ORAÇÃO DE POSSE NA ACADEMIA BARRAMANSENSE DE HISTÓRIA NA CADEIRA

MARECHAL FLORIANO PEIXOTO EM 20 DE OUTUBRO DE 2006 NO GREBAL.

 

 

Cel Cláudio Moreira Bento

 


           

  

 

Mesa principal durante canto hino de Barra Mansa .Cel Bento tendo a direita Rozan Silva, Presidente da ABH e a esquerda Alda Bernardes Faria e Silva presidente da ACIDHIS e a direita Cel Manoel Candido Andrade Neto da AHIMTB.Em baixo Cel Bento fazendo o elogio ao seu patrono Marechal Floriano Peixoto.

 


 

Em 19 de junho de 1995 coordenamos seção conjunta de diversas entidades culturais na Fazenda Paraíso, em Barra Mansa, km 288, comemorativa do Centenário do Marechal Floriano Peixoto que há pouco deixara a Presidência da República e ali falecido. Data esta que seria a utilizada para o lançamento da pedra fundamental da Academia Militar das Agulhas Negras pelo Presidente Getúlio Vargas em 19 de junho de 1939, 44 anos decorridos de sua morte e na área da hoje localidade de Floriano, onde existe monumento em sua memória e Escola com o seu nome. E participaram desta histórica seção representações  das academias Resendense, Itatiaiense e Canguçuense por nós fundadas, os institutos históricos e geográficos Brasileiro, do Rio de Janeiro, de Pelotas, o de História e Tradições do Rio Grande do Sul que fundamos e presidimos e o Instituto de Estudos Valeparaibanos.

Seção presidida pela presidente da Academia Itatiaiense de História Alda Bernardes Faria e Silva.

Coube-nos fazer a oração alusiva ao Marechal Floriano Peixoto e a uma aluna do Colégio Municipal Floriano Peixoto proceder a leitura do Testamento Político do Marechal Floriano escrito ali na Fazenda Paraíso.

A presidente da Seção, Alda Bernardes Faria e Silva finalizou, referiu que o Consolidador da República findara   seus dias em ambiente paradisíaco, cercado de canaviais, ambiente onde se criara e casara e cercado de engenhos e lavouras de açúcar ali representado, do outro lado o arroio da Divisa Resende - Barra Mansa, pelo já existente Engenho Central   e seus canaviais  , atual Fábrica da Coca-Cola.

Nesta ocasião tomamos conhecimento da obra do historiador Alan Carlos Rocha, sobre Barra Mansa e com o qual estivemos juntos e mais Alda Bernardes Faria e Silva, em cerimônia de homenagem ao Marechal Floriano, frente a seu busto em Floriano.

E o diálogo ali iniciado culminou com visita que Alan nos fez acompanhado de outros interessados, e em nossa sede da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, por nos fundada em 1º de março de 1996, nos solicitando orientação para fundarem a Academia Barra-mansense de História, o que prontamente lhes forneci respostas as suas indagações sobre experiências por nos colhidas nas fundações das academias Itajubense, Canguçuense, Resendense e Itatiaiense de História e da própria Academia de História Militar Terrestre do Brasil.

Mais tarde  fomos por eles convidados para presidir a seção de fundação da Academia Barramansense de História em 14 de outubro de 1998 . ocasião em que fomos convidados por Alan Carlos Rocha para integrarmos,como acadêmico da ABH a cadeira Marechal Floriano Peixoto, o que desde então aceitamos e hoje estamos aqui para este honroso fim.

Nossa oração pronunciada no Centenário de Morte do Marechal Floriano Peixoto na Fazenda Paraíso foi publicada sob o título Marechal Floriano Peixoto, na Revista A Defesa Nacional nº 771, 1º trimestre de 1996, quando fundamos  a citada Academia de História Militar Terrestre do Brasil, em 20 de março .

Passemos ao elogio de nosso patrono na ABH, o relacionando a Barra Mansa onde ele faleceu e escreveu o seu célebre Testamento Político.

O Marechal Floriano Peixoto foi consagrado pela História como o Marechal de Ferro, “Consolidador da República”, por haver enfrentado e debelado  diversas ameaças à República recém-instituída, entre as quais a tentativa de proclamação da República Transatlântica de Mato grosso, vinculada a interesses ingleses, a Guerra Civil (1893-1895) na Região Sul do país e a Revolta na Armada. “Marechal de Ferro” pela energia, calma, determinação, sangue frio e coragem com que as enfrentou.

E também pela resposta a ele atribuída ao ser-lhe perguntado por autoridades estrangeiras de  como seria recebido o desembarque das guarnições de navios estrangeiros no Rio de Janeiro para protegerem vidas e patrimônios de compatriotas. “A bala” teria sido a resposta. (Pereira, Moacyr. Anais do Congresso Nacional da República, 1989)

Floriano nasceu no modestíssimo engenho paterno do Riacho Fundo, distrito de Ipioca, próximo a Maceió (AL), em 30 de abril  de 1839.

Sua criação foi entregue a seu tio paterno, padrinho e futuro sogro, o Coronel José Vieira de Araújo Peixoto, rico e poderoso proprietário de três engenhos, e que não possuía filhos, até então. Floriano Peixoto aprendeu, com seu pai adotivo, os segredos da liderança, inclusive a militar. Hábil no comando de homens e em se fazer respeitar, Vieira Peixoto detinha expressivo poder político, tendo chefiado, em 1844, uma rebelião militar que obrigou o governador da província a fugir.

Floriano cresceu no Engenho Ponte Grande. Retornava sempre, ao  Ponte Grande, na época da moagem da cana, coincidente com suas férias. E durante toda a vida, sua alma foi a de um menino de engenho.

Acreditamos ter sido feliz ao findar seus dias em ambiente de plantio e coleta próximo do moderno engenho Central em Porto Real.

Floriano ingressou no Exército em 1857. Cursou a Escola Militar da Praia Vermelha e a do Largo de São Francisco (1857-1862).

A Guerra contra o Paraguai foi encontrá-lo servindo, como 1º tenente de Artilharia, em Bagé.

Invadido o Rio Grande por São Borja, marcharam os paraguaios em duas colunas de cada lado do Rio Uruguai em direção a Uruguaiana, que foi conquistada. O Tenente Floriano, improvisado em comandante naval de uma esquadrilha de quatro barcos, recebeu e desincumbiu-se muito bem da missão de impedir o contato das duas colunas que tentavam reforçar a coluna invasora do Rio Grande.

Por esse feito, em que supriu deficiências com valentia, liderança e arrojo, o Tenente Floriano foi promovido a capitão aos 26 anos, e nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo.

Na Guerra do Paraguai comandou uma Companhia do Batalhão de Engenheiros. Seus chefes ressaltaram-lhe “o entusiasmo, a coragem, a galhardia e a calma em combate”.

Foi promovido a major, por ato de bravura, em dezembro de 1868, aos 29 anos. No fim da guerra, comandou o 9º Batalhão de Infantaria, quando teve participação destacada em Aquidabã, quando ali foi alcançado e tombou  o Marechal Solano Lopes, por  uma lança do soldado brasileiro conhecido como Chico Diabo comandado do General Câmara.

Floriano Peixoto voltou  da guerra combalido. Não lembrava mais o cadete caboclo de força notável, campeão de esgrima a baioneta e temido adversário nas brigas, do tempo da escola, com valentões do Rio. Pediu licença para tratamento de saúde em Alagoas.

Nos quatro meses de licença, recuperou-se e se casou no posto de tenente-coronel, aos 33 anos com sua irmã adotiva e prima Josina, no engenho Itamaracá, em 11 de maio de 1872.

Em 1874, é coronel, comandante do 3º Regimento de Artilharia a Cavalo. Em 1875, é diretor do Arsenal de Guerra de Pernambuco.

Em 1883, com 26 anos de serviço, foi promovido a brigadeiro. Comandou, então as Armas do Amazonas e Pernambuco. Em 1884, foi comandante das Armas e Presidente de Mato Grosso, pelo Partido Liberal, onde se revelou hábil político, apoiou o abolicionismo e criou o imposto de exportação de erva mate para o Prata.

Em 1882, estando em Alagoas, foi nomeado para comandar a 2ª Brigada no Amazonas.

De 31 de janeiro de 1889 a 15 de novembro de 1894, dos 49 anos aos 54 anos, por mais de 5 anos, Floriano teve rápida  e brilhante ascensão no cenário nacional: Comandante da 2ª Brigada do Exército, em São Cristóvão, Ajudante-General do Exército interino, até 15 de novembro de 1889, e efetivo após. Marechal-de-Campo (1889); Marechal (1890); Ministro da Guerra, 1º Vice-Chefe do Governo Provisório da República, Conselheiro de Guerra, Vice-presidente da República, eleito na chapa de oposição ao Marechal Deodoro, um e outro por eleição indireta. Finalmente, Vice-Presidente da República no exercício da Presidência, de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894, mais de 3 longos e agitadíssimos anos dedicado a debelar crises políticas e diversas revoltas.

Seguramente, nenhum dirigente do Brasil, no Império e na República, enfrentou período mais conturbado do que ele, inclusive ameaças externas, na época da “Diplomacia das Canhoneiras” e a Questão de Palmas.

Após passar a Presidência ao seu substituto Prudente de Morais a conselho médico, fez estação de águas, durante 4 meses em Cambuquira.

Passou os últimos 24 dias de sua vida em Barra Mansa, na Fazenda Paraíso, e ali redigiu o seu Testamento Político, que apresentaremos ao final.

Teve forte crise da enfermidade que o acometia, em 28 de junho de 1895. Consciente da morte próxima,  lamentou deixar filhos menores para educar. Acariciou seus dois caçulas Maria Josina e José e exclamou, após acariciar o último quando chorava: - “Que infelicidade!” Manifestou desejo de ser sepultado na Estação da Divisa, atual distrito de Floriano. E faleceu.!No bolso de seu casaco foi encontrada, rascunhada, uma mensagem para jovens republicanos que estavam por visitá-lo da qual se transcreve o trecho abaixo:

 

“... A pretendida homenagem dos Srs. me enche a alma de um prazer imenso. Ela é um tributo de vossa gratidão a um velho servidor da Pátria, que lhe consagrou de coração o melhor de sua vida e, à República, por amor  à qual sacrificou o resto da saúde e vigor que lhe deixaram a penosa campanha do Paraguai. Hoje, como vedes, vivo longe do lar a procurar vários climas para a reparação de forças perdidas nas lutas pela Pátria e pelas instituições...”

 

Estavam, com Floriano, sua esposa e seus filhos: Ana com 21 anos; Floriano com 17 anos; Maria Tereza com 14 anos; José com 10 anos; Maria Anália com 8 anos e Maria Josina com 4 anos. Portanto, cinco filhos menores. A idéia que normalmente nos ocorre seria a de um homem velho, com os filhos independentes e encaminhados na vida. Causa mortis, constante do atestado de óbito: “esclerose hepática hipertrófica”.

Em 15 de novembro de 1894 ele estava doente e não recebeu Comissão que pretendia entregar-lhe uma espada de ouro. E enviou a Comissão este agradecimento:

 

“Como chefe da Nação, na minha volta sucumbiram mártires em nome da lei, que afortunadamente venceu, para a glorificação dos Estados Unidos do Brasil, e em nome da dignidade e da honra da Pátria, para dizermos que continua a ser República toda a América. Julgando-me imensamente feliz por haver co-participado dessa tarefa ingentíssima de preservar de desgraça, de fortificar, de consolidar a República, não obstante ter sido o mais modesto de quantos se empenharam nessa gloriosa campanha.”

 

A seguir declarou “carecer de repouso a sua saúde, de haver sido tomado pela fadiga, mas contente consigo por não se haver poupado de nenhum sacrifício no cumprimento do que ele julgou seu dever”.

Estudo recentes no Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), feitos longe das paixões da época, com isenção e critérios científicos, confirmam a probidade administrativa, a honestidade, a lisura, o espírito público e, por via de conseqüência, a popularidade do presidente Floriano, após analisá-lo como nacionalista e republicano sincero, soldado competente, estadista, consolidador e defensor da República.

Floriano fora sempre muito ligado às escolas militares do Ceará, Porto Alegre e Praia Vermelha, que o auxiliaram, inclusive, a combater a Revolta na Armada.

 Por suas demonstrações de coragem, física e moral, lisura, probidade, honestidade na defesa intransigente da coisa pública, e mais, por suas atitudes de simplicidade espartana adquiridas na vida de engenho e na campanha do Paraguai, conseguiu comunicar-se com o povo no seio do qual passou a desfrutar enorme popularidade e devoção por muitos anos depois de sua morte. Tinha os olhos voltados sinceramente para o povo e para a Pátria, protegendo-os dos crimes de colarinho branco e dos efeitos das lutas que foram travadas entre o Governo e os revoltosos na Armada, na Baía da Guanabara, por mais de 6 meses.

Sua comunicação com o povo valeu-lhe o apelido popular de “O Quera”, que segundo Umberto Peregrino, era sinônimo de “audaz, desabrido, invencível e destemido”.

Floriano jovem forte, atlético e bravo consumiu sua saúde em holocausto à defesa do Brasil durante cinco anos de guerra e em 3 anos no exercício da Presidência do Brasil. Não mediu sacrifícios. Foi fiel a si mesmo e aos seus ideais. Foi um brasileiro providencial para um grave momento da nacionalidade. Justiça histórica se lhe faça hoje e no futuro.

A Ordem do Dia do Exército, em 1939 recomendou ao culto eterno pela Força, como exemplo raro: de soldado e cidadão modelar do Brasil, pela comovente dedicação ao Exército e à grandeza e ao futuro do Brasil.

Agora Abordaremos um relacionamento entre Floriano Peixoto, Getúlio Vargas e o barra-mansense General de Divisão Belarmino Mendonça (1850/1913) aqui nascido em 17 de setembro de 1850 e que na Guerra do Paraguai foi comandado pelo General Davi Canabarro. Integrou o 2º Corpo do Exército que lutou em Curuzu e Curupaiti. E destacou-se em Tuuiti por bravura e sangue foi sendo promovido de Alferes por bravura e depois de Avai. Foi depois incluído  ,no Exército sendo gravemente ferido em Lomas Valentinas. Em 1892 foi eleito deputado federal pelo Paraná. Favorável a Revolução Federalista foi preso em Andaraí e sob palavra em Caxambu. Exerceu importantes funções ,terminando sua carreira como Ministro do Superior Tribunal Militar  em 1912 e faleceu no Rio de Janeiro em 8 de março de 1913 aos 63 anos.

Quando Getúlio Vargas era cadete na Escola Militar do Rio Pardo, o comandante era o então Coronel Belarmino Mendonça que gozava grande prestígio no Exército. Sobre estas Escolas Militares de Rio Pardo acabo de publicar livro em que esclareço a razão do desligamento do cadete  Getúlio Vargas que mais tarde como Presidente fundaria a CSN, a AMAN e o Parque Nacional do Itatiaia. Constava que Getúlio fora desligado da Escola pelo barra-mansense ilustre  Cel Belarmino mas a verdade é outra.

O Cel Belarmino foi desligado do comando da Escola por haver recusado que em seu interior fosse feita palestra política tendo como tema o Marechal Floriano há pouco falecido. E ele recusou argumentando que teriam igual direito de ali fazer conferência os adeptos fervorosos do Senador Gaspar Silveira Martins. E entre estes a D. Adelaide, filha do General Andrade Neves, o Barão do Triunfo , amiga da Escola e residente defronte a mesma.Livro que doamos exemplar a ABH.

Getúlio nutria desde aquele tempo grande admiração pelo Marechal Floriano que promovera seu pai a General honorário por sua atuação destacada no combate A Guerra Civil no Rio Grande do Sul.

Como presidente ergueu monumento à Floriano Peixoto no Rio de Janeiro, publicou seus arquivos e lançou a pedra fundamental da AMAN, cumprindo promessa feita na Revolução de 30.

Em realidade, o Cel Belarmino não foi quem desligou Getúlio. E sim o comandante seguinte, em decorrência de uma revolta de cadetes, contra um inábil  imprudente instrutor. Em conseqüência, dos 200 alunos da Escola Militar do Rio Pardo, 100 foram punidos sendo que 20 com o desligamento da Escola e retorno a tropa, que foi o caso do cadete Getúlio.

Escrevemos com mais detalhes sobre o ilustre General Belarmino na História da 3ª Região Militar 1880-1915 v. 2 as páginas 230, 231. Belarmino Mendonça de soldado voluntário do 5º de Voluntários da Pátria em março de 1865, atingiu o mais alto posto de General de Divisão tendo se bacharelado em Ciências Físicas e Matemática em 1893 pela Escola Militar da Praia Vermelha.

Foi um filho ilustre da terra barra-mansense cuja memória espero seja cultuada como exemplo pelo povo de Barra Mansa.


 

 

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