A GUERRA DO PARAGUAI:

UM LABORATÓRIO DE DOUTRINA MILITAR  PARA O MERCOSUL, A  SER EXPLORADO

 

Cel Cláudio Moreira Bento(x)

 

SUMÁRIO

 

Caracterização sumária da guerra

Importância  Histórico - Militar da Guerra do Paraguai

Causas da Guerra do Paraguai

Desenvolvimento da Guerra - Síntese

Ofensiva Adversária

Ofensiva aliada

Os4  grandes generais adversários

                     Reflexos da Guerra na consolidação do Exército

              A   permanência dos ensinamentos cívicos da Guerra

Significado das Operações no na Formação das novas Gerações do Exército

Significado das Operações na Formação das novas gerações do Exército e da manipulação política de sua história

 

 

Caracterização Sumária da Guerra

 

De 1865 a 1870, a Bacia do Rio da Prata foi cenário do maior conflito entre nações das Américas - a Guerra do Paraguai. Ela envolveu de um lado o Brasil, a Argentina e o Uruguai, que formaram a Tríplice Aliança contra o Paraguai. Seu início teve lugar logo depois de término da Guerra de Secessão nos EUA; conflito interno entre o Norte industrial e o Sul agropecuário e escravista daquele país. A Guerra de Secessão a qual considero  o primeiro grande conflito da Era Industrial. Conflito que foi o prenúncio da Guerra Total. Nele, com o apoio na máquina a vapor que tornou possível a produção, em série, de munições e armamentos que aumentaram consideravelmente a densidade de fogo na superfície do campo de batalha. Isto obrigou o combatente, para sobreviver, a enterrar-se no terreno á procura dos abrigos, mais conhecidos por trincheiras - marca registrada da I Guerra Mundial em sua primeira fase.

A Guerra de Secessão, com a qual a Guerra do Paraguai apresenta muitas semelhanças e recebeu fortes influências, somente foi estudada criticamente, á luz dos fundamentos da Arte de Guerra, entre as duas últimas Grandes Guerras.

Os chefes, pensadores, planejadores e historiadores militares norte-americanos lamentaram profundamente o atraso do estudo, em razão dos valiosos ensinamentos que ela sugeria e que poderiam ter sido incorporados à Doutrina Militar do Exército dos EUA na I Guerra Mundial. E, mais eles se conscientizaram da importância do conflito no contexto da Doutrina Militar Mundial.

 

Importância Historico- Militar da Guerra do Paraguai

 

A Guerra do Paraguai, o maior conflito entre nações das Américas e a maior experiência bélica do Brasil até hoje, carece de um estudo crítico militar, como de resto quase toda História Militar do Brasil. Esta vinha sendo estudada, na maioria das vezes, de forma empírica, ao invés de científica. Sua transmissão vinha sendo  feita, predominantemente, de maneira descritiva e não crítica ou analítica. Sob os dois últimos aspectos, isto é, crítico e analítico, é que a História Militar contribuiu para a formação dos grandes Capitães: Júlio César; Alexandre, o Grande; Gustavo Adolfo; Frederico, o Grande; Napoleão e tantos outros, conforme eles mesmos proclamaram, bem como do nosso grande Duque de Caxias, que encontrou nas manobras de flanco Humaitá e Piquiciri, na Guerra que ora estudamos, passaporte seguro para figurar, sem favor nenhum, na galeria dos grandes Capitães da História, ou dos grandes mestres da Arte da Guerra.

Estudo crítico ou analítico da História Militar, assim enfatizado, por Frederico, o Grande, ao professor da matéria a seu filho:

“Não ensine História Militar a meu filho como se ensina a um papagaio. Faça-o meditar, racionar e tirar conclusões próprias e ensinamentos."

As abordagens predominantes descritivas e não críticas ou analíticas de nossa História Militar, á luz dos fundamentos de uma Doutrina Militar, contribuíram para o desprestígio da disciplina entre nossos chefes militares. E isto era justificável,  por não verem eles resultados práticos das atividades de História, no sentido de contribuições para o desenvolvimento de uma Doutrina Militar Brasileira, com índices progressivos de nacionalização.

Índices calcados no estudo crítico-militar de nossas experiências acumuladas em quase 5 séculos, em lutas internas e externas, nos mais variados rincões do Brasil. Experiências predominantemente  vitoriosas, que contribuíram para configurar e manter um Brasil de dimensões que não é obra de um milagre. Mas, fruto em grande parte, de judiciosas soluções estratégicas, táticas e logísticas militares. Soluções decorrentes, por seu turno, da correta aplicação dos fundamentos da Arte da Guerra ao problema brasileiro, por militares portugueses e brasileiros do passado caracterizados por um fator de decisão militar constante - o terreno brasileiro - e por um importante e característico elemento do Fator Militar - o soldado brasileiro.

Acreditamos que muitas daquelas soluções, se estudadas criticamente, por chefes, pensadores, planejadores e historiadores militares brasileiros, servirão de ferramentas para alicerçar o Exército Brasileiro do futuro. Um Exército-esteio terrestre da defesa de um Brasil Potência por nós sonhado.

Exército dotado de uma Doutrina Militar com expressivos índices de nacionalização. Isto como fruto, em parte, da análise crítica do seu passado para o entendimento do seu presente e desenvolvimentos das capacidades de estimar o seu futuro militar e de formular e praticar Doutrina Militar dinâmica e coerente com este futuro, conforme procedem os Exércitos das grandes potências.

Creio que se a Guerra do Paraguai for estudada criticamente, a fundo, como o foi a Guerra de Secessão pelo Exército dos EUA em data recente, que trouxe valiosa contribuição aos militares norte-americanos.

É possível que ela venha a ser considerada, como a considero, como o primeiro grande conflito entre nações na Era Industrial. Como se verá nela a máquina a vapor se fez presente nos navios de nossa Marinha, numa ferrovia do adversário e numa ferrovia logística construída por nossa Marinha.

O Brasil - potência mundial deverá, necessariamente, ser potência militar. Ao estudar e analisar criticamente as grandes potências mundiais, na qualidade de pesquisador e instrutor de História Militar na Academia Militar das Agulhas Negras 1978/80, cheguei a uma conclusão simples: Todas elas são potências militares, possuidoras de Doutrina Militar própria ou com elevados índices de nacionalização. Nenhuma copiou doutrina alienígena.

O campo de batalha foi, é, e continuará sendo o melhor laboratório de pesquisa para o desenvolvimento de uma Doutrina Militar.

Não existe nenhum sucedâneo eficiente. O que longe se aproxima são as manobras. Estas por sua vez, de alto custo.

Acreditamos que a Guerra do Paraguai, o maior e mais marcante conflito enfrentado pelo Brasil e o maior entre nações das Américas, ainda se constitua em importante laboratório, com vistas ao desenvolvimento das Doutrinas Militares. Isto não só a do Brasil, com a de nossos irmãos uruguaios, argentinos, bolivianos e paraguaios. Para os dois últimos o valor será maior, se esta experiência for comparada com a última que ambos tiveram, ao se defrontarem na Guerra do Chaco em 1935 - última guerra convencional envolvendo nações das Américas. Temos convicção que estes estudos possam contribuir para o desenvolvimento de uma Doutrina Militar do Mercosul para enfrentar o insondável 3º Milênio.

O então Marquês de Caxias, Ministro da Guerra e experimentado e consagrado infante de vocação e tradição, ao adaptar para o nosso Exército em 1861 as Ordenanças de Infantaria do Exército de Portugal, o fez com ressalva de que essas estariam em vigor até que nossa Infantaria desenvolvesse uma doutrina guerreira de acordo com nossas realidades.

Aquelas ordenanças adaptadas por Caxias foram seguidas por nossa Infantaria durante toda a Guerra do Paraguai.

O Marechal Floriano Peixoto, como Presidente da República, determinou que o Oficial Engº Emilio Jourdan, veterano da guerra e construtor de algumas pontes da célebre Estrada do Chaco, escrevesse uma história de conflito, para servir de subsídio "aos alunos de nossas escolas militares, com o objetivo de desenvolverem uma Tática e uma Estratégica adaptada as nossas realidades."

 O Marechal Bernardino Borman, veterano da guerra, ajudante-de-ordens e biógrafo de Duque de Caxias, e mais tarde chefe do Estado-Maior do Exército, com aquele objetivo escreveu a sua visão da Guerra do Paraguai.

Ainda oficial de Estado-Maior, o mais tarde General Tasso Fragoso começou a estudar aquele conflito.

Seu estudo foi trazido na monumental obra

-          A Guerra da Tríplice Aliança - editada quando era chefe do Estado-Maior do Exército.

           Obra predominantemente descritiva, foi trabalhada tecnicamente pelo Coronel Ruas Santos, que a enriqueceu e a transformou em instrumento de trabalho indispensável a estudos críticos futuros.

O Estado-Maior do Exército em sua Portaria 061, de outubro de 1977, marcou os seguintes objetivos para as atividades de História no Exército:

-          Contribuir para a formação e o aperfeiçoamento dos quadros e da tropa;

-          Contribuir para o desenvolvimento da doutrina das Forças Terrestres brasileiras;

-          Preservar e divulgar  o Patrimônio Histórico-Cultural do Exército.

            Com isto, orientou a História no Exército para aspectos predominantemente  crítico-militares, em apoio á formação dos seus quadros e ao desenvolvimento de sua Doutrina Militar.

 

 

Causas da Guerra do Paraguai

 

O Brasil foi á guerra depois de sua soberania e integridade serem agredidas pelo adversário:

-          Agressão á Soberania, através da ameaça à livre navegação brasileira nos rios Paraná e Paraguai, caracterizada pela ereção da fortaleza de Humaitá sobre o rio Paraguai, e prisão, em Assunção, do Presidente de Mato Grosso quando, depois de partir do Rio, viajava para assumir o seu posto. Pois os rios Paraná e Paraguai eram elos biseculares de ligação do Centro do Poder do Brasil com sua Província de Mato Grosso.

-          Agressão à integridade, materializada pelas invasões e ocupações temporárias de territórios brasileiros no Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

 

 

Desenvolvimento da Guerra - Síntese

 

Ofensiva Adversária

 

A iniciativa das ações coube ao adversário. Manobrando em linhas interiores, ele invadiu o indefeso Sul Mato Grosso. Em Douradas ocorreu o épico episódio da resistência, até a morte, do Tenente Antônio João, atual Patrono  do Quadro dos Oficiais Auxiliares.

Depois foi a vez da província argentina de Corrientes e do Rio Grande do Sul.

Em 11 de junho de 1865, nossa Marinha obteve a retumbante e decisiva vitória naval de Riachuelo, a maior batalha naval da América do Sul e ponto de inflexão do conflito, de ofensiva para defensiva adversária.

Nesta batalha, forças navais e terrestres brasileiras embarcadas puserem fim á capacidade ofensiva estratégica do adversário.

O termino da ofensiva adversária no sul, foi selado com a rendição em Uruguaiana, aos  aliados, das tropas invasoras, em presença do Imperador D. Pedro II.

A invasão adversária da província de Corrientes provocou o ingresso da argentina na Guerra. Foi formada então a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) contra o Paraguai.

Ofensiva Aliada

Os aliados, depois de Uruguaiana, passaram à  ofensiva, tendo como objetivo militar estratégico, a conquista da Fortaleza de Humaitá e, político-estratégico, a conquista de Assunção, capital adversária.

Em  17 de abril de 1866, sob a liderança do intrépido General Osório, atual Patrono da Cavalaria do nosso Exército, forças navais e terrestres aliadas, em ação conjunta, em operação que poderíamos hoje classificar de anfíbia, transpuseram, o rio Paraná em Passo da Pátria, concretizando a invasão do terreno adversário. Isto depois de bem sucedida ação diversionária  sobre o Forte Itapuru, consumada com a conquista  e manutenção da Ilha da Redenção, por uma força-tarefa integrada por infantes, artilheiros e engenheiros ao comando do tenente-coronel Vilagran Cabrita, atual Patrono da Arma de Engenharia de nosso Exército, que nesta ação perdeu a vida, atingindo por obus adversário, quando redigia a parte da vitória.

Prosseguindo o avanço aliado, ainda sob a liderança de Osório, travou-se a Batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da América do Sul. Esta batalha pôs fim á capacidade ofensiva tática adversária. Nela, Osório, liderando uma manobra defensiva em posição, conseguiu anular o duplo envolvimento intentado pelo adversário. Perdeu a vida nesta batalha o Brigadeiro Sampaio - atual Patrono da Infantaria de Exército, o Bravo dos Bravos de Tuiuti, depois de  desenvolver papel decisivo, para vitória, à frente de sua bem treinada e valente Divisão de Infantaria a “Encouraçada”. Destacou-se e consagrou-se igualmente o então Coronel Emílio Mallet, atual Patrono da Artilharia, com sua "Artilharia Revólver" postada atrás de um fosso escavado pelo Batalhão de Engenheiros de Conrado Bittencourt  que integrava a sua Artilharia. Em sua manobra de penetração ao longo do rio Paraguai, os aliados sofreram sério revés frente á fortaleza de Curupaitt. O insucesso desse desastre cobrou o alto preço de cerca de 4000 vidas brasileiras, resultado da inobservância do Princípio da Unidade de Comando, agravado pelo não-reconhecimento da posição e descoordenação  dos ataques terrestres e destes com os navais.

Era impositivo um comando único. E Caxias, conservador, foi enviado por liberais para comandar a guerra e arquitetou suas vitórias. Depois de obter suficiente suporte logístico passou a ação. Flanqueou Humaitá e fez cair, pela manobra, este objetivo militar estratégico que deteve por 2 anos os aliados. A sua ultrapassagem e conquista representou a perda da capacidade defensiva estratégica adversária. Para vencê-la, Caxias usou dois balões cativos de reconhecimento que mandou vir dos EUA e que inicialmente foram operados pelos irmãos Allen, veteranos do Exército da União na Guerra de Secessão. A nossa Marinha construiu pequena ferrovia para realizar o apoio logístico, de parte da nossa Esquadra infiltrada entre as fortalezas adversárias de Curupaiti e Humaitá.

Prosseguindo rumo ao objetivo final - Assunção, os aliados se defrontaram com fortificações apoiadas no arroio Piquiciri. Para ultrapassá-las, Caxias concebeu o ousado plano de abordá-las através de estrada a construir sobre o Chaco, para cair, de surpresa, sobre a retaguarda profunda do adversário, cortando a ligação que este mantinha com Assunção.

Seu plano implicava em correr risco calculado, ou seja: Sacrificar o princípio de guerra Segurança, ao atravessar como grosso de suas tropas uma região sujeita as inundações repentinas. Isto, em beneficio do princípio de guerra Surpresa. No caso, desembarcar na retaguarda profunda adversária, sem lá ser esperado e colher assim todas as vantagens militares decorrentes.

O Corpo de Pontoneiros do Rio Grande do Sul e o Corpo de Engenheiros do Rio de Janeiro executaram, com grandes sacrifícios, 8 pontes e cerca de 8 quilômetros de picadas, e estivaram  com milhares de  palmeiras o caminho da vitória aliada - a Estrada do Chaco. Feito épico orgulho de nossa Engenharia de Combate e sobre a qual marcharam os infantes, cavalgaram os cavalarianos e foram tracionadas  algumas peças de Artilharia que, sob o comando pessoal do atual Duque de Caxias e Patrono do Exército Brasileiro e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, caíram, de surpresa, na retaguarda adversária em Santo Antônio, obtendo a surpresa estratégica. Esta era uma circunstância incomum na guerra e o prêmio mais cobiçado dos verdadeiros artistas da guerra, por proporcionar a vitória com o mínimo desgaste e com o máximo rendimento militar.

Teve lugar então a Dezembrada, conjunto de batalhas tais como Itororó, Avai, Vileta, Lomas Valentinas, que acabaram com a capacidade defensiva tática do adversário, obrigando-o a refugiar-se nas montanhas e deixando livre e aberto o caminho para o objetivo final - Assunção, cuja ocupação aliada caracterizou, no campo estratégico, o fim da guerra.

 A redução das últimas resistências adversárias ficou a cargo do Conde D'eu, genro do Imperador D. Pedro II. A Guerra teve seu epílogo em Cerro Corá, em 1º de março de 1870, com a morte, em ação, do Marechal Solano López, que morreu de espada em punho, como um bravo, coerente com seu ideal que na ocasião chocava-se com o interesse nacional brasileiro e se constituiu em ameaça á Soberania e integridade do Brasil. São coisas de um passado longínquas feridas cicatrizadas, e alicerces para uma cooperação mais íntima e produtiva para o futuro das nações envolvidas neste sangrento e lamentável conflito para estudá-lo visando um sistema conjunto de defesa do Mercosul. Foi lamentável as obras no Brasil A guerra do Paraguai genocídio americano e no Paraguai Rugidos de los Leones e ultra pragmática.

 

Os 4 grandes generais adversários

 

Neste conflito enfrentamos um dos mais valorosos e disciplinados soldados sul-americanos e, em sentido figurado, cinco grandes generais adversários, que explicam as dificuldades enfrentadas pelos aliados até Assunção e a grande duração do conflito. Foram estes os generais aliados do adversário:

-          O general Distância de Apoio Logístico, ou seja, a distância do Centro do Poder do Brasil no Rio de Janeiro, separado do TO, nos confins da Bacia do Prata, por milhares de quilômetros de caminhos marítimos e fluviais. Este general temível seria mais tarde enfrentado pela Inglaterra na Guerra dos Bôeres, na África do Sul e pela Rússia, na Guerra Russo-Japonesa, no TO da Coréia e em data mais recente pela Inglaterra na Guerra das Malvinas.

-          O General Terreno Adversário desconhecido, difícil por natureza e agravado por centenas de fortificações naturais e artificiais.

-          O General Rio Paraná, interposto inicialmente entre os aliados e adversários  em Passo da Pátria, obstáculo de vulto vencido com grandes sacrifícios e enfrentado depois da invasão, separando a Zona de Administração Aliada, em Corrientes, da Zona de Combate em território adversário.

-          Os Generais Tifo e Cólera, que ceifaram milhares de vidas aliadas ou chegaram, em períodos críticos, a neutralizar a capacidade ofensiva tática aliada.

 

 

           Reflexos da Guerra na consolidação do Exército

     

Esta guerra, em plena  Era Industrial, veio comprovar que um exército não mais podia ser improvisado, de uma hora para outra, em razão da crescente sofisticação da Ciência da Guerra.

Em realidade, desde a sua criação, em 1824, o Exército Brasileiro sofreu diversas pressões que se refletiram negativamente em sua consolidação.

A principal delas foi a criação da Guarda Nacional, na Regência, cópia mal feita das similares da França e Estados Unidos. Esta instituição perdurou até a I Guerra Mundial, quando foi absorvida como 2ª linha do Exército no governo de Wenceslau Brás. Graças ao prestígio do Duque de Caxias e dos Marechais Osório e Câmara, heróis desta Guerra  e Ministros da Guerra entre 1870/80, foram minimizados pós Guerra os esforços tendentes ao enfraquecimento e desprestígio do Exército.

No bojo da luta republicana, fruto da Questão Militar emergiram no Exército duas correntes: A dos profissionais militares, desejos de um Exército forte á altura das necessidades de Segurança Nacional e, a dos científicos, ou bacharéis em Ciências Físicas e Matemáticas, adeptos do Positivismo - a religião da Humanidade - , cujos reflexos na consolidação da instituição foram prejudiciais. Isto, em razão de seus adeptos militares não interpretarem e praticarem a nova filosofia, como o fez o marechal Rondon. Este, a um só tempo  dedicado à integração do Brasil, ao   índio, e á Humanidade. E profissional de raros méritos, encarregado de combater a Revolução de 24. por  indicação do  General Gamelin, chefe da Missão Militar Francesa, Por julgar que Rondo reunia, na época, as melhores condições para comandar o Exército Brasileiro numa eventualidade de guerra. A corrente dos profissionais representada no Governo por Deodoro e Floriano não se fez ouvir.

Predominou a corrente dos científicos, com o regulamento do Ensino Militar de 1874, reforçado com o baixado pelo Ministro da Guerra Benjamin Constant, em 1889. Regulamento voltado exclusivamente para a formação de oficiais bacharéis em Ciências Físicas e Matemáticas, sem a necessária formação militar e que ridicularizaram nossas tradições militares e debochavam, segundo Tasso Fragoso, dos desfiles dos veteranos do Paraguai  que marchavam com os peitos cobertos de medalhas. Assim Tasso Fragoso caracterizou este descaso de expressiva parte da oficialidade bacharel em Ciências Físicas  e Matemáticas em apresentação de seu livro A batalha do Passo do Rosário em 1922, um verdadeiro  ato de contrição , por arrependido nas teorias que eu denunciava praticadas por oficiais que procuravam justificar seus atos como adeptos de um mal interpretado  Positivismo, a religião da Humanidade . Aos poucos da admiração a seu mestre Benjamin Constante terminou por a trasnferír para o Marechal Floriano.

A idéia de formar oficiais bacharéis em Ciências Físicas e Matemáticas,    segundo pesquisa na Escola da Praia Vermelha, visava melhorar o nível social dos oficiais. Pois  pois vivendo a oficialidade em constantes guerras desde 1816, casar com um deles significava viuvez e orfandade potencial sem amparo previdenciário  Assim para casar as moças preferiam, em principio,  os doutores em Direito, Medicina e Engenharia  ou os filhos de  abastados proprietários rurais e comerciante,. Mas a realidade é que estes oficiais engenheiros se voltarem para outras atividades estranhas a defesa nacionale preferiam o titulo de Engenheiro ao posto militar.

Por isto o Brasil pagou alto preço em Canudos, na Bahia, e na Revolução Federalista (1893/95), no Rio Grande Sul, Paraná e Santa Catarina, onde o Exército revelou o mais baixo índice de operacionalidade de sua história. Os oficiais bacharéis estavam na política ou na administração. A tropa estava acéfala, liderada por muitos chefes em maioria  improvisados, despreparados e manipulados por lideranças políticas estaduais. A isto tudo assistiram imponentes alguns adeptos do profissionalismo militar, veteranos e filhos ou parentes de chefes da Guerra do Paraguai, como Hermes da Fonseca, João Nepomuceno Medeiros Mallet, Bernardino Bormam, Machado Bittencourt - atual Patrono da Intendência - e outros. Mallet criou o Estado-Maior  do Exército em Piquete atual a primeira fábrica de pólvora sem fumaça da América Latina , que se constituíram em ponto de inflexão  e do início de uma gradativa Reforma Militar, visando o progresso e consolidação do Exército profissional. Machado Bittencourt introduziu o suporte logístico nas operações em Canudos.

Em 1904. Hermes da Fonseca, Comandante da Guarnição do Rio, realizou as primeiras manobras do Exército em Santa Cruz, reeditando esforços do Conde D`Eu, do qual fora ajudante de ordens e que  por volta de 1885 realizara manobras militares em Santa Cruz, Realengo, Várzea em Porto Alegre, defronte o atual Colégio Militar  e em Saicã.

Na Escola Militar da Praia Vermelha reinavam os científicos.que tinha por missão desenvover a Doutrina do Exército e não faziam .

Por esta época teve lugar, na referida Escola, a ridícula Revolução da Vacina Obrigatória em 1904. Chegara a oportunidade para corrente profissional do Exército. A escola foi fechada por um ano e depois extinta. A reforma de 1905 extinguiu o título de Alferes o substituindo pelo de Aspirante a oficial e eliminou o bacharelismo militar (1874-1905). Os antigos Tenentes e Capitães do Exército, veteranos da Guerra do Paraguai  retomaram o elo perdido do profissionalismo militar. E teve inicio a consolidação da Reforma Militar(1898-1945).

 . A seguir a implantação do Serviço Militar Obrigatório e a extinção da Guarda Nacional como 2ª linha do Exército durante a Primeira Guerra Mundial no Governo do ilustre mineiro e amigo do Exército Dr. Wenceslau Brás, personalidade marcante a quem se deve a localização  em Itajubá, do 4º Batalhão de Engenharia de Combate, o qual  comandei de 1981/82.

Afastada a Guarda Nacional, outra ameaça à consolidação do Exército se fez sentir, particularmente a partir de 1922. Foi o super dimensionamento das Policias Militares, dotadas algumas de todas as armas, blindados e até aviação e com capacidade de operar em outros estados, desviando-se, por contingências, das funções precípuas de Segurança Pública.

Esta ameaça foi superada com a Revolução de 1930, liderada no campo militar por  ex-alunos da Missão Indígena( 1819/22), da Escola Militar do Realengo e formada por equipe de instrutores de escol, selecionada em concurso pelo Estado – Maior do Exército. Missão Indígena  que formou oficiais  de alto padrão profissional e com uma visão ampla, realista e nacionalista dos caminhos a serem percorridos pelo Brasil para atingir o seu destino de grandeza. Dai surgiu o tenentismo em luta contra as oligarquias

 Dentre estes instrutores mencione-se o então Capitão Euclides de Figueiredo, pai do nosso ex-presidente da República João Figueiredo e o então Tenente Odílio Denys, tão ligado à articulação, liderança e êxito da Contra Revolução de 64, que de Minas Gerais se espraiou vitoriosa por todo o Brasil.

Foram os alunos da Missão Indígena 1918/22 que criaram a Escola Superior de Guerra.

Penso que a Missão Indígena foi uma projeção, no campo militar, do espírito da Semana de Arte Moderna, com vistas a não interferência da Missão Francesa na formação dos oficiais do Exército, para que estes passasem a olhar para um Exército com sua doutrina genuína, um velho sonho de Caxias em 1865, ao adaptar a Doutrina de Portugal, de influência inglesa, as realidades operacionais que ele vivenciara nas 4 campanhas pacificadoras  que comandara e na Guerra contra Oribe e Rosas 1851/52.

  

  Permanência dos Ensinamentos Cívicos da Guerra

 

Os ensinamentos cívicos da Guerra de Paraguai continuam evidentes na vida nacional  e, em especial, no Exército e na Marinha. O Patrono do Exército é o Duque de Caxias, o arquiteto da vitória rápida nessa guerra. Outros heróis do conflito como Osório, Sampaio, Mallet, Vilagran Cabrita, Severiano da Fonseca, Machado Bittencourt e Antônio João são os vultos maiores da Cavalaria, Infantaria, Artilharia, Engenharia, Serviço de Saúde e Oficiais do Quadro Auxiliar.

Andrade Neves, Câmara, Conrado Bittencourt, Tiburcío, Deodoro Floriano e muitos outros tem seus exemplos evocados quase que diariamente em todos os quartéis do Brasil. Milhares de ruas, praças e edifícios espalhados pelo país imortalizam os nomes dos bravos citados e evocam seus exemplos. Poderia afirmar que a maioria das tradições do nosso Exército possui fundamentos em sua participação neste conflito.

Foi dos campos do Paraguai que teve início a chama da Abolição, acendida pela oficialidade, em campanha, e transmitida ao Visconde de Rio Branco em memorável sessão que ele presidiu na Loja Maçônica Fé, em Assunção.

De retorno ao Brasil, sob o impacto da forte pressão recebida, assomou á Tribuna do Senado por diversas vezes, até ver, no ano seguinte àquela reunião, aprovada a Lei do Ventre Livre, primeiro passo da Abolição.

Permanecem vivos os ensinamentos cívicos à nossa Marinha legados por Barroso, Greenhalgh,  Marcílio Dias, em Riachuelo, e os de Ana Nery, Rosa da Fonseca e Ludovina Portocarrero, exemplos mais ilustrativos do valor e patriotismo da mulher brasileira.

 

 

Significado das Operações na Formação das novas Gerações do Exército e da manipulação política de sua história

 

A guerra do Paraguai ofereceu um manancial de ensinamentos às futuras gerações militares do Exército e da Marinha. Pouco foi explorado, criticamente, até o presente, conforme evidenciamos. Quem vem pesquisando há 50 anos são as sucessivas equipes de instrutores de História Militar de nossa Academia Militar. E isto em aspectos relativos á análise crítica dos Princípios de Guerra e Qualidades de Chefia, Virtudes Militares, características do Soldado brasileiro, elementos do Fator Militar, com vistas aos objetivos da Portaria 061/77 do EME além de uma infinidade de itens e assuntos que compõem uma Doutrina Militar nos campos da Organização, Equipamento, Instrução, Desenvolvimento das Forças Morais da Guerra e Emprego operacional de um Exército.

E, hoje, sob o impulso do Objetivo Estratégico atual nº1 do Exército, assim definido quando Ministro da Guerra o Gen. Ex Zenildo Zoroastro de Lucena e reafirmado por seus sucessores.

Pesquisar, preservar, cultuar e divulgar a História, as Tradições e os Valores morais, culturais  e históricos do Exército Brasileiro.

Objetivo em cuja preservação e conquista a Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) desde que criada em 1996 o estendeu as demais forças terrestres que estuda e se esforça para ajudar o Exército a conquistar, com o concurso de historiadores do Exército, da Infantaria da Aeronáutica, dos Fuzileiros Navais e Policias e Bombeiros Militares  e de historiadores civis interessados. Atuação  sem  apoio governamental oficial .

No tocante a Guerra do Paraguai, com o objetivo de desfazer o profundo mal causado pela profunda deformação causada pela obra A Guerra do Paraguai genocídio americano que teve ampla e profunda penetração e aceitação no meio estudantil, surgiu a notável obra A Maldita Guerra do historiador civil Francisco Doratioto, hoje membro acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil. A esta obra que procurou assassinar a verdade histórica e confundir uma legião de inocentes úteis com objetivos ideológicos some-se no Paraguai a obra do mesmo estilo,  mas apoiada pelo governo intitulada Rugidos de los Leones, que nada tem a ver com a realidade ocorrida neste conflito, que lã confundiu uma legião de paraguaios inocentes úteis.

No tocante a obra A Guerra do Paraguai genocídio americano a preocupação de historiadores brasileiros foi a de esclarecer a acusação da existência de um documento em Buenos Aires comprovando um conluio entre o presidente Mitre e Caxias no sentido de serem lançados cadáveres de coléricos no rio Paraná para levados pela correnteza contaminarem com cólera a oposição a Mitre.

E em visita a Argentina o General Professor Jonas Correia Filho se deslocou até o Museu Mitre, em Buenos Aires, a procura do citado documento. E o que encontrou foi um panfleto político contra o presidente Mitre, dirigido os eleitores argentinos o que muitos acreditaram na época. Este livro foi também respondido pelo falecido historiador sul-matogrossense Acyr Vaz Guimarães, mas com pouca penetração.

Como Diretor  do Arquivo Histórico do Exército promovemos um encontro com diversos historiadores no Rio de Janeiro para colher suas opiniões sobre o citado livro. E os resultados os levamos em palestra ao Corpo de Cadetes na AMAN ,em cujo seio o maldito livro deixara duvidas resultado de contados de cadetes com estudantes que acreditavam nas fantasias constantes da obra. Recordo que o citado livro merecia a condenação unânime de consagrados historiadores brasileiros e que não rebatiam por julgar que o seu autor não era um historiador. E debater com ele o assunto seria aumentar  o prestigio de sua obra que se tornou um lucrativo negócio pelo grande número de edições. Hoje aos poucos jovens com espírito crítico constatam a falsidades dos conceitos do citado livro por não baseado em fontes históricas integras, autênticas e fidedignas e sim em pura manipulação da história.

Estas manipulações nos fazem recordar um mural existente no Museu da Republica no Palácio do Catete assim em principio escrito.

O passado (ou a História) é um uma extensa planície onde correm dois rios. Um deles e um rio reto de margens firmes e bem definidas e regime hídrico constante. Este o rio da História , como fruto da analise e interpretação  de fontes históricas integras, autenticas e fidedignas, O outro, é um   e cheio de curvas e meandros e de margens e regime hídrico instáveis sujeito a perigosos alagamentos. e enchentes. Este é o rio do Mito, fruto de manipulações da História motivadas, por ignorância, motivações políticas varias e particularmente ideológicas, calúnias, vinganças e uma série de outras manipulações  que deturpam a realidade histórica e à luz de interesses subalternos,

Lamentavelmente predominantes  entre nós, o que Rui Barbosa já assinalava em seu tempo.

 

(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do RGS