INFORMATIVO GUARARAPES- 2014              

                         AHIMTB/Resende
Mal.              Mal. Mário Travassos


 
Fundada em 23 de abril  de 2011
em continuidade a AHIMTB,
fundada
  em 1º Março 1996

 

 

O GUARARAPES

ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES DA

 FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE HISTÓRIA MILITAR

TERRESTRE DO BRASIL (FAHIMTB) E DA AHIMTB/Resende

 MARECHAL MÁRIO TRAVASSOS

          CGC 0149.52/0001-09                                           www.ahimtb.org.br

 

Em 1º de MARÇO de 2014, o 70º ANIVERSÁRIO
DA INSTALAÇÃO DA AMAN EM RESENDE

 

Ano 2014,  nº 26 – FAHIMTB AHIMTB/Resende  1o Março.

    

 

Em 1º de MARÇO de 2014, o 70º ANIVERSÁRIO DA INSTALAÇÃO DA AMAN EM RESENDE

Cel Claudio Moreira Bento

 

Presidente da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB) e da AHIMTB/Resende Marechal Mário Travassos

O ano de 2014 registra, além dos 70 anos do aprestamento da Força Expedicionária Brasileira (FEB), os 70 anos de instalação gradativa em Resende- RJ, da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) que até 23 de abril de 1951 chamou-se Escola Militar de Resende, desde que criada, em 19 de novembro de 1943, por Decreto Lei n° 6012.

A instalação da AMAN coincidiu com o último ano de funcionamento da Escola Militar do Realengo (1913-1944) que formara as gerações dos oficiais que lutaram na FEB, à exceção de seu comandante, o Marechal Mascarenhas de Moraes, hoje patrono de cadeira na FAHIMTB, e que comandou aquela Escola de modo assinalado de 1935-36.

O primeiro ano da Academia em Resende foi marcado pelas seguintes efemérides significativas, algumas delas já consagradas com tradições: 1o de março - instalação administrativa, coincidente com o aniversário do término da Guerra do Paraguai e fase inicial de aprestamento da FEB; 10 de março - teve lugar, a tarde, inédita cerimônia na qual o General Sá Affonseca, o construtor da AMAN e hoje patrono de cadeira da FAHIMTB fez entrega das chaves da Escola Militar ao seu 1º comandante o Coronel Mário Travassos, sendo ressaltado que:

"A Escola Militar ora concretizada devia-se à vitória da Revolução de 1930 e que ela era capaz de fazer redobrar a fé na grandeza do Exército na defesa do Brasil".

20 de março - início das atividades escolares com 596 alunos transpondo pela primeira vez o Portão de Entrada de Novos Cadetes; 23 de abril - inauguração do Museu Escolar e doação pelo Marechal José Pessoa, o idealizador da Academia, de busto do Duque de Caxias, como patrono do Exército e da Academia, e hoje também da FAHIMTB e AHIMTB federadas, contendo, em placa, os nomes dos soldados de bom comportamento que carregaram o caixão do Pacificador de acordo com suas últimas vontades; 2 de julho - comemoração do desembarque da FEB na Itália; 5 agosto - primeira visita oficial à Escola do Presidente Vargas, em cujo governo foi construída a Escola, cujo lançamento da pedra fundamental presidira e que por Decreto n° 1718 de 17 de junho de 1937 considerou a Escola Militar como tendo por raiz histórica a Academia Real, criada por D. João em 1810 e, como aniversário, o dia 23 de abril, inicio do funcionamento da Academia Real em 23 abril de 1811; 10 de novembro - instalação oficial da Academia, assinalada pelo hasteamento, pela primeira vez, da Bandeira Nacional no mastro grande e incorporação do novo Estandarte do Corpo de Cadetes confeccionado e doado pelas senhoras de Resende e, 11 de novembro - entrega pelo já consagrado historiador militar General Tasso Fragoso, ao Museu Acadêmico, de sua túnica branca perfurada a bala e manchada de sangue a qual usava ao ser ferido, como primeiro tenente, em 9 de abril de 1894, no combate do Morro da Arrumação. Túnica acompanhada de carta pessoal do Presidente Floriano Peixoto exaltando sua heroicidade além de foto do canhão Krupp e guarnição que comandava ao ser ferido em combate.

Surgiu, assim, em 1944, em posição estratégica e clima privilegiado, debruçada no histórico rio Paraíba, impregnada, embalada e emoldurada por tradições e glórias militares significativas - umas das mais modernas e adiantadas escolas militares do mundo. A AMAN foi a concretização de um grande sonho, sonhado, acalentado, muito sofrido e perseguido, desde 1930, por um idealista e patriota singular - o Marechal José Pessoa Albuquerque Cavalcanti, ponto culminante na galeria dos ilustres ex-diretores e comandantes de nossa escola de formação de oficiais do Exército, desde sua instalação em 23 de abril de 1811, como Academia Real Militar Real, na Casa do Trem, onde hoje se situa o Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro.)

"A AMAN foi o maior sonho sonhado por um chefe militar do Brasil".

 Recordar aspectos ligados a este sonho concretizado do Marechal José Pessoa, bem como as tradições da AMAN - ou o seu espírito, nos seus 70 anos em Resende, é o objetivo maior deste trabalho que complementa estudos que publicamos na Revista do Clube Militar em 1979 e em 1984, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 336,1982. Em 2004 e, por último, na obra 2010-200 anos da criação da Academia Real Militar à Academia Militar das Agulhas Negras.

                                          O sonho de construção da AMAN em Resende

Vitoriosa a Revolução de 1930, ela colocou no comando da Escola Militar do Realengo o Coronel José Pessoa, filho de Cabeceiras-PB e figura providencial que em cerca de três anos a revolucionou por completo, e nela introduziu a maior parte de suas mais caras tradições. Idealizou e projetou a AMAN em 1931-34 e criou sua mística. Oficial de Cavalaria modelar, fora instrutor, em 1916, como tenente, da Escola de Direito de São Paulo, veterano dos Dragões da Cavalaria Francesa na 1a Guerra Mundial onde foi promovido, por bravura. Estagiário em Saint Cyr e instrutor de Blindados no Brasil após curso específico em Versalhes. Era irmão de João Pessoa, prestigioso político paraibano, assassinado antes da eclosão da Revolução de 30. Sua ação no Realengo pode ser sintetizada pela introdução de um estádio para a prática de educação física e desportiva; de uma biblioteca condignamente instalada, acompanhada de outros melhoramentos visando o conforto e bem estar de seus alunos. No campo das tradições introduziu, segundo desenhos de Washt Rodrigues, o Estandarte do Corpo de Cadetes, os uniformes históricos, elo do Exército Imperial com o Republicano, o título de Cadete, o Corpo de Cadetes, o Espadim de Caxias, como arma privativa do cadete e cópia fiel em escala do sabre de campanha do Duque de Caxias que desde 1925 integra o acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de que Caxias foi sócio. Criou o Brasão d'Armas da Escola, tendo ao fundo as Agulhas Negras, em Resende.

Trabalhou febrilmente, com o concurso de comissão específica de cadetes, professores e instrutores e apoio superior do Ministro Leite de Castro, na procura de um local para a construção de uma nova escola militar, indicado por unanimidade Resende-RJ e, o respectivo projeto.

O Livro de Hóspedes do Hotel Clube dos 200, na antiga Rio-São Paulo, registra diversas idas do então Coronel Pessoa a Resende visando a escolha do local e projeto da Escola Militar.

O projeto inicial de instalação da AMAN foi na Fazenda do Castelo, assim chamada desde o início do século pelas moças do local, conforme Joaquim Maia, em razão de seu edifício sede, ainda de pé, lembrar um castelo. Foi neste local que se fixou inicialmente José Pessoa, ao visitar Resende, em 16 de fevereiro de 1931, em companhia de seu ajudante-de-ordens Capitão Mário Travassos, que seria o comandante instalador da AMAN há 70 anos atrás, em 1944.

O Projeto inicial do arquiteto Raul Penna Firme foi para este local, que se estende inclusive, pelo hoje bairro do Paraíso e pela área do Patio Mix.

Na Revolução de 1932 a Estação Ferroviária de Resende - a atual das Agulhas Negras, foi o QG das forças do Governo combatendo a citada revolução. Nela, em 20 de março 1932, o presidente Getúlio Vargas comprometeu-se numa larga roda de oficiais a construir a atual AMAN. Na época, o campo de paradas da Academia serviu de base para os "vermelhinhos", aviões que apoiavam as tropas do governo sob o comando do Major de Artilharia do Exército Eduardo Gomes, hoje patrono da Força Aérea Brasileira. Fato histórico que reconstituímos em detalhes no Informativo O Guararapes nº 22 de ago 2013 (Disponível em Informativo no site www.ahimtb.org.br). No Manejo, nome que significa Campo de Manejo ou de Manobras de Tropas, desde a Guerra do Paraguai, por ter servido ao adestramento dos 250 Voluntários da Pátria de Resende, concentrava-se parte do contingente que fazia frente aos revolucionários, ao longo da antiga Rio - São Paulo.

 

As pedras fundamentais da AMAN

O Coronel José Pessoa, pronto o projeto da AMAN para ser implantado não no local atuai, repito, mas na Fazenda do Castelo, onde teve início Resende, idealizou lançar a Pedra Fundamental da AMAN, no jardim fronteiro ao edifício da fazenda, no dia 28 de outubro de 1933. Isto coincidindo com o término das grandes manobras anuais da Escola Militar do Realengo. (5) Manobras que ali naquele local teriam seu epílogo. Dois anos antes, em 8 de setembro de 1931, José Pessoa excursionara às Agulhas Negras com autoridades de Resende, auxiliares diretos e o arquiteto da AMAN. Raul Penna Firme, com o fim solene e específico de selecionarem uma pedra do maciço, para servir de pedra fundamental da Escola das Agulhas Negras. Foi da região chamada Grotão que José Pessoa selecionou uma pedra solta das Agulhas Negras de 60x50cm. E falou, comovido, apertando a pedra junto ao peito, para a Comitiva:

"Meus amigos e meus patrícios, esta será a pedra fundamental da Escola Militar em Resende".

Os pátios, jardins e pomares do Castelo" foram preparadas para o grande momento. Toda a Escola com oficialidade, Corpo de Cadetes, Banda de Música e salva de Artilharia aguarda o histórico momento - a chegada das autoridades do Rio de Janeiro e o grande churrasco a ser oferecido. Lá pelas 15 horas, um mensageiro da Central do Brasil entrega um telegrama urgente do Ministro da Guerra, General Augusto Inácio Espírito Santo Cardoso (avô do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso) dirigido ao Coronel José Pessoa, com o seguinte teor:

"Não existindo até agora nenhum ato oficial sobre a futura Academia Militar, lembro ao prezado camarada que não convém fazer o lançamento da pedra fundamental da mesma, o que deverá ser adiado para outra oportunidade". (6)

Ao ler a mensagem lágrimas incontidas correram pela face do grande idealista. Sua decepção transmitiu-se aos cadetes aos quais não foi dado o real motivo. Segundo o arquiteto Raul Penna Firme, o Coronel Pessoa sozinho, à noite, enterrou a pedra, síntese de seu maior sonho, em algum lugar da Fazenda Castelo.

Com a saída de José Pessoa do Realengo o seu sonho da Escola Militar em Resende, embora ele continuasse a defendê-lo bravamente pela Imprensa e correspondência entrou em compasso de espera. Depois do memorável comando do Coronel Mascarenhas de Moraes o sonho retomou forte. Em 2 de setembro de 1937, foi designada a Comissão para escolher definitivamente por Resende, mas deslocou o projeto a Fazenda Castelo para a atual Fazenda Alambari. (7) Dela fazia parte o Capitão Amaury Kruel, que 26 anos mais tarde ali estaria, na qualidade de comandante do II Exército, para histórica reunião, relativa à vitória militar da Contra Revolução de 1964, na qual a AMAN teve saliente papel sob a liderança do General Emílio Garrastazú Médici, mais tarde Presidente da República, ao interpor a AMAN entre o I e II Exércitos na eminência de um choque.

Em 29 de junho de 1938, data coincidente com mais um aniversário da morte do Marechal Floriano Peixoto, ocorrida próxima na Estação da Divisa, entre Resende e Barra Mansa atual localidade de Floriano (por aquela razão) teve lugar o lançamento oficial da Pedra Fundamental da AMAN, em cerimônia presidida pelo presidente Getúlio Vargas.

Nesta histórica cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Escola Militar de Resende (EMRes), atual Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em oração que interpretava os sentimentos e pensamentos dos corpos docente e discente da Escola Militar do Realengo (EMR), assim se expressou o oficial designado, sobre a finalidade da Escola Militar em Resende, sua sexta sede desde sua criação em 1810:

"Que nestas plagas por onde passaram bandeiras de outrora... possa a Escola Militar de Resende tornar-se o templo de onde saiam sacerdotes que tenham fé nos altos destinos da Pátria, bandeirantes de uma nova bandeira, libertadora dos que sofrem, mourejando esquecidos nos rincões do Brasil, analfabetos, desesperançados descrentes, disciplinando-os, educando-os e incorporando-­os sob uma bandeira única - a bandeira do Brasil".

Decorridos 70 anos da instalação da AMAN, em 10 de março de 1944, impõe-se uma evocação e registro histórico do ocorrido no período, com vistas à preservação de sua memória histórica. Pois, em 1939 seu idealizador, o Marechal José Pessoa, escrevia ao falar sobre o Espadim de Caxias do Cadete:

Ainda que sem História, nem por isso devemos olvidar-lhes fatos, que hoje sabidos mais tarde sera dificil reconstitui-los. Haja visto o exemplo de nossa lendária Academia Real Militar, da qual hoje só se sabe que foi fundada por D. João VI.

 

O Comandante da AMAN que assinou o BI nº 1 de 1º marco de 1944

O Coronel Mário Travassos  o 1º comadante  da Escola Militar em Resende e o único coronel de sua Galeria de ex comandantes assim registrou o início das atividades da AMAN em Resende ha 70 anos passados:

"É para nós grande honra assinar o Boletim n° 1 da Escola Militar de Resende. Conhecedor, até os seus últimos pormenores, das origens da Nova Escola Militar, que datam do ano de 1931, nunca pensei que pudesse ver realizado o sonho do então Coronel José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, tão cedo concretizado, graças ao espírito dinâmico, à capacidade técnica e a experiência do Exmo. Sr. General Luiz Sá Affonseca, e viesse me tocar a missão de insuflar vida, à majestosa realidade que é hoje a Escola Militar de Resende. É preciso que as massas de concreto armado e revestimento de mármore de nossa Escola criem alma e falem hoje e sempre do grande momento em que definitivamente os processos de formação dos oficiais do Exército Brasileiro devem ser consolidados de fôrma a marcar época".

 

        O Coronel Mário Travassos o primeiro comandante da AMAN e que foi considerado como grande e respeitado geopolítico brasileiro, foi consagrado pela FAHIMTB como patrono de sua AHIMTB/Resende que junto com ela funciona na AMAN desde 23 de Abril de 1911, bicentenário da AMAN.

       A FAHIMTB e AHIMTB Resende Marechal Mário Travassos há 18 anos se orgulham de serem fiéis ao seguinte objetivo estratégico do Exército nº1:

           Pesquisar,  preservar, cultuar e divulgar a Memória Histórica, as Tradições e os valores, morais,culturais e históricos do Exército Brasileiro

                 E com este objetivo mantém em sua sede na AMAN, em destaque e à disposição de interessados, em estante especial, todas as obras relativas à História da AMAN.

                          Produzimos sobre a História da AMAN as seguintes obras:

BENTO, Claudio Moreira. História da AMAN. Meu discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro nº 336 jul-set 1994

(_____). Academia Militar das Agulhas Negras. In: Escolas de Formação de Oficiais das Forças Armadas do Brasil. Rio de Janeiro: POUPEx,1987.

(_____). Jubileu de Ouro da AMAN em Resende. Resende: 1994.

(_____). Projeção da Comunidade da AMAN na comunidade Resende e do Médio Paraíba. Resende: AHIMTB, 2000.

(_____). Resende na História Militar. Resende: AHIMTB, 2001.

(_____). Os 60 anos da AMAN em Resende. Resende: AHIMTB, 2004.

(_____). 2010-200 anos da Academia Real Militar a AMAN. Resende: FAHIMTB, 2010.

                 Assessoramos tecnicamente em História da AMAN a obra institucional:

PERES, Carlos Roberto (Org). Academia Militar - dois séculos formando oficiais do Exército. Resende: IPSIS Grafica Editora, 2011.

                 Todas estas obras estão disponíveis no acervo da FAHIMTB e AHIMTB Resende Marechal Mario Travassos, em suas sedes no fundo da Biblioteca do Conjunto Principal 2.

                  Redator e Editor Cel Claudio Moreira Bento, Jornalista Presidente da FAHIMTB.

 

"Para alimentar o cérebro de um Exército na paz, para prepará-lo para a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em meditações e lições do que o da História Militar."