OS 60 ANOS DA CONQUISTA DE MONTE CASTELO PELA FEB EM 21 FEVEREIRO DE 1945

Cel Cláudio Moreira Bento(x)

( Homenagem aos acadêmicos eméritos ex combatentes da FEB
e integrantes da Academia de História Militar Terrestre do Brasil )

fonte: http://www.brasilcult.pro.br/historia/feb/hist02.htm

Em 21 de fevereiro de 1945, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária FEB enfrentou e venceu o seu maior desafio operacional que foi a conquista do monte de Monte Castelo . A conquista brasileira de Monte Castelo foi o episódio mais emocionante e afirmativo da capacidade de combate do brasileiro e de sua maturidade operacional.

Neste episódio se destacou entre outros bravos o tenente Inf Cecil Wall Barbosa de Carvalho que passaria a maior parte de sua vida em Resende, onde foi professor por muitos anos de Direito, na Academia Militar das Agulhas Negras. Ele se destacou no episódio que passou a História , com Tiro Feliz, que consistiu em peça de morteiro que comandava haver atingido em cheio um ninho de metralhadora alemã

Monte Castelo, que era defendido com unhas e dentes pelo inimigo, foi alvo de cinco ataques. Os primeiro e o segundo ataques foram executados em 24 e 25 de novembro pela Força Tarefa 45 (Task Force 45) integrada por brasileiros e americanos.

Os ataques não foram bem sucedidos mas resultaram na conquista temporária de monte Belvedere. O terceiro ataque foi feito pela 1ª DIE/FEB um dia após contra ataque alemão que reconquistou Belvedere dos americanos, fato negativo no ataque brasileiro que foi flanqueado por Belvedere, ponto onde o inimigo concentrou o esforço de defesa por ser ele a chave de acesso à rica planície do rio Pó e realizado com chuva, lama e céu encoberto, do que resultou mais um justificado insucesso brasileiro.

À noite, em conferência no Passo de Futa – QG do IV Corpo, seu comandante precipitou-se e colocou em dúvida a capacidade de combate dos brasileiros e quis saber a razão do insucesso. A resposta do comandante brasileiro foi dada por escrito.

Ele argumentou: "Que tropas veteranas americanas também foram obrigadas a recuar de Monte Belvedere naquela frente, face a forte resistência inimiga; que a missão atribuída à 1ª DIE/FEB de defender numa frente de 20km e de atacar numa frente de 2km era exorbitante para uma Divisão de Infantaria e que ela não havia, por culpa do governo no Brasil e do V Exército na Itália, tido o período de treinamento padrão mínimo previsto para as divisões americanas e que ela estava recebendo missão de tropa de montanha sem sê-lo".

Passo de Futa foi o ponto de inflexão de alguns insucessos iniciais de uma tropa bisonha para as vitórias de uma tropa veterana e bem comandada e assessorada pelo seu Estado- Maior.

O inverno, iniciado logo após, obrigou a uma estabilização da frente por 70 longos dias. Então, os brasileiros vindos de um país tropical, padeceram rude e rigoroso inverno, com temperaturas variando de - 15º a – 4º e, sobretudo, tenso, face às possibilidades de veteranos alemães acostumados àquelas condições de tempo e terreno.

A 1ª DIE/FEB ressurgiu do inverno, o mais rigoroso dos últimos 50 anos, aguerrida, disposta e veterana. Suas ações estrategicamente até o fim se incluem na Batalha dos Apeninos que foi muito cruenta e penosa. Os Apeninos foram acidente capital estratégico para o inimigo, por impedir o acesso dos aliados à rica planície do rio Pó. E, após conquistados os Apeninos, seria a vez dos Alpes, o que significaria a decisão da guerra na Itália.

A chave para a conquista dos Apeninos era a cidade de Bologna. O acesso a esta era a Estrada Nacional 64 que era dominada pelas elevações de Monte Belvedere, Monte Castelo e Castelnuovo etc... Foi nestas elevações que os alemães de 232ª Divisão de Infantaria, ao comando do experimentado general e . barão von Eccart von Gablenz, que comandara o XXVI Corpo de Exército Alemão na Batalha de Stalingrado, concentraram seu esforço defensivo, particularmente em Monte Belvedere, pivô de defesa inimiga nos Apeninos e que possuía dominância de fogos e vistas sobre Monte Castelo.

É importante este entendimento de que as dificuldades de conquista de Monte Castelo encontravam-se bem mais no seu flanqueamento por Belvedere, onde o inimigo concentrou seu esforço defensivo, do que nele próprio e que para conquistar Monte Belvedere os americanos usariam uma unidade especializada, a 10ª Divisão de Montanha.

Em 21 de fevereiro, há 60 anos, finalmente a 10ª de Montanha e a 1ª DIE/FEB atacaram simultaneamente Della Torracia e Monte Castelo, objetivos que conquistaram sucessivamente. O primeiro foi Monte Castelo, pelos brasileiros. A conquista brasileira de Monte Castelo foi o episódio mais emocionante e afirmativo da capacidade de combate do brasileiro e de sua maturidade operacional.

Para melhor se avaliar o significado da conquista de Monte Castelo pelos brasileiros, há 60 anos, em 21 de fevereiro de 1945 recordemos para a atuais gerações uma síntese da atuação operacional da FEB na Itália, através de sua 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária ( 1ª DIE/FEB).

 

A 1ª DIE/FEB do Brasil foi uma das 20 divisões e 16 brigadas aliadas compostas de canadenses, sul- africanos, indianos, neozelandeses, marroquinos, argelinos, além de franceses, italianos e poloneses livres e, particularmente, ingleses e americanos que integraram, no final da Batalha dos Apeninos, o XV Grupo de Exércitos Aliados destinado a libertar a Itália do jugo nazi- fascista, bem como a fixar importantes efetivos alemães dos XIV Exército e Exército da Ligúria para impedir que atuassem nas frentes da Operação Overlod (invasão aliada da Normandia, em 16 de junho de 1944) e da Operação Anvil e depois Dragoon (invasão aliada pelo sul da França, em 15 de agosto 1944).

Para a última foram rocadas algumas divisões francesas, cuja falta na Batalha dos Apeninos a 1ª DIE/FEB veio de certa forma minorar.

Os brasileiros entraram em combate em 18 de setembro de 1944 na proporção de um terço de seus efetivos e com o nome de Destacamento FEB, antes que houvesse completado o ciclo de instrução normal previsto pela doutrina americana. Eles atuaram na região da boca do cano da bota que a Itália representa.

fonte: http://www.brasilcult.pro.br/historia/feb/hist02.htm

O destacamento foi lançado ao norte do rio Sérchio para combater os alemães estabelecidos na Linha Gótica (280km), entre os mares Tirreno e Adriático.

A 1ª DIE/FEB teve seu batismo de fogo através de seu Destacamento em 18 de setembro na conquista de Camaiore, seguida de Monte Agudo e Monte Prano em 26 de setembro. O destacamento foi rocado mais para a direita no vale do Sérchio onde conquistou Fornaci e Barga.

Em 11 de outubro lançou-se sobre Galicano que conquistou e consolidou. Daí lançou-se, em 30 de outubro, sobre Castelnuovo de Garfagnana onde foi repelido e retraiu sobre Galicano, tendo conhecido o seu primeiro insucesso, fato comum em tropas estreantes. Mas progrediu em 15 dias 40 km, capturou uma fábrica de peças de aviões, em Fornaci, fez 208 prisioneiros do rio Reno, onde recebeu uma frente de 15km, muito ampla, sobre a estrada 62, ao norte de Porreta Terme e que era dominada pelo Monte Castelo que impedia o prosseguimento do V Exército sobre Bologna.

A seguir foi a operação contra Monte Castelo descrita no inicio que se constituiu na maior glória conquistada pelas armas brasileiras na Itália, em defesa da Democracia e da Liberdade Mundial .

Terminado o inverno, que então a 1ª DIE/FEB foi cooperar com o IV Corpo na conquista de saliente dos Apeninos em sua zona de ação, cortado pelo rio Marano, que integrava a Linha Defensiva Gengis-Kan e dominava a estrada 64 (Porreta Terme-Bologna), essencial ao abastecimento de 10 divisões do V Exército. Para a conquista do saliente no maciço onde se situavam as posições alemãs de Belvedere, Monte Castelo, Soprassaso, Castelnuovo, Gorgolesco, Mazzancana, Della Torracia, La Serra, Stª Maria Viliana, Torre de Nerone, Montese e Montelo foi elaborado o Plano Encore a ser executado pela 10ª Divisão de Montanha americana e 1ª DIE/FEB.

O plano visava expulsar o inimigo do vale do Reno e após perseguí-lo no vale do rio Panaro. Os brasileiros deviam sucessivamente: capturar Monte Castelo com auxílio da 10ª de Montanha que devia capturar Belvedere e Della Torracia; limpar o inimigo do vale do Marano; apossar-se de Stª Maria Viliana e capturar Torre de Nerone e Castelnuovo, o último, chave para liberar as comunicações do V Exército nos vales dos rios Silla e Reno.

Em 20 de fevereiro, a 10ª de Montanha conquistou Gorgolesco e Mazzancana, o último, com auxílio de pilotos brasileiros do 1º Grupo de Caça (O Senta a pua!).

Em 21 de fevereiro, como foi abordado a 10ª de Montanha e a 1ª DIE/FEB atacaram simultaneamente Della Torracia e Monte Castelo, objetivos que conquistaram sucessivamente. O primeiro como abordado ,foi Monte Castelo, pelos brasileiros que foi o episódio mais emocionante e afirmativo da capacidade de combate do brasileiro e de sua maturidade operacional.

Em 23 e 24 de fevereiro os brasileiros travaram o encarniçado combate de La Serra. Em 5 de março caiu pela manobra contra Castelnuovo, o falado, traiçoeiro e famigerado saliente na rocha- Soprassaso, responsável pelas maiores perdas da FEB no inverno. Ele era o objetivo dos nossos pracinhas que o conquistaram com grande gana.

Depois dele, veio a conquista pela 1ª DIE/FEB de Castelnuovo, base para a montagem de um ataque do V Exército sobre Bologna.

A seguir, teve curso a Ofensiva da Primavera, de 14 de abril - 2 de maio, para libertar o norte da Itália e desfechada pelo XV Grupo de Exército Aliado.

À 1ª DIE/FEB coube inicialmente conquistar, em 14 de abril, as alturas de Montese, Cota 888 e Montelo, com forte apoio de Artilharia e de Blindados e geradores de fumaça americanos. A reação da Artilharia alemã ali concentrada antes de ser destruída, para não cair em poder dos aliados, foi de grande e inusitada intensidade.

Foi um duríssimo e disputado combate, o que é atestado pelas 426 baixas brasileiras (34 mortos, 382 feridos e 10 extraviados). Ai foi ferido o hoje Coronel Celso Rosa residente em Resende e acadêmico emérito da AHIMTB .Ai tombou morto o Aspirante Francisco Mega patrono hoje da Turma egressa da AMAN há 50 anos em 15 fevereiro de 1955, a qual pertencemos e cuja biografia abordamos na plaqueta Os 60 anos da AMAN em Resende: Resende:AHIMTB,1984 e no O Guararapes 44, 1 trim,2005.

Em Montese, a 1ª DIE/FEB ajudou a romper a defensiva alemã nos Apeninos e conquistou a chave de acesso ao vale do rio Panaro o que facilitou ao V Exército derramar-se sobre a planície do rio Pó, em aproveitamento do êxito e logo a seguir em perseguição. Sobre a conquista de Montese referiu o comando do IV Corpo aliado:

"Ontem só os brasileiros mereceram as minhas irrestritas congratulações. Com o brilho de seu feito e seu espírito ofensivo, a 1ª DIE/FEB está em condições de ensinar às outras divisões como se conquista uma cidade".

A conquista de Montese ajudou a desmantelar a Linha Gensis- Kan. A 1ª DIE/FEB, em Aproveitamento do Êxito, conquistou o vale do médio Panaro em 19 de abril e, Zocca, nó rodoviário que ofereceu forte resistência em 20, Marano e Vignola em 23, onde foram recebidos os brasileiros aos brados de "Vivam nossos libertadores (Liberatori)"; à partir daí, teve início a Perseguição.

Em solução singular, mas de grandes dividendos táticos, a 1ª DIE/FEB iniciou a perseguição com a Infantaria embarcada em veículos de sua Artilharia Divisionária e protegendo o flanco direito do V Exército.

Em 24 de abril ela alcançou S. Paulo d’Énza. De 27-30, no vale do rio Taro, combateu com o inimigo em Colechio e em Fornovo di Taro, após o que executou manobra envolvente contra os alemães reunidos em Respício, onde eles receberam ultimato para rendição incondicional dos brasileiros.

O inimigo rendeu-se em Gaiano na região de Fornovo di Taro. Rendição que se caracterizou como ação de nível e repercussão estratégica, e foi recebida do experimentado general Otto Fritter Pico, veterano de diversos teatros de operações e comandante da 148º Divisão de Infantaria Alemã e do general Mário Carloni, comandante da Divisão Bersaglieiri, Itália, e, ainda, de sobras da 90ª Divisão Panzer.

Foram capturados 20.573 homens, dos quais 894 oficiais, e entre eles muitos veteranos do África Korps, ao par de copioso material bélico.

Sobre este feito dos brasileiros comentou o general. Mark Clark agora no comando do XV Grupo de Exércitos: "Foi um magnífico final de uma atuação magnífica". O Estádio da AMAN foi batizado com o seu nome.

De 28-30 de abril, enquanto tinha curso a rendição alemã, Benito Mussolini foi morto em 28, em 29 os russos entraram em Berlim e em 30 Adolf Hitler se suicidou. A 1ª DIE/FEB ocupou Alexandria a 30, em 1º maio ocupou Casale, Solero, Salvatore e Costeleto, dia em que o Alte. Doenitz assumiu o poder na Alemanha. Em 2 ocupou Turim, terra natal do ten.-gen. Carlos Napion, patrono do Serviço de Material Bélico do Exército Brasileiro, e estabeleceu ligação com a 27ª Divisão Francesa em Susa. Neste dia houve rendição incondicional das tropas alemãs na Itália. Dia 8 de maio – Dia da Vitória Aliada na Segunda Guerra Mundial.

A 1ª DIE/FEB foi a primeira tropa aliada a estabelecer contato com a Operação Dragoon, em Susa.

De 8 de maio – 3 de junho a 1ª DIE/FEB atuou como tropa de ocupação das regiões de Piacenza e Alexandria. Após, concentrou-se em Francolise para retornar ao Brasil, o que teve lugar em 14 de junho na cidade do Rio de Janeiro, onde foi recebida vitoriosa e triunfalmente pelo Brasil e passou sob um arco do triunfo encimado pela legenda – "A cidade as Forças Armadas Brasileiras".

A atuação da 1ª DIE/FEB na Itália foi dividida em quatro fases pelo seu oficial de operações Ten.–Cel. Humberto de Alencar Castelo Branco:

I – Campanha do Destacamento FEB no vale do rio Arno; 2 – Campanha da margem oriental do rio Reno; 3 – Ofensiva sobre as defesas dos Apeninos; e 4 – Rompimento da frente e perseguição.

A 1ª DIE/FEB integrou o IV Corpo com mais três divisões americanas: a 10ª de Montanha; a 1ª Blindada (os tigres) e 34ª de Infantaria (os cabeças- de- boi). Atesta também o valor do soldado brasileiro cruz encontrada após o combate de Castelnuovo e com esta inscrição expressiva em alemão – "Aqui jaz um herói brasileiro".

Em 1962 o terceiro ano da Escola de Comando e Estado- Maior do Exército produziu a valiosa pesquisa. O comportamento do combatente brasileiro na Itália, com vistas dela tirar valiosos ensinamentos de Engenharia Humana. Combatente que se fez representar na FEB por cerca de 74%, de cariocas e fluminenses (32%), paulistas (15,5%), mineiros (11,7%), gaúchos (7,5%) e paranaenses (6,1%).

A pesquisa histórica crítica, baseada em ampla bibliografia então disponível e depoimentos de veteranos chegou a interessantes e relevantes considerações ou conclusões, que não podem ser desconhecidas do planejador, pensador e chefe militar do Exército Brasileiro.

Por exemplo: a pesquisa concluiu que na FEB o combatente brasileiro não se adaptou e mesmo reagiu a normas disciplinares rígidas, confirmação de pesquisas anteriores sobre o mesmo tema na História Militar do Brasil.

E, mais, que ele se submete a liderança afetiva dos chefes que o comandam pelo exemplo e não aos ausentes espiritualmente, e insensíveis às esperanças, aspirações, imaginação e sentimentos de seus homens.

Como fatores concorrentes para o bom desempenho do combatente brasileiro na Itália e que contribuíram para ele sentir-se valorizado socialmente alinhe-se:

1 – Lutar no V Exército dos EUA que dispensava grande atenção e valor à vida e ao bem-estar dos seus soldados e onde o prêmio e o castigo eram distribuídos com isenção e sem favores, além de que com presteza e oportunidade; 2 – Lutar em território com uma população histórica e tradicional, mas então vencida, dominada, submissa, torturada pela fome, desemprego e corrupção e com emotividade semelhante à brasileira; 3 – Sentir-se alvo de orgulho no Brasil, de estímulos de sua imprensa, de atenções das madrinhas de guerra, de desvelo familiar e dos brasileiros e atenções dos superiores; 4 – Ser alvo agora de interesse geral, boa assistência médica, alimentação jamais sonhada, dinheiro farto, roupa variada e farta e assistência religiosa; 5 – Lutar e ser bem sucedido contra considerado melhor soldado do mundo; e 6 – Desenvolvimento de fortes laços de camaradagem, na adversidade da guerra, com reflexos no moral elevado, disciplina consciente e sentimento de honra e de dever. Influíram no combatente na Itália:

(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil

 

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