PROJETO RONDON – UM DEPOIMENTO
Depoimento do Cel Cláudio Moreira Bento, Coordenador do Projeto Rondon na Operação Guararapes e do Arquivos 1 do Projeto Rondon.1970/71ao responder perguntas formuladas pelo Exmo Sr Gen Bda Geraldo Luiz Nery da Silva , Coordenador Regional em Minas Gerais e Rio de janeiro, do Projeto História Oral do Exército
1. Pergunta: Como se deu o seu envolvimento com o Projeto Rondon?
Resposta: Ao término da ECEME fui classificado no IV Exército, atual CMNE. Lá fui designado para servir na Seção de Planejamento chefiado pelo Cel Marius Trajano Neto. E esta seção tinha a missão de manter contatos com o meio estudantil. E no desempenho desta missão entramos em contato com a Coordenação Regional do Nordeste do Projeto Rondon, coordenada por Estanislau de Oliveira. E logo passamos a cooperar com o Projeto.
2. Pergunta: Qual foi objetivamente a atuação do então Major Bento?
Resposta: Ao chegarmos em Recife, sabedor o General de Ex Arthur Duarte Candal da Fonseca de nosso gosto pela História Militar nos encarregou de coordenar ações com vistas ao projeto, construção e inauguração do Parque Histórico Nacional dos Guararapes, em terras onde haviam se travado as Batalhas dos Guararapes e desapropriadas pelo presidente Humberto de Alencar Castello Branco.
E mais, que eu deveria levar a efeito um estudo militar crítico das duas batalhas para posterior palestra aos oficiais do IV Exército. Conferência que evoluiu para nosso livro As batalhas dos Guararapes análise e descrição militar, prefaciado pelo General Candal e apresentado pela primeira vez a uma comitiva de oficiais em pavilhão do Batalhão de Polícia do Exército em Olinda. Livro que foi reeditado em 1994 pela Academia de História Militar Terrestre do Brasil(HIMTB com o patrocínio da FHE-POUPEX,comemorativa dos 350 anos da 1ª batalha dos Guararape
3. Pergunta: O Projeto Rondon foi envolvido neste seu Projeto Parque Histórico Nacional dos Guararapes?
Resposta: Sim. A missão recebida sobre o futuro parque era imensa. E recorremos a diversos órgãos municipais, estaduais e federais em nome do Presidente Médici que incentivava e apoiava o Projeto. E nesta convocação lembramos do Projeto Rondon e contatamos com a Coordenação do Projeto no Nordeste solicitando a possibilidade de mobilizar para o que seria denominado Projeto Rondon nos Guararapes, estudantes de áreas ligadas a ciências humanas e sociais e inclusive cadetes da AMAN, em férias. E o projeto foi aprovado com o envio inclusive de 3 cadetes da AMAN entre eles, o atual General da Brigada Jorge Armando de Almeida Ribeiro, mais tarde comandante da 4ª BE Cmb em Itajubá, como eu fui de 1981/1983.
4. Pergunta: E como foi desenvolvido este trabalho pelo Projeto Rondon dos Guararapes?
Resposta: Coube a nós elaborar um Documento Básico, orientador da pesquisa a realizar e com perguntas destinadas as equipes de estudantes de História mais 3 cadetes, a estudantes de Biblioteconomia, a estudantes de Botânica, a estudantes de Sociologia, a estudantes de Arquitetura, a estudantes de Serviço Social e a estudantes de Arqueologia.
Questões formuladas e respondidas e constantes do livro Projeto Rondon nos Guararapes, Recife: Coordenação Regional do Nordeste, 1971, coordenado pelos rondonianos João Bezerra e José Danda Neto. Creio que este projeto foi singular por pela primeira vez haver reunido no Projeto Rondon aquelas especialidades e inclusive 3 cadetes.
Decorridos 35 anos como teriam sido os seus futuros profissionais ?
Os rondonianos freqüentaram de 7 a 13 de janeiro de 1971 um Seminário organizado pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais que se desenvolveu no próprio Instituto e na Cidade Universitária, no Cabo Santo Agostinho, na Universidade Federal Rural de Pernambuco e nos Montes Guararapes.
E nestes locais ouviram exposições dos historiadores Jordão Emerenciano, do sociólogo Gilberto Freyre, de Geraldo Mares (botânico), do ecologista Vasconcelos Sobrinho, do Engenheiro Ayrton de Carvalho do IPHAN, do arqueólogo Marcos de Albuquerque, de Eugênio César de Menezes e das biblioteconomistas Maria Clara e Dolores Raposo do Instituto Joaquim Nabuco.
5. Pergunta: Quais as entidades que colaboraram com o Projeto Rondon nos Guararapes?
Resposta: Recordo o Arquivo Público Estadual, a Biblioteca Pública de Pernambuco, os Diários Associados de Pernambuco, o 2º Distrito do DPHAN, o III Distrito Naval, o Jornal do Comércio, o IV Exército, o Governo de Pernambuco, o Instituto Joaquim Nabuco, o Ministério da Aeronáutica, o Museu do Açúcar e do Álcool, o Museu do Estado, a Polícia Militar de Pernambuco, a SUDENE, a Universidade Católica de Pernambuco, a UFPE e a UFRPE.
Em síntese, os integrantes do Projeto Rondon dos Guararapes contataram as maiores autoridades e entidades pernambucanas sobre o assunto e das quais absorveram preciosas lições.
6. Pergunta: Como poderiam ser avaliados os resultados da Operação Guararapes do Projeto Rondon?
Resposta: Creio que através das palavras do Gen Ex João Bina Machado, então comandante do VI Exército e um dos idealizadores do Projeto Rondon, ao responder em 12 fev 1971, a noite, no Auditório da SUDENE ,ao Dr. Estanislau Monteiro de Oliveira sob a origem do Projeto Rondon:
"O Projeto Rondon hoje é incontestavelmente o maior movimento universitário do gênero no mundo. Confesso que ao idealizarmos o Projeto Rondon, jamais pensávamos fosse o mesmo atingir tamanha envergadura, projeção e autoridade moral, em tão pouco tempo de atuação."
E sobre o Projeto Rondon nos Guararapes falou o General Bina Machado:
"Tenho certeza que os trabalhos da Operação Guararapes foram excelentes, por ter existido durante todo o curso do trabalho, perfeita integração entre jovens e adultos.
Jovens e adultos trocaram suas mensagens. Que este belo exemplo dos intelectuais de Pernambuco, Gilberto Freyre, Jordão Emerenciano, José Antonio Gonçalves de Mello, Mauro Mota, Eugênio César de Menezes, Ayrton Carvalho, Maria Clara, Dolores Raposo, Marcos Albuquerque, Geraldo Mares, Vasconcellos Sobrinho e Luiz da Câmara Cascudo em Natal frutifiquem em todo o Brasil.
A Operação Guararapes do Projeto Rondon é a mais nova e muito válida inovação do Projeto Rondon.
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Por isso, caros jovens da Operação Guararapes do Projeto Rondon, vossa contribuição aqui foi muito valiosa .......................
Até 19 de abril quando esperamos nos encontrar de novo nos Montes Guararapes, os jovens integrantes da Operação Guararapes, trazendo a bandeira de seus estados, para serem hasteadas no Parque Histórico Nacional do Guararapes, simbolizando a indiscutível unidade nacional assegurada nos Guararapes e em mastros erigidos pelo Governo e Povo do heróico Pernambuco.
7. Pergunta: Existe alguma manifestação dos integrantes da Operação do Projeto Rondon nos Guararapes?
Resposta: Um integrante do Projeto vindo Paraná Oreste Nesello quem escreveu no meu exemplar do livro Projeto Rondon nos Guararapes.
"Major Bento. As idéias se perpetuam por todo o sempre, mais perenes que o mármore. Os homens passam mas as suas idéias ficam. Com admiração e estima. Um abraço do gaúcho Dibello."
8. Pergunta: Os rondonianos do Projeto Rondon nos Guararapes retornaram e hastearam no Parque a bandeira de seus estados?
Resposta: Retornaram e participaram da belíssima cerimônia. Menos representantes de Santa Catarina, São Paulo, Goiás, Amazonas.
9. Pergunta: Houve alguma outra atividade do Projeto Rondon no qual participou?
Resposta: O jornal do Comércio do Recife dedicava grandes espaços a reportagens sobre um personagem Floro Bartolomeu, um cangaceiro de Alagoas. Então escrevemos artigo no citado jornal sob o título: Um sertanejo que foi um dos maiores generais do Brasil. Este nosso artigo sobre o Brigadeiro Sampaio, patrono de Infantaria foi publicado numa plaqueta pela UFCE sob o título Tradições e Disciplina, mostrando para o Nordeste a figura do heróico Brigadeiro Antonio de Sampaio.
Este artigo foi transformado em poesia por um grande poeta popular de Pernambuco e publicado no Jornal do Commércio de Pernambuco e divulgado como poesia de cordel pelo Projeto Rondon em Tamboril- CE, terra natal de Antonio Sampaio, no Dia da Infantaria de 1971, com grande presença de público e de autoridades, para naquele local, entre seu povo, recordar o grande herói militar que ali nascera. Representou a Infantaria o Pelopes do Batalhão de Engenharia de Crateús e muito bem.
10. Pergunta: O seu envolvimento com o Projeto Rondon encerrou-se neste episódio?
Resposta: No meio do ano de 1971 fomos integrar o Estado-Maior do Exército como adjunto da Presidência da Comissão de História do Exército do EME encarregada de projetar e coordenar a História do Exército Brasileiro – Perfil Militar de um Povo, lançado no Sesquicentenário da Independência.
E esta Comissão presidida pelo Cel Francisco Ruas Santos, em convênio EME/Projeto Rondon elaborou o Projeto Arquivos 1 do Projeto Rondon.
11. Pergunta: Em que consistiu o Projeto Arquivos 1?
Resposta: O projeto se desenvolveu em duas partes. A primeira o preparo de profissionais de Biblioteconomia e História, recrutados em todo o Brasil aos quais foi ministrado pelo EME o Curso de Pesquisadores de História das Forças Terrestres Brasileiras pelo citado Cel Ruas. Curso que também freqüentei e fui diplomado pelo Chefe do EME, Gen Ex Alfredo Souto Malan.
E estes profissionais retornaram aos seus estados para neles coordenar o Projeto Arquivos 1 que consistiu em avaliar a situação de arquivos públicos municipais, estaduais espalhados pelo Brasil, estimulando os responsáveis para a importância de preservá-los para a História do Brasil.
E desta Operação Arquivos 1, fomos o coordenador do Estado-Maior do Exército. Ela cumpriu o papel de visitar arquivos, avaliar o estado dos mesmos e instruir seus responsáveis sobre práticas de preservação de fontes históricas.
Entre os absurdos que recordo, o de uma prefeitura em que seu prefeito usou documentos antigos para aterrar buracos de ruas e estradas. Outro era a prática numa biblioteca organizada por uma personalidade nacional , para elevar o grau cultural de seus conterrâneos, onde das coleções encadernadas de jornais era costume se utilizar folhas para enrolar a carne que era adquirida no açougue.
12. Pergunta: Gostaria de acrescentar alguma coisa?
Resposta: Lamento a extinção do Projeto e sua substituição por Comunidades Solidárias, cuja filosofia poderia até ser usada sob o nome Projeto Rondon.
13. Pergunta: Que mensagem deixaria para as futuras gerações?
Resposta: A necessidade de continuidade desses Projetos para que a juventude universitária possa sentir as realidades sociais do interior dos diversos Brasis para que os líderes públicos que dela emergirem, possam lutar para mudar para melhor estas realidades, tristes e lamentáveis que os diretórios acadêmicos de onde surgem lideranças políticas não são a melhor escola, salvo melhor juízo para se ter consciência de realidades dos problemas do interior do Brasil.
E foi em que em seu tempo fizeram jovens tenentes formados pela Missão Indígena da Escola Militar de Realengo 1919/21 que integrando a Coluna Miguel Costa/Prestes percorreram o Brasil na sua Grande Marcha de 1924/28, absorvendo as tristes realidades de um Brasil que governado por oligarquias, não as melhoravam e pelo contrário, as agravavam.
Realidades que a Revolução de 1930 conseguiu a alterar para melhor!
Cel Cláudio Moreira Bento
Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e foi Coordenador do Projeto Rondon dos Guararapes e do Projeto Arquivos 1 pelo Exército, do Projeto EME/Projeto Rondon em 1970.