Em 1º de MARÇO de 2014, o 70º ANIVERSÁRIO DA
INSTALAÇÃO DA AMAN EM RESENDE
Cel Claudio Moreira Bento
Presidente da Federação de Academias de
História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB) e da AHIMTB/Resende
Marechal Mário Travassos
O
ano de
2014
registra,
além
dos 70 anos do
aprestamento
da
Força Expedicionária Brasileira (FEB),
os 70
anos de
instalação gradativa em Resende- RJ, da Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN) que até
23
de abril de
1951
chamou-se
Escola Militar de Resende, desde que criada, em
19
de novembro de
1943,
por Decreto Lei n°
6012.
A
instalação da AMAN coincidiu com o último ano de
funcionamento da Escola Militar do Realengo
(1913-1944)
que formara as gerações dos oficiais que
lutaram na FEB, à
exceção
de seu comandante, o Marechal Mascarenhas de
Moraes, hoje patrono de cadeira na FAHIMTB, e que comandou
aquela Escola de modo assinalado de
1935-36.
O
primeiro ano da Academia em Resende foi marcado pelas
seguintes efemérides significativas, algumas delas já
consagradas com tradições: 1o de março
-
instalação administrativa, coincidente com o
aniversário do término da Guerra do Paraguai e fase inicial
de aprestamento da FEB;
10
de março - teve lugar, a tarde, inédita
cerimônia
na qual o General Sá Affonseca, o construtor da AMAN e hoje
patrono de cadeira da FAHIMTB fez entrega das chaves da
Escola Militar ao seu
1º
comandante o Coronel Mário Travassos, sendo
ressaltado que:
"A Escola Militar ora concretizada
devia-se
à vitória da Revolução de
1930
e que ela era capaz de fazer redobrar a fé na
grandeza do Exército na defesa do Brasil".
20
de março
-
início das
atividades
escolares com
596
alunos transpondo pela primeira vez o Portão
de Entrada de Novos Cadetes;
23
de abril
-
inauguração do Museu Escolar e doação pelo
Marechal José Pessoa,
o idealizador
da Academia, de busto do Duque de Caxias, como patrono do
Exército e da Academia, e hoje também da FAHIMTB e AHIMTB
federadas, contendo, em placa, os nomes dos soldados de bom
comportamento que carregaram o caixão do Pacificador de
acordo com suas últimas vontades;
2
de julho
-
comemoração do desembarque da FEB na Itália;
5
agosto
-
primeira visita oficial à Escola do Presidente Vargas, em
cujo governo foi construída a Escola, cujo lançamento da
pedra fundamental presidira e que por Decreto n°
1718
de
17
de junho de
1937
considerou a Escola Militar como tendo por
raiz histórica a Academia Real, criada por D. João em
1810
e, como aniversário, o dia
23
de abril, inicio do funcionamento da Academia
Real em
23
abril de
1811; 10
de novembro
-
instalação oficial da Academia, assinalada pelo hasteamento,
pela primeira vez, da Bandeira Nacional no mastro grande e
incorporação do novo Estandarte do Corpo de Cadetes
confeccionado e doado pelas senhoras de Resende e,
11
de novembro
-
entrega pelo já consagrado historiador
militar General Tasso Fragoso, ao Museu
Acadêmico,
de sua túnica branca perfurada a bala e
manchada de sangue a qual usava ao ser ferido, como primeiro
tenente, em
9
de abril de
1894,
no combate do Morro da Arrumação. Túnica acompanhada de
carta pessoal do Presidente Floriano Peixoto exaltando sua
heroicidade além de foto do canhão Krupp e guarnição que
comandava ao ser ferido em combate.
Surgiu, assim, em
1944,
em posição estratégica e clima privilegiado,
debruçada no histórico rio Paraíba, impregnada, embalada e
emoldurada por tradições e glórias militares significativas
-
umas das mais modernas e adiantadas escolas militares do
mundo. A AMAN foi a concretização de um grande sonho,
sonhado, acalentado, muito sofrido e perseguido, desde
1930,
por um idealista e patriota singular - o Marechal José
Pessoa Albuquerque Cavalcanti, ponto culminante na galeria
dos ilustres ex-diretores
e comandantes de nossa escola de formação de
oficiais do Exército, desde sua instalação em
23
de abril de
1811,
como Academia Real Militar Real, na Casa do
Trem, onde hoje se situa o Museu Histórico Nacional no Rio
de Janeiro.)
"A
AMAN foi o maior sonho sonhado por um chefe militar do
Brasil".
Recordar aspectos ligados a este sonho concretizado do
Marechal José Pessoa, bem como as tradições da AMAN
-
ou o seu espírito, nos seus 70
anos em Resende, é o
objetivo
maior deste trabalho que complementa estudos
que publicamos na
Revista do Clube Militar
em
1979
e
em
1984,
na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
v.
336,1982.
Em 2004 e, por último, na obra
2010-200 anos da criação da Academia Real Militar à Academia
Militar das Agulhas Negras.
O sonho de construção da AMAN em Resende
Vitoriosa a Revolução de
1930,
ela colocou no comando da Escola Militar do
Realengo o Coronel José Pessoa, filho de Cabeceiras-PB e
figura providencial que em cerca de três anos a revolucionou
por completo, e nela introduziu a maior parte de suas mais
caras tradições. Idealizou e
projetou
a AMAN em
1931-34
e criou sua mística. Oficial de Cavalaria
modelar, fora instrutor, em
1916,
como tenente, da Escola de Direito de São
Paulo, veterano dos Dragões da Cavalaria Francesa na 1a
Guerra Mundial onde foi promovido, por bravura. Estagiário
em Saint Cyr e instrutor de Blindados no Brasil após curso
específico em Versalhes. Era irmão de João Pessoa,
prestigioso político paraibano, assassinado antes da eclosão
da Revolução de
30.
Sua
ação
no Realengo pode ser sintetizada pela
introdução de um estádio para a prática de educação física e
desportiva; de uma biblioteca condignamente instalada,
acompanhada
de
outros melhoramentos visando o conforto e bem estar de seus
alunos. No campo das tradições introduziu, segundo desenhos
de Washt Rodrigues, o Estandarte do Corpo de Cadetes, os
uniformes históricos, elo do Exército Imperial com o
Republicano, o título de Cadete, o Corpo de Cadetes, o
Espadim de Caxias, como arma privativa do cadete e cópia
fiel em escala do sabre de campanha do Duque de Caxias que
desde
1925
integra o acervo do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro de que Caxias foi sócio. Criou o Brasão d'Armas
da Escola, tendo ao fundo as Agulhas Negras, em Resende.
Trabalhou febrilmente, com o concurso de comissão específica
de cadetes, professores e instrutores e apoio superior do
Ministro Leite de Castro, na procura de um local para a
construção de uma nova escola militar, indicado por
unanimidade Resende-RJ e, o respectivo
projeto.
O
Livro de Hóspedes do Hotel Clube dos
200,
na antiga Rio-São Paulo, registra diversas
idas do então Coronel Pessoa a Resende visando a escolha do
local e
projeto
da Escola Militar.
O
projeto
inicial de instalação da AMAN foi na Fazenda do Castelo,
assim chamada desde o início do século pelas moças do local,
conforme Joaquim Maia, em razão de seu edifício sede, ainda
de pé, lembrar um castelo. Foi neste local que se fixou
inicialmente José Pessoa, ao visitar Resende, em
16
de fevereiro de
1931,
em companhia de seu ajudante-de-ordens
Capitão Mário Travassos, que seria o comandante instalador
da AMAN há 70 anos atrás, em
1944.
O
Projeto
inicial do
arquiteto
Raul Penna Firme foi para este local, que se estende
inclusive, pelo hoje bairro do Paraíso e pela área do Patio
Mix.
Na Revolução de
1932
a Estação Ferroviária de Resende - a
atual
das Agulhas Negras, foi o QG das forças do Governo
combatendo a citada revolução. Nela, em
20
de março
1932,
o presidente Getúlio Vargas
comprometeu-se
numa larga roda de oficiais a construir a
atual
AMAN. Na época, o campo de paradas da
Academia serviu de base para os "vermelhinhos", aviões que
apoiavam as tropas do governo sob o comando do Major de
Artilharia do Exército Eduardo Gomes, hoje patrono da Força
Aérea Brasileira.
Fato histórico que
reconstituímos em detalhes no Informativo O Guararapes nº 22
de ago 2013 (Disponível em Informativo no site
www.ahimtb.org.br).
No
Manejo,
nome que
significa Campo de Manejo ou de Manobras de Tropas, desde a
Guerra do Paraguai, por ter servido ao adestramento dos 250
Voluntários da Pátria de Resende, concentrava-se parte do
contingente que fazia frente aos revolucionários, ao longo
da antiga Rio - São Paulo.
As pedras
fundamentais da
AMAN
O Coronel José Pessoa, pronto o projeto da
AMAN
para ser
implantado não no local atuai, repito, mas na Fazenda do
Castelo, onde teve início Resende, idealizou lançar a Pedra
Fundamental da
AMAN,
no jardim fronteiro ao edifício da fazenda,
no dia 28 de outubro de 1933. Isto coincidindo com o término
das grandes manobras anuais da Escola Militar do Realengo.
(5) Manobras que ali naquele local teriam seu epílogo. Dois
anos antes, em 8 de setembro de 1931, José Pessoa
excursionara às Agulhas Negras com autoridades de Resende,
auxiliares
diretos e o
arquiteto da
AMAN.
Raul
Penna
Firme, com o fim solene e específico de
selecionarem uma pedra do maciço, para servir de pedra
fundamental da Escola das Agulhas Negras. Foi da região
chamada Grotão que José Pessoa selecionou uma pedra solta
das Agulhas Negras de 60x50cm. E falou, comovido, apertando
a pedra junto ao peito, para a Comitiva:
"Meus
amigos e meus patrícios, esta será a pedra fundamental da
Escola
Militar em
Resende".
Os
pátios,
jardins e
pomares do Castelo" foram preparadas para o grande
momento.
Toda
a
Escola com
oficialidade, Corpo de Cadetes, Banda de Música e salva de
Artilharia aguarda o histórico momento - a chegada das
autoridades do Rio de Janeiro
e o grande
churrasco a
ser oferecido. Lá pelas 15 horas, um mensageiro da Central
do
Brasil
entrega um telegrama urgente do Ministro da
Guerra, General Augusto
Inácio
Espírito Santo Cardoso (avô do ex-Presidente
Fernando Henrique Cardoso) dirigido ao Coronel José Pessoa,
com o seguinte teor:
"Não
existindo até agora nenhum ato oficial sobre a futura
Academia Militar, lembro ao prezado camarada que não convém
fazer o lançamento da pedra fundamental da mesma, o que
deverá ser adiado para outra oportunidade".
(6)
Ao ler a mensagem lágrimas
incontidas
correram pela face do grande idealista. Sua
decepção transmitiu-se aos cadetes aos quais não foi dado o
real motivo. Segundo o arquiteto Raul
Penna
Firme, o Coronel Pessoa sozinho, à noite,
enterrou a pedra, síntese de seu maior sonho, em algum lugar
da Fazenda Castelo.
Com a saída de José Pessoa do Realengo o seu
sonho da Escola Militar em Resende, embora ele continuasse a
defendê-lo bravamente pela Imprensa e correspondência entrou
em compasso de espera. Depois do memorável comando do
Coronel Mascarenhas de Moraes o sonho retomou forte. Em 2 de
setembro de 1937, foi designada
a Comissão para escolher definitivamente por Resende, mas deslocou
o projeto a Fazenda Castelo para a atual Fazenda Alambari.
(7) Dela fazia parte o Capitão
Amaury
Kruel,
que 26 anos
mais tarde ali estaria, na qualidade de comandante do
II
Exército,
para histórica reunião, relativa à vitória militar da Contra
Revolução de 1964, na qual a
AMAN
teve saliente papel sob a liderança do
General Emílio Garrastazú Médici, mais tarde Presidente da
República, ao interpor a
AMAN
entre o
I
e
II
Exércitos na eminência de um choque.
Em 29 de junho de 1938, data coincidente com
mais um aniversário da morte do Marechal
Floriano
Peixoto, ocorrida próxima na Estação da
Divisa, entre Resende e Barra Mansa atual
localidade de Floriano (por aquela razão) teve lugar o
lançamento oficial da Pedra Fundamental da AMAN, em
cerimônia
presidida pelo presidente Getúlio Vargas.
Nesta histórica
cerimônia
de lançamento da pedra fundamental da Escola
Militar de Resende (EMRes),
atual
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),
em oração que interpretava os sentimentos e pensamentos dos
corpos docente e discente da Escola Militar do Realengo
(EMR), assim se expressou o oficial designado, sobre a
finalidade da Escola Militar em Resende, sua sexta sede
desde sua criação em
1810:
"Que nestas plagas por onde passaram bandeiras de outrora...
possa a Escola Militar de Resende
tornar-se
o templo de onde saiam sacerdotes que tenham
fé nos altos destinos da Pátria, bandeirantes de uma nova
bandeira, libertadora dos que sofrem, mourejando esquecidos
nos rincões do Brasil, analfabetos, desesperançados
descrentes, disciplinando-os, educando-os e
incorporando-os
sob uma bandeira única - a bandeira do Brasil".
Decorridos 70
anos da instalação da AMAN,
em
10
de março de
1944,
impõe-se
uma evocação e registro histórico do ocorrido no período,
com vistas à preservação de sua memória histórica. Pois, em
1939
seu
idealizador,
o
Marechal José Pessoa, escrevia ao falar sobre o Espadim de
Caxias do Cadete:
Ainda que sem História, nem por isso devemos olvidar-lhes
fatos, que hoje sabidos mais tarde sera dificil
reconstitui-los. Haja visto o exemplo de nossa lendária
Academia Real Militar, da qual hoje só se sabe que foi
fundada por D. João VI.
O
Comandante da AMAN que assinou o BI nº 1 de 1º marco de 1944
O
Coronel Mário Travassos o 1º comadante da Escola Militar
em Resende e o único coronel de sua Galeria de ex
comandantes assim registrou o início das atividades da AMAN
em Resende ha 70 anos passados:
"É para nós grande honra assinar o Boletim n°
1 da Escola Militar de Resende. Conhecedor, até os seus
últimos
pormenores,
das origens da Nova Escola Militar, que datam
do ano de 1931, nunca pensei que pudesse ver realizado o
sonho do então Coronel José Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque, tão cedo concretizado, graças ao espírito
dinâmico, à capacidade técnica e a experiência do Exmo. Sr.
General Luiz Sá Affonseca, e viesse me tocar a missão de
insuflar vida, à majestosa realidade que é hoje a Escola
Militar de Resende. É preciso que as massas de concreto
armado e revestimento de mármore de nossa Escola criem alma
e falem hoje e sempre do grande momento em que
definitivamente os processos de formação dos oficiais do
Exército Brasileiro devem ser consolidados de fôrma a marcar
época".
O Coronel Mário Travassos o primeiro
comandante da AMAN e que foi considerado como grande e
respeitado geopolítico brasileiro, foi consagrado pela
FAHIMTB como patrono de sua AHIMTB/Resende que junto com ela
funciona na AMAN desde 23 de Abril de 1911, bicentenário da
AMAN.
A FAHIMTB e AHIMTB Resende Marechal
Mário Travassos há 18 anos se orgulham de serem fiéis ao
seguinte objetivo estratégico do Exército nº1:
Pesquisar, preservar, cultuar e divulgar a Memória
Histórica, as Tradições e os valores, morais,culturais e
históricos do Exército Brasileiro
E com este objetivo mantém
em sua sede na AMAN, em destaque e à disposição de
interessados, em estante especial, todas as obras relativas
à História da AMAN.
Produzimos sobre a
História da AMAN as seguintes obras:
BENTO, Claudio Moreira. História da AMAN. Meu
discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro nº 336 jul-set 1994
(_____). Academia Militar das Agulhas Negras.
In: Escolas de Formação de Oficiais das Forças Armadas do
Brasil. Rio de Janeiro: POUPEx,1987.
(_____). Jubileu de Ouro da AMAN em Resende.
Resende: 1994.
(_____). Projeção da Comunidade da AMAN na
comunidade Resende e do Médio Paraíba. Resende: AHIMTB,
2000.
(_____). Resende na História Militar.
Resende: AHIMTB, 2001.
(_____). Os 60 anos da AMAN em Resende.
Resende: AHIMTB, 2004.
(_____). 2010-200 anos da Academia Real
Militar a AMAN. Resende: FAHIMTB, 2010.
Assessoramos tecnicamente em
História da AMAN a obra institucional:
PERES, Carlos Roberto (Org). Academia Militar
- dois séculos formando oficiais do Exército. Resende: IPSIS
Grafica Editora, 2011.
Todas estas obras estão
disponíveis no acervo da FAHIMTB e AHIMTB Resende Marechal
Mario Travassos, em suas sedes no fundo da Biblioteca do
Conjunto Principal 2.
Redator e Editor Cel
Claudio Moreira Bento, Jornalista Presidente da FAHIMTB.