O “PATRONO DA ANISTIA”
Cel Manuel Soriano Filho
Acadêmico da 
AHIMTB
 
O recente julgamento pelo STF, referente à constitucionalidade ou não da Lei da Anistia, de 1979, constituiu-se em um marco histórico do Direito brasileiro. Como advogado, fiz questão de assistir a todo ele e me encantei com os votos antológicos proferidos, à exceção dos divergentes, emitidos por apenas dois Ministros da Alta Corte de Justiça. Os votos primaram pela análise estritamente técnica à luz dos parâmetros do Direito e pela recorrência à historicidade jurídica nacional, das mais de trinta anistias concedidas ao longo da história-pátria, como tão bem lembrou o relator, Ministro Eros Grau.
     “É impossível 
Majestade, ainda há juízes em Berlim”, dizia o humilde moleiro que não cedeu às 
pressões de Frederico II, para a derrubada de seu moinho, como nos narra a 
História Universal...
    Entretanto, faltou algo mais nos argumentos de nossos mais grados 
Magistrados: a citação do augusto nome do Duque de Caxias, “O Pacificador”, 
“Nume Tutelar da Nacionalidade”, “Condestável do Império”, Patrono do Exército 
Brasileiro. Quando da concessão da anistia aos vencidos, em especial ao término 
da Revolução Farroupilha, evidenciou-se, cabalmente, o espírito magnânimo deste 
inigualável brasileiro, o responsável pela grandeza e inteireza territorial do 
Brasil, juntamente com o Barão do Rio Branco, pelo que o saudoso e ilustre 
historiador Pedro Calmon, os considerava como os maiores “pró-homens da 
nacionalidade”. O Duque de Caxias também ganhou do emérito historiador militar, 
Coronel Cláudio Moreira Bento, o epíteto de “Pioneiro Abolicionista”, por haver 
concedido a liberdade aos cativos farroupilhas.
    Impende lembrar, por assaz relevante, que Caxias recebeu ainda, do saudoso 
jornalista, historiador e acadêmico Barbosa Lima Sobrinho, a notável 
honorificência titular de “O PATRONO DA ANISTIA”, em memorável artigo, com o 
citado título, publicado no “Jornal do Brasil”, de 22 de maio de  1988. Disse o 
mencionado acadêmico, em um trecho de seu brilhantíssimo trabalho: “Se tivesse 
que eleger um Patrono para a defesa ou a exaltação da Anistia, ficaria indeciso 
entre dois nomes, que me pareciam recomendados para essa função gloriosa, o de 
Rui Barbosa e o do Duque de Caxias. Rui Barbosa com os seus trabalhos jurídicos 
e sua atuação de advogado. O Duque de Caxias pelos exemplos que nos legou. E 
acabaria optando pelo militar que, antes das batalhas, fazia da promessa da 
anistia um elemento de pacificação. Foi assim no Maranhão com a insurreição dos 
balaios, em São Paulo e Minas Gerais, com as revoltas de 1842, foi assim também 
no Rio Grande do Sul, com a Revolução Farroupilha”. E, mais à frente, conclui o 
jornalista – tido como “homem de esquerda”: “Ma sempre que se pudesse invocar a 
presença da fraternidade, numa luta entre irmãos, ocasionalmente desavindos, 
Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, soube dar prioridade às 
promessas da anistia, com uma constância exemplar, com que se construíram 
algumas páginas de nossa história política. Logo depois do combate de Santa 
Luzia, em que foram vencidos e esmagados os revoltosos do Partido Liberal, 
quando Caxias foi informado de que os vencidos vinham caminhando dois a dois 
acorrentados e algemados, tomou medidas imediatas para que lhes tirassem as 
algemas e lhes dessem cavalos, no percurso que devia conduzir a Ouro Preto. E 
entre os acorrentados vinham altas figuras da Monarquia, à frente de todos, uma 
glória do liberalismo brasileiro, Teófilo Ottoni”.
    Por derradeiro e como corolário a essas breves considerações, na relembrança 
do grande esquecido no julgamento linhas atrás referido, o ínclito Duque de 
Caxias, “O Patrono da Anistia”, gostaria de citar o inolvidável sociólogo 
Gilberto Freyre que, reconhecendo o caráter adamantino e as peregrinas virtudes 
do “Soldado-Maior”, cunhou a expressão “caxias’, uma metáfora caída na 
consagração popular, com a qual são apelidados aqueles que cumprem integralmente 
os seus deveres. “Os “caxias”, disse Gilberto Freyre, “devem ser tanto paisanos 
quanto militares. O “caxiismo” deveria ser aprendido tanto nas escolas civis 
quanto nas militares. É o Brasil inteiro que precisa dele”.
                Acadêmico da AHIMTB  
Manoel Soriano Neto
    
(Coronel Reformado do Exército, de Infantaria e 
Estado-Maior; Historiador Militar, CMRJ e Advogado).