SEPÉ TIARAJU - HEROI OFICIAL DO RIO GRANDE DO SUL ???

Prezado amigo professor da UFRGS

Dr Manoel Luiz Leão

Causou-me surpresa como também ao ilustre amigo a elevação de Sepé Tiaraju a herói oficial do Rio Grande do Sul, ao ler este trecho do Correio do Povo.

" CORREIO DO POVO

PORTO ALEGRE, QUINTA-FEIRA, 1º DE DEZEMBRO DE 2005

Sepé Tiaraju é agora herói oficial do Estado

Integrantes da comunidade charrua assistiram ao ato

O índio Sepé Tiaraju foi reconhecido como herói oficial do Rio Grande do Sul. O governador Germano Rigotto sancionou ontem lei de autoria do deputado Frei Sérgio G'rgen que institui o 7 de fevereiro como data dedicada à memória do guerreiro missioneiro. O ato foi realizado com a presença de representantes da comunidade indígena charrua, povo que combateu ao lado de Sepé. 'É muito importante a valorização da figura de Sepé Tiarajú para o Estado, para a América Latina e para as nações indígenas', frisou o governador. ..."

Este ato me fez recordar este pensamento inscrito em um mural no Museu da República no Rio de Janeiro, onde pisei pela primeira vez como cadete gaúcho voluntário e sorteado, para fazer parte da Guarda de Honra Fúnebre do ínclito presidente Getúlio Vargas, sobre o qual tenho muito escrito e, inclusive agora, em nosso livro Escolas do Exército em Rio Pardo 1859/1911,onde justifico seu gesto de soldado honrado que o levou injustamente a ser desligado da Escola Preparatória e Tática do Rio Pardo, em 1902.

" De ser o passado comparável a uma enorme planície onde correm dois rios .Um reto e de margens bem definidas que é o rio da História. Esta fruto da razão e da análise isenta da fontes históricas autênticas ,fidedignas e integras, à luz de fundamentos de crítica escolhidos.

O outro é um rio cheio de curvas e meandros e de margens indefinidas e por vezes com perigosos alagamentos. Este. é o rio do Mito. E este fruto das paixões humanas, das fantasias , da ignorância , das manipulações, das deformações ,dos preconceitos e da injustiça etc

O Brasil assistiu a novela A Casa das sete mulheres onde foram linchados moralmente dois grandes soldados brasileiros, os generais farrapos Bento Manoel Ribeiro e David Canabarro, aos quais o Brasil muito esta a dever a preservação de sua Integridade, Soberania e Unidade no Rio Grande do Sul .

Foram manipuladas as imagens destes dois heróis que abordamos em O Exército farrapo e seus chefes, editado em 1992 pala Biblioteca do Exército. Livro onde estudamos o General Farroupilha Bento Gonçalves da Silva e coronel de Estado –Maior do Exército e nosso patrono de cadeira na Academia Piratiniense de História que fundamos e presidimos. Livro em que transcrevemos a defesa de Osvaldo Aranha do injustiçado General Bento Manoel Ribeiro.

Ao que parece no decreto aprovado não foi ouvido o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e o CIPEL e a Universidade gaúcha , como também o Instituto de História e Tradições do Rio Grande que fundei e presido desde 10 de setembro de 1986, no sesqucentenário do combate do Seival .Enfim entidades que foram atropeladas em sua função social ,e exercida por autoridades que julgo não habilitadas para integrar um Tribunal de História.

Estranhei muito o citar-se a comunidade charrua , que acabo de estudar com profundidade, ao sobre ela escrever sob o título Brigada Charrua, em nosso livro prestes a ser editado sob o título História da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada –Brigada Charrua ,sediada em Uruguaiana.

Conclui em nosso estudo que os charruas não existiam nos Sete Povos das Missões na época da morte de Sepé Tiaraju e que migraram do Uruguai de onde eram originários, para o Rio Grande do Sul ao sul do Ibicuí, muito depois .

Mas vamos aos fatos. Em 1750 Portugal e Espanha em ambiente de grande entendimento celebraram o Tratado de Madrid que legalizou a expansão e conquistas de Portugal ao Oeste do Meridiano das Tordesilhas ( Belém-Laguna –SC).

No Rio Grande do Sul foi prevista a entrega a Espanha por Portugal de Colônia do Sacramento que ambos disputavam militar e diplomaticamente há 70 anos .Em troca a Espanha cederia a Portugal os Sete Povos das Missões , que então providenciou a migração para o Rio Grande do Sul de casais de açorianos para povoar os Sete Povos .

Foi então que os jesuítas contrariando os reis de Portugal e de Espanha levaram os índios missioneiros a uma reação suicida contra o ato dos reis de Portugal e Espanha .E assim reagiram liderados por padres jesuítas a demarcação do Tratado no Rio Grande do Sul .

Nesta ocasião visando atingir os Sete Povos, o Exército Demarcador de Portugal estabeleceu em Rio Pardo o forte Jesus Maria José 2º

E foi sobre ele que Sepé Tiaraju liderou uma ataque, descrito pelo Capitão Jacinto Rodrigues Cunha em artigo Diário da Expedição de Gomes Freire ao Uruguai publicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro , ( t,10, 2 sem 1853) e que assim interpretei em nosso artigo ilustrado, Histórica das Forças Terrestres Brasileiras na área da 3ª Região Militar1630-1759.Revista Militar Brasileira.v. 103, 1073,jul/dez p.48/80.

" O forte de Rio Pardo foi atacado pelos índios missioneiros ao comando de Sepé Tiarajú, na manhã de 29 de abril de 1754.

Sepé atacou o forte com 3 esquadrões de índios apoiados em 4 pequenas peças de Artilharia. O forte respondeu ao ataque com alguns disparos de Artilharia , dispersando a tropa indígena e matando 6 índios. Nesta ocasião Sepé deixou-se prender com 53 índios . E pretendia entrar no forte pacificamente e em seu interior rebelar-se e conquistá -lo. O Coronel Thomas Luiz Osório , comandante do forte, mandou desarma-los .E exigiu de Sepé a devolução de 70 cavalos da guarnição que ele apresara. Sepé prometeu entregá-los. E saiu do forte para esta fim sob custódia . (Até ai Sepé era um admirável líder e herói militar lutando por sua verdade ! ).

" A pouca distância iludiu a vigilância e conseguiu fugir espetacularmente!

Seus 53 comandados que ele abandonou a própria sorte foram enviados para a Vila de Rio Grande, sob a guarda de 12 homens . Em meio a Lagoa dos Patos , os índios se rebelaram e dominaram o barco .Mataram 3 soldados , feriram 2 e aprisionaram 7 no porão do barco . E estes do porão começaram a disparar suas armas e mataram 13 índios . Dos restantes em desespero tentaram naufragar o barco e se lançaram dentro nas águas da Lagoa dos Patos , onde 25 pereceram afogados. Sobreviveram desta tragédia somente 15 índios que foram levados para Rio Grande."

Prezado amigo professor Leão .Esta é a razão que do ponto de vista militar, pelo menos, não pode ser considerado um herói um chefe que abandona seus comandados e os dá em garantia de cumprimento de sua palavra que não foi cumprida! Desconheço que outros valores possam superar esta falha de liderança e justificar historicamente a sua consagração como herói oficial do Rio Grande do Sul,

Mais tarde ocorreria a hecatombe de Caiboaté em que o Exército das Missões, motivado liderado por jesuitas foi dizimado sem apresentar tática nenhuma para enfrentar exércitos dos reis de Portugal e Espanha.

Estas reações que resultaram no sul do extermínio em Caiboaté de quase toda a população masculina dos Sete Povos foi atribuída por Espanha e Portugal aos jesuítas que em conseqüência foram expulsos da América portuguesa e espanhola. E ai pergunto como Deus julgou Sepé por haver deixado seus comandados a própria sorte e os jesuitas que envolveram os índios nesta aventura suicida impossível em que a maioria foi vítima de um genocídio a que foram levados por eles .

A geopolitica de Portugal e depois continuada pelo Brasil de colocar os limites na foz do Rio da Prata a abordei em plaqueta Inspirações geopoliticas das ações de Portugal e do Brasil no Prata e suas projeções no Rio Grande do Sul 1680-1900. Resende: Graf do Patronato,2004.Obra prefaciada pelo reconhecidamente o maior geopolítico brasileiro Carlos de Meira Mattos.

Como historiador com expressiva obra sobre a História do Rio Grande do Sul , lamento a invasão da função social do historiador gaúcho, para escrever-se história ,contrariando –se a máxima História é verdade e justiça E além a expressão de um grande líder brasileiro ." Não bem se governa sem História e historiadores ! Aliás penso lição preciosa para futuros dirigentes gauchos e que não esta sendo observada no Rio Grande do Sul , salvo melhor juízo.

Tenho como exemplo o ressurgimento de uma tese de massacre de soldados negros farrapos em Porongos, com apoio num documento forgicado ,inclusive exposto no Memorial do Rio Grande do Sul . Tese provada inverídica pelo grande historiador riograndino Alfredo Ferreira Rodrigues, cuja obra sob o título Vultos e Fatos da Revolução Farroupilha, foi organizado pelo senador Paulo Brossard no centenário da República e publicado pelo Senado Federal .

Tentamos sem vez e voz pela imprensa escrita de Porto Alegre, a procura de estabelecer um Projeto Verdade histórica, fazer o contraditório a tese citada usando o estatuto da Liberdade de Imprensa , que não nos foi assegurada, em que pese sermos o historiador premiado pela ARI e Assembléia do RGS com o livro Hipólito da Costa o gaúcho fundador da Imprensa Brasileira e demais títulos acumulados como historiador com vários livros e artigos sobre o tema e em nome do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul e da Academia Piratiniense de História que fundamos e presidimos e que se dedicam a pesquisa, preservação, culto e divulgação da História, Tradições e Valores morais, culturais e históricos do Decênio Histórico .Assim prezado amigo não sei para onde caminha o nosso Rio Grande , " recanto da Tradição" em muitos se arvoram com apoio da Mídia e dos poderes Executivo e Legislativo a ignorarem seus historiadores e assumirem os seus papéis sociais , sem as habilitações compatíveis.

O que é lamentável , pois a História que possui o poder de solidificar o patriotismo, o civismo , a auto estima de um povo e a identidade e perspectiva históricas do mesmo, vem sendo silenciada ou deformada com o apoio talvez inconsciente da Mídia, sem o direito ao contraditório um pressuposto democrático da Liberdade de Imprensa,

Com apreço e esperança de dias melhores e de justiça para a Historia do Rio Grande do Sul , no qual se pratique a Liberdade de Imprensa como uma rua de duas mãos, que acolha o contraditório ou o direito de resposta, para que o povo gaúcho possa se posicionar e não ser manipulado por colocações sem resposta que pressupõem " de quem cala consente." E mais que o Ministério Público gaúcho, atue no sentido de evitar manipulações populares atuando em prol de um Projeto Verdade que assegure liberdade de opinião e de contraditório., o que hoje não acontece . o que não sei se ele possui força constitucional para tal providência..

 

Cláudio Moreira Bento

Presidente do Instituto de História e Tradições do RGS e das academias Canguçuense e Piratiniense de História etc cmbento@resenet.com.br .

Caso pretender absorver mais dados sobre o tema sugiro

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