
pelo General Gamelim.
Esta Missão Militar chegou ao Brasil,
em
1920
e, por cerca de
19
anos, até a Segunda Guerra Mundial, exerceu grande
influência doutrinária no ensino do Exército. Em
1939,
ela foi substituída por uma Missão Militar dos
Estados Unidos.
No Arquivo Histórico do Exercito foi
iniciado, em
1985,
um
projeto
denominado
História da Doutrina do Exército Brasileiro,
reunindo numa sala regulamentos que de longa data
presidiram ou vinham presidindo o emprego do Exército Brasileiro.
Eis, pois em largos traços as
influências doutrinárias recebidas pelo nosso Exército, que herdou
doutrinas genuínas, a Guerra Brasílica, a Guerra à Gaucha, e que
desenvolve, através do CIGS, doutrina especifica de Guerra na Selva
para a proteção de nossa Amazônia.
Sentindo, a necessidade de um
aprofundamento maior na História Militar Terrestre na
Amazônia,
pouco conhecida, pesquisada e, sobretudo, não
interpretada quanto às lições
táticas,
estratégicas e logísticas que sugere, a serviço da
segurança militar da
Amazônia,
hoje com mais ameaças potenciais que no passado,
publicamos nosso livro Amazônia Brasileira. Conquista. Consolidação.
Manutenção. História Militar Terrestre da Amazônia1616-2004. Porto
Alegre: AHIMTB, 2004. Obra prefaciada pelo acadêmico emérito da
FAHIMTB Gen Ex Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex- comandante do
Comando Militar da Amazônia e que desenvolveu, ao deixar a Amazônia,
intensa campanha nacional de concientização da importância daquela
área.
Editor: Cel Claudio Moreira Bento - Historiador
Militar e Jornalista