MESTRE DE CAMPO ANTÔNIO DIAS CARDOSO

O PATRONO da TURMA DA AMAN de 27 NOV 2003

(O estrategista e tático da Insurreição de Pernambuco)

Coronel Cláudio Moreira Bento(x)

 

 

Sargento Mor Antônio Dias Cardoso

(Gravura na História do Exército Brasileiro ,v.1,p.154 elaborada pelo patrono de cadeira na AHIMTB, Miranda Junior, com apoio em monumento em Vitória de Santo Antào- PE)

 

Um breve histórico que se impõe

Em 1970 ,egresso da ECEME, fomos estagiar no Comando do IV Exército em Recife, atual Comando Militar do Nordeste. Lá fomos encarregados de coordenar o planejamento, a construção e a inauguração do Parque Histórico Nacional dos Guararapes. E para bem cumprir a missão recebemos o encargo de estudar e interpretar, a luz dos fundamentos da Arte e da Ciência Militar, as duas batalhas do Guararapes. Disto resultou o nosso livro As Batalhas dos Guararapes análise e descrição militar, publicado em 1971 em 2 volumes(texto e mapas) pela Universidade Federal de Pernambuco e lançado ainda nesta ano na inauguração do citado parque, em cerimonia presidida pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici.

No curso desta pesquisa nossa atenção foi chamada para a figura extraordinária do então Sargento Mór( major) Antônio Dias Cardoso, profissional militar destacado , que a semelhança de um líder de forças especiais, como hoje se entende, foi enviado da Bahia a Pernambuco para, na Mata do Pau Brasil de Pernambuco organizar uma guerrilha, com vistas a liberar Pernambuco do domínio holandês. E o modo notável como bem desempenhou sua missão com tático e estrategista consumado na Guerra Brasílica, ou guerra de guerrilha ou de Emboscadas, não tinha sido destacada ,o que fizemos então em artigos na imprensa e em nosso citado livro e depois na História do Exército Brasileiro onde atuamos como historiador convidado pelo Estado –Maior do Exército e encarregado do capítulo sobre as Guerras Holandesas. Creio que nosso livro esteja ligado ao bairro Guararapes da AMAN, onde o pouco conhecido guerreiro Antônio Dias Cardoso deu o seu nome a uma das ruas deste bairro. A História do Exército Brasileiro editada pelo Estado - Maior do Exército em 1972, em 3 v, repercutiu no Batalhão de Forças Especiais do Exército que reproduziu sua gravura da citada História do Exército e a intronizou em suas instalações .Mais tarde, a convite do comandante do Batalhão de Forças Especiais e ao tempo que comandava o COTER o Gen Ex Fajardo, fomos lá convidados a ajudar a instruir o processo que culminou com a consagração do Sargento Mór Antônio Dias Cardoso como patrono das Forças Especiais do Exército Brasileiro para, finalmente, agora ser o patrono da Turma de 27 de novembro de Aspirantes egressos da AMAN .Herói que é o terceiro de patente mais baixa a ser consagrado patrono de Turma da AMAN . O primeiro foi o Alferes Tiradentes, hoje patrono Cívico da Nacionalidade e o segundo o Aspirante Francisco Mega , o único Aspirante egresso da Escola Militar do Realengo a morrer em ação na Itália

 

Quem foi Antônio Dias Cardoso ?

Mestre de Campo Antônio Dias Cardoso, posto máximo que conquistou foi um profissional militar, que após destacada participação militar contra o invasor holandês, faleceu no Recife em setembro de 1670.

Este bravo, por longo tempo não ocupou o lugar que de direito e de justiça lhe cabia na História do Brasil, pelo fato de ter sido o arquiteto e o condutor militar da "Célula Mater" do Exército Brasileiro, nas memoráveis batalhas de Monte das Tabocas e Casa Forte.

Estas batalhas, por ele vencidas, abriram a campanha da Restauração e mostraram a Pernambuco, Bahia e Portugal, a viabilidade militar da expulsão dos holandeses, a base de guerrilha ou da Guerra Brasílica sem Interferência direta do último.

 

Dias Cardoso na batalha do Monte das Tabocas

Na memorável batalha do Monte das Tabocas, em que um sonho de Sentimento de Pátria se tornou um sentimento real, através de uma vitória militar, dela estiveram ausentes os grandes restauradores de Pernambuco, Barreto de Menezes, Henrique Dias, Vidal de Negreiros e Filipe Camarão.

Esteve presente somente o líder civil do movimento, Fernandes Vieira, que por não possuir habilitação militar, ficou encarregado de comandar a Reserva, constituída de bravos pernambucanos armados de bordões e de paus tostados utilizados à guisa de chuços.( uma espécie de lança).

No Monte das Tabocas, Dias Cardoso com 900 civis pernambucanos transformados num pequeno exército, e bem conduzidos militarmente, dentro dos Princípios de Guerra, venceu apreciável parcela de um grande exército profissional europeu de 1.500 homens.

Aos holandeses armados com 1.200 modernas armas de fogo e comandados pelo Ten CeI Hendrick Haus, Comandante em Chefe dos holandeses no Brasil, Dias Cardoso se opôs com 250 armas de fogo das mais diferentes espécies, e impôs sua vontade ao inimigo.

Dias Cardoso, segundo depoimento de André Vidal de Negreiros, foi por ele indicado ao Governador Geral do Brasil Antônio Teles da Silva, para ser enviado secretamente a Pernambuco, com a missão de organizar militarmente os pernambucanos num pequeno exército, e, em intima ligação com Fernandes Vieira, o catalisador da reação insurrecional.

E a razão da escolha, segundo Vidal de Negreiros, prendia-se a sua competência militar, coragem invulgar, discrição, e profundo conhecimento de Pernambuco.

Munido de documento que simulava ser um desertor, Dias Cardoso, acompanhado de quatro companheiros, viajou 160 léguas da Bahia a Pernambuco, enfrentando toda a sorte de privações e perigos de vida constantes, ao atravessar regiões dominadas por índios e negros revoltados, e ao atravessar a nado rios caudalosos, para evitar ser pressentido pelo inimigo.

Chegando a Pernambuco, se apresentou a Fernandes Vieira, dando-lhe conta da missão e do dispositivo holandês ao longo do itinerário.

A seguir, escondido pelas matas e engenhos, pelo espaço de seis meses, entregou-se à tarefa de recrutar e treinar militarmente patriotas pernambucanos. Enfim, a dar corpo ao pequeno exército que derrotaria o inimigo do Monte das Tabocas.

Este pequeno exército [pode ser hoje considerado, sem sombra de dúvidas, a "Célula Matar" o Exército Brasileiro, e Dias Cardoso seu organizador e primeiro condutor no caminho da vitória.

Chegando em Pernambuco Dias Cardoso foi elevado à condição de Governador das Arma. Pressentido pelos holandeses, estes moveram lhe intensa caça, obrigando-o, segundo Fernandes Vieira, "a viver escondido nas matas durante sete meses, adestrando sua tropa", até que fosse decidido o levante restaurador, já na certeza do respaldo militar do exército organizado por Dias Cardoso.

No levante decidido em 23 de maio de 1645, através de Compromisso de Honra, firmado por Fernandes Vieira e mais 18 companheiros, constou pela vez primeira a idéia do sentimento de Pátria ou Nacionalidade ,através deste trecho:

"Nós abaixo assinados, nos conjuramos e prometemos em serviço da liberdade, não faltar em nenhum tempo, com toda a ajuda de fazendas (Engenhos) contra qualquer inimigo (incluía até Portugal) na Restauração de nossa Pátria".

Neste exato momento surgiu documentado o Sentimento de Pátria aqui no Brasil, respaldado na força militar que havia sido organizada e treinada nos seis meses anteriores a este Compromisso de Honra, e sob intensa perseguição holandesa, nas matas e engenhos do interior de Pernambuco.

E aqui cabe perguntar aos leitores à semelhança da célebre questão filosófica "quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?". Quem nasceu primeiro, o sentimento de Exército Brasileiro ou o de Pátria Brasileira?

O Sargento- Mór Antônio Dias Cardoso, antes e após a Batalha do Monte das Tabocas, na qualidade de militar profissional, "prestou assinalados e heróicos serviços militares".

Nascido no Porto no início do século 17, transferiu-se ainda jovem para o Brasil, terra que adotou como Pátria.

Em 7 de fevereiro de 1624, ele assentou praça como soldado na Bahia e participou ativamente da expulsão dos holandeses daquela parte da colônia, "servindo à causa com muita competência e honradez".

Quando da invasão de Pernambuco, participou de diversos combates contra os holandeses nos arredores de Olinda e Recife.

Em 1630, na Campina do Taborda, tomou parte numa emboscada, sendo, então, um fator decisivo para a vitória, "ao enfrentar o inimigo em campo aberto e a espada, ferindo e aprisionando muitos". .

Lutou com grande valor em Salinas, Olinda, Afogados e na Praia do Recife, e nesta, durante sete horas em campo raso, em pugna da qual resultaram muitos mortos e feridos de ambos os lados.

Após 11 anos, como destacado e valente soldado, foi galardoado com o posto de Alferes no ano de 1635. Nesta ocasião se encontrava em Serinhaém juntamente com Matias de Albuquerque.

Com a perda do Arraial Velho do Bom Jesus e de Nazareth, 4.000 habitantes da campanha foram obrigados a marchar para Alagoas sob proteção militar. Dias Cardoso foi elemento fundamental nesta proteção.

Nesta marcha participou com destaque, no ataque, cerco e rendição dos holandeses fortificados em Porto Calvo, ocasião em que foi preso e justiçado o traidor Calabar.

Extinta sua companhia em 1636, ingressou como soldado na companhia do Capitão Sebastião Souto, o mais audacioso, temível e intrépido comandante de Pernambuco, considerado o mais extraordinário mestre em Guerra de Emboscadas e ataques de surpresa, ou na Guerra Brasílica.

Em 18 de maio de 1638, vamos encontrar estes dois bravos defendendo a trincheira de Santo Antônio, em Salvador, ocasião em que foi morto o intrépido Sebastião Souto. Sucedeu-lhe no comando da companhia e à altura, o bravo Dias Cardoso.

Extinta esta destacada unidade, ingressou na do terço do Capitão André Vidal de Negreiros, de quem pouco após seria Ajudante.

Acerca de sua valiosa participação na luta contra os holandeses, no período de 1630-1639, assim o elogiou uma alta patente militar da época:

"Com assiduidade, cumpriu com valor seus deveres militares, quer por ocasião de combates com inimigo por terra e por mar, quer em outros serviços particulares que lhe atribuíram. Neste período marchou com freqüência muitas léguas à procura de combate com inimigo, à custa de muitos trabalhos, sofrimentos e riscos de vida, atento mais ao serviço do Rei que à sua própria sorte. Trabalhou nas muitas fortificações que por aqui se fizeram, carregando terra e faxina para a construção das mesmas. Antônio Dias Cardoso foi um dos que prestaram os mais relevantes serviços a Portugal naquela guerra".

Em 1640, o Governador Geral do Brasil, sabedor do valor de Dias Cardoso, o enviou a Pernambuco. No comando de um barco veio com a missão de espionar o dispositivo e intenção dos holandeses no Recife, correspondendo no resultado da missão, segundo o próprio Governador Geral, "de acordo com a confiança que nele depositei".

Pouco após seria reformado como capitão, situação em que se encontrava quando foi indicado ao Governador Geral Teles, por Vidal de Negreiros, como homem certo para organizar o Exército da Restauração Pernambucana, "Célula Mater" do Exército Brasileiro, hoje representado no Nordeste pelo Comando Militar do Nordeste .

Após a batalha da Casa Forte, da qual foi o arquiteto inconteste, participou ao lado de Vieira, Henrique Dias e Camarão, da parte mais árdua e perigosa, do violento ataque à Vila da Conceição, na Ilha de Itamaracá.

Dias Cardoso foi o único comandante a penetrar no recinto fortificado, e obrigado a recuar sob forte reação do defensor, deixou em sua esteira os corpos de 67 compatriotas, incluindo-se 30 holandeses do terço flamengo ao comando do Mestre de Campo Dirk Van Hoogrtraten, que, após se renderem no Pontal, aderiram à causa Iuso- brasileira.

Segundo o próprio João Fernandes Vieira, Dias Cardoso participou de inúmeros ataques e contra-ataques nos Afogados, "ordenando e dispondo as forças de combate na maior ordem".

Em junho de 1646, ao lado de Vieira e de Vidal de Negreiros, tomou parte da ação que culminou com o aprisionamento de três embarcações flamengas fundeadas entre Itamaracá e o Continente, o que ocasionou o abandono holandês da "Cidadezinha de Schkoppe" na referida ilha.

Após, foi encarregado de atacar e arrasar as fortificações da Ilha de Itamaracá, no que procedeu com a eficiência e coragem costumeiras.

Da ilha, após ingentes sacrifícios, utilizando barcos, batéis e jangadas, fez transportar para o Arraial Novo do Bom Jesus e outros sítios, 18 peças de artilharia conquistadas ao inimigo.

Com algumas destas peças ele organizou redutos fronteiros à ilha de Itamaracá.

Dias Cardoso na 1a Batalha dos Guararapes

 

Na primeira batalha dos Guararapes, coube-lhe papel de destaque e decisivo, na qualidade de Sargento- Mór do Terço de Fernandes Vieira, ou o segundo em comando.

A este terço coube a parte principal nesta batalha, por ter conduzido o fulminante ataque frontal principal sobre os holandeses, através do Boqueirão, entre o monte do Oitizeiro e os Alagados.

Deste ataque resultou o rompimento do grosso do dispositivo holandês, seguido de envolvimento de sua ala esquerda sobre os Alagados, onde centenas de holandeses vieram encontrar a morte.

Fernandes Vieira era um líder civil, e embora não exista nada reconhecendo que o plano e direção do ataque no Boqueirão tenha estado a cargo do Sargento- Mór Dias Cardoso, é fácil de se deduzir, pelos brilhantes antecedentes militares deste bravo, que a destruição do Exército Holandês no Boqueirão dos Montes Guararapes, teve o selo de seu valor militar, provado de sobejo no Monte das Tabocas e na Casa Forte.

Neste mesmo ano, foi mandado por Barreto de Menezes até Igaraçu com 200 homens do seu terço, para retirar de plantações abandonadas, mandioca necessária ao Arraial Novo.

Nesta expedição ele armou diversas emboscadas, prendeu 33 holandeses, e queimou três lanchas inimigas que lhe disputavam os mandiocais.

Um mês antes da 2ª Batalha dos Guararapes, este gigante da Restauração foi enviado por Barreto de Menezes à Paraíba, com a missão de distrair o inimigo, e destruir-lhe as plantações e tropas de gado.

Dias Cardoso retornou vitorioso de sua missão, após marchar 25 léguas pelo sertão, abrindo caminhos novos pelas matas, e com um saldo de 11 inimigos mortos, além de copiosa presa de guerra em armamento e suprimentos.

 

Dias Cardoso na 2a Batalha dos Guararapes

Na 2ª Batalha dos Guararapes coube-lhe importante missão: Combinar com o ataque de flanco desfechado por VidaI de Negreiros, sobre um regimento inimigo em posição nas alturas da atual Igreja N. S. dos Prazeres, violento ataque de desorganização levado a efeito por troços a seu comando, sobre a retaguarda de dito regimento inimigo, e duas peças de Artilharia em posição no dito monte.

Dentro de uma batalha convencional, Dias Cardoso empregou uma ação de emboscada, tipo de manobra em que era um mestre.

Após a batalha foi concertado um Armistício para a troca de mortos e feridos, e Dias Cardoso foi encarregado de representar os luso-brasileiros neste intercâmbio.

Na ocasião, ao fazer a um capitão holandês de clavineiros, referências depreciativas ao modo de combater inimigo, se estabeleceu entre os dois o seguinte diálogo:

Capitão holandês - raivoso e chorando - "Da próxima vez iremos combater dispersos como vocês o fazem".

Dias Cardoso: - "Melhor para nós, pois para cada soldado vosso combatendo disperso necessitareis de um capitão, enquanto que cada soldado nosso, combatendo de igual forma, representa um capitão".

Em janeiro de 1651 foi enviado à Bahia para expulsar os holandeses de Penedo, no São Francisco. Percebendo o inimigo sua aproximação, recolheu-se à sua base de operação do Recife.

Ao retornar, ele limpou a campanha, e fez seus moradores retornarem aos lares e retomarem as atividades econômicas normais.

Retornou mais duas vezes ao rio São Francisco de ordem de Barreto de Menezes, para adquirir mantimentos para os restauradores no Arraial Novo.

Em 20 de maio de 1652, por ordem ainda de Barreto de Menezes, marchou ao comando de 500 homens do Terço de Barreto, com mais 100 índios e negros, em missão de guerra na Paraíba e Rio Grande do Norte.

Dias Cardoso devia destruir as lavouras e feitorias de pau-brasil que os holandeses possuíam nesses atuais Estados, e se apossar da fonte de abastecimento d'água da fortaleza inimiga no Rio Grande do Norte, e assim negociar a rendição.

A missão de destruição da fortaleza não foi colimada, em razão dos holandeses no Rio Grande do Norte terem recebido aviso de sua expedição.

A despeito disto, retornou carregado de víveres para o Exército Restaurador no Arraial Novo do Bom Jesus, além de 7 holandeses prisioneiros e outras presas de guerra.

Na fase final da guerra, Dias Cardoso se ocupou do comando de operações que culminaram com a queda no Recife, do Forte do Rego e do Reduto Amélia.

Em 4 de fevereiro de 1655, Dias Cardoso foi armado Cavaleiro da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e, a 12, foi encarregado de comandar o Terço de João Fernandes Vieira enquanto este governasse a Paraíba.

Em 12 de maio de 1656 foi nomeado Mestre de Campo, após 32 anos de excepcional carreira militar iniciada como soldado.

Durante alguns meses do ano de 1657, Dias Cardoso, nomeado por Vidal de Negreiros, assumiu o governo interino da Paraíba.

Dias Cardoso faleceu no Recife provavelmente em setembro de 1670, com a idade aproximada de 70 anos, no comando do Terço que fora de Fernandes Vieira, de tão gloriosas tradições nas duas batalhas dos Guararapes.

Esta síntese biográfica se baseia na interpretação dos seguintes trabalhos: Os Restauradores de Pernambuco, de José Antônio Gonsalves de Mello, Do Recôncavo aos Guararapes do Gen Antônio Souza Aguiar e 1ª Batalha dos Guararapes de Jordão Emerenciano.

A José Antônio Gonsalves de Mello coube revelar à posteridade, o valor de Dias Cardoso, através de profunda pesquisa sobre este grande restaurador em sua obra já citada.

A lembrança de seu nome como patrono da Turma de Oficias egressas da , em 27 de novembro de 2003 é oportuna, para que leve ao conhecimento de interessados um personagem histórico digno de figurar, com realce, sem favor nenhum, ao lado de Barreto de Menezes, Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Filipe Camarão, heróis consagrados na épica campanha da Insurreição de Pernambuco.

O currículo militar do Mestre de Campo Antônio Dias Cardoso, por sua bravura, intrepidez e liderança em combate, por sua origem popular galgando os postos à custa de dezenas de ações vitoriosas, e pelo número de anos em campanha, muito se assemelha à carreira do Marechal Manoel Luiz Osório.

A Dias Cardoso, não analisada a projeção de sua obra na formação da nacionalidade e na manutenção da Integridade e Unidades do Brasil, cabe entre outros os seguintes títulos: Precursor do Exército Brasileiro, Arquiteto Militar da Restauração Pernambucana, O Vencedor da batalha do Monte das Tabocas, O Mestre das Emboscadas, O Abastecedor do Exército Restaurador, A Espada da Restauração de Pernambuco, e por fim O Organizador e Primeiro Comandante do Exército Brasileiro que nasceu em Pernambuco.

Contribuir para avivar, na memória do bravo povo brasileiro , a lembrança de um grande herói ligado intimamente a seu passado, constitui-se para nós um agradável dever cívico, e principalmente tratando-se de um dos maiores arquitetos militares da Unidade e Nacionalidade Brasileira.

Dias Cardoso viveu longos anos num cone de sombra pela seguinte razão:

Durante o período da Insurreição Pernambucana foi proposto o seu nome para ser elevado à condição de Mestre de Campo.

No entanto, Portugal, por razões diplomáticas não atendeu o pedido, pois assim procedendo estaria admitindo que tinha desrespeitado o armistício concertado com a Holanda, ao reconhecer que tinha enviado um agente secreto( hoje Força Especial) para organizar militarmente os patriotas pernambucanos.

Contudo, estas razões não prevalecem mais hoje, e Dias Cardoso, decorridos mais de 300 anos, ainda continua perseguido por elas.

Ao finalizar, cumprimentamos os egressos da Turma da AMAN de 27 de novembro de 2003 pelo heróico patrono que escolherem e apelamos que preservem, cultuem e divulguem a sua memória e se mirem no exemplo de soldado que ele foi, além de um grande guerreiro e um dos grandes arquiteto da Unidade e Nacionalidade do Brasil".

 

Comentários de Luiz da Câmara Cascudo sobre nosso artigo nosso sobre Dias Cardoso ,no Jornal do Comércio do Recife, de 13 de setembro de 1970

 

"Major Claudio Moreira, Bento : - Tardio nos calorosos agradecimentos pelo seu estudo- homenagem ao esquecido Mestre de Campo Antônio Dias Cardoso. Parabéns pela útil exaltação dos Dias Cardoso, soldado do Rei em serviço do Brasil, numa legitimidade heróica na tarefa inesquecível. Louvou-o muito bem, quando os profissionais de História o esqueceram. Seu estudo, incisivo e claro, denuncia o temperamento do historiador, vivendo a figura evocada, na solidariedade patriótica. Repito, Meus parabéns. Fui um velho professor de História. Seu admirador

Câmara Cascudo"

 

(Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

 

Comentário do autor

 

Ao escrevermos sobre o bravo Dias Cardoso, não pretendemos elevá-lo à posição histórica superior a dos bravos Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Henrique Dias, Filipe Camarão e Francisco Figueirôa, mas sim, situá-lo ao mesmo nível desses bravos.

Dias Cardoso era a segunda pessoa do Terço de Pernambuco ao comando de Fernandes Vieira, terço que possuía cerca de 1200 homens, número superior a todos os demais terços, os quais, oscilavam cada, em torno de 300 homens.

Se considerado que Fernandes Vieira não era militar profissional e sim de emergência, cresce ainda mais o destaque militar de Dias Cardoso, sem no entanto desmerecer a Fernandes Vieira, líder e catalisador geral inconteste, da Insurreição Pernambucana.

O leitor interessado, quando estudar a descrição da 1ª Batalha, perceberá a relevância militar do papel desempenhado por Dias Cardoso desde o Arraial Novo.

Participa do Conselho de Guerra, é enviado para verificar qual a direção de atuação escolhida pelo inimigo. No Conselho de Guerra do Ibura foi chamado como "soldado mais prático e experiente de tudo", para opinar sobre um grande impasse surgido entre Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros, aos quais Barreto de Menezes confiara a condução da batalha, por não ser prático da campanha do Brasil e das táticas aqui usadas. Seu conselho foi certo e o adotado.

Mas não fica aí sua atuação, pois chegado aos Guararapes, foi lhe confiada a atração dos holandeses e emboscada no Boqueirão, uma reedição de seu memorável feito na batalha do Monte das Tabocas por ele vencida, e que tornou possível chegar-se aos Guararapes.

Da atração com pleno êxito, dos holandeses à grande emboscada no Boqueirão dos Montes Guararapes, reside o segredo da maiúscula vitória luso-brasileira na 1ª Batalha dos Guararapes.

Na 2ª batalha o leito o encontrará atuando independente, no comando de 550 homens, sobre a ala direita holandesa apoiada no atual monte onde situa-se a Igreja N. S. dos Prazeres, e outra vez num quadro de emboscada.

As tropas que comandou numeravam quase o dobro das comandadas por Vidal de Negreiros, Francisco Figuerôa, Diogo Camarão e Henrique Dias.

Estas conclusões o autor as foi buscar na "História da Guerra de Pernambuco" de Diogo Lopes Santiago, primeiro cronista das batalhas, e quase certo, testemunha ocular das mesmas.

A Academia de História Militar Terrestre do Brasil dentro de seu programa editorial de 2004 reeditara nosso livro As batalhas dos Guararapes analise e descrição militar que se acha disponível na Internet em Livros no site no site:

www.resenet.com.br/users/ahimtb