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OPERAÇÕES DA
AVIAÇÃO DO EXÉRCITO, A PARTIR DE RESENDE, NO COMBATE À
REVOLUÇÂO DE 1932 NO VALE DO PARAÍBA E FRENTE MINEIRA
Cel Claudio Moreira Bento - Historiador
Militar e Jornalista - Presidente da FAHIMTB e da AHIMTB/Resende
Marechal Mário Travassos

Na faixa branca, posição aproximada da Pista de Pouso da
Aviação do Exército durante a Revolução de 1932 ao comando
do Major Eduardo Gomes, estendendo-se hoje entre o Portão
Monumental e o conjunto de Piscinas.
Fonte:
INCAER. História Geral da Aeronáutica v.2
A Revolução de 1932 durou noventa e
cinco dias - de 9 de julho a 3 de outubro de 1932. Resende,
na maior parte desse movimento revolucionário, o de maior
expressão até hoje, foi o centro de gravidade das operações
terrestres e aéreas que contra ela se desenvolveram em todo
o Brasil.
Sediou, o (QG) do Destacamento
Exército do Leste, na Estação Ferroviária, em um comboio
ferroviário, ao comando do General Pedro Aurélio
Goes
Monteiro,
que havia sido, também, o comandante militar da Revolução
de 1930. Agora dirigia as operações na principal frente, a
do Vale do Paraíba, apoiado pelo grosso do Grupo de Aviação
do Exército, o único existente, comandado pelo Major
Eduardo Gomes, herói dos 18 do Forte de Copacabana (5 de
julho de 1922), quando ainda era tenente de Artilharia. O
Campo do Grupo de Aviação foi, de 8 de julho a 6 de outubro,
no atual Campo de Paradas da Academia Militar das Agulhas
Negras
(AMAN)
e que serviu de Base
Aérea do Destacamento Resende do Grupo de Aviação que aí
instalou seu QG, transferindo-o do Campo dos Afonsos para
Resende. Sua pista se desenvolvia numa reta balizada hoje
entre o Portão Monumental e o Conjunto de Piscinas.
O Major Eduardo Gomes, hoje patrono
da FAB, atuou como observador em voos de ligação das tropas
da Frente do Vale
do Paraíba com as da Frente de Minas Gerais,
da 4a Divisão de Infantaria (4a
DI).
Inclusive,
tomou parte no bombardeio do campo de pouso de Guará em 23
de agosto, e de um pouso noturno em campo iluminado, façanha
digna de registro na época, durante a noite de 14 de agosto,
tendo como piloto o legendário Tenente “Mello Maluco”. Era o
Tenente Francisco de Assis Correia de Melo, que se tornou
lendário por sua perícia, coragem e audácia como piloto.
A mudança do Grupo para Resende em
reforço ao Destacamento foi motivada por terem ficado
provadas as inconveniências de atuar, a partir dos Afonsos,
no Rio, devido a enorme distância dos objetivos e por ter,
na ida e na volta, de enfrentar a travessia da Serra do Mar,
com problemas de condições meteorológicas adversas
que abortavam operações, além de grande desgaste dos
motores.
O Destacamento Resende
instalou-se
em Resende no
18°
dia da Revolução, iniciando a ampliação e
melhoria da pista, derrubando mangueiras do Horto
Florestal, então administrado pela ferrovia Central do
Brasil.

Principais aeronaves que foram usadas por
governistas e revolucionarios paulistas em 1932 nas frentes
do Vale do Paraiba e Mineira. Da esquera para a direita de
cima para baixo;1-WACO Vermelhinho da Aviação do
Exército, modelo conservado pelo Museu Aeroespacial no Campo
dos Afonsos. 2- Avião WACO igual ao anterior, mas com
pintura diferente. 3-Avião MOTH. 4-Avião POTEZ.
5- Avião Neuport Delage. 6-Avião Curtiss Falcon.
A seguir eles serão citados como presenças entre as forças
governistas e revolucionárias.(Fontes: Diversas
pesquisadas na Internet)
Atuaram,
com base em Resende, como comandantes do
Destacamento, os seguintes oficiais da Arma Aviação do
Exército, que havia sido criada em
1927: 1º
tenentes Joelmir Campos de Araripe Macedo,
José Cândido da Silva Muricy Filho, e Capitão Henrique Dyott
Fontenele. Este, foi quem ampliou o campo de pouso ao custo
de árvores importantes do Horto Florestal. Alertado por um
resendense de que eram essências raras, assim consolou o
reclamante, segundo nos contou e mais tarde Brigadeiro
Lavenère-Wanderley (àquele tempo citado como Vanderlei):
"Fique
tranquilo,
se estas árvores eram raras, ficarão mais
raras ainda".
Foram pioneiros do Destacamento, além do Tenente
Araripe, os tenentes Nelson Freire Lavenére-Wanderley e
Júlio Américo dos Reis. Também
atuaram
em Resende os tenentes José Sampaio Macedo,
Francisco de Assis Correia de Melo (“ Melo Maluco)”, João
Adil de Oliveira, Waldemiro A. Montezuma, Benjamin Manuel
Amarante, Homero Souto de Oliveira, Joaquim Tavares Libânio,
Antônio Lemos Cunha, José Vicente Faria Lima, Anizio Botelho
e Geraldo Aquino que, destacado no Campo de Marte, em São
Paulo, conseguiu escapar de ser preso, evadindo-se.
Atingindo o Rio em
15
de julho, foi enviado para Resende, não tendo
a mesma sorte sua os outros oficiais lá destacados,
inclusive o tenente Casemiro Montenegro.
Estiveram eventualmente operando em Resende os
gaúchos Rui Presser Bello, Nero Moura e outros, na fase
final, como França, Capitão Alves Seco,
etc.
Durante os
70
dias em que o Destacamento
atuou
a partir de Resende, foi a
fração
governista mais
atuante
na primeira e única batalha Aérea travada no Brasil,
realizando operações aéreas pioneiras, como se verá. Nesse
período, executou
665
missões de combate, em
1.043
horas de voo, além de
255 vôos
de treinamento. Consumiu
85.200
litros de gasolina, lançou
2.476
bombas, tirou
847
fotos aéreas, e consumiu
21.900
cartuchos de metralhadoras.

Seu esforço operacional
concentrou-se,
em
agosto, sobre formações revolucionárias em São José do
Barreiro, Morro Frio, Areias, Silveiras, Cachoeira
Paulista, Vila Queimada e Pedreiras, e sobre o trem
blindado revolucionário. Em
13
de agosto, o Destacamento Resende recebeu o
primeiro caça Niuport Delage, pilotado pelo "Melo Maluco".
Este era o tenente Francisco Assis Correia de Melo que foi
assim apelidado por sua invulgar perícia, coragem e audácia.
Mais tarde. Foto ao lado seria o Ministro da Aeronática do
Presidente Juscelino Kubitschek e ambos lutaram como
governistas na Revolução de 32.Melo Maluco como lendário,
audaz, habil corajoso piloto da Aviação do Exército e
Resende e Juscelino como Coronel Medico da Policia Militar
de Minas Gerais, na Frente do Tunel da Mantiqueira ligando
Passa Quatro-MG e Cruzeiro-SP.
E foi nesse dia
13,
pela madrugada, entre 01h30 e 03h00, que um
audaz e ousado piloto revolucionário, partindo de Lorena,
depois de sobrevoar o Campo de Pouso de Resende e o QG do
Destacamento do Exército do Leste na Estação Ferroviária de
Resende, lançou
três
bombas em campos da orla resendense, só para
efeito psicológico sobre a tropa e o povo.
Constituindo-se assim,
no
1º bombardeio
noturno
na América do Sul,
e causou grande
temor e
sensação de medo aos
resendenses
que, no dia seguinte, fizeram romarias aos locais de
impactos. Em resposta, ao amanhecer do dia seguinte,
partiu de
Resende uma esquadrilha que bombardeou o Campo de Pouso em
Lorena,
mas não
impediu que aviões revolucionários o evacuassem, ilesos, e
fossem
para São
Paulo, contando com o ousado feito do dia anterior.
Na noite de 14 de agosto, a
população de Resende passou por outro susto, ao divisar, à
noite, aviões iluminados sobrevoando a cidade. Acreditavam
ser um bombardeio mais efetivo que o da madrugada anterior,
até que souberam, no outro dia, do que se tratava. Eram
aviões
Moth,
governistas, testando o equipamento de
iluminação de campanha do campo de pouso (farol e grupo
eletrogêneo). O primeiro vôo teste foi pilotado pelo Ten
Melo ("Melo Maluco") tendo como observador o Major Eduardo
Gomes, comandante do Grupo de Aviação e, o segundo, o
capitão Fontenele, então comandante do Destacamento
Resende.
A crônica e a memória local
registram o susto que levaram os resendenses pensando
tratar-se de outro bombardeio aéreo, mas, agora para valer!
Pouco depois o campo de Resende passou a ter cobertura
antiaérea com metralhadoras recebidas. Ficou na memória da
população os voos do aviões denominados Vermelhinhos.
Em realidade assim eram denominados os aviões do Governo e
também ficaram na memória dos resendenses as manobras
ousadas de” Melo Maluco”.
Em 22 de agosto, o espaço aéreo
entre Resende e Queluz teria testemunhado o primeiro combate
aéreo registrado no Brasil, entre dois aviões governistas,
pilotados pelos tenentes Lavenére-Wanderley
e Muricy, contra dois aviões
revolucionários. Depois de se enfrentarem com
metralhadoras, os revolucionários tomaram a iniciativa de
romper o contato, por estarem distantes de sua base. Os
governistas eram um Potez de observação e bombardeio,
e um Waco com metralhadora, pilotado pelo Tenente
Lavenére, que socorreu o Tenente Muricy atacado por um caça
Niuport Delage e um Waco. Consideramos este, salvo
melhor juízo, o primeiro combate aéreo no Brasil, pois houve
reação recíproca, ao contrário do ataque sofrido pelo
Potez 25 TOE A-l 17 na tarde de 8 de agosto, na região
de Buri, por três aviões governistas. Sem reação, atingido
seu
radiador,
conseguiu aterrar em território sob controle
governista sem danos pessoais, mas com perda total do
equipamento. Este Potez é considerado o primeiro
avião abatido na América do Sul em operação aérea. Foi uma
perseguição sem reação, face à superioridade revolucionária
,liderada pelo mais tarde Brigadeiro
Lysias
Rodrigues, nosso primeiro mestre em
Geopolítica
do Brasil,
com a obra
Geopolítica
do Brasil,
para iniciantes Ele foi uma legenda na aviação dos
Gaviões de
Penacho,
apelido dos pilotos revolucionários.
Em 5 de julho um Waco,
pilotado pelo Tenente Botelho, tendo como observador o
Tenente Balloussier, ao aterrar, capotou. Chegava de um
reconhecimento de Areias, Queluz e Morro Frio. Ficou
indisponível.
Em 9 de agosto,
um Potez,
pilotado pelo Tenente
Araripe,
tendo como observador o Tenente Montezuma,
foi atingido por balas revolucionárias, em Silveiras. Em
19 de agosto,
um
Moth
pilotado pelo Tenente
Amarante,
tendo como observador o Tenente Muricy
quebrou o trem de pouso contra um barranco ao aterrar.
Em 25 de agosto, o Destacamento
Resende recebeu 4 Waco CSO (que se popularizam como
"vermelhinhos")
adquiridos
nos EUA, sendo um deles pilotado pelo Tenente
Nero
Moura, 12 anos mais tarde comandante do 1º
Grupo de Caça (o Senta
Pua),
na Itália, ministro da Aeronáutica e atual
patrono da Aviação
de Caça da FAB.
Vinham
equipados com metralhadoras e porta-bombas, com capacidade
de bombardeio picado. Com esse avião ele tomou parte no
bombardeio de Lavrinhas, em 29 de agosto.
Em 30 de agosto, foi constituído o
Destacamento de Aviação de Pouso Alegre-MG, subordinado ao
Grupo Misto de Aviação, sendo destacados, de Resende para
lá, os tenentes
Araripe
(chefe), Júlio e
Nero
Moura.
No início de setembro, o Major
Eduardo Gomes fez ligações de coordenação entre os
destacamentos de Resende e o de Pouso Alegre, que apoiava a
4a
DI
de Juiz de Fora, no Vale do Paraíba mineiro.
Foi piloto o Tenente Lavenére-Wanderley.
Hoje são patronos da Força Aérea Brasileira
(FAB) e do Correio Aéreo Nacional (CAN), e
ambos foram ministros da Aeronáutica. O último,
historiador da FAB, tem obra prefaciada pelo primeiro, a
qual mencionamos nas fontes consultadas.
Privamos com o Brigadeiro Lavenére
nos IGHMB e IHGB, do qual guardamos excelente recordação.
Lembro que em tom de brincadeira o convidamos para uma
palestra no Arquivo Histórico do Exército, que dirigíamos,
dizendo-lhe:
"Confrade, o
Arquivo Histórico do Exército está necessitando de apoio
aéreo".
E ele
prometeu comparecer, pois tinha grande orgulho de sua origem
como artilheiro do Exército. Nesse ínterim, ocorreu sua
internação urgente em São Paulo, onde veio a falecer. Não
se esqueceu de, nesse momento, encarregar um familiar de
telefonar-me, desculpando-se de não poder comparecer.
Deixou muita saudade entre seus confrades historiadores,
que lembram o seu carinho e devoção pela História da
Aeronáutica, que ajudara a escrever, com modéstia incrível,
encobrindo sua participação destacada. Em sua homenagem,
criamos em Santos Dumont-MG a Delegacia da FAHIMTB Ten Brig
Nelson Freire Lavanére Wanderley, por sua ligação com Santos
Dumont, através de seu casamento com Dona Sofia, da família
do Patrono da Aeronáutica.
Em 8 de setembro, mais 3
Waco CSO reforçaram o
Destacamento Resende
e tomaram
parte no apoio aéreo às conquistas de Silveiras, Pinheiros
e Cruzeiro, em 13 de setembro, e Cachoeira Paulista
em
14 do mesmo
mês.
A 11 de setembro pousaram no campo
de Resende 2 aviões
Curtiss Falcon
apreendidos dos revolucionários, o que
causou sensação entre curiosos civis e militares de
Resende, que fizeram romaria ao campo de pouso. Um acidente
antecedeu a chegada do Destacamento em Resende. O Potez
TOE A 216 pilotado pelo Tenente Faria Lima, ao aterrar
com os tenentes Anízio e
Aquino,
quebrou o trem de pouso ao entrar numa vala,
tendo de ser levado, para o Rio de trem. Foi em 27 de julho.
Em 16 de setembro, o Destacamento
Resende recebeu mais 3 Waco CSO de reconhecimento,
equipados com dispositivos fotográficos e rádio. Em 17 de
setembro, recebeu mais 3 WACO e passou a usar
Cruzeiro como Campo de Pouso Avançado.
Em 20 de setembro, o Campo de Pouso
de
Lorena
passou a ser
usado como Campo Avançado do de Resende. Ainda em 20 de
setembro, dois aviões do Destacamento de Pouso Alegre foram
queimados no solo, por bombardeio da aviação
revolucionária, sendo seus pilotos os Tenentes França e
Guilherme.
Em 21 de setembro, aviões do
Destacamento
de
Aviação de
Resende bombardearam os campos
de
pouso
revolucionários
de
Guará e
Taubaté. Esta última é
hoje sede do
Comando de Aviação do Exército, a base de helicópteros.
No dia 23 de setembro, o Pelotão de
Bombardeio, com 5 aviões, do Destacamento Resende
bombardeou, pela manhã e pela tarde, o Campo de
Guaratinguetá
(no
Hipódromo)
sendo que,
no último, foi atingido e destruído no solo o Potez TOE,
dos revolucionários. Foram pilotos os Tenentes Macedo,
Lavenére-Wanderley,
Muricy, “Melo Maluco” e
Araripe.
O último, à tarde, conduziu, como observador,
o Major Eduardo Gomes, comandante do Grupo Misto de
Aviação, baseado em Resende, no hoje Campo de Paradas da
AMAN. Esse pelotão bombardeou, pela terceira vez, o campo
de Guará, no
Hipódromo,
em 24 de agosto. Ainda no dia 23, o piloto
Capitão Alves Seco, tendo como observador o tenente
Amarante,
bombardearam o Campo de Guará, com o Waco CSO 18.
De 23 a 26 de setembro, tiveram
lugar diversos voos de ligação do Campo de Resende com seu
Campo Avançado em
Lorena,
sendo que, em 25 desse mês, o tenente “Melo
Maluco”,
partindo de
Lorena,
realizou um reconhecimento aéreo noturno das
posições revolucionárias em Guará.
Em 26 de setembro, ocorreu o
bombardeio de Aparecida, a partir do Campo Avançado de
Lorena,
em avião
Waco 19, pilotado pelo tenente
Lampert,
tendo como observador o Tenente Montezuma e,
ataques a Guará - Aparecida, à bomba, e com reconhecimento,
pelos Waco 14 e 19, dos tenentes Loiola e
Amarante,
em horários
diferentes, e reconhecimento fotográfico pelo Tenente
Araripe
(futuro
Ministro da Aeronáutica) com o Waco 21, tendo como
observador o Tenente Balloussier. O Waco 18,
pilotado pelo Tenente Lampert executou uma missão de
regulação de tiro de Artilharia.
O dia 27 foi movimentado. Aviões
partem de Resende e executam missões de reconhecimento
armado sobre
Guaratinguetá
e Aparecida
e aterram nos campos avançados de Cruzeiro e
Lorena.
São cerca de 14 missões de reconhecimento e
bombardeio. Neste dia caiu, na decolagem, por perda de
força, um
Moth
pilotado pelo Tenente Rui Presser Belo, tendo
como observador o Coronel Alzir.
O avião ficou inutilizado. O Coronel
Alzir, pilotando outro Moth, decolou de Resende com
destino ao Campo dos Afonsos, tendo como observador o
Capitão
Aroldo.
Em virtude do mau tempo, o Moth se chocou com
a Serra de Itaguaí, com perda total do equipamento,
perecendo o observador, Tenente
Aroldo,
e ficando gravemente ferido o Coronel Alzir.
No dia seguinte, decolaram de
Resende 6 Waco e 1 Moth para localizar o Moth
sinistrado, do qual não se possuíam informações em Resende.
Ainda nesse dia, decolaram, do Campo Avançado de
Lorena,
6 aviões
para reconhecimentos com ataques a bomba sobre alvos em
Guará-Aparecida, consumindo-se 30 bombas de 25 libras,
segundo o Diário de Campanha.
Em 29, correu a notícia do início
das negociações para a cessação das hostilidades. Nesse
dia, tiveram lugar quatro missões de reconhecimento,
inclusive fotos, e 11 voos de treinamento.
Dia 30, intensificam-se
reconhecimentos, com ataques a bomba sobre alvos em
Aparecida e Guará. Foram realizadas 31 missões. O Major
Eduardo Gomes, no Waco 19, pilotado pelo tenente
Lavenére-Wanderley, coordenou as atividades dos
destacamentos Resende e Pouso Alegre, fazendo o voo de
ligação Pouso Alegre- Caxambu- Cruzeiro- Resende. Em Iº de
setembro desenvolvem-se negociações de paz. Intensificam-se
voos de reconhecimento sobre a concentração revolucionária
em Guará.
No dia 2 de outubro, conhecida a
cessação das hostilidades, o Destacamento de Aviação de
Resende acompanha o movimento de evacuação das forças
revolucionárias, sendo realizadas 8 missões nessa tarefa.
Dia 3 de outubro, foram suspensas as
hostilidades e só houve um voo de reconhecimento sobre os
eixos de Retirada para prevenir congestionamentos.
No dia 6 de outubro, os aviões do
Destacamento Resende começaram a se retirar para o Campo dos
Afonsos só permanecendo três, para uma emergência.
O
Diário de Campanha do Destacamento Resende do Grupo de
Aviação do Exército, da Diretoria de Aviação,
assinalou:
"A organização da
Aviação Militar (do Exército) era a mais precária que se
possa imaginar ao estourar a Revolução de 32".
E,
prossegue:
"falta, de
recursos pessoais e materiais e de organização
principalmente".
Ao final da revolução foi
reconhecida a ação da Aviação Militar, que manteve a
superioridade aérea na Frente do Vale do Paraíba, sem
nenhuma perda humana ou material em combate, nos seguintes
termos, em documento oficial:
"...A Aviação Militar se lançou galhardamente
para a frente e, com verdadeira elegância, soube sofrer,
lutar e vencer..." Para esta útil atuação não prendeu-se à
teoria, idealizada para recursos que não logrou reunir.
Aceitou as situações como elas se apresentaram, resolveu-as
com os recursos existentes e dentro das circunstâncias
ambientais em que se desenvolveram. Assim, terminou a
campanha gozando a confiança das armas irmãs. E o
resultado obtido não foi sem sacrifícios..."
A Aviação Constitucionalista
‘A aviação
que combatia do lado de São Paulo era chamada de Aviação
Constitucionalista. Os
aviões de que dispunha pertenciam à Aviação Militar. Alguns
já se achavam no Campo de Marte quando a
Revolução
de 1932 teve início. Outros foram levados em voo do Campo
dos Afonsos, por oficiais que aderiram à Revolução.
No início
da Revolução, os aviões de emprego militar de que dispunham
os paulistas eram: os Potez TOE. A-116 e A-212, os
Wacos CSO C-2 e C-3 e o avião de caça
Nieuport
Delage K-421. Os
2 Potez
e
o Waco C-2
já se achavam destacados no Campo de Marte, quando
deflagrou a Revolução.
O Waco
C-3 foi levado para São Paulo, no dia
21 de julho, pelo
1º Ten Tenente Arthur
da
Motta Lima Filho
que, simulando a realização de um voo de treinamento local,
rumou para São Paulo, levando, como passageiro, o soldado
da Escola de Aviação Militar José
Cesar Falcão,
que desconhecia as intenções do piloto.
O
Nieuport Delage K-421 foi levado para São Paulo, na
segunda quinzena de agosto, pelo Capitão
Adherbal
da Costa Oliveira, que, iludindo a
vigilância, decolou do Campo dos Afonsos e foi aderir à
Revolução. Além dos aviões acima mencionados, os
revolucionários paulistas possuíam um Fleet e um
Moth
de instrução primária e alguns aviões
civis que eram utilizados ora na instrução, ora como aviões
de ligação na Zona do Interior. Os outros oficiais da
Aviação Militar, que tomaram parte na Revolução,
deslocaram-se do Rio de Janeiro, clandestinamente, por via
marítima.
Os
seguintes oficiais da Aviação Militar do Exército
participaram da Revolução de 1932: Major
Ivo
Borges, que ficou como Comandante das
Unidades Aéreas da Aviação
Constitucionalista, o
Major
Lysias Augusto Rodrigues, que
ficou como comandante do Grupo de Aviação
Constitucionalista,
Capitão Adherbal da Costa Oliveira,
Primeiros-Tenentes José
Angelo Gomes
Ribeiro, Orsini
de
Araujo Coriolano, Arthur
da
Motta Lima Filho e Nicanor
Porto Virmond.
A grande
maioria, porém, das missões aéreas foi realizada pelo Major
Lysias, Capitão Adherbal e Tenentes Gomes Ribeiro e
Motta
Lima. Vários oficiais da Força Pública de São
Paulo e civis participaram das operações aéreas, quer como
pilotos, quer como observadores.
O
Campo-base da Aviação
Constitucionalista, na cidade
de São Paulo foi o Campo de Marte que teve, na ocasião, as
suas instalações muito ampliadas; os hangares existentes na
orla leste, próximo ao Corpo da Guarda, foram construídos
durante a Revolução de 1932.
Os
revolucionários paulistas aproveitaram sempre a sua posição
central, em relação às três frentes de combate para, com os
mesmos aviões e pilotos, fazerem incursões de surpresa, ora
numa frente, ora noutra. Durante o mês de agosto, os
revolucionários compraram, na fábrica de montagem da
Curtiss Wright
Corporation, instalada no Chile, 9 aviões de
observação e bombardeio Curtiss
"Falcon",
tipo O-IE.
Estes aviões, de
construção extremamente robusta, equipados com motor Curtiss
D-12, de 435
HP, com velocidade máxima de
224
km/h, capazes de realizar "piques" verticais
de bombardeio, com raio de ação
de
1.000 quilômetros
e teto de 4 600
metros, foram os
aviões militares mais aperfeiçoados, entre os que
participaram da luta aérea, durante a Revolução de
1932.
No começo de setembro, os
referidos aviões Curtiss "Falcon" começaram a ser
transladados em voo,
um a um, do Chile para o
Brasil, por pilotos
norte-americanos e
chilenos. Os dois primeiros aviões foram entregues aos
pilotos brasileiros na cidade
de Encarnación, no
Paraguai, na fronteira com a Argentina. Um terceiro avião
acidentou-se
na Argentina, próximo à
fronteira com o Chile. Um quarto avião
acidentou-se
na aterragem em
Concepción, tendo
sido apreendido pelas autoridades paraguaias. Daí para
diante os aviões "Falcon" começaram a ser levados até a
cidade de Campanário, no sul de Mato Grosso, onde eram
entregues aos pilotos revolucionários.
Ao chegar em São Paulo, os aviões "Falcon" ainda
tinham que ser armados com metralhadoras e
porta-bombas. Um
dos aviões ficou inutilizado por ter a sua hélice sido
perfurada por tiros de metralhadora, numa experiência de
sincronização. A primeira vez que os aviões Curtiss "Falcon"
foram empregados foi a 20
de setembro, no
bombardeio do campo de aviação de Mogi-Mirim. Em
24
de setembro, uma semana antes do término da
Revolução, a Aviação Constitucionalista sofreu a sua
primeira perda de pessoal em combate: o Primeiro-Tenente
José Angelo Gomes Ribeiro, como piloto, e o civil
Dr.
Mário Machado Bittencourt, como observador,
num avião Curtiss "Falcon", foram abatidos pelo fogo
de armas antiaéreas, quando atacavam o
cruzador
"Rio Grande do Sul", em Santos.
Fontes consultadas
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Penacho contra Vermelhinhos (Consultar na Internet
‘Vermelhinhos’).
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(_____).Resende: alvo do 1° bombardeio aéreo
noturno na América do Sul. O Ponte Velha. Resende:
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(_____).
BOPP,
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